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No sábado pela manhã, uma aluna tocou no assunto de inferno astral.

Daí ela tava relatando


na sala que todo mundo tem esse período onde tudo dá errado. Deixei ela falar. Depois, de
forma alguma tentando convencê-la, mas apenas mostrando como eu encarro estas coisas,
disse que não acreditava nisso.

Em resumo, o ser humano gosta muito de se auto apiedar. “Minha vida não preta”, “tudo dá
errado”, “o universo conspira”, “não nasci pra ser feliz”, etc. Eu fui assim na adolescência. Hoje
posso dizer com toda convicção que dramatizamos demais as coisas. Normalmente, depois
que se passam anos, e olhamos para trás, percebemos que nem era tudo aquilo, e não passava
de choro de criança. Por que é que criança chora por besteira? Pode ser besteira para você,
mas para criança, cuja vida se resume a coisas poucas, basta não assistir ao desenho favorito
que é motivo de choros escandalosos como se a vida dela dependesse disso. Nós, mais velhos,
estando numa posição mais elevada de experiência na vida, olhamos para todo aquele drama
e não damos importância, por sabemos que, de fato, não tem importância.

Sabe quando você olha uma nuvem e vê certinho um elefante, cachorro, etc? O nome desse
processo mental é pareidolia. Esse processo psicológico na mente humana sugere que nós
costumamos ver coisas que simplesmente não existem. Muitas coisas na vida são
desimportantes, somos nós que atribuímos uma importância indevida. Daí quando sofremos,
queremos culpar alguém. Era isso que queria dizer a minha aluna: Nós criamos as situações,
sofremos por causa dela, e no final nos sentimos sempre a vítima, querendo culpar tudo e
todos pelas nossas más escolhas. Mas precisa ser muito consciente para assumir a fatia da
responsabilidade. Digo “fatia” porque às vezes apenas participamos no erro. Mas isso nos
torna menos responsáveis? Já dizia Sartre: “O inferno são os outros.” Sim, culpar e odiar os
outros é mais fácil do que assumir a parte do erro, se encarrar no espelho e corta o fio que
conduz o sofrimento.

Nós plantamos, e nós conhecemos. Uma leia da vida infalível. Mas, às vezes, a colheita do mau
fruto demora e a gente termina esquecendo o dia que plantamos, daí quando o resultado
aparece, não lembramos que aquilo é resultado de uma semente plantada a muito tempo. Eu
sou antropocêntrico. Se eu acertar e colher os frutos, é mérito meu. Se eu errar e sofrer
colhendo os frutos amargos, a culpa é minha, nem que seja parcialmente, mas ainda assim
tenho parcela de culpa. Não agradeço a deuses nem culpo demônios, eu vivo o resultado das
minhas ações.

De fato, às vezes vivemos o resultado das ações de outros, mas isso já é outro assunto.

Quando meu primeiro relacionamento chegou ao fim depois de quase 5 anos, fiquei do que
jeito que você está multiplicando por 1.000. Cinco anos são muito tempo compartilhado com
alguém que agora simplesmente não existe. Uma das coisas que pensei foi a seguinte: Antes
de namorá-la, quando éramos só amigos, eu não iria me descabelar se ela fosse embora e eu
nunca mais a visse. Se eu não a conhecesse, ela passaria na rua e eu nem prestaria atenção.
Por que damos tanta importância para alguém que, até pouco tempo atrás era um completo
desconhecido(a), da qual viveria muito bem minha vida longe?

Assim como o formato das nuvens, a gente cria imagens da pessoa, imagens que só existem
em nossa cabeça. Por mais que duas pessoas se amem, eles nunca saberão 100% o que se
passa na cabeça um do outro. Com o passar do tempo, a relação amorosa nos faz criar
imagens da pessoa e nem sempre essas imagens, diria até que quase nunca, correspondem ao
que ela é de fato. A imagem é apenas uma ilusão que eu criei do que eu gostaria que a pessoa
fosse.
Por que as pessoas colocam todas as suas economias em um banco? Por que elas literalmente
entregam tudo aos bancários, que são pessoas totalmente desconhecidas? Porque nós
confiamos. Nós criamos a imagem de que o banco é o lugar mais seguro do mundo para se
guardar nosso dinheiro – pelo menos mais seguro que debaixo do colchão. No entanto, por
várias vezes, em muitos países, pessoas perderam tudo, quando o banco ou o presidente
confiscou tudo de todos. Ocorreu isso no Brasil e muitas pessoas se mataram por causa disso.

Agora mesmo bancos, que contam com a confiança de pessoas do mundo todo, podem nos
trair e tomar tudo que temos. Penso eu: “O que leva alguém a depositar todo amor, nossos os
sonhos, todo seu sentido na vida em outro ser humano?” Penso isso porque, seres humanos,
no geral, não são dignos de confiança, daí o motivo de tanta decepção amorosa, e outras mais.
Seres humanos não são imutáveis. Pelo contrário, da infância à velhice, passamos por enormes
transformações. O ser humanos é egoísta por natureza (comprovado biológica e
psicologicamente). Quando agimos altruistamente, que é o contrário de egoísmo, estamos
indo contra nossa natureza humana. Os humanos têm, igualmente, uma dádiva, chamada de
livre-arbítrio. Isso significa que as pessoas são livres para dizer com quem querem ficar.
Imagine que você simplesmente se desapaixonasse por um namorado. Seria crime (ou
sacanagem, como dizemos) deixar a pessoa porque acabamos se apaixonando por uma outra.

Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, mas todos temos a obrigação de sermos felizes. Por
todo seu contexto familiar, por causa da questão da ausência paterna (e acredita conheço uma
pancada de garotas que estão na mesma classificação e já li muito de psicologia para entender
essa característica) isso contribuiu para uma enorme carência. Normalmente, isso leva a
pessoa a sempre pular de um colo para outro. A pessoa nunca consegue ficar só. Se não for
namorando, é ficando, mas ela (ou ele) precisa constantemente de ter alguém, uma figura
masculina que supra a ausência paterna. E eis um fato: Todo mundo (inclusive homens) que
conheço assim, vivem sofrendo, vive na fossa, porque não possuem amor próprio e passam a
vida achando que é da responsabilidade de terceiros suprir a solidão e as necessidades
emocionais dela.

Recentemente um amigo meu íntimo entrou numa roubada assim. Ele nunca conseguiu ficar
só. Indivíduo extremamente carente, não sabe fazer companhia para si mesmo, amar a si
mesmo. Ele entregou a vida inteira para todas as namoradas. Teve uma enorme decepção com
a penúltima namorada e menos de 2 meses de separação começou a namorar com outra e em
menos de um ano se casou e engravidou a menina. Não tem um dia que eu não receba
mensagens dele reclamando da vida.

Tudo que te disse, digo a ele. Quem deposita a felicidade em outro ser humano, está fadado a
sofrer falência emocional repetidamente. Quem se arrasta por outros nunca será
valorizado(a). Sempre será usado(a) e depois descartado(a). Sabe por quê? Por a gente abusa
de gente que não se ama.

Sofri a maior desilusão amorosa que alguém pode passar, mas ainda assim acredito que existe
(e como existe!) amor verdadeiro. O importante é entender o que se entende pelo termo
“amor verdadeiro”! Não é porque recebi uma nota falsa de 100% reais que agora eu não
acredito mais que existam notas de 100 reais verdadeiras. Elas existem, aos montes, cabe a
você saber identificar quando se trata de uma falsa.

E eis aqui uma verdade dura que digo a todas as minhas alunas: “Você não vai encontrar o
amor da sua vida aos 16-18 anos!”. Encontrar a pessoa certa (as pessoas certas, pq não existe
apenas uma, isso é lenda aristotélica inculcada pela mídia) é uma missão para vida toda. Na
verdade, nem deveríamos procurar ninguém, porque isso é igual quando perdemos alguma
coisa em casa. A gente procura, procura, revira tudo e não acha, até que, em um belo dia,
olhamos pro lado e o objeto estava lá, olhando pra gente. Parece mais que ele nos encontrou,
do que o contrário!

Sabe aquela diferença se o copo está metade cheio ou metade vazio e que tudo depende de
como você vê as coisas? Pois bem. Quando eu ficava sozinho eu pensei que era solidão, até
que eu entendi que era reclusão, e aquilo ao qual eu me apegava era prisão, ao passo que
aquilo que eu deixava ir era liberdade.

Faz um ano que não fico com ninguém e em momento nenhum me sinto só. Eu me sinto livre.
E se nessa jornada eu cruzar com alguém que me encante, posso amá-la, mas sabendo que ela
pode ir do mesmo jeito que veio, do nada.

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