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Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar – Daniel Kahneman (Prêmio Nobel de

Economia de 2002)

Capítulo 38 – Pensando sobre a Vida - Resumo

Introdução / Apresentação do Capítulo

A figura 16 abaixo foi retirada de uma análise de Andrew Clark, Ed Diener e Yannis Georgellis,
do Painel socioeconômico alemão. (Kahneman, 2011)

Neste painel, foi perguntado a um mesmo grupo de pessoas, todos os anos - sobre seus
respectivos graus de satisfação com as próprias vidas. Eram relatadas, também, grandes
mudanças que haviam ocorrido na vida dos participantes ao longo do ano anterior.

Deste modo, foi possível compilar em um gráfico as informações coletadas sobre satisfação
da vida através do tempo (antes e depois do casamento), como se observa a seguir:

Fonte: (Kahneman, 2011)

Kahneman declara que “o gráfico é comumente interpretado como investigando um processo


de adaptação, em que as primeiras alegrias do casamento rapidamente desaparecem à
medida que a experiência se torna rotineira.” (Kahneman, 2011).

Todavia, o autor nos alerta para a possibilidade de existência de um outro tipo de abordagem,
que foca nas já conhecidas heurísticas de julgamento. Kahneman se pergunta sobre o que
ocorre na cabeça das pessoas quando se pede que estas avaliem suas próprias vidas?
Se considerarmos o Sistema 1 em operação, podemos lembrar dos mecanismos de
substituição que realizamos quando não temos uma resposta para uma pergunta e, em seu
lugar, encontramos uma resposta mais fácil para outro pergunta. Deste modo, “Quando
olhamos para a figura 16 sob essa luz, ela assume um significado diferente. “ (Kahneman,
2011).

“A atenção é a chave do enigma. A figura 16 pode ser lida como um gráfico da probabilidade
de que as pessoas pensarão em seu casamento recente ou próximo quando lhes for
perguntado sobre sua vida. A proeminência desse pensamento está fadada a diminuir com a
passagem do tempo, conforme seu caráter de novidade minguar. “ (Kahneman, 2011)

“A figura mostra um nível anormalmente alto de satisfação com a vida que dura dois ou três
anos em torno da ocorrência do casamento. Entretanto, se esse aparente pico reflete o
transcorrer do tempo de uma heurística para responder à questão, há pouco que podemos
aprender com ele, seja sobre felicidade, seja sobre o processo de adaptação ao casamento.“
(Kahneman, 2011).

O autor, em seguida, relata alguns estudos sobre a importância do estabelecimento de metas


pessoais para mensuração de satisfação pessoal, conforme estas sejam atingidas ou não.
Dessa forma, Kahneman declara:

“As metas que as pessoas estabelecem para si são tão importantes para o que elas fazem e
para como se sentem em relação a isso que um foco exclusivo no bem-estar experimentado
não se sustenta. Não podemos defender um conceito de bem-estar que ignore o que as
pessoas querem. “ (Kahneman, 2011)

Isto posto, chega-se à conclusão: “[...] Por outro lado, também é verdade que um conceito de
bem-estar que ignore como as pessoas se sentem enquanto vivem e se concentre apenas
em como se sentem quando pensam a respeito de sua vida também é insustentável. Temos
de aceitar as complexidades de uma visão híbrida, em que o bem-estar de ambos os eus seja
considerado. “ (Kahneman, 2011)

A Ilusão do Foco (Focusing Illusion)

“Qualquer aspecto da vida para o qual a atenção é dirigida assomará como grande numa
avaliação global. Isso é a essência da Ilusão de Foco (Focusing Illusion), que pode ser
descrita numa única frase: Nada na vida é tão importante quanto você pensa que é quando
você está pensando a respeito. “ (Kahneman, 2011).

“Pensamentos de qualquer aspecto da vida têm maior probabilidade de serem proeminentes


se uma alternativa contrastante está altamente disponível. “ (Kahneman, 2011).
“A ilusão do foco pode levar as pessoas a se enganar sobre seu presente estado de bem-
estar, bem como sobre a felicidade dos outros, e sobre sua própria felicidade no futuro. “
(Kahneman, 2011).

“Adaptação a uma nova situação, tanto boa quanto má, consiste em grande parte em pensar
cada vez menos a respeito. Nesse sentido, a maioria das circunstâncias de vida a longo prazo
[...] são estados que a pessoa habita em período parcial, apenas quando presta atenção
neles.” (Kahneman, 2011)

“[...] parece que o eu recordativo está sujeito a uma ilusão de foco maciça sobre a vida que o
eu experiencial suporta bastante confortavelmente. “ (Kahneman, 2011)

“Daniel Gilbert e Timothy Wilson adotaram a palavra miswanting para descrever as más
escolhas surgidas de erros de previsão afetiva. Essa palavra merece entrar para o
vocabulário cotidiano. A ilusão de foco (que Gilbert e Wilson chamam de focalismo) é uma
rica fonte de miswanting . Em particular, ela nos torna propensos a exagerar o efeito de
aquisições significativas ou circunstâncias alteradas em nosso futuro bem-estar. “
(Kahneman, 2011)

O Tempo Todo

“[...] É algo lógico descrever a vida do eu experiencial como uma série de momentos, cada
um com um valor. O valor de um episódio [...] é simplesmente a soma dos valores de seus
momentos. Mas não é assim que a mente representa episódios. O eu recordativo, como o
descrevi, também conta histórias e faz escolhas, e nem as histórias nem as escolhas
representam o tempo de forma apropriada. No modo narrador de histórias, um episódio é
representado por alguns poucos momentos críticos, especialmente o início, o pico e o fim. A
duração é negligenciada. [...]. “ (Kahneman, 2011)

“[...] O equívoco que as pessoas cometem na ilusão de foco implica dar atenção a momentos
selecionados e negligenciar o que acontece em outros momentos. A mente é boa com
histórias, mas não parece bem projetada para o processamento de tempo. “ (Kahneman,
2011)

Frases-Chave do Capítulo / Falando em Pensar sobre a Vida:

“Ela pensava que comprar um carro bonito ia torná-la mais feliz, mas como se viu isso foi um
erro de previsão afetiva” (Kahneman, 2011)

“O carro quebrou a caminho do trabalho hoje de manhã e ele ficou de mau humor. Esse não
é um bom dia para lhe perguntar sobre sua satisfação com o emprego!” (Kahneman, 2011)

“Ela parece bem alegre na maior parte do tempo, mas, quando alguém lhe pergunta, diz que
está muito infeliz. Talvez perguntar faça com que pense em seu divórcio recente.”
(Kahneman, 2011)

“Comprar uma casa maior talvez não nos torne mais felizes a longo prazo.Podemos estar
sofrendo uma ilusão de foco.” (Kahneman, 2011)

“Ele optou por dividir seu tempo entre duas cidades. Provavelmente, foi um grave caso de
miswanting.” (Kahneman, 2011)

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