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As artes indígenas e os povos no Nordeste

Eduardo Andrade Cavalcanti

Os povos indígenas situados no Nordeste possuem uma série de referências


cosmológicas e organizações sociais que possuem ampla relação com atividades
artísticas, ou, no dizer de Els Lagrou, experiências estéticas. Essas experiências estéticas
dizem respeito não apenas a objetos materiais, como máscaras, maracás e adereços
corporais, mas também ao movimento e às artes verbais. Os Pankararu são um forte
exemplo de como a arte faz parte da vida cotidiana e de seus personagens cosmológicos,
chamados de encantados. É através dos toantes e dos sonhos, por exemplo, que a
comunicação com estes seres são possíveis, além da forte presença de um outro
personagem em grande parte de seus rituais, o praiá, que é a materialização dos
encantados. Mas este praiá tem como uma das principais características uma máscara que
cobre todo o seu corpo, chamada de tonã, feita com técnicas de trançado na região da
cabeça, e que se “desfaz” em todo o resto do corpo

Nesse sentido, é um tanto paradoxal que temas como o lugar das máscaras em um
espaço constantemente dividido com os encantados, ou de uma reflexão sobre as artes
verbais, constantemente presentes não apenas nos toantes como também nos contos
míticos (que também incluem cantos), tenham pouca reflexão no âmbito da etnologia
nordestina, principalmente se considerarmos as importantes renovações que o tema da
Arte Indígena têm acrescentado nas demais regiões etnográficas, desde o pioneiro
capítulo- “Cadiuéu”- de Lévi-Strauss em Tristes Trópicos (1955) sobre uma pragmática
social da arte, através das pinturas e dos objetos, até a publicação de Grafismos
Indígenas... de Lux Vidal (1992) que, entre muitas coisas, define as duas preocupações
principais das artes indígenas, a primeira se localiza na inserção das artes na vida social
indígena, e a segunda na atualização dos referentes cosmológicos (Lagrou, Van Velthem
2018).

As crescentes etnografias sobre os povos do Nordeste, bem como essas


importantes reflexões trazidas pela etnologia brasileira, podem auxiliar na leitura dessas
experiências estéticas. Como dito no início, a associação entre os toantes e os sonhos,
assim como a relação entre as máscaras de dança dos praiás e suas ligações com os
encantados são pistas para essa comunicação, e portanto uma possibilidade de trazer as
reflexões e insights etnográficos dos estudos mencionados para a região do Nordeste, e
assim, sendo possível trazer mais contribuições para o tema das artes indígenas em geral,
e artes indígenas no nordeste em particular.

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