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RESUMO
A comunidade Ladeirinhas “A” no município de Japoatã/SE se origina do processo de regularização
fundiária que ocorreu em 1980. Inicialmente, os camponeses assentados se reproduziam a partir do
policultivo alimentício, e pelo cultivo da cana-de-açúcar que passou a ser um elemento geográfico
presente na paisagem. Por volta de 2008, as plantações de eucalipto tonaram-se presente na
comunidade. Este trabalho tem como objetivo discutir os impactos socioambientais que a monocultura
do eucalipto ocasiona nas áreas onde é plantado e/ou onde seus impactos ambientais se espraiam. Para
a presente discursão nos embasamos na literatura especifica, assim como na coleta de dados primeiros
em lócus e os secundários em órgãos e institutos oficiais. Constata-se que a monocultura do eucalipto
impacta o meio ambiente, afeta o desenvolvimento humano das regiões onde é instalado, assim como
favorece a reprodução ampliada do capital em um movimento contraditório, desigual e combinado ao
conectar o lugar a esfera mundo global do capitalismo, ao tempo em que destrói a identidade
camponesa e o seu principal meio de reprodução que é a terra.
1. Introdução:
É o setor terciário que movimenta a economia nacional e a estadual, porém isto não se
aplica em Japoatã, pois no município é a agropecuária, garantindo o maior valor do PIB. É a
agricultura que absorve a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) municipal
(Quadro 04).
Quadro 04: Distribuição do PIB por setor econômico, Município de Japoatã, 2014.
Fonte
Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) real
Variável Japoatã Sergipe Brasil :
Quadro 05: Pessoas ocupadas por setor de Atividade Econômica. Município de Japoatã, 2007
– 2013.
Variáveis 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Agricultura 1040 1049 659 711 820 682 551
Comércio 29 35 25 55 71 80 93
Indústria 171 169 136 153 143 60 17
Serviços 626 635 648 642 575 623 640
Soma 1866 1888 1468 1561 1609 1445 1301
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 2014.
Conforme os dados do observatório de Sergipe, a população economicamente ativa de
Japoatã no ano de 2010 era de 5.046 pessoas, no mesmo ano os setores da economia
absorveram 1.561 (31%) dos trabalhadores, ou seja, 3.485 (69%) dos japoatãnense estavam
desempregados no município, necessitando se deslocar para outros municípios para trabalhar.
A baixa industrialização e a alta dependência ao setor primário que é o segundo maior
empregador e promovedor de receitas, mesmo com essa realidade, o município de Japoatã tem
dinheiro suficiente para os gastos públicos, pois, conforme o IBGE, (2014), a receita
municipal é superior a suas despesas (imagem 01).
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Fonte: IBGE, 2016
O modo de vida rural segregacionista e dependente da Cana-de-açúcar e do eucalipto,
somado as receitas superior as despesas, não permitem que o município de Japoatã tenha um
Índice de Desenvolvimento Humano-M (IDH-M) maior (Quadro 06). O IDH-M do município
é inferior à realidade estadual e nacional, o que demonstra que o índice não depende da
situação puramente econômica, mas a maneira com que a distribuição de renda é gerida no
município.
1
https://www.dicio.com.br/exotico/
Ambiente classifica as espécies exóticas como “organismos que, introduzidos fora da sua área
de distribuição natural, ameaçam ecossistemas, habitats ou outras espécies”, (BRASIL, 2006).
O eucalipto não é natural/originário do Brasil sendo oriunda da Austrália, trazida ao
país em meados do final do século XIX, sendo cultivado no Sudeste como planta ornamental
nós casarões do Rio de Janeiro. No século XX seu potencial econômico é descoberto
passando a incentivar o seu plantio em larga escala para atender as necessidades da
Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo então São Paulo o maior produtor deste
período. No século XXI o eucalipto tornou-se marca presente em muitos estados do Brasil e
em todas as regiões (CARDOSO; PIRES, 2014).
No início do século XXI o Brasil possuía cinco milhões de hectares de eucaliptos,
onde Minas Gerais passou a ser o maior produtor nacional com cerca de 1,5 milhões de
hectares, (VIANA, 2004), o que o torna uma cultura inviável para o camponês, pois o mesmo
não tem capital suficiente para esperar sete anos para colher a madeira, além de que o plantio
dessa monocultura não é característico da identidade camponesa.
O Brasil devido aos altos incentivos estatais é o maior produtor de eucalipto do mundo
(SILVA; SAMBAIO, 2014). No Nordeste, especificamente no litoral norte de Sergipe no
platô de Neópolis ocorre a presença desta monocultura. No município de Japoatã essa
subordinação do trabalho campesino pode ser evidenciada através da produção agrícola
municipal que apresenta grandes plantações de Cana-de-açúcar e de eucalipto para abastecer
as usinas e as cerâmicas no estado de Sergipe (Gráfico 01).
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o de Sergipe, 2015.
Fonte: IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, 2015
As empresas de celulose necessitam cada vez mais de terra para a produção de
eucalipto, contudo, não conseguindo adquirir glebas de terra, as empresas buscam arrendar ou
formar parceria com os proprietários das terras, sendo eles grandes, médio e pequenos
buscando atender a demanda do mercado que é cada vez maior, sendo vital aumentar o
tamanho da área plantada de eucalipto (CERQUEIRA NETO, 2011), o que é visível a
territorialização do capital na região próxima Ladeirinhas “A”.
Os países do Norte são dependentes dos países do Sul, pois são estes que produzem os
eucaliptos (celulose) para abastece-los. Os desserviços que as nações do Norte realizam não
restringem só na produção de celulose, pois os países desse hemisfério são os maiores
emissores de CO², não realizando nenhuma redução drástica nestas emissões buscam
amenizar os estragos incentivando o plantio de florestas (Desertos Verdes) no hemisfério sul
principalmente no Brasil (VIANA, 2004).
A madeira do eucalipto é utilizada nas indústrias de celulose, para a construção civil e
para o seu uso como lenha nas cerâmicas do país. Para atender essa necessidade é necessário a
produção em larga escala, para isto são necessárias grandes extensões de terra e de capital,
favorecendo as empresas de celulose (SILVA; SAMBAIO, 2014).
A citação do documento da câmera legislativa produzida por Viana (2004), demonstra
como a aliança Capital-Estado atua na organização territorial do Brasil. Além disto, a
perpetuação do país como agroexportador de commoditeis é pauta de agenda do governo
brasileiro, agravando a fragilidade da soberania alimentar, pois os agrotóxicos contaminam os
alimentos. A padronização reduz a diversidade alimentar e a redução de área para a produção
de alimentos reduz a quantidade de alimentos, além de não gerar emprego para as
comunidades locais.
Estudos demonstram que a quantidade de empregos gerados é o menor das
monoculturas analisadas, pois “a cada 15 hectares são empregadas trinta pessoas na cultura de
café, sete pessoas na fruticultura, mas para o cultivo do eucalipto só é empregada uma pessoa.
Na agricultura familiar pode gerar até 30 postos [...] por hectare” (TEDINE, apud SILVA;
SAMBAIO, 2014). O desastre ocasionando pela monocultura não se restringem ao campo
social, mas é um problema sócioespacial.
Os impactos ambientais ocasionado pelo eucalipto se materializa nas áreas onde esse
cultivo é realizado. Tem-se relatos na África do Sul e Chile sobre a escassez hídrica devido ao
seu alto consumo de água e a redução da área destinada ao plantio de alimento. Tais
elementos estimulam o êxodo devido à falta de trabalho, além de destruir as florestas
originarias pela monocultura. No Chile, foi o regime militar que incentivou a produção de
eucalipto, permitiu que o país ampliasse as suas exportações, no entanto, a grande riqueza
gerada ficou nas mãos de grupos chilenos e depois das multinacionais, já os custos ambientais
foram entregues aos camponeses (VIANA, 2004).
No sudeste do Brasil o eucalipto está afetando o ambiente onde são inseridos. Já se
fala para a área onde se situa o Vale do Jequitinhonha em ocasional desertificação. Os
eucaliptais adentraram o vale através dos incentivos fiscais promovidos pelos governos dos
militares, incentivando o reflorestamento ocasionando a substituição de outras lavouras, que
no início aumentou a geração de postos de trabalho (no período do plantio), mas declinou
provocando um acelerado êxodo rural (CHAVES apud VIANA, 2004; CARDOSO; PIRES,
2014).
É evidente que a implantação de eucaliptais no nordeste brasileiro é um risco, pois,
essas culturas necessitam de enormes quantidades de água para sobreviver, isto pode agravar
a escassez hídrica da região. Na região sudeste, onde a média pluviométrica da região é mais
alta do que a do Nordeste, ocorre “segundo MEIRELLES e CALAZANS (2006), [...], só no
norte do Espírito Santo já secaram mais de 130 córregos depois que o eucalipto foi
introduzido na região” (CARDOSO; PIRES, 2014).
Há na produção de eucalipto uma relação contraditória, pois ao ser cultivado o
eucalipto integra o lugar ao circuito global do capital, em contraposição, provoca desastre
ambientais, lançando-o na dependência de um único produto ocasionando assim uma
paisagem homogênea, (CERQUEIRA NETO, 2011), em substituição a heterogeneidade dos
ambienteis naturais ou das áreas camponesas policulturas.
Para além do impacto ambiental, o eucalipto tem ocasionado no extremo sul da Bahia
uma degradação social ampliando o mercado “da prostituição, crescimento da criminalidade,
desterritorialização de parte da sociedade rural, aumento dos imóveis e perturbação no meio
ecológico” (CEQUEIRA NETO, 2011).
Os impactos ambientais são diversos, porém estudos demonstram que as
especificidades dos lugares devem ser respeitadas para entender até que ponto o eucalipto
pode afetar a dinâmica ambiental local e regional, e também como ocorre o manejo dessa
lavoura (VIANA, 2004).
O eucalipto possui uma estrutura foliar que permite a penetração de mais luz e a
infiltração da água no solo o que proporciona o controle do escoamento superficial, reduzindo
a erosão, ampliando a ciclagem dos nutrientes. O consumo reduzido de nutrientes dos solos
em comparação as outras culturas agrícolas como o feijão e o milho não é algo que ameniza
os impactos do eucalipto, visto que, esses cultivos compõem a alimentação humana, ou seja,
todos os nutrientes absolvidos são ingeridos pelos brasileiros por meio das refeições.
Estudos criticam as afirmações de que o eucalipto prejudica os solos, entendendo que
as raízes absorvem os nutrientes das camadas inferiores, devolvendo-os as camadas
superficiais do solo, através da queda das folhas, (LIMA apud VIANA, 2004). Todavia, Viana
(2004) apresenta dados que contribuem para questionar tais afirmações (Quadro 08).
Referencias
HARVEY, D. Espaço como palavra-chave. Rio de Janeiro: EM PAUTA, n. 35, v. 13, 2015,
p. 126 – 152. Disponível em: <http://www.e-
publicacoes_teste.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/viewFile/18625/13595>. Acesso
em: 15.09.2016.
SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. São Paulo: EDUSP, 6º ed, 2. Reimp., 2014.