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Critérios para reprodução de cores em tintas

Autores: Celso Gnecco - Gerente de Treinamento Técnico


Roberto Mariano - Gerente de Serviços a Clientes
da Sherwin-Williams/Divisão Sumaré
Rev.: 27/01/99

Introdução
O acerto de cores na indústria de tintas quase sempre é problemática por que os
profissionais que se relacionam com os clientes e os próprios clientes
desconhecem as dificuldades de se reproduzirem as cores.
Não é raro a solicitação de uma cor de tinta por meio de uma cartela
envelhecida ou de um pedaço de metal ou de papel pintados. O resultado é que
após a pintura, a cor não está de acordo com o que o cliente imaginava.
Os pedidos de cores deveriam ser sempre feitos a partir de um padrão
adequado para evitar desgastes com os clientes e perda de tempo e de dinheiro.

Padrões de cores
Os padrões mais utilizados no Brasil são: Munsell, RAL e Federal Standard
Munsell
A notação Munsell indica uma cartela de cores que pertence a um livro com
aproximadamente 2.000 cartelas padronizadas destacáveis. Existem duas
versões , uma brilhante (glossy) e outra fosca (matte). A mais usada é a versão
brilhante. O livro Munsell é composto por dois volumes , com um total de 40
páginas, sendo 20 com cartelas de cores básicas e 20 com cores intermediárias.
As cores no livro Munsell são referidas pelas suas letras iniciais em inglês:
Cores Inglês Letra Cores Inglês Letra
básicas intermediárias
Vermelha Red R Amarela/Vermelha (laranja) Yellow/Red YR
Amarela Yellow Y Verde/Amarela (verde amarelada) Green/Yellow GY
Verde Green G Azul/Verde (azul esverdeada) Blue/Green BG
Azul Blue B Púrpura/Azul (azul avermelhada) Purple/Blue PB
Púrpura Purple P Vermelho/púrpura (vermelha azulada) Red/Purple RP

Cada cor básica ou intermediária tem 4 páginas com numeração de 2,5 em 2,5
(Exemplo: 2,5 R; 5R; 7,5R; 10R).
As 40 páginas estão distribuídas nos dois volumes da seguinte maneira:
Se abrirmos os dois volumes e os colocarmos de pé, unidos pelos dorsos,
teremos a figura acima, vista de topo. O eixo denominado N (de neutro, pois não
há influência de nenhuma cor), é onde se encontram as cartelas dos cinzas,
desde o preto até o branco. Para não ter que repetir 40 vezes, uma em cada
página, a escala N dos cinzas, foi feita à parte com 37 cartelas na versão
brilhante e 31 na versão fosca.
Nesta escala as cartelas são apresentadas com a refletância que cada cor
exibe.
Na tabela abaixo são referidas algumas destas 37 cartelas de cor da escala
neutra na versão brilhante:

Cor Munsell Neutra Refletância Obs.


N 9,5 90,0 Branca
N9 78,7 Branca
N8 59,12 Cinza clara
N 6,5 36,2 Cinza média
N5 19,8 Cinza média
N 3,5 9,0 Cinza escura
N2 3,1 Preta
N1 1,2 Preta

Nota: Quanto mais clara é a cor, maior é quantidade de luz refletida (refletância)

Cada uma das páginas possui a distribuição das cartelas de acordo com as
seguintes coordenadas:
Tonalidade (hue)
É o atributo que expressa a cor das cartelas (vermelha, laranja, amarela, etc.)
Refletância (value)
É o atributo por meio do qual a cor de uma cartela é julgada refletir mais ou
menos luz (mais clara ou mais escura)
Saturação (chroma)
Expressa o grau de pureza de uma tonalidade (mais viva ou mais pálida)

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Na coluna da Saturação não existe o ( /0 ) que seria a coluna dos cinzas, cujas
cartelas (N) são apresentadas a parte
S a t u r a ç ã o (chroma) "
5R #
R
hue
e
f
v
l
a
e
l
t
u
â
e !
n Uma cartela do Livro Munsell
c
i
a

Exemplo de como uma cartela é localizada no Livro:


A cor para tubulações de incêndio é a Vermelha 5 R 4/14
para localizar a cartela no livro Munsell, deve-se procurar a página 5R
(Tonalidade). Nesta página procura-se nas linhas de Refletância (vertical) o ( 4/ )
e nas colunas da Saturação (horizontal), o ( /14 ).
Com estas coordenadas localizamos a cartela 5R4/14, que pode ser retirada do
livro e comparada visualmente ou através de colorímetro computadorizado, com
a cor do lote da tinta produzida ou para reproduzir a cor através de uma
formulação com os pigmentos disponíveis no estoque. Os pigmentos são os
responsáveis pelas cores das tintas, embora as resinas também tenham alguma
influência, mas muito pequena. Por exemplo, se a resina for amarelada, as cores
claras poderam sair com um ton levemente amarelado.
A linguagem Munsell é universal e pode ser usada para padronizar as cores,
como por exemplo, na segurança do trabalho (Norma ABNT NBR 7295) ou nas
tabulações (Norma ABNT NBR 6493).
Na padronização de cores de uma empresa é conveniente adotar cores de
cartelas existentes no Livro Munsell, ao invés de criar novos tons que não
encontram correspondência no livro. Este procedimento que resulta em notação
fracionada (Ex.: 5,8 Y 3,6/9,2) pode encarecer e tornar mais demorada a
aquisição de tintas.

RAL
As empresas alemãs costumam usar o Sistema RAL, que tem 158 cartelas, é
menos sofisticado do que o Munsell, porém também apresenta cartelas de cores
padronizadas. Não existe relação entre as cartelas do sistema a RAL e as do
Munsell. São padronizações independentes e poucas são as cartelas que
apresentam coincidência de cor nos dois sistemas. Utilizando um colorímetro é
possível determinar a cor Munsell a partir de uma cartela RAL, entretanto, a

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notação poderá ser fracionada e não haver cartela correspondente no livro
Munsell.
A sigla RAL que dizer: Rationelle Arbeitsgrundlagen für die praktiker des Lack
As cartelas são identificadas por 4 dígitos. Ex.: RAL 3009, que corresponde a
cor vermelho óxido.
O sistema RAL é dividido em 9 grupos de cores com suas respectivas
tonalidades:
Números Grupo de cor no de cartelas
1000 amarelas 23
2000 laranjas 9
3000 vermelhas e marrons avermelhadas 19
400 violetas e púrpuras 6
5000 azuis 19
6000 verdes 28
7000 cinzas 29
8000 marrons 17
9000 pretas, brancas, cinza claras e alumínio 8

As cartelas tem as dimensões de 210mm x 148 mm e nelas uma tarja colorida


de 50mm x 148 mm ou de 105mm x 148 mm. Estas cartelas são guardadas em
caixas de papelão pretas para protegê-las da luz.
Existem duas versões das cartelas RAL, a semi-brilhante (840HR) e a brilhante
(841 GL). A mais usada é a semi-brilhante.
Existem também cartelas impressas que são distribuídas como brinde, com as
principais cores RAL, mas estas não são tão precisas como as referidas acima.

Federal Standard no 595a - Colors


O sistema Federal é americano e bem estruturado, com cerca de 500 cartelas
de cores de ½ por 1 polegada ou de 3 por 5 polegadas.
As primeiras são apresentadas em um livro, e as segundas são vendidas
avulsas.
As cartelas são classificadas por 5 dígitos: Ex. cartela FS 10076

1 0 0 7 6 cor : vermelho óxido


↑ ↑ ↑
a b c

a - O primeiro dígito indica o aspecto do acabamento:


Dígito Aspecto Faixa de brilho (UB)
1 brilhante no mínimo 80
2 semi-brilhante entre 30 e 45
3 fosco no máximo 6
Nota: as faixas de brilho apresentadas na tabela acima correspondem às
cartelas de Federal e não significam uma definição de limites para cada tipo de
aspecto.

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b - O segundo dígito indica o grupo de cor, de acordo com a tabela:
Cor predominante Brilhante Semi-brilhante Fosca
marrom 10000 20000 30000
vermelha 11000 21000 31000
laranja 12000 22000 32000
amarela 13000 23000 33000
verde 14000 24000 34000
azul 15000 25000 35000
cinza 16000 26000 36000
preto, branca e metálica 17000 27000 37000
fluorescente 18000 28000 38000

c - Os últimos três dígitos indicam aproximadamente a ordem de crescimento da


refletância, com excessão dos fluorescentes. Quanto mais clara, maior é o valor
dos três últimos dígitos.
Assim, a cartela FS 11630 é mais clara do que FS 11136. Também , como nas
cartelas RAL, não existe correspondência direta entre a notação Munsell e a
Federal.

BS e AFNOR
BS é o sistema inglês da Britsh Standards e o AFNOR o sistema francês da
Associacion Française de Normalization. Ambos são parecidos com o sistema
RAL alemão.

Pantone
Este sistema de cores foi desenvolvido para tintas de impressão gráfica, cujo
substrato é o papel. O Pantone tem sido usado em tintas de manutenção
industrial, mas não é adequado porque as tintas gráficas, em muitos casos
possuem retículas e algumas cores ou tons são quase impossíveis de serem
reproduzidas com tintas de secagem ao ar ou em estufa. Sem contar também
que o substrato papel absorve parte da tinta.

Sistema de Tingimento Rápido


A produção de tintas sofreu um grande avanço com a introdução dos sistemas
de tingimento rápido. As fábricas ao invés de processarem centenas de lotes de
tintas de cores diferentes, passaram a produzir bases e pastas
coloridas(também chamadas de pastas de tingimento), que no total não
excedem a algumas dezenas. É a racionalização na indústria de tintas.

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Quando se deseja uma determinada cor, é só desenvolve-la no laboratório,
passar a fórmula para o computador e através dos sistemas STR (escala
industrial ou RTS (escala de loja), produzir a tinta na cor desejada.
O sistema STR funciona por gravimetria (por massa), ou seja, coloca-se o tacho
sobre a balança e o computador comanda a abertura de válvulas que adicionam
no recipiente as quantidades programadas de base e pastas coloridas. A
balança indica o momento de abrir e fechar as válvulas automaticamente.
A grande preocupação do controle da qualidade é a manutenção das cores
exatas das pastas coloridas, pois qualquer variação nos tons, pode afetar
significativamente a cor das tintas produzidas.
Nos distribuidores ou nas lojas o sistema RTS, também conhecido como sistema
tintométrico, funciona com as receitas (fórmulas) desenvolvidas e enviadas pela
fábrica. Neste caso as adições de pastas coloridas à base são feitas em volume.
O sistema tintométrico racionalizou o estoque das lojas, pois as máquinas
produzem na hora a cor que o cliente deseja, sem necessidade de recorrerem a
grandes estoques de variadas cores.
Tanto no STR quanto no RTS, além do cuidado com a qualidade das bases e
pastas, há que se ter muita atenção na massa ou no volume de pasta
adicionada e com a agitação constante destas pastas.
As bases usadas podem ser incolores (transparentes) ou brancas. As primeiras
são usadas na produção de tintas com cores profundas ou vivas e as últimas
para cores claras ou tons pastéis.
bases: pastas coloridas
incolor e branca

tacho
balança

Critérios para avaliação e comparação de cores


Alguns fatores devem ser considerados na avaliação e comparação de cores:

Brilho
Se o brilho estiver diferente entre duas tintas que estão sendo comparadas, a
cor pode ser exatamente a mesma, porém o aspecto visual pode induzir o

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observador a errar. É necessário que as duas superfícies estejam a um mesmo
angulo de observação e de preferência que se elimine o reflexo da luz incidente.
O reflexo pode clarear a cor e provocar enganos.
Na comparação de tintas com brilhos diferentes o cuidado é o mesmo, isto é, na
observação, deve-se procurar um angulo que elimine o brilho.

Espessura
Espessuras baixas da camada de tinta podem provocar erros em virtude de
ficarem finas e deixarem transparecer a cor da superfície onde foram aplicadas.
Espessuras muito baixas podem provocar também mudança no brilho de tintas.

Cobertura
A baixa cobertura de uma tinta também pode conduzir a erros, pois a cor da
superfície na qual foi aplicada transparece e prejudica a comparação de cores. É
possível que aplicando camadas adicionais, ou em espessuras maiores a cor
possa ser comparada sem problemas, mas para isto há necessidade de usar
mais tinta do que o previsto.

Fonte de luz
A comparação de cores depende fundamentalmente da fonte de luz. Por
exemplo, se a comparação é feita a luz do dia e não se nota diferença nas
cores, pode ser que se comparadas sob luz incandescente haja diferença. Sob
luz de lâmpadas fluorescentes também pode haver diferença.
Existem três fontes de luz padronizadas e montadas em uma cabine chamada
de McBeth. As três fontes são: Luz do dia, Incandescente (ou luz do horizonte) e
fluorescente ou luz branca de lâmpadas. Uma quarta fonte costuma ser
adicionada na cabine, que é a luz UV (ultravioleta) ou luz negra. O fenômeno da
cor se modificar dependendo da fonte de luz é chamado de metameria. Em
algumas situações há necessidade da tinta se igualar á um padrão em qualquer
uma das três fontes de luz, ou seja, não pode haver desvios ou metamerismo.
Em outras, por exemplo tinta para um tanque ao ar livre, somente é solicitado
que haja semelhança á luz do dia, pois um tanque ao lado de outro só poderá
ser observada durante o dia.
Na produção de uma cor que em comparação com um padrão não sofra
metamerismo nas três fontes de luz, o colorímetro irá indicar os mesmos
pigmentos usados no padrão ou pigmentos com cores muito próximas destes.
Por isso a formulação será mais cara.

Tipo de substrato (papel ou metal)


O fato do papel ser absorvente pode influir de alguma forma na avaliação e na
comparação de cores, pois pode-se ter variações na cor e no brilho em
comparações com a mesma tinta aplicada sobre placas de aço, alumínio ou
folha-de-flandres, materiais não absorventes.

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