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A obra se inicia com a descrição dos fatos urbanos, passando a analisar a estrutura da
cidade artefato como conjunto de elementos primários e de áreas-residências, abordando
a individualidade dos fatos urbanos, a arquitetura, o locus e a história urbana e, por fim,
a dinâmica urbana e a política.
Os fatos urbanos assemelham-se à obra de arte da mesma forma como Lewis Munford
descreve a cidade como obra de arte, a qual é condicionada pelos pensamentos de uma
época e, por sua vez, condiciona novos pensamentos e processos de interrelação com os
habitantes. “O pensamento toma forma na cidade e, por sua vez, as formas urbanas
condicionam o pensamento.” (MUNFORD apud ROSSI, 2001, p. 258). Este conceito
da cidade como obra de arte foi desenvolvido por compreender que ambas têm o
público como receptor final, ainda que a cidade seja resultado de uma vida inconsciente
e coletiva e a obra de arte seja a produção de um indivíduo.
É através das impressões e experiências dos indivíduos na cidade que a mesma pode ser
analisada a partir do reconhecimento da qualidade do espaço. “Nesse ponto, deveríamos
falar da ideia que temos desse edifício enquanto produto da coletividade e da relação
que temos com a coletividade através dele.” (ROSSI, 2001, p.16).
A concepção dos fatos urbanos como obra de arte ilumina a estrutura da cidade, assim,
os edifícios são momentos, partes de um todo que é a cidade e seu estudo contribui para
compreendê-la. Desde a Idade do Bronze o homem altera a paisagem às suas
necessidades sociais e ao longo do tempo, o tipo se constitui a partir das diferentes
necessidades. Para Rossi, o tipo é o enunciado lógico anterior à forma, diferenciando-se
do modelo. O tipo é a própria ideia da arquitetura, sua essência, e a tipologia é o estudo
dos tipos. Como exemplo pode-se afirmar que o tipo do imóvel de habitação permanece
o mesmo até hoje, ainda que os modos de viver tenham se alterado. Já o modelo é um
objeto que deve ser repetido de forma exata, suas características são definidas com
precisão e dadas no próprio objeto.
Rossi é contrário a redução de todo fato urbano à sua função, uma vez que se deve
considerar que o vínculo entre forma e função é mais complexo que o linear de causa e
efeito, difundido pelo funcionalismo no qual as funções resumem a forma. Considera
que a função pode se alterar ao longo do tempo, não havendo uma função específica.
“Penso que a explicação dos fatos urbanos mediante a função deve ser repelida quando
se trata de esclarecer sua constituição e conformação [...].” (ROSSI, 2001, p.29). A
análise dos fatos urbanos baseadas exclusivamente nas funções perde o valor da
estrutura urbana, da arquitetura e da própria permanência das edificações. Assim,
defende que é inconcebível a redução da estrutura dos fatos urbanos a organização de
determinada função, ainda que seja aceitável a classificação através das funções como
regra prática em associação com outros critérios.
Quanto aos monumentos, relaciona-os aos fatos urbanos persistentes, uma vez que os
monumentos permanecem efetivamente nas cidades. “Essa persistência e permanência é
dada pelo seu valor constitutivo, pela história e pela arte, pelo ser e pela memória.”
(ROSSI, 2001, p.56). Por isso, reconhecer os monumentos como elementos fixos na
estrutura urbana apenas por sua intencionalidade estética é simplista, visto que se
encontra expressão e valores simbólicos mesmo em obras menores. O autor não avança
na questão das obras menores, mas conclui que “[...] o processo dinâmico da cidade
tende mais à evolução do que à conservação e que na evolução dos monumentos se
conservam e representam fatos propulsores do próprio desenvolvimento.” (ROSSI,
2001, p.57).
[...] deve-se conceber a cidade como algo que cresce por pontos (elementos primários) e
por estruturas (bairros e residência), e, enquanto nos primeiros predomina a forma
consumada, nas segundas aparecem em primeiro plano os valores do solo. (ROSSI,
2001, p.124).
O estudo da residência não representa uma postura funcional, mas sim a análise
particular de um fato urbano na composição da cidade. Este aspecto torna-se relevante
uma vez que a cidade sempre foi caracterizada pela residência e não se pode dizer que
estas áreas sejam amorfas, na realidade elas estão intimamente ligadas à forma urbana.
A localização destas áreas, por sua vez, depende de muitos fatores, sejam geográficos,
morfológicos, históricos, e principalmente econômicos, cuja alternância de áreas é
promovida pela especulação do solo urbano.
A cidade como construção no tempo requer o método histórico de análise, uma vez que
a cidade é história para determinados grupos sociais. Nesse sentido a memória coletiva
dos povos é o que dá significado e individualidade a fatos e lugares, tornando a própria
cidade o “locus” da memória coletiva.
Rossi finaliza inserindo a política como caráter decisivo dos fatos urbanos que
constroem a cidade, uma vez que “[...] constitui a o fato primeiro da “polis”, a política,
de sua construção.” (ROSSI, 2001, p.252). Assim pergunta-se e, imediatamente,
responde: “Quem, em última instância, escolhe a imagem de uma cidade? A própria
cidade, mas sempre e somente através de suas instituições políticas.” (ROSSI, 2001,
p.252). Neste sentido, a arquitetura urbana, assim como suas transformações, possuem
intencionalidade e, por isso, atuam como um caminho para que se chegue a cidade
desejada, podendo ela mesma constituir a própria cidade. Desta forma, todas as cidades,
da mesma forma que “Atenas, Roma, Paris, também são a forma de sua política, os
signos de uma vontade.” (ROSSI, 2001, p.252).