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TENDA DE UMBANDA ORIENTAL -

CABOCLO PENA BRANCA - RJ


Grupo de estudos e pesquisas de Umbanda
Esotérica da Raiz de Guiné
Agradecimento a irmã e afilhada Yacyamara Sacerdotisa
TUCAT – Tenda de Umbanda Caboclo Arranca Toco – Santos – SP
Por gentilmente compartilhar suas pesquisas e estudos

Considerações sobre a fundação da Umbanda

A grande maioria dos umbandistas tem na primeira manifestação espiritual do


Caboclo das Sete Encruzilhadas, o marco oficial da fundação da Umbanda ao
ponto desta data ter sido escolhida para ser o Dia Nacional da Umbanda, todavia,
não foi Zélio de Moraes o primeiro a trabalhar mediúnicamente com uma
Entidade afim a Corrente Astral de Umbanda, bem como, não foi o Caboclo das
Sete Encruzilhadas a primeira Entidade a falar de Umbanda.

A própria senhora Cândida, benzedeira que atendeu o jovem Zélio, já atuava


mediúnicamente com o Preto Velho de nome Tio Antônio antes da manifestação
do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Matta e Silva relata (Umbanda e o Poder da Mediunidade, 1987) que em 1934


teve contato com um médium de nome Olímpio de Melo que praticava a linha
de Santo de Umbanda há mais de 30 anos, portanto desde 1904 e que
trabalhava com o Caboclo Ogum de Lei, um Preto-Velho de nome Pai Fabrício e
com um Exu de nome Rompe-Mato.

O mesmo autor relata que conheceu também em 1935 um médium com 61 anos
de idade, de nome Nicanor, que afirmava orgulhosamente que desde os 16 anos
já recebia o Caboclo Cobra Coral e o Pai Jacob, e que desde o princípio as suas
sessões eram no giradô da linha branca de Umbanda, ou seja, desde 1890.

Através da mediunidade de alguns médiuns selecionados pelo Astral Superior,


muitas outras Entidades surgiram, nos quatro cantos do país, como pontas-de-
lança e logo começaram a falar de Umbanda, entretanto esses primeiros
vanguardeiros que receberam a tarefa de lançarem as primeiras sementes da
Umbanda, não foram registrados oficialmente.

Entre eles, destacamos o Caboclo Curuguçu, que, segundo Leal de Souza 1, foi
quem trabalhou preparando o advento da Entidade que veio a se identificar como
o Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes.

Essa Entidade apresentou-se durante alguns anos, coordenando o trabalho de


vários outros colaboradores espirituais que traziam a mesma mensagem. Além
de anunciar a chegada da Umbanda, o Caboclo Curuguçu dizia ser emissário da
raça vermelha pura. Curuguçu significa “O Grito do Guardião”.

O ponto cantado do Caboclo Curuguçu define claramente a amplitude de sua


missão:

Ponto do Caboclo Curuguçu


Eu vem lá de Aruanda
Trazendo a Luz, a Luz da Umbanda
Eu vem com o clarim de Ogum
Anunciar que a Umbanda vai chegar

Eu é Caboclo de Umbanda
Eu vem do Cruzeiro do Sul
Eu é Caboclo Curuguçu

Meu grito já ecoou


É a Umbanda que chegou
Meu grito já ecoou
Pai Oxalá quem me mandou
Eu é Curuguçu
Da corrente de Ogum
Que aqui chegou

Em entrevista publicada no Jornal de Umbanda, em outubro de 1952, Leal de


Souza relatou:

A Linha Branca de Umbanda é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois

1
Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista foi dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição,
considerada por José Alvares Pessoa, fundador da Tenda São Jerônimo, uma das tendas mestras.
que, através de seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da raça, orientam
e conduzem suas descendências. O precursor2 da Linha Branca foi o Caboclo
Curuguçu, que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas
que a organizou, isto é, que foi incumbido pelos guias superiores, que regem
o nosso ciclo psíquico, de realizar na terra a concepção do Espaço.

Lamentavelmente Leal de Souza não deixou os detalhes por escrito de como,


por onde e através de quem esse Caboclo Curuguçu trabalhou preparando a
descida do senhor Sete Encruzilhadas.

Com relação à manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a veracidade


dos fatos narrados exaustivamente por vários autores, entra em conflito com a
declaração pública feita por Yeda Peres Hungria, atual Diretora de Assistência e
Orientação da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro (FEERJ), atual
Instituto Espírita Bezerra de Menezes.3

Segundo a Diretora, a Federação não dispunha de sede própria à época dos


acontecimentos relativos à visita de Zélio de Moraes, mas tão somente ocupava
uma sala no Centro de Niterói, na Rua da Conceição nº 334, sendo impossível,
portanto, que o Zélio tenha saído rapidamente da sala, buscado uma flor e
colocado sobre a mesa de reunião.

Contudo, existe a possibilidade de que o jovem Zélio tenha sido levado para
algum Centro filiado à Federação de Niterói e, devido à repetição da história
tradicional, o nome da casa tenha se perdido.

A Ata nº 1 da Federação relata que o presidente à época era o Sr. Eugênio


Olímpio de Souza. Também não consta o nome de nenhum José de Souza entre
os membros da diretoria e tampouco na relação de associados. Também não

2
Aquele que vem adiante de alguém anunciar a sua chegada; que antecipa, sinaliza ou dá início
a novos conceitos, situação, comportamentos, movimentos, etc.

3
Estas questões foram levantadas por José Henrique Motta de Oliveira, Mestre em História
Comparada (UFRJ/PPGHC), através da publicação do artigo “Eis que o Caboclo veio à Terra
anunciar a Umbanda”, escrito para o V Simpósio de História Comparada da UFRJ.
4
Vide histórico da instituição no site: http://www.iebm.org.br/historico.htm
consta no referido livro de atas a realização de reunião no dia 15 de novembro
de 1908. É importante ressaltar, entretanto, que por uma estranha coincidência,
o sobrenome do presidente da Federação era o mesmo do citado na tradição
oral.

Segundo Yeda Hungria, na época, a instituição já realizava sessões espíritas em


suas dependências. Todavia, estas reuniões não geravam atas. Portanto, não há
como afirmar se houve sessão naquele dia.

Quanto a registros de distúrbio provocado por espíritos “indesejados”, não


haveria também motivo para serem realizados, uma vez que a manifestação
desses espíritos e a consequente doutrinação era prática usual na mesa
kardecista. Portanto, seria lógico supor que a manifestação de um caboclo na
sessão espírita passaria despercebida, porque era comum a manifestação de
espíritos tidos como “atrasados” nas sessões. Porém, não seria comum a
manifestação de um caboclo anunciando a criação de uma nova religião, a menos
que ninguém tenha levado a sério.
A Mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança,


Fraternidade (TULEF) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete
Encruzilhadas, que espelha bem a humildade e o alto grau de evolução dessa
entidade de luz:

A umbanda tem progredido e vai progredir ainda mais. É preciso haver


sinceridade, honestidade. Eu previno sempre aos companheiros de muitos
anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; médiuns irão se vender e serão
expulsos mais tarde, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.

O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher, é o


consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios
obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque
alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no
coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral
para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor
e caridade - essa é a nossa bandeira.

Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham


na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém,
sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem,
uma missão.

Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para
irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos
superiores que venham trabalhar entre vós. É preciso que os aparelhos
estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus
pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para
aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.

Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou
antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse
a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua
mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que
trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que
saíram desta casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de
uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter
procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que
poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o
nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de
exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos
pensamentos ou das práticas.

Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz
reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do
vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não
julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso
lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, porém amigo de
todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste
momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que,
ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos
enfermos curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.

Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade,


sou e sempre serei o humilde

Caboclo das Sete Encruzilhadas.


A verdadeira Guardiã dos Sagrados Mistérios da Cruz e o
significado da palavra UMBANDA

Conforme já citamos, foi imperiosa a manifestação da Corrente Astral de


Umbanda, através de seus Guias e Protetores, por dentro dessa massa de
crentes cujo alcance mental ainda se conservava preso ao atavismo milenar.

Essa imensa coletividade vinha calcando a sua mística e as suas práticas


segundo a herança deixada pela pajelança, prática degenerada das sub-raças
indígenas, mas, principalmente, pela linha africanista, ou melhor, pelas sub-
condições decorrentes da degeneração do culto africano puro (que nem puro
mesmo chegou ao Brasil, através dos escravos) e ainda deturpada com a
influência de outros cultos dos santos católicos.

A misericórdia divina houve por bem socorrer essas ovelhas do grande rebanho
do Pai, porque essa coletividade está ligada ao carma da raça, aos elos da
Tradição e da corrente genuinamente ameríndia que, no astral é guardiã dos
“sagrados mistérios da cruz”, corrente essa, nascida, criada e vibrada pelo
Cruzeiro do Sul – o Signo Cosmogônico da Hierarquia Crística.

A partir daí nasceram as primeiras providências de ordem direta, quando


surgiram as primeiras manifestações dos caboclos, para depois “puxarem” as
dos pretos-velhos, visto ter havido necessariamente uma adaptação mais
pendente para o dito africanismo do que para o indígena.

Na Corrente Astral de Umbanda identificamos a ancestralidade do Brasil e da


sua original religião, como a verdadeira Guardiã dos Sagrados Mistérios da Cruz,
ligada àquela mesma corrente de Altos Mentores Astrais, que expressa e
relaciona o mesmo Tuyabaé-cuaá – a sabedoria do Velho Sumé ou dos
antiqüíssimos payé.

Devemos notar que 5 são as Vibrações de Caboclos, 1 de Preto Velho e 1 de


Criança. Portanto, a supremacia do núcleo vibratório genuinamente ameríndio
se impôs, pois a linha mestra saiu daqui, do Brasil, não veio de lá.
Os rituais de nação que os escravos negros fizeram ressurgir no Brasil
mereceram vasta observação e estudo de muitos pesquisadores5.

Embora o excelente trabalho de pesquisa em suas obras, pois todos eles


registraram o que encontraram no que se refere a conceitos místicos e os termos
sagrados com seus significados, nenhum desses pesquisadores, antropólogos,
etnólogos, etc. registraram o termo Umbanda e nem mesmo o de Quimbanda
ou Kimbanda.

Vale ressaltar também que nenhum culto, seita, ritual, ou seja, nenhum sistema
religioso foi conhecido ou praticado com a denominação de Umbanda em terras
africanas, como Angola, Moçambique ou ainda Catembe ou Magude,
consideradas como a Meca do curandeirismo africano.

Portanto, ao contrário do que defendem certos escritores afeiçoados ao


africanismo, a Umbanda não teve origem na África.

O termo Umbanda perdeu o seu significado real nas chamadas línguas mortas,
todavia, a raça africana, por intermédio de seus sacerdotes iniciados, guardou
mais ou menos sua origem e valor. Porém com o transcorrer dos séculos, foram
dominados, e seus ancestrais que guardavam a chave-mestra desse vocábulo
Trino desapareceram, deixando uma parte velada e outra alterada, para seus
descendentes que, na maioria, só aferiram o sentido mitológico, perdendo o
pouco que lhes fora legado.

A palavra UMBANDA implantada para servir de bandeira a esse novo movimento,


identifica a força e os direitos de trabalho dessa poderosa Corrente, que assim
passou a se denominar Corrente Astral de Umbanda.

A Umbanda representa as Leis de Deus, pela palavra do Cristo Jesus – o Regente

5
Podemos citar Nina Rodrigues (Os Africanos no Brasil, 1894 e L’Ânimisme Fetichiste des Negres
de Bahia, 1900), João do Rio (As Religiões no Rio, 1904), Manoel Quirino (A Raça Africana e
seus Costumes na Bahia, 1917), Donald Pierson (Brancos e Negros na Bahia, 1935), Roger
Bastide (Imagens do Nordeste Místico, 1945) e outros.
de nosso planeta Terra.

Umbanda é um termo litúrgico, sagrado, vibrado, que significa, num sentido


mais profundo – CONJUNTO DAS LEIS DE DEUS, porque tem por escopo, dentro
do meio Umbandista, implantar no coração de seus filhos de fé essas citadas
leis.

A Umbanda tem como vértice de sua razão de ser, desde eras primitivas, a
exteriorização periódica ou por ciclos. Ressurgiu na atualidade, assim como
fizera no passado entre os Atlantes, os Maias, os Quíchuas, os tupy-guarany e
os Tupy-nambá da época pré-cabraliana, bem como, há milênios, no antigo
apogeu da raça Africana, que conservou dentro da tradição oral até nossos dias,
farrapos desta Doutrina.

É a primitiva síntese Relígio-científica, cujas derivações podem ser identificadas


nos diferentes sistemas religiosos (pelo aspecto esotérico) de todas as raças.

A palavra Umbanda não foi criada pelos humanos, foi relevada por esses
espíritos de Caboclos e Pretos-Velhos, primeiro, através de certos pontos
cantados, para firmar, com a força mágica de seus sons6 ou sílabas, certas
correntes vibratórias e mesmo, para servir de Bandeira a esse Movimento. E
logo foi sentida a magia que ela despertava nos filhos dos “terreiros”.

Porém, há mais um significado profundo nesse vocábulo: a palavra Umbanda


representa ou simboliza a “chave” de antiquíssimas iniciações ou ordens. É a
única chave, atualmente, que abre “portas” aos verdadeiros conhecimentos da
perdida Lei do Verbo.

Essa Lei é representada por sinais cabalísticos, de força mágica, tradutores de


sons divinos – esses que dominam os elementares. Hoje, nenhuma corrente usa
esses sinais, mesmo esotericamente. Conservaram apenas os símbolos simples,
dados na Cabala - o círculo, o triângulo, a cruz, etc., assim mesmo com os
respectivos significados esotéricos comuns. As suas posições astrológicas e

6
o termo Umbanda é um mantra
correspondentes sons se perderam. Porém, na Umbanda, eles existem e são
usados na forma real de seus movimentos. Além disso, é a única corrente que
usa outros sinais, completamente desconhecidos nas outras correntes,
chamados de lei de pemba, riscados por nossas Entidades protetoras.

Então, o termo UM-BAN-DA, contendo em si um sentido tríplice-oculto, traduz,


de acordo com a Lei do Verbo, o seguinte: Conjunto de Leis de Deus.

Em linhas gerais, portanto, Umbanda representa as Leis Eternas que atuam na


coletividade umbandista, a afim de regular e impulsionar a sua ascensão, tudo
sob a guarda direta dos espíritos escolhidos para esse mister: os chamados de
caboclos, pretos-velhos e crianças, também.

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