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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA.

Processo nº 201103655153

WELTON VIEIRA DE OLIVEIRA, já devidamente qualificado nos autos em


epigrafe, por meio de seu advogado, vem à Vossa Excelência, inconformado com a
sentença condenatória de fls.280/ 295, com fulcro no artigo 593, inciso I, do Código de
Processo Penal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, e já apresentar as respectivas
razões.

Goiânia, 25 de março de 2019

Advogado/OAB

________________________
APELAÇÃO

Processo: 201103655153

Origem: Goiânia - 1ª Vara Criminal

Classe: Ação Penal

Apelante: Welton Vieira de Oliveira

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Na leitura do processo, é de fácil conhecimento a prescrição da punibilidade uma


vez que, decorreu o prazo para se punir o réu. A denúncia fora recebida aos dias
09/03/2015 e a sentença fora proferida aos dias 05/02/2019, atravessando assim, um lapso
temporal de 04 anos, o que isenta o apelante de ser condenado, encaixando-o assim na
forma do artigo 61 do Código de Processo Penal.
Caso não seja reconhecida a prescrição pelo Juízo a quo, peça seja o apelo
processado e remetido à instância superior.

1- SINOPSE FÁTICA

O réu foi denunciado porque no dia 14/04/2009, teria emitido cheque de R$ 499
(quatrocentos e noventa e nove reais) sem suficiente provisão de fundos, violando o art.
171, inciso VI, do Código Penal. A denúncia foi recebida no dia 09/03/2015.

Em 05/02/2019, o Magistrado condenou o réu pelo crime descrito no artigo 171,


inciso VI, do Código Penal Brasileiro, à pena de 01 (um) ano e 03 (três) meses de
reclusão e 30 (trinta) dias-multa, no patamar de 1/30 do salário mínimo, substituindo a
pena privativa de liberdade por restritivas de direito.

Observa-se que transitou em julgado a sentença condenatória com relação ao


representante do Ministério Público, concluindo-se que a reprimenda não poderá ser
aumentada.

2- FUNDAMENTOS JURÍDICOS
2.1- PRELIMINAR (PRESCRICÃO RETROATIVA)

A prescrição é a perda do direito de punir do Estado, pelo não manejamento da


pretensão punitiva durante certo espaço de tempo delimitado pela lei.

Entre a data do fato (14/04/2009) e o recebimento da denúncia (09/03/2015), foi


ultrapassado o lapso temporal de 04 anos, o que acarreta a prescrição retroativa.

É importante ressaltar que o suposto delito recepcionado na sentença aconteceu


antes da vigência da Lei nº 12.234, de 05 de maio de 2010, que deu nova redação ao
artigo 110, § 1º, do Código Penal, o que possibilita considerar como termo inicial para
contagem do prazo prescricional a data dos fatos, porquanto, vedada a retroatividade da
lei mais severa, sob pena de ofensa à garantia fundamental insculpida no artigo 5º,
inciso XL, da Constituição Federal e art. 2º, parágrafo único, do Código Penal.

Nesse sentido, assim já decidiu nosso Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de


Goiás:

“...2. Antes da entrada em vigor da Lei n.º 12.234/2010,


nosso ordenamento jurídico admitia como termo inicial
data anterior à do recebimento da denúncia e a nova
norma não pode retroagir para prejudicar o condenado
(art. 5º, XL, CF). 3. Verificando que entre o recebimento
da denúncia e as datas dos fatos transcorreu tempo
superior ao máximo previsto no artigo 109, inciso V, do
Código Penal, impõe-se declarar a prescrição da
pretensão punitiva em sua forma retroativa. 4. Extinta a
condenação pela prescrição (...) declarada a extinção da
punibilidade pela prescrição, em sua forma retroativa”
(TJGO, 1ª Câm. Crim., Ap. Crim. 421614-
36.2008.8.09.0051, Rel. Desor. J. Paganucci Jr, DJ 2606,
de 10.10.2018).

Ainda sobre o tema acrescentamos:

“PENAL. HABEAS CORPUS. USO DE DOCUMENTO


FALSO. (...). PRESCRIÇÃO RETROATIVA
CONFIGURADA. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO. I. Omissis. II. Antes da entrada
em vigor da Lei n.º 12.234/2010 (06.05.2010), nosso
ordenamento jurídico previa que a prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a
acusação, ou depois de improvido seu recurso, regular-se-
ia pela pena aplicada, admitindo-se como termo inicial
data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa.
A nova norma não pode retroagir para prejudicar o
condenado, sob pena de ofensa à garantia fundamental
insculpida no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, e
art. 2º, parágrafo único, do Código Penal. (...).” (STJ, HC
199361/DF, DJe 20/06/2012, Relator Ministro GILSON
DIPP).

Com efeito, o artigo 109, inciso V, do Código Penal, traz a seguinte redação:

“Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a


sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste
Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada ao crime, verificando-se: (...).

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano


ou, sendo superior, não excede a dois; (...)” (negritei).

(...).”

Assim, há de ser extinta a punibilidade pela prescrição, em sua forma retroativa.

2.2 MERITO (NEGATIVA DE AUTORIA)

Não há elementos comprobatórios que permitam definir com certeza o fato


delitivo descrito ao qual foi imputado ao réu. O réu informa que nunca esteve na loja
Móveis Fernandes, informou que há alguns anos (por volta de 2002) teve seus
documentos extraviados e foi vítima de fraudes financeiras em seu nome, nunca tendo
os encontrado. As testemunhas não conseguiram reconhecer com certeza a presença do
réu na loja de móveis, à época.

Além dos fatos supracitados, o cheque não fora consultado, para que fosse
constatado que o CPF ali constante houvera sido cancelado, desde 2002.

As testemunhas informaram também que o então acusado estava dirigindo um


VW/PARATI. O acusado WELTON nunca teve posso de veículo como tal.
Conforme informações do Banco Itaú, ficou claro que o réu não era titular da
conta nº 4855-6 que constava no cheque. O número da sua conta corrente era 8438-7.

Há, portanto um conjunto probatório muito frágil e questionável para que


Welton de fato, tenha emitido a cártula que lhe imputou essa condenação.

Podemos, inclusive, citar o Princípio “In Dubio Pro Réu”, por Luiz Flávio
Gomes:

“Também conhecido como princípio do favor rei, o


princípio do “in dubio pro reo” implica em que na
dúvida interpreta-se em favor do acusado. Isso
porque a garantia da liberdade deve prevalecer
sobre a pretensão punitiva do Estado”.

É perceptível a adoção implícita deste princípio no Código de Processo Penal, na


regra prescrita no artigo 386, II, ex vi:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a


causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

(...)

VII – não existir prova suficiente para a


condenação.

Acrescentamos ainda aplicação do Princípio In Dubio Pro Réu em decisão do STM:

APELAÇÃO. FURTO. ABSOLVIÇÃO. INSUFICIÊNCIA DE


PROVAS. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. PROVIMENTO.
No caso dos autos, não há provas de que o Apelante subtraiu
todos os objetos relacionados na Denúncia. E, ainda, não foi
comprovada a existência dos bens não localizados. Para um
decreto condenatório necessário se faz a certeza da ocorrência
dos fatos delituosos, bem como de sua autoria. Caso contrário,
deve prevalecer o princípio in dubio pro reo. Não havendo
suficiência probatória, diante do não afastamento da dúvida,
deve o Apelante ser favorecido pelo referido princípio. Apelo
provido por unanimidade.

(STM - AP: 00000274520147010301 RJ, Relator: Alvaro Luiz


Pinto, Data de Julgamento: 19/08/2015, Data de Publicação:
Data da Publicação: 15/12/2015 Vol: Veículo: DJE)
Ainda com mais efeito e relação com o caso em questão, decisão do TJ-RN :

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.


ESTELIONATO. ART. 171 DO CÓDIGO PENAL. ALEGAÇÃO
DE INFRINGÊNCIA AO SISTEMA ACUSATÓRIO.
IMPROCEDÊNCIA. JUIZ ATUANDO NOS DITAMES DO
PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. ART.
385 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INSUFICIÊNCIA
DE PROVAS COMPROBATÓRIAS DA AUTORIA
NECESSÁRIAS À CONDENAÇÃO. ART. 386, VII DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN
DUBIO PRO REU. REFORMA DA SENTENÇA. PROVIMENTO
DO APELO. (...) 02. Aplica-se o princípio do in dubio pro reu,
quando há dúvida acerca da autoria do delito, impossibilitando
a condenação. 03. Recurso provido (grifo meu).

(TJ-RN - APR: 20110058531 RN, Relator: Doutor Assis Brasil


(Juiz Convocado), Data de Julgamento: 26/03/2013, Câmara
Criminal)

Não conseguindo o Estado angariar provas suficientes da materialidade e autoria


do crime, o juiz deverá absolver o acusado. Ou seja, “In Dubio Pro Reo”.

3- PEDIDO:

Ante o exposto requer o conhecimento do recurso e o seu provimento, afim de


subsidiariamente:

a) Declarar extinta a punibilidade pela prescrição retroativa;


b) Aplicação do Princípio In Dubio Pro Reo por não ter sido confirmado a autoria.

Goiânia, 25 de março de 2019

Advogado/OAB

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ALUNOS:

Giselly Santos Guimarães

Tálita Vieira Santa Barbara

Pedro Henrique Fernandes Mesquita de Oliveira

Rayner Abreu e Silva

Lidya Santos

Gilvan de Barros

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