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PREFACIO NS SINOPSYS 18 Terapia Cognitiva para Criancas de 7 a 12 Anos Marina Gusmio Caminha ¢ Renato Maiato Caminha 9 modelo cognitive para criancas, isto é, 0 que pressupde que a ewidade cognitive influencia na resposta emocional e compor- Tamental subjacentes, é 0 mesmo desenvolvido para a conceitua- fagao em adultos. Contudo, a forma de acessar tais cognicdes, emogbes e ensinar novos comportamentos apresenta uma mudanga hostante grande, posto que o aspecto lidico deve estar obrigatoria- mente presente no trabalho com criancas. Estabelecer protocolos tom validade empirica, capazes de servir como ferramentas terapéu- ficas nessa faixa etéria é de fundamental importéncia, uma vez que é na infancia que se estabelecem muitos dos padrées observados em adultos, sauddveis ou ndo. wv. O cenério atual das terapias cognitivas é bastante diversificado se 0 compararmos ao dos anos 1980 ¢ 1990. Para os mais variados transtor- nosmentais, a diversificacao de protocolos ¢ imensa e, embora tenham 0 modelo racionalista de Beck (2005) como a principal influéncia, pode-se itisear a dizer que no cendrio atual houve, além da diversificagio, um Sande redirecionamento do modelo cognitivo. tong) ees desse redirecionamento esto no trabalho de Linehan © transtorno da personalidade Borderline (para mais infor- » 512 Terapia Cognitiva para Criangas de 7 a 12 Anos magées, ver Capitulo 11), 0 trabalho da terapia dos esquemas de Young (2003), (para mais informagées, ver Capitulo 9) uma vertente mais re. cente, mas ndo menos importante, a Terapia Cognitiva Processual, desen volvida por De Oliveira (2008), (para mais informacoes, ver Capitulo 14), O cenério das psicoterapias infantis ¢ da adolescéncia nao goza ainda dessa diversidade, embora, sem sombra de duvida, grandes avan gos tenham acontecido a partir dos trabalhos pioneiros de Friedberge McClure (2001), Stallard (2010), Jaycox, Reivich, Grilham e Seligman (1994), Barret et al. (1996 ¢ 1998), Cohen, Deblinger, Mannarino e Ste- et, (2004), Pelham et al. (2008), Russel ct al. (1987) ¢, principalmente, Kendall (2000). Kendall foi um dos primeiros a se preocupar em montar uma estructura protocolar para a abordagem dos transtornos de ansiedade na infancia, em um protocolo chamado de Coping Cat (Kendall, 2000). Praticar psicoterapias com criangas requer grande aten¢io para uma adequada insercao da ludicidade no setting. Introduzir o litdico de modo terapéutico, sem que o lidico contamine esse processo, ¢ funda- mental. Em outras palavras, brincar, sem nenhum propésito terapéutico, nao pode ser 0 foco do “tratamento”. Na segunda metade dos anos 1990, atendendo a uma grande de- manda infantil numa clinica-escola, ¢ com a somatéria de experiéncias em suas clinicas privadas, Caminha e Caminha (2007) publicaram um instrumento de acesso 4 crianga nos processos de psicoterapia, denomi- nado Baralho das Emogées. Partindo da légica de que o modelo de abordagem de criangas na clinica inicia-se pelas emogées, os autores se preocuparam em criat um instrumento que ajudasse a fazer fluir a narrativa das criangas com foco nas emogées. Mais tarde, esse instrumento permitiu a identificagao do fluxo emocional das criangas, possibilitando, assim, um proceso psicoe- ducativo emocional com énfase na regulacao emocional. O Baralho das Emogées permite ainda que a crianga estabelega 4s metas para o atendimento Psicoterdpico; no trabalho com os pais, con tribui para o entendimento, a aceitacdo ¢ a validagao das emogoes de seus filhos. Com ele, os autores criaram um instrumento que oferece um a répicas e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva_ 513 rorocolar para 2 abordagem ¢ o trabalho com as emogées n: a strut : inica im abe ‘as metéforas $40 de fundamental importancia para que a crianga con- especificas acerca do trabalho que a terapia ar. Assim, metdfora central do Baralho das Emogoes éa ‘como ondas, elas nos sacodem, mas passam. Passa- yoltar ao nosso estado normal. .¢ instrumento, Caminha ¢ sp ctiat represencagoes mentais lhe propor” seguinte: as emogoes sao ct dooefeito das ondas, conseguimos Estabelecidas as bases protocolares dess aminha (2012). através do Baralho dos Pens jva numa estrucura protocolar sequenciada com 0 ins- 0 Baralho das Emogoes. Fortemente i alho da Terapia Cognitiva Proces- sual form iveira (2008) (para mais informagoes, ver Capi- scaes de Padesky (1994) € pela da Terapia de Acei- tulo 14), pelas contri so ¢ Compromisso ~ ACT (Hayes ankeySeGregg, 2002) (para mals “Jos Pensamentos foi desenvolv- amentos, incluiram a rees- srucuragao cogniti trumento predecessor influenciado pelo trabi ag informagoes, ver Capitulo 12), 0 Baralho doe dividido em algumas etapas: Ni? primeira, wilizando elementos da lin- nectores linguisticos, come sinam & crianga @ capa- guistica ¢ da gramdtica, trabalhando com ¢ e recicla 0 lixo. conjungdes adversativas, POF exemplo, os autores ens cidade de Reciclar pensamentos do mesmo modo como s Na segunda, a crianga € psicoeducada sobre # importancia agradéveis e seus respectivos pensamentos ¢ compor ‘A influéncia da ACT aparece no processo de aceit vai — assim com vendo-as como uma onda que vem ¢ do pensamento, gerando na crians@ a ideia de que o% pensament vedades absolutas sobre ela. Mais adiant®» 0° Baralho dos Comper tant ACT volts aor grande parcciparae. AT™ cemosa mecifora cones Baralho dos Pensamentos. Cohen € Manarino (1996) propec™ bas oe criangas: os hea ia com aneira de denominarmos 0S ensamentos ¢™ rerap! Pesamentns que ajudam © 2 ao gjudem ie re oe que os representemos come os vel (he no judam). Barret, Dadds e Rapee (199 peper? ia cor de pensamentos NO programa preventivo Frien@. ae Se at 514 Terapia Cognitiva para Criangas de 7a 12 Anos dam, vermelhos, con- al: pensamentos que do. O lixo contamina as de ver o mun de reciclar 0 lixo € transformar algo a can em algo que aj da, da mesma forma que somos capazes de reciclar os pensament0s- Desse modo o Baralho dos Pensamentos apresenta uma estTurura Pro- tocolar que utiliza as paavrinhas que recicam. A maneira de recicar também seri praticada fora do seting cerapoico através de exrccios com 2 Maquina dh Reciclagem c 0 cartao de enfrentamento> denominado cartio S.0S. Aqui OS. pedido de ajuda. Quando a crianga estiver so- zinha ¢ invadida por pensamentos que nio ajudam, pensamentos vermelhos, ela poderd recorrer a0 seu cartio S.OS.,que forma também um acrénimo: $ — Saque o seu cartios O - Olhe o seu carta; § — Siga o seu cartao. Completando o paradigms cognitivo compost Por emogoes, cogni- ‘goes, comportamento ¢ alteragées fisiolégicas, surge © Baralho dos Compot- tamentos (2013). Nele a metéfora central é 0 denominado Efeito Bumeran- Faro de que os nossos comportamentos sio emitidos aero oe jogisemes um bumerangue. O tipo de comportamento que langa- ros &0 que volta para nés. Por exemplo, uma cianga que langa comport mmentos agesiv. © que volta para la? Hosilidade, agressvidade, medo das pessoas que com cla convivems cenfim, nada de construtivo ou favoravel. No Baralho dos Comportamentos, trabalhamos igualmente a mu danga dos comportamentos que nao ajudam, ou comportamentos ver melhos, através do incremento dos comportamentos que ajudam ou gue, que consiste no comportamentos verdes. As estratégias de mudanga séo trabalhadas mediante algoritmos de comportamentos descritos na estratégia de resolugio de problemas de D’Zurillae Nezu (1999) (para mais informagoes, ver Capitulo 3). Outro elemento importante que compée 0 Baralho dos Comporta: mentos se refere ’s técnicas capazes de proporcionar a regulagao de manifest ges fisioldgicas que se apresentam em situagdes psicopatolégicas especificas. o dos Comportamentos, com influéncia das técnicas de Mindfulness, para o controle da respiragio diafragmtica, de relaxamento io Meal progressivo ede experiéncias meditativas com o item denominado: ‘Megmando a minha mente (para mais informagées, ver Capitulo 7). Com esse terceiro instrumento, completa-se 0 modelo cognitivo Jenamente & a partir de ent4o, os autores montaram uma estrutura pro- estar em duas modalidades. Uma mais curta, baseada em 12 sess, sore intuito de validasio protocolar de pesquisa, ¢ uma segunda, com 5p sess, focada numa realidade mais condizente com o dia a dia clini wp (estrutura trabalhada pelos autores nos workshops de treinamento TRI), focada na abordagem clinica. Decorrente da experiéncia clinica, surge 0 modelo preventive que visa render uma populagao de criangas em fase escolar de 8 a 12 anos, uti- liando-se das mesmas técnicas organizadas no modelo clinico, as quais sio voltadas para incrementar a resiliéncia. O modelo preventivo nao objetiva aatender criangas clinicamente, mas apenas a trabalhar com vistas a0 au- mento de estratégias de coping promovido através do aumento da empatia, daregulagao das emogoes, das cogni¢écs ¢ dos comportamentos. ae téenicas Como se Estrutura o Protocolo TRI O protocolo TRI forma dois acrénimos, o primeiro identificando 4Proposta em si € o segundo nomeando as etapas do protocolo. Assim, 0 Primeiro acrénimo significa: “TRI - Terapia de Reciclagem Infantil” ¥ © protocolo esta dividido em trés partes, formando a seguinte or- Binizacao: T ~ Trabalhe suas emogées, R~ Recicle seus pensamentos Is. Tnove seus comportamentos. _Representando essas ers fase, TRI busca integrar os componen Ce _ i. A Be da terapia cognitivo-comportamental utilizando-se dos trés ais : instruments, o Baralho das Emogées (Caminha & Caminha, tes by Prin, , iangas de 7 a 12 Anos 516 Terapia Cognitiva para 207), Baralho dos Pensaments (Caminha 6 Caminha, 2012) po, vramentos (Caminha & Caminha,2013), fim, o Baralhos dos Compo OTRI, primeiramente desenvolvido para a intervengao clinica em criangas com quadros ansios0s € depressivos, atualmente passa por un processo de alteragoes protocolares, a fim de que tenha uma finalidade também preventiva, trabalhada em grupos clinicos e/ou escolares. Como intervencéo primaria, o TRI busca desenvolver habilidades na infancia gue incluem a educagao emocional, 0 desenvolvimento de empatia,aex moges, 0 entendimento sobre fatores cognitivos ¢ pressio asertiva das prc eapacidade de alterar pensamentos, 2 resolsdo de problemas, a habilidades sociais necessirias no convivio com 0 grupo ¢ familiares, a que influenciam o bem-estar € 0 exerci compreensio sobre fatores gue visam ao relaxamento do corpo e da mente Soa primeira aplicago em formato de pesquis ocore aan deum estado quase-experimental em Ambito escolar, conduzido por Kreitchmann, CCaminhae Soares (2013), 0 qual vsava avaliaraeficicia de cinco sess com «9 Baralho dos Pensamentos como intervengao universal para ansiedade ¢com- sins em 52 adoescentes de 11a 17 anos. Aavaliago, tanto do portamentos s grupo-controle como do grupo experimental foi fia em txés momentos: pres 1pés e seguimento de um més. Foram aplicadas as versoes brasileiras do Spence Childrens Anxiety Scale (SCAS) e do Questionario de Capacidades ¢ Dificul- dades (SQ), além das avaliagbes do grau de crenga nos pensamentos distur cionais no grupo experimental, proprias do Baralho dos Pensamentos. ‘A andlise estatistica, tomando a avaliagao basal como referénci2s is do SCAS pata 08 dois grupos na avaliagao pés-teste, sugerindo a influéncia de efeito placebo n° grupo-controle. No entanto, apenas 0 grupo aquase-experimental ape sentou melhora significativa quando analisado 0 seguimento- onside rando somente as subescalas de ansiedade avaiadas com 0 SCAS:4 La mo tipo de melhora ocorreu para os sintomas de ansiedade generalizals Melhoras sigificatvas em ansedade de eparagio e comporame Ee sociais foram observadas apenas para 0 grupo quase-experimentab tanto no pés-teste, quanto no seguimento. Observou-se também uma red is ncionais “ apontou melhora significativa nos escores totai significati ‘i gnificativa do grau de crenga nos pensamentos disfu — _estratégias Psicoterspicas ea Terceira Onda em Terapia Cognitiva 517 ee agra fase dO BP. Além disso, foi encontrada correlacao significativa ae entre a redugao da crenga nos pensamentos disfuncionais ¢ a hora em sincormas de problemas de conduta (SDQ), comportamentos als (sDQ) ansiedade de sepatacio (SCAS), obsessivos compulsi- pee ‘A6), panico e agorafobia (SCAS), medos de lees fisicas (SCAS). 10s (5 Fe entre os tempos de avaliagéo (pré, pés e seguimento) e grau de sep pre ranscornos de ansiedade (alto ¢ baixo, tomando escore 42 no SCAS como porto de corte, utilizado em outros estudos) indicou intera- ¢o significativa entre 0 @ melhora de sintomas € o grau de risco. Tal resul- fi ogre ainda que a intervengio funciona signifcatvamente melhor ras adolescentes com maior risco para transtornos de ansiedade. Diante de tais resultados, utilizando apenas as sessdes “R - Recicle «eus Pensamentos’, com cinco encontros grupais, a préxima etapa seri ve- rifjear o impacto que a intervengio completa tera em grupos com crian- gas entre 8e 12 anos. As sessées TRI As sesses do TRI serio explicadas aqui, dentro do protocolo cli- nico ¢ nao do protocolo preventivo: Sessées “T - Trabalhe suas Emogies’: Consideramos importante que pelo menos trés sessdes sejam utili- zadas para a primeira etapa. Essa & a etapa que introduz 0 conceito de Emogées, explicando-as através da psicoeducagio com 0 uso das cartas do Baralho das Emogdes (Caminha & Caminha, 2007). A intervencio ¢ iniciada através das seis cartas, de meninos ou de me- tte emogéesprimras (legria, amor, medo, eset, ava niojo), di- nese emogies agradaveis de sentir e desagradiveis de sentir. Essa no- ietivo da visa romper com termos como positivas € negativas, jaqueo ob- ene etapa do protocolo é também o de validar as emogoes. eens ae criangas, assim como os pais € mesmo Os educadores, ecm ar emogées como a raiva, por exemplo, como algo “feio” ou a 518 Terapia Cognitiva para Criangas de 7 a 12 Anos “ruim’, correndo 0 risco de que a crianga se identifique como ruim oy mi pelo fato de senti-la. Ao entender que todos nascem com a capacidade de sentir essas emogdes € que todos as sentem em uma frequéncia ¢ inten. dade diferentes, aprende-se que é comum ¢ mesmo saudavel sentir tudo isso. Sendo assim, nessa etapa, as criangas sio educadas sobre as emogdes basicas, e depois sobre as outras 14 emogdes denominadas secundatias, ‘Também nessa etapa sio convidadas a fazer relacao entre as principais s- tuagdes desencadeadoras dessas emogdes, os comportamentos que se st: gucm ¢ os pensamentos que as acompanham, construindo um registro de pensamentos nomeado no TRI de “Plaquinhas’, adaptado para a fase de desenvolvimento que as criangas se encontram. Cartinhas das emogoes basicas, na figura do menino: Tristeza Alegria Nojo sgias Psicoterdpicas e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva_ $19 Pe ay dessas seis emogoes bisicas apresentadas e tabalhadas no num segundo momento, as criangas sao apresenta- goes denominadas secundérias, e apren- Alan if da ineervensa0r iy outras 14 cartas das emo Gea fazer a elagso eRe 38 mesmas. Objetivos do Baralho das Emogoe: « Ajudar no processo diagnéstico através de monitoramento; « Avaliar a habilidade de ativacao, reconhecimento, intensidade € adequagao de respostas emocionais (balango das emogées); « Validar as emogoes infantis; ® psicoeducar a crianga quanto aos processos emocionals: « Acompanhar e modificar estados patoldgicos em uso combinado om outros processos, por exemplo, BP ¢ BC. « Facilitara elaboragio de um Registro de Pensamentos; « Facilitar a elaboragao de um Diagrama Especifico de Conceitua- lizagao Cognitiva (Caminha, Caminha & Soares, 2011) « Colaborar para o desenvolvimento de empatia ¢ resiliéncia atra- vés de exercicios especificos. olvimento da empatia se dé Nas sessoes “T”, a énfase no desenv. lugar do outro através de exercicios que ajudam a crianga a colocar-se no caimaginar como 0 outro se sente €m determinadas situagdes. A impor tincia desse trabalho com criangas justifica-se pelo Fato de que, quanto mais cedo uma pessoa reconhece a dor do outro, mais empética € mais cuidadosa serd em suas relagdes « ___Naobra de Jean Piaget, os estagios tio divididos em sensério motor, pré-op operatério formal. Piaget (1970) afirma qi onsegue evoluir do egocenttis- te 057 e 11 anos de idade, que a crianga ¢ le foi bastance criticado pelo fantil es- do desenvolvimento in! ncreto € eratorio, operatério CO! tue é na fase pré-operatoria, en mo o> 5 0 Pasa visio mais ampla do outro. Jo termo “egocentrismo”, mas o que queria dizer era antes da ie io da fase pré-operatria, a crianga teria Pouce °° nena babi «ais Paa vero mundo a pati do olkar do outro. Nio significant i ie I estivesse totalmente centrada em si mesm mas sim que perc Ponto de vista do outro a partir do seu proprio (Padua, 2009). Sn, ———————— 520 Terapia Cognitiva para Criancas de 7 a 12 Anos Diante disso, ganha relevo a ideia de que essa etapa éa melhor para o inicio dos exercicios relacionados ao desenvolvimento da empatia. Seria 0 momento propicio para que a crianga, diante da possibilidade de ve co- locar no lugar do outro, pudesse ser encorajada e fortalecida nessa fun 40. Tal habilidade teria uma forte influéncia no convivio social, incre- mentando habilidades sociais ¢ de cuidado com 0s outros, ¢ diminuindo problemas como agressio ¢ bullying. O desenvolvimento da empatia, bem como a regulagio emocio nal, tem forte conexao com o desenvolvimento da resiliéncia, outro im- portante fator reconhecido no programa. Para Reinecke, Dattilio ¢ Freeman (2009), uma série de fatores como a aquisigio de habilidades afetivas, cognitivas, sociais ¢ vocacionais influenciam no desenvolvimento emocional ¢ comportamental infant Diante disso, o programa TRI privilegia, nessa primeira etapa, exercicios ¢ jogos que buscam auxiliar as criangas, bem como os seus pais, no seu desenvolvimento ¢ fortalecimento emocional. A seguir como esta dividida a etapa “T” atualmente no programa clinic protocolar, lembrando que ele foi adaptado para um tamanho compacto para fins de pesquisa. Nesse programa, as sessoes acontecem individualmente ¢ tem duragao de uma hora. Sessdes T —$$_________— SessSes Competéncia Emocional - SessiesT | Descrigao Técnica os T Explicar 0 protocolo TRI e 0s pass ‘Sessio 0~ com os pais Psicoeducar sobre emogies: reconnect? 1¢30 emocion@l Sesséo 1 -com o paciente Em todas elas breve feedback das combinagGes no inicio da sessdoe precrigao de tarefas no final da sessdo com os pai. Sessdo 2 como paciente validar, quan ficar e adequar rea Aplicar protocolo do BE: Psicoeducar sobre emogées: apica | com emagées primérias e apds com as secundarias escolhidas pela criansa: Tacefa de casa: manitoramento das emoroe® Revisio de tarefas, feedback da seman? Aplicar: exercicios de empa a Tarefa de casa: exercicios de emp familia rabalho mogoes aparae yy estratégias Psicoterdpicas e a Terceira Onda em Terapia Cognitiva $21 sess “R~ Recicle seus Pensamentos" a segunda fase, denominada “R’, significa “Recicle seus pensamen- » Fosa € a fase mais delicada do programa, j4 que 0 conceito de rees- os jo cognitiva para uma crianga é, por si sé, complexo. Porém, ape- cr plexos, podemos afitmar que os procedimentos desa fare sto 3 fais de serem aplicados ¢, dentro de um modelo cognitivo-compor. al esa fase € indispensivel. ‘an Ceiangas entre 6 ¢ 8 anos de idade apresentam, nessa fase, grandes aangos em suas fungdes executivas, aumentando sua capacidade neurop- sicoldgica € possibilitando gradativamente a introdugao de intervengées cognitivas. Retomando Piaget (1970), é nessa faixa etatia que as criancas dei- sam 0 estégio pré-operatério, do pensamento egocéntrico € concreto, ¢ iniciam 0 estégio operatério concreto, o que significa afirmar que é nesse petiodo que a crianga desenvolve uma capacidade de interiorizar agoes € de realizar operagGes mentalmente. Também aumenta ai a capacidade de actianga estabelecer relagdes ¢ de coordenar pontos de vista diferentes, bem como de integr4-los de modo ldgico ¢ coerente. Acntrada da crianga nesse estagio assinala um momento decisivo na construgao dos instrumentos do conhecimento. Ag6es interiorizadas ou conceitualizadas com que o sujeito trabalhava anteriormente adqui- ‘ema categoria de operacdes (Piaget, 1970). Para Bunge, Mandil e Gomar (2010), criangas na fase dos 7 aos 11 nos estariam capacitadas a trabalhar com algumas intervengées cogniti- “simples, com um grau moderado de limitagao para o trabalho cogni- ‘He-A partir dos 111 anos apresentariam baixo grau de limitagio cogniti- oes comegam a contar com uma capacidade maior para trabalhar ‘Borias abstratas ¢ classes logicas. ‘uma reviséo que incluiu 101 estudos de terapia cognitiva com ' 79% destes com criancas menores de 10 anos de idade, experi- Mentos G5 de om *tapia cognitiva mostraram-se eficazes mesmo com crian- 8 de arg tiangas “MUTE 7 anos, apresentando queixas que variavam entre ansiedade, * Sneoprese, abuso sexual ¢ problemas escolares (Stallard, 2004). vara Criangas de 7.a12 Anos 522. Terapia Cognitiva P: ‘0 acerca da yiabilidade de intervencio organizadas quatro sessOes para a eta- rervencao clinica. Nessas sessoes, Partindo dessa concep¢at cognitiva nessa faixa erdria, foram pa “R’ no protocolo de pesquisa em in além da psicoeducagao quanto a0 papel das, procura-se ensinar a crianga a capaci os pensamentos que atrapalham. Utilizando a técn clagem’, a crianga aprende a utilizar as palavrinhas que formar os pensamentos que nai ou que “poluem’, em pensamen- tos que ajudam. O Baralho dos Pensamentos (2012) é 0 principal instru- mento de trabalho nessa etapa, € as criangas, bem como 08 pais, S40 ins- truidas a utilizar a m4quina da reciclagem € 0 cartao S.0.S. quando ati- yam um pensamento que nao ajuda. Ainda no Baralho dos Pensamentos, na estimulada a trabalhar com os pensamentos deriv: daveis . Nesse segundo momento, em vez da utilizagao ciclagem, ¢ introduzido 0 conceito de maquina da difus fundir comportamentos derivados de emogoes agradaveis € pen: que ajudam. Este ¢ 0 conceito fundamental na T.R.L, sendo deno dos pensamentos em nossas vie dade de identificar ¢ modificar ica denominada “reci- permitem ‘trans- io ajudam, segunda fase, a crianga € ados das emogoes agra- da maquina da re- 40, visando a di- samentos minado Expressio Assertiva das Emogoes. Objetivos do Baralho dos Pensamentos: « Partindo das Emogées basicas, trabalhar com a reestruturacao Cog” nitiva de criangas através do trabalho com crengas intermediariass « Psicoeducar criangas ¢ seus pais quanto a emogées ¢ pensamentos; e Estimular o comportamento assertivo; Ampliar o papel do terapeuta, visando a tornar-se um promotor de consciéncia ¢ de engajamento social, além de consciéncia ¢ engajamento ambiental; « Integrar os principios de Mindfulness. esratéias Pcoterdicas ea Tercera Onda em Terapia Conte $23 Sessbes R | | ea ; ott cogniva Descrigi Técnica jueomes pa lar 05 aso5 8 <5 Psicoeducar quant 05 proceso cogs Ensinar as plains que reklam, miquins da recidage, artes 5.05.€3 qua dies. omopacente Apicar BP ase Tarts: maquina dareccagem eSOS ee esto sant eamopicet Revisaraintensidade dos pensamentos trabalhados na sesso anterior. Méquina dt | Recilagem para pensamentospersstents Car pensamentos novos com ques onament socatco. Tarefas de casa: maquina recclagem eS OS. | ‘sin como paciente -Apliear BP fase 2 para em sentic amor ealeria Tarefa de casa: maquina da difusioe SOS cexpressar assertvamente os compatametas _ oqbes agradavess de Sessies ‘I~ Inove seus Comportamentos’ chega-se a fase és, chamada “I” Essa fase € subdivi Na sequéncia, | didaem algumas partes: 1.0 trabalho com o conceito do “Efeito bumerangue’ jt explica- com o conceito do “Bem-esta” £ funda- renda que bem-estar é uma emogio que rndo a sentimos, nio estamos sendo in- forte de uma emogio agradavel nem do anteriormente, mental que crianga ent equilibra emogdes. Qua vadidos nem por uma onda por uma onda forte de uma em! 2.A introdugdo de comportamentos das cenas comportamentais. Nessa ¢ através dos cartoes das cenas comport ¢ historinhas, o conceito de cada um do Portamentos escolhidos pelos autores cO™ ue ajudam a desenvolver as habilidades 9° rapa, 0 objetivo é amentais, COM ilustragoes s dex principais com 10 comportamentos ais das criangas€ ee 2 a 524 Terapia Cognitiva para Criangas de 7 a 12 Anos a seus respectivos opostos. Por isso, de um lado, apresentam-se os cartes verdes com comportamentos que ajudam, ¢, de outro lado, os cartées vermelhos com os comportamentos que nao ajudam, Além de ensinar as criangas,a proposta & que elas tam- bém reflitam sobre seus préprios comportamentos ¢ a frequén- cia com que os mesmos aparecem em suas vidas. Com a utiliza gio do termémetro duplo, a crianga aponta a intensidade c fre uéncia de suas aitudes. Depois ¢ convidada a avaliar, dentro dle etapas de um bumerangue, quais as vantagens ou desvanta gens de tais comportamentos. 3. A técnica da resolugio de problemas adaptada & infancia aju- daa ctianga a riar estratégias para desenvolver, dentro de um algoritmo, comportamentos que possam ajudé-la diante de seus problemas. Seguindo um passo a pass, ela organiza as quéncia daquilo que deve fazer para que seu plano funcio- ne. O terapeuta também iré ajudar na organizagao dos papéis nes-se passo a passo, ja que, na maioria das vezes, isso envol- ve outros participantes, como familiares, professores € 0 pro- prio terapeuta, utilizando o banco de reforgos ea eaixa de fer ramentas. 4, A psicoeducagéo quanto ao relaxamento do corpo ¢ da mente. Utilizando as cartinhas que ensinam a respirar ¢ a relaxat, a crianga é convidada a exercitar posigdes que ido auxilid-la nesse relaxamento. De modo liidico e baseado em conceitos da Min- fulness, permite-se & crianga aprender facilmente a utilizar 0 corpo e a guiar a mente de forma que a relaxe ¢ a ajude. 5. Por fim, a apresentacio do “ABCDE’, que ensina comport mentos necessdrios para a saiide da crianga (Amar— Brincar- Comer- Dormir- Estudar), como elemento de prevenga0 de recaida e de manutencio dos resultados alcangados. Ao final da etapa “I”, o programa tem um encerramento, que 9% sess6es clinicas envolve a certificagao da crianga ¢ dos familiares. csraiasPscoteréieas ea Tercera Onda em Terapia Cognitiva 52! Ss netivos do Baralho dos Comportamentos: der 0 papel do bens, como um euro de + Compreen em 0G0es. « Desenv' grupo social. « Deseavol «+ Compreender oimpacto « Desenvolver estratégias para o nl problemas. clver atitudes cooperativas no convivio com familia ¢ ver habilidades sociais. de nossas atitudes na vida alheia, frentamento ¢ a resolugio de « Aprender estrarégias para relaxar. . * compeendet a import (amar, brincar, comet, rotina saudivel « A seguir a organizagio das tincia dos comportamentos “ABCDE” dormir estudat), como aspectos de uma sessoes I’ Sessées! oo ‘ese de Competencia Comportamental Sesto 7 com os pas ee | ‘Sesio 8~com o paciente ee rome | Seto com o paciente Eas aren aig | Sesio10- Bin} -omopaciete sero dos Eisnectios No una 0 ica para pais) Sion om paise paciente a oo tapcar os pass Psicoeducar sobre processos ‘comportamentals; eft bueranue bem 85 comportamentais ‘abalhar cones comporamenas ets Pe? terapeatacnforme rol? |e __—— rrabahar como cxiem 2 as trabalades- se tases pesca onc cero arate, peer presceve ABCD eit a paceten0 pose 526 Terapia Cognitiva para Criangas de 7 a 12 Anos Consideragées finais A TRI ~ Terapia de Reciclagem Infantil, teve seu inicio pautada no trabalho com as emogées da crianga, visando a um acolhimento da problemitica do paciente infantil, bem como a um aprimoramento de recursos que possibilitassem o acesso a crianga através do Baralho das Emogées (Caminha ¢ Caminha, 2007). Diante dos bons resultados en- contrados, os autores desenvolveram outras duas ferramentas clinicas, 0 Baralho dos Pensamentos (2012) ¢ 0 Baralho dos Comportamentos (2013), os quais vieram integrar o sistema cognitivo ¢ comportamental da terapéutica infantil, formando assim 0 protocolo TRI. Atualmente, 0 TRI pode ser desenvolvido como modelo clinico em aproximadamente 20 sessdes, e tem um protocolo reduzido nas 12 sessdes aqui apresentadas, com finalidade de pesquisa. Em breve o proto- colo de TRI-P (Trabalho de Reciclagem Infantil - Preventivo) também estara sendo testado, visando a alcancar criangas que nao apresentem quadros clinicos, numa modalidade de promogao e prevengao com foco nas criangas ¢ em seus familiares. Nos tiltimos anos, a literatura cientifica teve um significativo au- mento no que diz respeito as praticas cognitivo-comportamentais ¢ 0s protocolos de intervengao na infancia e na adolescéncia. Apesar disso, no Brasil, ainda ¢ escassa a publicagao de protocolos desenvolvidos com © objetivo de tratar criangas dentro de nosso contexto sociocultural. A pro- posta clinica do TRI vem ao encontro desse objetivo de intervit ¢ pro- mover satide dentro da nossa realidade infanto-puberal através de um protocolo estruturado que utiliza instrumentos ¢ elementos necessérios para o acesso desse pulico, o qual tem apresentado cada vez mais preco- cemente quadros clinicos que requerem atengio. oF estratégias Ps peferencias Dadds, MR. & Hopes RM ildhood anxi- Fal ido a 9 ed trial. Journal of Consultant Ma PM geatment of c cot 64 3332. 198). Evaluation of cognitive- ey op » nents for childhood a ee ourmal of Clinical Cbild Bast beavis rent state of cogni- ‘T (2005). The current star so General Psychiatry, 629), 953-959. sunge: E+ Mandil Jo 8 Gommat, M. (2010). In eeeciona l terapia cognitiva comportamen Din E. Bunge, J. Mandil, & M. Gomar. 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