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Neste caso das fontes, a socialização é mais “democrática”. E a socialização, se a vermos em detalhe, temos
uma socialização ainda mais ligada ao financiamento por parte do trabalhador.
O trabalhador contribui diretamente com seu salário para a sua proteção, mas, na verdade, enquanto o
Estado, o trabalhador também tem uma contribuição indireta, porque ele paga impostos e o Estado vai fazer
a contribuição através dos impostos do trabalhador também. Então, indiretamente, o trabalhador está
contribuindo com o Estado. Tudo que o Estado paga nós participamos, como na seguridade também. Outro
lugar onde o trabalhador participa indiretamente: o empresário, quando vai fazer as contribuições dele, vai
acrescentar essas contribuições no preço das mercadorias, que ele fabrica, que ele produz em termos de
serviços. Quando na verdade estamos comprando mercadorias e já estamos comprando com impostos, os
quais já forma colocados pelos empresários e pelos produtos das mercadorias e serviços, e na verdade já
temos novamente contribuindo. O trabalhador, em nenhuma esfera, deixa de contribuir para a sua própria
proteção; a classe trabalhadora é a que mais participa dos jogos de azar, então também contribuirão com a
assistência através destes; no fundo, o trabalhador está contribuindo em todas as suas formas, em mais ou
menos proporções. E aqui não só o trabalhador formal como o informal também, que paga impostos indireto
ou diretamente. Toda a estrutura faz com que a própria seguridade seja financiada socialmente.
- a socialização dos custos vem tanto do empresário quanto do Estado, assim como principalmente do
trabalhador.
- a seguridade continua com a função de socialização de custos, mas além disso ela também reproduz a força
de trabalho e a controla, legitima muitos governos.
- os constituintes pensam em tomar um financiamento maior e também tendo como base a ideia de que o
país vai se reestruturar novamente, crescer, e, portanto, teríamos uma seguridade social nos moldes
europeus, no sentido de que transcenderia a ideia de seguro e de assistência meramente filantrópica e
conseguiríamos uma proteção íntegra, que não tem previdência nem assistência e todo mundo terá a saúde
para se proteger. A seguridade é uma cópia, uma espécie de imitação, “efeito demonstração" de seguridade
dos países europeus, italiana.
- O importante é entendermos que mudamos a concepção do que seria a proteção social no Brasil e que isso
veio dos constituintes dos setores mais progressistas da sociedade, dos setores do centro e de esquerda, não
da direita, a direita pressiona para privatizar, mas a constituinte ganha essa forma, que não é a melhor, é
contraditória, é ambígua e alguns casos, e deixa muitos pontos não resolvidos nessa contribuição; porém, é
muitíssimo mais avançado do que a gente entendeu de política social até agora, até hoje defendemos isso,
porque foi o máximo que o Brasil conseguiu avançar em termos de proteção social na Constituição, mesmo
que não tenha sido implementado depois.
- ajustes estruturais e neoliberais, que aparecem imediatamente após a Constituição de 88, as eleições são
ganhas pelo Collor em 90, e então temos dois anos onde nada foi efetivado enquanto seguridade social, nada
foi efetivado enquanto modelo de desenvolvido que desse possibilidade de retomada de crescimento, de
estabilidade econômica. Então, vivemos entre 88 e 90 uma espécie de impasse, tivemos um governo
provisório e depois já com Fernando Collor caminhamos com os ajustes
POLÍTICAS DE ESTABILIZAÇÃO:
• combater a inflação (que se tornou também uma medida de manipulação, porque ninguém entende
como se forma inflação, como se produz, e o governo se utiliza dela como desculpa para implantar
medidas);
• estabilidade monetária: que a moeda seja estável e forte, que tem reservas em dólares.
• pacote de reforma de Estado: o controle e restrição dos gastos públicos gerais e sociais; privatização
das empresas públicas; reforma tributária; reestruturação do sistema de seguridade social – dentro do
Banco Mundial existe um grupo de economistas neoliberais que produzem os ajustes estruturais, que
têm seus blocos de políticas, e dentro desse bloco, uma delas é a reforma do Estado, e no interior da
reforma do Estado eles nos indicam que temos de reformular nossos sistema de seguridade social e
proteção social dos nossos trabalhadores como item específico. Por que isso é tão importante ao nível
econômico? Tem alguma coisa na política social que não está funcionando na política.
POLÍTICAS DE REFORMAS ESTRUTURAIS:
• Desregulamentação econômica: que a economia seja completamente liberada, que significa que o
Estado não interfira em nenhuma transação econômica financeira, que a economia tenha livre
movimento – este é o princípio liberal clássico só que redefinido no neoliberalismo - a ideia é que o
Estado se retire da dinâmica e controle de movimentação financeira, econômica, de comércio,
compra e venda, mercado internacional, até porque as economias estão completamente globalizadas
e relacionadas entre si. Desregulamentação, liberalização financeira comercial e econômica.
• Desregulamentação dos mercados, inclusive do mercado de trabalho – o Estado já não mais quer
proteger o mercado de trabalho e faz isso através das reformas trabalhistas.
• Políticas de reinserção competitiva: Para que o Brasil tenha políticas de reinserção industrial e
agroexportadora ao nível mundial, para o Brasil se recoloque no mercado internacional e termos
produtivos, industriais e agropecurários e agrários. Logo, precisa não ter mais políticas
protecionistas.
- a economia estruturalmente vai se libertar econômica, financeiramente, comercialmente, não vai ter
mais nenhum tipo de amarras ou de controle
- “recomendações” de ajustes estruturais - são planos único mas cada país implementa de uma forma/
- Há diferenças muito grandes entre os ajustes nos países centrais e os ajustes na América Latina: as
condições diferentes de desenvolvimento nos países centrais e da américa latina, não é a mesma
coisa aplicar um ajuste num Estado forte, numa economia forte, como são as economias europeias,
em geral estáveis, onde não há oscilações em algumas moedas, onde não há problemas de reservas,
onde as economias são mais estáveis e aplicar ajustes nas economias completamente instáveis e em
crise como as latino-americanas, com superexploração do trabalho, mercado informal, burguesia
fraca e setores poucos desenvolvidos, pouca tecnologia desenvolvida. Justamente porque a condição
de central e dependente é o que vai dar a ideia de como será aplicado os ajustes e já se tem estudos
onde os ajustes que foram aplicados na Europa em grande parte forma pagos por nós, pois, ao sermos
dependentes e subordinados, estamos o tempo todo pagando dívidas para os países centrais, para o
capitalismo internacional, se eles ajustem, na verdade quem está pagando somos nós, os que têm
dívidas com eles. Então, nós, América Latina, além de sair da crise, de crescermos, temos de
produzir e pagar a dívida; os países europeus se estabilizam, crescem, produzem e continuam
vivendo, inclusive seus próprios trabalhadores.
1994 – Plano Real – FHC: a primeira expressão da implementação do ajuste estrutural “para valer”
o plano real vai conter a inflação e equilibrar a moeda; primeiro instrumento econômico que vai responder
às questões da estabilidade.
alguns elementos de ajustes estruturais tentaram ser implementados com Fernando Collor, sobretudo a
abertura comercial, financeira, de mercado, ele tentou também a privatização de algumas empresas, mas ele
não teve legitimidade para levar à frente nenhuma das reformas.
A terceira questão que o plano vai trazer é tentar garantir a estabilidade e trazer investimentos externos, isto
é, na ideia de abertura econômica geral e global. Então o plano traz a possibilidade de que a economia possa
se estabilizar e venham os investimentos externos para começar a crescer. Como internamente não havia
dinheiro suficiente, se abre a economia na ideia de globalização que venha investimentos externos.
O FHC implementa uma segunda medida, o famoso Plano Diretor de Reforma de Estado, que é a reforma de
Estado indicada pelo ajuste estrutural. Em 95 se cria o Ministério de Reforma de Estado e se faz a reforma
estrutural do Estado, que ele viria reduzir gastos e rever a seguridade, que havia sido inaugurada em 88
(Collor, anteriormente, já havia reformado algumas coisas da seguridade). Isto é o que vamos denominar de
CONTRA-REFORMA DO ESTADO, pois para nós, progressistas, defensores dos direitos sociais, a reforma
foi a reforma de 88, onde o Estado se ampliou, a seguridade social foi construída, onde os direitos foram
ampliados, onde o financiamento foi ampliado. Logo, o que acontece posteriormente é uma contra-reforma,
que vai contra tudo o que defendemos. A verdadeira reforma é a da década de 88, onde nós participamos
para isso, onde lutamos por isso, e não em 95, onde ficamos olhando o que estava acontecendo, reduzindo o
Estado, tentando reduzir a seguridade, tentando esbarrar a implementação da proteção dos trabalhadores. A
verdadeira reforma, progressista e popular foi em 88.
- reforma: com partidos social democratas, quando se ganha cada vez mais direitos;
- contra-reforma: quando a participação é eliminada e a população fica de fora
- > Vai se reestruturar várias funções do Estado, que vai fundamentalmente se reduzir na sua dimensão
social, o primeiro que vai acontecer é toda a redução da dimensão das políticas sociais, vão se reorganizar as
funções do Estado, que ficará com funções mínimas; temos claramente um Estado que vai se retirar da
dimensão de proteção ao trabalho em todos os sentidos, através da reforma trabalhista, através da reforma
das políticas sociais, através de várias medidas. E por outro lado, conservará e aprimorará as vantagens para
alguns capitais - desequilíbrio nas funções do Estado, no sentido de favorecer determinados setores e
culpabilizar, portanto, reduzir benefícios e vantagens para outros. Claramente, todas as políticas são
direcionadas para o favorecimento de grandes capitais.
Como isso se reflete nas políticas sociais?
Os primeiros ataques, em termos de políticas sociais, a seguridade de 88, foram realizados em 90,91 e 93.
Ao invés de ser criado um orçamento geral seguridade por um ministério da seguridade social, são criadas 3
Leis Orgânicas separados, novamente: a da saúde, previdência e assistência. Ao invés de termos a
seguridade integrada, as Leis Orgânicas implementam a política, cada uma diz como elas funcionarão. Então
se se tem 3 orgânicas separadamente, a seguridade não vai funcionar realmente como seguridade. Vai
funcionar simplesmente como previdência, assistência e saúde. Essa foi a primeira medida contra a
seguridade social na CF 88. Então vamos entender que tudo que acontece daqui para frente é um atropelo à
seguridade na CF, às políticas sociais que deviam supostamente ter sido implementadas. Os princípios da
Constituição (os 8 anteriores ditados) em nenhum momento são negados, no sentido de apagado, retirados
na CF, e continuam até hoje, só que o fato de estarem lá, não foi suficientemente forte ou pesado para que
eles não fossem substituídos por outros princípios que não estão em lugar nenhum, são princípios subjetivos,
não estão na letra, na Constituição. No entanto, sabemos, que a seguridade e seus princípios são substituídos
por outros do neoliberalismo. Os novos princípios são: a descentralização, como desconcentração
econômica; a focalização; e a privatização. Os intelectuais começam a observar para onde as políticas estão
sendo direcionadas e, a partir daí, se observam estes três movimentos. Estes princípios não aparecem em
nenhuma lei, aparecem como orientações.
Como é possível que isso tenha acontecido se a Constituição diz que a seguridade está lá, nós
construímos isso de forma coletiva, social, democrática com um movimento muito grande de pessoas
dinamizadas e envolvidas?
Há alguns argumentos possíveis para poder compreender essa situação. A primeira situação é a grande crise
econômica e política que deixou o país um caos e ninguém estava mais interessado em saber se haveria
previdência, pois a inflação era muito pior que saber se ia ter saúde ou não, hospital ou não, esse foi o caos
gerado pela crise que atinge a população de forma devastadora. Então faltou o que os autores denominam de
“a perseverança na defesa da Constituição e da seguridade”;
Segundo, imediatamente depois da crise se inicia um ataque às organizações dos trabalhadores, partidos
políticos, ataque no sentido de desorganização, despolítização, a ideia de terrorismo, de medo. Começa um
caminho contrário, se durante os finais dos anos 80 foi uma construção da politização da sociedade
brasileira, dos anos 90 para frente começa um retrocesso da organização política, pois, a realidade estrutural
era tão pesada, impossível de controlar, que as pessoas se subordinaram a qualquer coisa para se manterem.
O ataque à politização foi constante e massivo, através de mídia, pressões ou ataques diretos a organização
política ou corte de lideranças. A despolitização te várias frentes, despolitiza, enfraquece a luta, a
organização dos trabalhadores, corta lideranças. Então, esse foi um dos argumentos: as organizações que
defenderam a Constituição muito rapidamente e constantemente foram enfraquecidas na sua ação política,
na sua defesa pela seguridade. Outro argumento/elemento muito importante, a própria Constituição deixa
lugar para alguns princípios privatizadores, para algumas questões meio confusas em relação a interesses
privados e públicos. Então há um outro elemento que também ajuda a compreender por que, por exemplo, se
passa de novo a separação das 3 áreas, a CF deixa lugar para que estas questões possam acontecer. A
Constituição é ambígua, então em algumas legislações a própria CF deixa a entrada, por exemplo, de setores
privados no interior da seguridade. Então, as coisas que iam acontecendo contra a seguridade e a favor da
privatização de algumas políticas, eram aceitos pela própria letra do CF, ela nunca foi negada. Então outro
argumento de por que tudo isso acontece, é porque a CF tem falhas, branco, ambiguidades e permitem
algumas reformas. Portanto, a seguridade é caracterizada como inconclusa. Ela que é uma seguridade
integrada, com tendência à universalização, nunca se realizou completamente até hoje, nunca se efetivou de
acordo com o ideário constitucional. A seguridade foi atropelada pelos ajustes estruturais econômicos,
qualquer coisa que se fazia era “porque não tem dinheiro, porque o SUS é caro, não tem investimento,
porque a previdência não dá”, nunca se tem dinheiro para o social; pela fragilidade política dos
trabalhadores, das pessoas que correram atrás da seguridade e não conseguiram; ao abandono do projeto da
seguridade; e fundamentalmente foi atropelada pela hegemonia dos grupos poderosos neoliberais, de direita,
interessados na privatização de alguns setores, fundamentalmente educação, saúde e previdência (os setores
mais lucrativos da seguridade). O que se quis fazer, o que aconteceu realmente, foi a ideia de uma
seguridade ampla, democrática, participativa, protetora, cara, no meio de um país que está saindo de uma
crise e precisa se recuperar com um projeto de direita, e dificilmente ela pudesse ser levada à frente nessas
condições, em que se precisava de amplas fontes de financiamentos, mas o país estava quebrado. Há
inúmeros fatores que nos explicam de alguma forma por que que a CF não se realiza concretamente, mas
não podemos só responsabilizar a crise, porque se não caímos na ideia de que a crise é responsável por tudo,
e que não somos protagonistas de nada. Há um ideário de sociedade que se faz hegemônico, que não é o
ideário da CF, não é o ideário democrática popular, participativo, amplo, financiado, mas sim um ideário
liberal de direita. Então, há a responsabilidade da CF que deixou espaços para certos acontecimentos, mas há
um elemento muito importante, que é a sociedade que estava no momento com um outro ideário de
desenvolvimento, neoconservador, neoliberal.