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Drama social: notas sobre um tema de Victor Turner

MARIA LAURA VIVEIROS DE CASTRO CAVALCANTI

resumo O texto analisa a noção de drama so- Na bibliografia crítica disponível, Adam Kuper
cial desenvolvida por Victor Turner em Cisma e (1973) vê muito pouco de inovação na primeira
continuidade em uma sociedade africana, seguindo a fase da carreira intelectual de Victor Turner, e
sugestão de Clifford Geertz sobre o referencial dra- chega a dizer sobre o seu livro de estréia, Cisma
matúrgico utilizado na formulação dessa sugestiva e continuidade (Turner, 1996 [1957]) que:
metáfora conceitual. Trata-se de apreciar a eficácia
dos recursos ficcionais utilizados pelo autor em sua Embora se possa afirmar com justiça que a aná-
escrita etnográfica no contexto do solo conceitual lise de Turner não era teoricamente inovadora,
estrutural-funcionalista. A partir das narrativas dos como viriam a ser seus estudos do ritual Ndem-
dramas Ndembu, Turner coloca o leitor na posição bu, a qualidade do material coletado e o esmêro
de um espectador teatral. Seguindo o desenrolar das com que foi apresentado e analisado colocam a
ações dos personagens-chave dos dramas, assistimos monografia numa classe à parte (Kuper, 1973,
ao desenrolar de uma trama que corresponde a um p. 181).
futuro sociológico imaginado, visto como inevitá-
vel: a fissura da unidade da aldeia Ndembu. Turner é freqüentemente saudado pelos
palavras-chave Victor Turner. Drama social. estudos de símbolos e rituais que logo se se-
Metáfora conceitual. Ilusão dramática. Etnografia. guiriam, como na avaliação de G. Lenclud,
responsável pelo verbete sobre o autor no Dic-
tionnaire de l’Ethnologie et de l’Anthropologie
A antropologia de Victor Turner (1920- (Bonte; Pierre et Izard; Michel, 1991, p. 221):
1983) traz consigo o gosto pela “sujeição ao
vivido”, para usar uma expressão de Claude Para além da riqueza excepcional dos materiais
Lévi-Strauss (1976). Porém, com Turner, a su- etnográficos apresentados à análise, a origina-
posta sujeição transforma-se em um comprazer- lidade da contribuição de Turner para o co-
se com o vivido, em uma espécie de redenção nhecimento do fenômeno ritual e da atividade
pela imersão na experiência vital de um agora simbólica deve-se ao fato de sua obra conjugar
pleno de tensões e desdobramentos futuros, co- pontos de vista geralmente mantidos separados
letivamente experimentado. Uma antropologia na antropologia2.
encharcada de finitude, de impossibilidades e
contradições, de profunda empatia pelo sofri- Em re-interpretação do simbolismo das
mento humano (communitas e ritos de aflição). árvores entre os Ndembu, Peirano (1993)
A obra de Turner é tão vasta quanto multifa- também apontou o deslocamento conceitual
cetada, e nela há certamente muito a explorar1. empreendido por Turner rumo à co-extensão
do sistema social com o de crenças e práticas,
1. Apesar do marcante diálogo da antropologia brasileira
com Victor Turner, (DaMatta, 1979; Leolpoli, 1978; Vozes, 1974) e, mais recentemente, Floresta de sím-
Maggie, 2001; Turner, 1987; Vogel, Mello e Barros, bolos: aspectos do ritual Ndembu (Niterói: UFF, 2005
1998), apenas dois de seus livros encontram-se tradu- [1967]).
zidos para o português: O processo ritual (Petrópolis: 2. Tradução minha.

cadernos de campo, São Paulo, n. 16, p. 1-304, 2007


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que produziria as densas análises dos símbolos Cisma e continuidade em uma sociedade africana
rituais Ndembu. (1996 [1957])4, monografia baseada na pesqui-
As contribuições à antropologia das religi- sa de campo realizada em dois períodos: entre
ões de Turner, por sua vez, têm sido unanime- dezembro de 1950 e fevereiro de 1952, e entre
mente reconhecidas (Deflem, 1991; De Boeck; maio de 1953 e junho de 1954.
Devish, 1994; Weber, 1995). Também o são Com esse livro de estréia, Turner formulou
seus estudos sobre performance, atualmente com sucesso a noção de drama social, introdu-
tão em voga, que dialogam sobretudo com a zindo uma instigante heterodoxia nas análises
fase final de sua carreira – From ritual to theatre funcionalistas dos processos de conflito então
(1982) e com dois livros póstumos Anthropolo- em voga. Clifford Geertz (1997) já chamou a
gy of experience (1986) e Anthropology of perfor- atenção para o uso da metáfora conceitual do
mance (1987)3. drama por Turner. James Clifford (1998), por
No conjunto de sua obra, é possível dis- sua vez, renovou a leitura antropológica das
tinguir um núcleo “duro” de “antropologia etnografias clássicas, ao propor o exame dos
clássica”, isto é, de uma antropologia que se diferentes registros internos à construção de
movimenta, explora e testa limites no solo con- suas narrativas. A análise proposta toma essas
ceitual do estrutural-funcionalismo, a chama- sugestões como ponto de partida.
da antropologia social britânica. Esse núcleo
abarca o conjunto dos livros escritos sobre os
Ndembu e sua atividade ritual, que vão, grosso O conceito de drama social em Cisma
modo, de 1957, com a publicação de Cisma e continuidade
e continuidade, a 1968, com o lançamento de
The Drums of affliction. Nessa perspectiva, O No prefácio à segunda edição de Cisma e
processo ritual (1974 [1969]), ao desenvolver continuidade, datado de 1968, Turner (1996)
o conceito de communitas a partir da noção afirma que os dramas sociais pretendem ligar
clássica de liminaridade (Van Gennep, 1960 a compreensão do processo social à estrutura
[1909]), pode ser visto como um livro de pas- social, em formulações cheias de ortodoxia e do
sagem para uma nova etapa da obra de Tur- vocabulário teórico da época. Dramas sociais
ner. Nela, a etnografia dos Ndembu passaria a são definidos como:
dialogar com os mais diversos fenômenos das
chamadas sociedades ocidentais – dos movi- uma sucessão encadeada de eventos entendi-
mentos milenaristas às comunidades hippies – dos como perfis sincrônicos que conformam
e finalmente desembocaria nas idéias de uma a estrutura de um campo social a cada ponto
antropologia da performance e da experiência significativo de parada no fluxo do tempo [...]
(Dawsey, 2005). representam uma complexa interação entre pa-
Este artigo se atém a um aspecto da fase ini- drões normativos estabelecidos no curso de re-
cial da carreira de Turner e procura realçar a gularidades profundas de condicionamento e da
originalidade e a inquietação já presentes em experiência social e as aspirações imediatas, am-
bições ou outros objetivos e lutas conscientes de
3. Rubens Alves da Silva (2005) examinou a noção de grupos ou indivíduos no aqui e no agora. (1996,
drama em Turner enfatizando suas conexões com o p. XXI e XXII)
tema da liminaridade e da performance. Para as cone-
xões entre os temas do drama e da performance e da 4. Todos os trechos citados desse livro foram livremente
experiência, ver também Dawsey (2006). traduzidos pela autora.

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Ao mesmo tempo, é um Turner mais ousa- do sistema social como um campo de tensões
do quem nos diz que: cheio de ambivalências, cooperação e lutas
contrastantes. De modo marcante, o tema do
Ao formular a noção de Drama Social, eu tinha ritual emerge do exame da própria história dos
em mente a explícita comparação da estrutura zulu, revelando as tensões sociais críticas des-
temporal de certos tipos de processos sociais com sa sociedade. A idéia de dramatização, por sua
aquelas dos dramas no palco, com seus atos e ce- vez, já estava formulada ali: os rituais de rebe-
nas, cada um com suas qualidades peculiares e to- lião dramatizavam as tensões sociais em toda
dos caminhando para um clímax. (1996, p. XXI) sua ambivalência.
Na introdução autobiográfica de Order and
Turner encontra-se então a um só tempo rebellion (Gluckman, 1963), a própria conceitua-
próximo e distante do pensamento e da influ- ção de “ritos de rebelião” é vista como sua contri-
ência de Max Gluckman (1911-1975) e dos buição central à teoria antropológica. Gluckman
pressupostos básicos do conjunto de estudos destacou que o ritual não expressava apenas a
realizados sob sua orientação. Como sabido, coesão social ou imprimia “o valor da sociedade
no começo de sua carreira, Turner integrava e dos sentimentos sociais no povo, como na tese
o chamado grupo de Manchester e dos pes- durkheimiana e de Radcliffe-Brown” (Gluck-
quisadores do Rhodes Livingstone Institute man, op. cit., p. 18). Para ele, o ritual exagerava
(Schumaker, 2004; Engelke, 2004), liderados “conflitos reais de regras sociais, afirmando que
por Gluckman. A proximidade intelectual exis- a unidade existe apesar dos conflitos”. Imediata-
tente entre eles pode ser percebida pela forte mente em seguida ele admitiu, entretanto, que
presença dos temas do conflito, da natureza a tese de que a unidade social não se faz apesar
processual da vida social e do papel integrador dos conflitos mas através dos conflitos, teria sido
do ritual na obra de Gluckman (quem, por sua efetivamente “levada muito adiante por Victor
vez, reconhece expressamente a importância Turner em Cisma e continuidade” (Gluckman,
de Bateson, Evans-Pritchard e Fortes para seu op. cit., p. 18-20, tradução minha).
pensamento). Ao mesmo tempo, desde cedo, os escritos
Em seu conciso artigo sobre o material et- de Turner (1953) revelam uma inquietação que
nográfico na antropologia social inglesa, Glu- indica caminhos intelectuais muito pessoais.
ckman (1990 [1959]) destacou o trabalho de Na esteira do interesse do estrutural-funciona-
Turner, valorizando o dinamismo do estudo lismo pelos rituais, um aspecto dessa inquie-
dos “casos em processos” empreendido em Cis- tação pode ser percebido no nítido realce da
ma e continuidade. Também, em seu conhecido função-chave atribuída aos rituais na sociedade
artigo Essay on the ritual of social relations, de Ndembu. Ao simbolizarem valores comuns a
1960, Gluckman (1962, p. 40) fala em unísso- todos os Ndembu, os rituais de cura e de aflição
no com Turner – “Turner and I think (...)” – geravam um sentido de pertencimento capaz
quando afirma que “os rituais funcionam para de transcender o permanente estado de tensão
encobrir conflitos fundamentais”. interpessoal e conflito político interno às instá-
Com Gluckman, o lugar central do ritual veis aldeias. A compreensão, aqui ainda estrita-
na estrutura do sistema político já se impuse- mente sociológica, desse lugar central já se abre
ra com todas as letras. Em seu artigo Ritos de em Cisma e continuidade (cap. X) para a visão
rebelião (Gluckman, 1974), inicialmente pu- da experiência social como uma experiência de
blicado em 1952, emerge claramente a idéia subjetivação realizada através do aprendizado,

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manuseio e atuação dos símbolos. Pois a con- sociais. Sua monografia de estréia guarda tam-
tinuidade da sociedade Ndembu (talvez pudés- bém algo de sua própria performance como
semos falar, sobretudo, da continuidade de um autor/dramaturgo.
sentido de pertencimento a um amplo grupo
social) repousaria, em última instância, na con-
tinuidade de uma “comunidade de sofrimen- Os dramas sociais na aldeia Ndembu
to”, cujas tensões e conflitos se expressariam e,
de algum modo, resolver-se-iam ritualmente Cisma e continuidade enfoca a estrutura so-
nos ritos de cura e de aflição. cial dos Ndembu, sobre cuja superfície de regu-
Porém, é preciso acrescentar, como assina- laridades sociais logo emergirão, na forma de
lou Geertz (1997), um outro aspecto sobre o dramas, as contradições e os conflitos latentes
qual este texto se detém: a originalidade do uso que lhe conferem dinamismo vital. Essa estru-
da metáfora do drama por Turner. A analogia tura é inicialmente apreendida de forma clássi-
entre a vida social e o drama/teatro há muito ca, com muitas genealogias, pesquisa de campo
tempo já estava disponível nas ciências sociais, exaustiva, quadros estatísticos e amostragens.
tanto na teoria ritual do drama quanto na idéia Porém, desde o começo da descrição, a vida
da vida como um teatro com o desempenho de social Ndembu é apresentada com Pathos, com
papéis por atores sociais. Entretanto, como in- profunda empatia provocando imediata iden-
dica Geertz (1997, p. 44), com Turner, a idéia tificação e compaixão no leitor. Vale retomar
de drama: 1) foi aplicada de modo extensivo e rapidamente os argumentos e a caracterização
sistemático, não sendo uma metáfora inciden- da aldeia feita por Turner. Vejamos:
tal e 2) foi aplicada de forma constitucional e t " NBUSJMJOFBSJEBEF PSHBOJ[B B CBTF SFTJ-
genuinamente dramatúrgica: trata-se de fazer e dencial das aldeias Ndembu, garantindo o prin-
não de fingir, da possibilidade de transforma- cípio de sua continuidade ao longo do tempo.
ção da experiência vivida. Essa almejada continuidade, entretanto, é um
Gostaria, neste texto, de sugerir que o refe- objetivo problemático. De um total de 64 al-
rencial propriamente dramatúrgico do uso da deias levantadas na mostra quantitativa, ape-
metáfora conceitual do drama, desenvolvida nas uma aldeia perdurava há doze gerações.
especialmente nos capítulos IV e V de Cisma Nos anos 1950, o padrão temporal médio de
e continuidade, trouxe para a escrita etnográfi- duração de uma aldeia era de seis gerações. A
ca de Turner, para além da inovação na análise aldeia Mukanza, base do estudo de caso realiza-
sociológica estrito senso, o recurso narrativo ao do, então existia há nove gerações. O autor nos
drama como poesis, como atividade plena de informa que a amnésia estrutural começaria
mecanismos de simbolização. tipicamente acima dos ancestrais significativos
Esse procedimento narrativo implícito e para os membros vivos da matrilinhagem cen-
eficaz nos transforma, nós leitores de Cisma e tral da aldeia.
continuidade, em espectadores participantes do t"DPNCJOBÎÍPEPQSJODÓQJPFTUSVUVSBMEB
desenrolar de uma trama que corresponde a matrilinearidade com a regra de casamento vi-
um imaginado futuro sociológico, visto como rilocal – ou seja, as mulheres deslocam-se para
inevitável àquela estrutura social: a fissura da a aldeia do marido quando casam – gera uma
unidade da aldeia Ndembu. Sob a roupagem grande instabilidade na sociedade Ndembu tan-
estrutural-funcionalista, abriga-se uma prefi- to no casamento dos aldeãos quanto na estru-
guração do vindouro Turner das performances tura residencial de suas aldeias. Operando com

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a matrilinearidade, a virilocalidade impõe a um Assim, na sociedade Ndembu combinam-


grupo de irmãos uterinos (siblings) a separação se, em grande tensão, o ideal de construir gran-
residencial dos parentes com os quais conviveu des e duradouras aldeias e a mobilidade real e
na infância. Embora esse hipotético grupo de freqüente de seus membros. Na prática, cada
irmãos trace sua ascendência por linha materna, grupo de descendentes maternos encontra-se
via de regra, ele terá crescido na aldeia de seu pai, espalhado em diferentes vizinhanças, todas de
ou seja, no seio da matrilinhagem que comanda composição heterogênea, e há um contínuo
a rede de parentesco de seu pai. Ao se casarem, fluxo de visitas entre os parentes matrilineares
os irmãos desse hipotético grupo tendem a levar residentes em aldeias diversas, gerando o que
as esposas para outra aldeia, aquela de sua pró- Turner caracteriza como um individualismo
pria matrilinhagem. Essa mudança residencial característico dos Ndembu.
faz com que o grupo de siblings masculinos, na Porém, a efetiva compreensão desses princí-
primeira oportunidade, tenda a entrar em con- pios estruturais contraditórios e em permanente
flito de lealdade com a nova aldeia como um operação passa pelo apelo, desde o prefácio à pri-
todo. O resultado dessa tensão produz grande meira edição de 1957 (p. XXVII), à compaixão
autonomia da família matricêntrica – o grupo e à empatia do leitor por aqueles homens e mu-
formado por uma mãe e seus filhos – que fun- lheres concretos. Todo homem Ndembu vê-se
cionaria na prática como a unidade social bási- dividido num insolúvel conflito de lealdade en-
ca. Nesse quadro, o grupo de siblings uterinos tre sua esposa (como maridos, os homens que-
em idade adulta tende a constituir a primeira e rem manter suas mulheres e filhos) e suas irmãs
mais provável ameaça à manutenção da integri- (como irmãos, querem recobrar para si a lealda-
dade de uma aldeia, formando, nas palavras de de de suas irmãs e sobrinhos). Conflito seme-
Turner, a “primeira unidade de fissão”. lhante ocorre com as mulheres, sempre divididas
Por sua vez, as irmãs desse mesmo grupo entre os papéis de esposas e irmãs. Ora, para nós
hipotético – que, quando casam, deslocam-se leitores, nos capítulos IV e V, esses homens e
para a aldeia do marido – manterão, mesmo mulheres logo se tornarão pessoas concretas, ou
depois de casadas, um forte laço com seus ir- melhor, personagens muito particulares.
mãos. Com seus filhos, elas formam uma base Nesse tipo de estrutura social, Turner
potencial importante para os grupos de apoio constata que os distúrbios a ele relatados pe-
político a um homem/irmão sênior e aspirante los Ndembu e/ou por ele diretamente presen-
à liderança aldeã. Não é de se estranhar que os ciados, não só manifestavam esses conflitos
divórcios sejam freqüentes. latentes como obedeciam a um padrão, consti-
t&TTBTGPSUFTUFOEÐODJBTËJOTUBCJMJEBEFTÍP tuindo, em suas palavras “uma forma orgânica
contrabalançadas por alguns mecanismos. Se em que uma etapa evolui da anterior”, ou seja,
um casamento virilocal perdura, com a criação um drama. Com essa idéia de drama, Turner
dos filhos na aldeia paterna, há uma tendência opera também com uma idéia muito precisa de
à fusão dos parentes da mãe e do pai. Cria-se, atores:
nesse caso, uma geração genealógica que atra-
vessa a família matricêntrica, unindo primos as diferentes personalidades ocupam posições
cruzados e primos paralelos. A ligação entre as sociais que devem inevitavelmente entrar em
duas linhas de ascendência é então assegurada conflito e cada ocupante de uma posição deve
pelos casamentos entre primos cruzados ou pe- apresentar seu caso em termos de normas aceitas
los casamentos entre gerações alternadas. por todos (1996, p. 94).

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Na seqüência desse raciocínio, acompanha- aldeia. A ação se desdobra no contexto da tensão


mos então a chegada do autor à formulação- e do confronto latentes em torno das expectativas
chave do livro: e ambições masculinas pela chefia da aldeia.
O Capítulo V, que contém os três primeiros
A situação em uma aldeia Ndembu é muito pró- dramas diretamente vivenciados por Turner em
xima àquela encontrada no drama grego no qual sua primeira permanência em campo, é espe-
assistimos à impotência do indivíduo humano cialmente esclarecedor. O primeiro deles é de
diante do destino: mas nesse caso o destino setembro de 1951, e o investigador percebe sua
são as necessidades do processo social. (Turner, presença no cenário aldeão como um “fator de
1996, p. 94) ação”. A análise desses três dramas revela com
limpidez o “sistema em operação na vida coti-
Turner analisou sete dramas sociais. Os dois diana” e, com isso, o vívido perfil humano dos
primeiros foram reconstituídos a partir de nar- principais personagens. Vejamos mais de perto,
rativas diversas dos aldeãos. Eles introduzem a no diagrama abaixo.
situação política da aldeia tal como encontrada No drama III, Kasonda (G15), o assis-
em 1950 por Turner (Ver diagrama abaixo). tente de Turner, alfaiate e um dos adultos
A aldeia Mukanza encontrava-se então sob a sênior da principal sub-linhagem da aldeia,
chefia de Mukanza Kabinda (F8), da sub-linha- Nyachitang’a, cujo tio materno Mukanza Ka-
gem Nyachitang’a, cuja esposa sênior era Nya- binda (F8) é o chefe da aldeia, é o motivo do
mukola (H10), por sua vez, pertencente à geração início da ação. Estando a serviço do antropó-
alternada e membro da sub-linhagem Malabu. Os logo, Kasonda não teria podido comparecer
dois primeiros dramas introduzem em um campo a um ritual importante ocorrido na aldeia

 
        
  
de ação o posicionamento dos diversos persona- Mukanza no início de 1951.  Algum tempo
gens/aldeãos na estrutura das relações sociais da depois, ele é acusado de ter enfeitiçado o ir-

$-PRINCIPAIS
DIAGRAMA DAS DUAS 
SUB
& %- 

-LINHAGENS DA ALDEIA MUKANZA5 
D1= linhagem Nyachitang’a
'   *(   


D2= linhagem Malabu
(com a marcação dos principais personagens)

5. Esse diagrama representa a geração J apenas por Koniya (J1) (por sinal esposa de Kasonda, G15). Não mostra a sua
irmã, J2, Zuliyana, também filha do casal Mukanza Kabinda (F8) e Nyamukola (H10), esposa de Sandombu (G10)
e pivô do drama V.

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mão de Mukanza Kabinda, seu outro tio-ma- acusa Nyamukola, a mãe de Zuliyana e espo-
terno Kanyombu (F9), que havia morrido, e sa do chefe Mukanza Kabinda, de ter passado
da malária, segundo Turner, que assola o pró- um feitiço para a filha para ela, por sua vez,
prio chefe Mukanza Kabinda (F8) e também enfeitiçá-lo, a ele Sandombu. Sandombu man-
Sakazao (H9). Este último é de uma geração tém a acusação em praça pública, mas, mesmo
abaixo de Kasonda (G15) e integra a outra assim, Zuliyana volta para casa com o marido.
sub-linhagem formadora da aldeia, Malabu. Sakazao (sub-linhagem Malabu) defende San-
Entre as principais acusadoras está a espo- dombu, dizendo que este apenas estava bêbado
sa do chefe Mukanza, Nyamukola (H10), da e que, como retratação, deveria simplesmente
sub-linhagem Malabu. Nesse drama, somos pagar uma multa à sogra ofendida. Enquanto
apresentados à sensível e sutil inteligência di- isso ocorre, Sandombu enfrenta uma antiga dis-
plomática da retórica defensiva de Kasonda que puta com o chefe de outra aldeia da vizinhança
reverte a situação a seu favor. por xingamento, e todos os aldeãos de Mukan-
O drama IV se inicia com a morte por ma- za lhe dão apoio, exceto o casal chefe, Mukan-
lária de Ikubi (H14), uma jovem da linhagem za Kabinda e Nyamukola. Para alegria de toda
Malabu, e agora a acusação de enfeitiçamento a aldeia Mukanza, Sandombu ganha esse caso
recai sobre Nyamuwang’a (G17), mulher viú- paralelo e sua aldeia decide então que ele deve
va e sênior da mesma geração de Kasonda, tia apenas pagar uma multa de dez shillings para
materna de Ikubi e integrante da sub-linhagem sua sogra Nyamukola.
Malabu. Sakazao (G15, sub-linhagem Malabu) Turner teoriza então:
pede para Nyamuwang’a se retirar para outra
aldeia, não por ser feiticeira, mas por sua ten- um sistema social está em movimento dinâmico
dência de sempre criar confusão. E lá se vai através do tempo e do espaço, de algum modo
Nyamuwang’a, levando sua filha, sendo ambas análogo a um sistema orgânico no sentido em
logo depois acolhidas de volta por Sandombu que ele exibe crescimento e decadência, de fato
(G10). o processo de metabolismo (1996, p. 161).
O leitor de Cisma e Continuidade já havia
sido apresentado a Sandombu, homem sênior Porém, a essa interpretação caracteristica-
e estéril da mesma geração de Kasonda e da mente funcionalista sobrepõem-se dois outros
mesma sub-linhagem dominante Nyachitang’a aspectos oriundos da analogia proposta entre o
desde o drama I. No drama II, a conduta de processo social e a idéia dramatúrgica, a saber:
Sandombu já revelara sua inveja e ambição pela 1) No encadeamento das seqüências de
chefia. Na ocasião relatada, ele tinha sido ex- ações, o drama social revela aquilo que ocor-
pulso da aldeia, embora logo depois tenha sido reria imperceptivelmente no fluxo cotidiano
perdoado e aceito de volta. da aldeia: o realinhamento das relações sociais
O drama V começa com as reclamações das em pontos críticos de maturação ou declínios
duas mulheres de Sandombu (Zuliyana e Kati- estruturais. Esses pontos críticos da estrutura
ki) que querem um tecido bonito para fazer um social em movimento dinâmico conformam a
vestido e mais recursos oriundos das colheitas dimensão de destino inexorável que Turner atri-
que realizam. Zuliyana acusa seu esposo Sam- bui aos processos sociais que analisa.
bombu de ambicionar a chefia da aldeia (que 2) Ao mesmo tempo, esses desdobramentos
pertence a seu pai Mukanza Kabinda) e foge de ações podem ser vistos como uma prova de
para a casa dos pais. Na seqüência, Sandombu força entre interesses conflitantes de pessoas e

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grupos que tentam manipular, cada qual em A aldeia Mukanza manteve sua integridade por
seu próprio benefício, a rede de relações sociais mais uma geração.
estruturais e circunstanciais. Esses processos Essa seqüência dos três dramas apresenta-
sociais revelariam então outra dimensão em- dos no capítulo V desemboca diretamente no
butida na metáfora dramatúrgica, aquela do magnífico capítulo X, no qual Turner analisa
embate entre os homens que abre um campo de – “sociologicamente”, ele enfatiza, e não “sim-
alternativas possíveis para a ação. bolicamente”, tarefa que ele nos avisa ter dei-
Esses três dramas alinhados revelam cla- xado para um outro momento – um culto de
ramente que a unidade residencial da aldeia aflição. Trata-se do ritual Nkula (esquecimento
Mukanza repousava no laço entre as duas sub- do ancestral) que teve como foco justamente
linhagens principais Nyachitang’a e Malabu, Nyamukola, a esposa de Mukanza Kabinda,
expressa no casamento do chefe Mukanza Ka- pertencente à sub-linhagem Malabu e subme-
binda com Nyamukola. O risco de rompimento tida à grande tensão pessoal no decorrer dos
desse laço é o futuro que pressiona inexoravel- dramas analisados. No processo de nominação
mente o presente. desenvolvido no rito, descobre-se que o espí-
É preciso notar que, à certa altura dos re- rito que a afligia era Nyamukang’a, a ancestral
latos, Turner entra na cena dramática por ele de sua linhagem Malabu. O principal organi-
montada. Como o diretor de um filme de Car- zador desse ritual foi Sandombu (sub-linhagem
los Saura (Doces momentos do passado), que per- Nyachitang’a) e a principal mulher de Sakazao
de a distância analítica da direção e passa a atuar (sênior da linhagem Malabu). Através de uma
na cena como mais um de seus personagens, o identificação pelo sofrimento, os laços de soli-
autor-dramaturgo passa a analisar possíveis des- dariedade que mantêm a aliança das duas sub-
dobramentos futuros “quando Mukanza Ka- linhagens e, portanto, a própria continuidade
binda morrer” (1996, p. 165). Turner indaga-se da aldeia Mukanza, se refazem.
sobre um futuro, tido por ele como inevitável, Embora a noção de drama social focalize a
quando, com a morte de seu chefe, a aldeia ação social, vale ressaltar o fato aparentemente
Mukanza inevitavelmente fissionaria. óbvio de que os dramas sociais analisados são
Essa idéia de uma necessária fissura da al- necessariamente narrativas sobre ações, ou seja,
deia corresponde ao peso do destino sobre os as ações propriamente ditas foram objeto de
atos humanos e, com essa expectativa de destino uma transposição ficcional, e existem na forma
vindouro, Turner cria grande tensão dramática de narrações idealizadas e ordenadas por nosso
envolvendo intensamente o leitor em sua narra- autor. Do ponto de vista nativo, o processo de
tiva. Nesse futuro vislumbrado como destino, a acusação interno à aldeia, que sempre se segue
aldeia Mukanza, nos diz o autor, clivar-se-ia em à irrupção da crise inauguradora de um dra-
duas – com Kasonda (sub-linhagem Malabu) e ma qualquer, é ele mesmo uma análise e auto-
Sandombu (sub-linhagem Nyachitang’a) fundan- análise da conduta dos atores/personagens. O
do cada qual sua própria aldeia, e com Sakazao autor/antropólogo organiza essas narrativas e
(sub-linhagem Malabu) assumindo a chefia da ações na sua própria narrativa de um drama
aldeia Mukanza. Vale informar que nada disso, revelador das razões estruturais implícitas aos
como comenta Turner no Prefácio à edição de conflitos explicitados pelas acusações, defesas e
1968 (p. XXIII), veio a ocorrer. Mukanza Kabin- contra-acusações que movimentam a trama de
da foi um chefe longevo e morreu em 1967. Foi ações. Temos assim o resultado tão almejado e
sucedido, sem maiores conflitos, por Kasonda. aplaudido por Gluckman – a descrição de um

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processo social em movimento, um modelo di- da linhagem Nyachitang’a que almeja à chefia
nâmico de sociedade em que ação relacional, da aldeia a qualquer custo. Sandombu é, como
reconstituída e apresentada de forma dramáti- nos sugere a epígrafe de William Blake no li-
ca, é interpretada dentro dos princípios da es- vro, um homem particular, aquele “lugar único
trutura social. onde as formas gerais ganham vitalidade”.
Entretanto, indo além dos paradigmas do Turner opera com chaves conceituais pre-
funcionalismo, vale aprofundar o referencial cisas em seu criativo uso da analogia do drama
dramatúrgico da idéia de drama. Por esse viés, para a compreensão da vida social. O refe-
o drama social é também — além da “princi- rencial para a transposição ficcional efetuada
pal unidade de descrição e análise no estudo pela narrativa do drama social é a situação do
do processo social” (Turner, 1996, p. XXV), desenrolar das ações dentro de uma moldura
com as suas quatro fases características (quebra temporal e espacial nítida. Como nos diz Su-
de uma regra ou valor; crise; ação reparadora; san Langer (2003, p. 429), o drama é como a
re-integração ou reconhecimento do cisma) — ação, produzindo a ilusão do ato. É causal, pois
um curso de tempo ativo de experimentação provém de um passado e cria uma experiência
subjetiva, afetiva e cognitiva, dos princípios es- total e iminente. Estabelece um presente que
truturais pelos personagens/atores sociais. Seu contém a origem de um futuro ou um destino
desenrolar não apenas revela os focos de tensão necessário. O dramático, na visão dessa auto-
da estrutura social, mas constitui também um ra, é especificamente esse sentido do presente
lugar de possível reflexão, análise e auto-análise que, vindo de um passado, é preenchido com
e de transformação conceitual e interior da pes- a qualidade de seu próprio futuro. Esse futu-
soa Ndembu em seus relacionamentos. ro embutido no presente organiza e unifica o
O ambicioso Sandombu, afinal, chorou sin- contínuo da ação. No drama, nos diz Langer
ceramente, lá no drama II, quando foi acusado (2003), o futuro acontece diante de nossos
de enfeitiçar Nyamuwhala (irmã de Mukanza olhos. Esse sentido de destino presente na ação
Kabinda e de Kahali Chandenda que já tinha dramática fornece o sentido de totalidade e de
morrido). Ao retornar para a aldeia Mukanza organicidade ao desenrolar das ações narradas
um ano depois, Sandombu ofertou uma cabra por Turner.
para o chefe Mukanza Kabinda e promoveu O drama é uma história que está vindo:
um ritual para a ancestral comum (Turner, Quando a aldeia Mukanza fissionará? A per-
1996, p. 129). gunta sobre esse futuro insinuado por Turner
O mesmo Sandombu riu deliciosamente confere ritmo dramático às narrativas analisa-
quando acusado de xingamento pelo chefe da das. De tal modo que nós, leitores de Cisma
aldeia vizinha no drama V, até perceber que se e continuidade, vemo-nos imperceptivelmen-
tratava de uma acusação para ser levada a sério. te colocados no lugar do espectador teatral,
Então se defendeu e, ao fazê-lo, tornou efeti- cheios de empatia e munidos de suficiente dis-
vamente sua a aldeia Mukanza, ganhando com tância psíquica para nos entregarmos à ilusão
isso o apoio de todos os aldeãos (menos o do dramática. Foi com essa ilusão – no sentido de
casal chefe). Logo em seguida, ele promoveu o uma construção de natureza ficcional (Langer,
rito Nkula (Capítulo X) para Nyamukola, sua 2003) – que Victor Turner elaborou a parte
sogra, pertencente à sub-linhagem Malabu. mais contemporânea de seu estudo.
Sandombu é assim muito mais do que o in- Turner narrou o desenrolar de ações como
vejoso, frustrado e esquentado homem sênior uma engrenagem natural de comportamentos,

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perimentamos a tensão da pergunta mantida em considerações sobre os ritos de passagem e a moder-
suspenso durante todo tempo narrativo: quando nidade. Mana. Estudos de Antropologia Social, v. 6, n.
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como procurei demonstrar, nessa primeira fase bisomem. Mana. Estudos de Antropologia Social, v. 12,
de sua trajetória intelectual, o brilho de Turner n. 1, p. 135-149, 2006.
não resulta apenas do esmero com que obteve os ______. Victor Turner e a antropologia da experiência.
dados analisados em sua monografia de estréia, Cadernos de Campo, São Paulo, n. 13, ano 14, p. 163-
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sional papers of the Rhodes -Livingstone Museum, Uni- formance”, na 25ª Reunião Brasileira de
versity of Zambia by Manchester University Press, n. Antropologia, em Goiânia, em junho de 2006,
10, p. 335-388, 1953.
e no V Laboratório de Análise Simbólica, PPG-
______. The drums of affliction: a study of religious processes
among the Ndembu of Zambia. Oxford: Oxford Uni- SA/IFCS/UFRJ, em agosto de 2006. Agradeço
versity Press, 1968. 326 p. as sugestões e críticas que recebi dos participan-
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polis: Vozes, 1974 [1969]. 248 p.

autor Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti


Professora do Departamento de Antropologia Cultural/IFCS-UFRJ
Doutora em Antropologia Social/IFCS-UFRJ
Pós-Doutora/Columbia University

Recebido em 14/05/2007
Aceito para publicação em 29/11/2007

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