Você está na página 1de 8

Superior Tribunal de Justiça

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.314.603 - PR (2013/0044700-8)

RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES


EMBARGANTE : LACA IMÓVEIS LTDA E OUTROS
ADVOGADOS : ALCEU RODRIGUES CHAVES E OUTRO(S)
CARINE CASANOVA PUQUEVICZ E OUTRO(S)
EMBARGADO : PROMINENT BRASIL LTDA
ADVOGADOS : OSWALDO AMIN NACLE
CELSO LOTAIF
RICARDO AMIN ABRAHÃO NACLE
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO AGRAVO


REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE
ENTRE A ADVOGADA TITULAR DO CERTIFICADO DIGITAL USADO
PARA ASSINAR O AGRAVO E O NOME DOS ADVOGADOS INDICADOS
AO FINAL DA PEÇA DE AGRAVO COMO SEUS AUTORES. SIGNATÁRIA
DIGITAL COM PROCURAÇÃO NOS AUTOS. ASSINATURA REGULAR.
NÃO APLICAÇÃO DA SÚMULA 115/STJ. IRRELEVÂNCIA DA AUSÊNCIA
DE MENÇÃO DO NOME DE SIGNATÁRIO DIGITAL NA PETIÇÃO
REMETIDA ELETRONICAMENTE.
1. A prática eletrônica de ato judicial, na forma da Lei n. 11.419/2006, reclama que o
titular do certificado digital utilizado tenha procuração nos autos, sendo irrelevante
que na petição esteja ou não escrito o seu nome, no local onde tradicionalmente se
apunha a assinatura física.
2. A assinatura digital destina-se à identificação inequívoca do signatário do
documento, o qual passa a ostentar o nome do detentor do certificado digital
utilizado, o número de série do certificado, bem como a data e a hora do lançamento
da firma digital.
3. O atendimento da regra contida na alínea a do inciso III do parágrafo 2º do artigo
1º da Lei n. 11.419/2006 depende tão somente de o signatário digital ter procuração
nos autos. Precedentes da Corte Especial: EREsp 1.331.154 e AgRg no REsp
1.347.278
4. Na espécie, a titular do certificado digital utilizado para a assinatura digital da
petição do agravo regimental apresentou regular procuração nos autos quando da
interposição do agravo.
5. Embargos providos para determinar a continuação do julgamento do agravo
regimental pela Turma respectiva.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da CORTE Especial do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer
dos embargos de divergência e dar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Felix Fischer, Laurita Vaz, João Otávio de Noronha, Humberto
Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og
Fernandes, Luis Felipe Salomão e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 1 de 8
Superior Tribunal de Justiça
Relator.
Ausentes, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi e o Sr. Ministro Herman
Benjamin.
Brasília (DF), 02 de dezembro de 2015(Data do Julgamento).

MINISTRO FRANCISCO FALCÃO


Presidente

MINISTRO BENEDITO GONÇALVES


Relator

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 2 de 8
Superior Tribunal de Justiça
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.314.603 - PR (2013/0044700-8)
RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
EMBARGANTE : LACA IMÓVEIS LTDA E OUTROS
ADVOGADOS : ALCEU RODRIGUES CHAVES E OUTRO(S)
CARINE CASANOVA PUQUEVICZ E OUTRO(S)
EMBARGADO : PROMINENT BRASIL LTDA
ADVOGADOS : OSWALDO AMIN NACLE
CELSO LOTAIF
RICARDO AMIN ABRAHÃO NACLE

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): Trata-se de


embargos de divergência (fls. 652-696) opostos contra decisão da Terceira Turma em acórdão
(fl. 631) assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE


IDENTIDADE ENTRE O TITULAR DO CERTIFICADO DIGITAL USADO
PARA ASSINAR O DOCUMENTO E OS NOMES DOS ADVOGADOS
INDICADOS COMO AUTORES DA PETIÇÃO. RECURSO INEXISTENTE.
- A assinatura eletrônica destina-se à identificação inequívoca do signatário do
documento. Desse modo, não havendo identidade entre o titular do certificado
digital usado para assinar o documento e o nome do advogado indicado como
autor da petição, deve esta ser tida como inexistente.
- Agravo não conhecido.

Afirma a embargante que, em casos idênticos, as decisões foram diversas.

Conta que, no AgAg no REsp 919.457, a Sexta Turma decidiu que se pode admitir
petição assinada digitalmente por advogado diverso daquele que consta da petição como seu
subscritor, desde que também tenha procuração nos autos. A mesma tese, narra, foi adotada pela
Segunda Turma no AgRg no AREsp 145381.

Sustenta que o entendimento correto é o adotados nos acórdãos apontados como


paradigma, uma vez que a exigência feita pelo acórdão embargado não é feita por lei ou
resolução.

Intimada, a parte embargada apresentou contrarrazões às fls. 712/717. Sustenta que é


correta a decisão embargada, uma vez que estaria de acordo com outros julgados, cujas ementas

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 3 de 8
Superior Tribunal de Justiça
foram transcritas nas contrarrazões.

É o relatório.

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 4 de 8
Superior Tribunal de Justiça
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.314.603 - PR (2013/0044700-8)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE
ENTRE A ADVOGADA TITULAR DO CERTIFICADO DIGITAL USADO
PARA ASSINAR O AGRAVO E O NOME DOS ADVOGADOS INDICADOS
AO FINAL DA PEÇA DE AGRAVO COMO SEUS AUTORES. SIGNATÁRIA
DIGITAL COM PROCURAÇÃO NOS AUTOS. ASSINATURA REGULAR.
NÃO APLICAÇÃO DA SÚMULA 115/STJ. IRRELEVÂNCIA DA AUSÊNCIA
DE MENÇÃO DO NOME DE SIGNATÁRIO DIGITAL NA PETIÇÃO
REMETIDA ELETRONICAMENTE.
1. A prática eletrônica de ato judicial, na forma da Lei n. 11.419/2006, reclama que o
titular do certificado digital utilizado tenha procuração nos autos, sendo irrelevante
que na petição esteja ou não escrito o seu nome, no local onde tradicionalmente se
apunha a assinatura física.
2. A assinatura digital destina-se à identificação inequívoca do signatário do
documento, o qual passa a ostentar o nome do detentor do certificado digital
utilizado, o número de série do certificado, bem como a data e a hora do lançamento
da firma digital.
3. O atendimento da regra contida na alínea a do inciso III do parágrafo 2º do artigo
1º da Lei n. 11.419/2006 depende tão somente de o signatário digital ter procuração
nos autos. Precedentes da Corte Especial: EREsp 1.331.154 e AgRg no REsp
1.347.278
4. Na espécie, a titular do certificado digital utilizado para a assinatura digital da
petição do agravo regimental apresentou regular procuração nos autos quando da
interposição do agravo.
5. Embargos providos para determinar a continuação do julgamento do agravo
regimental pela Turma respectiva.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (Relator): A decisão


embargada seguiu orientação que por certo tempo foi majoritária no Superior Tribunal de
Justiça.

Contudo, como bem observado no voto da Ministra Relatora dos Embargos de


Divergência (EREsp) n. 1.331.154, julgados por unanimidade pela Corte Especial, a orientação
foi superada pela Corte Especial quando julgado o AgRg no REsp 1.347.278, no qual o Ministro
Relator sustentou o seguinte:

Dessa maneira, estou convencido de que, à luz do disposto no parágrafo 2º do artigo


18 da Res. 1/2010, da Presidência do STJ, o atendimento à regra contida na alínea

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 5 de 8
Superior Tribunal de Justiça
"a" do inciso III do parágrafo 2º do artigo 1º da Lei n. 11.419/2006 depende tão
somente de possuir procuração nos autos o signatário da petição enviada
eletronicamente, com a utilização de certificado digital, ainda que na peça não esteja
grafada o seu nome.
Isso porque a assinatura digital, lançada a partir da chave privada do usuário, anexa
ao documento um código que se assemelha a uma "marca", ou "sinal", conferindo
autenticidade ao ato praticado pelo signatário da firma digital; ostenta também de
forma clara o nome do titular do Certificado Digital, e o código de certificação, o que
afasta também qualquer alegação de tratar-se de documento apócrifo.

Em seu voto, acompanhado por unanimidade na Corte Especial, o Ministro Relator do


AgRg no REsp 1.347.278 conclui:

Dessa sorte, forçoso concluir que o atendimento da regra contida na alínea "a" do
inciso III do parágrafo 2º do artigo 1º da Lei n. 11.419/2006 depende tão somente de
o signatário digital possuir procuração nos autos.

Trata-se da posição que findou sendo adotada pela Corte Especial e que, parece-me, é a
que resolve a questão controvertida nestes Embargos de Divergência de forma mais adequada ao
ordenamento jurídico pátrio.

Com efeito, o dispositivo legal por último mencionado (alínea "a" do inciso III do
parágrafo 2º do artigo 1º da Lei n. 11.419/2006) estabelece o que se considera, para fim de
processo judicial, uma assinatura eletrônica, nos seguintes termos:

Art. 1o O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais,


comunicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos
desta Lei.

(...)

§ 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:

(...)

III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação inequívoca do


signatário:

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 6 de 8
Superior Tribunal de Justiça
Certificadora credenciada, na forma de lei específica ;

No caso dos autos, o Agravo Regimental de fls. 613/626 foi assinado digitalmente (nos
termos do dispositivo legal supra) pela Dra. Carine Casanova Puquevicz, conforme se verifica
do rodapé de cada uma das folhas da peça (fls. 613/626).

A petição de agravo foi acompanhada de documento (fl. 626) pelo qual se comprova
que a Dra. Carine Casanova Puquevicz havia sido substabelecida pelo Dr. Alceu Rodriguez
Chaves, que por sua vez havia recebido poderes outorgados pela empresa embargante/agravante
através da procuração de fl. 29/STJ.

Destarte, a Dra. Carine Casanova Puquevicz tinha poderes para assinar, como o fez, a
peça de agravo de fls. 613/626.

A exigência de que a identificação da Dra. Carine Casanova Puquevicz constasse não


apenas como signatária digital da peça de Agravo Regimental, mas ainda em outro local da peça,
não é feita pelo ordenamento jurídico brasileiro, sendo ilegal e contrária à ordem jurídica
brasileira uma tal exigência.

O fato de que os nomes de outros advogados tenha constado ao final da peça de Agravo
Regimental (fl. 625-STJ) não tem o condão de viciar a peça de Agravo Regimental, uma vez que
devidamente assinada - digitalmente, como permite o ordenamento jurídico brasileiro - por
advogada com poderes (comprovados quando da interposição do agravo) para tanto.

Ante o exposto, voto no sentido de se dar provimento aos Embargos de Divergência,


reconhecendo-se a regularidade da assinatura da advogada do agravante no Agravo Regimental
de fls. 613/626, com o retorno dos autos à Terceira Turma para apreciação daquele Agravo
Regimental.

É o voto.

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 7 de 8
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2013/0044700-8 PROCESSO ELETRÔNICO EREsp 1.314.603 /


PR

Números Origem: 4441998 201200553078 237712001 239332002 372620000 4441998 444199801


444199802
PAUTA: 02/12/2015 JULGADO: 02/12/2015

Relator
Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EUGÊNIO JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO
Secretária
Bela. VÂNIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
EMBARGANTE : LACA IMÓVEIS LTDA E OUTROS
ADVOGADOS : ALCEU RODRIGUES CHAVES E OUTRO(S)
CARINE CASANOVA PUQUEVICZ E OUTRO(S)
EMBARGADO : PROMINENT BRASIL LTDA
ADVOGADOS : OSWALDO AMIN NACLE
CELSO LOTAIF
RICARDO AMIN ABRAHÃO NACLE
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Sociedade - Desconsideração da Personalidade Jurídica

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Corte Especial, por unanimidade, conheceu dos embargos de divergência e deu-lhes
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Felix Fischer, Laurita Vaz, João Otávio de Noronha,
Humberto Martins, Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og
Fernandes, Luis Felipe Salomão e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi e o Sr. Ministro Herman
Benjamin.

Documento: 1472347 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2015 Página 8 de 8

Você também pode gostar