Novo Ano Litúrgico – Novo Oportunidade de Graça e Salvação
Querido paroquiano, querida paroquiana,
Graça e Paz! Com a chegada do mês de dezembro chega também o Tempo do Advento e tem início um novo Ano Litúrgico. Mas, o que é mesmo o Ano Litúrgico? Assim como para o povo judeu, também para nós cristãos a celebração do Ano Litúrgico é a forma da gente lembrar, ao longo da nossa caminhada – no Tempo e na História – a presença dinâmica de Deus em meio ao seu povo. Para nós, a expressão máxima dessa presença foi atingida na “plenitude do tempo” (Gl 4,4), quando o Filho de Deus, Jesus Cristo, a Palavra eterna do Pai, entrou na história humana, “se fez carne” (Jo 1,14), e veio nos trazer a salvação. É justamente essa novidade que marca o início de cada Ano Cristão. Por sua vez, “no decorrer do ano, [a Igreja] revela todo o Mistério de Cristo, desde a Encarnação e o Nascimento até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor” (Sacrosanctum Concilium 102). Com razão, podemos dizer com o teólogo e liturgista alemão Dom Odo Casel: “O ano litúrgico é portanto o mistério de Cristo” (O Mistério do Culto no Cristianismo). Agora eu o convido a dar mais um passo, para avançar ainda mais na compreensão do sentido e da finalidade do Ano Litúrgico. Já vimos que o seu conteúdo é a totalidade do Mistério de Cristo. Entretanto, ter presente “apenas” esse elemento, poderia nos induzir ao erro de crer que as festas e os tempos litúrgicos estariam reduzidos a uma espécie de “aniversário” dos fatos e da vida histórica de Jesus. Não se trata disso! Já o Papa Pio XII nos chama a atenção para essa mentalidade redutivista e oferece elementos para ampliar nosso horizonte de reflexão. Na Encíclica Mediator Dei, ele ensina que o ano litúrgico não é “uma representação fria e inerte de coisas que pertencem a tempos passados, nem uma simples e nua recordação de uma idade pretérita, mas é o próprio Cristo que persevera em sua Igreja e que prossegue aquele caminho de imensa misericórdia que iniciou na vida mortal quando passou fazendo o bem, com o objetivo de que as almas dos homens entrem em contato com seus mistérios e por eles de certo modo vivam” (150). Trata-se aqui da dimensão sacramental e mistagógica do Ano Litúrgico, cuja celebração não apenas recorda, mas também torna presente e atualiza para nós o mistério de Cristo no tempo dos homens para reproduzi-lo em nossas vidas. É o que ensina magistralmente o Concílio Vaticano II: “recordando os mistérios da redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas do poder santificador e dos méritos de seu Senhor, de tal sorte que de alguma forma os torna presentes em todo o tempo, para que os fiéis entrem em contato com eles e sejam repletos da graça da salvação” (Sacrosanctum Concilium 102). Para a liturgista brasileira Ione Buyst, “celebrando a Páscoa de Jesus, fazemos hoje, nele, a nossa Páscoa. Celebrando o Natal de Jesus, fazemos hoje, nele, o nosso Natal. Celebrando o Advento e a Epifania de Jesus, ele se manifesta a nós e nos faz caminhar mais depressa em direção ao Reino” (Preparando o Advento e Natal). Como podemos perceber, ao fazer memória dos diversos aspectos do Mistério de Cristo no Ano Litúrgico, desde a encarnação e o nascimento até a sua glorificação, o cristão reconhece em sua própria existência a vida do Filho de Deus que o fez renascer com ele, viver nele, padecer, morrer e ressuscitar e até estar sentado com ele nós céus (Rm 6,3-4; 8,17; Ef 2,5-6). A essa realidade sacramental e mistagógica do Ano Litúrgico se une seu valor como itinerário de fé e de formação cristã para toda a comunidade e como marco espiritual mais adequado para a ação pastoral da Igreja. Aqui o Ano litúrgico apresenta-se também como escola de discipulado e marco referencial para a missão da Igreja. Meu irmão, minha irmã, ao celebrar um novo Ano Litúrgico, lhe é oferecida uma nova oportunidade de graça e de presença do Senhor da história, o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13,8), no grande símbolo da vida humana que é ano; de crescer na compreensão do seu mistério; de melhor corresponder pela fé e pelo amor a salvação que Deus nos oferece hoje. Aproveite! Acolha esse grande dom, contemplando e revivendo em espírito a vida de Cristo, para alcançar “o estado do Homem Perfeito, a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4,13).