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ATO ÚNICO
uma cadeira próxima à mesa de refeições com uma agulha de costura presa entre
aparece. Vai até a estante e serve-se de uma dose de cachaça. Coloca um disco
numa velha vitrola e caminha até sua poltrona predileta situada próxima à janela.
Olha para fora e vê a vizinha, se irrita com o que vê, com a curiosidade da vizinha.
Caminha até o sofá situado fora da direção da janela. Dinorá tem um band-daid no
Dinorá- Enxerida, essa gorda aí do lado. Não tem mais o que fazer...é o que me
instante, ficam suave e emocionada. Sibele, sua filha, chega da rua, joga as
Dinorá- Esse síndico! Será que não tem algo melhor pra fazer? Passa os finais de
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semana andando pelos corredores, ah...eu me sinto sufocada, a gorda na janela,
a bicha no corredor...
Dinorá- Não na minha porta! Eu não posso resolver os problemas dele, eu não
forno. Eu fiz!
Sibele retorna à sala, vai até a vitrola e tira a música. Dinorá olha a filha.
Dinorá- E desde quando música é chato? Música eleva o espírito, vem dos
Dinorá- Experimenta?
Dinorá- Ah, experimenta! Eu quero ver como fica em você...se está certinho!
Sibele- Não!
Dinorá- Ah, minha filha, eu só quero te deixar bonita! Hoje eu sonhei com a festa
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com um vestido preto, um véu negro cobrindo o rosto, os pés sujos de lama...
você pisou na mesa marcando os papéis com os pés. Eu tentei falar contigo, mas
da minha boca não saía nada. O mais esquisito é que era você quem entrava ali
dançando daquele jeito tão estranho, mas quando eu arranquei o véu do seu
Sibele- Os sonhos não são por acaso, Dinorá. A gente se misturando... mãe e filha
numa só, num corpo só, já pensou? (ri) - Você tentando ir para um lado e eu
Dinorá- (ainda segurando o vestido, muda de tom) - Você não gostou do vestido?
Fala logo, se não, dou para outra pessoa....Estou tentando te deixar mais
Dinorá- Ai!
Sibele- Me dá um gole?
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Dinorá- (serve num copo)- Toma.
Dinorá- Essa geringonça me irrita, não sei se tocou, tocou? Não sei.
Dinorá- Não, minha filha. Você não viu? Hoje um passarinho bateu na vidraça,
quebrou, fez uma esparramação de sangue, sujou minha cara. Parece profecia de
mau agouro.
Sibele- Esquisito.
Dinorá- Não é? Os gregos previam seus destinos pelo vôo dos pássaros. Eu
adoro os gregos! Ah! Imagino homens de ferro imolando animais aos deuses, o
Dinorá- Esse seu jeito...por que não procura um emprego, Sibele? Olha a sua
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cara. Já se olhou no espelho? (cúmplice) Se estivesse trabalhando, não teria
Dinorá- O que é isso?! O trabalho é uma coisa santa. E religião é uma virtude. O
trabalho não passa de religião. Sabe a estória da ovelha no rebanho? Eu sou uma
Dinorá- Santos são bons, repara as roupinhas deles...essas carinhas alvas, tão
Sibele- Você é louca! Pára de viver essa fantasia religiosa e esperar solução para
Sibele- Culpa? É esse o seu problema. E culpa pesa, o corpo amolece, você vai
ficando curva, vai tudo caindo, daqui a pouco o bico do peito está lá
embaixo...arrastando no asfalto.
Dinorá- Sibele, chega! Não vou gastar saliva tentando te dar clareza. Não vou
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dizer mais uma palavra, você não me escuta!
Dinorá estica as pernas e finge entreter-se com uma revista. Observa a filha
Dinorá- (fingindo preguiça)- Ai, ai, domingo me dá uma moleza! Talvez um pouco
de poesia nos faça bem.(Sorrindo, tentando ser simpática) Nos inebrie um pouco
Dinorá vai até a estante e pega um livro de sua predileção. Sibele continua
lendo o gibi.
Dinorá- Conhecer livros, sentir os cheiros que exalam quando os tocamos, você
precisa disso....leia!
Sibele- Ah, por favor, sem essa agora! Eu não estou aqui para ser sua aluna. Não
Dinorá- Faça como preferir! Não está mais aqui quem falou.
Pausa
Dinorá- Sibele, eu não quero ser chata, mas amanhã é a festa na escola...
seduzir a filha) eu conheci seu pai com ele. Ele gostava desse vestido. Dizia que
muito bem! Onde ele leu essa história? Dificilmente via seu pai lendo, só jornal, ele
gostava de ler jornal. (Dobrando o vestido) Eu realmente não conheci seu pai...
Sibele vai até a estante e tira de um gibi uma foto, do pai com Dinorá e ela.
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Sibele- Eu até hoje não te mostrei isso.
Sibele- Eu peguei na carteira dele, não sabia que ele guardava ...ele nunca me
mostrou. Junto com ela estava seu endereço, por isso eu te achei.
Sibele- Você não tem nada para me dizer? Que escolha foi essa? O que
aconteceu na sua cabeça para sumir e não querer mais nos ver?
Dinorá- Que situação chata! Por que não perguntou a ele? Eu simplesmente não
Sibele- Ele nunca entendeu... ele não tinha respostas. Um dia você foi embora.
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Por que?
Dinorá- Nós fizemos um trato, lembra-se? Quando você chegou aqui eu disse que
não queria falar sobre meu casamento. É problema meu! Eu não vou dar
calado, ele passou muito tempo calado, eu aprendi a não chorar, então, eu não
choro.
Dinorá volta com um pano de chão e enxuga a bebida que ela mesma
derrubou.
Dinorá- Tira esse passarinho morto da janela! Faz alguma coisa, criatura!
Sibele- O dia que você me pariu, você me espirrou para fora mesmo, com tanta
força que eu nunca soube onde fui parar, onde vou chegar, perto de você eu sei
Dinorá aproxima-se de Sibele, insinua que vai fazer carinho na filha, mas
Sibele- Não.
Sibele- Engorda.
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Sibele- Pára de ser exagerada. Você devia ter sido atriz, uma atriz de uma boate
fuleira.
uma das cadeiras e Sibele senta-se na outra. Ficam frente a frente. Ambas
Sibele- Pois eu sempre quis sentar num boteco contigo... era um sonho bobo de
uma adolescente.
Sibele- Não, eu não tive escolha, por isso eu não posso ser como você.
Pausa
Sibele- Como?
Dinorá- Parece...
Sibele- Isso não existe mais. Casamento é coisa do passado, só gente careta
casado! É triste viver ao lado de alguém sentindo solidão....é a pior solidão que
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existe.
Sibele- Meu pai me disse um dia que felicidade é somente um desejo de alguma
coisa, que ela não existe, faz apenas o coração bater por alguns minutos de forma
Sibele(seca)- Por que você fica puxando os pêlos do braço enquanto conversa?
Dinorá- Ah, mania, você terá as suas, espere. São implacáveis. Por mais que
Dinorá- Não.
Dinorá- O quê? Isso é um problema meu! Não se meta. Cala tua boca, menina,
porquê eu não vou ter dó em te expulsar daqui. Por dezenove anos, eu não fui
Sibele- Tudo bem. Eu também não quero te ver me espreitando atrás da porta
Dinorá bate na cara de Sibele. Sibele sai da sala. Dinorá está visivelmente
abalada. Bebe do aguardente. Anda pela sala desnorteada. Vai até à janela.
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e cheira profundamente. Chora. Sibele retorna com um vaso de girassóis
quase secos.
Dinorá- É mesmo!
Dinorá- Esqueci.
Sibele- Como?
Dinorá- Esqueci!
Dinorá- Não.
Sibele- Inventa!
Dinorá- Sibele...
Sibele- Me dá um trago?
Dinorá- Pega.
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Sibele- Não, esquece. Será que, se plantar de novo, elas vivem?
Dinorá- Que sujeira! Você vai limpar. Isso não presta mais, Sibele!
Sibele sai de casa. Dinorá acende uma vela no seu altar, reza por alguns
senta-se no sofá e tenta ler. Sibele retorna da rua imunda de terra. Forra o
Dinorá- O quê?
Sibele- É assim, mãe, a terra é o útero, você passa ela no corpo e então, faz
Sibele- Não.
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Sibele deita no chão em posição fetal.
Dinorá- Pára de criar problema. Eu não agüento! Que porcaria é essa? Levanta!
Eu chamo o médico, te interno, anda! Pára! Levanta daí, sua....é para o hospício
Sibele continua a brincadeira, Dinorá irritada tenta puxar com as mãos a filha
e não consegue. Dinorá anda de um lado para o outro, está desnorteada com
a brincadeira da filha. Sibele está cada vez mais fora de si. Dinorá vê a
sufocada. Sibele luta para tirar Dinorá de cima, não consegue, e aos poucos
vai perdendo as forças. Dinorá insiste e Sibele finge desmaiar. Dinorá olha a
mais um vez. Dinorá ajeita o vestido, o cabelo. Constata que a filha está ali
no chão e que certamente irão vê-la. Tira um lençol que forra o sofá e cobre
a filha.
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Dinorá abre a porta. Em pé, um sujeito de óculos segurando um delicado
Jaime- Di-no-rá.
Dinorá- Sim?
Dinorá- Jorge!
Jaime- É Jaime.
Dinorá- Sim! Jaime! Quanto tempo! Parece que você encolheu, na minha
Jaime- Eu trabalho aqui pertinho, então pensei: vou fazer uma visitinha, qualquer
hora dessas!
Dinorá- Ah, que ótimo! Mas sabe Jaime, você me perdoa, eu estou de saída!
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confortável para ambos.
Jaime- Forte.
Dinorá ri nervosa.
Dinorá- Ah! Que cabeça a minha! Espera só um pouquinho, estão aqui perto do
sofá.
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Dinorá faz menção de sair.
Dinorá- Viúva.
Jaime- É, sabe, Dinorá, é que.... há muito tempo que eu penso nisso, e eu quero
Dinorá- Beijo?
Jaime- A foto...
Jaime- Do beijo....nosso!
Dinorá- Perdi!
Dinorá- Roubaram!
Jaime- Como?
Dinorá- Pois é! Fiquei tão chateada! As coisas são assim mesmo, vão embora.
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Jaime- Eu gostaria tanto de rever!
Dinorá- Impossível!
Dinorá- Vamos?
Jaime (falando para si)- O beijo do meu único amor...único amor...levaram o beijo
Jaime- Um pouco.
Jaime- Continuo naquele escritório. Vinte e três anos. Eu consigo agüentar aquele
Jaime- Eu adoro fazer listas! Tenho fascinação por listas, sempre tive, desde
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Dinorá- Bom te rever!
Jaime- É!
Pausa
Dinorá- É cisma sua. Você deve ter sonhado com o bicho, está cismado.
Jaime- Um pacote?!
Dinorá- Me tirou do sério...aí, não tive como não fazer, eu pedi para que ela
Jaime- Posso?
Dinorá não responde, mas consente. Jaime puxa o lençol de cima do corpo
de Sibele.
Dinorá- Eu não costumo fazer isso. Jaime, por favor, não me olhe dessa maneira!
Sibele- Oi!
Sibele- Eu já ouvi.
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Jaime- Qual o seu nome?
Jaime- Talvez! Essa casa cheira a gatos, então, não é uma invenção que aqui
tenha gatos, não consigo deixar de pensar em gatos quando respiro...aqui moram
gatos.
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Sibele- Gatos? É verdade!
Dinorá- Verdade?
Jaime- Verdade.
divertindo-se, imita um gato, fazendo sons procura pelo animal. Sibele olha
debaixo do sofá, da estante, enfim, olha pela sala. Dinorá ri, faz os mesmos
sons que Jaime e Sibele, sem levar à sério a procura do gato. Jaime
Dinorá- Está impressionado? Devia estar grávida, muito gorda. Gravidez deixa a
Jaime – O que?
Dinorá- Estava quentinho. Mas bolo frio, há quem goste. Eu vou dar uma
esquentadinha!
Dinorá- Café?!
Dinorá- Verdade!
Dinorá sai.
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Sibele (sem olhar Jaime, pega um joguinho manual)- Posso te dizer uma coisa?
Jaime- Sim.
Sibele (continua sem olhar Jaime, joga com o brinquedo) - Você tem cara de
doente. Mas eu gosto! Eu sinto vontade de ficar perto e cuidar. Pensa bem, gente
saudável é monótono, é chato olhar para a cara delas, elas não dão a sensação
Jaime- Às vezes eu vou até lá, ver as filas dos hospitais, mas eu não consigo ver
Sibele- Acho.
Sibele- Eu, quando estou andando na rua, desvio. Você tem que sair fora da reta
delas. Tem cara que gruda na gente. Aí, é difícil arrancar fora.
Jaime- Os coelhos, têm sempre a mesma cara, vão surgindo a toda hora. De dois,
nascem quatro, e depois, já são dez, depois, vinte e um, a mesma cara, todos! Os
olhos vermelhos, sempre... os coelhos não tem cara de nada, eu não tenho a cara
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Jaime pega uma lista.
Jaime- Uma lista. Estão aqui anotados. São 1534 com a mesma cara. Confere!
Jaime- Eu não consigo deixar de contar. Um dia alguém vai querer conferir aí, eu
vou poder ajudar. Eu gosto de ser útil.( Jaime pega uma outra lista) Eu trouxe para
a Dinorá.
Jaime- É!
Jaime- Acabar com a fome do mundo. São cálculos de quantos pães e etc.
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iríamos precisar para alimentar 500 milhões de pessoas. Dinorá, a grande mãe e
eu, o pai!
Sibele- Jura?!
Jaime- O que?
Sibele- Nada não! E essa outra aqui, deixa eu ver? (lendo outra lista)- Quantas
Sibele- Não, foi maneira de dizer ...ah, deixa para lá, desculpa! Me diz uma coisa.
Sibele- Mas aquele especial, o que é? O “the best”! Eu adoro fazer essa pergunta
para as pessoas.
Jaime- Bom, eu queria um dia conseguir andar de um jeito nas ruas, andar de um
jeito que todo o mundo me olhasse, eu não chamo atenção de ninguém, nunca
Sibele- Como?
Jaime- Eu?
Sibele- Você tem uma cara assim...é ...diferente. Eu duvido que as pessoas não te
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olhem, impossível não olhar, eu não deixaria passar.
Jaime- Gibis?
Sibele- Leva para você ler. Você está precisando ler. Eu pego outra hora... com
você.
Jaime- Obrigado.
Os três comem e somente Jaime toma o café. Sibele imita a mãe comendo o
bolo.
Jaime- Quando eu era pequeno, minha avó me dizia que tomar café sem açúcar
amarga não só a boca, mas a vida inteira. Então, nunca tomo café sem açúcar.
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Dinorá- Jaime! (Sibele entrando)- Eu a mãe?!
Jaime- Obrigado.
sobre sua própria cabeça. Jaime fica estarrecido com a atitude de Dinorá.
Sibele- Ele imitava você, seus gestos, o jeito de andar, de falar e me pedia para
imitar também. “Não, minha filha, ela quando ria jogava a cabeça para atrás, e
dava soluçinhos. Põe o dedo na ponta do nariz e olha com firmeza. O olhar é firme
e doce. O cabelo, atrás da orelha, era atrás da orelha!”. E me acariciava. Meu pai
cuidava de mim, algo que você nunca fez. Ele nunca deixou de me olhar. Ele só
tinha saudades, só isso! Eu sabia que eram saudades suas, por isso eu fazia o
Sibele enfia o vestido que a mãe estava costurando para a filha usar.
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Olham-se por um instante, em silêncio.
Sibele- Ele me fazia ser uma Dinorá que não existe, só existiu na cabeça dele!
Dinorá- Sibele, do que mais eu sou culpada? Vamos! Quer me jogar numa
fogueira? É isso? Quanto tempo mais vou ter que assistir seus espetáculos?
Dinorá- Entender o que? As coisas são o que são. (perguntando a si mesma)- Por
que a vida toma certos rumos? Por que? Eu não sei! Não sei.
Sibele- Só alguém que não gosta da filha age como você agiu!
Dinorá- Era impossível levar você comigo! Na época, era o melhor! Ficar com o
Sibele- Posso até entender se imaginar uma circunstância terrível. Mas porque
Dinorá- Sibele, o amor pode significar tanta, mas tanta dor, que se torna
Sibele – Por amor?! Não, não cabe aqui nesses miolos, não!
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motivos!
Dinorá – Na verdade, você quer ouvir o que eu não tenho para dizer.
Dinorá- Não sou eu quem passa as noites na rua, que chega de manhã em casa,
Sibele- Eu não passo o dia inteiro enchendo a cara! Com que autoridade vem me
Dinorá- Não sei de nada mesmo! Nada. Amnésia profunda! Chega dessa
ladainha!
Pausa
criado pelo meu pai. Uma mulher idealizada por nós dois!
Dinorá- Por favor, Sibele, não quero ser um desses fantasmas conversando com
Sibele começa a arrumar suas coisas, catar revistinhas, roupas que estavam
Sibele- Claro! É isto que você deve fazer! Esperar. É o que você tem feito há
anos!
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Sibele- Eu, Dinorá, ainda tenho sonhos.
Sibele- Não. Não preciso e nem quero tanto! Mas a minha vida, esta eu quero
mudar!
Silêncio
Dinorá- Jaime!
olho para o céu e penso como deve ser boa a vida de pássaro, aí eu dou um gole
Sibele volta com uma pequena mala nas mãos. Sibele vai saindo.
Sibele sai. Jaime, atônito, olha Dinorá paralisada. Jaime sai apressado, atrás
de Sibele.
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minúscula e delicada.
Dinorá- Ah, minha filha, eu esqueci de te mostrar como é linda e delicada a minha
Sibele! - Pausa - Minha menina! Porque despertou nesse coração solitário tanto
afeto? Hem? Por quê? – Pausa - Você não vai embora, não vai embora, não vai
não... eu sei.
FIM
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