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1 Alisson Rodrigues Prestes é bacharelando em direito pelo Centro Universitário da Serra Gaúcha
RESUMO
O presente trabalho tem por escopo apresentar a real situação do sistema brasileiro e quais
desafios são enfrentados para evitar que entre em colapso. O método de pesquisa utilizado é
o de pesquisa exploratória, visando buscar informações e dados atualizados sobre o tema
que é preocupação nacional, haja vista, sua alta relevância.
INTRODUÇÃO
Norberto Bobbio (2004) salienta que o problema em relação aos direitos humanos
não está na positivação e no reconhecimento legal, afinal eles estão garantidos no
arcabouço legislativo: o grande entrave está na sua efetivação e aplicabilidade prática!
A realidade brasileira quando trata do assunto sistema prisional, é muito preocupante,
dada à quantidade, perfil predominante da população carcerária e a política determinante para
que não mude tão cedo os números assustadores das pesquisas realizadas.
O que assombra, principalmente, são os números, segundo pesquisa da Infopen2, aponta cerca
de 700 mil presos em instituições carcerárias do país, muitos deles, com prisão preventiva
desnecessária. O sistema apresenta notória precariedade em suas instalações e o perfil
predominante dos apenados, é de negros e pobres. Entre os segregados, 61,7% são negros ou
pardos, lembrando que, 53,63% da população do país apresenta essa característica, enquanto
37,22% dos presos são brancos e, a população total brasileira na cor branca é de 45,48%.
Há um relato do Depen3, afirmando que, mais de 60% das mulheres e 25% dos
homens presos no Brasil, cumprem pena pelo crime de tráfico de entorpecentes. O excesso de
prisões provisórias, a decretação de cumprimento de pena em regime fechado, quando poderia
ser de penas alternativas e a lei antidrogas, são apenas alguns dos fatores responsáveis pela
superlotação carcerária do país.
Os direitos humanos são violados diariamente nessas instituições, com condições
degradantes, tratamentos desumanos, tortura e homicídios. O sistema carcerário em países
2 Sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro. O sistema, é atualizado pelos gestores dos
estabelecimentos desde 2004.
3 Departamento Penitenciário Nacional.
capitalistas como o Brasil, se revelou extremamente cruel, porque não oferece uma “cura”
propriamente dita para o infrator. O seu principal objetivo, que seria fazer o cidadão repensar
suas atitudes, para evoluir e retornar numa melhor condição para a sociedade, ou seja,
arrependido de seus atos e determinado a respeitar as normas para coexistir em harmonia com
os demais, não chega nem perto da realidade.
4
Fernando Caulyt autor do artigo, é atualmente um jornalista pouco conhecido na mídia.
5
Conselho Nacional do Ministério Público conta com membros do Ministério Público de todo o País;
Mas os índices são bastante negativos no Rio Grande do Sul também, aonde, em sua
capital, Porto Alegre, presos aguardam vaga em presídios nas delegacias e viaturas da polícia.
Segundo a Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários), até a última quinta-feira
(25/4), o déficit de vagas nos presídios do estado é de 13 mil. Viaturas policiais viram cadeia
no Rio Grande do Sul, presos são algemados no volante, nas portas e dentro de camburões,
muitos ficam sem poder tomar banho por falta de vagas em presídios. Essa situação já passa
de 01 (um) ano, em que presos estão confinados em viaturas, em condições de extremo
desconforto, ambiente degradante e ainda, ocupando viaturas e policiais que deveriam estar
efetuando rondas e patrulhas na cidade para garantir a segurança da população. A situação não
é exclusividade da capital gaúcha. O DPA-RS (Departamento de Polícia Metropolitana)
registra 70 pessoas presas em viaturas e 71 em delegacias em todo o estado.
No que tange a saúde, a Lei 8080 de 1990, denominada Sistema Único de Saúde
(SUS), preconiza que “a saúde é um direito do cidadão e dever do Estado, e deve ser garantida
mediante a oferta de políticas sociais econômicas”, política essa, de caráter universal, integral
e gratuita devendo ser estendida a todos os cidadãos independente da condição em que se
encontram.
Desta forma, Moraes (2015, p. 72), menciona que um dos grandes desafios para o
Sistema Único de Saúde e o Sistema Prisional são as doenças infecciosas, que são aquelas
transmissíveis por agentes patogênicos como vírus, bactérias e parasitas, e se dissipam
rapidamente em ambientes fechados e com grande contingente de pessoas, como são as
prisões brasileiras.
É o caso da escabiose (sarna) que se alastra por roupas e colchões, da hanseníase
(lepra) e das hepatites (A, B e C) e, principalmente, da tuberculose. O contágio das doenças
infecciosas ocorre no sistema prisional devido a alguns fatores relacionados ao próprio
encarceramento, tais como: celas superlotadas, mal ventiladas e com pouca iluminação solar;
exposição frequente à microbactéria responsável pela transmissão da tuberculose; falta de
informação e dificuldade de acesso aos serviços de saúde na prisão (MORAES, 2015).
Corroborando com as reflexões apontadas acima, Costa (2015, p. 74) complementa a
discussão informando que, segundo o médico chefe do presídio Central de Porto Alegre,
Clodoaldo Ortega, 25% da população carcerária do Central sofria de tuberculose, doença
facilmente transmissível, ainda mais considerando o ambiente insalubre, que pode e deve ser
diagnosticada na própria unidade prisional e que se, adequadamente tratada, possui 100% de
chances de cura. No Piauí e na Bahia foi constatado pela reportagem do programa profissão
repórter, exibido na rede globo em 07/06/2017 péssimas condições sanitárias, entre elas,
baratas nas caixas d´água; esgoto dentro das celas e dezenas de ratos nos corredores. Na
penitenciária de Esperantina, um surto de sarna atingiu 150 detentos e até o diretor do
presídio.
Pode-se aferir frente a estes dados que o Estado enquanto garantidor e propulsor de
políticas públicas está deixando muito a desejar, expondo milhares de seres humanos que
estão sob sua custódia a condições subumanas, cruéis, degradantes e vexatórias, voltando-se
totalmente na contramão do que prevê inúmeros instrumentos legislativos positivados tanto
em nível nacional quanto internacional.
O número de suicídios e homicídios também é assustador nos presídios, como se não
bastasse toda insalubridade a que os presos têm de se sujeitar. Há ainda, no estudo realizado
pelo CNMP, um levantamento da quantidade mortes ocorridas no sistema prisional, que
aumentou consideravelmente no período em que foi realizado o estudo, março de 2017 a
fevereiro de 2018. Os dados apontam que neste período, do total de 1456 unidades prisionais,
morreram presos em 474 delas e que em 81 houve registro interno de maus tratos praticados
pelos servidores, sendo em 436 registrada lesão corporal praticada por seus funcionários
contra os apenados. Foi feito um levantamento dos serviços disponibilizados aos presos, que
atestou a falta de atendimento médico em 58,75% dos estabelecimentos na região Nordeste e
que 44,64% de todas unidades do país não oferecem assistência educacional.
Diante desse cenário deprimente, é possível falar em reintegração social? Como o
Estado está garantindo a ressocialização destes seres humanos para o retorno a vida em
sociedade?
A administração do sistema prisional pelo Estado é falha, uma vez que, permite toda
sorte de violações de direitos mínimos dentro das instituições. Com a superlotação, os presos
têm de tentar garantir a própria segurança, o que remete à lei do mais forte, tornando-se um
ambiente de hostilidades, onde o Estado em nada impera.
Tráfico de drogas, o principal responsável por gerir e controlar todo sistema interno,
incluindo os agentes penitenciários, que respondem às inúmeras facções criminosas que,
inclusive, coordenam crimes fora dos presídios. A tão esperada instalação de bloqueadores de
celular para as penitenciárias não virou realidade concreta em todo país, apenas algumas casas
prisionais contam com essa tecnologia que, diga-se de passagem, não está sendo eficiente para
coibir práticas ilícitas coordenadas de dentro das celas.
Devido aos altos custos para instalação, a difícil configuração/cálculo de cobertura
para funcionamento correto dos aparelhos e a constante evolução da tecnologia da telefonia, o
Brasil está bem distante de lograr êxito nessa questão. As medidas eficazes no combate às
facções operantes nos presídios, segundo o promotor Lincoln Gakiya7, do MP de São Paulo,
seriam a instalação dos bloqueadores de sinal para celular, scanners corporais (semelhantes ao
dos aeroportos), e a proibição das visitas íntimas, onde são passadas as orientações aos
comparsas de fora, através de mensagens, transmitidas pela companheira do apenado.
A União perdeu totalmente o controle sobre o sistema prisional, tendo se instalado um
caos após o encarceramento em massa ao longo dos anos, que ultrapassou em muito a
capacidade suportada para entregar um mínimo de dignidade aos apenados. O resultado são as
constantes rebeliões, mortes, violência e prejuízo gerado a todos, sociedade, sistema e aos
próprios presos e suas famílias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas medidas começaram a ser tomadas para melhorar a eficiência da gestão dos
cárceres brasileiros, para tentar gerir melhor essas instituições e minimizar o caos instalado,
principalmente, às superlotações, que, em boa parte, se devem às prisões temporárias ou
preventivas. Um novo projeto de iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), está sendo
posto em prática, visando o cadastro de todos presos e suas respectivas penas e condenações,
com o intuito de fiscalizar com mais eficiência as prisões e andamento dos processos.
O Banco Nacional de Mandados de Prisão - BNMP8, implementado pelo CNJ em 2011 e já
integrado em todos os tribunais, é uma ferramenta que possibilita o registro e consulta de
informações sobre mandados de prisão. A crise no sistema carcerário mostrou a necessidade
de dados mais amplos e informações confiáveis para permitir o planejamento necessário para
mudarmos essa realidade no Brasil.
Assim, o CNJ9 desenvolveu o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões, o BNMP
2.0. Esta nova versão do sistema vai permitir, além do monitoramento das ordens de prisão
expedidas pelo Judiciário, o controle do cumprimento das ordens de prisão e soltura em
âmbito nacional e em tempo real, permitindo a criação de um Cadastro Nacional de Presos.
7
Lincoln Gakiya. Promotor de Justiça em São Paulo – Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado – Núcleo Presidente Prudente. Intitulado “Inimigo nº 1 do PCC”.
8
Banco Nacional de Monitoramento de Prisões – BNMP 2.0. Cadastro Nacional de Presos, Conselho
Nacional de Justiça, Brasília, DF;
9
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfeiçoar o trabalho do
sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência
administrativa e processual.
O Cadastro vai trazer mais segurança para a sociedade e eficiência para o Judiciário, já que
todas as informações sobre pessoas procuradas pela Justiça ou presas em estados diversos
estarão, agora, integradas. A partir da alimentação dos dados, o Poder Judiciário criará um banco de
dados dinâmico e de abrangência nacional.
Esse sistema tem a importante função de manter atualizadas as informações e agilizar
o trabalho do judiciário nos processos, para que não haja pessoas presas indevidamente.
Em 20 de agosto de 2018, em reunião que contou com a presença dos procuradores-
gerais de Justiça e dos presidentes dos Tribunais de Justiça de todo o país, o Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) firmaram
acordo de cooperação técnica para que membros do Ministério Público (MP) tenham acesso
ao Cadastro Nacional de Presos desenvolvido pelo CNJ, por meio do Banco Nacional de
Monitoramento de Prisões (BNMP 2.0). Para a procuradora-geral da República, esse é um
momento histórico para todos aqueles que apoiam a causa dos direitos humanos e buscam a
eficiência da política penitenciária. “Finalmente teremos uma base de dados com mais
precisão e informações recentes bem atualizadas a respeito do tamanho da população prisional
no Brasil”, destaca Raquel Dodge.
Dessa forma, espera-se que menos pessoas sejam encarceradas por tempo
indeterminado sem um julgamento justou ou que, cumpram mais do que devem, visando-se
assim, a diminuição do número de pessoas segregadas no país. Sabe-se que nação forte é
aquela que investe em construção de escolas e não de presídios, aguardemos o lampejo do
bom senso começar a ditar novos rumos para nosso Brasil, buscando cada vez mais a
valorização da vida e dignidade humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 10. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
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MORAES, Ana Luísa Zago de. Tuberculose e Cárcere. In. RIGON Bruno Silveira; SILVEIRA Felipe
Lazzari; MARQUES Jader (Org.). Cárcere em Imagem e Texto. 1 ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2015.