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Trajetórias de vida e de trabalho flexíveis: o processo de trabalho pós-


Braverman1
Janaina Martins dos Reis
1 CONTEXTO

A flexibilização do mercado de trabalho e as consequências para a vida do


trabalhador são discutidas neste artigo. Sob a ótica de duas pesquisas realizadas no
Brasil e na Itália. No Brasil nos anos de 1990 busca a redução de estoques e
qualidade. Enquanto na Itália busca-se relativizar os direitos trabalhistas e diminuir o
poder dos sindicatos. A Itália é exemplo de como a flexibilização contratual pode
denegrir o trabalho gerando instabilidade no emprego, insegurança impactando
diretamente na vida de quem trabalha.

2 RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA

Não encontrada.

3 OBJETIVO GERAL

O artigo pretende analisar as transformações a partir da flexibilização diante os


modelos do fordismo e pós-fordismo que possibilitaram deteriorações e melhoria no
trabalho.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

De Braverman ao pós-Fordismo

Quanto às exigências econômicas e gerenciais modificaram a organização do


trabalho é tema de discussão no livro “Trabalho e capital monopolista.” A teoria da
degradação do trabalho consiste na alienação dos trabalhadores em consequência
da separação do trabalho mental e manual. Braverman foi criticado em vários os
aspectos. Inclusive por não ter presenciado fatos que mudaram as relações de
trabalho contemporâneas, por isso, não visualizou como os fatos econômicos e
sócias influenciaram a flexibilização do trabalho como estratégias gerencial.

Consequentemente, a evolução das organizações leva a hierarquização e


departamentalização, características da empresa fordista. Assim, as relações de
trabalho pós Braverman são marcada pelo fordismo ao pós-fordista.

Na crise energética de 1973 encontrou grandes empresas com altos salários,


sindicatos fortes que dificultava a competição de mercado. O pós-fordismo chega
como alternativa, com a produção enxuta, se aproximando mais do trabalhador e o
produto, buscando mais produtividade com menos recursos.

Surgimento do modelo Japonês toyotismo se utilizava com células produção, alto


controle de qualidade, participação do trabalhador e melhorias dos postos de

1RODRIGUES, Maria Beatriz. Trajetórias de vida e de trabalho flexíveis: o processo de trabalho pós-
Braverman. Cadernos EBAPE. BR, v. 12, n. 4, p. 770-788, 2014.
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trabalho. Já o Just-in-time consiste em produzir apenas o que já foi vendido, busca


evitar estoques, o retrabalho e o controle de qualidade que prescinde de
trabalhadores multifuncionais num ambiente cooperativo.

Entretanto, o sucesso da indústria japonesa nos anos 1980 e 1990 propiciaram a


disseminação de seus modelos produtivos pelo mundo globalizado, mudando as
particularidades na concepção do trabalho gerando diferença salarial, descrição de
cargos, o aumento da participação dos trabalhadores e o fortalecimento dos
sindicatos. Nessa ocasião, a flexibilização do trabalho acontecia através
concentração de trabalhadores nas atividades fins e a terceirização das atividades
meios surgindo os subcontratos. Portanto, o capitalismo flexível exige que os
trabalhadores sejam versáteis se adaptem a mudanças constantes e aceitem menos
garantias.

Assim, num cenário de tensões bipolar entre oriente e ocidente, a globalização de


mercado e posterior crise financeira mundial em 2008, seguida da ascensão da
China, trazem uma importante diminuição dos postos de trabalho e antigas
incertezas sobre o trabalho ocidental. O crescente uso de tecnologia de informação
e comunicação contribui para diminuição do posto de trabalho principalmente em
países desenvolvidos.

Notas sobre a flexibilização do trabalho no Brasil

No Brasil no final do século XIX e início do XX houve um crescimento da indústria


com destaque para o setor têxtil, de vestuário e o metalúrgico. Entretanto, o
desenvolvimento industrial ganha proporções significativas no governo de Getúlio
Vargas, onde tem-se a Consolidação das leis trabalhistas de 1943 e o incremento
das estatais. Num segundo momento de industrialização foi na década de 1950 com
Juscelino Kubitscheck, e o terceiro, após o golpe de 1964 com internacionalização
da indústria.

No final dos anos 1980, modelos japoneses como just-in-time, em especial Kanban
são incorporados qualidade total (TQC – Total Quality Control) e uma busca de
certificações ISO. Este modelos levam a flexibilização funcional, que traz ideias
como multifuncionalidade, multiqualificação e o trabalho em grupos ou células de
produção, que exige do trabalhador maior responsabilidade e resultado.

Consequentemente, surge o aumento da rotatividade na casa dos 40% otimizado


pela flexibilização. Nesta ocasião surge a reengenharia, terceirização outsourcing,
downsizing, trabalho temporário, entre outras.

No inicio da década de 1990 aparecem os contratos atípicos através de


terceirização, principalmente no chão de fabrica, sobretudo a partir dos movimentos
de abertura comercial e desregulação dos contratos de trabalho.

Desde então, trabalhador atípico tem se estabelecido nas ultimas décadas, com uma
contratação sem concretização de vínculos trabalhistas, que abre mão de direitos
com licença saúde, férias, 13° salário ou indenização em caso de demissão, no
entanto, tem os mesmos deveres de trabalhadores fixos da empresa.
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A flexibilização em empresas brasileiras pode ser dividida em externa e interna. A


flexibilização externa quantitativa é baseada na terceirização, subcontratação,
trabalho em domicílio, rede de empresas e cooperativas de trabalho. A flexibilização
quantitativa interna tem como base o trabalho de tempo compartilhado (Job sharing),
Lay-off, estágios, trabalho temporário e o tempo parcial. Tem também a flexibilização
funcional interna com a polivalência, multifuncionalidade e a flexibilização interna e
externa que considera as formas de trabalho (tempo/espaço).

5 METODOLOGIA

A pesquisa tem abordagem qualitativa: sujeito de pesquisa 1537 trabalhadores


italianos que contaram sua experiência no jornal “La Repubblica”.

6 RESULTADOS

Na Itália a partir de 1992, surge a gestão das relações de trabalho chamada de


“Concertação social” que envolvia participação de sindicatos, empresários e
governo. Posteriormente, o de governo lança o “Pacote Treu” de 1997 buscava a
geração empregos e a inclusão de jovens no mercado.

Em 2002, a flexibilização ganha forças com a Lei Biagi, ou Lei nº 30. Onde os
contratos de trabalhos temporários renováveis foram inseridos no mercado. Na
época o governo considera as relações de trabalho burocráticas.

Os depoimentos que fazem parte deste artigo são reações de trabalhadores vitímas
da Lei Biagi, vista como estimulante a flexibilização do trabalho. Este eram
sujeitados a diferentes tipos de contrato temporário chamados de Co.Co.Pro
(colaborador contínuo por projeto), que substituiu o anterior Co.Co.Co (colaborador
contínuo e coordenado). Os quais fomentava problemas a vida do trabalhador como
a redução de direitos sociais, a dificuldade comprovação de renda e de conseguir
crédito ou financiamentos.

O jornal “La Repubblica” publicou em um blog depoimentos de 1029 pessoas que


descrevem suas experiências com a flexibilização do trabalho, o relato foi cunhado
pela frase “Minha vida como Co.Co.Co.” Os testemunhos corrobora para
levantamento de dados importantes sobre a flexibilização. Os respondentes são
trabalhadores jovens onde 42% trabalham em serviços com média e alta
qualificação. Eles têm escassa autonomia e recebem salário médio de mil euros ao
mês.

As categorias mais frequentes ou de maior preocupação surgiram da análise dos


depoimentos foram: relações com sindicatos com 5,77% dos depoimentos;
impossibilidade de carreira, 23,08%; desqualificação, 22,43%; perdas ou
relativização de direitos, 28,85%; problemas práticos cotidianos derivados do tipo de
contrato de trabalho, 19,87%. Na sequência, as categorias perda e relativização de
direitos com 28,85% e dificuldades de planejamento da vida privada com 19,87%.

Os respondentes declaram que a presença dos sindicatos é pequena, é existia uma


dificuldade de atuação do mesmo no mercado de trabalho atípico. A categoria a
perda de direitos adquiridos é mais significativa, pois atinge as garantias sociais e a
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posição na sociedade destes trabalhadores. Preocupações com carreira e


qualificação também tem um peso importante devido as inconstância dos contratos.

Tais mudanças impactam no futuro dos trabalhadores, com menor poder de


associação e insatisfeitos com a relações de trabalho estes percorrem empresas
buscando sobreviver nesse novo cenário.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo considera a passagem fordista para o pós-fordista. Analisando


elementos como crise energética que trouxeram mudanças importantes no mercado
de trabalho. Nesse contexto, inserção da flexibilidade nas organizações veio da
necessidade de adaptar-se ao mercado. No entanto quem paga o preço da
flexibilização é o trabalhador que se vê obrigado a aceitar novos formatos de
contratação.

Além disso, o aumento da produtividade gera perda de postos de trabalho, num


contexto social de constantes mudanças. Para sobreviver no mercado o trabalhador
tem que se qualificar, senão, tornar-se obsoleto para as empresas, passado a viver
uma vida de incertezas com dificuldade de manter a estabilidade financeira.

Nesse sentido, as empresas buscam contratos temporários com menor custo


financeiros, normalmente feitos por meio de empresas de intermediação. No Brasil
este tipo de flexibilização pode gerar deterioração do trabalho, aumentar a
desigualdade social e enfraquecer a classe trabalhadora.

8 APRECIAÇÃO CRÍTICA

O artigo faz uma importante reflexão sobre a flexibilização das relações de trabalho
no Brasil e na Itália, e os danos que causam a classe trabalhadora.

Nessa direção, as contratações atípicas são uma forma de dominação, que


posiciona o trabalhador num lugar de medo, de incertezas e de obediência das
imposições do empregador. Vale lembrar que os direitos trabalhistas foram
conquistados com suor e sangue de milhares de seres humanos, homens mulheres
e crianças ao longo da história.

No Brasil, incremento tecnológico e aumento da produtividade, diminui a passos


largos os postos de trabalhos. Os empregos fixos são cada vez mais escassos e a
terceirização é uma realidade que toma conta do país. Nessa perspectiva, tem-se
trabalhadores insatisfeitos, alto índices de rotatividades e adoecimentos por conta do
modo em que se organiza o trabalho. Sendo que, a parte vulnerável, o trabalhador,
vive uma insegurança jurídica.

Vale ressaltar que reformas e mudanças são necessárias, desde que respeite os
direitos das maiorias, os princípios e a cultura de um povo, pois a historia conta de
princípios fundamentais serem feridos e do crescimento da desigualdade tomando
proporções desumanas.

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