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POLÍTICA SOCIAL II – AULA 27.

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Gestão democrática e descentralizada; subordinação do privado ao público; ampliação das fontes de


financiamento, que não é bem um princípio, é uma concessão
A ampliação das fontes de financiamento se trata de tentar alcançar uma certa redistribuição financeira a
partir das políticas sociais – marcar, fincar as contribuições sociais
- a seguridade social se torna responsabilidade de todos;
- além das contribuições do Estado, do trabalhador e do empresário,
as fontes de financiamento são fundamentalmente estas:
as contribuições sociais, que continuam sendo, por enquanto são:

• Estado, que contribui em duas forças:


a) enquanto Estado público, através do fundo público;
b) enquanto empregador, patrão
• Empresários no nível privado
• Trabalhadores a partir da folha de salário: tanto do setor privado quanto público
-Forma contributiva: essa forma continua sendo financiada como antigamente, só que como estamos
inaugurando um sistema novo mais amplo, onde se integram saúde e previdência e assistência, a forma
contributiva, resultou insuficiente, foi considerada insuficiente pelos constituintes.
- se pensou num sistema que seja mais amplamente financiado e que restringir ao distributivo não avançada
nada. No financiamento também se avança em relação de que havia outras fontes que podem ser
incorporadas e que equilibrasse financeiramente mais o sistema. Então se acrescentam dois impostos ao
capital, se aproximando de uma espécie de redistribuição social. Apenas se aproxima pois em nenhum
momento se atinge ela em cheio as riquezas. Os impostos acrescentados foram:
• CSNL - contribuição social sobre o núcleo líquido - imposto direto aos empresários, eles pagam com
uma porcentagem daquilo que eles lucram (+/- 2%).
• COFINS - contribuição para financiamento seguridade social – se tem em todos os lugares, é a
contribuição sobre o faturamento das empresas, então é ainda mais alto. É o que menos pode ser
driblado, é o que mais podemos visualizar o pagamento, porque aparece nos serviços e mercadorias
(8%)
• Concurso de prognóstico - loterias, sena, megasena: jogos legais que são administrados pela caixa
econômica federal – uma parte é prêmio para as pessoas e outra parte é destinado à assistência
fundamentalmente
Supostamente, todo o dinheiro arrecadado, com todas estas fontes, teria que ir para o fundo da seguridade
social, ou qual, deveria pertencer ao ministério da seguridade social, só que não, pois tivemos uma série de
ataques já neoliberais à construção da seguridade. Assim que a seguridade nasce, já é atacada e, de alguma
maneira, pressionada para não ser implementada tal qual foi idealizada. Então, tanto o fundo quanto o
ministério não foram implementados como deveriam, como estavam idealizados na Constituição. Logo,
entendemos que nem tudo que é idealizado no direito, na legislação, na política, depois é efetivado
completamente.
- a ideia de que a seguridade não pode ser só financiada pelo trabalhador e o empresário, avançar na ideia de
que a seguridade deve ser financiada pela sociedade como um todo. E fundamentalmente, que a seguridade
social seja financiada em grande parte, como uma espécie de redistribuição, pela classe empresária.
• A socialização dos custos é constante, teve o surgimento de políticas sociais formais como se vê
hoje. A função da política social enquanto socializadora de custo é constante, porque, na verdade,
não é só o que usa a força de trabalho que paga o custo da sua reprodução, deveria ser o empresário,
senão que já é socializado quando o próprio trabalhador contribui para sua própria proteção, ou
quando o próprio Estado contribui para a proteção da força de trabalho do trabalhador.

Neste caso das fontes, a socialização é mais “democrática”. E a socialização, se a vermos em detalhe, temos
uma socialização ainda mais ligada ao financiamento por parte do trabalhador.
O trabalhador contribui diretamente com seu salário para a sua proteção, mas, na verdade, enquanto o
Estado, o trabalhador também tem uma contribuição indireta, porque ele paga impostos e o Estado vai fazer
a contribuição através dos impostos do trabalhador também. Então, indiretamente, o trabalhador está
contribuindo com o Estado. Tudo que o Estado paga nós participamos, como na seguridade também. Outro
lugar onde o trabalhador participa indiretamente: o empresário, quando vai fazer as contribuições dele, vai
acrescentar essas contribuições no preço das mercadorias, que ele fabrica, que ele produz em termos de
serviços. Quando na verdade estamos comprando mercadorias e já estamos comprando com impostos, os
quais já forma colocados pelos empresários e pelos produtos das mercadorias e serviços, e na verdade já
temos novamente contribuindo. O trabalhador, em nenhuma esfera, deixa de contribuir para a sua própria
proteção; a classe trabalhadora é a que mais participa dos jogos de azar, então também contribuirão com a
assistência através destes; no fundo, o trabalhador está contribuindo em todas as suas formas, em mais ou
menos proporções. E aqui não só o trabalhador formal como o informal também, que paga impostos indireto
ou diretamente. Toda a estrutura faz com que a própria seguridade seja financiada socialmente.
- a socialização dos custos vem tanto do empresário quanto do Estado, assim como principalmente do
trabalhador.
- a seguridade continua com a função de socialização de custos, mas além disso ela também reproduz a força
de trabalho e a controla, legitima muitos governos.
- os constituintes pensam em tomar um financiamento maior e também tendo como base a ideia de que o
país vai se reestruturar novamente, crescer, e, portanto, teríamos uma seguridade social nos moldes
europeus, no sentido de que transcenderia a ideia de seguro e de assistência meramente filantrópica e
conseguiríamos uma proteção íntegra, que não tem previdência nem assistência e todo mundo terá a saúde
para se proteger. A seguridade é uma cópia, uma espécie de imitação, “efeito demonstração" de seguridade
dos países europeus, italiana.
- O importante é entendermos que mudamos a concepção do que seria a proteção social no Brasil e que isso
veio dos constituintes dos setores mais progressistas da sociedade, dos setores do centro e de esquerda, não
da direita, a direita pressiona para privatizar, mas a constituinte ganha essa forma, que não é a melhor, é
contraditória, é ambígua e alguns casos, e deixa muitos pontos não resolvidos nessa contribuição; porém, é
muitíssimo mais avançado do que a gente entendeu de política social até agora, até hoje defendemos isso,
porque foi o máximo que o Brasil conseguiu avançar em termos de proteção social na Constituição, mesmo
que não tenha sido implementado depois.
- ajustes estruturais e neoliberais, que aparecem imediatamente após a Constituição de 88, as eleições são
ganhas pelo Collor em 90, e então temos dois anos onde nada foi efetivado enquanto seguridade social, nada
foi efetivado enquanto modelo de desenvolvido que desse possibilidade de retomada de crescimento, de
estabilidade econômica. Então, vivemos entre 88 e 90 uma espécie de impasse, tivemos um governo
provisório e depois já com Fernando Collor caminhamos com os ajustes

Princípio de descentralização: É apropriado pelo neoliberalismo de uma outra forma, “princípio


democrático” // o que significou este princípio na década de 80 e, portanto, como ela estava na Constituição.
Junto com movimentos sociais e políticas, criação de partidos políticos e movimentos sindicais na década de
80, nesse momento temos o processo de descentralização federativa, onde numa Constituição aparece toda
descentralização dos estados, dos poderes. Isso é importante para todo o processo de democratização contra
as fortes centralizações dos governos militares, a Constituição coloca o processo de descentralização política
e de poder, onde se traz o que entendemos hoje como pacto federativo, onde estados e municípios têm seus
poderes próprios, autônomos, ou relativamente autônomos, onde s descentraliza o poder e também
financeiramente, já não depende todos os estados do poder central da união, cada estado e município tem seu
poder específico e, portanto, sua forma de financiamento próprio. Com isto, se entende que a população está
cada vez mais próxima dos seus poderes estaduais e municipais, o movimento de descentralização foi
fundamental para o Estado geral muitíssimo mais democrático. Descentralização e democratização vão
juntas, porque se entende que quanto mais se descentraliza o poder, mais próxima estaremos dos poderes.
Isso vai também para as políticas sociais, então infância e juventude, assistência, saúde, educação, são todas
políticas descentralizadas, extremamente progressista, porque temos escola municipal, a secretária de saúde
na prefeitura, hospital que é municipal, então tudo que acontece na proteção das pessoas é resolvida no
município, inclusive, com a ampliação dos conselhos e a participação de toda população. Então o processo
de descentralização é um dos princípios mais progressistas, populares e mais democrático que a Constituição
traz. Então, o princípio de descentralização é um dos mais importantes pois trabalha a ideia de
democratização descentralizada. Este princípio na CF 88 abrange o poder dos estados e municípios, não é
mais a união que controla tudo, ela vai repassar o dinheiro e controlá-los, supostamente, de cima. A união
controla se o estado deve dinheiro, controla para que não sonegue, que não seja corrupto, que os princípios
sejam fiscalizados. Este principal tem o objetivo claríssimo de democratização das gestões entre uniões,
estados e municípios e que isso transcendem toda a gestão geral e vai fundamentalmente para as políticas
sociais e se criam órgãos específicos que foram os conselhos participativos, com inúmeros problemas,
porém, sua criação foi um avanço enorme e precisa-se resgatar sua função e “eficientizá-lo”.
- só que este processo acaba, posteriormente, sendo absorvido pelo neoliberalismo e tem seu caráter
mudado.
no 3º período temos uma transição entre 90 e 95, do período democrática e neoliberalismo na democracia.
o neoliberalismo tem suas origens durante o final da década de 80 e início da de 90, há uma briga importante
de projetos sociais, onde se apresenta dois projetos importantes e isso representa dois projetos de sociedade
exatamente opostos e muito diferentes: o PT, na “esquerda” (social democracia), com o Lula e do outro lado
o Collor. Ambos os dois projetos com ideias de como tirar o Brasil da crise, ambos com o mesmo horizonte
só que com propostas bem diferenciadas.

Elementos que vêm da época de 88/95 -


a partir de 1990 começam algumas medidas de ajustes estruturais com Collor;
De onde vem? O que são esses ajustes? São receitas feitas Harvard por economistas extremamente formados
e reconhecidos neoliberais, que organizam planos econômicos para reestruturar o capital e reunir forças para
sair da crise e se estabilizarem e crescerem novamente, são as famosas respostas que a burguesia dá para sair
da crise estrutural do capital. Por que se chama ajuste estruturais e por que economistas norte-americanos
que colocam em prática este projeto? Porque se supõe que eles têm uma espécie de solução aos países
devedores. Lembrando que entramos em crise na década de 80 e não é só uma crise estrutural do capital, a
qual o brasil já entrou e começa a entrar dentro da sua dinâmica, senão que o Brasil e o resto dos países
latino-americanos entram numa crise que se chamou “crise da dívida” , porque não só é a crise do capital
mas também a crise do capital endividado. Então temos que sair do caos econômico, uma vez que nos
estabilizamos e começamos a crescer, pagamos a dívida. Supostamente, os administradores das dívidas têm
uma solução para a gente, que se chama ajustes estruturais para a américa latina, eles vêm com o Consenso
de Washington em 1989. E o Brasil aceita estes planos através do Collor. Estas são políticas onde vamos
trilhando também enforcamentos, nossas economias foram de alguma maneira enforcadas para chegar a esta
situação. Cada país vai implementar os ajustes a partir de suas particularidades. Estes planos dimensionam
seu caráter para que os países latino americanos passem por três fases: a estabilidade, a retomada do
crescimento e o pagamento das dívidas.
Estes planos combinam dois grandes blocos de políticas: as políticas de estabilização, que é o primeiro
passo, e as políticas de reformas estruturais.

POLÍTICAS DE ESTABILIZAÇÃO:

• combater a inflação (que se tornou também uma medida de manipulação, porque ninguém entende
como se forma inflação, como se produz, e o governo se utiliza dela como desculpa para implantar
medidas);
• estabilidade monetária: que a moeda seja estável e forte, que tem reservas em dólares.
• pacote de reforma de Estado: o controle e restrição dos gastos públicos gerais e sociais; privatização
das empresas públicas; reforma tributária; reestruturação do sistema de seguridade social – dentro do
Banco Mundial existe um grupo de economistas neoliberais que produzem os ajustes estruturais, que
têm seus blocos de políticas, e dentro desse bloco, uma delas é a reforma do Estado, e no interior da
reforma do Estado eles nos indicam que temos de reformular nossos sistema de seguridade social e
proteção social dos nossos trabalhadores como item específico. Por que isso é tão importante ao nível
econômico? Tem alguma coisa na política social que não está funcionando na política.
POLÍTICAS DE REFORMAS ESTRUTURAIS:
• Desregulamentação econômica: que a economia seja completamente liberada, que significa que o
Estado não interfira em nenhuma transação econômica financeira, que a economia tenha livre
movimento – este é o princípio liberal clássico só que redefinido no neoliberalismo - a ideia é que o
Estado se retire da dinâmica e controle de movimentação financeira, econômica, de comércio,
compra e venda, mercado internacional, até porque as economias estão completamente globalizadas
e relacionadas entre si. Desregulamentação, liberalização financeira comercial e econômica.
• Desregulamentação dos mercados, inclusive do mercado de trabalho – o Estado já não mais quer
proteger o mercado de trabalho e faz isso através das reformas trabalhistas.
• Políticas de reinserção competitiva: Para que o Brasil tenha políticas de reinserção industrial e
agroexportadora ao nível mundial, para o Brasil se recoloque no mercado internacional e termos
produtivos, industriais e agropecurários e agrários. Logo, precisa não ter mais políticas
protecionistas.

- a economia estruturalmente vai se libertar econômica, financeiramente, comercialmente, não vai ter
mais nenhum tipo de amarras ou de controle

- “recomendações” de ajustes estruturais - são planos único mas cada país implementa de uma forma/
- Há diferenças muito grandes entre os ajustes nos países centrais e os ajustes na América Latina: as
condições diferentes de desenvolvimento nos países centrais e da américa latina, não é a mesma
coisa aplicar um ajuste num Estado forte, numa economia forte, como são as economias europeias,
em geral estáveis, onde não há oscilações em algumas moedas, onde não há problemas de reservas,
onde as economias são mais estáveis e aplicar ajustes nas economias completamente instáveis e em
crise como as latino-americanas, com superexploração do trabalho, mercado informal, burguesia
fraca e setores poucos desenvolvidos, pouca tecnologia desenvolvida. Justamente porque a condição
de central e dependente é o que vai dar a ideia de como será aplicado os ajustes e já se tem estudos
onde os ajustes que foram aplicados na Europa em grande parte forma pagos por nós, pois, ao sermos
dependentes e subordinados, estamos o tempo todo pagando dívidas para os países centrais, para o
capitalismo internacional, se eles ajustem, na verdade quem está pagando somos nós, os que têm
dívidas com eles. Então, nós, América Latina, além de sair da crise, de crescermos, temos de
produzir e pagar a dívida; os países europeus se estabilizam, crescem, produzem e continuam
vivendo, inclusive seus próprios trabalhadores.

1994 – Plano Real – FHC: a primeira expressão da implementação do ajuste estrutural “para valer”
o plano real vai conter a inflação e equilibrar a moeda; primeiro instrumento econômico que vai responder
às questões da estabilidade.
alguns elementos de ajustes estruturais tentaram ser implementados com Fernando Collor, sobretudo a
abertura comercial, financeira, de mercado, ele tentou também a privatização de algumas empresas, mas ele
não teve legitimidade para levar à frente nenhuma das reformas.
A terceira questão que o plano vai trazer é tentar garantir a estabilidade e trazer investimentos externos, isto
é, na ideia de abertura econômica geral e global. Então o plano traz a possibilidade de que a economia possa
se estabilizar e venham os investimentos externos para começar a crescer. Como internamente não havia
dinheiro suficiente, se abre a economia na ideia de globalização que venha investimentos externos.
O FHC implementa uma segunda medida, o famoso Plano Diretor de Reforma de Estado, que é a reforma de
Estado indicada pelo ajuste estrutural. Em 95 se cria o Ministério de Reforma de Estado e se faz a reforma
estrutural do Estado, que ele viria reduzir gastos e rever a seguridade, que havia sido inaugurada em 88
(Collor, anteriormente, já havia reformado algumas coisas da seguridade). Isto é o que vamos denominar de
CONTRA-REFORMA DO ESTADO, pois para nós, progressistas, defensores dos direitos sociais, a reforma
foi a reforma de 88, onde o Estado se ampliou, a seguridade social foi construída, onde os direitos foram
ampliados, onde o financiamento foi ampliado. Logo, o que acontece posteriormente é uma contra-reforma,
que vai contra tudo o que defendemos. A verdadeira reforma é a da década de 88, onde nós participamos
para isso, onde lutamos por isso, e não em 95, onde ficamos olhando o que estava acontecendo, reduzindo o
Estado, tentando reduzir a seguridade, tentando esbarrar a implementação da proteção dos trabalhadores. A
verdadeira reforma, progressista e popular foi em 88.
- reforma: com partidos social democratas, quando se ganha cada vez mais direitos;
- contra-reforma: quando a participação é eliminada e a população fica de fora
- > Vai se reestruturar várias funções do Estado, que vai fundamentalmente se reduzir na sua dimensão
social, o primeiro que vai acontecer é toda a redução da dimensão das políticas sociais, vão se reorganizar as
funções do Estado, que ficará com funções mínimas; temos claramente um Estado que vai se retirar da
dimensão de proteção ao trabalho em todos os sentidos, através da reforma trabalhista, através da reforma
das políticas sociais, através de várias medidas. E por outro lado, conservará e aprimorará as vantagens para
alguns capitais - desequilíbrio nas funções do Estado, no sentido de favorecer determinados setores e
culpabilizar, portanto, reduzir benefícios e vantagens para outros. Claramente, todas as políticas são
direcionadas para o favorecimento de grandes capitais.
Como isso se reflete nas políticas sociais?

Os primeiros ataques, em termos de políticas sociais, a seguridade de 88, foram realizados em 90,91 e 93.
Ao invés de ser criado um orçamento geral seguridade por um ministério da seguridade social, são criadas 3
Leis Orgânicas separados, novamente: a da saúde, previdência e assistência. Ao invés de termos a
seguridade integrada, as Leis Orgânicas implementam a política, cada uma diz como elas funcionarão. Então
se se tem 3 orgânicas separadamente, a seguridade não vai funcionar realmente como seguridade. Vai
funcionar simplesmente como previdência, assistência e saúde. Essa foi a primeira medida contra a
seguridade social na CF 88. Então vamos entender que tudo que acontece daqui para frente é um atropelo à
seguridade na CF, às políticas sociais que deviam supostamente ter sido implementadas. Os princípios da
Constituição (os 8 anteriores ditados) em nenhum momento são negados, no sentido de apagado, retirados
na CF, e continuam até hoje, só que o fato de estarem lá, não foi suficientemente forte ou pesado para que
eles não fossem substituídos por outros princípios que não estão em lugar nenhum, são princípios subjetivos,
não estão na letra, na Constituição. No entanto, sabemos, que a seguridade e seus princípios são substituídos
por outros do neoliberalismo. Os novos princípios são: a descentralização, como desconcentração
econômica; a focalização; e a privatização. Os intelectuais começam a observar para onde as políticas estão
sendo direcionadas e, a partir daí, se observam estes três movimentos. Estes princípios não aparecem em
nenhuma lei, aparecem como orientações.
Como é possível que isso tenha acontecido se a Constituição diz que a seguridade está lá, nós
construímos isso de forma coletiva, social, democrática com um movimento muito grande de pessoas
dinamizadas e envolvidas?
Há alguns argumentos possíveis para poder compreender essa situação. A primeira situação é a grande crise
econômica e política que deixou o país um caos e ninguém estava mais interessado em saber se haveria
previdência, pois a inflação era muito pior que saber se ia ter saúde ou não, hospital ou não, esse foi o caos
gerado pela crise que atinge a população de forma devastadora. Então faltou o que os autores denominam de
“a perseverança na defesa da Constituição e da seguridade”;
Segundo, imediatamente depois da crise se inicia um ataque às organizações dos trabalhadores, partidos
políticos, ataque no sentido de desorganização, despolítização, a ideia de terrorismo, de medo. Começa um
caminho contrário, se durante os finais dos anos 80 foi uma construção da politização da sociedade
brasileira, dos anos 90 para frente começa um retrocesso da organização política, pois, a realidade estrutural
era tão pesada, impossível de controlar, que as pessoas se subordinaram a qualquer coisa para se manterem.
O ataque à politização foi constante e massivo, através de mídia, pressões ou ataques diretos a organização
política ou corte de lideranças. A despolitização te várias frentes, despolitiza, enfraquece a luta, a
organização dos trabalhadores, corta lideranças. Então, esse foi um dos argumentos: as organizações que
defenderam a Constituição muito rapidamente e constantemente foram enfraquecidas na sua ação política,
na sua defesa pela seguridade. Outro argumento/elemento muito importante, a própria Constituição deixa
lugar para alguns princípios privatizadores, para algumas questões meio confusas em relação a interesses
privados e públicos. Então há um outro elemento que também ajuda a compreender por que, por exemplo, se
passa de novo a separação das 3 áreas, a CF deixa lugar para que estas questões possam acontecer. A
Constituição é ambígua, então em algumas legislações a própria CF deixa a entrada, por exemplo, de setores
privados no interior da seguridade. Então, as coisas que iam acontecendo contra a seguridade e a favor da
privatização de algumas políticas, eram aceitos pela própria letra do CF, ela nunca foi negada. Então outro
argumento de por que tudo isso acontece, é porque a CF tem falhas, branco, ambiguidades e permitem
algumas reformas. Portanto, a seguridade é caracterizada como inconclusa. Ela que é uma seguridade
integrada, com tendência à universalização, nunca se realizou completamente até hoje, nunca se efetivou de
acordo com o ideário constitucional. A seguridade foi atropelada pelos ajustes estruturais econômicos,
qualquer coisa que se fazia era “porque não tem dinheiro, porque o SUS é caro, não tem investimento,
porque a previdência não dá”, nunca se tem dinheiro para o social; pela fragilidade política dos
trabalhadores, das pessoas que correram atrás da seguridade e não conseguiram; ao abandono do projeto da
seguridade; e fundamentalmente foi atropelada pela hegemonia dos grupos poderosos neoliberais, de direita,
interessados na privatização de alguns setores, fundamentalmente educação, saúde e previdência (os setores
mais lucrativos da seguridade). O que se quis fazer, o que aconteceu realmente, foi a ideia de uma
seguridade ampla, democrática, participativa, protetora, cara, no meio de um país que está saindo de uma
crise e precisa se recuperar com um projeto de direita, e dificilmente ela pudesse ser levada à frente nessas
condições, em que se precisava de amplas fontes de financiamentos, mas o país estava quebrado. Há
inúmeros fatores que nos explicam de alguma forma por que que a CF não se realiza concretamente, mas
não podemos só responsabilizar a crise, porque se não caímos na ideia de que a crise é responsável por tudo,
e que não somos protagonistas de nada. Há um ideário de sociedade que se faz hegemônico, que não é o
ideário da CF, não é o ideário democrática popular, participativo, amplo, financiado, mas sim um ideário
liberal de direita. Então, há a responsabilidade da CF que deixou espaços para certos acontecimentos, mas há
um elemento muito importante, que é a sociedade que estava no momento com um outro ideário de
desenvolvimento, neoconservador, neoliberal.

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