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Kónilos Elaía
Texto adaptado para uma introdução à Filosofia (inconcluso).
Mestre em Filosofia/UFPB
A Questão Fundamental
1. A Construção do Ser
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Apud Tiago Adão Lara. A Filosofia nas suas origens gregas; p. 44, extraído por
sua vez de Cornford. Principium Sapientiae; 1981; p.315. Hesíodo (2001107) Canto
I, 44.
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Ibidem; p. 45.
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3. As Problemáticas da Filosofia
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problema do ser: o que é isto – o valor? Como e por que o valor vale?
Qual a origem dos valores? Qual o seu fundamento?
A rigor, o problema do ser é a base de todos os outros, pois é a
questão mesma do fundamento, sendo primordial em relação aos
5 demais; por isso pressuposto por eles, se tomados separadamente, nem
que seja como supostamente resolvido, como questão respondida, não
problemática. Contudo, esse status também é estendido ao problema
do conhecimento em relação ao problema do dever-ser. O inverso,
porém, não ocorre.
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4. O Problema do Ser
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outro elemento anterior à água: o Ar. Este sim seria primordial: mais
leve e menos concreto, invisível. A partir dele, então, é que a água
teria se formado, assim como os demais elementos. Observa-se que tal
pensamento também ainda utiliza um elemento concreto, todavia,
5 justificado como essencial pela sua necessidade e pela sua presença,
cuja negação é, paradoxalmente, sua marca: isto é, só na falta do ar é
que se percebe o quanto sua presença é necessária. E, embora o ar
participe da ideia do sopro divino (: pneuma: alma, sopro
vital), nesse discurso tal elemento encontra-se também já
10 desdivinizado.
O discípulo de Tales e mestre de Anaxímenes, porém, discorda
de ambos. Anaximandro (610-545 a.C.); para quem o princípio
primeiro não pode ser determinado, isto é, não pode ser definido,
apreendido por um nome a não ser o de apeiron3: indeterminado,
15 indefinido; haja vista não haver qualquer coisa na realidade, no
mundo, que pudesse lhe emprestar seu nome. A meu ver, isto faz de
Anaximandro um dos pensadores originários, cujo pensamento
inaugura de fato o discurso filosófico, dada a originalidade da sua
abstração, escapando não só à divinização mas também à
20 concreticidade imagética da narrativa mítica. A rigor, sua resposta nos
obriga a um novo modo de pensar: abstraindo e conceituando.
Além destes, outros também apresentaram suas respostas à
questão do ser. Pitágoras (580-497 a.C.), com a ideia de número,
segundo a qual tudo deriva do Um, da unidade. Demócrito, para que m
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Apeiron () parece ser um termo composto do prefixo a [] – que em grego
expressa uma negação – e a raiz peira (), – que significa prova –, da qual
deriva empeiria () – experiência –, resultando em não-experimentado. Ou
seja, desprovido de uso da linguagem falada, isto é, de acesso ao logos (), fora
do plano do discurso, logo, indizível; portanto, indefinido, indeterminado. Conf.
Dicionário grego-português e português-grego (Pereira 1990).
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deuses e nenhum dos homens o fez mas sempre foi, é e será, fogo
sempre vivo4, acendendo segundo a medida e segundo a medida
apagando” (frag. 30). Nesse sentido, o fogo, em Heráclito, a meu ver,
permite a passagem do discurso mítico ao pensamento filosófico,
5 fazendo uma ponte entre o concreto e o abstrato de que ele queria falar
como essência do ser: o movimento constante gerido pela luta dos
contrários – verdade-falsidade, amor-ódio, belo-feio, cheio-vazio,
quente-frio, branco-preto, macho-fêmea etc. Nisto consiste o segundo
aspecto pelo qual ele é considerado originário. O seu pensamento foi
10 revolucionário: a compreensão de que a realidade última das coisas é
puro movimento; que os seres são mutáveis não apenas na aparência
captada pelos sentidos, mas fundamentalmente na essência apreendida
pelo logos, pela razão: “A vida tem um Logos que se aumenta a si
mesmo” (frag. 115).
15 Segundo Parmênides, contudo, o ser é e o não-ser nada é (frag.
5
6) . O ser é uno, imóvel, imutável e eterno. Não é possível que ele
mude porque mudar é deixar de ser, o que impediria o conhecer.
Portanto, o ser é. Só o ser existe. O não-ser não pode ter existência,
uma vez que não pode ser pensado. Pensá-lo exige nominá-lo e
20 copulá-lo com o verbo ser, isto é, atribuir-lhe um predicado, predicar-
lhe alguma coisa. Ora, ser e pensar são uma e a mesma coisa (frag. 3),
de modo que aplicar ao não-ser o verbo ser é trazê-lo à existência,
uma vez que o verbo diz o ser, expressa-o. Portanto, o Ser e o
pensamento são o mesmo. E se não fosse assim, nada seria passível de
25 ser conhecido, pois é no pensamento que se gera o conhecimento.
4
Grifo meu: o termo fogo sem artigo definido, permite-nos supor um comparativo
...sempre vivo [como] fogo. Conf. ANA XIMANDRO, P ARM ÊNIDES, H ERÁCLITO
(199967).
5
Conf. Os Pensadores originários (199947), tradução de Sérgio Wrublewski; e Da
Natureza (Parmênides 2002), tradução e comentário de José Trindade Santos.
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5. O Conhecimento do Ser
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Ambos constituem os pilares da Filosofia no tocante à questão ontológica,
proporcionando a divisão do pensamento filosófico em idealista e materialista. A
primeira corrente concebendo o ser imutável atribui-lhe uma substância ideal,
priorizando a forma racional sobre a matéria sensível, dando ao ser uma existência
possível somente no plano das ideias, escapando às apreensões sensíveis do mundo
real. A segunda, por sua vez, concebe o ser como primordialmente material,
priorizando a matéria apreendida pelos sentidos sobre a forma idealizada pela razão.
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Ou mesmo, mais platonicamente, o verdadeiro conhecimento consistiria no
aprimoramento da razão mediante o exercício da dialética enquanto método
geométrico de ascendência à pureza das formas para justificar a descendência da
matéria. Quanto ao esclarecimento sobre o que há de geométrico neste método em
Platão, conferir Dialética, Educação e Política: uma releitura de Platão, do Prof.
Antônio Jorge(Soares 1999).
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As causas primeiras: material, formal, motriz e final. Conf. (Aristóteles 2002), Met.
I 3, 983a24; Physique (2005) II 3, 194b23.
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Met. IX 1, 1046a: “as noções de potência e de ato ultrapassam os significados
relativos unicamente ao movimento”.
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A diferença entre os aspectos gnosiológico e epistemológico, a rigor, diz respeito
à abrangência do primeiro – concernente à origem do conhecimento em geral – em
relação à restrição do segundo ao âmbito do discurso de pretensões científicas.
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Instrumento seria a tradução para Organon(2005) título da obra em que
Aristóteles trata da Lógica, composta de seis livros distintos: Categorias, Da
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racional, é ainda animal, visto que se locomove, mas nem todo animal
é homem, haja vista não participarem do atributo do raciocínio.
Observemos, portanto, que a compreensão do significado é a
dimensão a partir da qual podemos estender (ou restringir) o conceito
5 a uma determinada classe ou espécie de seres até alcançarmos os
gêneros, os quais são termos mais abrangentes, mais universais, como
ser e movimento, em cujo seio comporta as espécies, os particulares e
os singulares.
Os juízos, porém, são a estrutura linguística composta de
10 sujeito, verbo e predicado pela qual se expressa uma afirmação
explicitando determinado conceito. Eles consistem na objetivação dos
conceitos; são o seu pronunciamento, as frases mesmas articulando as
ideias mediante o verbo ser. E quando declaram algo sobre o real,
atribuímos-lhes o valor de verdadeiro ou de falso. Os juízos são,
15 portanto, proposições, supondo que propõem uma elucidação do
objeto real pensado. Mas tem também o caráter de sentenças, pela
determinação que eles comportam ao declararem algo da coisa. A
rigor, são chamados apenas de enunciados. 14
É, pois, com sentenças declarativas que lida a Ciência ou
20 qualquer outra atividade humana que visa produzir algum discurso
racional sobre o mundo, que busca informar com pretensões de
verdade a relação entre duas coisas, expressando-as nos termos Sujeito
e Predicado. Portanto, os juízos ou enunciados aos quais se atribui
verdade ou falsidade é que servem de objeto da Lógica. A ela não
25 cabe, por exemplo, examinar frases que denotam pergunta ou ordem,
visto que nem as interrogativas nem as imperativas tem pertinência
14
A diferença entre proposições, sentenças e enunciados é um problema sobre o
qual os lógicos não são unânimes. A rigor, nem é um problema de introdução à
Lógica. Conf. (Mortari 2001, 10).
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Além da dedução, Aristóteles também pensou sobre a indução como forma de
elaborar o conhecimento a partir da experiência sensível, conhecimento dos
singulares, mas não lhe deu crédito quanto à validade do conhecimento “científico”,
devido a sua falta de apoio lógico para a universalização.
Ex.: Premissa 1 – Sócrates morreu (fato 1, dado, condição particular observada);
Premissa 1.1 – Platão morreu (fato 2, dado, condição particular observada);
premissa 1.2 – Sólon morreu (fato 3, dado, condição particular observada);
Premissa 1.3 – Pitágoras morreu (fato n, dado, condição particular observada);
Premissa 2 – Ora, Sócrates, Platão, Sólon e Pitágoras são homens (enumeração
dos casos observados; verdade demonstrada);
Conclusão (formal) – Logo, todo homem (observado) é mortal (consequência
derivada das afirmações anteriores: verdade da totalidade dos casos).
Inferência (material) – Todo homem é mortal (extrapolação do observado;
hipótese provável).
Somente na Idade Moderna a indução foi retomada por Francis Bacon, no seu
Novum Organon, como método verdadeiramente científico, reconsiderando a
inferência material como condição de possibilidade do progresso do conhecimento.
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Embora aqui tenham sido usadas as categorias aristotélicas, a rigor, essa última
concepção é tradicionalmente chamada de dialética e, como tal, modernamente
pensada no idealismo de Georg Hegel e retomada no materialismo de Karl Marx,
mas remontada a Platão e principalmente a Heráclito, respectivamente pelo
idealismo e pelo materialismo. Conf. Carlos Cirne-Lima, (Dialética para
principiantes 1997).
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(resgatada por Hegel) Conf. CIRNE-L IMA , op. cit. Não corresponde exatamente à
minha leitura de Platão, no entanto, não dá para descartá-la se tomarmos por base a
obra O Sofista, na qual o problema do ser é dialeticamente discutido. Não obstante, a
presente abordagem comporta tal interpretação, considerando as cisões decorridas na
História da Filosofia a partir das concepções de Ser, desde Parmênides e Heráclito,
mas principalmente em Platão e Aristóteles. Ficam, contudo, questões como: e
quanto à concepção platônica das ideias universais de Verdade, do Belo, da Justiça
etc, inatas e imutáveis, seriam socráticas? Se não, como concilia-las com a
concepção dialética de um ser que gera o seu contrário?
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Conf. (Aristóteles 2002) Metafísica 4.3: “É impossível que a mesma coisa, ao
mesmo tempo, pertença e não pertença a uma mesma coisa, segundo o mesmo
aspecto” (1005b20).
19
Ibidem: “Se o adversário não diz nada, então é ridículo buscar uma
argumentação para opor a quem não diz nada ... mas que diga algo e que tenha
significado para ele e para os outros.” (Met. 4.4 100ba13).
20
(Aristóteles, Órganon 2005) Analíticos Posteriores 1.3: “há um específico
primeiro princípio do conhecimento graças ao qual reconhecemos as definições ”
(72b24).
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Obras Citadas
ANAXIMANDRO, Parmênides, Heráclito. Os Pensadores
originários. Pensamento Humano: bilíngue. Tradução: Emanuel
Carneiro Leão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
5 ARISTOTE. De l'âme. Tradução: E. Barbotin. Paris: Les Belles
Lettres, 2002.
—. Physique. Paris: Gallimard, 2005.
ARISTOTELES. De Anima. Tradução: Maria Cecília Gomes dos
Reis. São Paulo: 34, 2006.
10 —. Metafísica. Tradução: Marcelo Perine. São Paulo: Loyola,
2002.
—. Órganon. Tradução: Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2005.
ARISTOTLE. The Completes works. The Great books of the
western world. Edição: W. D. Ross. Vols. I-II. 8-9 vols. London:
15 Oxford University, 1952.
—. The Completes works. Edição: Jonathan Barnes. Vols. 1-2.
New Jersey: Princeton University, 1984.
C IRNE-LIMA, Carlos. Dialética para principiantes. Porto Alegre:
Edipucrs, 1997.
20 HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. bilíngue. Tradução:
Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2001.
MORTARI, Cezar A. Introdução à lógica. São Paulo: Unesp,
2001.
PARMÊNIDES. Da Natureza. Leituras Filosóficas. Tradução: José
25 Trindade Santos. São Paulo: Loyola, 2002.
PEREIRA, Isidro. Dicionário de português-grego e grego-
português. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1990.
SOARES, Antônio Jorge. Dialética, educação e política: uma
releitura de Platão. São Paulo: Cortez, 1999.
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