Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O mesmo autor relata que conheceu também em 1935 um médium com 61 anos
de idade, de nome Nicanor, que afirmava orgulhosamente que desde os 16 anos
já recebia o Caboclo Cobra Coral e o Pai Jacob, e que desde o princípio as suas
sessões eram no giradô da linha branca de Umbanda, ou seja, desde 1890.
Entre eles, destacamos o Caboclo Curuguçu, que, segundo Leal de Souza 1, foi
quem trabalhou preparando o advento da Entidade que veio a se identificar como
o Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes.
Eu é Caboclo de Umbanda
Eu vem do Cruzeiro do Sul
Eu é Caboclo Curuguçu
1
Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista foi dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição,
considerada por José Alvares Pessoa, fundador da Tenda São Jerônimo, uma das tendas mestras.
que, através de seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da raça, orientam
e conduzem suas descendências. O precursor2 da Linha Branca foi o Caboclo
Curuguçu, que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas
que a organizou, isto é, que foi incumbido pelos guias superiores, que regem
o nosso ciclo psíquico, de realizar na terra a concepção do Espaço.
Contudo, existe a possibilidade de que o jovem Zélio tenha sido levado para
algum Centro filiado à Federação de Niterói e, devido à repetição da história
tradicional, o nome da casa tenha se perdido.
2
Aquele que vem adiante de alguém anunciar a sua chegada; que antecipa, sinaliza ou dá início
a novos conceitos, situação, comportamentos, movimentos, etc.
3
Estas questões foram levantadas por José Henrique Motta de Oliveira, Mestre em História
Comparada (UFRJ/PPGHC), através da publicação do artigo “Eis que o Caboclo veio à Terra
anunciar a Umbanda”, escrito para o V Simpósio de História Comparada da UFRJ.
4
Vide histórico da instituição no site: http://www.iebm.org.br/historico.htm
consta no referido livro de atas a realização de reunião no dia 15 de novembro
de 1908. É importante ressaltar, entretanto, que por uma estranha coincidência,
o sobrenome do presidente da Federação era o mesmo do citado na tradição
oral.
Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para
irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos
superiores que venham trabalhar entre vós. É preciso que os aparelhos
estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus
pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para
aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.
Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou
antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse
a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua
mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que
trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que
saíram desta casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de
uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter
procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que
poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o
nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de
exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos
pensamentos ou das práticas.
Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz
reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do
vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não
julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso
lar. É dos Evangelhos.
Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, porém amigo de
todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste
momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que,
ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos
enfermos curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.
A misericórdia divina houve por bem socorrer essas ovelhas do grande rebanho
do Pai, porque essa coletividade está ligada ao carma da raça, aos elos da
Tradição e da corrente genuinamente ameríndia que, no astral é guardiã dos
“sagrados mistérios da cruz”, corrente essa, nascida, criada e vibrada pelo
Cruzeiro do Sul – o Signo Cosmogônico da Hierarquia Crística.
Vale ressaltar também que nenhum culto, seita, ritual, ou seja, nenhum sistema
religioso foi conhecido ou praticado com a denominação de Umbanda em terras
africanas, como Angola, Moçambique ou ainda Catembe ou Magude,
consideradas como a Meca do curandeirismo africano.
O termo Umbanda perdeu o seu significado real nas chamadas línguas mortas,
todavia, a raça africana, por intermédio de seus sacerdotes iniciados, guardou
mais ou menos sua origem e valor. Porém com o transcorrer dos séculos, foram
dominados, e seus ancestrais que guardavam a chave-mestra desse vocábulo
Trino desapareceram, deixando uma parte velada e outra alterada, para seus
descendentes que, na maioria, só aferiram o sentido mitológico, perdendo o
pouco que lhes fora legado.
5
Podemos citar Nina Rodrigues (Os Africanos no Brasil, 1894 e L’Ânimisme Fetichiste des Negres
de Bahia, 1900), João do Rio (As Religiões no Rio, 1904), Manoel Quirino (A Raça Africana e
seus Costumes na Bahia, 1917), Donald Pierson (Brancos e Negros na Bahia, 1935), Roger
Bastide (Imagens do Nordeste Místico, 1945) e outros.
de nosso planeta Terra.
A Umbanda tem como vértice de sua razão de ser, desde eras primitivas, a
exteriorização periódica ou por ciclos. Ressurgiu na atualidade, assim como
fizera no passado entre os Atlantes, os Maias, os Quíchuas, os tupy-guarany e
os Tupy-nambá da época pré-cabraliana, bem como, há milênios, no antigo
apogeu da raça Africana, que conservou dentro da tradição oral até nossos dias,
farrapos desta Doutrina.
A palavra Umbanda não foi criada pelos humanos, foi relevada por esses
espíritos de Caboclos e Pretos-Velhos, primeiro, através de certos pontos
cantados, para firmar, com a força mágica de seus sons6 ou sílabas, certas
correntes vibratórias e mesmo, para servir de Bandeira a esse Movimento. E
logo foi sentida a magia que ela despertava nos filhos dos “terreiros”.
6
o termo Umbanda é um mantra
correspondentes sons se perderam. Porém, na Umbanda, eles existem e são
usados na forma real de seus movimentos. Além disso, é a única corrente que
usa outros sinais, completamente desconhecidos nas outras correntes,
chamados de lei de pemba, riscados por nossas Entidades protetoras.