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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES I
DEPARTAMENTO DE LITERATURA
LITERATURA BRASILEIRA III

Equipe:
Tema da aula: ​Ana Terra: Dimensão simbólica da História

● 1. Introdução geral da aula e início do enredo


- Romance histórico
- Primeira publicação em 1949 no livro ​O Continente ​ de Érico Veríssimo
- Conta a história da família Terra-Cambará
- Mostra o que seria o início da conquista e povoamento do Rio grande do sul
-Também é caracterizado como um romance regionalista por trazer as características
do povo gaúcho.
- Trás a forte personalidade de Ana Terra, representando não só a mulher gaúcha, mas
como todas as mulheres

2. Ponto históricos recorrentes durante a narrativa:


● 1777- A derrota dos castelhanos
[...] “Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”, costumava dizer Ana
Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na
memória, pois o que sucedera nele tivera a força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em
que dia da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em que ano? Bom, devia ter sido
em 1777: ela se lembrava bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos do
território do Continente. Mas, na estância onde Ana vivia com os pais e os dois irmãos,
ninguém sabia ler, e mesmo naquele fim de mundo não existia calendário nem relógio. Eles
guardavam na memória os dias da semana; viam as horas pela posição do sol; calculavam a
passagem dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o aspecto das árvores e a
temperatura que lhes diziam as estações do ano[...]

● A miscigenação do Índio com o Português


“No seu português misturado com espanhol, Pedro contou que fugira da redução quando
ainda muito menino e que depois crescera nos acampamentos militares dum lado e doutro do
rio Uruguai; ultimamente acompanhara os soldados da Coroa de Portugal em suas andanças
de guerra; também fizera parte das forças de Rafael Pinto Bandeira e fora dos primeiros a
escalar o forte castelhano de San Martinho…”

● Latifundiários e Coronéis
[...] Agora em seus pensamentos um homem falava de cima de seu cavalo. Tinha
na cabeça um chapéu com um penacho, e trazia à cinta um espadagão e duas pistolas. E
esse homem dizia coisas que a (Ana Terra) deixavam embaraçada, com o rosto ardendo.
Era Rafael Pinto Bandeira, o guerrilheiro de que toda gente falava no Rio Grande.
Corriam versos sobre suas proezas e valentias, pois era ele quem pouco a pouco estava
livrando o Continente do domínio dos castelhanos[...]

● Migração São Paulo- Rio Grande de São Pedro


[...] Seria mil vezes preferível viver como pobre em qualquer canto de São Paulo a ter uma
estância, gado e lavoura ali naquele fundão do Rio Grande de São Pedro. Dona Henriqueta
olhava desconsolada para a velha roca que estava ali no rancho, em cima do estrado. Era uma
lembrança de sua avó portuguesa e talvez a única recordação de sua mocidade feliz. Casara
com Maneco Terra na esperança de ficar para sempre vivendo em São Paulo. Mas acontecera
que o avô de Maneco fora um dos muitos bandeirantes que haviam trilhado a estrada da serra
Geral e entrado nos campos do Continente, visitando muitas vezes a Colônia do Sacramento.
Maneco crescera com a mania de vir um dia para o Rio Grande de São Pedro criar gado e
plantar.[...]

● Situação dos pequenos proprietários em Santa Fé


“Exatamente no dia em que Pedro Terra anunciou seu noivado com Arminda Melo, chegaram
ali os primeiros boatos de guerra.Dias depois o coronel Ricardo apareceu montado no seu
cavalo — agora um tordilho — e expôs a situação. Chegara à sua estância um próprio
trazendo um ofício em que o governador do Continente lhe comunicava que, na Europa,
Portugal e Espanha estavam de novo em guerra.
— Isso significa — explicou ele — que temos de pelear de novo com os castelhanos.”

● Guerra dos Farrapos


“Quando Chico Amaral apareceu uma tarde, exaltado, em cima do seu cavalo e mandou tocar
o sino, chamando os habitantes do lugar, Ana Terra saiu com um frio na alma, porque sabia o
que ia acontecer. E tudo aconteceu como ela temia. D. Diogo de Souza apelava para o major
Francisco Amaral, pedindo-lhe que se reunisse o quanto antes com seus homens às forças
portuguesas que iam invadir a Banda Oriental.”

3. Abordagem simbólica da materialidade da obra


● A posição do tempo e do vento na obra.
- O tempo constrói e modifica o personagem, e é marcado por aspectos próprios
da natureza.
- O vento se mostra como um personagem, algumas vezes personificado, e
sempre presente na narrativa. É o vento que dita os acontecimentos.
- “Ana ficava acordada debaixo das cobertas, escutando o vento eterno viajante
que passava pela estância gemendo ou assobiando, mas nunca apeava do seu
cavalo; o que mais podia fazer era gritar um “Ó de casa!” e continuar seu
caminho campo em fora.” (VERÍSSIMO, p.123)
● A roca e a tesoura: objetos de construção identitária.
- A roca carrega uma relação entre memória e identidade e é símbolo da sina do
trabalho e da espera.
- A tesoura se constrói como símbolo de ordem feminina associado às mulheres
que dão à luz; à vida. Constrói-se um elo afetividade em torno desse objeto. A
tesoura representa uma construção de histórias de vida que se incorporam nela.
4. O erotismo e a identidade
● Ana no início​➾​Aparecimento de Pedro​➾​Após o resgate de Pedro​➾​Pedro toca
uma música​➾​Após a música​➾​Pré-concretização​➾​Concretização​➾​ Ana no final

● Música
“O agudo som do instrumento penetrou Ana Terra como uma agulha, e ela se sentiu
ferida, trespassada. Mas notas graves começaram a sair da flauta e aos poucos Ana foi
percebendo a linha da melodia... Reagiu por alguns segundos,procurando não gostar dela,
mas lentamente se foi entregando e deixando embalar.”

● Após a música:
“Ana estava inquieta. No fundo ela bem sabia o que era, mas envergonhava-se de
seus sentimentos. Queria pensar noutra coisa, mas não conseguia. E o pior era que sentia os
bicos dos seios (só o contato com o vestido dava-lhe arrepios) e o sexo como três focos
ardentes. Sabia o que aquilo significava. Desde seus quinze anos a vida não tinha mais
segredos para ela. Muitas noites, quando perdia o sono, ficava pensando em como seria a
sensação de ser abraçada, beijada, penetrada por um homem. Sabia que esses eram
pensamentos indecentes que precisava evitar. E agora ali no calor do meio-dia, ao som
daquela música, voltava-lhe intenso como nunca o desejo de homem. Pensava nas cadelas em
cio e tinha nojo de si mesma. Lembrava-se das vezes que vira touros cobrindo vacas e sentia
um formigueiro de vergonha em todo o corpo. Decerto a soalheira era a culpada de tudo. A
soalheira e a solidão. Pensou em ir tomar um banho no poço. Não: banho depois da comida
faz mal, e mesmo ela não aguentaria a caminhada até a sanga, sob o fogo do sol. A sanga era
para Ana uma espécie de território proibido: significava perigo. A sanga era Pedro. Para
chegar até a água teria de passar pela barraca do índio, correria o risco de ser vista por ele.
A água do poço devia estar fresca. Ana imaginou-se mergulhada nela, sentiu os
lambaris passarem-lhe por entre as pernas, roçarem-lhe os seios. E dentro da água agora
deslizava a mão de Pedro a acariciar-lhe as coxas, mole e coleante como um peixe. Uma
vergonha! O que ela queria era macho. E pensava em Pedro só porque, além do pai e dos
irmãos, ele era o único homem que havia na estância. Só por isso. Porque na verdade
odiava-o. Pensou nos beiços úmidos do índio colados à flauta de taquara. Os beiços de Pedro
nos seus seios. Aquela música saía do corpo de Pedro e entrava no corpo dela... Oh! Mas ela
odiava o índio. Tinha-lhe nojo. Pedro era sujo. Pedro era mau. Mas, apesar de odiá-lo, não
podia deixar de pensar no corpo dele, na cara dele, no cheiro dele — aquele cheiro que ela
conhecia das camisas —, não podia, não podia, não podia.”

Associações:
água​:​sexo ​:: ​saciedade​:​saciedade(sexual)
sem água​: ​sem sexo ​:: ​sede​:​insaciedade(sexual)
Pedro​:​Sanga ​:: ​“sexo”​:​água(sexual)
peixe​:​Pedro ​::​ nadar​:​“acariciar”
touro​:​Pedro ​::​ vaca​:​Ana

Referências

TAVARES, Carla Rosane da Silva. ​ANA TERRA: SÍMBOLO DA MULHER GAÚCHA,


EXPRESSÃO MAIOR DE O TEMPO E O VENTO. ​Rio grande do sul, 2012.

FAGUNDES, Ludimila Alves. ​O tempo e o vento: Ana Terra e a cultura material. ​Porto
Alegre, 2013.

SFALCIN, Tanara Mantovani. ​Entrelaçamento da História com a Literatura em Ana Terra


de Érico Veríssimo. ​Rio grande do Sul, maio de 2002.

RODRIGUES, Laiane Coelho; BARBOSA, Clarissa Loureiro. A construção da memória e da


identidade das personagens Ana Terra, Bibiana e Maria Valéria a partir das suas relações com
os seus objetos biográficos em ​O tempo e o vento.​ ​Almanaque multidisciplinar de pesquisa,
v.1, n. 2. 2016. ​http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/amp/article/view/4041/2266

VERÍSSIMO, Érico. ​O Continente I.​ Ed. 34. São Paulo: Editora globo, 1997.

● Refee

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