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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1

O QUE DIZEM OS PROFESSORES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE MACEIÓ


SOBRE O ENSINO DE BOTÂNICA?

Maria Juliana da Silva (Faculdades Integradas do Vale do Ribeira – UNISEPE-Registro 1)


Shaula Maíra Vicentini de Sampaio (Universidade Federal Fluminense)
João Vicente Coffani-Nunes (Campus de Registro – Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho)

Resumo
O estudo apresenta análises e discussõesacerca do Ensino de Botânica em Alagoas,
propiciadas a partir de entrevistas com professoresde Biologia,procurando refletir sobre a
visão destes em relação à temática do Ensino de Botânica nas escolas públicas de Maceió.A
pesquisa se propôs investigar como se dá a abordagem destes conteúdos pelosdocentes,
identificando as estratégias didáticas utilizadas nas aulas, a relação dos alunos com os
conteúdos e as dificuldades enfrentadas na profissão, bem como o perfil desses
profissionais.O estudo possibilitou uma melhor percepção da situação do Ensino de Botânica
nas escolas, sob a ótica dos docentes, identificando, ainda, algumas necessidades e demandas
por estes mencionados com vistas à melhoria do ensino-aprendizagem na área.

Palavras-chave: Ensino de Botânica. Formação de professores. Educação em Alagoas.


Currículo de Biologia.

INTRODUÇÃO
Frente às novas demandas do conhecimento no mundo contemporâneo e às exigências
da formação na situação atual do ensino público no país, a preocupação no que diz respeito à
melhoria da qualidade do ensino tem aumentando, havendo a necessidade de discutir
constantemente o currículo escolar na Educação Básica, de modo que a escola possa
desempenhar um papel significativo na formação dos cidadãos para a vida cotidiana.
As aulas de Biologia têm seus conteúdos orientados a partir de Diretrizes dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), que vêm sugerindo
reformas educacionais de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), na busca de inserir visões atualizadas da Biologia que sejam contextualizadas e se
aproximem da realidade dos alunos e professores.
No Brasil desde a década de 1960, pesquisas sobre o ensino de Ciências da Natureza
têm sido desenvolvidasenfocando a organização curricular; conteúdos abordados e seu
distanciamento do contexto de estudantes; dificuldades de aprendizagem e formação de
professores na área(PANSERA-DE-ARAÚJO (2007, p. 30).Contudo, entender e “atender às

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Trabalho de conclusão de curso desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas, Campus A.C.Simões,
Maceió-Alagoas.

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demandas atuais exige uma reflexão profunda sobre os conteúdos abordados e os


encaminhamentos metodológicos propostos nas situações de ensino” (BORGES e LIMA,
2007, p. 166).
Botânica é a ciência que estuda as plantas. No entanto, apesar das inúmeras maneiras
que estas participam do cotidiano das pessoas, nas aulas muitas vezes, não se consegue
envolver os alunos quando se fala sobre elas. Desse modo, o que está faltando para motivá-los
alançar um “olhar diferente” para as plantas que estão no seu entorno? Será que
enquantoprofessores, temos consciência da importância das plantas para a vida na Terra, ou
mesmo, para a vida da comunidade de que fazemos parte? E ainda, como estamos lidando
com os assuntos desta área do conhecimento no dia-a-dia da sala de aula?
Para Santos, Chow e Furlan (2008, p. 261)“o Ensino de Botânica tem sido de maneira
geral, negligenciado nos diferentes anos da Educação Básica”, o mesmo tem se
mostradomuito teórico,tanta teoria pode ser consequência das dificuldades apresentadas pelos
professores na exposição e exploração dos conteúdos da disciplina de forma prática e
contextualizada. Assim sendo, o modo de lidar com os conteúdos da aprendizagem nesta área
do saber pode ser um dos fatores que têm levado os estudantes a se sentirem desestimulados
com relação aos conteúdos da Botânica.
Na busca de melhorias na qualidade de ensino muitas pesquisas tem sido
desenvolvidas nessa área. Entretanto, apesar da literatura atual sobre Ensino de Botânica
apontar para a existência de uma grande quantidade de material que pode ser explorado, se
percebe a necessidade de intensificar os estudos e divulgar as novas metodologias (através de
publicações e formação continuada para professores, por exemplo), uma vez que ainda
permanecem discursos sobre o despreparo de muitos docentes em lidar com os conteúdos da
Botânica na relação ensino-aprendizagem.
Pensando essa questão para o Estado de Alagoaso estudo que segue se propôs a refletir
sobre: O que dizem os professores das escolas públicas de Maceió sobre o Ensino de
Botânica?
A motivação para esta pesquisa se deve àslacunas de informações sobre a realidade do
Ensino de Botânica no Estado, visto que após um esforço de buscas via rede mundial de
computadores e em anais de congressos, constatou-se a ausência de trabalhos, artigos ou
resumos.
As análises e discussõesapresentadas neste estudo pretenderamcontribuir para oinício
das reflexões e informações sobre a realidade do Ensino de Botânica em Alagoas,
colaborando para o conhecimento do perfil dos professores de Biologia da Rede Pública de

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Ensino em Maceió, fazendo um diagnóstico das possíveis necessidades e demandas dos


docentes no Ensino de Botânica que possam contribuir para a proposição de soluções e
inovações para o ensinoe consequente melhoria da qualidade da educação na região.

METODOLOGIA

A abordagem teórico-metodológica que norteou esta investigação pode ser situada no


campo das pesquisas qualitativas. Segundo Minayo (2001, apud GERHARDT; SILVEIRA,
2009), a pesquisa qualitativa trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Neste estudo, optou-se pelo uso da entrevista como método de coleta de dados,estas do
tipo semiestruturada, por entender que tal método seria mais adequado aos objetivos da
pesquisa, visto que de acordo com Minayo (2004, p. 57) por meio da entrevista “o
pesquisador busca obter informações contidas nas falas dos atores sociais, ela não significa
uma conversa despretensiosa e neutra”. Mas, está previamente marcada por algum objetivo de
obter informações, impressões, sentimentos sobre um evento, situação focalizada
(SILVEIRA, 2002).
Como suporte para a coleta de dados foiconstruído um questionário semiestruturado
que serviu de guia para a condução das entrevistas com os professores de Biologia. Um
minigravador de voz (MP4) foi usado para a gravação do áudio da conversa, de modo a
garantir o registro e maior fidelidade dos depoimentos dos docentes e, por fim, foi utilizado o
documento Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que os docentes
pudessem autorizar o uso dos seus depoimentos na pesquisa.
A seleção das instituições escolares baseou-se no critério de conveniência, tendo sido
selecionadas dez escolas públicas estaduais distribuídas entre as quatro Coordenadorias de
Ensino em Maceió, levando em consideração alocalização das escolas por bairros e a
disponibilidade de entrevista com os professores de Biologia.
O período de coleta dos dados se deu de janeiro a julho de 2012. Foram realizadas
entrevistas individuais e presenciais 2 com os docentes, sendo um entrevistado por escola.
Ao término das entrevistas, as gravações foram ouvidas e transcritas, os arquivos de
textos foramnomeados devidamente para que os relatos não fossem confundidos entre si. Por
questões éticas assumidas nesta pesquisa, os nomes das escolas não foram citados no texto,
como também não foram citados os nomes dos professores participantes.

2
As entrevistas tiveram duração média entre 20 e 40 minutos de conversação.

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Contudo, para poder citar trechos das falas transcritas dos entrevistados e garantir o
anonimato desses sujeitos, foi utilizada a técnica de anonimização 3 sugerida por Gibbs
(2009). Todavia, ao invés de substituir seus nomes por outros nomes, os entrevistados foram
chamadospelas iniciais dos seus nomes, antecedidas do título professor ou professora, como
exemplo: Professora Ka, Professor He, e assim sucessivamente.
Após as transcrições das entrevistas,os textos transcritos foram revisados,sendo estes
conferidos de acordo com o áudio original. Desse modo, antes de ser analisada cada entrevista
transcrita passou pelo que chama Duarte (2004, p. 220) de “conferência de fidedignidade”.
Depois deconferidas, uma cópia foi gerada de cada entrevista arquivando-se as originais.
Por meio de leiturasdas transcrições foi possível estruturar alguns pontos que mais se
evidenciaram nas falas dos docentes, estes aposteriori se constituíram categorias de análise.
Estas categorias não estavam previamente estabelecidas, mas emergiram a partir da análise da
fala dos docentes entrevistados, as mesmas foram definidas por meio da relação dos objetivos
da pesquisa, do referencial teórico abordado e das entrevistas realizadas com os docentes.
Segundo Lüdke e André (1986, apudFARIAS; BESSA; ARNT, 2012, p. 369) as
“categorias de análise são formuladas através de seleções de segmentos específicos do
conteúdo [...]”. Desse modo as categorias foramdefinidas a partir de informações recorrentes
que apareceram nos discursos dos entrevistados, estas formaramtrês grandes categorias
denominadas: 1) Perfil dos professores entrevistados; 2) Dificuldades enfrentadas no âmbito
da profissão docente; e 3) O Ensino de Botânica em Maceió. A definição dessas categorias
possibilitou aorganização das análises e discussões que seguem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil dos professores entrevistados
Quem são os docentes entrevistados?
O público entrevistado foi composto por seis professoras e quatro professores. Estes
lecionam a disciplina de Biologia ou Ciências e Biologiaemuma ou duas escolas públicas de
Maceió, sendo a maioria em escolas estaduais. O tempo de trabalho em sala de aula variou
entre cinco e treze anos. Alguns deles são funcionários de outros órgãos públicos e/ou
privados, sendo estes outros, o Hemocentro de Alagoas - HEMOAL, escolas particulares em
Maceió e uma escola pública no estado de Sergipe.

3
Processo, em transcrições e relatórios de pesquisa, de alterar nomes, lugares, detalhes, etc., que possam
identificar pessoas e organizações para que elas não possam ser identificadas, mas de modo que o sentido geral
seja preservado.

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Quanto à formação acadêmica, seis dos entrevistados têm curso de graduação pela
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), os outros quatro entrevistados têm curso de
graduação pela instituição de ensino particular Centro de Estudos Superiores de Maceió
(CESMAC).
Perguntados se esta contribuiu para o seu desenvolvimento como professor de
Biologia, e se a mesma dera subsídios para trabalhar os conteúdos de Biologia e Botânica nas
escolas, boa parte dos entrevistados respondeu que sim, mas com algumas ressalvas, outros
responderam que não, que a formação não contribuiu.
Quanto à formação continuada, os relatos indicam queforam feitas em áreas diversas,
sendo um Mestrado em Genética, e duas especializações, uma em Educação Ambiental e
Escola e o a outra em Engenharia Ambiental. E nenhum dos entrevistados citou ter feito
cursos ou pós-graduação em Botânica.
Nesta pesquisa foi percebido que as experiências dos entrevistados durante a
graduação podem influenciar sua atuação em sala de aula e que de algum modo as
dificuldades vividas por estes, em relação à(s) disciplina(s) de Botânica podem ter contribuído
para acentuar alguns dos problemas com a área atualmente. Grande parte dos entrevistados
relatou que não teve uma boa experiência com a Botânica durante a formação, e isto
certamente pode ter contribuído para se ter o quadro de rejeição relatadonas entrevistas.
Dentre os fatores, que podem ter gerado tal quadro, está afalta de estímulos e
problemas que aconteceram nas disciplinas de Botânica durante a formação acadêmicadestes,
sendo tais pontos bastante comentados e, em alguns casos,usados parajustificar o baixo
“apreço” pela disciplina, como se pode notar nos excertos que seguem.
Professora Le: [...]vou lhe ser sincera, não gosto de Botânica, não gosto [...]
Quando eu tenho que adequar o conteúdo da sala de aula por conta do tempo
mínimo e do tempo do ENEM chegando e eu tenho que reduzir conteúdo porque
senão não dá tempo de dar o conteúdo completo, claro que eu reduzo fungos e
vegetais. Por este motivo, jamais eu reduziria Genética, jamais eu reduziria, por
exemplo, Citologia, jamais eu reduziria, por exemplo, a parte de Zoologia dos
vertebrados. Por quê? Porque foram coisas que eu aprendi com prazer, com gosto,
que eu quero, que eu gosto, que eu fui estimulada, Botânica eu não fui. E teve
prática.

Professora Ro: [...]Eu não tenho afinidade pela área, talvez até pelo fato de eu não
ter tido alguém assim que me fizesse gostar, né? [...] eu não gosto de Botânica, não
nego.

De acordo com Santos, Rodrigues e Pereira (2010, p. 403) “dentre as disciplinas de


Biologia um dos conteúdos em que se percebe uma dificuldade em se envolver professores e
alunos é o de Botânica”. Esta situação apontada pelos pesquisadores não difere do que foi

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encontrado nas entrevistas com os docentes da educação básica em Maceió, onde se percebe
que a Botânica tem se mostrado como um “grande desafio” para os professores.
Esse quadro nas escolas de Maceió corrobora com Minhoto (2003, apud
ROCKENBACH, et al. 2012, p.1), ao dizer que as plantas, “para a maioria dos professores de
Biologia do ensino médio: ‘É O INFERNO’”.
Ao serem perguntados sobre a área de maior interesse dentro da Biologia sete dentre
os dez entrevistados disseram ter maior afinidade com os conteúdos de Genética,e apenas um
citou a Botânica como área de interesse. Situação semelhante foi identificada por Macias
(2011, p. 110), que questionou docentes de Biologiaem Pelotas (RS), sobre a área de maior
interesse dentre Genética, Botânica, Zoologia, Saúde Pública e Histologia, e constatouque a
Genética ficou em primeiro lugar na preferência dos docentes e a Botânica em último.

Dificuldades enfrentadas no âmbito da profissão docente


Apesar dos objetivos da pesquisa estarem mais voltados para levantar possíveis
dificuldades dos professores com a Botânica, durante as entrevistas sobressaíram comentários
sobre algumas dificuldades de ordem mais geral, tais como: estrutura física da escola, falta de
recursos (humano e financeiro), falta de envolvimento do Estado, número de alunos por turma
e o curto tempo destinado à disciplina.Estes pontos somados à dificuldade de realizar aulas
práticas fazem parte do quadro de dificuldades apontado pelos entrevistados nas escolas de
Maceió.
A maioria dos docentes entrevistados citou a necessidade do profissional técnico de
laboratório que possa auxiliar nas aulas (como pode ser notado no excerto de entrevista
abaixo). A justificativa para isso, segundo os docentes, está na superlotação das salas de aulas,
na falta de tempopara o preparo de atividades experimentais no laboratório, e as aulas/saídas
de campo com os alunos, de modo que o técnico daria esse suporte aos docentes nas
atividades de aula.
Professora Na: [...] mulher, na verdade tem laboratório, o problema é que eu
mesmo não sei como usar. [...] Quase todos os anos tem estagiário; aí os
estagiários geralmente entram, gostam de mostrar de entrar no laboratório, é aí que
eles vêm mais ou menos alguma coisa em laboratório, mas eu mesmo não me
habilito não. Se tivesse uma pessoa que ajudasse, sei lá, porque às vezes a gente
pega uma aula prática, mas só que a gente não tem como... e a turma é muito
grande... aí atrapalha demais.

Há entre os entrevistados um consenso de que o “tempo é pouco”. Muitos deles


reclamam do currículo da Biologia alegando pouco tempo para cumprir o extenso programa
da disciplina, que atualmente conta com duas aulas semanais para o ensino médio padrão.
Contudo essa insatisfação dos profissionais não está atrelada somente a questão do tempo em

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sala de aula, mas também ao tempo para planejar atividades práticas. Esta situação se agrava
pelo fato dos entrevistados trabalharem em diversos lugares e ministrarem aulas em muitas
turmas, ecom issose sentemsobrecarregados.

O Ensino de Botânica em Maceió


A Botânica da sala de aula: estratégias didáticas
A complexidade da tarefa educativa nos exige dispor de instrumentos e recursos que
favoreçam a tarefa de ensinar (SIQUEIRA; PIOCHON; MARIANO-DA-SILVA, 2007).
Segundo Haydt (2006) e Martins (2009) (apud MERCADO, 2013, p. 7), as estratégias
didáticas, “são formas de intervenção na sala de aula, que contribuem para que o aluno
mobilize seus esquemas operatórios de pensamento e participe ativamente das experiências de
aprendizagem”. Dessemodo, ao selecionar as estratégias didáticas para a aula,o docente
precisa estar atento aos critérios que o levou a esta seleção.De modo a serem alcançadas as
propostas pré-estabelecidas para a atividade de aula.E ainda, considerar aspectos como:
adequação aos objetivos estabelecidos para o ensino e aprendizagem; a natureza do
conteúdo a ser ensinado e o tipo de aprendizagem a efetivar-se; as características dos
alunos, como, por exemplo, sua faixa etária, o nível de desenvolvimento mental, o
grau de interesse, suas expectativas de aprendizagem; as condições físicas e o tempo
disponível. (MERCADO, 2013, p. 7-8).

Nesta pesquisa identificou-se queas aulas em Botânica são planejadas em sua maioria
com atividades teórico-expositivas em sala de aula, usando-se por vezes os recursos de quadro
e pincel/giz e o livro didático. Este último, em alguns casos, mostrou-se como o principal
instrumento didático utilizado pelos docentes nas aulas, noutros casosservia de fonte de
pesquisas aos alunos e resolução de exercícios na aula.
Na busca de melhorias na exposição e captação dos assuntos abordados em
Botânica,uma pequena parcela dos entrevistados comentou da utilização de recursos
didáticoscomo vídeos, banner/cartaz,aulas de campo, aula no laboratório, seminários e
discussões de textos, por acreditarem que estes podem facilitar o processo de aprendizagem
desses assuntos.
Voltando-se para as questões de aulas práticas,sabe-se que estas atividades são
importantes para auxiliar a compreensão dos conteúdos pelos estudantes. Todavia, apesar de
reconhecerem que estas são um recurso didático de grande importância no processo de ensino
aprendizagem, tais atividades são bastante escassas segundo os depoimentos dos docentes.Os
mesmosrelataram que não há tempo suficiente para a organização do material, antes e depois
das aulas e enfrentam também dificuldades com o controle das turmas por serem muito
grandes.

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Sendo assim, a falta de tempo e a ausência do técnico de laboratório mostraram-se


fatores cruciais para justificar a“deficiência do ensino” e/ou ausência das atividades de aulas
práticas entre alguns docentes. Porém, mesmo que admitamos que alguns fatores
mencionados possam ser limitantes, Krasilchik (2008, p. 87) nos indica que “um pequeno
número de atividades interessantes e desafiadoras para o aluno já será suficiente para suprir as
necessidades básicas desse componente essencial para a formação dos jovens”.
Dentre os docentes que relataram fazer aulas práticas, estes demonstraram certa
preocupação e dificuldade em desenvolver práticas que estimulem o interesse dos alunos em
Botânica. Esta situação vem corroborar com Santos e Ceccantini (2004, p. 1) ao apontar, que
“uma das maiores reclamações dos professores em Botânica é a dificuldade em desenvolver
atividades práticas que despertem a curiosidade do aluno e mostre a utilidade daquele
conhecimento no seu dia-a-dia”.
Questionada sobre o planejamento das aulas,uma entrevistada comentou que faz aulas
práticas regulares no laboratório e que busca equilibrá-las com a demanda de conteúdos para
poder cumprir o programa da disciplina, como pode ser visto no excerto abaixo:
Professora Ro: Bom, é tudo muito corrido, né, porque tem que dar conta do
conteúdo e ás vezes até um experimento termina levando muito tempo. A gente tem
laboratório aqui; eu aproveito muito o que a gente tem aqui porque tem plantas, né
[espaço da escola]?! Então dá para aproveitar realmente o que eles já têm aqui,
mas termina que o que você ia fazer em uma aula você faz em três, entendeu? Leva
bem mais tempo; claro que eles aprendem muito melhor quando você vai pra
prática, eles gostam mais. Mas aí você tem que dar conta do conteúdo, e às vezes
você tem que escolher esse mês eu vou fazer esse outro mês não vou fazer; aí você
vai equilibrando para poder você dar conta do conteúdo.

É interessante a colocação desta professora no que diz respeito ao seu planejamento de


aulas em Botânica, pois o uso de plantas do entorno da escola e o uso do laboratório é um
aspecto bastante positivo. Visto que, mesmo reconhecendo que as atividades exigem mais
tempo e que a demanda de conteúdos da disciplina é grande, a entrevistada encontra espaço
no seu planejamento de aulas para o trabalho prático com os alunos. E salienta ainda que,
dessa maneira os estudantes acabam se envolvendo mais com os assuntos e, como
consequência “aprendem melhor” e “gostam mais” das aulas em Botânica.
Em Botânica, atividades como aulas de campo, uso de material vegetal (folhas,
flores,frutos) em sala de aula, atividades simples de laboratório, aulas expositivas com apoio
de material paradidático como vídeos, cartazes, projetores multimídia (data show); estão
entre as diversas maneiras de o docente trabalhar com este conteúdo. As plantas utilizadas nas
aulas de Botânica, especialmente as que fazem parte do cotidiano dos alunos,de acordo com

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Gois(2006 p. 45), podem “constituir-se em material com características potencialmente


significativas”.
Deste modo, este tipo de prática tende a favorecer a aprendizagem significativa dos
conteúdos, tornando-os mais interessantes e, por conseguinte, ajuda a minimizar o corriqueiro
desinteresse nas aulas de Botânica. Pois a forma de execução das aulas práticas, sejam elas de
campo (realizadas ao ar livre) ou de laboratório, com os conteúdos de Botânica podem afastar
a recorrente “fuga” de professores e alunos da área, tornando o ensino e aprendizagem mais
significativo e envolvente para ambos.

Relação com as plantas: professores e alunos


Em todas as escolas pesquisadas, os professores apontaram a nomenclatura como
principal dificuldade dos alunos; tendo em vista que boa parte deles afirma que “não gosta”
da Botânica, que esta “não é tão atraente como os animais”, que é “chata”, “não vê interesse”,
que “Botânica tem muito detalhe”, que os “nomes são difíceis”, etc. Contudo, tais concepções
podem estar atreladas ao fato de os estudantes, nas aulas, se depararem com muitos nomes
desconhecidos, questões de classificação e abordagens da disciplina desvinculadas de sua
realidade. Esta questão corrobora com o que apontam Kinoshitaet al. (2006, apud CRUZ,
2010 p. 19), salientando que “o ensino de Botânica caracteriza-se como muito teórico,
desestimulante para os alunos e subvalorizado dentro do ensino de ciências e Biologia”.
De modo geral, sabe-se que o campo das Ciências Biológicas apresenta um
vocabulário próprio de nomes científicos importantes para a área, porém, cabe ao professor
considerar o que e como abordar os conteúdos na disciplina, pois, segundo Silva,Cavallet e
Alquini (2006, p. 76), “o que mais importa é que os alunos apreendam os conhecimentos
necessários de forma articulada porque assim fará muito mais sentido para eles”. Mas e
quando a resistência do aluno com a área é reflexo da resistência do próprio docente? Como
articular tais questões? Segue abaixo um trecho de entrevista que melhor evidencia esse fato.
Professor Ma: [...] Mas, de uma forma geral, eles têm muita resistência no início e
a luta da gente é justamente quebrar essa resistência contra a botânica, que na
maioria das vezes essa resistência também é do professor, né?! Tem uma série de
colegas meus que falam abertamente que não gostam de jeito nenhum de botânica,
né. No meu caso não é que eu não goste, ou não tenha afinidade, talvez eu tenha um
pouco mais de dificuldade pra quebrar essa barreira que os alunos têm do que em
outras disciplinas.

Esse distanciamento de muitos docentes em relação à Botânica pode estar colaborando


para que a mesma não seja, por diversas vezes, trabalhada nas escolas.

Subsídios: um apoio necessário à Botânica

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Neste subtópico, serão apresentadas algumas das demandas apontadas pelos


entrevistadospensando em melhorias no processo de ensino e aprendizagem, tais subsídios
foram apontados pelos docentes como facilitadores do ensino e aprendizagem da Botânica nas
escolas. Dentre as necessidades apontadas estão: livros específicos de Botânica, melhor
estrutura para as aulas, orientações metodológicas sobre como desenvolver aulas nos
laboratórios (de Biologia e Informática), material paradidático (vídeos, CDs), indicação de
sites com conteúdos de Botânica e um curso extensivo de formação continuada em Botânica.
Sem contar com a necessidade de um técnico para o laboratório – reiterada por diversos
professores - e também do aumento da carga horária da disciplina de Biologia.
As informações citadas no parágrafo anterior com relação à falta de material de apoio,
mais tempo para as aulas teóricas e interesse por cursos em Botânica, corroboram com o
trabalho de Santos, Chow e Furlan (2008), que identificaram a partir dos participantes de um
curso de Botânica ministrado a professores da educação básica, as suas maiores necessidades.
Nesse sentido, os autores (idem, p. 261-262) sinalizam que:
A absoluta maioria dos participantes reclama por mais tempo de aulas,
principalmente das partes teóricas [...], de maneira geral o livro didático é a única
fonte de consulta [...]. Os professores demostraram um grande interesse em
aprimorar suas aulas, destruindo a antiga ideia de que são profissionais
desinteressados e desestimulados [...] todos demostraram interesse por mais cursos.

Os cursos de formação continuada foi o tipo de subsídio mais apontado entre os


docentes nas entrevistas. No entanto, parte dos entrevistados apontou enfaticamente a
dificuldade de participação nestes cursos por conta da carga horária na disciplina, expondo
também diversas queixas à Secretaria de Educação pelo notório descuido com relação à
formação continuada dos professoresna rede.
Em sua maioriaos docentes entrevistados nas escolas de Maceió, acreditam que uma
boa base teórica dos conteúdos e um conhecimento prático que aproxime os assuntos da
experiência cotidiana dos alunos com as plantas, tornariam o ensino mais envolvente e
prazeroso para os alunos e os professores, motivandoambas as partes. Acredita-se que esta
motivação, este estímulo, deve começar na universidade, tendo esta a incumbência, de, como
aponta a Professora Le, “[...] despertar esse tesão na gente pela Botânica, porque se começar
na universidade e o aluno que está lá, sai de lá apaixonado, ele chega na sala de aula e
apaixona os alunos dele e aí cria um ciclo [...]”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As entrevistas realizadas com os docentes de Biologia permitiram conhecer um pouco
mais sobre a realidade do Ensino de Botânica no Estado, e também quem são e, como

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trabalham estes profissionais na Rede Pública de Ensino em Maceió. A partir das observações
feitas, se percebeu que para atuar na melhoria do processo de ensino e aprendizagem o
educador enfrenta e necessita superar muitas limitações na sua profissão. Estas, por vezes, são
de caráter diverso e não apenas relacionadas às lacunas referentes aos conhecimentos teóricos
e práticos em Biologia/Botânica.
Conhecer as necessidades e demandas dos professores para o Ensino da Botânica pode
permitir que sejam desenvolvidosprojetos incluindo atividades que despertem uma mudança
de postura dos docentes e alunos nas aulas de Botânica em Maceió.
Neste estudo foram muitas as dificuldades e demandas relatadas pelos docentes
entrevistados, desta forma acredita-se que estabelecer parcerias entre o governo do Estado, as
escolas e a universidade, com a finalidade de propor a criação de programas de formação
continuada para os docentes, possa minimizar muitas das problemáticas apontadas no
processo de ensino e aprendizagem nas escolas. E que estes programas de algum modo
considerem os desejos e necessidades dos docentes inseridos no contexto escolar.

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