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CONSTITUCIONAL

PONTO 3 – 1. Princípio Democrático e Garantia dos Direitos Fundamentais. Regime Político e


Democracia. Direitos e Garantias Fundamentais. 2. Poder Legislativo Federal e Poder Legislativo do
Distrito Federal funções legislativas. Estrutura e funcionamento do Poder Legislativo Federal e do
Distrito Federal. Atribuições do Congresso Nacional. Atribuições da Câmara dos Deputados e da
Câmara Distrital. Atribuições do Senado Federal. 3. Imunidades e vedações parlamentares.
Comissões Parlamentares de Inquérito: instalação, funcionamento e atribuições.

3.1 PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E GARANTIAS E DIREITOS FUNDAMENTAIS. REGIME POLÍTICO E


DEMOCRACIA

• Princípio democrático: mais que um princípio, a democracia constitui fundamento e valor essencial das
sociedades ocidentais, definindo sua estética e o modo como elas existem e operam. Trata-se de um dos
mais valiosos valores da atualidade. A enorme extensão atribuída a essa palavra fez com que se perdesse
um pouco de sua clareza, tornando-se algo com sentido vago. Segundo Ferreira Filho, a experiência de um
autêntico regime democrático exige a presença de alguns pressupostos, como certo grau de desenvolvimento
social e progresso econômico. Para José Afonso da Silva, ao contrario, a democracia não precisa de
pressupostos especiais; basta a existência de uma sociedade. Se o seu governo emana do povo, é
democracia; se não, não é. A participação popular no governo é condição essencial da democracia. À vista
disso, foram concebidos alguns modelos de democracia, os quais podem ser reunidos em 3 grupos:
- modelo clássico ou democracia direta: as decisões de governo devem ser tomadas em assembléia
pública, da qual devem participar todos os cidadãos (Democracia ateniense do séc V e VI a. C)
- democracia indireta: é a representativa. Nela os cidadãos escolhem aqueles que os representarão no
governo. A participação popular se dá, pois, na escolha dos representantes mandatários.
- Democracia semi-direta ou mista: procura mesclar os dois modelos anteriores. Convivem
simultaneamente a representação e a participação popular direta (plebiscito e referendo).

• Princípio democrático e garantias e direitos fundamentais: há uma proximidade muito grande entre eles,
pois as idéias de liberdade e igualdade necessariamente participam da essência da democracia. A liberdade
denota amadurecimento de um povo, que passa a ser artífice do seu destino e, consequentemente,
responsável por seus atos. De outro lado, a igualdade significa que a todos é dado participar do governo,
sem que se imponham diferenças artificiais e injustificáveis como origem social, cor, instrução, fortuna etc. O
respeito à dignidade da pessoa humana, por fim, encontra-se na base de qualquer regime que se pretenda
democrático, por elevar a consciência ética.
• Regime político e democracia: os regimes políticos dizem respeito à relação entre Estado e concepções
de vida, isto é, os interesses predominantes em relações sociais e o grau de intervenção estatal nas relações
sociais. A doutrina diverge quanto à classificação dos regimes de governo, podendo-se destacar duas
tentativas de sistematização: 1ª) regimes: liberal (liberdade política e civil de um povo); totalitário (relação
transpersonalista entre sociedade civil e Estado) e ditatorial (exercício de poder bem autodelimitado por
poucos); 2ª) regimes: democrático (direto e indireto); autocrático (ex: por conquista de poder, herança,
cooptação ou sorteio) e mistos ou de transição (juntas de governo). Releva notar que, de acordo com a
primeira classificação, o conceito de regime liberal não guarda relação com democracia, eis que seria possível
pensar num regime liberal sem ser democrático.

3.2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

3.2.1. CONCEITO, HISTÓRICO E GENERALIDADES


Direitos e garantias individuais são prerrogativas que o indivíduo opõe ao Estado.
Ruy Barbosa diferenciou direitos de garantias. Direitos seriam as disposições meramente
declaratórias; enquanto que as garantias seriam as disposições assecuratórias que, em defesa dos direitos,
limitam o poder. Nas garantias haveria, então, um caráter instrumental de proteção dos direitos. Os direitos
representam só por si certos bens, as garantias destinam-se a assegurar a fruição desses bens; os direitos
são principais, as garantias acessórias (muitas delas, adjetivas). Os direitos declaram-se. As garantias
estabelecem-se.
Enquadram-se na categoria de direitos fundamentais de primeira geração, porquanto
compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais, realçando o princípio da liberdade. Sua origem
institucional remonta à Magna Charta.
3.2.1.1 Destinatários
Têm por destinatários as pessoas físicas e jurídicas, nacionais ou estrangeiras, públicas
ou privadas ou mesmo entes despersonalizados nacionais (massa, espólio, etc.), estrangeiros residentes ou
estrangeiros de passagem pelo território nacional.
3.2.1.2 Interpretação
Os direitos e garantias individuais devem ser interpretados de forma ampla, extensiva,
para abranger o maior número de sujeitos e de situações. Por sua vez, as normas que excepcionem direitos
e garantias devem ser interpretadas restritivamente.
3.2.1.3 Suspensão
Os direitos e garantias fundamentais podem ser suspensos por tempo determinado
durante o Estado de Defesa (instabilidade das instituições democráticas ou calamidade pública) ou o de Sítio
(se o Estado de Defesa tiver sido ineficaz para resolver o problema ou no caso de guerra externa, caso este
em que inclusive o direito à vida pode ser restringido, admitindo-se a aplicação de pena de morte)b.
3.2.1.4 Limitação Material do Poder de Reforma (art. 60, § 4º)
Os direitos e garantias individuais não estão sujeitos a emenda, consistindo em cláusula
pétrea.
Na ADIN nº 939-07/DF, o Min. Carlos Velloso observou que os direitos e garantias sociais,
os direitos atinentes à nacionalidade e os direitos políticos pertencem à categoria de direitos e garantias
individuais. Para o Ministro Marco Aurélio, os direitos sociais estão contidos dentre os direitos individuais.
Nessa mesma ADIN decidiu o STF que os direitos e garantias individuais podem estar
esparsos por toda a Constituição, como, por exemplo, o princípio da anterioridade tributária (CF, art. 150, “b”),
constituindo, também, cláusulas pétreas.
Conclui-se, portanto, que o art. 5º é meramente exemplificativo, o que inclusive consta do
§ 2º do art. 5º, segundo o qual:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte”.

3.2.1.5 Classificação dos Direitos Individuais


Conforme classificação contida na obra de José Afonso da Silva 1, os direitos individuais
podem ser divididos em três grupos:
a) Direitos individuais expressos: aqueles explicitamente enunciados nos incisos do art.
5º;
b) Direitos individuais implícitos: aqueles que estão subentendidos nas regras de
garantias, como o direito à identidade pessoal, certos desdobramentos do direito à vida, o direito à atuação
em geral (art. 5º, II);
c) Direitos individuais decorrentes do regime e de tratados internacionais subscritos pelo
Brasil: aqueles que não são nem explícita nem implicitamente enumerados, mas provêm ou podem vir a provir
do regime adotado, como o direito de resistência (direito que qualquer pessoa tem de resistir ou insurgir contra
qualquer fator que ameace sua sobrevivência ou que represente uma violência a valores éticos ou morais
humanistas).

3.2.2. DIREITO FUNDAMENTAL E GARANTIA INSTITUCIONAL. DIFERENÇA


Clássica distinção realizada pela doutrina alemã. As garantias institucionais
(Einrichtungsgarantien) compreendem as garantias jurídico-públicas (Institutionnelle Garantien) e as garantias
jurídico-privadas (Institutsgarantie).
Em outras palavras, garantias institucionais são aqueles direitos que não são atribuídos
diretamente às pessoas, mas a determinadas “instituições” que possuem sujeito e objeto diferenciado, do que
são exemplos: a família, a liberdade de imprensa, o funcionalismo público, os entes federativos.

1
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 19ª edição, 2001, página 197.
Tais instituições são protegidas diretamente como realidades sociais objetivas. Apenas
indiretamente se expandem para a proteção dos direitos individuais.
Canotilho, citado por Alexandre de Moraes 2, afirma que “a protecção das garantias
institucionais aproxima-se, todavia, da protecção dos direitos fundamentais quando se exige, em face de
intervenções limitativas do legislador, a salvaguarda do ‘mínimo essencial’ (núcleo essencial) das instituições”.

3.3. DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE

3.3.3.1 DIREITO À VIDA


a) Direito de não ser morto (art. 5.º, XLVII, “a”)
A CRFB assegura o direito de não ser morto quando proíbe a pena de morte. A aplicação
da pena de morte só é permitida em caso de guerra externa declarada.
Não é possível um plebiscito para a introdução da pena de morte, tendo em vista que a
própria CRFB estabelece suas formas de alteração e o plebiscito não está incluído nessas formas. A única
maneira de se introduzir a pena de morte no Brasil seria a confecção de uma nova Constituição pelo poder
originário.
b) Aborto
O legislador infraconstitucional pode criar o crime de aborto ou descaracterizá-lo, tendo
em vista que a CF não se referiu ao aborto expressamente, simplesmente garantiu a vida. Assim, o CP, na
parte que trata do aborto, foi recepcionado pela CF/88.
O CP prevê o aborto legal em caso de estupro (admitido também se decorrer de atentado
violento ao pudor) e em caso de risco de morte da mãe. A jurisprudência admite, no entanto, o aborto eugênico
baseado no direito à vida da mãe, visto que nesse caso existe risco de integridade física e psicológica desta.
Aborto eugênico é aquele concedido mediante autorização judicial nas hipóteses de comprovação científica
de impossibilidade de sobrevivência extra-uterina (essa posição não é pacífica).
Para que o aborto seja legalizado no Brasil, basta somente a vontade do legislador
infraconstitucional, tendo em vista que a CRFB não proibiu nem permitiu esse procedimento.
Merece menção a ADFP julgada recentemente pelo STF em que se abordou a questão do
aborto do anencélafo: ADPF e interrupção de gravidez de feto anencéfalo: julgada procedente. ADPF foi
ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde – CNTS. Antecipação terapêutica do parto
independentemente de autorização judicial. O objeto é a interpretação conforme a Constituição dos arts. 124,
126 e 128, I e II, do CP, para excluir do âmbito de incidência dos tipos penais este tipo de aborto. Tema
envolve a dignidade humana, o usufruto da vida, a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o
reconhecimento pleno de direitos individuais, especificamente, os direitos sexuais e reprodutivos da mulher.
“A tipificação penal da interrupção da gravidez de feto anencéfalo não se coadunaria com a Constituição,
notadamente com os preceitos que garantiriam o Estado laico, a dignidade da pessoa humana, o direito à
vida e a proteção da autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde”. Expressão sob a proteção de Deus
no preâmbulo da CF que não tem força normativa. Estado neutro. Anencefalia: ausência dos hemisférios
cerebrais, do cerebelo e de um tronco rudimentar ou a ausência total ou parcial do crânio. Anencéfalo, assim
como o morto cerebral, não tem atividade cortical. Anencéfalos: natimortos cerebrais. Não se trata de aborto
eugênico, visto negativamente por ser prática do nazismo, já que não se cogita da possibilidade de existência
de vida extrauterina, que é pressuposto daquele tipo de aborto, que busca evitar o nascimento de seres com
padrões imoralmente aceitos. Conflito apenas aparente de direitos fundamentais, porque não há vida ou
dignidade do anencéfalo que está por vir em eventual contraposição à dignidade humana da mãe. Vencidos
Gilmar Mendes e Celso de Mello apenas no que se refere às condições que entendiam necessárias para a
efetivação do aborto. Levandowski e Peluso julgavam totalmente improcedente.
Interessante notar que não houve “relativização” do direito à vida, já que prevaleceu o
entendimento de que, no caso do anencéfalo, não há possibilidade de vida a merecer proteção.
c) Eutanásia
O médico que praticar a eutanásia, ainda que com autorização do paciente ou da família,
estará cometendo crime de homicídio. A eutanásia se configura quando um médico tira a vida de alguém que
teria condições de vida autônoma. No caso de desligar os aparelhos de pessoa que só sobreviveria por meio

2
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 19ª edição, 2006, São Paulo, Atlas, página 29.
deles, não configura a eutanásia.
d) Garantia da legítima defesa
O direito de a pessoa não ser morta legitima que se tire a vida de outra pessoa que atentar
contra a sua própria.

3.3.3.2 PRINCÍPIO DA IGUALDADE


Adota a CRFB o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma
igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei,
em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Destarte, o que se veda são as
diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, na
medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça (princípio da isonomia),
pois o que realmente se protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional
quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito.
Opera em 02 planos:
- frente ao legislador ou ao próprio executivo: deve o princípio ser atendido na edição de
leis, atos normativos e medidas provisórias.
- frente ao intérprete e ao particular: que devem aplicar a lei e os atos normativos de
maneira igualitária, sem diferenciações em razão do sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça,
classe social.
Para que as diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias,
torna-se indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de acordo com critérios e juízos
valorativos genericamente aceitos. Devem atender a uma relação de proporcionalidade entre os meios
empregados e a finalidade perseguida.
Em relação ao princípio da igualdade e a limitação de idade em concurso público, cabe
ressaltar a Súmula nº 683 do STF, no sentido de que “o limite de idade em concurso público só se legitima
em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo
a ser preenchido”.
STJ recentemente decidiu (RMS 37.328-AP) quanto a tratamento diferenciado de
candidata grávida quanto ao exame físico: Direito administrativo. Remarcação de teste de aptidão física em
concurso público motivada pela gravidez de candidata: é possível, ainda que o edital não contenha previsão
nesse sentido. Motivo de força maior, apto a possibilitar a remarcação do referido teste, sem que se configure
qualquer ofensa ao princípio constitucional da isonomia.

3.3.3.3. DIREITO À LIBERDADE


a) Liberdade de Pensamento (art. 5.º, IV e V)
É importante que o Estado assegure a liberdade das pessoas de manifestarem o seu
pensamento. Foi vedado o anonimato para que a pessoa assuma aquilo que está manifestando caso haja
danos materiais, morais ou à imagem. O limite na manifestação do pensamento se encontra no respeito à
imagem e à moral das outras pessoas.
Caso ocorram danos, o ofendido poderá se valer de dois direitos:
 indenização por dano material, moral ou à imagem (“são cumuláveis as indenizações
por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato” – Súmula nº 37 do STJ);
 direito de resposta, que é o direito a ter idêntica oportunidade para se defender, desde
que seja proporcional ao agravo e que seja realmente usado para defesa e não para ataque ao ofensor. Se o
direito de resposta for negado pelo veículo de comunicação, caberá medida judicial.
b) Liberdade de Consciência, de Crença e de Culto (art. 5.º, VI, VII e VIII)

A liberdade de consciência refere-se à visão que o indivíduo tem do mundo, ou seja, são
as tendências ideológicas, filosóficas, políticas etc. de cada indivíduo.
A liberdade de crença tem um significado de cunho religioso, ou seja, as pessoas têm a
liberdade de cultuar o que elas acreditam. A CRFB proíbe qualquer distinção ou privilégio entre as igrejas e o
Estado. O que se prevê é que o Estado poderá prestar auxílio a qualquer igreja quando se tratar de assistência
à saúde, à educação etc.
Seja qual for a crença, o indivíduo tem direito a praticar o culto. A CRFB assegura, também,
imunidade tributária aos templos quando se tratar de qualquer valor auferido em razão de realização do culto.
O STF decidiu que a imunidade regiligiosa ou de assistência social não se estende à
maçonaria, que é uma ideologia de vida, e não uma religião (Informativo n° 678).
Ainda, a CRFB assegura o atendimento religioso às pessoas que se encontrem em
estabelecimentos de internação coletiva, como manicômios, cadeias, quartéis militares etc.
c) Liberdade de Atividade Intelectual, Artística, Científica e de Comunicação (art. 5.º, IX).

A CRFB estabelece que a expressão das atividades intelectual, artística, científica e de


comunicação é livre, não se admitindo a censura prévia. É uma liberdade, no entanto, com responsabilidade,
ou seja, se houver algum dano moral ou material a outrem, haverá responsabilidade por indenização.
O direito do prejudicado se limita à indenização por danos, não se podendo proibir a
circulação da obra. Apesar de não haver previsão na CRFB quanto à proibição de circulação de obras, o
Judiciário está concedendo liminares, fundamentando-se no fato de que deve haver uma prevenção para que
não ocorra o prejuízo e não somente a indenização por isso.
Os meios de comunicação são públicos, sendo concedidos a terceiros. Caso a emissora
apresente programas que atinjam o bem público, ela poderá sofrer sanções, inclusive a não renovação da
concessão.
d) Liberdade de Trabalho, Ofício ou Profissão (art. 5.º, XIII)

É assegurada a liberdade de escolher qual a atividade que se exercerá. Essa é uma norma
de eficácia contida porque tem uma aplicabilidade imediata, no entanto traz a possibilidade de ter o seu campo
de incidência contido por meio de requisitos exigidos por lei.
A lei exige que certos requisitos de capacitação técnica sejam preenchidos para que se
possa exercer a profissão (ex.: o advogado deve ser bacharel em Direito e obter a carteira da OAB por meio
de um exame; o engenheiro deve ter curso superior de engenharia etc.).
e) Inviolabilidade do Domicílio (artigo 5.º, XI)

A Constituição estabelece a inviolabilidade domiciliar e suas exceções. A casa é asilo do


indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, ainda, durante o dia, por determinação judicial.
A expressão casa, segundo o Código Penal (artigo 150, § 4.º), compreende qualquer
compartimento habitado, o aposento ocupado de habitação coletiva e, ainda, compartimento não aberto ao
público, onde alguém exerce profissão ou atividade (caso típico dos escritórios profissionais). O atual
posicionamento do STF é no sentido de que o quarto de hotel e de motel, enquanto ocupado, também deve
ser entendido como domicílio, sendo, portanto, inviolável.
Em síntese, a violação de domicílio legal, sem consentimento do morador, é permitida nas
seguintes hipóteses:
- Dia: flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou por determinação judicial;
- Noite: flagrante delito, desastre ou para prestar socorro.
Com relação à expressão dia, José Afonso da Silva entende que é o período das 6 hrs. da
manhã às 18 hrs. Para Celso de Mello, deve ser levado em conta o critério físico-astronômico, como o intervalo
de tempo situado entre a aurora e o crepúsculo. Outros doutrinadores entendem que devem ser aplicados os
dois critérios conjuntamente. Leda Pereira da Mota e Celso Spitzcovsky, em relação ao horário, destacam o
artigo 172 do Código de Processo Civil, que autoriza o cumprimento dos atos processuais das seis às vinte
horas.
O Código Penal, no artigo 150, define o crime de violação de domicílio. A Lei n. 4.898/65,
no artigo 3.º, alínea “b”, define como crime de abuso de autoridade, o atentado à inviolabilidade do domicílio.
É polêmica a questão sobre a possibilidade ou não de a Administração Pública exercer
seu poder de polícia no interior das ‘casas’, sem autorização judicial.
Poder de Polícia (modernamente conceituado em outros países como “limitações
administrativas à liberdade e à propriedade”) é aquele que se confere à Administração Pública para que ela
possa, nos limites da lei, em benefício da coletividade ou do próprio Estado, regular, condicionar e restringir
o uso e gozo de bens, atividades e direitos. O Poder de Polícia tem como principal característica a auto-
executoriedade, ou seja, é passível de execução direta pela própria administração, independentemente de
ordem judicial.
Hely Lopes Meirelles, exemplificando situações como nas demolições de obras nocivas à
comunidade, leciona que se firma cada vez mais a jurisprudência na boa doutrina, reconhecendo a
Administração – especialmente quanto aos atos de polícia – o poder de executar direta e indiretamente seus
atos imperativos, independentemente de pedido cominatório ou mandado judicial. Reconhece, porém, que
em face dos princípios do contraditório e da ampla defesa, inclusive nos procedimentos administrativos, a
auto-executoriedade tornou-se mais restrita.
Celso Ribeiro Bastos, por sua vez, ao tratar da inviolabilidade do domicílio, traz a seguinte
lição: “Perdeu portanto a administração a possibilidade da auto-executoriedade administrativa. Mesmo em
casos de medidas de ordem higiênica ou de profilaxia e combate às doenças infecto-contagiosas, ainda assim
é necessário uma ordem judicial para invasão”.
Prevalece que, tratando-se de situações emergenciais, a razão está com Hely Lopes
Meirelles, sem prejuízo de que posteriormente o particular ingresse com as medidas judiciais cabíveis para a
defesa de seus direitos e de seu patrimônio, se for o caso. Afinal, quem pode o mais pode o menos, e a
Constituição Federal autoriza até mesmo a requisição do bem particular (artigo 5.º, XXV) sem impor para
tanto a prévia autorização judicial.
A Constituição Federal, em seu artigo 145, § 1.º, estabelece que a administração tributária
deve exercer suas atividades com respeito aos direitos individuais, entre os quais se destaca a inviolabilidade
de domicílio. Nesse sentido STF-RTJ 162/249. No âmbito infraconstitucional a matéria está disciplinada pelos
arts. 194/200 do Código Tributário Nacional. Havendo resistência, a fiscalização tributária deve requerer ao
Poder Judiciário um mandado de busca e apreensão, podendo o contribuinte ser enquadrado no artigo 1.º, I,
da Lei n. 8.137/90 (que trata dos crimes contra a ordem tributária).
f) Sigilo de Correspondência e de Comunicações (artigo 5.º, XII)

A CRFB assegura o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados


e das comunicações telefônicas, permitindo a violação das comunicações telefônicas, desde que por ordem
judicial.

A Lei n. 9.296/96 dispõe que a interceptação telefônica é possível por ordem judicial:

- de ofício, a requerimento do Ministério Público ou autoridade policial;

- tratando-se de fato punido com reclusão;

- desde que seja imprescindível para a instrução processual penal ou para a investigação
criminal;

- desde que já existam indícios suficientes de autoria.

Fora dessas hipóteses a interceptação telefônica pode ser considerada prova ilícita,
porque viola a intimidade.

Interceptação telefônica significa a gravação de um diálogo telefônico entre duas ou mais


pessoas sem que qualquer dos interlocutores saiba da medida. Não se confunde com escuta telefônica, pois
esta ocorre quando um terceiro (polícia, por exemplo) capta a conversa, com o consentimento de apenas um
dos interlocutores.

Quanto à validade da gravação clandestina (ou sub-reptícia), que é a conversa (telefônica


ou pessoal) gravada por uma parte sem o conhecimento da outra e sem ordem judicial, há controvérsia, mas
cabe ressaltar que o Supremo Tribunal Federal inclina-se a admitir somente no caso de prova de defesa.

Confira-se julgado interessante do STJ (Informativo n° 510): Direito processual penal.


Interceptação telefônica sem autorização judicial. Vício insanável: não é válida a interceptação telefônica
realizada sem prévia autorização judicial, ainda que haja posterior consentimento de um dos interlocutores
para ser tratada como escuta telefônica e utilizada como prova em processo penal. Interceptação telefônica:
é a captação de conversa feita por um terceiro, sem o conhecimento dos interlocutores, que depende de
ordem judicial (inciso XII do artigo 5º da CF, e Lei n. 9.296/1996). Ausência de autorização judicial macula a
validade do material como prova para processo penal. Escuta telefônica: é a captação de conversa feita por
um terceiro, com o conhecimento de apenas um dos interlocutores. Gravação telefônica: é feita por um dos
interlocutores do diálogo, sem o consentimento ou a ciência do outro. A escuta e a gravação telefônicas, por
não constituírem interceptação telefônica em sentido estrito, não estão sujeitas à Lei 9.296/1996, podendo
ser utilizadas, a depender do caso concreto, como prova no processo.

O artigo 1.º, parágrafo único, da Lei n. 9.296/96 permite interceptação no fluxo de


comunicação de dados, informática e telemática.

Considerando-se que a Constituição Federal só fez ressalva quanto à inviolabilidade das


comunicações telefônicas, pergunta-se: o parágrafo único do artigo 1.º da referida lei não contraria o texto
constitucional?

Vicente Greco Filho entende que o dispositivo é inconstitucional.

A maioria da doutrina, entretanto, entende que não há inconstitucionalidade. Damásio de


Jesus e Luiz Flávio Gomes estão com a maioria. Estes autores defendem a tese de que não há direito
fundamental absoluto. Para eles, um direito não pode acobertar uma atividade ilícita. O Supremo Tribunal
Federal já decidiu nesse sentido.

O parágrafo único do artigo 41 da Lei de Execução Penal prevê a possibilidade do diretor


do presídio suspender o direito de correspondência do preso em caso de violação à moral e aos bons
costumes. Novamente, surge a discussão sobre a inconstitucionalidade do dispositivo. A jurisprudência é
pacífica ao defender a constitucionalidade dessa restrição, diante da necessidade de defesa do interesse
público, da manutenção da segurança e outros fundamentos. A doutrina, por sua vez, defende o direito do
sentenciado à inviolabilidade da correspondência.

g) Liberdade de Locomoção (art. 5.º, XV)

É a liberdade física de ir, vir, ficar ou permanecer. Essa liberdade é considerada pela CRFB
como a mais fundamental, visto que é requisito essencial para que se exerça o direito das demais liberdades.
Todas as garantias penais e processuais penais previstas no art. 5.º são normas que
tratam da proteção da liberdade de locomoção. Por exemplo, o habeas corpus é voltado especificamente para
a liberdade de locomoção.
Essa norma também é de eficácia contida, principalmente no que diz respeito à liberdade
de sair, entrar e permanecer em território nacional. A lei pode estabelecer exigências para sair, entrar ou
permanecer no país, visando a proteção da soberania nacional.
h) Liberdade de Reunião (art. 5.º, XVI)

É a permissão constitucional para um agrupamento transitório de pessoas com o objetivo


de trocar idéias para o alcance de um fim comum.
O direito de reunião pode ser analisado sob dois enfoques: de um lado a liberdade de se
reunir para decidir um interesse comum e de outro lado a liberdade de não se reunir, ou seja, ninguém poderá
ser obrigado a reunir-se.
Para a caracterização desse direito, devem ser observados alguns requisitos a fim de que
não se confunda com o direito de associação. São eles:
Pluralidade de participantes: trata-se de uma ação coletiva, ou seja, deve haver várias
pessoas para que possa haver uma reunião. A diferença é que, na reunião, não existe um vínculo jurídico
entre as pessoas reunidas, diferentemente da associação, em que as pessoas estão vinculadas juridicamente.
Tempo: a reunião tem duração limitada, enquanto na associação, a duração é ilimitada.
Finalidade: a reunião pressupõe uma organização com o propósito determinado de atingir
um certo fim. É a finalidade que vai distinguir a reunião do agrupamento de pessoas. Essa finalidade deve ter
determinadas características, ou seja, a reunião deve ter uma finalidade lícita, pacífica e não deve haver
armamento.
Lugar: deve ser predeterminado para a realização da reunião.
Não é necessária a autorização prévia para que se realize a reunião, no entanto, o Poder
Público deve ser avisado com antecedência para que não se permita que haja reunião de grupos rivais em
mesmo local e horário. O objetivo do aviso ao Poder Público também é garantir que o direito de reunião possa
ser exercitado com segurança.
O direito de reunião tem algumas restrições, quais sejam:
- não pode ser uma reunião que tenha por objetivo fins ilícitos;
- não pode haver reunião que não seja pacífica e não deve haver utilização de armas (art.
5.º, XLIV). A presença de pessoas armadas em uma reunião não significa, no entanto, que
a reunião deva ser dissolvida. Nesse caso, a polícia deve agir no sentido de desarmar a
pessoa, mas sem dissolver a reunião. Em caso de passeata, não poderá haver nenhuma
restrição quanto ao lugar em que ela será realizada;
- durante o Estado de Defesa (art. 136, § 1.º, I, “a”) e o Estado de Sítio (art. 139, IV), poderá
ser restringido o direito de reunião.
i) Liberdade de Associação (art. 5.º, XVII a XXI)

Normalmente, a liberdade de associação se manifesta por meio de uma reunião. Logo,


existe uma relação muito estreita entre a liberdade de reunião e a liberdade de associação. A reunião é
importante para que se exerça a associação, visto que normalmente a associação começa com uma reunião.
É o direito de coligação voluntária de algumas ou muitas pessoas físicas, por tempo
indeterminado, com o objetivo de atingir um fim lícito sob direção unificante.
A associação, assim como a reunião, é uma união de pessoas. Distingue-se desta por ter
tempo indeterminado, visto que o objetivo que se quer alcançar não poderá ser atingido em um único
momento, enquanto na reunião, o objetivo se exaure em tempo determinado.
Os elementos da associação são três:
- base contratual: a associação se funda num acordo de vontades, ou seja, as pessoas
pactuam que se unirão para atingir um determinado fim;
- permanência: as pessoas se unem para agir em tempo indeterminado, ou seja, é uma
ação contínua para atingir um objetivo;
- fim lícito: a finalidade da associação deve ser, obrigatoriamente, lícita.
A ordem jurídica brasileira prevê vários tipos de associação, quais sejam:
- stricto sensu: agrupamento de pessoas sem fins lucrativos;
- sociedades: associações que possuem fins lucrativos;
- partidos políticos: associação que é característica, visto ser regulada constitucionalmente
(art. 17, CF/88). Toda disciplina jurídica do partido político está disposta na CF/88;
- associação profissional e sindicatos: também têm características próprias. Os sindicatos
estão disciplinados no art. 8.º da CF/88.
- cooperativas: associação de atividades profissionais. Estão disciplinadas no art. 174, §§
2.º ao 4.º, da CF/88.
São quatro os direitos decorrentes da associação: de criar associações; de aderir a
qualquer associação; de desligar-se da associação; de dissolução espontânea da associação.
- Direito de criar associações: qualquer pessoa poderá criar uma associação. Basta que
as pessoas se reúnam em assembléia, façam as bases contratuais e registrem em cartório para que a
associação esteja criada.
- Direito de aderir a qualquer associação: qualquer pessoa poderá se filiar a qualquer
associação em que tiver interesse.
- Direito de desligar-se da associação
- Direito de dissolução espontânea da associação: como regra, a associação só será
dissolvida quando os associados dispuserem entre si. Há hipóteses, no entanto, em que a associação poderá
ser dissolvida compulsoriamente ou ter seu funcionamento suspenso. A associação pode ser suspensa por
provimento cautelar e só poderá ser dissolvida por decisão judicial transitada em julgado. Será dissolvida ou
suspensa quando fugir de sua finalidade principal e passar a praticar atos ilícitos.
A criação de uma associação enfrenta duas restrições:
- não poderá ser criada associação para fins ilícitos;
- não poderá ser criada associação paramilitar (grupos armados).
A CRFB prestigiou a representação judicial para as associações, ou seja, as associações
podem representar seus associados judicialmente ou extra-judicialmente para a defesa dos interesses dos
filiados.
A representação judicial é estabelecida pela CRFB da seguinte forma:
- é necessário que a associação esteja regularmente constituída e funcionando por, no
mínimo, um ano. Há casos, entretanto, em que a jurisprudência admite a propositura de
associação que não esteja funcionando por um ano. Os partidos políticos e os sindicatos
não têm a exigência de funcionamento de no mínimo um ano;
- é necessário que o ato constitutivo da associação preveja, entre os seus objetivos, a
representação judicial dos seus filiados. Como regra, essa autorização é suficiente para a
representação judicial, no entanto os Tribunais Federais entendem que se as ações
versarem sobre direitos individuais homogêneos deverá existir uma autorização
específica.
A associação como pessoa jurídica poderá defender seus próprios interesses por meio de
ações individuais. Existem duas ações específicas como instrumento de ação das associações:
- mandado de segurança coletivo (art. 5.º, LXX, CF/88);
- mandado de injunção coletivo (jurisprudência do STF e do STJ).

3.3.3.4 DIREITO A TRATAMENTO DIGNO POR PARTE DO ESTADO


Como conseqüência da prática de delito, não se permitem penalidades além daquelas
previstas em lei. Todas as pessoas têm direito a um tratamento digno por parte do Estado, ou seja, têm o
direito à conservação de sua integridade física e moral, proibindo-se, ainda, a tortura, penas cruéis e
degradantes (art. 1.º, III, e art. 5.º, III, XLIII e XLIX, ambos da CF/88).

3.3.3.5 DIREITO À SEGURANÇA


A CRFB, no caput do art. 5.º, quando fala de segurança, está se referindo à segurança
jurídica. Refere-se à segurança de que as agressões a um direito não ocorrerão e, se ocorrerem, existirá uma
eventual reparação pelo dano que a pessoa tenha. O Estado deve atuar no sentido de preservar as
prerrogativas dispostas nas normas jurídicas.
a) Acesso ao Poder Judiciário (art. 5.º, XXXV)

A competência para dar a segurança jurídica é do Poder Judiciário. É por meio do acesso
ao Poder Judiciário que as pessoas conseguem a segurança jurídica.
a.1) Lesão e ameaça ao direito
Diante de uma agressão ou de ameaça de agressão a um direito, a pessoa poderá ir ao
Poder Judiciário e assegurá-lo – é o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Para que o Judiciário tenha o
dever de conceder a segurança jurídica, não é necessário comprovar a efetiva lesão, ou seja, pode-se,
preventivamente, buscar essa segurança para impossibilitar a lesão ao direito.
Esse acesso tem uma exceção no art. 217, § 3.º, da CF/88, que prevê que, em casos
relativos aos esportes (ações relativas à disciplina e às competições desportivas), deve antes haver uma
decisão da Justiça Desportiva para que se possa recorrer ao Judiciário. Também na lei que regulamenta o
habeas data, existe a disposição de que se devem esgotar todos os meios administrativos para que se possa,
então, recorrer ao Judiciário.
a.2) Direito de petição (art. 5.º, XXXIV, “a”)
Independentemente do pagamento de taxas, a todos são assegurados:
O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou
abuso de poder. Pode a petição ser dirigida a qualquer autoridade do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário
e a autoridade a quem é dirigida deve apreciá-la, motivadamente, mesmo que apenas para rejeitá-la, pois o
silêncio pode caracterizar o abuso de autoridade por omissão.
O direito de petição, classificado como direito de participação política, pode ser
exercido por pessoa física ou jurídica e não precisa observar forma rígida. Não se exige interesse
processual, pois a manifestação está fundada no interesse geral de cumprimento da ordem jurídica.
O direito de petição não se confunde como direito de ação, já que, por este último, busca-
se uma tutela de índole jurisdicional e não administrativa.
a.3) Assistência jurídica (art. 5.º, LXXIV)
Para se pedir em juízo, a CRFB exige que o pedido seja formulado por um advogado. Às
vezes, também é necessária a produção de provas. Para garantir que aqueles que não possuem condições
financeiras possam ter acesso ao Poder Judiciário, portanto, o Estado tomou para si o dever de fornecer a
assistência jurídica.
b) Devido Processo Legal (art. 5.º, LIV)

A prestação jurisdicional deve respeitar o devido processo legal. Quando se trata dessa
questão, observa-se um duplo acesso. Por um lado, dispõe que o Estado, sempre que for impor qualquer tipo
de restrição ao patrimônio ou à liberdade de alguém, deverá seguir a lei. Por outro lado, significa que todos
têm direito à jurisdição prestada nos termos da lei, ou seja, a prestação jurisdicional deve seguir o que está
previsto em lei. O respeito à forma é uma maneira de garantir a segurança.
b.1) Juiz natural (art. 5.º, LIII)
A decisão de um caso concreto deve ser feita pelo Juiz natural que é o Juiz ou o Tribunal
investido de poder pela lei para dizer o direito no caso concreto, ou seja, é o Juiz ou Tribunal que tem a
competência, previamente expressa, para julgar determinado caso concreto.
Discute-se, hoje, a existência ou não do princípio do Promotor Natural, que seria extraído
da locução processar prevista no inc. LIII do art. 5.º da CF.
Conforme leciona Nelson Nery Jr.(Princípios do Processo Civil na Constituição Federal.
5.ª ed. RT. p. 90): “No âmbito interno do Ministério Público, o princípio do Promotor Natural incide para
restringir os poderes do Procurador-Geral de Justiça de efetuar substituições, designações e delegações, que
devem circunscrever-se aos casos taxativamente enumerados na lei, sendo vedado ao chefe do parquet, em
qualquer hipótese, a avocação do caso afeto ao Promotor Natural”.
b.2) Vedação a Juízes e Tribunais de exceção (art. 5.º, XXXVII)
A nossa ordem jurídica não admite que sejam criados Tribunais ou designados Juízes
especialmente para decidir um caso concreto (Juízes ou Tribunais de exceção). Qualquer tipo de Tribunal de
exceção significa um atentado à imparcialidade da Justiça, comprometendo a segurança jurídica.
b.3) Contraditório e ampla defesa (art. 5.º, LV)
Deve-se respeitar o contraditório e a ampla defesa como requisitos para que o devido
processo legal seja respeitado. O contraditório é a possibilidade que deve ser assegurada, a quem sofrer uma
imputação em juízo, de contraditar essa imputação, ou seja, de apresentar a sua versão dos fatos. A ampla
defesa significa que as partes devem ter a possibilidade de produzir todas as provas que entendam
necessárias ao esclarecimento dos fatos e ao convencimento do Juiz. Excepcionam-se apenas as provas
obtidas por meio ilícito.
Há também, implicitamente, a garantia do duplo grau de jurisdição, ou seja, a pessoa
vencida e inconformada com a decisão tem o direito a uma revisão dessa decisão, que será sempre feita por
um juízo colegiado.
b.4) Isonomia
Deve haver um tratamento isonômico. A isonomia entre as partes decorre de um princípio
disposto na CRFB. Todos os órgãos públicos deverão dar tratamento isonômico para as partes (p. ex.: se o
Juiz dá o direito a uma das partes de apresentar uma outra prova, ele deverá, obrigatoriamente, dar o mesmo
direito à outra parte).
b.5) Motivação das decisões (art. 93, IX)
Toda a decisão judicial deverá ser motivada, visto que uma decisão sem motivação
desobedece ao devido processo legal e será considerada inválida.
b.6) Publicidade
O Juiz deve dar publicidade de todas as decisões que ele proferir e todos os atos serão
públicos.
c) Segurança em Matéria Penal
Quando se trata de segurança em matéria penal, a CF/88 tomou mais cuidado, tendo em
vista a competência punitiva do Estado. Essa competência punitiva tem, entretanto, limites, visto que a
aplicação da pena vai restringir a liberdade física de locomoção e que os demais direitos têm ligação estreita
com o direito à liberdade de locomoção.
A pena somente poderá ser aplicada se estiver prevista anteriormente em lei e na forma
prevista em lei, seguindo um procedimento específico também previsto em lei. A aplicação da pena, portanto,
está vinculada à disposição legal.
c.1) Princípios processuais gerais
Os princípios processuais gerais estão presentes na matéria penal, ou seja, deverão
sempre ser aplicados.
- Princípio da estrita legalidade penal
A CRFB dispõe sobre o princípio genérico da legalidade. Em determinados campos,
entretanto, a CRFB tem o cuidado de reforçá-lo, aplicando-o especificamente a cada área. Esse é, então, o
princípio da estrita legalidade.
Para que o comportamento seja punido pelo Estado, se o crime estiver descrito em lei e
se essa lei for anterior ao comportamento ilícito, somente poderá ser aplicada a pena que a lei estabelecer.
- Princípio da irretroatividade
Há um reforço nessa idéia quando se trata de matéria penal. O próprio Direito Penal,
entretanto, excepciona esse princípio, ou seja, há a possibilidade de retroatividade da lei no tempo para
beneficiar o réu.
c.2) Demais garantias em matéria penal
- princípio da incomunicabilidade da pena: a pena não pode passar da pessoa do
criminoso. A CF/88 prevê somente uma hipótese de comunicabilidade da pena, que é o caso de indenização,
quando os sucessores respondem por ela até o quinhão da herança (inc. XLV);
- garantia de que determinado tipo de pena não será aplicada: há limitação à própria
atividade do Estado. Existem penas que o legislador não poderá cominar, quais sejam: pena de morte, pena
de caráter perpétuo, pena de trabalho forçado, pena de banimento e penas cruéis. A pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, assegurando a divisão por sexo, idade e gravidade do delito;
- princípio do Juiz natural: ninguém poderá ser sentenciado nem preso senão pela
autoridade competente;
- princípio da presunção de inocência: todos são inocentes até que se prove o contrário.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença;
- somente poderá ser preso aquele que for pego em flagrante ou tiver ordem escrita
fundamentada pela autoridade judiciária competente.
- tribunal do júri: sigilo de votações e soberania dos veredictos.
c.3) Responsabilidade por desrespeito à segurança em matéria penal
- Do Estado: a CRFB estabelece a responsabilidade do Estado por erro judiciário e se a
pessoa ficar detida por tempo superior àquele estabelecido na pena. Trata da responsabilidade objetiva do
Estado nos termos do art. 37, § 6.º, da CRFB.
- Do Juiz (art. 133 do CPC e art. 630 do CPP),: o juiz poderá ser responsabilizado pelos
prejuízos que vier a causar, entretanto sua responsabilidade é subjetiva, ou seja, depende de comprovação
de dolo ou fraude de sua parte.
d) Gratuidade das ações de habeas
Todas as ações de habeas (habeas corpus e habeas data) são gratuitas.
e) Direito à razoável duração do processo
A EC 45/2004 incorporou ao art. 5º o direito à “razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação”, o que exige não só a atenção ao conhecido princípio da
celeridade, como reflete na necessidade da máxima efetividade dos pronunciamentos jurisdicionais.
f) Respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada
O direito adquirido é um dos recursos que limitam a retroatividade da lei. A lei nova não
pode retroagir como forma de ferir situações jurídicas que já tinham se consolidado no tempo.
Ato jurídico perfeito é aquele que se aperfeiçoou debaixo da lei velha, que nela reunia
todos os elementos necessários para sua formação.
Coisa julgada é a decisão judicial transitada em julgado, assim entendida como aquela da
qual já não caiba recurso.

3.3.3.6 OUTROS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS


Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito; remédios constitucionais; proibição da
tortura; direito de propriedade; direito de herança e estatuto sucessório; observância às regras de extradição;
defesa do consumidor.
3.4 PODER LEGISLATIVO DO DISTRITO FEDERAL (LODF)
CAPÍTULO II
DO PODER LEGISLATIVO
Seção I

DA CÂMARA LEGISLATIVA
Art. 54. O Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa, composta de Deputados
Distritais, representantes do povo, eleitos e investidos na forma da legislação federal.
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos, iniciando-se com a posse dos
eleitos.
Art. 55. A Câmara Legislativa do Distrito Federal tem sede em Brasília, Capital da República
Federativa do Brasil.
Parágrafo único. Poderá a Câmara Legislativa reunir-se temporariamente, em qualquer local do
Distrito Federal, por deliberação da maioria absoluta de seus membros, sempre que houver
motivo relevante e de conveniência pública ou em virtude de acontecimento que impossibilite seu
funcionamento na sede.
Art. 56. Salvo disposição em contrário da Constituição Federal e desta Lei Orgânica, as
deliberações da Câmara Legislativa e de suas comissões serão tomadas por maioria de votos,
presente a maioria absoluta de seus membros, em votação ostensiva.
Parágrafo único. Quando o sigilo for imprescindível ao interesse público, devidamente justificado,
a votação poderá ser realizada por escrutínio secreto, desde que requerida por partido político
com representação na Câmara Legislativa e aprovada, em votação ostensiva, pela maioria
absoluta dos Deputados Distritais.
Art. 57. O Poder Legislativo será representado por seu Presidente e, judicialmente, pela
Procuradoria Geral da Câmara Legislativa.
§ 1º Excetua-se do disposto neste artigo a desafetação prevista no Plano Diretor Local e a
desafetação que seja feita por lei específica, motivada esta por situação de relevante interesse
público, precedida de estudos técnicos que avaliem o impacto da alteração, aprovados pelo
órgão técnico do Distrito Federal.
I - representar a Câmara Legislativa judicialmente; *
II - promover a defesa da Câmara, requerendo a qualquer órgão, entidade ou tribunal as medidas
de interesse da Justiça, da Administração e do Erário; *
III - promover a uniformização da jurisprudência administrativa e a compilação da legislação da
Câmara Legislativa e do Distrito Federal; *
IV - prestar consultoria e assessoria jurídica à Mesa Diretora e aos demais órgãos da
estrutura adminsitrativa;
§ 2º O ingresso da carreira de Procurador da Câmara Legislativa far-se-á mediante concurso
público de provas e títulos.
§ 3º A Câmara Legislativa do Distrito Federal regulamentará a organização e o funcionamento
da sua Procuradoria-Geral e da respectiva carreira de Procurador da Câmara Legislativa.
§ 4º A Câmara Legislativa disporá, ainda, sobre o funcionamento da sua Procuradoria-Geral até
que sejam providos por concurso público os respectivos cargos daquele órgão.
Seção II
Das Atribuições da Câmara Legislativa
Art. 58. Cabe à Câmara Legislativa, com a sanção do Governador, não exigida esta para o
especificado no art. 60 desta Lei Orgânica, dispor sobre todas as matérias de competência do
Distrito Federal, especialmente sobre:
I - matéria tributária, observado o disposto nos arts. 145, 147, 150, 152, 155, 156 e 162 da
Constituição Federal;
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida
pública e empréstimos externos a qualquer título a ser contraídos pelo Distrito Federal;
III - criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, fixação dos
vencimentos ou aumento de sua remuneração;
IV - planos e programas locais de desenvolvimento econômico social;
V - educação, saúde, previdência, habitação, cultura, ensino, desporto e segurança pública;
VI - autorização para alienação dos bens imóveis do Distrito Federal ou cessão de direitos reais
a eles relativos, bem como recebimento, pelo Distrito Federal, de doações com encargo, não se
considerando como tais a simples destinação específica do bem;
VII - criação, estruturação e atribuições de Secretarias do Governo do Distrito Federal e demais
órgãos e entidades da administração direta e indireta;
VIII - uso do solo rural, observado o disposto nos arts. 184 a 191 da Constituição Federal;
IX - planejamento e controle do uso, parcelamento, ocupação do solo e mudança de destinação
de áreas urbanas, observado o disposto nos arts. 182 e 183 da Constituição Federal.
X - criação, incorporação, fusão e desmembramento de Regiões Administrativas;
XI - concessão ou permissão para a exploração de serviços públicos, incluído o de transporte
coletivo;
XII - o servidor público, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
XIII - criação, transformação, fusão e extinção de entidades públicas do Distrito Federal, bem
como normas gerais sobre privatização das entidades de direito privado integrantes da
administração indireta;
XIV - prestação de garantia, pelo Distrito Federal, em operação de crédito contratada por suas
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista;
XV - aquisição, administração, alienação, arrendamento e cessão de bens imóveis do Distrito
Federal;
XVI - transferência temporária da sede do Governo;
XVII - proteção e integração de pessoas portadoras de deficiência;
XVIII - proteção a infância, juventude e idosos;
XIX - organização do sistema local de emprego, em consonância com o sistema nacional.
Art. 59. Compete à Câmara Legislativa autorizar, nos limites estabelecidos pelo Senado Federal,
a celebração de operações de crédito, a realização de operações externas de natureza
financeira, bem como a concessão de qualquer garantia pelo Distrito Federal ou por suas
autarquias.
Art. 60. Compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito Federal:
I - eleger os membros da Mesa Diretora e constituir suas comissões;
II - dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos;
III - estabelecer e mudar temporariamente sua sede, o local de suas reuniões, bem como o de
suas comissões permanentes;
IV - zelar pela preservação de sua competência legislativa;
V - criar, transformar ou extinguir cargos de seus serviços, bem como provê-los e fixar ou
modificar as respectivas remunerações;
VI - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar,
configurando crime de responsabilidade sua reedição;
VII - fixar, para cada exercício financeiro, a remuneração do Governador, Vice-Governador,
Secretários de Governo do Distrito Federal e Administradores Regionais, observados os
princípios da Constituição Federal.
VIII - fixar a remuneração dos Deputados Distritais, em cada legislatura para a subseqüente;
IX - solicitar intervenção federal para garantir o livre exercício de suas atribuições, nos termos
dos arts. 34, IV e 36, I da Constituição Federal;
X - promover, periodicamente, a consolidação dos textos legislativos com a finalidade de tornar
sua consulta acessível aos cidadãos;
XI - dar posse ao Governador e Vice-Governador e conhecer da renúncia de qualquer deles;
declarar vacância e promover as respectivas substituições ou sucessões, nos termos desta Lei
Orgânica;
XII - autorizar o Governador e o Vice-Governador a se ausentarem do Distrito Federal por mais
de quinze dias;
XIII - proceder à tomada de contas do Governador, quando não apresentadas nos prazos
estabelecidos;
XIV - convocar Secretários de Governo, dirigentes e servidores da administração direta e indireta
do Distrito Federal a prestar pessoalmente informações sobre assuntos previamente
determinados, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificativa adequada ou
o não atendimento no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas, nos
termos da legislação pertinente;
XV - julgar anualmente as contas prestadas pelo Governador e apreciar os relatórios sobre a
execução dos planos do governo;
XVI - fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
XVII - escolher cinco entre os sete membros do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
XVIII – aprovar previamente, em votação ostensiva, após argüição em seção pública, a escolha
dos titulares do cargo de conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal indicados pelo
Governador;
XIX - suspender, no todo ou em parte, a execução de lei ou ato normativo declarado ilegal ou
inconstitucional tanto pelo Supremo Tribunal Federal quanto pelo Tribunal de Justiça do Distrito
Federal nas suas respectivas áreas de competência, em sentenças transitadas em julgado;
XX - aprovar previamente a indicação ou destituição do Procurador-Geral do Distrito Federal;
XXI – convocar o Procurador-Geral do Distrito Federal e o Defensor Público-Geral do Distrito
Federal a prestar informações sobre assuntos previamente determinados, no prazo de trinta dias,
sujeitando-se estes às penas da lei por ausência injustificada;
XXII - declarar a perda do mandato do Governador e do Vice-Governador;
XXIII - autorizar, por dois terços dos seus membros, a instauração de processo contra o
Governador, o Vice-Governador e os Secretários de Governo;
XXIV - processar e julgar o Governador nos crimes de responsabilidade, bem como adotar as
providências pertinentes, nos termos da legislação federal, quanto ao Vice-Governador e
Secretários de Governo, nos crimes da mesma natureza ou conexos com aqueles;
XXV - processar e julgar o Procurador-Geral nos crimes de responsabilidade;
XXVI - autorizar ou aprovar convênios, acordos ou contratos de que resultem, para o Distrito
Federal, encargos não previstos na lei orçamentária;
XXVII – aprovar previamente, em votação ostensiva, após argüição pública, a escolha dos
membros do conselho de Governo indicados pelo Governador;
XXVIII - aprovar previamente a alienação de terras públicas com área superior a vinte e cinco
hectares e, no caso de concessão de uso, com área superior a cinqüenta hectares;
XXIX - apreciar e julgar, anualmente, as contas do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
XXX - receber renúncia de Deputado Distrital e declarar a vacância do cargo;
XXXI - declarar a perda de mandato de Deputado Distrital, como prevê o art. 63, § 2º;
XXXII - solicitar ao Governador informação sobre atos de sua competência;
XXXIII - encaminhar, por intermédio da Mesa Diretora, requerimento de informação aos
Secretários de Governo, implicando crime de responsabilidade, nos termos da legislação
pertinente, a recusa ou o não atendimento no prazo de trinta dias, bem como o fornecimento de
informação falsa;
XXXIV - apreciar vetos, observado, no que couber, o disposto nos arts. 66 e 67 da Constituição
Federal;
XXXV - aprovar previamente a indicação de presidente de instituição financeiras oficiais do
Distrito Federal;
XXXVI - conceder licença para processar Deputado Distrital;
XXXVII - emendar a Lei Orgânica, promulgar leis, nos casos de silêncio do Governador, expedir
decretos legislativos e resoluções;
XXXVIII - regulamentar as formas de participação popular previstas nesta Lei Orgânica;
XXXIX - indicar membros do Conselho de Governo, nos termos do art. 108, V;
XL - conceder título de cidadão benemérito ou honorário, nos termos do regimento interno;
XLI - autorizar referendo e convocar plebiscito.
§ 1º Em sua função fiscalizadora, a Câmara Legislativa observará, no que couber, o disposto
nos arts. 70 a 75 da Constituição Federal.
§ 2º No caso do inciso XI, a Mesa Diretora da Câmara Legislativa enviará denúncia, em cinco
dias, à Comissão Especial composta em conformidade com o art. 68, garantida a
proporcionalidade partidária; a qual emitirá parecer, no prazo de quinze dias, submetendo-o
imediatamente ao Plenário.
§ 3º A remuneração dos Deputados Distritais obedecerá ao limite estabelecido pela Constituição
Federal.
§ 4º Sem prejuízo do disposto no inciso XIV do caput, os Secretários de Estado e dirigentes da
administração pública direta e indireta do Distrito Federal comparecerão perante a Câmara
Legislativa ou suas comissões para expor assuntos de interesse de sua área de atribuição:
I – por iniciativa própria, até o término de cada sessão legislativa, mediante entendimento com a
Mesa Diretora ou a presidência de Comissão;
II – finda a gestão à frente da pasta.
Seção III
Dos Deputados Distritais
Art. 61. Os Deputados Distritais são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
§ 1º Os Deputados Distritais, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento
perante o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros da Câmara Legislativa não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável.
§ 3º No caso de flagrante de crime inafiançável os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
horas à Câmara Legislativa, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão.
§ 4º Recebida a denúncia contra o Deputado Distrital por crime ocorrido após a diplomação, o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios dará ciência à Câmara Legislativa, que, por
iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá,
até a decisão final, sustar o andamento da ação.
§ 5º O pedido de sustação será apreciado pela Câmara Legislativa no prazo improrrogável de
quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
§ 6º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
§ 7º Os Deputados Distritais não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas
ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou
deles receberam informações.
§ 8º A incorporação de Deputados Distritais às Forças Armadas, embora militares e ainda que
em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Câmara Legislativa.
§ 9º As imunidades dos Deputados Distritais subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Câmara Legislativa, nos casos
de atos praticados fora do recinto da Casa que sejam incompatíveis com a execução da medida.
§ 10. Poderá o Deputado Distrital, mediante licença da Câmara Legislativa, desempenhar
missões de caráter diplomático e cultural.
Art. 62. Os Deputados Distritais não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o
contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis ad nutum nas entidades constantes da alínea anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de
contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso
I, a;
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I,
a;
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.
Art. 63. Perderá o mandato o Deputado Distrital:
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias,
salvo licença ou missão autorizada pela Câmara Legislativa;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na Constituição Federal;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado;
VII - que utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou improbidade
administrativa.
§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno,
o abuso das prerrogativas asseguradas ao Deputado Distrital ou a percepção de vantagens
indevidas.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida por maioria absoluta dos
membros da Câmara Legislativa, em votação ostensiva, mediante provocação da Mesa Diretora
ou de partido político representado na Casa, assegurada ampla defesa.
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda declarada pela Mesa Diretora, de ofício ou
mediante provocação de qualquer dos membros da Câmara Legislativa ou de partido político
nela representado, assegurada ampla defesa.
§ 4º A renúncia de Deputado Distrital submetido a processo que vise ou possa levar à perda do
mandato, nos termos deste artigo, terá seu efeitos suspensos até as deliberações finais de que
tratam os §§ 2º e 3º.
Art. 64. Não perderá o mandato o Deputado Distrital:
I - investido na função de Ministro de Estado, Secretário-Executivo de Ministério ou equivalente,
Secretário de Estado, Administrador Regional, Chefe de Missão Diplomática Temporária ou
dirigente máximo de Autarquia, Fundação Pública, Agência, Empresa Pública ou Sociedade de
Economia Mista pertencentes à Administração Pública Federal e Distrital;
II - licenciado pela Câmara Legislativa por motivo de doença ou para tratar, sem remuneração,
de interesse particular desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias
por sessão legislativa.
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura nas funções previstas neste
artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la, se faltarem mais
de quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado Distrital poderá optar pela remuneração de seu mandato.
SEÇÃO IV
DO FUNCIONAMENTO DA CÂMARA LEGISLATIVA
SUBSEÇÃO I
DAS REUNIÕES
Art. 65. A Câmara Legislativa reunir-se-á, anualmente, em sua sede, de 1º de fevereiro a 30 de
junho e de 1º de agosto a 15 de dezembro.
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas para o primeiro dia útil
subseqüente, quando recaírem em sábados, domingos ou feriados.
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes
orçamentárias, nem encerrada sem a aprovação do projeto de lei do orçamento.
Art. 66. A Câmara Legislativa, em cada legislatura, reunir-se-á em sessões preparatórias no dia
1º de janeiro, observado o seguinte:
I - na primeira sessão legislativa, para a posse dos Deputados Distritais, eleição e posse dos
membros da Mesa Diretora;
II - na terceira sessão legislativa, para a posse dos membros da Mesa Diretora eleitos no último
dia útil da primeira quinzena de dezembro da sessão legislativa anterior, vedada a recondução
para o mesmo cargo.
Parágrafo único. Na composição da Mesa Diretora é assegurada, tanto quanto possível, a
proporcionalidade da representação partidária ou de blocos parlamentares com participação na
Câmara Legislativa.
Art. 67. A convocação extraordinária da Câmara Legislativa far-se-á:
I - pelo Presidente, nos casos de:
a) decretação de estado de sítio ou estado de defesa que atinja o território do Distrito Federal;
b) intervenção no Distrito Federal;
c) recebimento dos autos de prisão de Deputado Distrital, na hipótese de flagrante de crime
inafiançável;
d) posse do Governador e Vice-Governador;
II - pela Mesa Diretora ou a requerimento de um terço dos Deputados que compõem a Câmara
Legislativa, para apreciação de ato do Governador do Distrito Federal que importe crime de
responsabilidade;
III - pelo Governador do Distrito Federal, pelo Presidente da Câmara Legislativa ou a
requerimento da maioria dos seus membros, em caso de urgência ou interesse público relevante;
IV - pela comissão representativa prevista no art. 68, § 5º, nas hipóteses estabelecidas nesta Lei
Orgânica.
Parágrafo único. Na sessão legislativa extraordinária, a Câmara Legislativa somente deliberará
sobre a matéria para a qual tiver sido convocada.
SUBSEÇÃO II
DAS COMISSÕES
Art. 68. A Câmara Legislativa terá comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma
e com as atribuições previstas no seu regimento interno ou no ato legislativo de que resultar sua
criação.
§ 1º Na composição de cada comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares com participação na Câmara Legislativa.
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
I - apreciar e emitir parecer sobre proposições, na forma do regimento interno da Câmara
Legislativa;
II - realizar audiências públicas com entidades representativas da sociedade civil;
III - convocar Secretários de Governo, dirigentes e servidores da administração pública direta e
indireta do Distrito Federal e o Procurador-Geral a prestar informações sobre assuntos inerentes
a suas atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas contra atos ou omissões das
autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles
emitir parecer;
VII - fiscalizar os atos que envolvam gastos de órgãos e entidades da administração pública.
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos no regimento interno, serão criadas mediante
requerimento de um terço dos membros da Câmara Legislativa, para apuração de fato
determinado e por prazo certo; sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao
Ministério Público e á Procuradoria-Geral do Distrito Federal, para que promovam a
responsabilidade civil, criminal, administrativa ou tributária do infrator.
§ 4º A omissão de informação às comissões parlamentares de inquérito, inclusive as que
envolvam sigilo, ou a prestação de informações falsas constituem crime de responsabilidade, na
forma da legislação pertinente.
§ 5º Durante o recesso, haverá uma comissão representativa da Câmara Legislativa, com
atribuições definidas no regimento interno, cuja composição reproduzirá, tanto quanto possível,
a proporcionalidade de representação partidária, eleita na última sessão ordinária de casa
sessão legislativa.
SEÇÃO V
DO PROCESSO LEGISLATIVO
Art. 69. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Lei Orgânica;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - decretos legislativos;
V - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre elaboração, redação, alteração e consolidação
das leis do Distrito Federal.
SUBSEÇÃO I
DAS EMENDAS À LEI ORGÂNICA
Art. 70. A Lei Orgânica poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara Legislativa;
II - do Governador do Distrito Federal;
III - de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada, no mínimo, por um por cento dos eleitores
do Distrito Federal distribuídos em, pelo menos, três zonas eleitorais, com não menos de três
décimos por cento do eleitorado de cada uma delas.
§ 1º A proposta será discutida e votada em dois turnos, com interstício mínimo de dez dias, e
considerada aprovada se obtiver em ambos, o voto favorável de dois terços dos membros da
Câmara Legislativa.
§ 2º A emenda à Lei Orgânica será promulgada pela Mesa Diretora da Câmara Legislativa, com
o respectivo número de ordem.
§ 3º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda que ferir princípios da Constituição
Federal.
§ 4º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode
ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
§ 5º A Lei Orgânica não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de
defesa ou estado de sítio.
SUBSEÇÃO II
DAS LEIS
Art. 71. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão
da Câmara Legislativa, ao Governador do Distrito Federal e, nos termos do art. 84, IV, ao Tribunal
de Contas do Distrito Federal, assim como aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Lei Orgânica.
§ 1º Compete privativamente ao Governador do Distrito Federal a iniciativa das leis que
disponham sobre:
I - criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta, autárquica
e fundacional, ou aumento de sua remuneração;
II - servidores públicos do Distrito Federal, seu regime jurídico, provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria;
III - organização da Procuradoria-Geral do Distrito Federal;
IV - criação, estruturação, reestruturação, desmembramento, extinção, incorporação, fusão e
atribuições das Secretarias de Governo, Órgãos e entidades da administração pública;
V - plano plurianual, orçamento anual e diretrizes orçamentárias.
§ 2º Não será objeto de deliberação proposta que vise a conceder gratuidade ou subsídio em
serviço público prestado de forma indireta, sem a correspondente indicação da fonte de custeio.
Art. 72. Não será admitido aumento da despesa prevista:
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Governador do Distrito Federal, ressalvado o disposto
no art. 166, §§ 3º e 4º da Constituição Federal;
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara Legislativa.
Art. 73. O Governador do Distrito Federal pode solicitar urgência para apreciação de projetos de
sua iniciativa.
§ 1º Se, na hipótese prevista no caput, a Câmara Legislativa não se manifestar sobre a
proposição em até quarenta e cinco dias, esta deverá ser incluída na Ordem do Dia, sobrestando-
se a deliberação quanto aos demais assuntos, para que se ultime a votação.
§ 2º Os prazos de que trata o parágrafo anterior não ocorrem nos períodos de recesso da Câmara
Legislativa, nem se aplicam a projetos de código e de emendas a esta Lei Orgânica.
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que,
aquiescendo, o sancionará e promulgará.
§ 1º Se o Governador do Distrito Federal considerar o projeto de lei, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, e comunicará,
dentro de quarenta e oito horas, os motivos do veto ao Presidente da Câmara Legislativa.
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Governador importará sanção.
§ 4º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado ao Governador para promulgação.
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal,
o veto será incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições
até a sua votação final, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados,
em votação ostensiva.
§ 6º Se a lei não for promulgada em quarenta e oito horas pelo Governador nos casos dos §§ 3º
e 4º, o Presidente da Câmara Legislativa a promulgará e, se este não o fizer em igual prazo,
caberá ao Vice-Presidente fazê-lo.
§ 7º A matéria constante de projeto lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto,
na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara
Legislativa.
§ 8º Caso o projeto de lei seja vetado durante o recesso da Câmara Legislativa, o Governador
comunicará o veto à comissão a que se refere o art. 68, § 5º e, dependendo da urgência e da
relevância da matéria, poderá convocar a Câmara Legislativa para sobre ele se manifestar, nos
termos do art. 67, IV.
Art. 75. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta dos Deputados da Câmara
Legislativa e receberão numeração distinta das leis ordinárias.
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, constituirão leis complementares, entre outras:
I - a lei de organização do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
II - o estatuto dos servidores públicos civis;
III - a lei de organização da Procuradoria-Geral do Distrito Federal;
IV - a lei do sistema tributário do Distrito Federal;
V - a lei que dispõe sobre as atribuições do Vice-Governador do Distrito Federal;
VI - a lei que dispõe sobre a organização do sistema de educação do Distrito Federal;
VII - a lei de organização da previdência dos servidores públicos do Distrito Federal;
VIII - a lei que dispõe sobre o plano diretor de ordenamento territorial do Distrito Federal.
IX - a lei que dispõe sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo;
X - a lei que dispõe sobre o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília;
XI - a lei que dispõe sobre o Plano de Desenvolvimento Local.
XII – a lei de organização e funcionamento da Defensoria Pública do Distrito Federal.

SUBSEÇÃO III
DA INICIATIVA POPULAR
Art. 76. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara Legislativa de
emenda à Lei Orgânica, na forma do art. 70, III, ou de projeto de lei devidamente articulado,
justificado e subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado do Distrito Federal, distribuído
por três zonas eleitorais, assegurada a defesa do projeto por representantes dos respectivos
autores perante as comissões nas quais tramitar.
SEÇÃO VI
DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL E FINANCEIRA
SUBSEÇÃO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 77. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Distrito
Federal e das entidades da administração direta, indireta e das fundações instituídas ou mantidas
pelo Poder Público, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de subvenções
e renúncia de receitas, será exercida pela Câmara Legislativa, mediante controle externo, e pelo
sistema de controle interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou entidade pública que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais o
Distrito Federal responda, ou quem, em nome deste, assuma obrigações de natureza pecuniária.
Art. 78. O controle externo, a cargo da Câmara Legislativa, será exercido com auxílio do Tribunal
de Contas do Distrito Federal, ao qual compete:
I - apreciar as contas anuais do Governador, fazer sobre elas relatórios analítico e emitir parecer
prévio no prazo de sessenta dias, contados do seu recebimento da Câmara Legislativa.
II - julgas as contas:
a) dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores da administração
direta e indireta ou que estejam sob sua responsabilidade, incluídos os das fundações e
sociedades instituídas ou mantidas pelo Poder Público do Distrito Federal, bem como daqueles
que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário;
b) dos dirigentes ou liquidantes de empresas incorporadas, extintas, liquidadas ou sob
intervenção ou que, de qualquer modo, venham a integrar, provisória ou definitivamente, o
patrimônio do Distrito Federal ou de outra entidade da administração indireta.
c) daqueles que assumam obrigações de natureza pecuniária em nome do Distrito Federal ou de
entidade da administração indireta;
d) dos dirigentes de entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam
contribuições, subvenções, auxílios e afins, até o limite do patrimônio transferido.
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que
não alterem o fundamento legal do ato concessório;
IV - avaliar a execução das metas previstas no plano plurianual, nas diretrizes orçamentárias e
no orçamento anual;
V - realizar, por iniciativa própria, da Câmara Legislativa ou de alguma de suas comissões
técnicas ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Executivo e Legislativo do
Distrito Federal:
a) da estimativa, lançamento, arrecadação, recolhimento, parcelamento e renúncia de receitas;
b) dos incentivos, transações, remissões e anistias fiscais, isenções, subsídios, benefícios e
afins, de natureza financeira, tributária, creditícia e outras concedidas pelo Distrito Federal;
c) das despesas de investimento e custeio, inclusive á conta de fundo especial, de natureza
contábil ou financeira;
d) das concessões, cessões, doações, permissões e contratos de qualquer natureza, a título
oneroso ou gratuito, e das subvenções sociais ou econômicas, dos auxílios, contribuições e
doações.
e) de outros atos e procedimentos de que resultem variações patrimoniais;
VI - fiscalizar as aplicações do Poder Público em empresas de cujo capital social o Distrito
Federal participe de forma direta ou indireta, nos termos do respectivo ato constitutivo;
VII - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados ao Distrito Federal ou pelo Distrito
Federal, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres;
VIII - prestar as informações solicitadas pela Câmara Legislativa ou por qualquer de suas
comissões técnicas ou de inquérito sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
IX - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas,
as sanções previstas em lei, a qual estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional
ao dado causado ao erário;
X - assinar prazo que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, verificada a ilegalidade;
XI - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara
Legislativa;
XII - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados;
XIV - apreciar e apurar denúncias sobre irregularidades e ilegalidades dos atos sujeitos a seu
controle.
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pela Câmara Legislativa,
que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º Se a Câmara Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as
medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá da questão.
§ 3º O Tribunal encaminhará à Câmara Legislativa, trimestral e anualmente, relatório
circunstanciado e demonstrativo das atividades internas e de controle externo realizadas.
§ 4º Nos casos de irregularidade ou ilegalidade constatados, sem imputação de débito, em que
o Tribunal de Contas do Distrito Federal decidir não aplicar o disposto no inciso IX deste artigo,
deverão os respectivos votos ser publicados juntamente com a ata da sessão em que se der o
julgamento.
§ 5º As decisões do Tribunal de Contas do Distrito Federal de que resultem imputação de débitos
ou multa terá eficácia de título executivo.
Art. 79. A Câmara Legislativa ou a comissão competente, diante de indícios de despesas não
autorizadas, ainda que sob forma de investimentos não programados ou de incentivos, isenções,
anistias, remissões, subsídios ou benefícios de natureza financeira, tributária ou creditícia não
aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco dias,
preste esclarecimentos necessários.
§ 1º Não prestados os esclarecimentos ou considerados estes insuficientes, a Câmara Legislativa
ou a comissão competente solicitará ao Tribunal de Contas pronunciamento conclusivo sobre a
matéria, no prazo de trinta dias.
§ 2º Entendendo o Tribunal de Contas irregular a despesa, a comissão competente, se julgar que
o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá à Câmara
Legislativa sua sustação, se ainda não realizado, ou seu reembolso devidamente atualizado
monetariamente, consoante regras vigentes, se já efetuado.
§ 3º O Tribunal de Contas do Distrito Federal agirá de ofício ou mediante iniciativa da Câmara
Legislativa, do Ministério Público ou das autoridades financeiras e orçamentárias do Distrito
Federal ou dos demais órgãos auxiliares, sempre que houver indício de irregularidade em
qualquer despesa, inclusive naquela decorrente de contrato.
Art. 80. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma integrada, sistema de controle
interno com a finalidade de:
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de
governo e dos orçamentos do Distrito Federal;
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto à eficácia e eficiência da gestão
orçamentária, financeira, contábil e patrimonial nos órgãos e entidades da administração do
Distrito Federal, e quanto à da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
III - exercer o controle sobre o deferimento de vantagens e a forma de calcular qualquer parcela
integrante da remuneração, vencimento ou salário de seus membros ou servidores;
IV - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como os dos direitos e
haveres do Distrito Federal;
V - avaliar a relação de custo e benefício das renúncias de receitas e dos incentivos, remissões,
parcelamentos de dívidas, anistias, isenções, subsídios, benefícios e afins de natureza
financeira, tributária, creditícia e outros.
VI - apoiar o controle externo, no exercício de sua missão institucional.
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade, ilegalidade ou ofensa aos princípios do art. 37 da Constituição Federal, dela darão
ciência ao Tribunal de Contas do Distrito Federal, sob pena de responsabilidade solidária.
§ 2º As contas públicas do Distrito Federal ficarão, durante sessenta dias, anualmente, em local
próprio da Câmara Legislativa à disposição de qualquer contribuinte para exame e apreciação.
§ 3º Qualquer cidadão, partido político, associação ou entidade sindical é parte legítima para, na
forma da lei, denunciar irregularidades ao Tribunal de Contas ou à Câmara Legislativa.
§ 4º A prestação de contas anual do Governador e as tomadas ou prestações de contas anuais
dos administradores dos órgãos e entidades do Distrito Federal deverão ser acompanhadas de
relatório circunstanciado do órgão de controle interno sobre o resultado das atividades indicadas
neste artigo.
Art. 81. O Tribunal de Contas do Distrito Federal prestará contas anualmente de sua execução
orçamentária, financeira e patrimonial à Câmara Legislativa até sessenta dias da data da
abertura da sessão do ano seguinte àquele a que se referir o exercício financeiro quanto aos
aspectos de legalidade, legitimidade e economicidade, observados os demais preceitos legais.
SUBSEÇÃO II
DO TRIBUNAL DE CONTAS
Art. 82. O Tribunal de Contas do Distrito Federal, integrado por sete Conselheiros, tem sede na
cidade de Brasília, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território do Distrito Federal,
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96 da Constituição Federal.
§ 1º Os Conselheiros do Tribunal serão nomeados entre brasileiros que satisfaçam os seguintes
requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;
II - idoneidade moral e reputação ilibada;
III - notáveis conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração
pública;
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no item anterior.
§ 2º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal serão escolhidos:
I – três pelo Governador do Distrito Federal, com a aprovação da Câmara Legislativa, sendo um
de livre escolha, e dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto
ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e
merecimento;
II – quatro pela Câmara Legislativa.
§ 3º Caberá à Câmara Legislativa indicar Conselheiros para a primeira, segunda, quarta e sétima
vagas, e ao Poder Executivo para a terceira e quinta vagas.
§ 4º Os Conselheiros do Tribunal de Contas terão as mesmas garantias, prerrogativas,
impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, na forma da Constituição Federal, e somente poderão aposentar-
se com as vantagens do cargo quanto o tiverem exercido, efetivamente, por mais de cinco anos.
§ 5º Os Conselheiros, nas suas faltas e impedimentos, serão substituídos por Auditores, na forma
da lei.
§ 6º O Auditor, quando em substituição a Conselheiro, terá as mesmas garantias, prerrogativas
e impedimentos do titular e, no exercício das demais atribuições da judicatura, as de Juiz de
Direito da Justiça do Distrito Federal e Territórios.
§ 7º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal farão declaração pública de bens,
no ato da posse e no término do exercício do cargo.
§ 8º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal, nos casos de crime comum e
nos de responsabilidade, serão processados e julgados, originariamente, pelo Superior Tribunal
de Justiça.
§ 9° É proibida a nomeação para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito
Federal de pessoa que tenha praticado ato tipificado como causa de inelegibilidade prevista na
legislação eleitoral.
Art. 83. Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal ainda que em disponibilidade,
não poderão exercer outra função pública, nem qualquer profissão remunerada, salvo uma de
magistério, nem receber, a qualquer título ou pretexto, participação nos processos, bem como
dedicar-se à atividade político-partidária, sob pena de perda do cargo.
Art. 84. É da competência exclusiva do Tribunal de Contas do Distrito Federal:
I - elaborar, aprovar e alterar seu regimento interno;
II - organizar seus serviços auxiliares e prover os respectivos cargos, ocupados aqueles em
comissão preferencialmente por servidores de carreira do próprio tribunal, nos casos e condições
que deverão ser previstos em sua lei de organização;
III - conceder licença, férias e outros afastamentos a Conselheiros e Auditores;
IV - propor à Câmara Legislativa a criação, transformação e extinção de cargos e afixação dos
respectivos vencimentos;
V - elaborar sua proposta orçamentária, observados os princípios estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias.
Art. 85. Funcionará junto ao Tribunal de Contas o Ministério Público, regido pelos princípios
institucionais de unidade, indivisibilidade e independência funcional, com as atribuições de
guarda da lei e fiscal de sua execução.
Parágrafo único. A proibição de que trata o art. 82, § 9°, aplica-se à nomeação do Procurador-
Geral do Ministério Público de Contas do Distrito Federal.
Art. 86. Lei complementar do Distrito Federal disporá sobre a organização e funcionamento do
Tribunal de Contas, podendo dividi-lo em câmaras e criar delegações ou órgãos destinados a
auxiliá-lo no exercício de suas funções e na descentralização dos seus trabalhos.

3.5 PODER LEGISLATIVO FEDERAL

1. Funções
As funções típicas do Poder Legislativo são legislar (desde a Emenda Constitucional até
as leis ordinárias) e fiscalizar (exercer o controle político do Poder Executivo e realizar a fiscalização
orçamentária de todos os que lidam com verbas públicas), sendo que ambas tem o mesmo grau de
importância.
As funções atípicas constituem-se em administrar (ex. quando o Legislativo dispõe
sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de cargos, promoções de seus servidores) e
julgar (ex. processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade).
NOTA: De uma maneira clássica, pode-se dizer que o Legislativo faz a lei; o Executivo
aplica a lei na Administração; e o Judiciário a aplica na solução de conflitos. O centro do Poder era o Poder
Legislativo. Entretanto, no século XX o estado liberal é substituído pelo estado do bem estar social e o centro
do poder migra para o Poder Executivo, que é quem presta as atividades necessárias à sociedade. È o
Executivo quem dita a pauta do Legislativo e os projetos de lei são do interesse do Executivo. Na verdade, a
própria função de legislar migra para o Executivo (ex. MP, poder normativo das Agências Reguladoras, Dec.-
Lei).

2. Congresso Nacional
O Poder Legislativo Federal é BICAMERAL, por conta do estado federativo (art. 44, da
CF). É exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados (representantes do
povo) e do Senado Federal (representantes dos Estados e do DF), diferentemente dos estaduais, distritais e
municipais, onde é consagrado o unicameralismo (arts. 27, 29 e 32, da CF).
O CN reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de
1° de agosto a 22 de dezembro. Cada legislatura terá duração de 4 anos, compreendendo 4 sessões
legislativas3 ou 8 períodos legislativos. Fora desse período, temos o recesso parlamentar. Atentar que com
a EC 50/2006 houve a redução desse recesso (de 90 para 55 dias). 4
Não confundir legislatura (período de 4 anos) com mandato; um Senador é eleito
para 2 legislaturas (8 anos).
O mandato dos deputados é de 4 anos (uma legislatura), o dos senadores, 8 anos,
havendo sua renovação a cada 4 anos, na proporção intercalada de 1/3 e 2/3.
O número de deputados federais deve ser proporcional à população de cada Estado-
membro. O número total de Deputados será estabelecido por lei complementar, com ajustes no ano anterior
às eleições, sendo que nenhum Estado-membro pode ter menos de 8 nem mais de 70 deputados federais.
Os senadores representam os Estados e o Distrito Federal; são em número de 3 por
unidade da Federação, com 2 suplentes, e mandato de 8 anos (princípio majoritário).

3. As Deliberações

3
Art. 57, § 2°, da CF – A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
4
Acrescentado pela revisora.
Para que a sessão de votação seja instalada, para que seja tomada qualquer decisão, é
necessária a presença da maioria dos membros da Casa ou de suas Comissões (quórum de maioria absoluta
para a instalação). Assim, por ex., se fosse 500, teriam que estar presentes 251.
Salvo disposição constitucional em sentido contrário, as deliberações de cada uma das
Casas e de suas Comissões são tomadas por maioria de votos (quórum de aprovação), presente a maioria
absoluta de seus membros (artigo 47 da Constituição Federal). É a denominada maioria simples, ou
maioria relativa, porque não se relaciona com o total (ex. se estiverem presentes 300, é aprovada com 151
votos).
As abstenções dos presentes só validam o quórum de instalação.
► O quórum pode ser de maioria:
1. absoluta;
2. simples (relativa);
3. 3/5: para as emendas e tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
para serem equivalentes a emendas (60%);
4. 2/3: Lei Orgânica Municipal e impeachment – art. 29 - (66,66%).
NOTA: o maior quórum NÃO é das emendas, é da Lei Orgânica Municipal. O
impeachment não é processo legislativo, é julgamento.
Em regra, as deliberações legislativas do Congresso Nacional são submetidas à sanção
do Presidente da República.
Algumas matérias, porém, não exigem a sanção do Presidente, pois são de competência
exclusiva do Congresso, da Câmara ou do Senado (artigos 49, 51 e 52 da Constituição Federal). Nesses
casos não tem sanção porque é só competência decisória e não lei, por isso são exercidas por meio de
Resoluções. Podem ser políticas, interna corporis, de julgar.

OBS. O Presidente da República NÃO sanciona nem veta a Emenda Constitucional. Quem
promulga são as Mesas do Senado e da Câmara.
As mesas diretoras são escolhidas nas sessões preparatórias de 1.º de fevereiro, com
mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente.
Essa vedação à recondução não é norma de reprodução obrigatória nas Constituições
Estaduais (STF).
O Congresso Nacional é presidido pelo presidente do Senado Federal e pode ser
convocado extraordinariamente, em casos de urgência ou relevante interesse público, ocasião em que só
deliberará sobre a matéria que deu causa à convocação.
O Presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, ou a maioria dos
membros de ambas as Casas podem convocar extraordinariamente o Congresso em caso de urgência ou de
interesse público relevante. Sessão essa em que somente se deliberará sobre a matéria para a qual foi
convocado e sobre MPs que estiverem em vigor na data da convocação, vedado o pagamento de qualquer
parcela indenizatória (art.57,§7º, CF). Sobre a questão dessa verba, extinta pela EC 50/2006, Pedro Lenza
esclarece:
“Mas atenção: nos termos do artigo 3º do Decreto Legislativo n.7/95, continua devida ao
parlamentar, no início e no final previstos para a sessão legislativa ordinária, ajuda de
custo equivalente ao valor da remuneração, ficando vedado o seu pagamento, contudo,
na sessão legislativa extraordinária.
A ajuda de custo destina-se, nos termos do revogado §1º do art.3º do Decreto Legislativo
nº7/95, à compensação de despesas com transporte e outras imprescindíveis para o
comparecimento à sessão legislativa.”5
- Art. 51, I, CF: o CN entende que o impeachment não é processo criminal, mas sim
político. É uma decisão política.
- Nos casos de julgamentos previstos nos incisos I e II do art. 52 da CF, funcionará como
presidente o do STF, a condenação só será proferida por 2/3 dos votos do Senado Federal, sendo que não

5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 11ª ed. Método : São Paulo, 2007, p.343. observações inseridas pela revisora.
há prisão temporária, cautelar etc., porque não há previsão de pena de prisão, mas sim, inabilitação por
8 anos para o exercício de cargo e função pública, perde o cargo.
4. As Comissões
Além dos plenários, o Legislativo (Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado
Federal, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) atua por meio de comissões – grupos menores
de parlamentares que deliberam, de forma transitória ou temporária (ex. Comissão Parlamentar de Inquérito)
ou permanente (ex. Comissão de Constituição e Justiça e a Comissão de Cidadania do Senado), sobre
determinados assuntos.
Outra divisão possível é a seguinte: comissões temáticas ou em razão da matéria (ex:
comissão da saúde, do orçamento, do transporte...); comissão especial ou temporária (extingue-se com o
fim da legislatura ou com o término de sua finalidade); comissões parlamentares de inquérito; comissões
mistas (examinadas em sessão conjunta do CN. ex: comissão mista e permanente do orçamento) e
comissões representativas (constitui-se apenas no período de recesso parlamentar). 6
Na formação das comissões, deve ser observada a representação proporcional dos
partidos.
A Constituição admite que à comissão seja delegada a deliberação (votação) sobre projeto
de lei que dispensar, na forma do Regimento Interno, a competência do plenário. É a chamada delegação
interna corporis (artigo 58, § 2.º, inciso I, da Constituição Federal), impugnável antes da votação por recurso
de 1/10 dos membros da Casa e que não pode ser utilizada para aprovação de Projeto de Emenda
Constitucional ou de Lei Complementar.
4.1. As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)
Requisitos:
1- requerimento de pelo menos 1/3 da Casa;
2- objeto determinado: mas pode apurar fatos novos e fatos conexos. Fato
exclusivamente privado não pode, nem exclusivamente local ou regional; só se tiver algum
interesse geral; tem que respeitar o pacto federativo, não pode querer investigar um Estado, DF
ou Município.
3- prazo certo de duração: geralmente 6 meses, pode ser prorrogada até que se termine
a legislatura, não pode passar para a próxima.
As CPIs têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros
previstos nos regimentos das respectivas casas. Mas, as CPIs não têm poderes de autoridade judicial.
A CPI não pode decretar a indisponibilidade de bens, porque não é poderes de
investigação, mas sim, poder geral de cautela; a CPI só tem poderes de investigação, e mesmo assim, nem
todos, aqueles considerados reserva de jurisdição a CPI não tem, então quando a CF disser que só o juiz
pode fazer ninguém mais pode, ex: interceptação telefônica; prisão preventiva e temporária, inviolabilidade
do domicílio.
As deliberações das CPIs, quando relacionadas a poderes de investigação próprios das
autoridades judiciárias, devem ser fundamentadas, e tais fundamentações têm que ser contemporâneas a
quebra, não podem vir depois. O Supremo Tribunal Federal admite a quebra de sigilo bancário, fiscal e de
registros telefônicos por determinação de Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que devidamente
motivada.
A Lei Complementar n. 105/01, que dispõe sobre sigilo bancário, revogou o artigo 38 da
Lei n. 4.595/94, autorizando que o Poder Legislativo Federal e as CPIs, fundamentadamente, tenham acesso
direto (sem ordem judicial) a informações e documentos sigilosos das instituições financeiras. As requisições
devem ser aprovadas previamente pelo plenário da Câmara, do Senado ou da respectiva Comissão
Parlamentar de Inquérito, por maioria absoluta.
Quanto ao sigilo telefônico, à decretação de prisão preventiva, escuta telefônica, e busca
e apreensão domiciliar, cinco ministros do Supremo Tribunal Federal já declararam (incidentalmente) que
sobre os temas incide o princípio da reserva de jurisdição, ou seja, tais medidas exigem prévia autorização
judicial por previsão constitucional.
Admite-se que a Comissão Parlamentar de Inquérito determine a condução coercitiva de
testemunha e a prisão em flagrante por falso testemunho. Mas, as CPIs têm feito muitas prisões ilegais, que

6
Inserido pela revisora.
o STF tem liberado por HC, porque prendem os investigados por falso testemunho, ocorre que ele não tem o
compromisso de dizer a verdade, não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.
Entretanto, respeitados o sigilo profissional, as prerrogativas funcionais e o direito ao
silêncio dos acusados, a Comissão Parlamentar de Inquérito pode determinar que qualquer pessoa preste
depoimento.
A CPI tem um poder que nem o juiz, MP, ou delegado têm; que é só dela: pode, antes da
sentença condenatória transitar em julgado, no relatório da CPI (conclusão da CPI), ela pode decidir
divulgar dados sigilosos para toda a sociedade, se isso for de interesse público.
Suas conclusões (instrumentalizadas por projeto de resolução) e a resolução que as
aprovar (depende de maioria simples) são encaminhadas ao Ministério Público ou às autoridades
administrativas ou judiciais competentes, para que seja promovida a responsabilização administrativa, civil e
criminal dos infratores, pois a CPI nem condena, nem absolve, não faz coisa julgada. O MP NÃO está
vinculado às conclusões da CPI.
A autoridade que presidir processo ou procedimento, administrativo ou judicial, instaurado
em razão das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito, comunicará, semestralmente e até sua
conclusão, a fase em que se encontra o processo. O processo ou procedimento instaurado em razão do
relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito deverá tramitar com prioridade sobre os demais (exceto
habeas corpus, habeas data e mandado de segurança).
Poderes da CPI:
- quebra de sigilos: bancário, fiscal e telefônico → é o registro de ligações telefônicas (não
é interceptação telefônica, nem gravação clandestina);
- conduta coercitiva: não pode obrigar a falar, a produzir prova contra si mesmo, para não
se auto incriminar.
- não pode punir delitos, nem condenar ninguém. Ela só investiga.
OBS: pode haver CPIs. Nos Estados e Municípios, o STF permite, por se NORMA DE
REPETIÇÃO OBRIGATÓRIA → simetria → tem que ser reproduzidas nas CEs e nas LOM (ex. processo
legislativo e normas do Tribunal de Contas da União, CPI). Entretanto, os Estados não podem investigar
quem tem foro privilegiado federal; tem os mesmos poderes (princípio da simetria, o qual não está expresso
na CF, mas implícito no art. 25, CF):
OBS: É da competência originária do STF processar e julgar MS e HC impetrados contra
CPI´s no âmbito do Congresso Nacional ou de qualquer de suas casas. 7

7
Inserido pela revisora
5. Imunidades e Impedimentos (Estatuto dos Parlamentares)
5.1. A imunidade material (real) ou inviolabilidade parlamentar
Os parlamentares federais (deputados federais e senadores), estaduais
(deputados estaduais) e municipais (vereadores) são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Trata-se de IMUNIDADE MATERIAL (real),
que exime o parlamentar do enquadramento no tipo penal, impedindo a instauração de Inquérito
Policial. Assim, não responde por esses crimes.
Conforme leciona Damásio de Jesus8, trata-se de causa funcional de
exclusão de pena e não de exclusão da antijuridicidade. Por isso, embora não seja punível, o
fato pode ser típico e ilícito, admitindo inclusive a legítima defesa.
A inviolabilidade (imunidade material), segundo prevalece no Supremo
Tribunal Federal, significa que o parlamentar não pode ser responsabilizado civil ou
penalmente, a qualquer tempo, por suas opiniões, palavras e votos manifestados no exercício
do mandato. A imunidade real tem por pressuposto o exercício do mandato ou, ao menos, um
nexo de causalidade entre o ato praticado e a qualidade de mandatário político do agente. Em
síntese, a imunidade material é prerrogativa concedida aos parlamentares para o exercício de
sua atividade com a mais ampla liberdade de manifestação, por meio de palavras, discussão,
debate e voto; tratanto-se pois, a imunidade, de cláusula de irresponsabilidade funcional do
congressista, que não pode ser processado judicial ao disciplinarmente pelos votos que emitiu
ou pelas palavras que pronunciou no Parlamento ou em uma das suas comissões.
A imunidade parlamentar material só protege o congressista nos atos,
palavras, opiniões e votos proferidos no exercício do ofício congressual, sendo passíveis dessa
tutela jurídico-constitucional apenas os comportamentos parlamentares cuja prática possa ser
imputável ao exercício do mandato legislativo. A garantia da imunidade material estende-se
ao desempenho das funções de representante do Poder Legislativo, qualquer que seja o
âmbito dessa atuação – parlamentar ou extraparlamentar - desde que exercida ratione
muneris.
Dessa forma, estão excluídas as manifestações que não guardem
pertinência temática com o exercício do mandato parlamentar.”9

5.2. Imunidade formal (incoercibilidade pessoal relativa e a moratória


processual).
Imunidade formal é o instituto que garante ao parlamentar a impossibilidade
de ser ou permanecer preso ou, ainda, a possibilidade de sustação do andamento da ação penal
por crimes praticados após a diplomação.
De acordo com a atual redação dos §§ 2.º, 3.º e 4.º do artigo 53 da CF (EC
n. 35), desde a expedição do diploma os membros do Congresso Nacional (e também os
Deputados Estaduais, por força do § 1.º do artigo 27 da Constituição Federal) não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, imunidade denominada incoercibilidade
pessoal relativa (freedom from arrest) pelo Supremo Tribunal Federal (Inq n. 510/DF – abaixo
descrito). A incoercibilidade pessoal relativa também protege os Deputados e Senadores contra
a prisão civil. Assim, mesmo a prisão civil do parlamentar, nas hipóteses constitucionalmente
permitidas do devedor de alimentos, para compeli-lo à restituição dos objetos ou à satisfação
dos alimentos, não poderá ser decretada.
No caso de prisão em flagrante por crime inafiançável, os autos devem ser
encaminhados em 24 horas para a casa parlamentar respectiva, que pelo voto ostensivo e

8
Código de Processo Penal Anotado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva. p. 20.
9
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 16ª ed. São Paulo, Atlas, 2004, p. 415.
nominal (não há mais previsão constitucional de voto secreto nesta hipótese) da maioria dos
seus membros resolverá sobre a prisão10.
Ressalte-se que, em relação à possibilidade de prisão do parlamentar em
virtude de decisão judicial com trânsito em julgado, o STF já se posicionou pela sua
admissibilidade, por entender que “a garantia jurídico-institucional da imunidade parlamentar
formal não obsta, observado o due processo of law, a execução das penas privativas de liberdade
definitivamente impostas aos membros do Congresso nacional”. Leia-se:
Dentro do contexto normativo delineado pela Constituição, a garantia
jurídico-institucional da imunidade parlamentar formal não obsta,
observado o "due process of law", a execução de penas privativas da
liberdade definitivamente impostas ao membro do Congresso Nacional.
Precedentes: RTJ 70/607. (STF – Pleno – Inq n. 510/DF – Rel.: Min. CELSO
DE MELLO – julg. 01/02/1991.

Alexandre de Moraes não concorda com essa possibilidade de prisão, uma


vez que a CF não restringe a garantia somente às prisões processuais, e excetua somente a
Hipótese de prisão em flagrante por crime inafiançável, e mesmo assim, submetendo-a imediata
apreciação da Casa Parlamentar (fl. 419).
► Em relação ao processo nos crimes cometidos após a diplomação, a
EC n. 35 inovou substancialmente, restringindo a tradicional imunidade formal em relação ao
processo. Não há mais necessidade de autorização da respectiva Casa Legislativa para que
possa ser iniciado processo criminal em face do congressista.
Então, após a EC n. 35, a imunidade processual parlamentar refere-se à
possibilidade de a Casa Legislativa respectiva sustar, a qualquer momento antes da decisão
final do Poder Judiciário, o andamento da ação penal proposta contra parlamentar por crime
praticado após a diplomação (desde que por iniciativa de Partido Político nela representado e
pelo voto da maioria de seus membros).
Então, nem todos os processos podem ser sustados, só os dos crimes
cometidos após a diplomação; nos outros só vão ter foro privilegiado.
O pedido de sustação deve ser apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
A decisão legislativa para a sustação ou não do andamento da ação penal
deverá ser sempre do Plenário da Casa, não podendo ser delegada à Mesa Diretora ou a
qualquer de suas comissões, não estando, pois, submetida a regras rígidas e pré-constituídas,
pois os critérios não são jurídicos-normativos, mas movidos por motivos políticos de conveniência
e oportunidade.
Sobre esse assunto, apesar de se referir à redação anterior à EC 35/01, e da
atual desnecessidade de licença, segundo Alexandre de Moraes, o seguinte precedente deve
ser aplicado integralmente em relação à obrigatoriedade do Plenário da Casa Legislativa
respectiva analisar o pedido de sustação da ação penal, sendo-lhe vedado delegar a uma de
suas comissões.
A sustação do processo (imunidade que denominada por Ricardo Cunha
Chimenti de moratória processual) suspende a prescrição, enquanto durar o mandato, não
beneficiando o parlamentar em caso de crime ocorrido antes da diplomação (observado como
tempo do crime o momento da ação ou omissão - teoria da atividade – artigo 4.º do Código
Penal).

10
De acordo com o inciso IV do artigo 251 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, recebidos os autos da prisão em flagrante
o Presidente da Casa os encaminhará à Comissão de Constituição e Justiça, a qual determinará a apresentação do preso e passará a
mantê-lo sob a sua custódia até a deliberação do plenário.
Saliente-se que na hipótese de ocorrer a sustação do andamento da ação
penal em relação ao parlamentar e existindo concurso de agentes com não parlamentar, o
processo deverá ser separado, enviando-se os autos à Justiça Comum, para que prossiga no
processo e julgamento do co-agente não parlamentar; enquanto a prescrição estará suspensa
para o parlamentar.
5.3. Foro Privilegiado
Os Deputados Federais e Senadores, desde a expedição do diploma, são
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal por infrações de natureza criminal.
Quando o mandato termina os processos vão para o juiz de 1° grau.
Lembre-se que, a Lei n. 10.628, de 24/12/2002 que deu nova redação ao §
1.º do artigo 84 do Código de Processo Penal, estabelecendo que a competência especial por
prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito
ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação da função pública, foi julgada inconstitucional
pelo STF pelas ADIns 2.797-2 e 2.860-0, em 15/09/2005, pois uma lei ordinária tratou da
competência dos Tribunais (matéria reservada à norma constitucional).
5.4. Outras prerrogativas:
1) Os deputados e senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas
que lhes confiaram ou deles receberam informações, trata-se do sigilo da fonte (artigo 53, § 6.º,
da CF). Quanto aos demais fatos, os deputados e senadores têm o dever de testemunhar,
embora devam ser convidados a depor, e não intimados, sob pena de condução coercitiva.
2) A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora
militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva
(artigo 53, § 7.º, da CF).
3) Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, as imunidades
parlamentares (reais e processuais) são irrenunciáveis, indisponíveis, porque caracterizam
prerrogativa funcional e não privilégio pessoal:
4) Estabelece o § 8.º do artigo 53 da CF que as imunidades de Deputados ou
Senadores subsistirão durante o estado de sítio, é para se evitar que se falem segredos (é
possível, no entanto, haver suspensão, mediante o voto de dois terços da Casa respectiva, para
os casos de atos incompatíveis com a medida praticados fora do recinto) 11.
5) Podem ter licença não remunerada de 120 dias, por sessão legislativa,
para tratar de assuntos particulares.
5.5. Os principais impedimentos:
1) os parlamentares federais e estaduais não podem ser proprietários,
controladores ou diretores de empresas que gozem de favores decorrentes de contratos com
pessoas jurídicas de direito público, ou patrocinadores de causas daquelas;
2) poderá perder o mandato o parlamentar federal que infringir os
impedimentos do artigo 55 da CF; que tiver comportamento incompatível com o decoro
parlamentar; que injustificadamente deixar de comparecer (em cada sessão legislativa) a um
terço das sessões ordinárias da Casa a qual pertence; que sofrer condenação criminal transitada
em julgado; quando a Justiça Eleitoral decretar a perda do mandato; e na hipótese de perder ou
ter suspensos os seus direitos políticos.
Nos casos de infringência dos impedimentos, falta de decoro e condenação
criminal transitada em julgado, a perda do mandato será decidida pela Casa respectiva, após
provocação da Mesa ou de partido com representação na Casa, por meio de voto secreto da
maioria absoluta, com ampla defesa. Ocorre que, segundo o art. 15, III, da CF é automática a
perda de direitos políticos em caso de sentença criminal transitada em julgado. Significa dizer
que alguém pode ser condenado criminalmente e não ter suspenso seus direitos políticos e
continuar com o mandato. A idéia era para retirar crimes pequenos, mas não é bem o que ocorre.

11
Inserido pela revisora
Nos casos de faltas excessivas e de decretação pela Justiça Eleitoral da
perda do mandato, essa será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício, por provocação
de partido nela representado ou de qualquer dos seus membros, assegurada a ampla defesa.
A renúncia de parlamentar submetido a processo ou investigação, que
possam levar à perda do mandato, terá seus efeitos suspensos até que o plenário ou a mesa
respectiva deliberem sobre a perda. Se declarada a perda do mandato, a renúncia é arquivada.
Os parlamentares (membros do Legislativo) que perdem seus mandatos
eletivos por infringência dos incisos I e II do artigo 55 da Constituição Federal (e dispositivos
congêneres das Constituições Estaduais, da Lei Orgânica do Distrito Federal e das Leis
Orgânicas Municipais) ficam inelegíveis, condição que perdura durante o período do mandato
para o qual foram eleitos e por mais 8 anos, contados do término da legislatura (alínea “b” do
inciso I do artigo 1.º da Lei Complementar n. 64/90).
Obs. A quebra de decoro pode ter ocorrido em um mandato anterior; o STF
admite. Se foi antes de se eleger, a princípio, não, mas teve alguns casos que o parlamento
ameaçou abrir processo pela vida pregressa, e o parlamentar renunciou antes, então ainda não
há uma definição.
Os deputados estaduais gozam das mesmas imunidades e sofrem os
mesmos impedimentos dos parlamentares federais (artigo 27, § 1.º, da Constituição Federal).
5.6. A inviolabilidade dos vereadores
A inviolabilidade dos vereadores – por suas opiniões, palavras e votos, no
exercício do seu mandato e na circunscrição do Município em que atuam –, vem prevista no
artigo 29, inciso VIII, da Constituição Federal. Trata-se de imunidade material.
Por crime comum, o vereador é julgado pelo juiz de primeiro grau, porém, a
Constituição de seu Estado pode lhe atribuir a prerrogativa de ser julgado pelo Tribunal de Justiça
(artigo 125, § 1.º, da Constituição Federal). Por infração político-administrativa (crime próprio de
responsabilidade), o vereador é julgado pela respectiva Câmara Municipal.

6. Da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (art. 70 e ss da CF)


6.1. O controle externo
Todas as pessoas, físicas ou jurídicas, públicas (inclusive o Poder Judiciário)
ou privadas, que utilizam, arrecadam, guardam, gerenciam ou administram dinheiro, bens e
valores públicos, estão sujeitas à prestação e tomada de contas pelo controle externo e pelo
sistema de controle interno de cada Poder (qualquer pessoal que pegue dinheiro público, presta
contas). O controle externo é realizado pelo Poder Legislativo com o auxílio do Tribunal de
Contas.
O gasto deve ser legal, legítimo e econômico.
O Tribunal de Contas é um órgão de apoio dos Poderes da República e que
auxilia o Poder Legislativo na realização do controle externo da gestão do patrimônio público.
Embora disciplinado no capítulo da Constituição Federal pertinente ao Poder
Legislativo (por isso, muitos classificam os Tribunais de Contas como órgão auxiliar do Poder
Legislativo), o Tribunal de Contas tem as mesmas garantias de independência que o
constituinte reservou aos membros do Judiciário.
As inspeções e auditorias do Tribunal de Contas da União são realizadas por
iniciativa do próprio Tribunal ou da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou comissões
das respectivas Casas (artigo 71, inciso IV, da CF).
Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte
legítima para, na forma da lei, denunciar ao Tribunal de Contas da União ilegalidade ou
irregularidade. Mesmo sem lei específica, a denúncia pode ser encaminhada com base no direito
de petição.
● Pode ser denúncia anônima?
Questão extraída da obra de Pedro Lenza12:
“É necessária a observância do devido processo legal em processo
administrativo no âmbito do TCU?
O tema ainda é polêmico. Contudo, há forte tendência, apesar de
julgados em sentido contrário, em se determinar a indispensabilidade
da observância do due processo of law.
Nesse sentido, destacamos o Enunciado de proposta de súmula
vinculante n.4: ‘Asseguram-se o contraditório e a ampla defesa ao
interessado em processo administrativo perante o Tribunal de Contas
de União, de cuja decisão possa resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que o beneficie’.” (Súmula vinculante n° 3: Nos
processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar
anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o
interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão).

6.2. Tribunal de Contas da União


O TCU é formado por 9 Ministros, que exercerão suas atribuições em todo o
território nacional, e terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e
vantagens dos Ministros do STJ. Um terço deles escolhido pelo Presidente da República, com a
aprovação do Senado Federal e os outros 6 ministros são escolhidos pelo Congresso Nacional.
Ressalta-se entre suas competências:
a) Além de emitir pareceres (em 60 dias) das contas anuais do Presidente da
República, exercer fiscalização e representar aos órgãos competentes sobre as irregularidades
apuradas, o Tribunal de Contas da União julga contas dos administradores e de outros
responsáveis por bens e valores públicos. No caso do Presidente da República, o julgamento
das contas é ato privativo do Congresso Nacional (artigo 49, inciso IX), competindo ao
Tribunal de Contas da União tão-somente a elaboração de parecer prévio.
b) Pode, outrossim, o TCU aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade
de despesas ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre
outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário.
c) Constatando a irregularidade, de ato ou contrato, o Tribunal de Contas da
União representa ao Congresso Nacional, solicitando as medidas cabíveis. Se em 90 dias nada
for decidido pelo Congresso Nacional (que julga politicamente e pode deliberar não determinar
qualquer medida), o próprio Tribunal de Contas da União decidirá a respeito, podendo até mesmo
sustar a execução do ato ou do contrato impugnado.
d) No exercício de suas atribuições, o Tribunal de Contas da União pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos normativos do Poder Público, cujo
controle é feito para o caso concreto, conforme estabelece a:
Súmula n. 347 do STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas
atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder
Público.

e) Os acórdãos do Tribunal de Contas da União têm força de título executivo


extrajudicial, podendo ser inscritos na dívida ativa e, assim, executados nos termos da Lei n.
6.830/80 (Lei das Execuções Fiscais).
f) Além disso, o STF já decidiu pela competência do TCU em expedir medidas
cautelares (Informativo 330).

12
Op. Cit; p.440. Inserido pela revisora.
g) Note-se que o TCU não pode, em suas decisões, ir contra a coisa julgada
(Informativo 272 do STF).
Os responsáveis pelo controle interno devem dar ciência ao Tribunal de
Contas da União de qualquer irregularidade apurada, sob pena de responsabilidade solidária.
6.3. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União
O Ministério Público, que atua junto ao Tribunal de Contas da União (art. 73,
§ 2.º, inciso I, da CF), é regido por lei ordinária de iniciativa do próprio Tribunal de Contas
da União e não por lei complementar de iniciativa do Procurador Geral da República,
embora seus membros (inclusive um procurador geral próprio) estejam sujeitos aos mesmos
direitos, vedações e forma de investidura impostos aos demais integrantes do Ministério Público
em geral (art. 130 da CF).
O ingresso na carreira ocorre mediante concurso de provas e títulos.
Na doutrina de Hugo Nigro Mazzilli:
“os membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas têm atuação
restrita a esses tribunais, dando pareceres e atuando como custos legis nos
procedimentos e processos respectivos. Caso se apure a existência de ilícito
penal ou civil, devem as peças ser remetidas aos membros do Ministério
Público que tenham atribuições perante os juízes e tribunais judiciários, para
a promoção da ação civil ou penal competente”.13

O poder de auto-organização do TCU e a constitucionalidade da Lei n.


8.443/92, que dispõe sobre a sua organização e composição, foram reconhecidos pelo Supremo
Tribunal Federal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11. ed., São Paulo: Método, 2007.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed., São Paulo: Atlas, 2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros,
2001.
1. Processo: conceito, objeto, tipos. 2. Relação jurídica. 3. Atos processuais. 4. Princípios
processuais. 5. Meios de prova. 6. Os processos na Lei nº 8.078/90. 7. Ação civil pública. 8. Ação
popular. 9. Suspensão de liminar e sentença em mandado de segurança. 10. Ação de alimentos
e execução de alimentos.

1. Processo: conceito, objeto, tipos. Relação jurídica. Atos processuais. Princípios


processuais.

PROCESSO: NATUREZA JURÍDICA. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS.

Introdução.
Etimologicamente, a palavra processo significa “marcha avante”, “caminhada”, daí porque é
conceito que transcende o direito processual, estando presente, enquanto instrumento para o
legítimo exercício do poder, em todas as atividades estatais (processo administrativo, legislativo)
e mesmo não-estatais (processos disciplinares dos partidos políticos e associações).
O Processo, agora tomado em sua feição judicial, que é a que particularmente nos interessa,
está indissociavelmente ligado ao exercício da jurisdição. Sabe-se que a vida em sociedade
implica o surgimento de inúmeros conflitos de interesses, cabendo ao Estado solucionar, em

13
Introdução ao Ministério Público. 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 69
última instância, tais litígios. A esse poder de eliminar conflitos e pacificar pessoas ou grupos é,
pois, o que se denomina jurisdição. O cumprimento da função jurisdicional não se efetiva, porém,
instantaneamente. Sendo o objetivo-síntese do Estado contemporâneo a realização do bem
comum, indispensável que a pacificação social – escopo magno da jurisdição – seja feita com
justiça. Daí a importância do exercício da jurisdição submeter-se a determinadas regras jurídicas,
de molde a assegurar a plena participação dos interessados (corolário do regime democrático)
na solução dos eventuais conflitos e delimitar a atuação dos juízes, impondo-lhes deveres e
impedindo-lhes os excessos e abusos. O instrumento idôneo para tanto é, pois, o Processo.

Conceito e Mérito.
Três acepções do vocábulo processo.
1. Sistema de técnicas coordenadas por uma ciência específica e destinadas a solucionar
conflitos jurídicos. Nesta primeira acepção o vocábulo processo designa o próprio ramo do direito
que é o direito processual.
2. Método de trabalho referente ao exercício da jurisdição pelo juiz e dos poderes inerentes à
ação e defesa, pelos sujeitos envolvidos no conflito. Esse método é definido pelos princípios e
pelo direito positivo, resultando em um modelo abstrato imposto aos litigantes. O modelo
delineado pela Constituição e leis de cada país, em cada momento de sua história, é o seu
processo (processo como modelo abstrato).
3. Em sua terceira acepção, o vocábulo processo designa a realidade fenomenológica da
experiência dos juízes e das partes em relação a cada um dos conflitos concretamente trazidos
ao Estado-juiz em busca de solução (processo como realidade concreta).
O processo como categoria jurídica (segunda acepção).
Processo é uma série de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir a tutela
jurisdicional justa, a serem realizados no exercício de poderes ou faculdades ou em cumprimento
a deveres ou ônus.1 Os atos interligados correspondem ao procedimento. O conjunto de
situações jurídicas ativas e passivas que autorizam ou exigem a realização dos atos é a relação
jurídica processual (poderes, faculdades, deveres e ônus).
Mérito do Processo.
Objeto do processo é a pretensão a um bem da vida, quando apresentada ao Estado-juiz em
busca de reconhecimento ou satisfação. A pretensão ao bem da vida preexiste ao processo e
consiste na aspiração a obter um dado bem material ou imaterial, tal qual uma coisa móvel ou
imóvel etc. O termo mérito, de uso corrente, expressa o próprio objeto do processo. A pretensão
exposta na petição inicial e posteriormente ajuizada constitui, pois, o mérito das diversas
espécies de processos. O mérito do processo de conhecimento é a pretensão trazida a juízo com
pedido de julgamento que a acolha. O mérito do processo de execução é a pretensão a receber
a coisa pleiteada – e não uma sentença. Também o processo cautelar e os recursos têm o seu
mérito, ou seja, o seu objeto. Lá, o mérito é a pretensão do demandante à medida urgente; cá, a
pretensão a obter nova decisão. Importante: no pensamento do CPC, o mérito não seria
constituído pela pretensão, mas pela lide, que é o conflito de interesses qualificado por uma
pretensão resistida. Dinamarco, com inteira razão a nosso ver, considera inadequado alçar a lide
à condição de objeto do processo (mérito). Entre outros motivos, porque no processo nem
sempre existe um conflito de interesses entre as partes: há casos em que ambas podem até
desejar o mesmo resultado e apesar disso o processo é indispensável para que o resultado se
obtenha, como na ação de separação judicial ou de divórcio. O ilustre professor também ressalta
que o objeto do processo consiste exclusivamente no pedido formulado pelo demandante, não
integrando o mérito a causa de pedir. Assim, distingue ele as questões de mérito – que são
aquelas que a sentença resolve em seus fundamentos, como antecedente lógico da conclusão
– do próprio mérito, este último decidido no dispositivo.

Processo: Natureza Jurídica.


Teorias sobre a natureza jurídica do processo.
1. O processo como contrato. Para esta teoria o processo é o resultado de um contrato entre as
partes através do qual se obrigam a submeter o conflito ao juiz e a acolher a decisão que for por
ele pronunciada. Tem mero significado histórico, pois parte do pressuposto, hoje falso, de que
as partes se submetem voluntariamente ao processo e aos seus resultados. Na realidade, as
partes se sujeitam ao processo e à tutela jurisdicional que o juiz impõe independentemente da
voluntária aceitação.
2. O processo como quase-contrato. Enquanto no contrato as obrigações dele decorrentes são
determinadas diretamente pela própria vontade das partes, no quase-contrato, as obrigações
são determinadas pela lei com base na presumível vontade das partes. Assim, segundo esta
teoria o processo seria um quase-contrato, pela circunstância das partes comparecerem
voluntariamente e de se submeterem às decisões judiciais. Trata-se de uma explicação do
processo a partir de uma perspectiva privatista e individualista.
3. O processo como relação jurídica. Consoante essa doutrina, o processo contém uma relação
jurídica entre as partes e o Estado-Juiz, a chamada relação jurídica processual. Esta se distingue
da relação de direito material por três aspectos: a) pelos seus sujeitos (autor, réu e Estado-Juiz);
b) pelo seu objeto (a prestação jurisdicional); c) pelos seus pressupostos (os pressupostos
processuais).
4. O processo como situação jurídica. O processo não é uma relação jurídica, mas uma situação
jurídica – que é o estado de uma pessoa enquanto tenta fazer valer o direito material afirmado
em juízo. A teoria da situação jurídica foi elaborada para opor-se à teoria da relação jurídica. A
sua tese central é a de que o processo não encerra uma relação jurídica entre os seus sujeitos,
pois não há direitos e deveres jurídicos entre eles. O que há no processo são possibilidades,
ônus e expectativas.
5. O processo como mero procedimento. Para essa concepção, o processo é um procedimento,
ou seja, é uma série ordenada de atos previstos normativamente tendentes à produção de um
efeito jurídico final.
6. O processo como procedimento em contraditório. Essa teoria entende o processo como
procedimento realizado em contraditório e propõe que, no lugar da denominada relação jurídica
processual, se passe a considerar como elemento do processo essa abertura à participação, que
é constitucionalmente garantida.
Natureza jurídica do processo. A teoria da relação processual é a que nitidamente desfruta dos
favores da doutrina, o que, todavia, não significa afirmar, que o processo seja a própria relação
processual. Na verdade, o processo é uma entidade complexa, podendo ser encarado sob o
aspecto dos atos que lhe dão corpo e da relação entre eles (procedimento) e igualmente sob o
aspecto das relações entre os seus sujeitos (relação processual). É lícito inferir, pois, que o
processo é o procedimento realizado mediante o desenvolvimento da relação entre os seus
sujeitos, sempre presente o contraditório.
A instrumentalidade do processo. Falar em instrumentalidade do processo não é falar somente
nas suas ligações com a lei material. O Estado é responsável pelo bem-estar da sociedade e
dos indivíduos que a compõem: e, estando o bem-estar social turbado pela existência de conflitos
entre pessoas, ele se vale do sistema processual para, eliminando os conflitos, devolver à
sociedade a paz desejada. O processo é uma realidade desse mundo social, legitimada por três
ordens de objetivos que através dele e mediante o exercício da jurisdição o Estado persegue:
sociais, políticos e jurídico.2 A consciência dos escopos da jurisdição e sobretudo do seu escopo
social magno da pacificação social constitui fator importante para a compreensão da
instrumentalidade do processo, em sua conceituação e endereçamento social e político.

Pressupostos processuais.
A ação é o direito ou poder de exigir do Estado-juiz a tutela jurisdicional. Mediante o exercício da
ação – manifestado pela petição inicial – provoca-se a jurisdição, que por sua vez se exerce
através daquele complexo de atos que é o processo.
 Ação: 3 sentidos: i) constitucional: direito de ir a juízo, direito de acesso aos Tribunais,
embutido no Princípio da Inafastabilidade. Tal direito é FUNDAMENTAL,
INCONDICIONADO, AUTÔNOMO (tenho direito de ir a juízo independentemente de ter
razão), ABSTRATO (posso ir a juízo para afirmar qualquer tipo de problema, abstraia a
situação, pouco importa, posso ir a juízo); (ii) Processual: Ação ato é o exercício do
direito de ação (de ir a juízo, sentido constitucional), pelo qual se afirma possuir um
determinado direito (situação material). É uma ação concreta, refere-se sempre a um
problema concreto; (iii) Material: sentido de direito

 CPC adotou a teoria mista ou eclética (idealizada por Liebman): Direito de ação é o
direito a um julgamento de mérito (não é favorável, nem qualquer coisa, trata-se de
decisão de mérito, seja favorável ou não). Neste contexto surgem as CONDIÇÕES DA
AÇÃO, condições para um julgamento de mérito. Para esta teoria, CARÊNCIA DE AÇÃO
é diferente de improcedência da ação.
Os pressupostos processuais constituem então, juntamente com as condições da ação, os
requisitos de admissibilidade do julgamento de mérito. As condições da ação delimitam o direito
à jurisdição; os pressupostos processuais regulam o modo de exercer esse direito através do
processo. Enquanto a ausência das condições da ação impede o pronunciamento jurisdicional
sobre a situação jurídica afirmada no processo, a falta dos pressupostos processuais invalida a
atividade tendente a esse pronunciamento.
Visão de Dinamarco.
Pressupostos processuais são os requisitos sem os quais não se forma um processo viável.
Pressupostos de existência. A propositura de uma demanda3 e a investidura jurisdicional do
destinatário da demanda, isto é, do juiz.
Pressupostos de viabilidade. Regularidade da propositura da demanda, tríplice capacidade do
demandante4 e personalidade do demandado.5

Visão clássica.

Pressupostos processuais subjetivos. I – referentes ao juiz: a) que se trate de órgão estatal


investido de jurisdição; b) que o juiz tenha competência originária ou adquirida; c) que o juiz seja
imparcial. II – referentes às partes: a) que tenham capacidade de ser parte; b) que tenham
capacidade processual; c) que tenham capacidade de postular em juízo.

 Súmula 196 STJ – “Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer
revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de
embargos” => o curador especial não pode dispor de direito do curatelado porque não é
parte, é apenas representante. O curador especial pode praticar todos os atos de defesa
do curatelado, o que inclui embargos à execução (não pode reconvir).

 Súmula 115 STJ - Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado
sem procuração nos autos

 CPC, art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor
ações que versem sobre direitos reais imobiliários => Tal disposição decorre de previsão
já contida no CC/16, porém, CC/02 mudou o regramento: art. 1.647 CC/02: Ressalvado
o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto
no regime da separação absoluta: (Novidade, nos casos de casamento em regime de
separação absoluta não há mais necessidade de consentimento do cônjuge) I - alienar
ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses
bens ou direitos; (Bens Imóveis) III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo
remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das


partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.
Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência couber:
I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo;
II - ao réu, reputar-se-á revel;
III - ao terceiro, será excluído do processo

Pressupostos processuais objetivos. I – extrínsecos à relação processual: inexistência de fatos


impeditivos, tais como a litispendência e a coisa julgada. II – intrínsecos à relação processual:
subordinação do procedimento às normas legais (petição apta, por exemplo).

 Dentro deste rol se encaixa a previsão da citação: faz com que o processo passe a
produzir efeitos para o réu; requisito de validade da sentença proferida contra o réu
(juiz só pode proferir uma sentença contra o réu quando citado). A concepção de que a
citação é um requisito de validade é a concepção majoritária. Na PUC-SP, o pensamento é
outro (Arruda Alvim, Teresa Nambier, Nelson Ney, Cássio Scarpinella) – entendem que
a citação é um pressuposto de existência do processo (Didier critica: indeferimento liminar
da inicial).
o Qual a natureza da sentença proferida contra réu revel, não citado ou
citado invalidamente? Duas correntes:
CORRENTE MAJORITÁRIA CORRENTE DA PUC-SP
A sentença é nula, ou seja, é uma sentença A sentença é inexistente, ou seja, um nada
que existe mas é gravemente defeituosa. jurídico.
Ambos defendem que a sentença pode ser impugnada a qualquer tempo.
(uma porque nula e a outra porque inexistente) .
*Fundamento legal: art. 475-L, inciso I14 e 741, inciso I15.
Ambos entendem que o meio de impugnação disso é Querela Nullitatis16.
(nome da ação de impugnação da sentença nula ou inexistente).
*Querela Nullitatis está prevista como defesa na execução17 (arts. 475-L, inciso I e 741,
inciso I) mas é unânime o entendimento que pode ser utilizada como ação autônoma
Caso é de vício transrescisório (defeito tão Não é caso de vício, é caso de inexistência
grave que pode ser arguido mesmo após o (mas pode ser arguida mesmo após o prazo
prazo da rescisória). de rescisória).
Se chega na execução, réu vem a juízo e não
Não há preclusão.
alega o defeito, temos preclusão.

Obras Consultadas: Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil. v. I, II


e III, Malheiros; Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel
Dinamarco, Teoria Geral do Processo, Malheiros; José de Albuquerque Rocha, Teoria Geral do
Processo, Saraiva; Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, v. I,
Saraiva.

 Existe um dogma de que a análise dos pressupostos processuais deve preceder a


análise de mérito, contudo, vários doutrinadores (Bedaque e Marinoni) dizem que se a
falta do pressuposto processual não ocasionar prejuízo ela pode ser ignorada e o mérito
ser examinado pelo juiz: aplica-se ao exame dos pressupostos processuais o sistema
das invalidades (§ 2o do art. 249), segundo o qual não há nulidade sem prejuízo. Trata-
se da instrumentalidade substancial das formas ou do processo (designação dada por
Daniel Hertel). Exemplos: (a) réu não foi citado (defeito grave), juiz poderia ignorar este
defeito se fosse para julgar improcedente o pedido (em favor do réu); (b) causa
envolvendo incapaz na qual o MP não foi intimado, juiz poderia ignorar este defeito se
fosse para julgar a favor do incapaz (pois não haveria prejuízo).

14 Art. 475-L CPC – “A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação,
se o processo correu à revelia;”
15 Art. 741 CPC – “Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre:

I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;”


16 Assunto está no volume 3 do Curso do Professor.

17 Pode vir em exceção de pré-executividade.


2. RELAÇÃO JURÍDICA

A relação jurídica de direito processual é o liame jurídico havido entre demandante,


demandado e Estado-juiz, é o que a doutrina chama de relação processual tríplice. (Há
processo sem autor quando a demanda é oficiosa e há processo sem partes quando a
demanda é objetiva).

A relação Jurídica deve ser entendida como triangular, e não como angular, uma vez que há
vínculos jurídicos diretos entre as partes, sem a mediação do Estado-Juiz, como por exemplo:
1. dever de lealdade e boa-fé entre as partes;
2. obrigação da parte derrotada em reembolsar as custas processuais adiantadas pela
parte vencedora;
3. possibilidade de convenção para a suspensão do processo, situação na qual a decisão
do juiz que homologa tal acordo de vontade tem efeito ex tunc, considerando-se o
processo suspenso desde a celebração da convenção;

É importante ressaltar que a despeito de a relação jurídica ser tríplice, com a simples
propositura da demanda pelo autor já existirá uma relação jurídica, ainda que limitada ao autor
e juiz (relação jurídica incompleta). Trata-se da formação gradual do processo. Há como haver
extinção da relação jurídica processual e do processo antes mesmo de haver a citação.

Características:

A relação jurídica de direito processual tem cinco principais características:

1. autonomia
2. complexidade
3. dinamismo
4. unidade
5. natureza pública

A relação jurídica processual é cutonoma quando comprada com a relação jurídica de direito
material, significando que sua existência independe da existência da relação material. Assim o
juízo de improcedência fundado na inexistência da relação material não implica na inexistência
da relação processual.

A complexiddade da relação jurídica processual decorre das inúmeras e sucessivas situações


jurídicas durante o trâmite procedimental, de modo que as partes atuam em situações jurídicas
ativas e passivas de modo dinâmico e transitório, o que torna a relação complexa.

Diferente da relação material que em regra é instantânea a relação processual é continuada,


prolonga-se no tempo, uma vez que um processo instantâneo não teria condições de guardar
os primados do devido processo legal.

Por unidade da relação jurídica processual entende-se que os atos praticados pelos sujeitos
processuais estão todos interligados de forma lógica, dependendo o ato posterior da prática e
do resultado do ato anterior. Os atos são interdependentes entre si e conduzem a relação
jurídica processual à resolução da lide.

A relação jurídica processual tem sempre natureza pública, uma vez que conta com o Estado-
juiz no exercício do poder estatal de jurisdição. Do mesmo modo há o interesse público na boa
prestação jurisdicional, sendo o adequado deslinde da relação jurídica uma aspiração de toda a
coletividade.
3. ATOS E FATOS PROCESSUAIS

A relação processual desenvolve-se com a ocorrência de uma série de eventos, que geram
constituição, modificação, desenvolvimento, conservação, e extinção de situações jurídico-
processuais, fazendo surgir fatos processuais.

Portanto, os fatos processuais são quaisquer acontecimentos que repercutam no


acontecimento jurídico do processo.

Os fatos jurídicos processuais podem ser enfocados sob dois prismas distintos: 1º) aqueles que
dependem da vontade humana, apresentando-se ora como manifestação unilateral da vontade
(atos processuais), ora como resultado de manifestação bilateral de vontade (negócios
processuais); 2º) aqueles que independem da vontade humana, apresentando-se como meros
fatos processuais (por exemplo: a morte da parte, o perecimento do objeto litigioso, etc.).

O processo, assim, apresenta-se como uma estrutura dinâmica, desenvolvendo-se através de


um conjunto sequencial de atos, que visam à solução da lide por meio da prestação da tutela
jurisdicional, como regra através da sentença.

Assim, são atos de constituição da relação processual a petição inicial, a citação; são atos
de conservação, dentre outros, o que repele a exceção de coisa julgada ou de litispendência, o
que rejeita pedido de extinção do processo; são atos de desenvolvimento, entre outros, as
notificações e intimações, as designações de data para a realização de audiência ou de perícia;
são atos de modificação, entre outros, a citação de litisconsorte necessário vindo ao processo
nos termos do art. 47, parágrafo único, do CPC 18, a habilitação dos herdeiros em decorrência do
falecimento de uma das partes; são atos de extinção da relação processual, entre outros, a
sentença, a desistência da ação homologada pelo juiz (art. 158, parágrafo único, do CPC 19).

2. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS QUANTO AO SUJEITO

À luz do critério subjetivo, os atos jurídicos processuais podem ser: a) atos judiciais (ou
jurisdicionais), assim considerados tanto aqueles praticados diretamente pelo juiz, quanto os
praticados pelos auxiliares da Justiça; atos das partes (também os de terceiros intervenientes).

2.1. Atos das partes

O art. 158, do CPC20, regula a eficácia dos atos das partes, consistentes em declarações
unilaterais ou bilaterais de vontade, dispondo que produzem imediatamente a constituição, a
modificação ou a extinção de direitos processuais. A exceção fica por conta do ato da parte
consistente em pedido de desistência da ação, o qual, segundo o parágrafo único do referido
dispositivo, só produz efeitos depois de homologada pelo juiz.

Os atos processuais das partes podem ser:

A) Postulatórios: aqueles pelos quais as partes postulam pronunciamento do juiz, sejam quanto
ao processo (requerimentos – ex: requerimento produção de prova pericial), sejam quanto ao
mérito (petições – ex: petição inicial);

B) Dispositivos: são os consistentes em declarações de vontade destinadas a dispor da relação


processual, dando-lhe existência ou modificando-lhe as condições. Podem ser: 1- unilaterais:
quando a manifestação de vontade é de uma só das partes – ex: desistência da ação, do recurso,

18
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar,
sob pena de declarar extinto o processo.

19
Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada por sentença.

20
Art. 158. Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a
constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais.
etc. 2 – concordantes: consistentes em declaração de vontade de uma parte a que adere a parte
contrária, ainda que por omissão – ex: desistência da ação após o transcurso do prazo para
resposta do réu, que, segundo o art. 267, § 4º, do CPC, exige a concordância deste. 3 –
contratuais: consistentes em declarações expressas bilaterais de vontade – ex: a conciliação e
a transação;

C) Instrutórios: aqueles que se destinam a convencer o juiz da verdade de fato ou situação


jurídica relevante. Apresentam-se sob a forma de alegações (exposições, demonstrações dos
fatos a fim de relacioná-los ao direito pleiteado) e de atos probatórios (consistem no oferecimento
de produção de provas dos fatos);

D) Reais: aqueles que se manifestam pela coisa, não por palavras – ex: apresentação de
documentos, o pagamento de custas, o preparo de um recurso, etc.

QUADRO SINÓTICO COM OS ATOS PROCESSUAIS DAS PARTES


Postulatóri Dispositivos Instrutórios Reais
os
São os atos São os consistentes em declarações de São atos que dão Se
das partes vontade destinadas a dispor da relação suporte à alegação manifesta
pleiteando processual, dando-lhe existência ou da parte e que m pela
algo perante modificando-lhe as condições buscam o coisa, não
o juiz, convencimento do por
provocando- juiz. palavras
lhe uma Unilaterais Concordant Contratuai Alegaçõe Atos
decisão; es s s probatóri
Manifestaç Manifestaçã Declaraçõ os
ão de o de uma es
apenas parte que expressas
uma das adere a bilaterais
partes manifestaçã de vontade
o da parte
contrária

Quanto ao momento dos efeitos dos atos da parte, consistente de declarações unilaterais
e bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção
dos direitos processuais dispostos no artigo art. 158, CPC, podemos ter a seguinte análise.

Art. 158. Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais


de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção
de direitos processuais.
Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada
por sentença.

Em análise apressada, chegar-se-ia à conclusão de que somente em caso de desistência


da ação, haveria a necessidade de interveniência judicial para a fruição imediata dos efeitos
daí decorrentes, pois para os demais atos da parte, consistentes em declarações unilaterais ou
bilaterais, tal fruição é imediata ocorrendo, desde já, a constituição, modificação ou extinção de
direitos (art. 158, CPC).

Entretanto, deve-se interpretar essa regra do artigo 158 CPC com temperamentos, pois
lembrando MONIZ DE ARAGÃO, algumas dessas declarações, como a confissão, meio de
prova a ser apreciado livremente pelo juiz (art. 131), que, indubitavelmente, prescinde de
homologação, necessita sempre que o magistrado a acolha em sentença, pena de ineficácia
do resultado final.

Frise-se também, a classe dos atos omissivos, criação doutrinária de MARCO TULIO
ZANZUCCHI, apoiando-se em CARNELUTTI, pois em que pese não se originarem de
declaração alguma, mas sim da inércia processual, propositada ou não, igualmente tem o
condão de produzir constituições, modificações ou extinções do direito processual,
necessita, também de declaração judicial.

2.2. Atos dos órgãos jurisdicionais

São aqueles praticados pelo juiz ou pelos auxiliares da justiça.

A) atos do juiz: consistem em pronunciamentos ou provisões dos juízes, que se exprimem por
meio de despachos (definidos por exclusão, a teor do § 3º do art. 162 do CPC, como todos os
demais atos do juiz – que não sentença ou decisão interlocutória – praticados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma), decisões
interlocutórias (ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente – art. 162,
§ 2º, do CPC) ou sentenças (segundo o § 1º do art. 162 do CPC, na redação dada pela Lei nº
11.232/2005, ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta
Lei).

 Súmula 318 STJ - Formulado pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse
recursal em arguir o vício da sentença ilíquida.

 Uma vez publicada, a sentença torna-se irretratável. Mas há exceções – toda decisão
poderá ser revista se houver erro material (erro material é erro no nome das partes, p.
ex.). Acolhendo embargos de declaração, o juiz pode rever sua decisão.
Ainda é possível a retratação nos casos de apelação contra sentença que indefere a
petição inicial e apelações em causas do ECA.

Pratica o juiz, ainda, alguns atos ou atividades de ordem material, que não se exprimem por meio
de despacho, decisão ou sentença. Podem ser atos ou atividades instrutórias (ex: ato de ouvir
testemunhas ou peritos, acareação de testemunhas entre si ou com as partes, etc.) ou de
documentação, pelos quais o juiz participa da documentação dos atos feita por algum dos
auxiliares da Justiça (ex: termo de audiência de instrução, lavrado pelo auxiliar, e subscrito pelo
juiz).

Seção III
Dos Atos do Juiz
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias
e despachos.
§ 1º Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts.
267 e 269 desta Lei. (Redação dada pelo Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2o Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve
questão incidente.
§ 3o São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício
ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
§ 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,
independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e
revistos pelo juiz quando necessários. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
Art. 163. Recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos
tribunais.
Art. 164. Os despachos, decisões, sentenças e acórdãos serão redigidos,
datados e assinados pelos juízes. Quando forem proferidos, verbalmente, o
taquígrafo ou o datilógrafo os registrará, submetendo-os aos juízes para revisão e
assinatura.
Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode
ser feita eletronicamente, na forma da lei.(Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).

Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no art.
458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso.
B) atos dos auxiliares da Justiça: dos atos dos auxiliares da Justiça mais importantes, trata o
CPC nos arts. 166 a 171. Tais atos podem ser de três espécies: atos de movimentação: visam
ao andamento do processo (ex: termos de abertura de vista às partes para falar; os de conclusão
dos autos ao juiz – art. 168, do CPC); atos de documentação: por meio dos quais o escrivão
atesta a realização de atos das partes, do juiz ou dos demais auxiliares da Justiça (ex: certidão
de intimação das partes); atos de execução: são aqueles por meio dos quais os serventuários
da justiça cumprem determinações do juiz.

Seção IV
Dos Atos do Escrivão ou do Chefe de Secretaria

Art. 166. Ao receber a petição inicial de qualquer processo, o escrivão a autuará,


mencionando o juízo, a natureza do feito, o número de seu registro, os nomes das
partes e a data do seu início; e procederá do mesmo modo quanto aos volumes
que se forem formando.

Art. 167. O escrivão numerará e rubricará todas as folhas dos autos, procedendo
da mesma forma quanto aos suplementares.
Parágrafo único. Às partes, aos advogados, aos órgãos do Ministério Público,
aos peritos e às testemunhas é facultado rubricar as folhas correspondentes aos
atos em que intervieram.

Art. 168. Os termos de juntada, vista, conclusão e outros semelhantes constarão


de notas datadas e rubricadas pelo escrivão.

Art. 169. Os atos e termos do processo serão datilografados ou escritos com tinta
escura e indelével, assinando-os as pessoas que neles intervieram. Quando estas
não puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão certificará, nos autos, a
ocorrência.
§ 1º É vedado usar abreviaturas. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
§ 2º Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os atos
processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e
armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na
forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz
e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes.
(Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
§ 3º No caso do § 2o deste artigo, eventuais contradições na transcrição deverão
ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob pena de
preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegação e a decisão
no termo. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).

Parágrafo único. É vedado usar abreviaturas.

Art. 170. É lícito o uso da taquigrafia, da estenotipia, ou de outro método idôneo,


em qualquer juízo ou tribunal. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

Art. 171. Não se admitem, nos atos e termos, espaços em branco, bem como
entrelinhas, emendas ou rasuras, salvo se aqueles forem inutilizados e estas
expressamente ressalvadas.

Importante anotar a inclusão do inciso XIV, artigo 93 da CF/88 pela Ec nº 45/2004.

XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de


administração e atos de mero expediente sem caráter decisório; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Aqui implica perquirir o conceito de ato de administração e atos de mero expediente. Ademais,
resta definir qual o órgão competente para delegar esses poderes. A delegação é do juiz titular?
Do Tribunal? Da Lei?

3. FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS


3.1. Conceito

Forma é o meio pelo qual o ato se manifestará, é o conjunto de solenidades necessárias e


indispensáveis à sua exteriorização válida e eficaz. É tudo aquilo que deve estar contido no ato
para que este surta os efeitos que lhes são próprios.

O CPC 2015 consagra o acordo procedimental, a ser realizado entre as partes diante das
peculiaridades do caso concreto. Nota-se uma evidente influência do princípio dispositivo, de
forma a ser a vontade das partes a fonte de determinação do procedimento. No entanto, o acordo
deve ser aceito pelo juiz, o que mostra uma exigência fundada no princípio inquisitivo, vinculada
à geração de efeitos do acordo de vontade das partes à autorização judicial.
Segundo o artigo 190, versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito
às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo. E, consoante o parágrafo único desse dispositivo, de
ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato
de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

3.2 Generalidades sobre a forma dos atos processuais:

Os atos jurídicos em geral, quanto à forma, costumam ser classificados em solenes e não
solenes.

Os atos jurídicos processuais são solenes porque, via de regra, subordinam-se à forma escrita,
a termos adequados, a lugares e tempo expressamente previstos em lei, o que é necessário para
se garantir a ordem e a segurança jurídica no exercício da jurisdição.

Entretanto, repudia-se o excesso de formas, as solenidades exageradas, imotivadas e


desarrazoadas.

Por essas razões, busca-se um meio termo entre o excessivo e intransigente rigor de forma e o
extremismo de sua total ausência.
Isso porque, por um lado, o ato processual não tem uma finalidade em si mesmo, posto
apresentar-se como mero instrumento para o atingimento do fim último do processo, que é a
prestação jurisdicional na busca da satisfação do direito material violado ou desrespeitado; mas,
por outro, a total ausência de forma levaria ao caos e à inutilização do processo como meio hábil
de composição dos litígios.

Assim, o Código de Processo Civil, ao mesmo tempo em que prevê formas para os atos
processuais, faz, de maneira clara, prevalecer sobre a forma a substância e a finalidade do ato
processual, ao dispor, em seu art. 154, que os atos e termos processuais não dependem de
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que,
realizados de outro modo, Ihe preencham a finalidade essencial.

Dispõe, outrossim, o art. 244, do CPC, que quando a lei prescrever determinada forma, sem
cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar
a finalidade.

Assim, deve o ato processual ser praticado segundo a forma legalmente prevista para sua
prática. Porém, poderá prevalecer e ser tido como válido se, tendo sido praticado de forma
diversa, o objetivo do ato tenha sido alcançado, e não tenha havido prejuízo para as partes ou
ao processo, caso em que a forma, em si mesma considerada, passa a ter um caráter
secundário.

Entretanto, deve-se ter presente que, quando o texto legal cominar expressamente a pena de
nulidade para a inobservância de determinada forma, como no caso da intimação do MP para
acompanhar o feito em que deva intervir (art. 246 c/c 82, ambos do CPC), não incide a regra
liberal do art. 154, reconhecendo-se como nulo o ato.
Pode-se assim sintetizar as regras sobre a forma dos atos processuais
e os reflexos advindos do descumprimento do formalismo, na validade
ou invalidade do ato assim praticado: 1º) Em princípio, é livre a forma
(princípio da liberdade das formas – art. 154 do CPC); 2º) em alguns
casos, porém, o legislador estabelece uma determinada forma, sem,
contudo, cominar expressamente a pena de nulidade para a sua não
observância (princípio da instrumentalidade das formas – art. 244 do
CPC); 3º) finalmente, o legislador, noutras hipóteses (as mais raras),
dada a suprema relevância do ato ou atos, determina expressamente
a forma de que se devem revestir e, não sendo obedecida, nega-lhes
a produção de efeitos, isto é, aplica-lhes a pena de nulidade (arts. 243;
245, parágrafo único; 246; 247; e 248) 21.

STJ, Súmula nº 429 - 17/03/2010 - DJe 13/05/2010: Citação Postal - Exigibilidade - Aviso de
Recebimento: A citação postal, quando autorizada por lei, exige o aviso de recebimento.

3. PRINCÍPIOS QUE REGULAM A FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS

3.1. Princípio da liberdade das formas

Para os atos processuais aos quais a lei não prescreve determinada forma, esta é livre, bastando
que a forma seja idônea para realizar a finalidade do ato – arts. 154 e 244, do CPC. Mas a
liberdade de forma não chega ao ponto de se permitir espaços em branco, entrelinhas, emendas
ou rasuras, salvo se aqueles forem inutilizados e estas expressamente ressalvadas – art. 171,
do CPC;

Releva atentar para as regras veiculadas nos arts. 156 e 157, das quais deflui, respectivamente,
que em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo e que só poderá
ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão
em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.

Se não existir tradutor oficial na sede do Juízo, é admissível que a parte junte o documento
estrangeiro, mediante requerimento de nomeação, pelo juiz, de tradutor ad hoc (para o ato) para
fazer, nos autos, a versão devida.

Há, também, necessidade de intérprete, para dar versão em vernáculo, quando, nos atos
orais das partes e testemunhas, estas não souberem expressar-se na língua nacional. Assim,
dispõe os arts. 151do CPC:

Art. 151. O juiz nomeará intérprete toda vez que o repute necessário
para:
I - analisar documento de entendimento duvidoso, redigido em língua
estrangeira;
II - verter em português as declarações das partes e das testemunhas
que não conhecerem o idioma nacional;
III - traduzir a linguagem mímica dos surdos-mudos, que não puderem
transmitir a sua vontade por escrito.

3.2. Princípio da instrumentalidade das formas

As formas não têm valor intrínseco, próprio, mas são estabelecidas como meio para atingir a
finalidade do ato. Portanto, a necessidade de sua observância deve ser medida pela
possibilidade de ter atingido o mesmo fim, mesmo sob outra forma – arts. 154 e 244, do CPC;

21
ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. Vol. 1, Parte Geral. 9ª ed. revista, atualizada e ampliada. . São Paulo: RT,
2005. p. 402.
Ex: se feita a citação sem observância de sua forma própria, ou ainda que nem mesmo realizada,
o réu comparecer espontaneamente em juízo e defender-se, considerar-se-á sanado o vício ou
inicial falta do ato – art. 214, § 1º, do CPC (§ 1o O comparecimento espontâneo do réu supre,
entretanto, a falta de citação).

3.3. Princípio da documentação

De ordinário, o meio de expressão dos atos processuais é a forma escrita, ficando, assim,
documentado o ato. Se for de sua natureza expressar-se oralmente, impõe-se seja reduzido a
termo, para sua documentação por escrito. Ex. os requerimentos em audiência, os depoimentos
das partes ou das testemunhas, as contraditas às testemunhas, os debates em audiência são
atos orais, que se reduzem a termo escrito no livro de protocolo de audiências – art. 457, do
CPC;

Art.457. O escrivão lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá, em resumo, o
ocorrido na audiência, bem como, por extenso, os despachos e a sentença, se esta
for proferida no ato.
§ 1o Quando o termo for datilografado, o juiz Ihe rubricará as folhas, ordenando
que sejam encadernadas em volume próprio.
§ 2o Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o órgão do Ministério Público
e o escrivão.
§ 3o O escrivão trasladará para os autos cópia autêntica do termo de audiência.
§ 4o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2o e
3o do art. 169 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).

3.4. Princípio da publicidade

A publicidade é uma das maiores garantias do indivíduo no exercício da jurisdição, uma vez que
possibilita ao jurisdicionado fiscalizar a imparcialidade e a lisura no exercício da jurisdição.
Garante a livre consulta dos autos por todos, bem como a presença pública em audiências arts.
155 e 444, do CPC.

Entretanto, não é absoluto o princípio, já que os atos processuais também não devem ser
divulgados sem qualquer cuidado. Com efeito, a publicidade será excepcionada nos casos em
que o interesse social ou mesmo particular exigem discrição e anonimato dos atos processuais.
Isso faz com que alguns atos gozem da máxima publicidade, como as hastas públicas, em que
se expedem editais, e a maioria das audiências processuais, enquanto outros gozem de
pouquíssima publicidade, como os atos que correm em “segredo de justiça”. São hipóteses em
que a intimidade das partes deve ser resguardada, por se tratar de questões personalíssimas,
que pouco importam a terceiros.

Assim, dispõe o artigo 155, do CPC, que:

Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de


justiça os processos:
I - em que o exigir o interesse público;
II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges,
conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores.

Nestes casos de “processo em segredo de justiça”, segundo dispõe o parágrafo único deste Art.
155: O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a
seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão
do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite (leia-se
separação judicial).

Para remover a aparente contradição entre este parágrafo e o art. 141–


V (e também art. 40, inciso I, do CPC, e art. 7º, XIII, da Lei nº 8.906/94,
acrescentamos), deve-se concluir que ele somente se refere aos
processos que correm em segrego de justiça; quanto aos demais, é
livre a consulta aos autos por advogado, e irrestrito o direito de pedir
certidões22.

Vale relembrar, no ponto, a norma do art. 93, IX, da Constituição Federal de 1988, a determinar
que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Para o CPC 2015:

Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os
processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde
que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de
pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou
separação.

4. ÔNUS PROCESSUAIS

É a situação em que a prática de determinado ato leva a parte a obter determinado efeito
processual ou impedir que ele ocorra.

NÃO CONFUNDIR!!!!!!! ÕNUS É DIFERENTE DE DEVER


- DEVER É OBRIGAÇÃO.
- ÔNUS É OPORTUNIDADE DE AGIR.

4.1 Classificação

QUADRO SINÓPTICO COM A CLASSIFICAÇÃO DOS ÔNUS PROCESSUAIS


Ônus perfeitos ou plenos Ônus imperfeitos ou diminuídos
Ocorre quando, da prática, ou não, de um Quando, a despeito de não se praticar
ato, ou do modo de praticá-lo, resulta uma determinado ato no prazo ou de determinada
situação irreversível; maneira, ainda assim poderá ser praticado,
sem que ocorra preclusão. Ex.: falta de
contestação em processos cujo objeto sejam
direitos indisponíveis.

O juiz não tem ônus. Tem o poder-dever de agir nos termos da lei, conduzindo o processo a
seu final, respeitando a igualdade das partes e aplicando corretamente a lei material ao caso
concreto.

5. DO TEMPO NO PROCESSO

22
NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 37ª edição atualizada até 10 de fevereiro de 2005,
p. 262, nota “6” ao art. 155 do CPC.
5.1 – Generalidades e princípios

A finalidade do processo é a composição de conflitos, para a satisfação da paz jurídica, donde


resulta que o processo deve encerrar-se o mais brevemente possível.

Daí porque a lei fixa prazos para a prática dos atos processuais, como também cria as chamadas
preclusões.

Partindo-se da ideia de que o processo deve marchar em direção ao provimento final (através
da sentença), e que essa marcha deve, como regra, ser permanente e progressiva, fixa a lei
prazos para a prática dos atos que compõem o procedimento e determina a perda da faculdade
de praticá-los transcorrido o tempo oportuno por ela fixado.

A teoria dos prazos (espaço de tempo entre dois termos, o inicial e o final) vincula-se a dois
princípios informativos do processo: princípio da paridade e princípio da brevidade.

A) Princípio da paridade de tratamento

As partes devem ser colocadas no mesmo pé de igualdade em todo o curso do processo, dando-
lhes prazos idênticos para a prática de idênticos atos processuais, sendo que as condições da
pessoa não devem influir na determinação dos prazos para a prática dos atos processuais.
Decorre do princípio da igualdade (art. 5º, caput, da CF/88 e art. 152, I, do CPC).

Não é absoluto o princípio, entretanto, abrindo-se-lhes as seguintes exceções:

a) tempo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, em favor da


Fazenda Pública e do Ministério Público – Art. 188, do CPC. Atende-se a condições
especiais desses litigantes. Pela relevância, multiplicidade e complexidade de suas
funções, necessitam, em prol do interesses público, dos interesses da própria
coletividade que representam, que se lhes dê mais tempo para a defesa de tais
interesses em juízo. Dependem de informações dos mais variados órgãos,
departamentos, divisões, de pareceres de seus técnicos, de autorizações de seus
dirigentes, etc.

b) art. 182, caput e parágrafo único, do CPC: possibilidade de o juiz prorrogar


quaisquer prazos legalmente fixados – por até sessenta dias, nas comarcas de
difícil acesso, ou por prazo indeterminado, em caso de calamidade pública. Justifica-
se tal exceção pelas condições do lugar.

c) art. 5º, § 5º, da Lei nº 1.060/50, na redação dada pela Lei nº 7.871/89: prazos em
dobro para defensores públicos ou quem exerça cargo equivalente, nos Estados
onde a assistência judiciária seja por eles organizada e mantida. Justifica-se
também pela especial qualidade do litigante (pessoa necessitada), e pela peculiar
situação de seu representante (defensor público).

As exceções apontadas, em verdade, vêm ao encontro do princípio da igualdade, na medida em


que, à igualdade formal garantida pela lei que prevê prazos iguais a ambas as partes, permite a
efetivação da igualdade substancial, consubstanciada no tratamento igual aos iguais e desigual
aos desiguais.

B) Princípio da brevidade:

O processo deve desenvolver-se e encerrar-se no menor prazo de tempo possível (sem prejuízo
do princípio da veracidade e da plenitude do contraditório bilateral). O interesse público é o de
que as demandas terminem o mais rapidamente possível, razão pela qual se impõe a máxima
simplificação da estrutura do processo, praticando-se o menor número possível de atos, e no
menor tempo possível (sempre atentando a que também sejam as causas suficientemente
instruídas para que sejam decididas com acerto).
5.2. Do tratamento da matéria no Código de Processo Civil

O Código utiliza determinações de tempo para a prática dos atos processuais sob dois ângulos
diferentes:

A) o de momento adequado ou útil para a atividade processual; e

B) o de prazo fixado para a prática do ato.

A primeira regra sobre o tempo hábil à prática dos atos processuais é a do art. 172, que determina
sejam eles realizados em dias úteis, entre as 6 e 20h. Os atos iniciados antes das 20h, todavia,
poderão ser concluídos depois desse horário, quando o adiamento prejudicar a diligência ou
causar grave dano.

Dias úteis são aqueles em há expediente forense, de modo que durante as férias e nos feriados
não se praticarão atos processuais, e, bem assim, aos sábados e domingos.

A citação e a penhora (e assim também o sequestro e o arresto, por força do que determinam
os arts. 821 e 823, do CPC) poderão ser realizadas em domingos e feriados ou, nos dias úteis,
fora do horário antes referido, desde que:

- trate-se de caso excepcional;

- haja autorização expressa do juiz; e,

- seja respeitada a garantia de inviolabilidade do domicílio, prevista no art.


5º, XI, da CF/88.

Quanto às intimações, também há autorização legal para que ocorram em dia em que não tenha
havido expediente forense, mas, em tal caso, considerar-se-ão realizadas no primeiro dia útil
seguinte, para todos os efeitos (art. 240, parágrafo único).

Com relação aos atos que devem ser praticados em determinado prazo e por meio de petição,
esta deverá ser apresentada no protocolo dentro do horário de expediente, nos termos da lei de
organização judiciária local, sendo que o horário útil para protocolar petições não é o genérico
do caput do art. 172 (20h), mas aquele fixado pela lei de organização judiciária para o término
do expediente.

Feriados e férias forenses

Consideram-se feriados os dias não úteis, isto é, aqueles em que não há expediente
forense, como os domingos, dias de festa nacional ou local e os sábados, quando as
normas de organização judiciária suspenderem a atividade judiciária nesses dias (art.
175).

Constituem dias não úteis, e equiparam-se aos feriados, os que se compreendem nos períodos
de férias da Justiça (na Justiça Federal o recesso vai de 20/12 a 06/01, inclusive).

Tanto nos feriados quanto nas férias, em regra, não se praticam atos processuais (art. 173). Em
caráter excepcional, porém, permite o Código a prática dos seguintes atos durante as férias e
nos feriados (art. 173, incisos I e II):

I - a produção antecipada de provas (art. 846);

II - a citação, a fim de evitar o perecimento de direito; e bem assim o arresto,


o sequestro, a penhora, a arrecadação, a busca e apreensão, o depósito, a prisão, a separação
de corpos, a abertura de testamento, os embargos de terceiro, a nunciação de obra nova e outros
atos análogos.
Nesses casos, o prazo para a resposta do réu só começará a correr no primeiro dia útil
seguinte ao feriado ou às férias. Ou seja, embora autorize a lei, nesses casos, a prática do ato
processual durante as férias, o andamento processual não se verifica nesse período.

Já nos casos previstos no art. 174, trata-se de processos que têm curso normal no período de
férias, ou seja, processam-se durante as férias e não se suspendem, como os demais, pela
superveniência delas. São eles:

I - os atos de jurisdição voluntária bem como os necessários à conservação


de direitos, quando possam ser prejudicados pelo adiamento;
II - as causas de alimentos provisionais, de dação ou remoção de tutores e
curadores, bem como as mencionadas no art. 275;
III - todas as causas que a lei federal determinar.

6. DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS

Os atos processuais realizam-se, de ordinário, na sede do Juízo (art. 176), ou seja, no edifício
do fórum ou do tribunal competente para a causa.
Nesses termos: a) o juiz utiliza seu gabinete para expedir os despachos, decisões e a sentença,
e a sala de audiências para as sessões públicas de colheita de provas orais, debates e
julgamento; b) o escrivão ou Diretor de Secretaria pratica os atos de documentação e
comunicação, geralmente, no Cartório ou Secretaria.
Inobstante, podem os atos processuais, excepcionalmente, realizar-se em locais diversos da
sede do Juízo, em razão de:

a) deferência;

b) interesse da justiça; ou,

c) obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz.

Exemplo de ato praticado fora da sede do Juízo pelo critério da deferência é o da tomada de
depoimento do Presidente da República, dos Governadores, Deputados, Senadores, Ministros
de Estado e demais pessoas arroladas no art. 411, do CPC, as quais serão inquiridas em sua
residência ou no local em que exercem sua função.
Exemplo de ato praticado fora da sede do Juízo por interesse da Justiça é a inspeção judicial in
loco (no local dos fatos), conforme disposto no art. 440, do CPC.
Em razão de obstáculo, o ato processual pode ser levado a efeito em lugar estranho à sede do
Juízo, por exemplo, na hipótese de oitiva de testemunha enferma (art. 336, parágrafo único, do
CPC).
Por fim, ainda quanto ao lugar dos atos processuais, convém referir que a jurisdição de cada juiz
está limitada ao território de sua circunscrição (de sua comarca). Assim, quando o ato processual
tiver de ser praticado em território sob jurisdição de outro Juízo, como a citação de réu ou a oitiva
de testemunha domiciliados em outra Comarca ou Subseção Judiciária, ter-se-á de utilizar carta
precatória, para que o ato se realize sob a jurisdição do órgão judiciário local competente. Nos
casos, porém, em que se admite a citação ou intimação por via postal, não prevalecem os limites
territoriais do Juízo, podendo tais atos alcançar qualquer comarca ou Subseção Judiciária do
país, conforme dispõe o caput do art. 222, do CPC.
4. Princípios fundamentais.

Princípio da Inafastabilidade do controle jurisdicional. Presente no art. 5o, XXXV, da CF, a


garantir ao cidadão não só o acesso à justiça quando se achar em situação de lesão ou ameaça
a direito, mas também o direito à efetiva e adequada tutela jurisdicional.

Princípio da imparcialidade do juiz. Reflete o culto de uma fundamental virtude democrática, que
é a igualdade. Quer-se o juiz imparcial, para que dê tratamento igual aos litigantes ao longo do
processo e na decisão da causa.

Princípio do juiz natural. A garantia desdobra-se em três conceitos: a) só são órgãos jurisdicionais
os instituídos pela Constituição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a
ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que
seja.

Princípio da igualdade. A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade


perante o juiz: da norma inscrita no art. 5o, caput, da Constituição, brota o princípio da igualdade
processual. As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham
as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.

Princípio do contraditório. Significa em primeiro lugar que a lei deve instituir meios para a
participação dos litigantes no processo e o juiz deve franquear-lhe esses meios. Significa também
que o próprio juiz deve participar da preparação do julgamento a ser feito, exercendo ele próprio
o contraditório.=> é constituído por 2 elementos: (i) informação; e (ii) reação. Ambos ligados ao
conceito de participação, que é a faceta básica do contraditório. Falar e ser ouvido no processo
é o mínimo do princípio do contraditório. Para Didier, elemento essencial é o “poder de
influência”. A parte deve participar do processo, mas em condições de poder influenciar a decisão
do magistrado. O contraditório não admite exceções, mesmo nos casos de urgência. Nestas
hipóteses o contraditório é postecipado para momento posterior à concessão do provimento de
urgência, como no caso das decisões liminares. Tratando-se de uma decisão provisória, poderá
ser revista.

Sendo o contraditório aplicável a ambas as partes, aplica-se a expressão “bilateralidade da


audiência” (representativa da paridade de armas entre as partes).
Nas demandas que têm como objeto direitos indisponíveis, o contraditório exige a efetiva reação
(a reação é jurídica, pois, mesmo que a parte não reaja faticamente, a própria lei prevê os efeitos
jurídicos da reação); nas que têm direitos disponíveis, basta que a parte tenha tido a
oportunidade de reagir.

CPC/2015:

Para Daniel Assumpção, não é feliz o novo CPC quando prevê que o juiz não proferirá decisão
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Para ele, não há qualquer ofensa
em decidir sem que a outra parte tenha sido ouvida, já que a manifestação dela é ônus
processual. A única compreensão possível do dispositivo legal é a de que a decisão não será
proferida antes de intimada a parte contrária e concedida a ela a oportunidade de manifestação.
De qualquer forma, o CPC traz exceções, tratando do chamado contraditório diferido:

Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento
a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que
se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Princípio da ação ou da demanda. Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício
da função jurisdicional. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do
interessado.

Princípio da disponibilidade. Chama-se poder dispositivo a liberdade que as pessoas têm de


exercer ou não seus direitos. Em direito processual tal poder é configurado pela possibilidade de
apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como de apresentá-la da maneira que melhor
lhes aprouver e renunciar a ela ou a certas situações processuais.

Princípio do impulso oficial. É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação
processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.

Princípio da publicidade. Constitui projeção da garantia constitucional do direito à informação


(CF, art., XIV). A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por
qualquer pessoa representam o mais seguro instrumento de fiscalização do exercício da
jurisdição. A regra geral da publicidade dos atos processuais encontra exceção nos casos em
que o decoro ou o interesse social aconselhem que eles não sejam divulgados.
Princípio do duplo grau de jurisdição. Indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das
causas já julgadas pelo juiz de 1o grau. Casos existem, porém, em que inexiste o duplo grau,
como nas hipóteses de competência originária do STF. Mas se tratam de exceções
constitucionais ao princípio, também constitucional. A lei maior pode excepcionar suas próprias
regras.

Princípio da motivação das decisões judiciais. Apresenta-se como verdadeira garantia de ordem
política ou garantia da própria jurisdição, dirigindo-se não só às partes e aos juízes de 2o grau,
mas à comunidade como um todo. O mencionado pórtico constitucional compreende o dever que
tem o juiz de analisar as questões postas a seu julgamento, explicitando as razões pelas quais
chegou às conclusões adotadas. Cândido Dinamarco não considera tal dever como um princípio,
conquanto entenda constituir relevante garantia constitucional ínsita à cláusula do due process
of law.

Segundo o § 1° do artigo 489 do CPC 2015:

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.

Princípio do devido processo legal. Em sentido meramente processual, constitui fórmula sintética
destinada a afirmar a indispensabilidade de todas as garantias inerentes ao processo, tais como
o direito ao contraditório, ampla defesa, juiz natural, à motivação das decisões, etc. Considerado
seu aspecto substancial, consiste em um vínculo autolimitativo do poder estatal, fornecendo
meios de censurar a própria legislação e ditar a ilegitimidade de leis que afrontem as bases do
regime democrático. Em resumo, o contexto de garantias tipificadas e atípicas contidas na
fórmula due process of law oferece aos litigantes um direito ao processo justo, com
oportunidades reais e equilibradas.
=> Segundo Carlos Augusto de Assis, “o devido processo legal, na sua dimensão substancial,
tem correspondência com o chamado ‘princípio da proporcionalidade’, disseminado na Europa
Continental ”.
STF: O Brasil tem Constituição de inspiração americana, mas a legislação complementar tem
influência europeia continental. Os princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do
DPL, para o Professor (Didier – caderno). De acordo com Paulo Bonavides, contudo, os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do princípio da igualdade e não do
devido processo legal.
 O princípio da Boa fé objetiva também se aplica ao processo civil, por estar contido no
devido processo legal (STF – vide julgado abaixo – transcrevi parte do acórdão):
A BFO surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida
para todos os demais ramos do direito, inclusive os de direito público, como é o caso do
Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos
próprios (venire contra factum proprium) é aplicada ao poder público, sendo possível
ainda a aplicação da boa-fé objetiva no Processo Civil (Fredie Didier Jr. - Curso de Direito
Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 13ª ed., 2011, p. 66 e ss).
- fundamento constitucional: civilistas apontam dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88); processualistas o fundamentam com base no princípio do devido
processo legal. Essa é também a posição do STF: RE 464.963-2/GO.
Previsão legal: CPC/Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé (doutrina tradicional
diz é a boa-fé subjetiva; a contemporânea diz que é a boa fé objetiva, que seria cláusula
geral processual que proíbe quaisquer hipóteses de comportamento desleal pelos
sujeitos do processo) => do site dizer o direito.
STF RE 464.963-2/GO, Rel. Min. GILMAR MENDES, J. 14/02/2006 (EMENTA:
Recurso extraordinário. 2. Diretor-geral de Tribunal Regional Eleitoral. Exercício da
advocacia. Incompatibilidade. Nulidade dos atos praticados. 3. Violação aos princípios
da moralidade e do devido processo legal (fair trial). 4. Acórdão recorrido cassado.
Retorno dos autos para novo julgamento. 5. Recurso extraordinário conhecido e
provido): “o princípio do DPL assegura que todo julgamento seja realizado com a
observância das regras procedimentais previamente estabelecidas, e, além disso,
representa uma exigência de ‘fair trial’, no sentido de garantir a participação
equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé e ética dos sujeitos
processuais. A máxima do fair trial é uma das faces do DPL positivado na CF/88, a
qual assegura um modelo garantista de jurisdição, voltado para a proteção efetiva
dos direitos individuais e coletivos, e que depende, para o seu pleno
funcionamento, da boa-fé e lealdade dos sujeitos que dele participam, condição
indispensável para a correção e legitimidade do conjunto de atos, relações e
processos jurisdicionais e administrativos. Nesse sentido, tal princípio possui um
âmbito de proteção alargado, que exige o fair trial não apenas dentre aqueles que
fazem parte da relação processual, ou que atuam diretamente no processo, mas
de todo o aparato jurisdicional, o que abrange todos os sujeitos, instituições e
órgãos, públicos e provados, que exercem, direta ou indiretamente, funções
qualificadas constitucionalmente como essenciais à Justiça”.
- STJ também já aplicou BFO: PROCESSUAL CIVIL. TEMPESTIVIDADE DA
APELAÇÃO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. HOMOLOGAÇÃO ANTES DE SER
PUBLICADA A DECISÃO RECORRIDA. IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE ATO
ENQUANTO PARALISADA A MARCHA PROCESSUAL. HIPÓTESE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM A ALEGADA MODIFICAÇÃO DE PRAZO PEREMPTÓRIO. BOA-FÉ
DO JURISDICIONADO. SEGURANÇA JURÍDICA E DEVIDO PROCESSO LEGAL.
NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
“8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,
em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus
corolários - princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso
ordenamento jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o
termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em
seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais,
considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação
processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do
princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima
nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito
processual. Precedentes do STJ.
11. Recurso Especial provido” (REsp 1306463/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 11/09/2012)

Como manifestação da boa-fé objetiva, o CPC 2015 traz expressamente, como dever, que todos
os sujeitos do processo cooperem entre si para que se obtenha a solução do processo com
efetividade e em tempo razoável. Traz, ainda, de forma expressa, que aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé e que todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva.
4. Princípios fundamentais.

Princípio da Inafastabilidade do controle jurisdicional. Presente no art. 5o, XXXV, da CF, a


garantir ao cidadão não só o acesso à justiça quando se achar em situação de lesão ou ameaça
a direito, mas também o direito à efetiva e adequada tutela jurisdicional.

Princípio da imparcialidade do juiz. Reflete o culto de uma fundamental virtude democrática, que
é a igualdade. Quer-se o juiz imparcial, para que dê tratamento igual aos litigantes ao longo do
processo e na decisão da causa.

Princípio do juiz natural. A garantia desdobra-se em três conceitos: a) só são órgãos jurisdicionais
os instituídos pela Constituição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a
ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que
seja.

Princípio da igualdade. A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade


perante o juiz: da norma inscrita no art. 5o, caput, da Constituição, brota o princípio da igualdade
processual. As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham
as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.

Princípio do contraditório. Significa em primeiro lugar que a lei deve instituir meios para a
participação dos litigantes no processo e o juiz deve franquear-lhe esses meios. Significa também
que o próprio juiz deve participar da preparação do julgamento a ser feito, exercendo ele próprio
o contraditório.=> é constituído por 2 elementos: (i) informação; e (ii) reação. Ambos ligados ao
conceito de participação, que é a faceta básica do contraditório. Falar e ser ouvido no processo
é o mínimo do princípio do contraditório. Para Didier, elemento essencial é o “poder de
influência”. A parte deve participar do processo, mas em condições de poder influenciar a decisão
do magistrado. O contraditório não admite exceções, mesmo nos casos de urgência. Nestas
hipóteses o contraditório é postecipado para momento posterior à concessão do provimento de
urgência, como no caso das decisões liminares. Tratando-se de uma decisão provisória, poderá
ser revista.

Sendo o contraditório aplicável a ambas as partes, aplica-se a expressão “bilateralidade da


audiência” (representativa da paridade de armas entre as partes).
Nas demandas que têm como objeto direitos indisponíveis, o contraditório exige a efetiva reação
(a reação é jurídica, pois, mesmo que a parte não reaja faticamente, a própria lei prevê os efeitos
jurídicos da reação); nas que têm direitos disponíveis, basta que a parte tenha tido a
oportunidade de reagir.

CPC/2015:

Para Daniel Assumpção, não é feliz o novo CPC quando prevê que o juiz não proferirá decisão
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Para ele, não há qualquer ofensa
em decidir sem que a outra parte tenha sido ouvida, já que a manifestação dela é ônus
processual. A única compreensão possível do dispositivo legal é a de que a decisão não será
proferida antes de intimada a parte contrária e concedida a ela a oportunidade de manifestação.
De qualquer forma, o CPC traz exceções, tratando do chamado contraditório diferido:

Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento
a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que
se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Princípio da ação ou da demanda. Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício
da função jurisdicional. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do
interessado.

Princípio da disponibilidade. Chama-se poder dispositivo a liberdade que as pessoas têm de


exercer ou não seus direitos. Em direito processual tal poder é configurado pela possibilidade de
apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como de apresentá-la da maneira que melhor
lhes aprouver e renunciar a ela ou a certas situações processuais.

Princípio do impulso oficial. É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação
processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.

Princípio da publicidade. Constitui projeção da garantia constitucional do direito à informação


(CF, art., XIV). A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por
qualquer pessoa representam o mais seguro instrumento de fiscalização do exercício da
jurisdição. A regra geral da publicidade dos atos processuais encontra exceção nos casos em
que o decoro ou o interesse social aconselhem que eles não sejam divulgados.
Princípio do duplo grau de jurisdição. Indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das
causas já julgadas pelo juiz de 1o grau. Casos existem, porém, em que inexiste o duplo grau,
como nas hipóteses de competência originária do STF. Mas se tratam de exceções
constitucionais ao princípio, também constitucional. A lei maior pode excepcionar suas próprias
regras.

Princípio da motivação das decisões judiciais. Apresenta-se como verdadeira garantia de ordem
política ou garantia da própria jurisdição, dirigindo-se não só às partes e aos juízes de 2o grau,
mas à comunidade como um todo. O mencionado pórtico constitucional compreende o dever que
tem o juiz de analisar as questões postas a seu julgamento, explicitando as razões pelas quais
chegou às conclusões adotadas. Cândido Dinamarco não considera tal dever como um princípio,
conquanto entenda constituir relevante garantia constitucional ínsita à cláusula do due process
of law.

Segundo o § 1° do artigo 489 do CPC 2015:

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.

Princípio do devido processo legal. Em sentido meramente processual, constitui fórmula sintética
destinada a afirmar a indispensabilidade de todas as garantias inerentes ao processo, tais como
o direito ao contraditório, ampla defesa, juiz natural, à motivação das decisões, etc. Considerado
seu aspecto substancial, consiste em um vínculo autolimitativo do poder estatal, fornecendo
meios de censurar a própria legislação e ditar a ilegitimidade de leis que afrontem as bases do
regime democrático. Em resumo, o contexto de garantias tipificadas e atípicas contidas na
fórmula due process of law oferece aos litigantes um direito ao processo justo, com
oportunidades reais e equilibradas.
=> Segundo Carlos Augusto de Assis, “o devido processo legal, na sua dimensão substancial,
tem correspondência com o chamado ‘princípio da proporcionalidade’, disseminado na Europa
Continental ”.
STF: O Brasil tem Constituição de inspiração americana, mas a legislação complementar tem
influência europeia continental. Os princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do
DPL, para o Professor (Didier – caderno). De acordo com Paulo Bonavides, contudo, os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do princípio da igualdade e não do
devido processo legal.
 O princípio da Boa fé objetiva também se aplica ao processo civil, por estar contido no
devido processo legal (STF – vide julgado abaixo – transcrevi parte do acórdão):
A BFO surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida
para todos os demais ramos do direito, inclusive os de direito público, como é o caso do
Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos
próprios (venire contra factum proprium) é aplicada ao poder público, sendo possível
ainda a aplicação da boa-fé objetiva no Processo Civil (Fredie Didier Jr. - Curso de Direito
Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 13ª ed., 2011, p. 66 e ss).
- fundamento constitucional: civilistas apontam dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88); processualistas o fundamentam com base no princípio do devido
processo legal. Essa é também a posição do STF: RE 464.963-2/GO.
Previsão legal: CPC/Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé (doutrina tradicional
diz é a boa-fé subjetiva; a contemporânea diz que é a boa fé objetiva, que seria cláusula
geral processual que proíbe quaisquer hipóteses de comportamento desleal pelos
sujeitos do processo) => do site dizer o direito.
STF RE 464.963-2/GO, Rel. Min. GILMAR MENDES, J. 14/02/2006 (EMENTA:
Recurso extraordinário. 2. Diretor-geral de Tribunal Regional Eleitoral. Exercício da
advocacia. Incompatibilidade. Nulidade dos atos praticados. 3. Violação aos princípios
da moralidade e do devido processo legal (fair trial). 4. Acórdão recorrido cassado.
Retorno dos autos para novo julgamento. 5. Recurso extraordinário conhecido e
provido): “o princípio do DPL assegura que todo julgamento seja realizado com a
observância das regras procedimentais previamente estabelecidas, e, além disso,
representa uma exigência de ‘fair trial’, no sentido de garantir a participação
equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé e ética dos sujeitos
processuais. A máxima do fair trial é uma das faces do DPL positivado na CF/88, a
qual assegura um modelo garantista de jurisdição, voltado para a proteção efetiva
dos direitos individuais e coletivos, e que depende, para o seu pleno
funcionamento, da boa-fé e lealdade dos sujeitos que dele participam, condição
indispensável para a correção e legitimidade do conjunto de atos, relações e
processos jurisdicionais e administrativos. Nesse sentido, tal princípio possui um
âmbito de proteção alargado, que exige o fair trial não apenas dentre aqueles que
fazem parte da relação processual, ou que atuam diretamente no processo, mas
de todo o aparato jurisdicional, o que abrange todos os sujeitos, instituições e
órgãos, públicos e provados, que exercem, direta ou indiretamente, funções
qualificadas constitucionalmente como essenciais à Justiça”.
- STJ também já aplicou BFO: PROCESSUAL CIVIL. TEMPESTIVIDADE DA
APELAÇÃO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. HOMOLOGAÇÃO ANTES DE SER
PUBLICADA A DECISÃO RECORRIDA. IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE ATO
ENQUANTO PARALISADA A MARCHA PROCESSUAL. HIPÓTESE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM A ALEGADA MODIFICAÇÃO DE PRAZO PEREMPTÓRIO. BOA-FÉ
DO JURISDICIONADO. SEGURANÇA JURÍDICA E DEVIDO PROCESSO LEGAL.
NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
“8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,
em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus
corolários - princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso
ordenamento jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o
termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em
seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais,
considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação
processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do
princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima
nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito
processual. Precedentes do STJ.
11. Recurso Especial provido” (REsp 1306463/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 11/09/2012)

Como manifestação da boa-fé objetiva, o CPC 2015 traz expressamente, como dever, que todos
os sujeitos do processo cooperem entre si para que se obtenha a solução do processo com
efetividade e em tempo razoável. Traz, ainda, de forma expressa, que aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé e que todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva.
5. Meios de Prova

Fontes e meios de prova:

Não se confundem os conceitos de fonte e meios de prova. As fontes são aqueles


elementos externos ao processo, dos quais se podem extrair informações relevantes para a
comprovação do alegado.

Com elas não se confundem os meios de prova, que são os métodos gerais usados nos
processos para a investigação do fato. Os meios de prova são internos ao processo e genéricos,
ao contrário das fontes, que são externas e específicas.

-Liberdade dos meios de prova: ( art. 332, CPC)

Vige o princípio da liberdade da prova, que, como toda regra, comporta exceções, que
são as provas ilícitas.

*Meios de prova inominados (provas atípicas).

As provas atípicas são, pois, aquelas em que se busca a obtenção de conhecimentos


sobre fatos por normas diversas daquela prevista na lei para as chamadas provas típicas.

*Poderes instrutórios do juiz:


Hoje em dia, tal como previsto no art. 130 do CPC, predomina o entendimento de que
ao juiz são reconhecidos amplos poderes instrutórios, qualquer que seja a natureza da relação
jurídica debatida no processo.
Princípio dispositivo: Respeita às questões deduzidas em juízo, não podendo o juiz conhecer de
matéria a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte. Proposta a ação por iniciativa da parte, o
processo se desenvolve por impulso oficial (CPC, art. 262). O poder instrutório do juiz,
principalmente de determinar ex officio a realização de provas que entender pertinentes, não se
configura como exceção ao princípio dispositivo.

Como não poderia deixar de ser, na medida em que nenhum poder é absoluto, a iniciativa
probatória do juiz sofre algumas limitações. Tal poder deve ser exercido sem que o julgador
desmereça os demais princípios que norteiam o processo civil.

MEIOS DE PROVA

Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se
funda a ação ou a defesa.
Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova
quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
Art. 334. Não dependem de prova os fatos:
I - notórios;
II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
III - admitidos, no processo, como incontroversos;
IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.
Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de
experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece
e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial.
Art. 336. Salvo disposição especial em contrário, as provas devem ser produzidas em
audiência.
Parágrafo único. Quando a parte, ou a testemunha, por enfermidade, ou por outro
motivo relevante, estiver impossibilitada de comparecer à audiência, mas não de
prestar depoimento, o juiz designará, conforme as circunstâncias, dia, hora e lugar
para inquiri-la.
Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.
Art. 338. A carta precatória e a carta rogatória suspenderão o processo, no caso
previsto na alínea b do inciso IV do art. 265 desta Lei, quando, tendo sido requeridas
antes da decisão de saneamento, a prova nelas solicitada apresentar-se
imprescindível. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de 2006)
Parágrafo único. A carta precatória e a carta rogatória, não devolvidas dentro do prazo
ou concedidas sem efeito suspensivo, poderão ser juntas aos autos até o julgamento
final.
Art. 339. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.
Art. 340. Além dos deveres enumerados no art. 14, compete à parte:
I - comparecer em juízo, respondendo ao que Ihe for interrogado;
II - submeter-se à inspeção judicial, que for julgada necessária;
III - praticar o ato que Ihe for determinado.
Art. 341. Compete ao terceiro, em relação a qualquer pleito:
I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias, de que tenha conhecimento;
II - exibir coisa ou documento, que esteja em seu poder.

Os meios de prova são os instrumentos, pessoais ou materiais, levados ao processo


para demonstrar a verdade dos fatos ao Juiz. No que tange aos meios de prova, devem ser
observados os princípios da moralidade e legalidade. É que, no direito positivo brasileiro, são
admissíveis como meios de prova aqueles denominados de juridicamente idôneos (ou seja, os
meios legais) e os moralmente legítimos => Meio de prova é o modo pelo qual se extrai prova da
fonte e se introduz a prova no processo. É uma técnica.

 Princípio da liberdade (ou atipicidade) dos meios de prova: não há tipicidade estrita aos
meios de prova, desde que moralmente legítimos, e os meios definidos em lei fazem
parte do rol meramente exemplicativo:
Art. 332 do CPC: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos,
em que se funda a ação ou a defesa”.

O CC/02 indica, em seu art. 212, IV, que a presunção é meio de prova, o que é
encampado pelo artigo 335 do CPC, constituindo espécie de prova indireta, pois não se vale da
verificação imediata do fato a ser provado, quando muito de um raciocínio dedutivo elaborado a
partir de fato secundário e conhecido (CPC interpretado – coord. Marcato, 3ª ed. – p. 1049) =>
art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum
subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da
experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial.

O rol previsto no CPC apresenta-se na seguinte ordem:


a) depoimento pessoal;
b) confissão;
c) exibição de documento ou coisa;
d) prova documental;
e) prova testemunhal;
f) prova pericial;
g) inspeção judicial.
Outros meios de prova admitidos e não previstos expressamente no CPC:
a) reconhecimento de pessoas ou coisas;
b) prova emprestada: embora a doutrina aponte a prova emprestada como meio de prova,
verifica-se que o aproveitamento de prova extraída de outro processo não desnatura o
instrumento probatório respectivo (CPC Interpretado – Marcato coord).

A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não tenha
participado do processo originário onde foi produzida. É admissível, assegurado o contraditório,
a prova emprestada vinda de processo do qual não participaram as partes do processo para o
qual a prova será trasladada. A prova emprestada não pode se restringir a processos em que
figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem
justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o direito de se
insurgir contra a prova trazida e de impugná-la. STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2014 (Info 543)

Requisitos para a validade da prova emprestada:


a) existência da prova, reconhecida por sentença transitada em julgado;
b) sujeição da prova às pessoas litigantes;
c) observância do contraditório.

É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente


produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal não
repercute na instância administrativa, tendo em vista a independência existente entre as
instâncias. STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013
(Info 521).

Não existe, em princípio, hierarquia entre os meios de prova. Isso se extrai em face do princípio
da persuasão racional, previsto no art. 131 do CPC. Deve-se ressalvar a prova legal, cuja
aceitação e valoração estão previstas antecipadamente na lei, prevalecendo sobre todo e
qualquer meio de prova. O princípio da persuasão racional fica mitigado em face da prova legal.
A doutrina estabelece uma prevalência de eficácia entre os meios de prova, na seguinte ordem:
a) prova legal;
b) confissão;
c) prova pericial;
d) prova documental;
e) prova testemunhal;
f) indícios e presunções.

Art. 334. Não dependem de prova os fatos:


I - notórios;
II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
III - admitidos, no processo, como incontroversos;
IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade

STJ, Sumula 381: nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da
abusividade das cláusulas.

Ônus da prova:
CPC: adotou a teoria estática do ônus da prova, que prevê distribuição prévia e rígida do ônus
da prova. Regra: o ônus é de quem alega (art. 333 CPC) => CDC: distribuição da dinâmica do
ônus da prova – teoria das cargas probatórias.

Julgados STJ:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO
CUMULADA COM REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. FATO IMPEDITIVO E
MODIFICATIVO DO DIREITO DO AUTOR. ÔNUS DA PROVA. ART. 333, II, DO CPC.
INCUMBÊNCIA DO RÉU. INDEVIDA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) 2. Ao alegar fatos impeditivos/modificativos do direito do autor na contestação, a recorrida
assumiu o ônus da prova quanto ao que sustentou, na forma do art. 333, II, do CPC.
3. Estando incontroversos nos autos os fatos alegados e tendo os réus apresentado defesa
indireta, os autores não podem ser surpreendidos com a imposição, pelo Tribunal de origem, de
um ônus que antes não lhes cabia. Assim concluindo, o acórdão incorreu em violação ao art.
333, II, do CPC.
4. Incumbe, portanto, aos réus o ônus de demonstrar a extensão dos fatos que impliquem
modificação ou extinção do direito dos autores.
(REsp 1261311/CE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
14/02/2012, DJe 26/04/2012)

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR. LEI 8.078/90, ART. 6º, INC. VIII. REGRA DE INSTRUÇÃO. DIVERGÊNCIA
CONFIGURADA.
(...)3. A regra de imputação do ônus da prova estabelecida no art. 12 do CDC tem por
pressuposto a identificação do responsável pelo produto defeituoso (fabricante, produtor,
construtor e importador), encargo do autor da ação, o que não se verificou no caso em exame.
4. Não podendo ser identificado o fabricante, estende-se a responsabilidade objetiva ao
comerciante (CDC, art. 13). Tendo o consumidor optado por ajuizar a ação contra suposto
fabricante, sem comprovar que o réu foi realmente o fabricante do produto defeituoso, ou seja,
sem prova do próprio nexo causal entre ação ou omissão do réu e o dano alegado, a inversão
do ônus da prova a respeito da identidade do responsável pelo produto pode ocorrer com base
no art. 6º, VIII, do CDC, regra de instrução, devendo a decisão judicial que a determinar ser
proferida "preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-
se à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura de oportunidade" (RESP
802.832, STJ 2ª Seção, DJ 21.9.2011).
(EREsp 422778/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p/ Acórdão Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 21/06/2012)

Depoimento Pessoal:

Seção II
Do Depoimento Pessoal
Art. 342. O juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o
comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da
causa.
Art. 343. Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte requerer
o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de instrução e
julgamento.
§ 1o A parte será intimada pessoalmente, constando do mandado que se
presumirão confessados os fatos contra ela alegados, caso não compareça ou,
comparecendo, se recuse a depor.
§ 2o Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo, se recusar a depor, o
juiz Ihe aplicará a pena de confissão.
art. 344. A parte será interrogada na forma prescrita para a inquirição de
testemunhas.
Parágrafo único. É defeso, a quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da
outra parte.
Art. 345. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que Ihe for
perguntado, ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e
elementos de prova, declarará, na sentença, se houve recusa de depor.
Art. 346. A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo
servir-se de escritos adrede preparados; o juiz Ihe permitirá, todavia, a consulta a
notas breves, desde que objetivem completar esclarecimentos.
Art. 347. A parte não é obrigada a depor de fatos:
I - criminosos ou torpes, que Ihe forem imputados;
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.
Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de filiação, de desquite e
de anulação de casamento.

Representa o testemunho prestado por uma das partes em juízo e tem dois objetivos: trazer
esclarecimentos acerca dos fatos da causa (fatos controvertidos e relevantes alegados pelas
partes) e provocar a confissão.
Intimada a parte para comparecer à audiência de instrução e julgamento a fim de prestar
depoimento pessoal, e não sendo atendida a determinação judicial, ou seja, ficando a parte
que deveria depor ausente daquele ato processual, deverá ser aplicada a “pena de confissão”,
o que significa dizer que se considerará que a parte contumaz confessou os fatos sobre os
quais deveria prestar depoimento.
Trata-se, entretanto, de confissão presumida, e não, de confissão ficta. Presunção relativa, iuris
tantum, que poderá, portanto, ser ilidida pelo conjunto probatório constante dos autos.
A parte será interrogada na forma prescrita para a inquirição de testemunhas, sendo defeso, a
quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da outra parte. Sobre o assunto, considerando
que em primeiro lugar deve depor o autor, para que somente após o réu preste o seu
depoimento, tem-se que, em função da garantia da ampla defesa, a regra aqui considerada
pode sofrer alterações, invertendo-se a ordem dos depoimentos.
Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe for perguntado, ou
empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e elementos de prova,
declarará, na sentença, se houver recusa de depor.
A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos
adrede preparados, sendo-lhe permitido, todavia, a consulta a notas breves, desde que
objetivem completar esclarecimentos.
Por fim, a parte não é obrigada a depor de fatos criminosos ou torpes, que lhe forem imputados,
e de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo, salvo se a ação versar
sobre filiação, desquite ou anulação de casamento.

CPC 2015: não diferencia depoimento pessoal e interrogatório, o qual deixou de ser meio de
prova, transformando-se em produção do depoimento pessoal. Explicitou que pode ser
requerido pelo Ministério Público (o que já era aceito pela jurisprudência).
Acrescenta outras possibilidades para a dispensa do dever de responder às perguntas, quais
sejam: fatos acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de
seu companheiro ou de parente em grau sucessível; e fatos que coloquem em perigo a vida do
depoente ou das pessoas referidas no inciso III.
Também prevê que o depoimento pessoal da parte que residir em comarca, seção ou subseção
judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser colhido por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo
real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento.

Confissão:

Seção III
Da Confissão
Art. 348. Há confissão, quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao
seu interesse e favorável ao adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial.
Art. 349. A confissão judicial pode ser espontânea ou provocada. Da confissão
espontânea, tanto que requerida pela parte, se lavrará o respectivo termo nos autos; a
confissão provocada constará do depoimento pessoal prestado pela parte.
Parágrafo único. A confissão espontânea pode ser feita pela própria parte, ou por
mandatário com poderes especiais.
Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes.
Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre
imóveis alheios, a confissão de um cônjuge não valerá sem a do outro.
Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos a direitos
indisponíveis.
Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser revogada:
I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita;
II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da qual
constituir o único fundamento.
Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a ação, nos casos de que
trata este artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.
Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente,
tem a mesma eficácia probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento,
será livremente apreciada pelo juiz.
Parágrafo único. Todavia, quando feita verbalmente, só terá eficácia nos casos em
que a lei não exija prova literal.
Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser
invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for
desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.

Confissão é a admissão, por alguma das partes, de fato contrário aos seus interesses e favorável
ao adversário.
Não se pode confundir a confissão com o reconhecimento jurídico do pedido, que tem por objeto
as próprias pretensões do autor e só pode emanar do réu ou de algum dos litisconsortes.
Pode ser judicial ou extrajudicial.
A confissão judicial pode ser espontânea ou provocada. A confissão espontânea pode ser feita
pela própria parte, ou por mandatário com poderes especiais. Da confissão espontânea, tanto
que requerida pela parte, se lavrará o respectivo termo nos autos. A confissão provocada, por
sua vez, constará do depoimento pessoal prestado pela parte.
De acordo com o CPC, a confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes. Todavia, pelo princípio da comunhão da prova, a confissão será
valorada pelo juiz, destinatário direto da mesma, e poderá servir de base para a formação de
seu convencimento, sendo ilógico admitir a possibilidade de o juiz considerar que o fato
confessado ocorreu para o confitente e não ocorreu para os demais.
Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre imóveis alheios, a confissão de
um cônjuge não valerá sem a do outro.
A confissão somente pode versar sobre fatos concernentes a direitos disponíveis e, quando
emanar de erro, dolo ou coação, poderá ser revogada por ação anulatória, se pendente o
processo em que foi feita; ou através de ação rescisória, depois de transitada em julgado a
sentença, da qual constituir o único fundamento, cabendo ao confitente o direito de propor as
referidas ações, mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.
A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente, tem a mesma eficácia
probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será livremente apreciada pelo
juiz. Todavia, quando feita verbalmente, só terá eficácia nos casos em que a lei não exija prova
literal.
A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-
la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia,
quando o confitente lhe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de
direito material ou de reconvenção => trata-se da confissão complexa, a única que pode ser
cindida (juiz pode pegar a confissão complexa e separá-la, ficando apenas com a confissão,
deixando a alegação de fora – nas outras confissões o juiz deve examiná-la por inteiro), sendo
espécie de defesa indireta, na qual o réu reconhece os fatos do autor mas traz fato novo que
modifica, extingue ou impede o que o autor pretende.
Prevista no artigo 354 do CPC: “art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a
parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que
Ihe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção”.

STJ: TAC não gera confissão:


AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMÓVEL. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. PROJETO DE RECUPERAÇÃO APRESENTADO.
DECISÃO PELA NÃO-CONFIGURAÇÃO DE PERDA DO OBJETO DA AÇÃO. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO. INEXISTÊNCIA DAS CONTRADIÇÕES APONTADAS. TERMO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA. ALEGADA CONFISSÃO. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DA
SÚMULA N. 284/STF. (...) 5. A pretensão do recorrente em configurar confissão a assinatura
do termo de compromisso de ajustamento confissão não pode prosperar, pois o recorrente
alega violação ao artigo 348 do CPC, e deste artigo não se tira a tese alegada em recurso
especial (o referido dispositivo apenas afirma que a confissão é um meio típico de prova). É
necessária a indicação do dispositivo da legislação infraconstitucional federal sobre o qual recai
a divergência, sob pena de atração da Súmula n. 284 do Supremo Tribunal Federal, por
analogia (fundamentação deficiente). Precedentes. (REsp 1204134/SP, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 03/02/2011)

CPC 2015: corrige o equívoco do CPC 1973, estabelecendo que a confissão é irrevogável, mas
pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. Apesar da omissão, continua
cabível a ação rescisória após o trânsito em julgado da decisão.
Elimina a diferença entre a confissão extrajudicial por escrito ou verbal (a primeira, segundo o
CPC 1973, tem a mesma carga de convencimento da confissão judicial; a segunda, é
livremente apreciada pelo juiz), em homenagem ao livre convencimento motivado do juiz.

Exibição de documento ou coisa:

Seção IV
Da Exibição de Documento ou Coisa
Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em
seu poder.
Art. 356. O pedido formulado pela parte conterá:
I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou
a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.
Art. 357. O requerido dará a sua resposta nos 5 (cinco) dias subseqüentes à sua
intimação. Se afirmar que não possui o documento ou a coisa, o juiz permitirá que o
requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade.
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de
constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio
do documento ou da coisa, a parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do
art. 357;
II - se a recusa for havida por ilegítima.
Art. 360. Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz mandará
citá-lo para responder no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 361. Se o terceiro negar a obrigação de exibir, ou a posse do documento ou da
coisa, o juiz designará audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o das
partes e, se necessário, de testemunhas; em seguida proferirá a sentença.
Art. 362. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe
ordenará que proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no
prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver;
se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando,
se necessário, força policial, tudo sem prejuízo da responsabilidade por crime de
desobediência.
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - se concernente a negócios da própria vida da família; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem
como a seus parentes consangüíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar
perigo de ação penal; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V disserem respeito só a uma
parte do conteúdo do documento, da outra se extrairá uma suma para ser apresentada
em juízo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Trata-se, aqui, em verdade, de demanda autônoma, de índole cautelar, e não, de meio de prova.
O CPC regula a demanda cautelar de exibição em dois locais distintos, conforme seja a
demanda antecedente ou incidente ao processo principal. Enquanto a “ação de exibição
antecedente”, preparatória do processo principal cuja efetividade visa garantir, encontra sua
regulamentação nos arts. 844 e 845, a “ação cautelar de exibição”, incidente ao processo
principal está regulada pelos arts. 355 a 363.
O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em seu poder.
Legitimado ativo para a exibição é qualquer das partes, sendo legitimado passivo seu adversário
no processo principal ou terceiro em cujo poder se encontre o documento ou a coisa e, em
cada uma dessas hipóteses, haverá um procedimento diferente a ser obedecido.
Na petição inicial da “ação de exibição”, além dos requisitos de qualquer petição inicial, deverá
haver a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; a finalidade da
prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; e as circunstâncias
em que se funda o requerente para afirmar a existência do documento ou da coisa, bem como
sua localização em mãos do requerido. Este será citado para responder em cinco dias (se se
tratar do adversário do requerente no processo principal) ou em dez dias (se for terceiro
estranho ao processo para onde se pretende carrear a prova).
A exibição será dispensada: se concernente a negócios da própria vida da família; se a sua
apresentação puder violar dever de honra; se a publicidade do documento redundar em
desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o
terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal; se a exibição acarretar a divulgação
de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo; ou se subsistirem
outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa de
exibição. Todavia, se os motivos disserem respeito só a uma parte do conteúdo do documento,
da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo.
Não se encaixando em tais situações, o requerido terá que exibir a coisa ou o documento que se
encontre em seu poder e, em não cumprindo a ordem, o juiz considerará verdadeiros os fatos
que o requerente pretendia provar através da exibição (quando o requerido for seu adversário
no processo principal – art. 359); ou expedirá mandado de apreensão se o requerido for terceiro
(art. 362).

Súmulas pertinentes:
S. 389/STJ: a comprovação do pagamento do custo do serviço referente ao fornecimento de
certidão de assentamentos constantes dos livros da companhia é requisito de procedibilidade da
ação de exibição de documentos ajuizada em face de sociedade anônima.

S. 372/STJ: na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa cominatória.

S. 390/STF: A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como medida preventiva.

S. 260/STF: o exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às transações entre os
litigantes.

CPC 2015: como novidade, o CPC 2015 prevê que, sendo necessário, o juiz pode adotar, contra
a parte, medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que o documento
seja exibido, o que, segundo Daniel Assumpção, é incompreensível, pois a não exibição
permite a conclusão da veracidade dos fatos que se pretendia provar. Como já há
consequência para a não exibição (que é ônus e não dever processual), não há qualquer
necessidade de atos executivos.
Quando o pedido de exibição se dirigir a terceiro, o CPC 2015 aumenta o prazo de resposta para
15 dias. Além disso, prevê outras consequências para o caso de descumprimento da ordem,
nos seguintes termos: se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de
apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por
crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão.

Prova Documental: documento é toda atestação gravada ou escrita de um fato. A sua noção é,
portanto, bastante ampla, alcançando não só os instrumentos escritos como também
fotografias, filmes, gravações de sons e assemelhados.
A prova documental deve ser produzida com a petição inicial e com a contestação. Só é
admissível a juntada posterior de documentos quando sua apresentação no momento em
princípio oportuno não foi possível por legítimo impedimento.
O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão,
o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença. Em sendo incompetente
o oficial responsável pela lavratura do documento, este terá o mesmo valor probante de um
documento particular, assim como se feito sem a observância das determinações legais.
Quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público, nenhuma outra prova, por
mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta. Em outras palavras, quando a forma é da
substância do ato, a sua inobservância acarretará a invalidade do ato jurídico.
O documento particular gera uma presunção relativa de veracidade das alegações ali constantes,
cabendo, portanto, ao interessado, o ônus de provar a falsidade das referidas informações.
Quando, todavia, contiver declaração de ciência, relativa a determinado fato, presume-se
verdadeira a declaração, mas não a existência do ato, competindo ao interessado em sua
existência o ônus de provar a veracidade da alegação (art. 368, parágrafo único).
A fé do documento público ou particular cessa com a declaração judicial de sua falsidade,
consistindo tal falsidade em formar documento não verdadeiro e em alterar documento
verdadeiro.
O incidente de arguição de falsidade é, em verdade, uma ação declaratória incidental. Nesta
ação declaratória incidental de falsidade de documento o ônus de provar a falsidade cabe à
parte que arguiu o incidente.
Suscitado o incidente o juiz suspenderá o processo principal (o que se tem, na verdade, é uma
suspensão imprópria do processo).
Arguida a falsidade do documento, a parte que carreou o documento aos autos será intimada
para oferecer resposta no prazo de dez dias, devendo o órgão jurisdicional, a seguir, determinar
a realização de prova pericial.
A sentença, que resolver o incidente, declarará a falsidade ou autenticidade do documento. A
natureza deste provimento jurisdicional é, para alguns autores, decisão interlocutória, recorrível
mediante agravo; contudo, a doutrina majoritária entende tratar-se de verdadeira sentença.
Assim, por sentença única, o juiz decidirá a demanda principal e a demanda incidental de
declaração de falsidade do documento.
Por fim, a sentença que declarar a falsidade (ou a autenticidade) do documento transita em
julgado apenas inter partes (art. 472).

CPC 2015: acrescenta que as fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de


computadores fazem prova das imagens que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser
apresentada a respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perícia.
Ademais, se se tratar de fotografia publicada em jornal ou revista, será exigido um exemplar
original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outra parte.
Quando o documento consistir em reprodução cinematográfica ou fonográfica, apesar de
deverem ser trazidos com a petição inicial ou a contestação (regra geral), sua exposição será
realizada em audiência, intimando-se previamente as partes.
Explicitou-se, também, o que já era aceito pela jurisprudência: é lícito às partes, em
qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos
ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
Admite-se, do mesmo modo, a juntada posterior de documentos formados após a petição inicial
ou a contestação, bem como dos que se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após
esses atos, cabendo à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los
anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com
o art. 5o.

Prova Testemunhal: é a que se obtém através do relato prestado, em juízo, por pessoas que
conhecem o fato litigioso. Ou seja, é a prova produzida por testemunhas.
Conceitua-se testemunha como sendo a pessoa estranha ao feito (pois se for parte o que se tem
é depoimento pessoal) que vai a juízo dizer o que sabe sobre os fatos da causa.
A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso. O juiz indeferirá,
contudo, a inquirição de testemunhas sobre fatos já provados por documento ou confissão da
parte e sobre fatos que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.
A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo
do maior salário-mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.
Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou
suspeitas.
São incapazes: o interdito por demência; o que, acometido por enfermidade, ou debilidade
mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que
deve depor, não está habilitado a transmitir as percepções; o menor de dezesseis anos; o cego
e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.
São impedidos: o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou
colateral, em terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se
o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se
puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito; o
que é parte na causa; e o que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do
menor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou
tenham assistido as partes.
São suspeitos: o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a
sentença (hipótese abolida pelo CPC 2015); o que, por seus costumes, não for digno de fé
(hipótese abolida pelo CPC 2015); o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo; e o que
tiver interesse no litígio.
Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou suspeitas (o CPC 2015
acrescenta os menores); mas os seus depoimentos serão prestados independentemente de
compromisso (art. 415) e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer. Seus depoimentos
serão tomados, portanto, na qualidade de informantes.
A testemunha fica isenta de depor sobre fatos que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu
cônjuge e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em
segundo grau (no CPC 2015, até o terceiro grau); ou a cujo respeito, por estado ou profissão,
deva guardar sigilo.
Nos termos do art. 407, incumbe à parte, cinco dias antes da audiência, depositar em cartório o
rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, a profissão e a residência. No CPC 2015, caso
tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não
superior a 15 (quinze) dias, do saneamento e organização do processo, para que as partes
apresentem rol de testemunhas. Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou
de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação
com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações. Nesse caso, as partes devem levar, para a audiência prevista, o
respectivo rol de testemunhas.
Limita-se a dez o número de testemunhas que cada parte pode oferecer, sendo lícito ao juiz
dispensar as que excedam de três sobre o mesmo fato.
Oferecido o rol de testemunhas, só é possível a substituição daquela que falecer; que, por
enfermidade, não estiver em condições de depor; ou que, tendo mudado de residência, não for
encontrada pelo oficial de justiça.
Quando o juiz da causa for arrolado com testemunha, este declarar-se-á impedido, se tiver
conhecimento de fatos, que possam influir na decisão, caso em que será defeso à parte, que o
incluiu no rol, desistir de seu depoimento; ou, se nada souber, mandará excluir o seu nome.
O depoimento das testemunhas deve ser colhido na audiência de instrução e julgamento, perante
o juiz da causa. Exceções a essa regar são as testemunhas que prestam depoimento
antecipadamente; que são inquiridas por carta; que, por doença, ou outro motivo relevante,
estão impossibilitadas de comparecer em juízo (art. 336, parágrafo único); e as arroladas no
art. 411, que cria um benefício para os ocupantes de certos cargos.
Segundo o CPC 2015, a oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou subseção
judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e recepção de sons e imagens
em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.
A testemunha é intimada a comparecer à audiência, constando do mandado dia, hora e local,
bem como os nomes das partes e a natureza da causa. Se a testemunha deixar de comparecer,
sem motivo justificado, será conduzida, respondendo pelas despesas do adiamento. Mas a
parte pode comprometer-se a levar à audiência a testemunha, independentemente de
intimação; presumindo-se, caso não compareça, que a parte desistiu de ouvi-la.
Tal regra também foi substancialmente modificada com o CPC 2015. A partir dele, cabe ao
advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local
da audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo. A intimação deverá ser realizada
por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com
antecedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de
intimação e do comprovante de recebimento.
A intimação continuará sendo por via judicial quando: for frustrada a intimação descrita acima;
sua necessidade for devidamente demonstrada pela parte ao juiz; figurar no rol de testemunhas
servidor público ou militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao
comando do corpo em que servir; a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público
ou pela Defensoria Pública; a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454.
Quando figurar no rol de testemunhas funcionário público ou militar, o juiz o requisitará ao chefe
da repartição ou ao comando do corpo em que servir.
O juiz inquirirá as testemunhas separada e sucessivamente; primeiro as do autor e depois as do
réu, providenciando de modo que uma não ouça o depoimento das outras. Aqui também houve
modificação com o CPC 2015: as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à
testemunha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir
a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou
importarem repetição de outra já respondida. O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes
quanto depois da inquirição feita pelas partes.
Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome por inteiro, a profissão, a
residência e o estado civil, bem como se tem relações de parentesco com a parte, ou interesse
no objeto do processo.
É licito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o impedimento ou a
suspeição. Se a testemunha negar os fatos que lhe são imputados, a parte poderá provar a
contradita com documentos ou com testemunhas, até três, apresentadas no ato e inquiridas
em separado. Sendo provados ou confessados os fatos, o juiz dispensará a testemunha, ou
lhe tomará o depoimento, observando o disposto no art. 405, § 4º.
A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de depor, alegando os motivos de que trata o
artigo 406; ouvidas as partes, o juiz decidirá de plano.
Ao início da inquirição, a testemunha prestará o compromisso de dizer a verdade do que souber
e lhe for perguntado. O juiz advertirá à testemunha que incorre em sanção penal quem faz
afirmação falsa, cala ou oculta a verdade.
O depoimento, depois de datilografado, será assinado pelo juiz, pela testemunha e pelas partes.

Segundo o CPC 2015:


Art. 460. O depoimento poderá ser documentado por meio de gravação.
§ 1o Quando digitado ou registrado por taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo de
documentação, o depoimento será assinado pelo juiz, pelo depoente e pelos
procuradores.
§ 2o Se houver recurso em processo em autos não eletrônicos, o depoimento somente
será digitado quando for impossível o envio de sua documentação eletrônica.
§ 3o Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto neste Código e na
legislação específica sobre a prática eletrônica de atos processuais.

É possível ao juiz ordenar, de ofício ou a requerimento da parte, a inquirição de testemunhas


referidas nas declarações da parte ou das testemunhas, bem como a acareação de duas ou
mais testemunhas ou de alguma delas com a parte, quando, sobre fato determinado, que possa
influir na decisão da causa, divergirem as suas declarações.
Requerido pela testemunha, deverá a parte que a arrolou arcar com as despesas que tiver
efetuado, devendo a parte pagá-la ou depositar a quantia em cartório no prazo de três dias.
Como o depoimento prestado em juízo é considerado serviço público, a testemunha sujeita ao
regime da legislação trabalhista não sofre, por comparecer à audiência, perda de salário nem
desconto no tempo de serviço.

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. QUALIFICAÇÃO DE TESTEMUNHA.


ADITAMENTO DA INICIAL. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. CONTRADITA. SÚMULA Nº
283/STF. RESPONSABILIDADE CIVIL. MATÉRIA VEICULADA NA INTERNET.
INDENIZAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Pacífico o entendimento nesta Corte Superior de que a decretação de nulidade de atos
processuais depende da necessidade de efetiva demonstração de prejuízo da parte
interessada por prevalência do princípio pas de nulitte sans grief.
2. A ausência de impugnação do fundamento do acórdão recorrido, mormente quanto ao não
acolhimento da contradita por ausência de prova de fato impeditivo à oitiva da testemunha,
enseja o não conhecimento do recurso, incidindo o enunciado da Súmula nº 283 do Supremo
Tribunal Federal.
(REsp 1330028/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 06/11/2012, DJe 17/12/2012)

Prova Pericial: existem casos em que o julgamento do mérito da causa depende de


conhecimentos técnicos de que o magistrado não dispõe. Nestes casos, deverá ele recorrer ao
auxílio de um especialista, o perito, auxiliar da justiça.
A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. Mas a perícia poderá consistir apenas
na inquirição do perito e dos assistentes técnicos, quando da audiência de instrução e
julgamento, a respeito das coisas que houverem informalmente avaliado ou examinado, toda
vez que a natureza do fato probandi o permitir.
Para que se produza a prova pericial, o juiz deve nomear expert de sua confiança, fixando desde
logo o prazo para a entrega do laudo pericial. Intimadas as partes da nomeação do perito, pode-
se formular quesitos e apresentar assistentes técnicos no prazo de cinco dias, sendo certo que
estes são auxiliares da parte, e não do juízo, motivo pelo qual não estão incluídos no rol de
pessoas sujeitas às hipóteses de impedimento e suspeição.
No CPC 2015, as partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-o mediante
requerimento, desde que: I - sejam plenamente capazes; II - a causa possa ser resolvida por
autocomposição. Essa perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada
por perito nomeado pelo juiz.
O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para
a entrega do laudo. Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do
despacho de nomeação do perito: arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso,
indicar assistente técnico e apresentar quesitos. Ciente da nomeação, o perito apresentará em
5 (cinco) dias: a proposta de honorários, o currículo, com comprovação de especialização e os
contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as
intimações pessoais.
As partes serão intimadas da proposta de honorários para, querendo, manifestar-se no
prazo comum de 5 (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor, intimando-se as partes para
os fins do art. 95. O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cento dos honorários
arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos, devendo o remanescente ser pago apenas
ao final, depois de entregue o laudo e prestados todos os esclarecimentos necessários. Quando
a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá reduzir a remuneração inicialmente arbitrada
para o trabalho.
O perito cumprirá escrupulosamente o seu encargo, independentemente da lavratura de termo
de compromisso.
O perito ou o assistente técnico pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por impedimento ou
suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a impugnação, o juiz
nomeará novo perito e a parte poderá indicar outro assistente técnico.
O perito ou o assistente somente poderá ser substituído quando carecer de conhecimento técnico
ou científico; ou, sem motivo legítimo, deixar de prestar compromisso. Neste caso, o juiz impor-
lhe-á multa de valor não superior a um salário-mínimo vigente na sede do juízo.
As partes poderão apresentar, durante a diligência, quesitos suplementares. Da juntada dos
quesitos aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária.
Compete ao juiz indeferir quesitos impertinentes e formular os que entender necessários ao
esclarecimento da causa.
Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proceder-se à nomeação de perito e
indicação de assistentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia.
Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos
os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos
que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.
Sendo impossível a apresentação do laudo no prazo assinado pelo juiz, este poderá conceder,
a seu arbítrio, prorrogação do mesmo por uma única vez.
O laudo pericial deverá ser apresentado no prazo fixado pelo juiz, até pelo menos vinte dias
antes da audiência de instrução e julgamento, devendo os assistentes técnicos apresentar seus
laudos no prazo comum de dez dias contados da juntada aos autos do laudo do perito.
A parte que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico, requererá ao juiz que
mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de
quesitos. Mas o perito e o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os esclarecimentos
a que se refere este artigo, quando intimados cinco dias antes da audiência, momento em que
já tomarão conhecimento do teor das perguntas que lhes serão formuladas naquele momento.
Embora a prova pericial tenha por fim dar ao órgão jurisdicional elementos técnicos de que o
magistrado não dispõe para que se torne possível o julgamento do mérito da causa, o juiz não
está adstrito ao laudo pericial, podendo fo