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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
Porto Alegre
2018
Patrícia De Maria Joner
Porto Alegre
2018
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RESUMO
Este artigo, pretende analisar como são vistos os estagiários das gerações Baby Boomers e X,
que participam do programa de estágios de um orgão público federal, pessoas nesta faixa etária têm
ingressado em maior número nos programas de estágio nos últimos ano. Este ingresso vem sendo
constatado nos países desenvolvidos, e também no Brasil, que nas últimas décadas vem sofrendo
modificações na sua estrutura etária, entre elas, o aumento na expectativa de vida da população. Como
consequência destas mudanças demográficas, um maior tempo de permanência dos trabalhadores no
mercado de trabalho, fator que exige um novo planejamento de carreira por parte dos indivíduos e que
implica em uma visão ampla da conjuntura social, econômica, política e cultural, por parte dos
governos e das empresas, frente a uma sociedade cada vez mais globalizada e tecnológica, com uma
dinâmica cada vez mais competitiva, demandando constante atualização profissional. Para isso, foram
desenvolvidas pesquisas com objetivo exploratório como uma revisão baseada em fontes
bibliográficas como, obras, artigos científicos e sites da Internet, e uma pesquisa de abordagem
qualitativa. Através de entrevistas constatou-se que a participação dos estagiários das gerações Baby
Boomers e X no programa de estágio deste orgão público, apresenta como principal contribuição o
rompimento de estereótipos sociais relativos ao tema das gerações.
Palavras-chave: Estagiários; Mudanças Demográficas; Sociedade; Gerações; Estereótipos.
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1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Perspectiva Sociológica do Conceito de Gerações
O tema que envolve o conceito de gerações, “ vai além da divisão etária, pois inclui a
influência política, cultural e social existentes durante os momentos históricos que cada
geração presenciou”(FORQUIM, 2003 apud COLLISTOCH, FONSECA, SILVA,
WATANABE, BERTOIA, NAKATA, p.13, 2012).
O próprio desenvolvimento do conceito de gerações, inseriu-se no contexto dos
acontecimentos mais impactantes do século XX, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
No período entreguerras, a noção de revezamento geracional, através do vinculação da
existência humana ao curso da história, foi um consenso geral(ORTEGA Y GASSET, 1923;
MANHEIM, 1928 apud FEIXA, LECCARDI, 2010), marcando o primeiro dos três momentos
históricos do pensamento social contemporâneo, sobre a temática geracional(FEIXA,
LECCARDI, 2010).
O segundo momento histórico, ocorreu nos anos 1960, em uma época caracterizada
por intensos protestos, a explosão demográfica pós Segunda Guerra Mundial, gerou um
número sem precedentes de jovens dispostos a repensar os rumos sociais, políticos e culturais
da sociedade, indo além do foco sobre as necessidades materiais da vida que tinham
preocupado seus pais. A noção de problema histórico, levou a fundamentação da teoria do
conflito(FEUER, 1960; MENDEL, 1969 apud FEIXA, LECCARDI, 2010).
A importância das inovações tecnológicas, especialmente a tecnologia digital, define o
terceiro momento histórico, e ainda em desenvolvimento, iniciado em meados dos anos 1990,
com o advento da sociedade em rede, e a formulação de uma teoria sobre a noção de
sobreposição geracional, situação em que os jovens que já nascem em meio a um ambiente
digital, são mais habilidosos com essas tecnologias, que as gerações anteriores(TAPISCOTT,
1998, CRICHOLM, 2005 apud FEIXA, LECCARDI, 2010).
A aceleração da difusão tecnológica e dos meios de comunicação, surgida com a
entrada da Internet em nível comercial, a partir de 1990, e a posterior chegada dos
smartphones e outras tecnologias inovadoras, fazem parte do processo de globalização,
constituído por um conjunto de transformações, de ordem política, econômica, social e
cultural, que tem sua origem com o mercantilismo no século XV, avançando no período pós
Segunda Guerra Mundial, intensificando-se, sobretudo, no final do século XX, e que
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tornaram-se os fatos mais marcantes nessa virada para o século XXI, sendo eles próprios
propagadores de outros elementos de transformação, através da comunicação, trazendo à tona
a emergência de parâmetros históricos comuns a todas as gerações que convivem hoje no
ambiente organizacional.
O termo “geração”, tem diferentes aplicações, dependendo da disciplina em que é
empregado, que vão desde estudos etnológicos, demográficos, e sociológicos, sendo esses
dois últimos aspectos os mais relevantes para o presente ensaio.
No contexto sociológico, o termo “geração”, está relacionado a filiação de conjuntos
de indivíduos a determinado tempo cronológico e a uma similaridade de influências, sociais
políticas, econômicas e culturais.
Considerado um dos fundadores dos estudos sociológicos, o francês Auguste
Comte(1798-1857), desenvolveu a doutrina positivista, exposta no seu livro “Curso de
Filosofia Positiva” (1830-1842), propondo que o conhecimento e a sociedade, evoluem em
três fases distintas, a teológica, em que o ser humano explica a realidade por meio de
entidades supranaturais ,os "deuses"; a metafísica, espécie de meio-termo entre a teologia e a
positividade, no lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade, "o Éter", "o
Povo", "o Mercado financeiro", etc; e a positiva, etapa final e definitiva, em que por meio da
descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de
coexistência, será atingido a evolução da sociedade.
Esta teoria fundamentada em uma noção linear de progresso, afirmava que o mesmo
devia-se entre outros fatores ao equilíbrio entre as mudanças produzidas pela nova geração e a
estabilidade mantida pelas gerações anteriores, Comte propôs uma lei geral, baseada na
biologia, sobre o ritmo da história, relacionando a sucessão geracional, ao estabelecimento de
mudanças que levariam ao progresso.
Outros estudiosos argumentavam que a especificidade das ciências humanas exigia um
método diferente daquele das ciências naturais, para o filósofo alemão Wilhelm
Dilthey(1833-1911), poderia buscar-se explicações para os fenômenos da natureza, mas a
vida psíquica, deveria ser compreendida. Em 1883, foi publicado o primeiro volume de sua
“Introdução ao Estudo das Ciências Humanas”. Nessa obra, o filósofo procurou assegurar
uma independência de método às ciências do homem ou ciências do espírito, distinção que
percorreria praticamente toda a sua obra.
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A explicação, busca as causas dos fenômenos para estabelecer leis, como fez Comte,
enquanto que a compreensão depende da interpretação e vincula-se a experiência psicológica,
permeada por motivações diversas, valores e finalidades, sendo essa experiência, o meio a
permitir a apreensão da realidade histórica e humana, com sua visão romântica Dilthey
desvinculou-se da abordagem determinista de Comte, na sua concepção o que mais importa é
a qualidade dos vínculos que os indivíduos das diferentes gerações mantém em conjunto,
através de acontecimentos e vivências compartilhadas, constituindo-se em influências
históricas em comum.
Visto como fundador da abordagem moderna do tema das gerações, o sociólogo
húngaro Karl Mannheim(1893-1947). Quando Mannheim desenvolveu sua teoria das
gerações, distanciou-se tanto do positivismo, bem como da perspectiva romântico-histórica.
Seu maior interesse foi o de incluir as gerações em sua pesquisa sobre as bases sociais e
existenciais do conhecimento em relação ao processo histórico-social(FEIXA, LECCARDI,
2010).
Para Mannheim, a demarcação geracional é algo apenas potencial(MANNHEIM, 1964,
p. 542 apud WELLER, 2010), o que realmente forma uma geração incluindo fatores como
idade e classe, é a experiência conjunta dos mesmos problemas históricos, pois quando
pessoas de um mesmo grupo etário, especialmente os jovens, cujos esquemas psicológicos
para compreender a realidade ainda permanecem maleáveis a influências sociais, políticas e
culturais vivenciam momentos de rupturas históricas, se estabelece uma conexão particular,
pois compartilham de forma similar suas primeiras impressões. Por outro lado :
Alguém é velho principalmente pelo fato de viver em um contexto de experiências
específicas, autoadquiridas e pré-formativas, através das quais cada nova experiência
é, até certo ponto, classificada de antemão quanto à sua forma e localização. Em
contraposição, na nova vida as forças configuradoras estão se constituindo, as
intenções primárias e a forte impressão de novas situações ainda precisam ser
processadas ( MANNHEIM, 1964, p. 534 apud WELLER, 2010).
Bauman direcionou alguns de seus escritos para refletir diretamente sobre a juventude.
Para ele, há uma longa história de incompreensão recíproca entre as gerações dos adultos e a
dos jovens , gerando assim, uma desconfiança mútua(BAUMAN,2011).
2.2 Gerações
No século XX, o maior momento de ruptura foi a Segunda Guerra Mundial, com
destaque para o Holocausto dos Judeus, o lançamento feito pelos Estados Unidos da América
de duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, cidades japonesas e para os mais de 60
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milhões de mortos. O final da Segunda Guerra foi um momento de alívio e euforia, a geração
dos nascidos após Segunda Guerra Mundial até a metade da década de 1960 é denominada
Baby Boomers, a designação vem da expressão "baby boom", que representa a explosão na
taxa de natalidade nos Estados Unidos e Europa do pós-guerra. Devido ao seu tamanho e
espaço temporal esta geração de indivíduos tiveram um profundo impacto da sociedade
americana (HUDSON, 2010).
Alguns acontecimentos como o rock and roll, a corrida espacial e a independência das
mulheres no mercado trabalho, marcaram essa geração. O impacto destes eventos moldou a
personalidade dessa geração, com traços de otimismo, e idealismo (GLASS, 2007).
Os Baby Boomers no Brasil viveram a Ditadura Militar e as promessas do milagre
econômico, cresceram com oportunidades de trabalho ligadas à estabilidade dentro de grandes
indústrias, em um período de otimismo financeiro e ascensão social. Mas também passaram
por mudanças políticas e graves crises econômicas, que reforçaram na maturidade, o
conservadorismo de seus investimentos e comportamento no geral, no mercado de trabalho,
os Baby Boomers são fiéis às companhias, com carreiras de 20 ou 30 anos em uma mesma
empresa, valorizam a hierarquia e procuram estabilidade no trabalho, são colaboradores fiéis
para as empresas, mas pouco dados à inovação. Para essa geração trabalho e sacrifício são os
geradores de bons resultados financeiros (GLASS, 2007).
A principal influência tecnológica do Baby Boomers foi a televisão, produzido em
escala industrial a partir de 1945, tornando-se o principal meio de comunicação do século XX.
A geração posterior aos Baby Boomers é a chamada geração X, dos nascidos em
meados da década de 1960 até começo da década de 1980. No contexto mundial a
bipolarização do mundo, a chamada Guerra Fria, oposição entre o bloco capitalista americano
e o bloco socialista soviético, tensão marcada pela ameaça da bomba atômica ainda em
decorrência da Segunda Guerra, e que permaneceu até 1990, tendo arrefecido após a queda do
muro de Berlim, 1989.
Em 1991, tinha fim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS, e o tipo de
capitalismo desenvolvido na esfera de influência dos EUA aparecia ao mundo como o
vitorioso de uma disputa que marcou o século XX.
Esse período é fortemente marcado pela contestação em muitos aspectos, no Brasil
protestos contra a Ditadura Militar, no mundo a luta contra o racismo, o avanço do feminismo,
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Nesse contexto de mudanças etárias, é possível perceber a presença dos idosos nas
faculdades em busca de qualificação ou de uma nova profissão. Segundo matéria do site
G1(CAVALLINI, 2018), com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira- INEP, de 2014 para 2015 o número matriculados dessa faixa
etária cresceu 8,5%. Para mudar de carreira, profissionais mais velhos apostam no estágio
como porta de entrada.
Nesta mesma matéria, o superintendente nacional de atendimento do Centro de
Integração Empresa Escola- CIEE, Luiz Gustavo Coppola explica que o perfil dos estagiários
mais velhos é basicamente de pessoas que já têm uma profissão, mas sem formação superior,
e que decidem fazer a graduação e tentar uma nova carreira. Também é comum que mulheres
acima de 40 anos que interromperam a carreira para cuidar dos filhos ou não tiveram tempo
nem renda para estudar antes, busquem uma graduação tardia ingressando em programas de
estágio na expectativa de conseguir depois um emprego na nova área.
No CIEE, os cursos mais procurados pelos estagiários com mais de 40 anos são
pedagogia, direito, psicologia e enfermagem.
Segundo Luiz Gustavo Coppola, a instituição identifica o candidato que seja mais
próximo do perfil da vaga, e isso independe da idade. “Em alguns casos, os mais velhos
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levam vantagem por serem mais experientes nas situações de trabalho e acabam se
tornando mentores dos mais novos”, afirma Coppola.
O superintendente do CIEE aponta que a rotatividade nos estágios é menor entre os
mais velhos. “O estagiário de mais idade está mais decidido com o que quer, normalmente
ficam até o final do contrato até serem efetivados. Já o jovem ainda está experimentando, se
percebe que não é o que quer, ele vai buscar uma outra oportunidade”, segundo Coppola.
Em janeiro, o Centro de Integração Empresa Escola-CIEE, contabilizava 6,2 mil
estagiários com idades acima de 40 anos, 3,5% do total de 179 mil. Segundo levantamento
feito pela recrutadora de estagiários, essa proporção tem se mantido desde 2013, conforme
tabela abaixo:
Tabela 1-Número de estagiários e proporção da faixa etária acima dos 40 entre o total
Fonte: Elaborado pelo site G1 com informações do Centro de Integração Empresa Escola - CIEE
Para Yolanda Brandão, gerente de treinamento do Nube, os estagiários mais velhos buscam a
faculdade que não puderam fazer para ter a carreira que os realize ou fazem a segunda graduação para
ter outras opções de inserção no mercado.
Segundo ela, esses profissionais preferem cursos tradicionais e valorizados, como pedagogia e
direito, ou que tenham um leque grande de empregabilidade, como administração.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo pretendeu conhecer, como é vista a participação das gerações Baby
Boomers e X, nos programas de estágio de um orgão público federal. Para explorar o
tema, buscou-se demonstrar o processo histórico de cada geração, sob uma perspectiva
sociológica, bem como as descrições encontradas relativas às gerações. Também foi
realizada análise dos fatores demográficos envolvidos.
Foi possível observar correspondência entre o referencial bibliográfico pesquisado e
o evento da ampliação do número de participantes das gerações Baby Boomers e X em
programas de estágio.
A partir das respostas obtidas nas entrevistas, constatou-se que a função do estágio
de promover o desenvolvimento e a aprendizagem do estagiário, relacionados com a
profissão escolhida, não permite a criação de estereótipos sociais, incluindo os relativos a
idade
Este estudo encontra limitações em função do pequeno grupo pesquisado. Também
por este grupo ser pertencente somente ao setor público.
Para expandir o contexto da análise, sugere-se a realização de entrevistas em
organizações da iniciativa privada. Aspectos como a percepção dos próprios estagiários
sobre a sua inserção no ambiente organizacional, por exemplo, poderiam ser considerados
em um novo estudo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS