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RECONHECllvIENTO E SOCIALIZAÇÃO:
MEAD E A TRANSFORMAÇÃO
NATURALISTA DA IDEIA HEGEUANA
- ! I
I
supostos conceituais
, .' naturalistas
-
como na psicologia social
.
de Geor-
ge Her~ert Mead;4 seus escritos contêm até hoje os meios mais apro-
priados para reconstruir as intuições da ~tTh.~~tflrs\lbjetividâ8é
do jovem Hegel num quadro teórico pós-metafísico. No entanto,
Mead partilha com o Hegel do período de Jena mais do que sim-
plesmente a ideia de uma gênese social da identidade do Eu; e, em .-
,
suas abordagens filosófico- olíticas, ambos os pensadores estão de
acordo não só n J~.rí1iéà·-á6'~toinismo ;-da :tradi ão contratiIalista..
A indeslindável psicologia social de Me~d, n~ maior parte transmi-
tida somente na forma de transm.~ões de lições, demonstra coinci-
dências com a obra de juventude de Rege! até mesmo na parte es-
sencial que nos interessa: ela também procura fazer da luta por re-
conhecimento o ponto referencialde uma construção teórica que \
I
~atizé!Ç[9_~~'>.~ções ...9..l!e
se .~o~~~ ·ha~i~que oser humano
.-, aproveita-em suas oper~çõ~ '~ogiirtiVãs:para ;; sujêit~ individUal,
- ~•._._ •. -_.... .-r;::- -_"::•.- .. . • .-----. -'-- _ •._- • -
ss;nta praticamenteq
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impede
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um.~.EL.11!len!o
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~pitu~..desua.......'
atividadg;Por conseguinte, a psicologia obtém um acesso ao seudo- ..(. . "-'
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~o objetual desde a perspectiva de um ator que se conscientiza .J •.
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Acerca da história das ideias que constitui o pano de fundo da teoria
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126 Atualização sistemática
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no caso do surgimento de problemas: "Se alguém
reage àS"condíções climáticas, isso não tem nenhuma influência sobre
o próprio clima. Para o sucesso de seu comportamento, não é im-
portante que se tome consciente" de suas próprias atitudes ede seus
•• ~bitos de r~s~?sta, mas o in~cLQ de chuva ou d~ ~~~_t~~p~!U··· ".~
comportam~n~o social bem-sucedido, ao contrário, "leva a uin do- ., .~~
~o em.qtieta cOnSdência<'ae"su~s próprias atifiid~s·aIDciJi~no }.
;7 . c~ntr()le "dóiÓmportamento
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.~ ficado intersubjeti~o ~e s~as ações quand~ ele está em condições de
desencadear ~m SI proP!l(~ a mesma reaçao que sua manifestação
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tempo, a possibilidade de considerar-se a si mesmo como um. objeto
social das ações de seu parceiro de interação. Reagindo a mim mes-
mo, na percepção de meu próprio gesto vocal, da mesma maneira
como meu defrontante o faz, eu me coloco n~a perspectiv~ t:Jf~ê~-
trica, a partir da qual posso obter uma imagem de mim mesmo e,
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I
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de que o animal humano poCIeeS6rnUfai-a si mesmo da mesma ma-
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.., .
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n Ibid., p. 238.
.e
Hegel do período de Jena perseguiu, com sua teoria' do reconheci-
mento, um objetivo mais abrangente do que está inscrito na expli-
cação da P()s~!~ili.dadeda autoconsciência; com efeito, o conceito
de "reconhedm~Ílto" já assinala com toda evidência que lhe inte-
ressayakç!!i~:~~~o{á relação cognitiva de interação, por meio da
qual um~l1J~i!%7~~g~--~-~~ cons~iênCia desi mesmo, dá que as
-,formas d~~6iifi~':ili~Çãoprática mediante as quais el adquire up:1a
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compreensão normativa
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ro de pessoa.
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A Í>iõpÓ~itô,de~~~distinção) cf, Habermas, "Individuierung durch
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Vergesel1séhafuing::?:~~oIge Herbert Meads Theorie der Subjektivitãt" ~'m':
Nachmii~ph;;iich;~~~T/gzken,
. .
ed. cir., particularmente p. 217 ss. Habermas
.,'... <::::i·:~~~~:.;..1f;:'~i,<;.'\::;"~5t~~,~~·~%·~~~g;I~~'(~"~':
',- .
reporta~~#.â.qi#~'iífflª,iri!~ij)retação de Ernst Tugendhat: Selbstbewuf5tsein und
. ~~,;;r:;_:';..'<.~
. .: .v- :_: ~i,':~-:?<.i?~"i(":,I:~~_~:;;.;,r;'!
.• r--;.~:\;~"~<:'~"":':
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gina da tentativa de transferir a distinção conceitual de "Eu" e "Me"
para a dimensão normativa do desenvolvimento individual.
Com ~ categoria "Me", Mead designou até aqui a imagem
cognitiva que o sujeito E~ebe de si mesmo, tão logo aprenda a per-
ceber-se da perspectiva de uma segunda pessoa ..Ele chega a uma
nova etapa na preparação de sua psicologia social, tão logo inclua.
na consideração da relação interativa o aspecto das normas mo-
rais; pois, desse modo, impõe-se-lhe a questão de como aquela au-
toimagem firmada no "Me" deve estar constituída, quando se tra-
ta, ,:q.asreações do parceiro de interação, não mais sinJ.pl~sDle#têdas
exigências cognitivas do comportamento, e sim de exPectati~~s nor-
mativas~'A primeira referência ao modo mais amplode~Óí()~ar o
problema já se encontra no ensaio com, que Mead concluiu a série
de sel:ls artigos dedicados à explicação da autoconsciência; numa
passagem, ali ele traça brevemente o mecanismo por meio do qual
uma criança aprende as formas elementares do juízo moral: "Uma
:C -.,
Reconhecimento e socialização
Em seus trabalhos posteriores, Mead faz rapidamente dessa
ideia fundamenta,l, o ponto de apoio para uma explicação da for-
mação da identidade humana. A ideia pela qual ele se deixa guiar
aí é a de uma generalização gradual do "Me" no curso do desen-
volvimento social da criança: se o mecanismo de desenvolvimento
da personalidade consiste em que o sujeito aprende a conceber-se a
. mesmo desde a perspectiva normativa de seu defrontante, então,
.sí ,
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o jogo e competição reside em que no último a criança precisa ter ~ .
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uma pessoa de direito. Com a adoção das normas sociais que regu-
Iam as relações de cooperação' da coletividade, o indivíduo em cres- .•
'. cimento não aprende só quais obrigações ele temd~cumprirem -..".; ,"-:> ..,:,:".;'..";:.,,',.,;;;,,,
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18 Ibíd., p, 197.
19 Ibid., p. 240.
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nexo de pessoa. Por sua vez, o grau de autorrespeito depende da
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as jntersubjetivamenteiec:oriPec:i43:~d~
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uma sociedade. Pois, com
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Tugendhat tamh.~~~P?Il,,,,._l?~~~~lt;;,!lificit,
'. .22 se o entendo corretamente , <, L
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-'''-- : '. ., '.
na passagem correspondeiit~:9:~:S.~~b,~~b~P#ein und Selbstbestimmung, ed.
cit., p. 275. ';/)/~'@t1!i~l~~)!~{!.~f~!~f~~]~'f .., . .' , ,
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a reação. do Íl1~~íd uo. ~Aati~de dã co~unidade, ~lcomo est~
transparece em suaexpenencia. Sua reaçao'a essa atItude orgam.- ~
$ ,,~ zadaa~tera, p<>-rsua esta" .espon vez,
mel a e prática que ~
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arca nosso agir no cou 'ano se atribui às operações de ~ "Eu"
que está contraposto ao "Me", como no caso da autorrelação cog-
nitiva, na qualidade de uma força inconsciente: enquanto este hos-.
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..peda as normas sociais através das quais um sujeito controla seu .;
comportamento em conformidade com as expectativas sociais, aque-:) .!
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to o C:'Eu"do autoconhecimento, o"Eu" da formação prática não- .O ~
é uma UiSiâ.itCiaque cc>riio'faI ~e possa penetrar-diretamente; pois, _.. ~ i
do que iíó~perturba ern manifestações práticas espontâneas, só po.- . '= ~ f"';'
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1(:g~il::wttà:!::o~:a
.' . rido ~bç~n&it(): cÍé:Êu~queseenoontra em Mind~Selland Society :.
J::b:~::':: :~: ua f) \) ..
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'L> etst,7afJ.ii~/u'oo Gesellsd1aft, ed. cít., p, 240 ..
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140 Atualização sistemática -
..•..::-.: . -,
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todo sujeito de 1,1ID. grande número de possibilidades inesgotadas de
ic1tntik~e: "As possibilidades ~ nossa natureza, es"1tas energias a
q{;~-W®~.JaIP.ÇS gostava tanto de se referir, representam possi-
bilid;d~ de identidades ue residem além de noss~ própria apre-
sentação iuiediata. _ós~ão s3;bem9,ª-e4;~te_ COD?-? e as estão
-constituí as. Em certo sentido, são-os conteúdos mais fascinantes
\I
n
-I v
que temos --até onde podemos apreendê-los" .24
Mas, ;e esse potencial de .:eação criativ!:.?-,O"Eu ~ é concebi-
do comó contrapàrte psfquica do "Me", então salta à vista rapida-
memeque a mera interiorização da persp~~ya do "outro genera-
liza~" riãopode bastar na formação da i;J:6ntidade moral; pelo
contrário, o' sujeito sentirá em si, reiterad~~te, o afluxo de exi- ~ XIS;
gências in~ómp~tívei~alcomdas normas inltersubdietiv"ame d ~ ~do~ c:;ç.lrl~\i1) ':.
p e seu meIO SÓCl , e sorte que e e te.m e por em UVl a seu r--
rôprio "Me".
. s..Esse atrito interno _.entre "Eu" .e.."Me." TC4?resenta _
para Mead ..3S linhas gerais dcrcoriflito que deve-explicar o desenvol-
~ento moral tántõ dos índivíàuos corii"odas sociedades: o "Me:'
incorpora,$ em defesa da r~pectiva coletivida~ as no~s c~nve~
_cio~s que o sujeiro procura constantemente ampliar por si mes-
,. i ---- -
IDQ, a fim de poder conferir exp~são
~ ••• __ o
social à jrnpn1siyidacle ==-
e cria-
L~~~~~oQ..JJs!í:e~·~'~'tm'". Mead insere na' autorrelação prática um~
tensão entre a vontade global internalizada e as pretensões da in-
dividuação, a qual deve levar a um conflito moral entre o sujeito e
seu ambiente social; pois, para poderpôr em prática as exigências
que afluem do íntimo, é preciso em ~rincípio o assentimento de todos
,\
,.•. os membros da sociedade, visto que a vontade comum controla a
rópria ação até mesmo ~mo rro~ mteri;'rizadJ!.Jt' a existênCiaJ
do "Me" que força o sujeit~-a ~ngajai-~se,po kteresiede seu "~u",
por novas formas de reconhecimento S99~1._ r
---- -Mead elucida primeiramente a ~s~t:ty:'?4esses conflitos mo-
.
rais lançando mão de exemplos <J.rie-!)lf:~f;t~~a pretensões inter-
nas cuja satisfação pressuporia ~~;~;lji~~',~()s direitos indivi-
" .i.: ,~;'\',:f<~~Krf:;~';:~:-- ~:.
24 Ibid., p. 248.
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Reconhecimento e socialização
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duais. A escolha desse ponto de partida se baseia em uma distin- ~'
ção implícita, .~~ qual não é m.teiran:l(~nteclaro à primeir~ vista se ~ ~
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deve distinguir as etapas ou as 'dimensões da formação da identi- t
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V dade um.a~das outras: !s exigências do "Eu" são distinguíveis de ~ ~ ;
j fora, p~l~ fato de poderem ,s~r classificadas, ~~ re~a~o à via de seu ~ ~ ~ j
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, cumprimento, ou no dOD1ID1o da autonomia individual ou no da
. auto,:ealização pessoal;~yoprimeir~ ~aso, ttata:,e ~ "Ii"':da~e . ~
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de leis"; no segundo caso~~o ntr~o, da "realiza~ao da l~entI- ~ (
1 I'II
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~ade existente entra, portanto, aquele de u.m.Yociedade futur~ ~a ~ .\J
I ~~.as pre~ensões ~dividuais e..ncontrã.r.,ã~p~êSúnn.~~~.~~te as~e~-
tunento Nesse sentido.Yfinal e pra1;lc~ e or Iiberda e e •..
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as.ã~ j~ está ~gacbK!uposição contrãicitica)e um ;~~~~~cim~H;. . O I
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ente mais abrangente no sentido lógico de que há nela
....- ......•. -- -",,_.- -- -
ue sao menos restrItos. .esviamo-nos e convençoes
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fixas, que não têm mais sentido para uma sociedade onde os direi- ~ ij . i
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o o ••
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tos devem ser pub1i,~ameJJ.tereconhecidos, e apelamos para uma fi I
como a que se efetua ali onde uma pessoa pensa algo até o fim. Mu-
damos constantemente, em alguns aspectos, nosso sistema social, e
podemos fazê-lo com inteligência, porque podemos pensar" .26
Essa tese contém a chave teórica para um conceito de evolu-
"
ção social que propicia à ideia hegeliana de uma "luta por reconhe-
cimento", de modo surpreendente, uma base na psicologia social.
Mead estabelece um vínculo sistemático entre o afluxo ininterrupto
do "Eu" e o process?d~.vi4a social, adicionando o grande número
de divergências mor~~~~s9J?;l2:.Af! uma força histórica: em toda época
'.-:~'.:r; '".~~>7.<_:'i,..,:.:-:.",-
.~ histórica acumulam-se n()vaTrl.eÍlteantecipações de relações de re-
conhecimento ampliadas, formando um sistema de pretensões nor-
mativas cuja· sucessão força a evolução social em seu todo a uma
permanente adàptação ao processo de individuação progressiva.
Pois, uma vez que os sujeitos, mesmo após a efetuação. de reformas
sociais, só podem defender as exigências de seu "Eu" antecipando
uma coletividade que concede mais espaço de liberdade, origina -se
'uma cadeia histórica de ideais normativos que apontam. na direção
de um crescimento em autonomia pessoal. Sob a pressão desse pa-
.
.;.
da.] a mesma maneira que Hegel, Mead também vê, como motor
dessas modificações geridasuma luta através da qual os sujeitos
.": ..
27 '. .' ',' :'-,:""',
Jbíd., pp. 265-6.
. . -. I
ção de direitos à liberdade individual; i~so torna niuito~es1:rita: a " ,',~"~" 'i-
aplicação doconceito de relação jurídica social, que ele tenta intro- ~~" !
!:: .' . ~
duzir, como Hegel, nos termos da teoria do reconhecimento.
-Ora, diferentemente de Mead, Hegel não sôfeznosseus pri-: ". ".~.'. '. .
;:' 'Ú7:,
o;:,
29 Ibid., p. 249.
30 Ibid., p. 248.
•• ' I
meio social ele pode se convencer com base nas reações de reconhe-
cimento de seu par<:eiro de interação. A espécie de confirmação de
que depende um tal sujeito não pode, por isso, ser aquela que ele
encontra como portador de direitos e deveres normativamente re-
gulados; pois as propriedades que lhe sãoadjudicadas como pes-
soa de direito, ~le as partilha' justamente como todos os outros me~
----~----~--~~~--~--~~--~~~------~--~
P!OS de sua coletividade. O "Me" da autorrealização não é aquela
.instância do controle normativo docOlnpoit~mento que um sujei-
to adquire ao aprendera .assumir as~~ê~~i~s)norais de um cír-
culo cada vez maior de parceiros d~-iI,it~;içã~~'~~iS'~:ô.âperspeCtiva
que ele adota em relação a si mê~rti~:~6rii~~:!~t~~ioiização desse
"outro generalizado", ele só pode concebei~s~êcÓmouma pessoa a
quem cabe, com~ a todos - -
os outrosinembfo~'disocied~de,
.. . .
- .
as pro- '. . . '.
..
~~' .
148 Atualizaçãos~t~rica
coletividade; 'p'oi~só n03or~onte desses valores partilhados e~
comum ele é capaz de con~~er-_~~.~_~esmo como uma pessoa que
se distingue' de todas as demais ao trazer uma contribuição, reco~
- - - .
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I
,
a que o primeiro Hegeltentou responder com seu conceito de etici-
dade: o que este quis delinear como uma terceira relação ética de
reconhecimento recíproco pode ser entendido a partir de Mead como
um~\resposta à questão sob~e a quais destinatários, contrafatica-
mente supostos, um sujeito teria de dirigir-se quando ele se sente
não ...reconhecido em suas propriedades particulares no interior do
sistema de valores de sua sociedade, o qual se tomou intersubjeti-
vamente habitual.é! O conceito ético de "outro generalizado" , ao
qual Mead teria chegado se.tivesse considerado as antecipações
idealízadoras do sujeito da autorrealização que se sabe sem reco-
nhecimento, partilha com a concepção de eticidade de Hegel as mes-
l mas tarefas: omear uma re çao e reco ecnnenro recíproco. na
I~ ., .\'qual todo .sujeito pode saber-se confirmado como uma pessoa que
J}t~~ \se distingue de to~~~ as outras por prop~iedades ou capacidades
I' !particular~ .- - ---- - -. ~--
.r ~ Mead, porém, não continuou a perseguir no quadro de seu
~ curso as questões que o processo de autorrealizaçãoindividual tem
~ de levantar; nos parágrafos que se ocupam com a classe correspon- .i
I
':...
!:
isso, Mead não pôde também ter nenhuma clareza sobre o fato de ·
que a realização do "Self' toma necessária a atenção para um ideal .~
de "outro generalizado" diferente do que está inscrito no processo il
.:~
t
de aumento de autonomia pessoal. Que forma há de assumir o re- "". ta-,
O ~
conhecimento recíproco tão logo não se trate mais
. . .
da concessão 7)
~
i·
intersubjetiva. de direitos, mas sim da confirmação da particulari- {., ~
•
dade individual, é uma questão que permanece excluída do círculo ,-
essa reserva geral e liberou o olhar para a relação social à qual con- tJ ~
·1
fiou a possibilidade 'deconferir, de -um IILodo feliz, reconhecimento ~ ~t
aos indivíduos em suas capacidades paÍÍ:i6uares;.sua proposta, que '\
:-" ..
consiste no projeto de um modelo de d~eII1pe~o funciQnald!> tra-
9aJhg, é interessante enquanto resposta ao problema traçado, sobre-
.J.
~'\.
1J
tudo porque torna transparente a profusão de dificuldades: "Quanto ·
a uma superioridade real, trata-se no fundo de uma que se baseia .~~ I,
no cumprimento de furições definidas. ~guém é um bom cirurgiãõ, "- ~ ~;
~ ~.
rum bom ªdyog'!9:~Q~(! estar or oso dessa superioridade, da \\ .~
i qual faz uso. Se faz isso no interior da própria comunidade, então . \..;~
.. i·
~
~i
,
I
, .'J ' I
ela perde aquele elemento de egoísmo no qual pensamos quando nos .~ f
Ilembramos de uma pessoa que!: ~~.!>a~?~:.ram~nte de sua superio- ~
{ridade sobre um outro".32 i
~
~
I
!
-,----- A solução que Meaitem em vista é a de um vinculo entrea __ 1·t
:',....
, autorrealizaçãoe a experiência do trabalho socialmente útil: a'me-
.:did~ de' ~~~orili~ciment~ demonstrada á' um sujeitoçque cumpre'
I
~.
. , '
, .j:• •. "=t
=:X::e:;~~::"vID~~~:n~ill~~~
éticas que dão à forma de vida de uma:~g"~ieaaae)séu:car~terindi-
.i
- :\. \~"":·:,:t,y
.", ,,' .
:" ..;-);,
Reconhecimento e socialização 151
vidual; daí a divisão funcional do trabalho não poder ser conside-
rada um sistema axiologicamente neutro, que abrangesse as regras
implícitas segundo as quais o indivíduo poderia examinar, de certo
modo objetivamente, sua contribuição particular para a coletividade.
Com razão, Mead parte da premissa de que um sujeito pode
conceber-se a si mesmo como uma pessoa única e insubstituível, tão
.logo sua própria maneira de autorrealização seja reconhecida por
todos os parceiros de interação na qualidade de uma contribuição
positiva à coletividade. A compreensão prática que um semelhante
.. ator tem de si mesmo, seu "Me" portanto, será nesse caso consti-
tuída de tal sorte que ela o faz compartilhar com os outros mem-
. bros de sua coletividade não só as normas morais, mas também as
finalidades éticas: se ele pode entender-se, à luz das normas comuns
de ação, como uma pessoa que possui determinados direitos em face
de todos os demais, então, à luz das convicções axiológicas comuns,
ele pode entender-se como uma pessoa que tem importância única
para eles todos. Mas, por razões bem compreensíveis, Mead tenta
..-:equipararas finàlidadesêticasde umãcoletividade pós-tradicional
com as exigências objetivas da divisão funcional do trabalho, de uma
maneira tão completa que acaba escorregando-lhe inopinadamen-
te das mãos o problema realmente desafiador: determinar asc:n- \
~,~,vicçõesêticàs de_um "outro generalizado", que por um lado sejam"
..•.•....•• .- -•.'- -Ó: substantiva~ ~ ~uficie~t~ para f~J~cada sujeito alcançar umã COD.s~'
." . ":~iêD.C::ia
de sua 'contribuição particular ao processo da vida 'social,
.:. mas, por outro lado, ainda formais o suficiente para não restringir
<.,.~<)\""iji.)!·~osteri()~ente o espaço livre, historicamente desenvolvido, de pos-
.~"c[jS~1:'fP,,·i.J:~ibiliaadespara a
autorrealização pessoal. As condições morais e
L:,:~;2'-Z-"~:culturais sob as quais se reproduzem as sociedades pós-tradicionais,
~::,;~;';Yi;F mais individualizadas no sentido de Mead, precisam também im-
;~;:'ft:! ;:'?:.ii'por fumtes normativos a seus valores e a suas fin.alidades éticas: a
\1::::;A?:t1J:tÓ~cepçãodevida boa, intersubjetivamente ~culan.-!.e, que de c;;' r.
.~ •• ~., ---~,~ "........... --, ...• p. '. •
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-ta maneira se tornou eticamente habitual,. deve serformuladà de' tal . ':.
ã:i::v::a1~~:~;:;;ci:~~:
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l~ Reconhecimento e socialização 153
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medida em que não se rendeu ainda a uma versão substancialista
do conceito, o gênero de relação social que surge quando o amor,
sob a pressão cognitiva do direito, se purifica, constituindo-se em
uma solidariedade universal entre os membros de uma coletivida-
de; visto que nessa atitude todo sujeito pode respeitar o outro em
sua particularidade individual, efetua-se nela a forma mais exigen-
te de reconhecimento recíproco ...
Em comparação com a. solução proposta por Mead, porém,
transparece agora que faltava em princípio a essa concepção for-
mal de eticidade qualquer indicação de por que os indivíduos de- .
vem experimentar para com o outro sentimentos de respeito soli-
dário; sem o acréscimo de uma orientação pelos objetivos e valores
comuns, como os que Mead perseguiu objetivistamente com sua
ideia de divisão funcional de trabalho, o conceito de solidariedade
carece do fundamento dado por um contexto de experiência mo-
tivador.Para poder demonstrar ao outro o reconhecimento que se
apresenta num interesse solidário pelo seu modo de vida, é preciso
antes o estimulo de uma experiência que me ensine que nós parti- -
:% ..
lhamos uns com os outros, num sentido existencial, a exposição a
I·~.~
i~
! ...
. . certos perigos; mas quais riscos dessa espécie realmente nos vinculam
de maneira prévia é possível medir, por sua vez, pelas concepções
- que possuímos em comum acerca de uma vida bem-sucedidano c •• _~_ .