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Resumo
O estudo apresenta análises e discussõesacerca do Ensino de Botânica em Alagoas,
propiciadas a partir de entrevistas com professoresde Biologia,procurando refletir sobre a
visão destes em relação à temática do Ensino de Botânica nas escolas públicas de Maceió.A
pesquisa se propôs investigar como se dá a abordagem destes conteúdos pelosdocentes,
identificando as estratégias didáticas utilizadas nas aulas, a relação dos alunos com os
conteúdos e as dificuldades enfrentadas na profissão, bem como o perfil desses
profissionais.O estudo possibilitou uma melhor percepção da situação do Ensino de Botânica
nas escolas, sob a ótica dos docentes, identificando, ainda, algumas necessidades e demandas
por estes mencionados com vistas à melhoria do ensino-aprendizagem na área.
INTRODUÇÃO
Frente às novas demandas do conhecimento no mundo contemporâneo e às exigências
da formação na situação atual do ensino público no país, a preocupação no que diz respeito à
melhoria da qualidade do ensino tem aumentando, havendo a necessidade de discutir
constantemente o currículo escolar na Educação Básica, de modo que a escola possa
desempenhar um papel significativo na formação dos cidadãos para a vida cotidiana.
As aulas de Biologia têm seus conteúdos orientados a partir de Diretrizes dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), que vêm sugerindo
reformas educacionais de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), na busca de inserir visões atualizadas da Biologia que sejam contextualizadas e se
aproximem da realidade dos alunos e professores.
No Brasil desde a década de 1960, pesquisas sobre o ensino de Ciências da Natureza
têm sido desenvolvidasenfocando a organização curricular; conteúdos abordados e seu
distanciamento do contexto de estudantes; dificuldades de aprendizagem e formação de
professores na área(PANSERA-DE-ARAÚJO (2007, p. 30).Contudo, entender e “atender às
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Trabalho de conclusão de curso desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas, Campus A.C.Simões,
Maceió-Alagoas.
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METODOLOGIA
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As entrevistas tiveram duração média entre 20 e 40 minutos de conversação.
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Contudo, para poder citar trechos das falas transcritas dos entrevistados e garantir o
anonimato desses sujeitos, foi utilizada a técnica de anonimização 3 sugerida por Gibbs
(2009). Todavia, ao invés de substituir seus nomes por outros nomes, os entrevistados foram
chamadospelas iniciais dos seus nomes, antecedidas do título professor ou professora, como
exemplo: Professora Ka, Professor He, e assim sucessivamente.
Após as transcrições das entrevistas,os textos transcritos foram revisados,sendo estes
conferidos de acordo com o áudio original. Desse modo, antes de ser analisada cada entrevista
transcrita passou pelo que chama Duarte (2004, p. 220) de “conferência de fidedignidade”.
Depois deconferidas, uma cópia foi gerada de cada entrevista arquivando-se as originais.
Por meio de leiturasdas transcrições foi possível estruturar alguns pontos que mais se
evidenciaram nas falas dos docentes, estes aposteriori se constituíram categorias de análise.
Estas categorias não estavam previamente estabelecidas, mas emergiram a partir da análise da
fala dos docentes entrevistados, as mesmas foram definidas por meio da relação dos objetivos
da pesquisa, do referencial teórico abordado e das entrevistas realizadas com os docentes.
Segundo Lüdke e André (1986, apudFARIAS; BESSA; ARNT, 2012, p. 369) as
“categorias de análise são formuladas através de seleções de segmentos específicos do
conteúdo [...]”. Desse modo as categorias foramdefinidas a partir de informações recorrentes
que apareceram nos discursos dos entrevistados, estas formaramtrês grandes categorias
denominadas: 1) Perfil dos professores entrevistados; 2) Dificuldades enfrentadas no âmbito
da profissão docente; e 3) O Ensino de Botânica em Maceió. A definição dessas categorias
possibilitou aorganização das análises e discussões que seguem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil dos professores entrevistados
Quem são os docentes entrevistados?
O público entrevistado foi composto por seis professoras e quatro professores. Estes
lecionam a disciplina de Biologia ou Ciências e Biologiaemuma ou duas escolas públicas de
Maceió, sendo a maioria em escolas estaduais. O tempo de trabalho em sala de aula variou
entre cinco e treze anos. Alguns deles são funcionários de outros órgãos públicos e/ou
privados, sendo estes outros, o Hemocentro de Alagoas - HEMOAL, escolas particulares em
Maceió e uma escola pública no estado de Sergipe.
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Processo, em transcrições e relatórios de pesquisa, de alterar nomes, lugares, detalhes, etc., que possam
identificar pessoas e organizações para que elas não possam ser identificadas, mas de modo que o sentido geral
seja preservado.
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Quanto à formação acadêmica, seis dos entrevistados têm curso de graduação pela
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), os outros quatro entrevistados têm curso de
graduação pela instituição de ensino particular Centro de Estudos Superiores de Maceió
(CESMAC).
Perguntados se esta contribuiu para o seu desenvolvimento como professor de
Biologia, e se a mesma dera subsídios para trabalhar os conteúdos de Biologia e Botânica nas
escolas, boa parte dos entrevistados respondeu que sim, mas com algumas ressalvas, outros
responderam que não, que a formação não contribuiu.
Quanto à formação continuada, os relatos indicam queforam feitas em áreas diversas,
sendo um Mestrado em Genética, e duas especializações, uma em Educação Ambiental e
Escola e o a outra em Engenharia Ambiental. E nenhum dos entrevistados citou ter feito
cursos ou pós-graduação em Botânica.
Nesta pesquisa foi percebido que as experiências dos entrevistados durante a
graduação podem influenciar sua atuação em sala de aula e que de algum modo as
dificuldades vividas por estes, em relação à(s) disciplina(s) de Botânica podem ter contribuído
para acentuar alguns dos problemas com a área atualmente. Grande parte dos entrevistados
relatou que não teve uma boa experiência com a Botânica durante a formação, e isto
certamente pode ter contribuído para se ter o quadro de rejeição relatadonas entrevistas.
Dentre os fatores, que podem ter gerado tal quadro, está afalta de estímulos e
problemas que aconteceram nas disciplinas de Botânica durante a formação acadêmicadestes,
sendo tais pontos bastante comentados e, em alguns casos,usados parajustificar o baixo
“apreço” pela disciplina, como se pode notar nos excertos que seguem.
Professora Le: [...]vou lhe ser sincera, não gosto de Botânica, não gosto [...]
Quando eu tenho que adequar o conteúdo da sala de aula por conta do tempo
mínimo e do tempo do ENEM chegando e eu tenho que reduzir conteúdo porque
senão não dá tempo de dar o conteúdo completo, claro que eu reduzo fungos e
vegetais. Por este motivo, jamais eu reduziria Genética, jamais eu reduziria, por
exemplo, Citologia, jamais eu reduziria, por exemplo, a parte de Zoologia dos
vertebrados. Por quê? Porque foram coisas que eu aprendi com prazer, com gosto,
que eu quero, que eu gosto, que eu fui estimulada, Botânica eu não fui. E teve
prática.
Professora Ro: [...]Eu não tenho afinidade pela área, talvez até pelo fato de eu não
ter tido alguém assim que me fizesse gostar, né? [...] eu não gosto de Botânica, não
nego.
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encontrado nas entrevistas com os docentes da educação básica em Maceió, onde se percebe
que a Botânica tem se mostrado como um “grande desafio” para os professores.
Esse quadro nas escolas de Maceió corrobora com Minhoto (2003, apud
ROCKENBACH, et al. 2012, p.1), ao dizer que as plantas, “para a maioria dos professores de
Biologia do ensino médio: ‘É O INFERNO’”.
Ao serem perguntados sobre a área de maior interesse dentro da Biologia sete dentre
os dez entrevistados disseram ter maior afinidade com os conteúdos de Genética,e apenas um
citou a Botânica como área de interesse. Situação semelhante foi identificada por Macias
(2011, p. 110), que questionou docentes de Biologiaem Pelotas (RS), sobre a área de maior
interesse dentre Genética, Botânica, Zoologia, Saúde Pública e Histologia, e constatouque a
Genética ficou em primeiro lugar na preferência dos docentes e a Botânica em último.
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sala de aula, mas também ao tempo para planejar atividades práticas. Esta situação se agrava
pelo fato dos entrevistados trabalharem em diversos lugares e ministrarem aulas em muitas
turmas, ecom issose sentemsobrecarregados.
Nesta pesquisa identificou-se queas aulas em Botânica são planejadas em sua maioria
com atividades teórico-expositivas em sala de aula, usando-se por vezes os recursos de quadro
e pincel/giz e o livro didático. Este último, em alguns casos, mostrou-se como o principal
instrumento didático utilizado pelos docentes nas aulas, noutros casosservia de fonte de
pesquisas aos alunos e resolução de exercícios na aula.
Na busca de melhorias na exposição e captação dos assuntos abordados em
Botânica,uma pequena parcela dos entrevistados comentou da utilização de recursos
didáticoscomo vídeos, banner/cartaz,aulas de campo, aula no laboratório, seminários e
discussões de textos, por acreditarem que estes podem facilitar o processo de aprendizagem
desses assuntos.
Voltando-se para as questões de aulas práticas,sabe-se que estas atividades são
importantes para auxiliar a compreensão dos conteúdos pelos estudantes. Todavia, apesar de
reconhecerem que estas são um recurso didático de grande importância no processo de ensino
aprendizagem, tais atividades são bastante escassas segundo os depoimentos dos docentes.Os
mesmosrelataram que não há tempo suficiente para a organização do material, antes e depois
das aulas e enfrentam também dificuldades com o controle das turmas por serem muito
grandes.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As entrevistas realizadas com os docentes de Biologia permitiram conhecer um pouco
mais sobre a realidade do Ensino de Botânica no Estado, e também quem são e, como
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trabalham estes profissionais na Rede Pública de Ensino em Maceió. A partir das observações
feitas, se percebeu que para atuar na melhoria do processo de ensino e aprendizagem o
educador enfrenta e necessita superar muitas limitações na sua profissão. Estas, por vezes, são
de caráter diverso e não apenas relacionadas às lacunas referentes aos conhecimentos teóricos
e práticos em Biologia/Botânica.
Conhecer as necessidades e demandas dos professores para o Ensino da Botânica pode
permitir que sejam desenvolvidosprojetos incluindo atividades que despertem uma mudança
de postura dos docentes e alunos nas aulas de Botânica em Maceió.
Neste estudo foram muitas as dificuldades e demandas relatadas pelos docentes
entrevistados, desta forma acredita-se que estabelecer parcerias entre o governo do Estado, as
escolas e a universidade, com a finalidade de propor a criação de programas de formação
continuada para os docentes, possa minimizar muitas das problemáticas apontadas no
processo de ensino e aprendizagem nas escolas. E que estes programas de algum modo
considerem os desejos e necessidades dos docentes inseridos no contexto escolar.
REFERÊNCIAS
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