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LABIC - Literatura Amazônica, Bibliotecas & Cidadania: ações extensionistas


interdisciplinares para a formação de professores e de leitores.

Vânia Maria do S. Alvarez 1


Lucélia Padilha de Castro2

RESUMO: Este artigo apresenta o LABIC, projeto para desenvolver


competências leitoras nos Graduandos em Letras, Biblioteconomia e Arte da
UFPA e o compromisso com a formação de professores e de leitores,
priorizando a Literatura na Amazônia. Será aplicado em pelo menos dez
bibliotecas escolares e comunitárias, localizadas na Região Metropolitana de
Belém, atendendo inicialmente 200 professores e 2.000 usuários, podendo ser
ampliado para outros Campi da UFPA. O projeto divide-se em: EIXO I –
LENDO A AMAZÔNIA e o EIXO II – PRÓ-LER: INFORMATION
LITERACY, BIBLIOTECAS e PROJETOS DE LEITURA. A principal meta é
criar o Grupo de Recitadores, Trovadores e Aedos (GRUTA/UFPA), para
executar projetos de incentivo à leitura, que amenizem os índices
contraproducentes da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2011) e
confirmados na pesquisa/2014.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Amazônica. Bibliotecas Escolares e


Comunitárias. Projetos de Leitura.

Introdução
A concepção do Projeto “LABIC - Literatura Amazônica, Bibliotecas & Cidadania: ações
extensionistas para a formação de professores e de leitores” foi motivada pela problemática sobre
leitura no Brasil, que se apresenta de forma histórica e cultural, quando se trata de analfabetismo,
baixo consumo de livros, práticas e resultados sobre leitura e leitores que destoam do
desenvolvimento socioeconômico e educacional do país. O dado alarmante é que todos os níveis
de ensino são afetados pela ausência de projetos que priorizem a leitura: o fundamental, o médio
e o superior. Ações educativas envolvendo o ensino e a pesquisa têm revelado as mazelas que
afligem a área, oferecendo dados concretos para que se possa buscar a sua superação dentro e
fora das salas de aula, em ações extensionistas.
Para o professor Valdir Barzotto (2015), da FAED/USP, a leitura desenvolve o repertório
geral, auxilia o indivíduo para que tenha senso crítico, amplia o vocabulário, estimula a
criatividade e, finalmente, facilita a escrita. Mas ainda é preciso tomar cuidado e selecionar bem o
que se lê. Vive-se em um momento em que há excesso de material disponível. O que também
pode ser prejudicial, pois uma pessoa pode ler coisas que não são de fonte confiável. Essa é uma
novidade do tempo contemporâneo. Existe muito acesso ao texto, mas não ao conhecimento. A

1 Professora da UFPA do ILC/FALE; mestre em Estudos Literários, doutoranda em Literatura e Cultura. Coordenadora do
Projeto Comunica Matemática – PARFOR/ICEN/UFPA e de outros projetos em Belém e municípios do Pará. Contatos:
alvarez@ufpa.br; vmsalvarez58@hotmail.com.
2 Bacharel em Administração; Coordenadora-Adjunta do Projeto Comunica Matemática –PARFOR/ICEN/UFPA. Gestora e

Especialista em Projetos Sociais e Culturais. Contatos: lpcavv@gmail.com.

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grande quantidade de informação disponível tem sido propiciada, principalmente, pelo avanço da
tecnologia, em especial o da internet.
Barzotto (2015) assinala que outro grande problema do panorama da leitura e da escrita
no País é a questão da interpretação. Alunos com 14 anos ainda têm dificuldades em identificar
informações que estão tanto explícitas quanto implícitas em um texto. Este déficit transcende a
disciplina língua portuguesa e atinge outras áreas como a matemática, no momento de interpretar
enunciados-problema, a história, para compreender as relações entre os fatos, por exemplo.
Nesse sentido, é importante lembrar o papel de projetos de leitura contínuos e de boa qualidade,
pois é necessário, primeiramente, ultrapassar a barreira da dificuldade da leitura para que o poder
de interpretação seja facilitado.
Para o professor Barzotto (2015), na busca pela melhoria do incentivo à leitura e escrita
no País, há três perspectivas para as quais deve-se voltar os olhares: o governo, a escola e o
próprio lar. Esses três constituem os principais pilares e não acontecem separadamente. Do
poder público é preciso ter uma melhor administração dos recursos destinados a incentivar as
pessoas a lerem. Isso se reflete, principalmente, nas bibliotecas escolares que, além de não
estarem bem aparelhadas, também deveriam contar com professores e funcionários
especializados em projetos de leitura. O governo deve garantir uma estrutura mínima em que seja
possível ler,3 afirma o especialista.
Assim, o que se detecta é a ausência da competência plena para ler e a não existência de
um sistema de bibliotecas que facilite a implementação de projetos de leitura nas escolas e nas
comunidades.4
Certamente a ausência da competência plena de leitura prejudica o desempenho
dos estudantes brasileiros em todas as áreas de conhecimento, indicando a
necessidade clara da intensificação de medidas que priorizem o acesso à leitura
plena em todos os níveis como uma das formas mais consistentes de apoiar a
melhoria da qualidade da educação em nosso País. (PNLL, 2014, p.10)

O Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL/2014) afirma que as dificuldades de


acesso aos livros em geral, e mesmo em escolas e bibliotecas, somado ao baixo poder aquisitivo

3 NUNES, Wiliam. Especialistas indicam desafios para a prática da leitura. In: USP Online, Revista Espaço Aberto, 06 fev 2015,
http://www5.usp.br/84357/especialistas-comentam-desafios-para-a-pratica-da-leitura-no-brasil/
4 Os dados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), divulgados em 18/09/2015, pelo Ministério da Educação, mostram

que as regiões Norte e Nordeste têm os piores resultados. As áreas avaliadas foram leitura, escrita e matemática nas provas
aplicadas a estudantes do 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas. Na escrita, a distância é maior. Apenas 3,72% dos
estudantes do Nordeste e 4,12% do Norte alcançaram o melhor nível da avaliação. Para a escrita, os estudantes precisam ter
capacidade de escrever palavras com diferentes estruturas silábicas e um texto corretamente e com coerência. A diferença entre as
regiões se repete na avaliação de leitura. Enquanto 4,84% e 5,52% dos alunos do Norte e do Nordeste obtiveram o nível máximo
na avaliação, nas regiões Sul e Sudeste 13,88% e 16,75% atingiram o mesmo resultado. In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/35176/norte-e-nordeste-registram-piores-resultados-na-
avaliacao-de-alfabetizacao/

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da absoluta maioria dos leitores propicia efetivamente alternativas escassas para que se concretize
a leitura. O acesso às bibliotecas é pequeno, não apenas por uma questão cultural que remonta à
longa história de iletramento, mas porque a rede de bibliotecas no Brasil é reduzida e
desorganizada, seja em termos quantitativos, seja em um plano qualitativo pelos serviços que não
consegue oferecer. Mesmo assim, conforme o IBGE, na MUNIC (Pesquisa de Informações
Básicas Municipais), de 2013, a biblioteca é considerada como um dos equipamentos culturais
mais importantes, presente em 97% dos municípios brasileiros. Na citada pesquisa - foram
consideradas bibliotecas todos os espaços de leitura com acesso ao público em geral, podendo
ser, ou não, geridas pela administração pública. Nesse contexto entram também as bibliotecas
comunitárias que possuem importante papel nesses cenários.
O CF de Biblioteconomia, em seu projeto mobilizador “Biblioteca escolar construção de
uma rede de informação para o ensino público” (2008), comprovou que no contexto do processo
de ensino, a biblioteca escolar se apresenta como um centro de aprendizagem que, conforme
definição da Organização dos Estados Americanos (OEA) se configura através da:

[...] participação direta em todos os aspectos do programa de educação [...] onde


os educadores, estudantes e usuários em geral podem redescobrir e ampliar seus
conhecimentos, desenvolver pesquisas, desenvolver aptidões para leitura, para
opinar, para avaliar, assim como desenvolver meios de comunicação [...] com o
objetivo de assegurar uma aprendizagem total. A biblioteca escolar é um
instrumento de desenvolvimento do currículo e permite o fomento da leitura e
da formação de uma atitude científica; constitui um elemento que forma o
indivíduo para aprendizagem permanente; estimula a criatividade, a
comunicação, facilita a recreação, apoia os docentes em sua capacitação e lhes
oferece informação necessária para tomada de decisão na aula. (OEA, 1985,
p.21-22)

É também certo que as Políticas Públicas para a Leitura e a adoção de Livros têm avançado
no sentido de melhorar os resultados finais que são demonstrados nos dados da desigualdade
social e no quadro perverso da exclusão; mas é necessário envolver todos os setores da sociedade
em ações extensionistas que sejam colocadas em prática em ambientes não escolares, tais como,
museus, bibliotecas, centros de convivência e espaços de informação comunitários.
A questão da leitura, em todos os níveis escolares, apresenta outro complicador quando o
assunto é Literatura da Amazônia, ou seja, quando o viés são escritores e obras cuja temática seja
a Amazônia, sua cultura, imaginário e identidade. De tal modo, outros problemas se apresentam
nesses cenários: o imperativo de um enfoque social, a história dos povos nativos, as
representações da cidade (espaço amazônico) e a produção literária, discutindo-se a tradição
ancestral entre o Local e o Universal. Merecem destaque outras temáticas: a desvalorização e o
desconhecimento de escritores e da produção local; a quase invisibilidade dos escritores, tanto os

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do passado quanto os contemporâneos, uma vez que são pouco conhecidos por professores e
por alunos, do ensino fundamental, médio e superior; as edições antigas e a raridade de obras
dificultam a chegada de livros com temática amazônica às bibliotecas; justificando-se,
sobremaneira, o imperativo de se ler, divulgar, conhecer essas obras e esses escritores.
As IES têm papel principal para mudar esse cenário, sendo imprescindível criar ações e
projetos de ensino, de pesquisa e extensionistas nos quais a UFPA/ILC/ICA estejam envolvidos
para solucionar esses problemas. A colaboração da Biblioteca Central (BC) da UFPA,
disponibilizando seu espaço físico e o acervo de obras amazônicas, além de selecionar estudantes
da Faculdade de Biblioteconomia para participarem do projeto, será de fundamental importância.
A participação dos estudantes e professores dos cursos do ICA – Instituto de Ciências da Arte5
também será fundamental.
Nesse sentido, o presente projeto vislumbra a participação da UFPA, com todos os seus
recursos e o seu know-how, para que a Leitura de Obras Amazônicas e a Formação de Leitores se
torne prioridade nos ambientes universitários, comunitários e escolares, por meio de projetos de
incentivo à leitura e em atividades artístico-culturais realizadas nas escolas, em suas bibliotecas e
no próprio espaço universitário.

Os eixos estruturantes
O presente projeto busca amenizar os efeitos perversos desses indicadores nacionais e
locais, com ênfase a executar uma série de ações extensionistas, de ensino e de pesquisa
amparadas pelas diretrizes da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFPA), e que serão
supervisionadas pelo Instituto de Letras e Comunicação e Faculdade de Letras (ILC/FALE), pelo
ICA/UFPA (Instituto de Ciências da Arte) no que tange a duas linhas de ação:

Eixo I- lendo a amazônia – através de ações extensionistas executadas na comunidade interna e


externa da UFPA, envolvendo Graduandos de Letras, Biblioteconomia e Artes, com o fim de
promover o gosto pela leitura e a socialização de obras de escritores amazônicos. Como primeiro
passo sabe-se que este projeto só será possível mediante a reorganização curricular do Curso de
Letras/UFPA, colocando como disciplina imprescindível Literatura da Amazônia, oferecida em

5 A parceria com o ICA/UFPA foi direcionada a partir da sua missão que é gerar, produzir e difundir conhecimento em arte e
cultura na Amazônia. Pela sua visão que é tornar-se centro de excelência regional no campo da arte/cultura, tendo como foco o
Ensino, a Pesquisa e a Extensão em arte/cultura. Dentre os valores do ICA/UFPA a serem contemplados pelo LABIC estão a
excelência, a inovação, a inclusão social, a difusão da arte e da cultura, a criticidade, a humanização, o envolvimento e
comprometimento, a transdisciplinaridade e a integração intra e interinstitucional. A participação do ICA no LABIC se refere às
Artes Visuais para a criação de cenários, documentários em vídeo, fotografia, além de Música, Teatro e Dança para as ações
interdisciplinares do GRUTA/UFPA.

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dois níveis de ensino, nos quais se priorize a leitura e o conhecimento de obras e de autores
regionais. Num segundo passo propõe-se a organização e a publicação do volume “Literatura da
Amazônia: Roteiros e Estudos”, contendo orientações didáticas para o ensino da Literatura
Amazônica, estudos para a leitura dessas obras e a divulgação de projetos de leitura para a área.
Num terceiro passo propõe-se o engajamento do discente de Letras, que estudando a Literatura
da Amazônia se disponha a participar da criação do Grupo de Recitadores, Trovadores e
Aedos da UFPA (GRUTA/UFPA) 6, que incentivará e se empenhará para a realização de
Feiras do Livro no ambiente universitário; rodas de leitura, exposições, interpretações teatrais,
saraus, shows musicais, declamações e leitura pública de livros; encenações, leitura dramatizada
de poemas e narrativas; círculo de leitores e de leituras, exposições do livro-vivo, recitais poético-
literários; leitura e recriação de HQ, poesia de cordel, varal de poesias, fantoches, memorial de
escritores amazônicos, oficinas de leitura e de produção de textos, cinebook, mural de arte e de
leitura, e demais atividades nas quais as artes, livros, alunos, professores e leitores sejam a
temática principal, tendo como foco a Literatura da Amazônia, seus escritores e suas obras. Tais
atividades serão desenvolvidas inicialmente no ambiente universitário, valorizando a inclusão de
Literatura da Amazônia como disciplina do currículo de Letras, Arte e/ou de Biblioteconomia,
depois serão implementadas nas escolas e comunidades, com apoio das instituições públicas e
privadas. A oficina de Literatura da Amazônia será ofertada como Atualização, Aperfeiçoamento
ou Especialização para professores e outros técnicos em educação que trabalhem nas bibliotecas
escolares e comunitárias selecionadas, principalmente em escolas públicas de ensino fundamental
e médio, localizadas na Região Metropolitana de Belém. Não se descarta que o LABIC seja
ampliado para os Campi da UFPA, dependendo das demandas e disponibilidade de pesquisadores,
da agenda do GRUTA/UFPA e de verbas a serem empregadas na execução dos miniprojetos.

Eixo II – information literacy, bibliotecas e projetos de leitura (pró-ler) – Na fase inicial deste eixo, ocorrerá
a criação do Grupo de Recitadores, Trovadores e Aedos da UFPA (GRUTA/UFPA), a
partir de seleção prévia de graduandos, priorizando a formação por meio de treinamentos, cursos,
oficinas e palestras, versando sobre o conhecimento de obras de expressão amazônica, além de
música, poesia, dança, dramaturgia, teatro, contação de histórias, declamação e canto que serão
ofertados por meio de módulos de estudo e de formação, sendo como basilar a participação do

6 O sentido de Grupo de Recitadores, Trovadores e Aedos da UFPA (GRUTA/UFPA) utilizado neste projeto, é o mesmo
que remonta à Grécia Antiga, na qual pessoas ligadas à Literatura e às Artes eram intérpretes, dramaturgos, dançarinos,
declamadores, atores, cantores, bardos, leitores em locais públicos, contadores de histórias, recitadores de poesias, das lendas e das
tradições locais, que tiveram importante papel na divulgação, na preservação da cultura, da literatura e do imaginário local. Assim
propõe-se a criação do Grupo de Recitadores, Trovadores e Aedos da UFPA (GRUTA/UFPA), com o mesmo objetivo que se
conhece na História da Arte e da Literatura Universal.

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ICA/UFPA (Instituto de Ciências da Arte). Na fase seguinte, serão priorizadas ações educativas
que incentivem a leitura enquanto prática cidadã, com a participação do GRUTA/UFPA,
fortalecendo as políticas públicas voltadas para a educação e leitura, de forma a integrar os
professores, a biblioteca e os usuários da comunidade em variados projetos socioculturais e
educativos, tais como, palestras, cursos e oficinas para a formação de leitores, contadores de
histórias e de recitadores; aulas de leitura e de reforço para a escrita; troca, aquisição e doação de
livros para usuários e comunidade; facilitar o acesso aos acervos existentes nas bibliotecas
(escolares, comunitárias, Central e Setoriais da UFPA) sobre Literatura Amazônica; incentivar a
aquisição de outras obras de expressão amazônica; divulgar e propor projetos artístico-culturais e
de lazer que envolvam a comunidade universitária e externa; promover ações educativas de
interesse da comunidade, priorizando a cultura local e o imaginário amazônico; desvendar e
incentivar talentos literários locais, por meio de feiras do livro, festivais, concursos, seleções,
publicações, feiras culturais, mostra literária; gravar vídeos e documentários, entrevistar escritores
amazônicos e incentivar publicações literárias; organizar palestras, seminários, encontros,
colóquios, minicursos; promover a produção e a exibição de filmes e vídeos relacionados à arte, à
cultura e à literatura amazônica; organizar cursos e treinamentos para usuários, professores e
auxiliares que atuam em bibliotecas e em espaços de leitura comunitários; republicar obras raras e
antologias de escritores amazônicos; orientar pesquisas e incentivar a celebração de parcerias e
convênios com órgãos estaduais, municipais e não-governamentais que possibilitem a
implementação de projetos, de modo a priorizar a Leitura como fonte de Cidadania, em ações
que sejam do interesse da comunidade interna e externa, tendo como foco principal as obras e os
escritores amazônicos. Propõe-se ainda que o LABIC e seus eixos sejam transformados em
Política Cultural da UFPA, no que tange à produção cultural, artística, eventos sociais, de lazer e
que envolvam a participação Universidade x Comunidade x Sociedade em ações multicampi e
transdisciplinares.

Cumprindo a lei
O “LABIC” foi planejado para auxiliar no cumprimento da Lei n. 12.244/2010, que
dispõe sobre a universalização das bibliotecas no Brasil, que em seu Art. 2º considera biblioteca
escolar como a coleção de livros, materiais vídeo-gráficos e documentos registrados em qualquer
suporte destinados à consulta, pesquisa, estudo ou leitura. Sendo obrigatório ao poder público
manter um acervo de livros na biblioteca de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado,
cabendo ao respectivo sistema de ensino determinar a ampliação, deste acervo conforme sua
realidade. Todavia o que se constata é que a maioria das bibliotecas está funcionando

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precariamente e dissociadas do que determina a Lei, causando transtornos e danos aos usuários e
à comunidade nas quais essas bibliotecas estão sediadas, principalmente no que se refere a
projetos de formação de professores e de leitores, que tenham como foco a Literatura da
Amazônia.
O projeto está ainda embasado no Art. 3º da mesma lei, no qual há a intenção de
colaborar para que os sistemas de ensino do Pará, por meio de ações extensionistas, coordenados
pela PROEX/UFPA/ILC/ICA, possam desenvolver esforços progressivos para a
universalização das bibliotecas escolares, respeitando-se a formação de professores da área de
Letras em todo o seu escopo legal e atendendo às demandas da comunidade, quanto a conhecer e
prestigiar escritores e obras versando sobre temática amazônica.
O “LABIC” tem também inspiração na Lei n.10.753/2003, que trata sobre a Política
Nacional do Livro, em seu Art. 1º, incisos I, II, V e IX, quais sejam, por meio do incentivo à
leitura e do funcionamento efetivo das bibliotecas escolares, é possível:

I - Assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso do livro;


II - O livro é o meio principal e insubstituível da difusão da cultura e
transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da
conservação do patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social
e da melhoria da qualidade de vida;
V - Promover e incentivar o hábito da leitura;
IX - Capacitar a população para o uso do livro como fator fundamental para seu
progresso econômico, político, social e promover a justa distribuição do saber e
da renda;

O LABIC propõe ainda alcançar os principais fundamentos da relação UFPA e Sociedade,


conforme o proposto no Regimento, no Art.2º, incisos I, II, III e V – e Art. 3º, incisos I e II, ou
seja, trabalhar para a universalização do conhecimento por meio de atividades que insiram a
UFPA em ações diretas com a comunidade; e nessas ações educativas haverá o respeito à ética e à
diversidade étnico-cultural nas comunidades a serem atendidas; respeitar-se-á o pluralismo de
ideias e de pensamento e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, uma vez que as
atividades do projeto nasceram em sala de aula, levaram os discentes a pesquisarem in loco nas
bibliotecas pesquisadas nas escolas públicas e estes foram estimulados a intervir tecnicamente
para alterar a realidade observada pelos discentes de Letras e de Biblioteconomia (2014).
Cabe ainda à UFPA estimular a criação cultural e o desenvolvimento do pensamento
crítico e reflexivo, de forma a gerar, sistematizar, aplicar e difundir o conhecimento em suas
várias formas de expressão e campos de investigação científica, cultural e tecnológica. Essa
prática se fará no estímulo à leitura, na implementação de projetos na UFPA, bibliotecas e nas
atividades socioeducativas de incentivo à leitura e à cidadania. Além de “formar e qualificar

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continuamente profissionais nas diversas áreas do conhecimento, zelando pela sua formação
humanística e ética, de modo a contribuir para o pleno exercício da cidadania, a promoção do
bem público e a melhoria da qualidade de vida do amazônida, ” que são fins essenciais da
Universidade Federal do Pará.
Assim, o “LABIC” se espraia no grande objetivo proposto no Plano Nacional de
Extensão Universitária, de 1999, o qual se refere à Extensão como “processo acadêmico definido
e efetivado em função das exigências da realidade, além de indispensável na formação do
estudante, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade.” E que “a Extensão
Universitária faz parte da solução de grandes problemas sociais do país”, sejam eles gerados pela
exclusão de comunidades, pela falta de acesso às políticas públicas ou pela negação de vários
outros direitos cidadãos.
Há ainda outras questões que o Projeto abrange e que estão inteiramente achegadas à
Extensão Universitária, quais sejam, “estimular a utilização das tecnologias disponíveis (nas
universidades) para ampliar a oferta de oportunidades e melhorar a qualidade da educação em
todos os níveis”; “considerar as atividades voltadas para o desenvolvimento, produção e
preservação cultural e artística como relevantes” para a afirmação da identidade nacional e das
manifestações culturais regionais; além de estimular os consórcios, parcerias e convênios
interinstitucionais para a realização de seus objetivos. (FORPROEX, 2012, p. 6 e 7).
E o “LABIC” busca corroborar para o cumprimento do que estabelecem os Arts.16 e 17
da Lei n. 10.753/2003, ao definir a responsabilidade das diversas esferas em consignar verbas em
seus orçamentos para a manutenção desses espaços de informação, na aquisição de livros de
expressão amazônica, bem como na criação de projetos e programas de incentivo à leitura. Na
prática, as bibliotecas em todo país não têm encontrado respaldo governamental e voz social para
o cumprimento das Leis. Nesse sentido, a Universidade Pública assume papel fundamental “no
enfrentamento das crises contemporâneas”, tendo as IFES “capacidade de superar” tais situações
em que o diálogo cidadão e os saberes científicos entram no jogo, uma vez que “a Universidade é
parte ativa e positiva de um processo maior de mudança” social. É neste ponto que se defende a
“centralidade da Extensão Universitária, como prática acadêmica, como metodologia inter e
transdisciplinar e como sistemática de interação dialógica entre a Universidade e a Sociedade.”
(FORPROEX, 2012, p.9).
Desse modo, através do “LABIC”, a Extensão Universitária é interpretada como um
meio pelo “qual se promove a interação que transforma não apenas a Universidade, mas também
os setores sociais com os quais ela interage,” (FORPROEX, 2012, p. 15 e 16), abrangendo de
forma objetiva as suas diretrizes básicas: promover o diálogo entre sociedade e universidade,

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gerando a troca de saberes, contribuindo para a superação das dificuldades de aprendizagem e


melhorando os níveis de letramento; abre-se a possibilidade para que equipes interdisciplinares e
interprofissionais venham atuar nesses espaços de informação, aliando a consistência teórica
dessas áreas e a ação efetiva desses profissionais. Considerar-se-á ainda o impacto na formação
do Letrado, do professor de Língua Portuguesa e de Literatura, que poderá nesses espaços,
colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante o curso de graduação, atuando de forma
transformadora nas bibliotecas escolares, além de intervir para demudar a atual realidade social
tão adversa, incentivando a criação de projetos de leitura, cujo foco seja a Literatura da
Amazônia.

Literatura, leitura & cidadania


O “LABIC” embasa-se em pelo menos seis pressupostos teóricos dos saberes
acadêmicos indissociavelmente ligados entre si, que englobam a área de Letras, Literatura, Leitura
e Artes. Sabe-se que fomentar a leitura é estratégia para o desenvolvimento da cidadania, portanto
a Literatura tem papel fundamental na vida cidadã. Ler é compreender melhor o mundo em que
se vive, adquirindo conhecimentos e informando-se. A Leitura é um indicativo fundamental para
o desenvolvimento de uma nação. É vista como um instrumento de poder, justamente porque a
leitura vem através dos tempos assumindo seu papel na sociedade, que é o de contribuir como
decodificadora de signos, embora vá além deste nível. A Literatura é um caminho que conduz as
pessoas para uma postura mais participativa, criativa e consciente na sociedade. Um caminho que
permite aos envolvidos em projetos de leitura descobrir novos horizontes, expressar novas ideias
e sentimentos para que sejam capazes de transformar positivamente o mundo à sua volta e
exercer com dignidade os direitos e deveres de cidadãos. Segundo Frei Betto “A Literatura, como
toda obra de arte, é uma forma de resistência, de denúncia e de anúncio. ”7
Paulo Freire (1983) argumentou que o hábito de ler exerce amplo papel no contexto
social, político, econômico e cultural, como uma nova perspectiva de vida e de visão de mundo.
Corroborando nesse entendimento, Kleiman (1989) aborda a leitura de mundo por meio da
atuação do conhecimento prévio, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor
tem sobre o assunto, ou sobre o mundo, que lhe permite fazer as inferências necessárias para
relacionar partes de um texto com a sua própria vida.
A leitura é uma questão pública, um direito do cidadão; portanto, componente de um ato
social, uma ação que em princípio, visa ao benefício de todos, nesse caso, é dever do Estado

7BETTO, Frei. O escritor e as ditaduras. Parte de “Ofício de Escrever”, Rocco, 2017. In: http://www.oieduca.com.br/artigos/frei-
betto/o-escritor-e-as-ditaduras.html.

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garantir que todos possam usufruir da leitura e da escrita, como um bem comunitário,
direcionado para a informação, a comunicação e a educação da sociedade. Marinho (1993) afirma
que a leitura está associada às questões sociais e mais especificamente representa um dos
caminhos para alcançar a cidadania. A autora considera a cidadania como um conjunto de direitos
e deveres do indivíduo na sociedade. Todavia o ser humano para ser considerado cidadão precisa
ter esses direitos assegurados em lei, mas também que se garanta a ele, o acesso aos bens
materiais, sociais e culturais necessários à sua formação enquanto Ser. Porém, só com uma
participação ativa na sociedade é que se poderá garantir a cidadania.
Dentre as formas e meios para se chegar à cidadania está a leitura. Sabe-se que é
“absolutamente impossível a formação da cidadania quando se recusa ao cidadão os meios de
sobrevivência, que numa sociedade como a nossa inclui o direito à leitura.” (Geraldi, 1992,
p.197). Leitura é conhecimento de mundo (Kleiman, 1993), podendo ser adquirida formal e
informalmente, pelas experiências diárias, pelo convívio do indivíduo na sociedade, pelas trocas
linguísticas, pelo reconhecimento dos textos que lê, porque é desse modo que “o homem toma
conhecimento de si mesmo, do mundo ao mesmo tempo em que participa das transformações
em todas as esferas. ” A leitura é, pois, um processo dinâmico, uma prática social que se
“consubstancia mediante a inter-relação entre os sujeitos, ” uma vez que envolvidos no ato de ler
estão autor/leitor, “mediatizados pelo texto. ” (Marinho, 1993, p.92)
Toda leitura está imbuída de ideologias, justamente porque há nela discursos e todo
discurso é uma forma de poder. Assim “qualquer enunciação ... é socialmente dirigida” (Bahktin,
1992, p.113) e, portanto, não há em qualquer enunciação a neutralidade das ideais (Zilbermann,
1983, p.12). Desse modo, a leitura traz em si ideologias para orientar ações, “podendo assumir
um caráter normativo e regulador,” além de fornecer subsídios para a construção da “identidade
social e política do indivíduo.” (Marinho, 1993, p.92).
A Leitura é então prática social que constrói a participação do indivíduo a caminho da
democratização e da cidadania, visto que “o maior estímulo para a leitura crítica advém da própria
dinâmica democrática, quando todos os cidadãos são chamados a participar da vida da sua
sociedade e influir em seus destinos.” (Melo, 1998, p.107). A leitura é indiscutivelmente um
problema social e não pode ser ignorado pelas autoridades, nem pelas instituições de ensino
superior, nem pelos responsáveis pelo desenvolvimento econômico e social de um estado e de
um país, principalmente uma parcela de educadores que pensa as questões educacionais no
Estado do Pará e que trabalha diariamente convivendo com os problemas de leitura e suas
implicações na formação da cidadania, como é o caso dos professores do Curso de Letras, de
Biblioteconomia, de Pedagogia e de Artes da Universidade Federal do Pará.

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A formação do letrado
Quanto à questão da leitura no curso de Graduação em Letras, a professora Araceli
Sobreira Benevides (2006)8 afirma que “Na formação dos profissionais dos cursos de
licenciaturas em Letras, o grande desafio” a ser enfrentado refere-se a “formar professores
reflexivos sobre seu papel enquanto leitores e produtores de textos diante de uma sociedade em
que a leitura e a escrita, muitas vezes, não se concretizam como práticas rotineiras. ”. E critica
que nos Cursos de Graduação, “os currículos e suas grades curriculares se assentem em
concepções tradicionais de linguagem” (Benevides, 2006, p.3 e 4).
Afirma Benevides (2006) que algumas grades curriculares desconhecem as orientações
contidas nos PCNs a respeito do ensino da língua e as propostas existentes. Desse modo, “os
alunos que entram nesses cursos, já não são mais os mesmos que apresentavam o beletrismo,
caracterizador dos alunos de antigamente”. Araceli (2006) se refere à formação inicial dos
estudantes de Letras, particularizando os problemas referentes à Leitura e à Formação de
Professores-Leitores, que vem desde as séries iniciais, ou seja, desde o ensino fundamental básico.
Outro aspecto abordado pela pesquisadora diz respeito à “ausência do gosto pela leitura
no cotidiano dos professores que lidam diariamente com atividades de linguagem na vida e na
formação do professor de Língua Portuguesa,” revelando que esta problemática tem sido
detectada “durante o período em que os professores estão em sua fase de formação inicial”,
porque é nesse momento que lhes devem ser “apresentados os conceitos e as teorias relevantes
para as práticas pedagógicas que irão assumir um dia.” (Benevides, 2006, p.4 e 5).
Nas diversas grades dos cursos de Licenciatura em Letras examinadas pela pesquisadora,
as disciplinas voltadas para a aquisição e aprendizagem da língua, com foco na leitura,
alfabetização e letramento se referem a apenas 3 ou 4 disciplinas específicas, com carga horária de
45 ou 60 horas, o que se torna insuficiente para o desenvolvimento de um projeto mais amplo de
formação de professores-leitores. Portanto, as atividades extensionistas propostas neste projeto
sobremaneira contribuirão para preencher lacunas curriculares do Curso de Graduação em
Letras, quanto à formação de professores e de práticas pedagógicas em ações específicas para a
formação de leitores, dentro e fora do ambiente universitário, principalmente quanto ao
conhecimento e domínio da Literatura de Expressão Amazônica.
Além dos discentes de graduação da UFPA, destaque-se que os professores das escolas
envolvidas na pesquisa também participarão de atividades pedagógicas e cursos, ministrados por
especialistas, sobre miniprojetos e como utilizar os livros paradidáticos em sala de aula e sobre

8BENEVIDES, Araceli Sobreira. A formação de professores do Curso de Letras – Aspectos de uma prática reflexiva. Revista Eletrônica de
Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura. Ano 3, n 5, 2º/se/2006.

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como trabalhar, a partir dos conceitos de literatura amazônica, as possibilidades de aprendizado


em educação para a construção da cidadania e para a formação de professores e leitores.
Assim, é que se pleiteia que a disciplina Literatura da Amazônia seja ofertada em dois
níveis e como disciplina basilar e não apenas como atividade complementar do Curso de Letras
da UFPA e, também, como disciplina complementar do curso de Biblioteconomia e Arte, de
modo que todas as fases do presente projeto sejam colocadas em prática, sem nenhum entrave,
ou quiçá, preconceito de qualquer ordem.

‘Muita vela para tão pouco defunto’9


Para se falar de uma Literatura da Amazônia há que se considerar aspectos relacionados à
própria nomenclatura a ser utilizada; entender o que é a identidade cultural amazônica em
contraposição à diversidade nacional; olhar o afastamento entre textos canônicos/não-canônicos;
decifrar o diálogo entre local/global; estudar e conhecer os mitos e lendas que povoam esse
imaginário; decifrar a Amazônia Real e a Amazônia Mítica, além de outras questões afetas à
produção e recepção de obras, que se disseminam muito além de regionalismos ou regionalices, as
quais estamos todos acostumados a enfrentar.
O escritor amazonense Márcio Souza (2014) apimenta as ideias para essa discussão ao
afirmar que a Amazônia está muito além do exótico, da defesa de um regionalismo geográfico e
ideológico ou de rótulos que sempre trazem em si a separação entre o canônico/não-canônico, o
local/global, ‘guetos’ que podem lançar a produção dos escritores amazônicos em insolúveis
processos e tentativas de reconhecimento. Adverte o autor que a produção desses escritores
deveria estar inserida em um mercado livreiro nacional e não apenas regional. E assinala que a
Literatura da Amazônia é ainda resultado de uma produção rarefeita, que se constrói diariamente.

Para muitos brasileiros a Amazônia ainda é um território distante, exótico,


demograficamente rarefeito, difícil de compreender. (...) Uma literatura
amazônica parece ser algo tão improvável quanto uma literatura regionalista.
Ambos os conceitos são invenções recentes. O regionalismo, por exemplo, é
uma invenção nordestina, um rótulo geográfico e ideológico que os nordestinos
- que nunca inventaram a ideia de uma cultura do latifúndio, embora certas
manifestações da literatura daquela região tenham um caráter tipicamente
latifundiário – fomentaram para se contrapor ao esforço varguardista do
modernismo paulista e carioca. (...) Trata-se de um rótulo tão pouco cultural e
histórico que os sulistas acabaram por entender que regionalismo é tudo o que é
produzido da Bahia para cima. A explicação é que talvez essa história de

9 A expressão foi anotada de uma conversa com o prof. Dr José Guilherme Castro, um dos pioneiros em lecionar Literatura
Paraense na UFPA, e que foi criticado por defender a Literatura Amazônica nos currículos do Curso de Letras. Lamentavelmente,
é uma expressão popular que significa “investir em algo que não vai dar retorno ou que tem pouca importância”. Portanto, entendia-se que
era perda de tempo ministrar essa disciplina na Academia naquelas décadas de 80 e 90. O resultado deste equívoco é que
Literatura da Amazônia foi excluída do currículo e só foi ofertada no 4º/2017, como Atividade Complementar da formação dos
Graduados em Letras da UFPA.

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regionalismo tenha mais a ver com o vigor econômico de cada região geográfica,
com o tamanho da pobreza, com a quantidade de políticos corruptos e
folclóricos, enfim, esses índices do subdesenvolvimento físico e mental. (...) O
que precisamos é fugir do risco de nos deixarmos capturar em guetos, onde os
parâmetros de recepção de nossas obras não são de excelência literária, mas
fruto da condescência porque somos pobres e moramos longe. (Souza, 2014, p.
24 e 25)

O desafio de estudar a Literatura da Amazônia inicia por tentativas e descobertas, por


garimpar o que não está em compêndios e nem em manuais de Literatura. Há, nesse aspecto,
uma abissal necessidade de ler, de discutir, de ouvir outras vozes, para que, se assim for possível,
entender o que é Literatura da Amazônia, Literatura de Expressão Amazônica ou Literatura
Amazônica? Longe de ser apenas ‘nomenclaturas’, a discussão passa por estudiosos como José
Guilherme Fernandes10 (2004) que defendeu a expressão Literatura da Amazônia e referendou-se
na expressão ‘entremeio’ para justificar não “a hibridez, o senso de ambiguidade e impureza”,
mas o sentido “de permeio”; “penetrar, atravessar”; “misturar, intermediar”; “mediar”; Paulo
Nunes (2008) que acastelou o verbo vivo da Literatura de Expressão Amazônica, questionando a
expressão Literatura Paraense; Denis Bezerra (2012) ao afirmar que os valores regionais, hábitos,
costumes, línguas, sempre estiveram em confronto com a busca de uma universalização da
cultura amazônica; Romário dos Anjos Aires (2015) que trata dos aspectos locais e universais,
contrapondo a cultura da colônia/à cultura da metrópole, tendo a intenção de valorizar a
produção artístico-cultural amazônida; configurando-se em pesquisadores base para essas
discussões.
Se definir a Literatura da Amazônia é tarefa quase ‘hercúlea’, imagine-se lutar contra as
lacunas que existem na formação de leitores, desde o ensino fundamental, além do médio e
superior, quando o assunto é escritor amazônico ou obras amazônicas. O Curso de Graduação
em Letras (UFPA) é um bom exemplo, uma vez que Literatura da Amazônia, está atualmente
inserida no currículo como atividade complementar, tendo sido ofertada em 2017, por obstinação
da direção da Faculdade de Letras e por desafiar esta pesquisadora ministrar o referido curso.
Nos outros cursos de licenciaturas afins, esta disciplina, simplesmente, não existe. 11
O motivo óbvio para muitos (“muita vela para tão pouco defunto”), não pode mais ser aceito,
uma vez que já se questionou que a Literatura da Amazônia, não é uma literatura menor, pois

10 Professor Doutor da UFPA atua no Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA/UFPA), no Campus de
Bragança; e no Programa de Pós-Graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia (PPGEAA/UFPA), no Campus Universitário da UFPA em
Castanhal.
11 O LABIC oferecerá livremente a Oficina de Literatura da Amazônia, com 60h/a, ofertada aos sábados, contando com o apoio

da Reitoria da UFPA/ICA/ILC e demais instituições parceiras do projeto.

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Paulo Nunes (2008)12 apontou obras de escritores como, Bruno de Menezes, José Ildone,
Salomão Larêdo e Dalcídio Jurandir, para exemplificar que tais textos não estão atrelados à
questão regional, mas se lançam na esfera universal.
Mas antes dessas discussões, é necessário que a Literatura da Amazônia deixe de ser
atividade complementar dos currículos da Graduação em Letras da UFPA e se torne parte
obrigatória dos cursos; faça parte também do currículo de formação de bibliotecários e de outros
profissionais. Nos cursos de Pós-Graduação da UFPA, a presença de escritores como Dalcídio
Jurandir, Bruno de Menezes, Benedicto Monteiro, Eneida, Maria Lúcia Medeiros, Paes Loureiro e
outros já aparecem em projetos de mestrado e de doutorado. Na última experiência de lecionar
Literatura da Amazônia para alunos de Letras foi inesquecível. Ocorreu no 4º semestre de 2017.
A receptividade foi tanta que o número de ouvintes superou o número de alunos matriculados.
Os trabalhos e os roteiros de leitura elaborados pelos alunos, abordaram desde as narrativas de
lendas indígenas e mitos amazônicos, os livros com as narrativas coletadas pelo IFNOPAP, até
autores como Antonio Tavernard, Lindanor Celina, José Veríssimo, Inglês de Sousa, Eneida,
Dalcídio Jurandir, Max Martins, e Literatura Indígena, que foi uma novidade (Lia Minápoty e
Yaguarê Yamã). Também os contemporâneos participaram de seminários, citem-se, Alfredo
Garcia, Paulo Maués, Joana Chagas, Janete Borges, o Grupo Xamã de Contadores de histórias,
Antonio Juraci Siqueira e Eduardo Santos Melo. Ocorreram tardes de autógrafos memoráveis
com escritores amazônicos convidados. Houve ainda a mudança de hábito dos alunos-leitores
que foram incentivados a ‘buquinar’ ou buscarem livros de escritores amazônicos em livrarias de
usados, nas bancas da Praça da República e em ‘sebos’ espalhados pela cidade de Belém. Ainda
assim, é preciso minimizar a distância entre leitor/obra/escritor amazônico que ainda existe.
Denis Bezerra13 (2012) se refere ao distanciamento leitor/obra/escritor sob a intenção de
renovar ou “reconstruir campos de circulação dos bens artísticos”, renovando e propondo a
“formação” de novos “ciclos de recepção”, de modo a “desfazer o muro que separa os campos
simbólicos de poder,” incluindo, nesse sentido, “as novas formas de expressão, principalmente,
as de massa”. Em seguida, Bezerra passa a sinalizar “experiências voltadas para o campo da
formação de leitores de literatura de expressão amazônica”, assinalando a importância “da
regionalização dos currículos, com base na parte diversificada”, além da “produção de livros
didáticos”, nos quais as obras e os escritores amazônicos fossem incluídos e passassem a ter ‘voz’
nesse universo institucional, aqui mesmo na Amazônia Paraense. Porém o autor “não defende o

12 É professor Doutor da Unama, onde atua na graduação em Letras, mestrado e doutorado em Comunicação, Linguagens e Cultura da UNAMA.
Tem experiência em pesquisas em Dalcídio Jurandir, Amazônia, literatura brasileira de expressão amazônica, poesia e Negritude.
13 Professor Doutor da Escola de Teatro e Dança da UFPA, coordenador da Licenciatura Plena em Teatro (ICA/UFPA).

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isolamento regional”, mas propõe averiguar quais autores/leitores que estão no “mundo global e
no regional”. (Bezerra, 2012, p. 4 e 5)
E Bezerra (2012) problematiza o papel do professor, no ensino e na leitura de obras
amazônicas assinalando que “enquanto professor de literatura e, portanto, formador de leitores e
fomentador de leituras, devemos dizer à sociedade” que “a literatura não é uma válvula de escape
ou que todos os problemas humanos serão resolvidos com ela”, ou ainda, “que as pessoas serão
melhores se elas lerem textos literários, os clássicos”. O que importa, segundo o pesquisador, é
que “falar da literatura brasileira de expressão amazônica” nos levará a “pensar na construção de
uma tradição de leitura dessas obras, abrir e construir novos espaços de apreciação”, que vão
além da Escola e da Academia, “que descubra novos palcos para se fazer representar. ” (Bezerra,
2012, p.7).
Nesse sentido, é fundamental que se crie o Grupo de Recitadores, Trovadores e Aedos
da UFPA (GRUTA/UFPA), formado por graduandos de Letras, para que participem de
projetos de formação de leitores, de cursos, oficinas, palestras, seminários; que sejam
incentivadores da leitura de obras de escritores amazônicos; contadores de histórias e recebam
formação em atividades de ensino, pesquisa e extensão, de aperfeiçoamento e especialização que
o presente projeto proporcionará. O GRUTA/UFPA atuará nos ambientes acadêmicos e
escolares, incentivará a leitura de obras amazônicas no ambiente universitário, mas também se
espraiará pelas bibliotecas escolares e comunitárias da Região Metropolitana de Belém, criando e
atuando em miniprojetos de formação de leitores, priorizando as atividades artísticas e culturais
nas escolas de ensino fundamental e médio e nas comunidades selecionadas também nos Campi
da UFPA.

Information literacy ou professores mediadores de leitura


Neste projeto há o imperativo social, justamente porque os eixos do “LABIC” estão
intrinsecamente ligados ao mundo contemporâneo, uma vez que o uso consciente, criativo e
benéfico da informação se tornou essencial para a atuação do indivíduo no contexto social
contemporâneo. Por meio da Leitura, da Cultura e da Arte, o indivíduo estabelece uma nova
relação com a informação e com o saber; uma relação de aprendizado ao longo da vida. A
informação passou a ser reconhecida como elemento-chave em todos os segmentos da sociedade.
As bibliotecas escolares assumem um papel fundamental nesse contexto e professores em
formação estão sendo desafiados a serem competentes na atuação profissional, seja em unidades
informacionais (bibliotecas), junto aos usuários, sendo mediador de leituras e ou preparando-se
para ser educador social, operando e fazendo parte de equipes multidisciplinares.

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Nesse sentido, a information literacy é um termo inclusivo, englobando definições e ações.


Praticamente inexplorada no Brasil, essa expressão ainda não possui tradução para a língua
portuguesa, porém, alguns significados possíveis que interessam a este projeto seriam
alfabetização informacional, letramento, competência em informação, expressões que estão
ligadas à leitura, às bibliotecas e à cidadania. A competência informacional está, portanto,
relacionada à formação de professores, como mediadores e incentivadores da leitura. Desse
modo, a utilização da expressão competência em informação parece ser a mais adequada a este
projeto, como um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir
conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor. A Arte, a Leitura e a Literatura da
Amazônia fazem parte desse vasto universo de informação. Interessam a este projeto o saber
determinar a natureza e a extensão das necessidades sociais de informação como suporte a um
processo inteligente de decisão, uma vez que, os atores sociais devem dialogar com a
comunidade, definindo e articulando suas necessidades informacionais; devem saber como o
mundo da informação é estruturado, pois tem direito (cidadão) a conhecer como acessar as redes
formais e informais de informação.
A educação voltada para a information literacy encontra respaldo em práticas curriculares,
como o currículo integrado (baseado na transdisciplinaridade) e o aprendizado baseado em
recursos de leitura, tendo como objetivo principal instrumentalizar e interiorizar comportamentos
que levem à proficiência investigativa, ao pensamento crítico, ao aprendizado independente ao
longo da vida, práticas possíveis de serem obtidas por meio da literatura, das bibliotecas,
transformando-as em espaços de leitura, de lazer e de inclusão social, além de possibilitar a
atuação de professores em equipes transdisciplinares.

A realidade das bibliotecas pesquisadas


Para enfrentar os problemas elencados, o “LABIC” foi planejado inicialmente para ter a
duração de 48 meses a fim de que seja possível o acompanhamento da formação dos graduandos
em Letras e, quiçá, de Biblioteconomia e de Arte. Assinale-se que em 2014, foram realizadas
visitas técnicas de observação em 15 bibliotecas, sendo 7 (sete) estaduais, 5 (cinco) municipais,
1(uma) universitária, 1 (uma) sala de leitura e 01(uma) biblioteca pública municipal. As bibliotecas
analisadas foram as da EEEFM “Costa e Silva”, EEEF “Nossa Senhora das Graças”, Biblioteca
“Raimundo M.G. Montalvão” (IG/UFPA), EMEF “Benvinda de França Messias” (Biblioteca
Bruno de Menezes), EEEFM “Aldebaro C.M. Klautau”, EMEF “Prof. João Nelson Ribeiro”,
EEFM “Lauro Sodré”, EMEF “Ruth Passarinho”, EEEFM “ Jonathas Pontes Athias”, EEEFM
“Augusto Olímpio” (Biblioteca Cecília Meireles), EEEM “Visconde de Souza Franco” (Biblioteca

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Heráclito Pinheiro), EM “Laércio Wilson Barbalho”, EM “Zulima Vergolino” (Sala Guimarães


Rosa), a Biblioteca Pública Municipal “Profa. Maria Luzia Rabelo Freire” (Marituba) e EEEM
“Augusto Meira” (Biblioteca José Admilson). Em todas foram observados, além das inadequações
físicas, a ausência de projetos que incentivassem a formação de professores mediadores e
incentivadores da leitura, a carência de projetos de leitura, o desconhecimento sobre escritores e
obras de expressão amazônica – bem como de outros problemas que o projeto “LABIC” propõe
minimizar ou corrigir. Inicialmente, será necessário eleger as que passarão pela intervenção
pedagógica, tendo a participação do GRUTA-UFPA. Será imperativo ainda definir quais as ações
educativas de incentivo à leitura serão implementadas, tanto no ambiente universitário, como nos
ambientes escolares. E nesse cenário acrescentou-se a biblioteca comunitária ECNB – Espaço
Cultural Nossa Biblioteca, sediada no bairro do Guamá, que já apresenta grande experiência
nessas ações.
Diante da realidade que se enfrenta no Estado, raras escolas oferecem uma boa biblioteca
escolar, com professores e técnicos bem treinados, com projetos de incentivo à leitura de obras
amazônicas, em andamento. A Lei Federal n. 12.244/2010, dispõe sobre a necessidade de todas
as escolas brasileiras contarem com bibliotecas, que haja preocupação com a regionalidade dos
currículos, conforme preconiza os PCN’s. Entretanto, tem sido quase “natural” que nesses
ambientes escolares pouco se valorize o escritor amazônico, quase não se conheçam as obras
desses autores e muito pouco se fale da cultura, do imaginário e da identidade dos povos
amazônicos. 14

Considerações finais
Este projeto nasceu de lacunas observadas no Curso de Graduação em Letras, pela
ausência de projetos de formação de professores mediadores e incentivadores da leitura. Mas
também pela observação realizada em Escolas Públicas e Bibliotecas que se notabilizaram pela
não existência de projetos que incentivassem a leitura de obras de escritores amazônicos, além de
escritores contemporâneos que também são quase ‘invisíveis’ nesses cenários. Notou-se ainda a
ausência das obras de expressão amazônica nesses acervos e quando existem nas escolas, são
pouco acessados por professores e alunos. O cenário observado passou a ser pontuado pela
ausência de reconhecimento da própria identidade cultural amazônica, pelo desconhecimento
acerca da Literatura da Amazônia, a falta de regionalização dos currículos dessas escolas, a não

14 “O Parecer da Conselheira Regina Alcântara de Assis orienta que para elaborar suas propostas pedagógicas, as Escolas devem
examinar os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Propostas Curriculares de seus Estados e Municípios, buscando definir com
clareza a finalidade de seu trabalho, para a variedade de alunos presentes em suas salas de aula. Tópicos regionais e locais muito
enriquecerão suas propostas, incluídos na Parte Diversificada, mas integrando-se à Base Nacional Comum”. (BRASIL,
MEC.CNE, 1998a: 11). In: http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt_05_02.pdf)

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existência de uma Política Pública de incentivo à produção e recepção dessas obras, bem como se
observou profundas falhas na leitura (de professores das escolas públicas, graduandos do curso
de Letras da UFPA e discentes do ensino fundamental e médio). Todavia, tais problemas não são
apanágio peculiar da Amazônia Paraense.
Constata-se que pela ausência de leitura se reconhecem as marcas de uma sociedade
desigual, representam-se segmentos marginalizados, excluídos, confirmam-se baixos índices de
IDH. Analfabetismo e os baixos níveis de letramento separam os indivíduos em classes, indicam
os níveis de conhecimento e que lugar ocupará no mercado de trabalho e na sociedade. É o
conhecimento que permeia a organização social e orienta o agir do ser humano no mundo,
conforme assinala Severino (1994, p.60). A leitura acompanhada da leitura de mundo poderá
auxiliar a entender os processos de conhecimento e de democratização e auxiliar o homem a
entender qual é o seu lugar na sociedade. Então, ler é vital.
Nesse cenário, a leitura continua a ser a atividade central dos currículos escolares e na
sociedade moderna a formação de leitores está ainda mais valorizada. Nessa era de incertezas,
conforme aponta Robertson (1994, p.24), só há uma verdade possível – é preciso aprender,
dentro e fora do ambiente escolar, porque a todo tempo o sujeito-leitor é suscitado a informar-se,
a refletir, a posicionar-se, a agir. É por isso que “o cidadão deste século deverá ser o leitor.”
(Machado, 2001, p.81-82).
Neste projeto deve-se mencionar as conclusões recentes de que o Brasil vive a “crise da
leitura”. Os dados obtidos na pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada em 2011,
especialmente no que tange à Região Norte, alocando em prioridade a implementação de projetos
voltados para a formação de professores-leitores e a ausência de projetos de incentivo à leitura de
obras de Literatura da Amazônia, nas regiões metropolitanas das capitais, como Belém do Pará,
apontam a necessidade de uma urgente intervenção das universidades (como a UFPA) nesses
cenários.
A pesquisa citada definiu que leitor é “aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos
um livro nos últimos três meses” e revelou que 11% do público entrevistado é analfabeto; se
esses dados forem comparados a 178 milhões de brasileiros, tem-se em números estimados mais
ou menos 18 milhões de analfabetos no país. A participação das universidades na solução desses
problemas deve ser imediata uma vez que dos leitores entrevistados apenas 11% estão cursando
ou cursaram o nível superior. 68% não está estudando ou parou de estudar. A região mais leitora
é o Sudeste (43%) e a menos leitora é o Norte (8%). Na região Norte a média de livros lidos/ano
é de 1,51, ou seja, o leitor do Norte não chega a ler nem dois livros por ano. Dos livros mais
lidos, respondendo à pergunta onde achou ou onde está? 59% são de bibliotecas, 22% são

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emprestados de outros (amigos, parentes), 7% em outro lugar e apenas 2% ganhou ou deu de


presente. Desse modo, o brasileiro está lendo menos porque lhe falta tempo (50%), porque tem
outras dificuldades (15%) e porque o acesso é dificultado (4%), embora existam bibliotecas
próximas de sua casa, estas não estão sempre disponíveis para o público-leitor (48%).
Todavia, não há dados pesquisados, nos quais se possa debruçar, estudar ou definir: Qual
a quantidade e quais obras de escritores amazônicos estão sendo estudadas? Que obras são mais
lidas? Que projetos são realizados nas escolas de ensino fundamental e médio, nos quais a
Literatura da Amazônia seja fonte de inspiração? Nesse aspecto, este projeto também dará voz ao
não-canônico, ao caboclo do chão belenense, marajoara, tapajônico e falará dos mistérios dos
encantados, das águas dos rios de uma Amazônia ainda desconhecida; falará de gente que
permanece emudecida, gente cabocla, indígena, quilombola, assentados, campesinos, vaqueiros;
gente em sua maioria analfabeta, explorada, gozando uma liberdade de viver, apesar das
dificuldades, no abandono; todavia pela crueldade da exploração da Amazônia, essa gente não
consegue expressar seus sonhos, assumir sua identidade, entender conflitos, dramas,
maravilhamentos e por isso, necessita ser ouvida, reconhecida pelas palavras de seus intérpretes,
recitadores, aedos e escritores.
Esses dados e a dura realidade corroboram para que o LABIC se transforme em uma
importante intervenção para a mudança do que ocorre nesses cenários amazônicos, colocando a
Universidade Federal do Pará, o Instituto de Comunicação e de Letras (ILC) e o Instituto de
Ciências da Arte (ICA) como agentes socioeducativos/culturais dessas ações, de abertura para
futuras pesquisas e de transformações urgentíssimas e necessárias. É no prefácio da pesquisa
“Retratos da Leitura no Brasil” (2011), que se encontra a pérola para o fechamento deste artigo:
“Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não
crê em lemas que alguns fazem passar por ideias”. (Vargas Lhosa).

Referências
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tecnológica na Sociedade da Informação: uma questão de educação. In: SIMPÓSIO DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNESP, 7., 2001, Bauru. Anais. Bauru: UNESP, 2001.
Disponível em: http://www.simpep.feb.unesp.br/ana8.html.
BEZERRA, J. D. Literatura amazônica para quê? In:
portalclic.files.wordpress.com/2012/03/literatura-amazonica-para-que-jose-denis-deoliveira-
bezerra.pdf.
BRAKLING. Kátia L. Sobre leitura e formação de leitores: qual é a chave que se espera?. São Paulo:
EDUCA REDE, 2003.
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MOTTA, Diana da. Biblioteca escolar: orientações básicas para organização e funcionamento. Revista do
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do-professor-paulonunes.html.
ROJO, Roxane H. R. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: 2002.
SOUZA, Márcio. Literatura na Amazônia, ou literatura amazônica? Revista Sentidos da Cultura -
Belém/Pará. V.1. N. 1. Jul-dez/2014.

LABIC - AMAZON LITERATURE, LIBRARIES & CITIZENSHIP:


INTERDISCIPLINARY EXTENSIONIST ACTIONS FOR THE TRAINING
OF TEACHERS AND READERS

Abstract: This article presents LABIC, a project to develop reading skills


in the undergraduate programs in Literature, Librarianship and Art at
UFPA and the commitment to the training of teachers and readers,
prioritizing Literature in the Amazon. It will be applied in at least ten
school and community libraries, located in the Metropolitan Region of
Belém, initially serving 200 teachers and 2,000 users, and can be
expanded to other UFPA campuses. The project is divided into: AIX I -
READING THE AMAZON AND AXIS II - PRÓ-LEER:
INFORMATION LITERACY, LIBRARIES and READING
PROJECTS. The main goal is to create the Group of Recitals,
Troubadours and Aedos (GRUTA / UFPA), to carry out projects to
encourage reading, that soften the counterproductive indexes of the
research "Portraits of Reading in Brazil" (2011) and confirmed in the
research /2014.

Key words: Amazon Literature. School and Community Libraries.


Reading Projects.

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