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BALADA DO CÁRCERE
DE
READING
1
I
2
Eu, com outras almas angustiadas, ia
andando em pátio separado,
a cismar qual o crime, grande ou leve,
por que o teriam condenado,
- quando alguém sussurrou atrás de mim:
«vão pendurar esse coitado!»
3
nem sempre as sortes são iguais.
4
o seu próprio caixão, entrando, lento,
no seu antro de Desconforto.
5
II
6
sorvendo o ar puro da manhã.
7
Mas é horrível, no ar, com os pés ligeiros,
dançar, num último estertor!
8
III
9
- duas vezes por dia o Capelão
deixava um opúsculo ao detento...
10
gira o moinho, e a gente sua...
Mas dentro da nossa alma, um terror mudo,
um terror grande se insinua.
11
Assim, nós, criminosos, nós velámos,
(noite sem fim, de Horror e Espanto!)
e a angústia alheia, - a Dor no-la estendeu
por sobre as almas, como um manto.
12
entram, de súbito, em ciranda!
Rodopiam fantasmas em delírio,
numa grotesca sarabanda;
e, caricatos, fazem arabescos,
como o vento na areia branda!
13
Gemia o vento em volta das muralhas
do húmido cárcere infernal;
e o Tempo, enfim, moveu-se, - como roda
de aço, a girar no vendaval.
Ó vento soluçante! que fizemos,
para te ter por senescal?
14
O toque das oito horas aguardámos,
cheios de sede, - ardor aflito!
pois o toque das oito é o Destino
com que nasceu o homem maldito;
e o Destino usa sempre a mesma corda,
para o justo e para o precito.
15
IV
16
E eu nunca vi ninguém olhar assim,
ansiosamente, a luz do dia.
17
brilham, asseados, impolutos:
mas a cal dos sapatos denuncia
o que fizeram há minutos.
18
Quem sabe? Tem Jesus estranhas vias,
e é estranho, às vezes, seu conceito:
- fez outrora, ante um Papa, abrir-se em flores
seco bordão, de um Seu eleito.
19
e com sarcástico sorriso,
fitaram-lhe a garganta, inflada e púrpura,
o olhar imóvel, indeciso...
E envolveram-no, após, numa mortalha,
brutos, torcendo-se de riso.
20
V
21
para Cristo não ver como o Homem trata
barbaramente o seu irmão.
22
é, quando desce a noite cega,
sentir cada um, no coração, os blocos
que o dia inteiro ele carrega.
23
aguarda as santas mãos, que o Bom ladrão
exaltaram no Paraíso:
Deus não despreza os corações contritos,
e é estranho, às vezes, seu juízo.
24
VI
25
No entanto (ouvi!) cada um mata o que adora:
o seu amor, o seu ideal.
Alguns com uma palavra de lisonja,
outros com um frio olhar brutal.
O covarde assassina dando um beijo,
o bravo mata com um punhal.
JANEIRO DE 2010
26