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Direito Civil VIII

Sucessões
Professor
Irineu Carvalho de Oliveira Soares
Doutorando e Mestre em Sociologia e Direito
pela UFF

E-mail: irineu.juris@gmail.com
UNIDADE 4

A ação de petição de herança

OBJETIVOS:
- Conhecer a ação de petição de herança; e
- Analisar as suas consequências.
A ação de petição de herança
Petitio hereditatis

Para que serve essa ação?

Para incluir um herdeiro na herança.

O herdeiro pode intentar essa ação mesmo


após a divisão da herança?

SIM!
Devemos incluir o herdeiro que, por alguma
razão, não foi incluído na sucessão!

Reconhecer a qualidade
de herdeiro
e
Restituir, total ou
parcialmente, os bens da
herança!
A ação de petição de herança

Já era admitida pela jurisprudência


brasileira antigamente.

Positivada no CC/2002.
Jurisprudência temática

“a ação de petição de herança é uma ação de


natureza real, para a qual só tem legitimidade
ativa aquele que já é herdeiro desde antes do
ajuizamento, e através da qual ele pode buscar
ver reconhecido seu direito hereditário sobre
bem específico que entende deveria integrar o
espólio, mas que está em poder de outrem”
(TJRS, Apelação Cível 36960-28.2012.8.21.7000,
8.ª Câmara Cível, Santa Rosa, Rel. Des. Rui
Portanova, j. 18.10.2012).
Quem pode propor ação de petição de
herança?

O herdeiro.

Art. 1.824, do CC. O herdeiro pode, em ação de


petição de herança, demandar o reconhecimento
de seu direito sucessório, para obter a restituição
da herança, ou de parte dela, contra quem, na
qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a
possua.
Se C e D, herdeiros da mesma classe, renunciarem
à herança, os netos recebem por cabeça, em
quotas iguais (1/4 cada um).

A
Renunciantes
C D à herança.

G H I J

Recebem a herança.
(TARTUCE, 2018, p. 93).
Surge um filho de A, não reconhecido, Gileno, que
pretende o seu reconhecimento posterior e
inclusão na herança.

A
Renunciantes
Gileno C D à herança.

G H I J
Ação de petição de herança cumulada com uma
ação de investigação de paternidade.
(TARTUCE, 2018, p. 93).
Surge um filho de A, não reconhecido, Gileno, que
pretende o seu reconhecimento posterior e
inclusão na herança.

A
Renunciantes
Gileno C D à herança.

G H I J

Não recebem a herança.

(TARTUCE, 2018, p. 93).


Exemplo:
Companheiro que foi preterido na partilha,
por não ter conhecimento dela.
Jurisprudência temática
“1. Uma das consequências do reconhecimento da união
estável é a aquisição de direitos pelo companheiro
sobrevivente sobre a herança deixada pelo outro. 2.
Reconhecida a união estável, existe o direito sucessório.
(...) 5. A companheira sobrevivente, na falta de
descendentes e ascendentes, ainda que não tenha
contribuído para a aquisição onerosa de bens durante a
união estável, tem direito à totalidade da herança. 6.
Apelação cível conhecida e provida para reformar em parte
a sentença e reconhecer o direito da apelante à totalidade
da herança do ex-companheiro” (TJMG, Apelação Cível
1.0209.04.040904-4/0011, 2.ª Câmara Cível, Curvelo, Rel.
Des. Caetano Levi Lopes, j. 22.09.2009).
Observação:
Lembre-se da inclusão, via ação de petição de
herança, de um embrião nascido após o
falecimento.

Não lembra?

Verifique as aulas anteriores!


Exemplo: “Imagine-se que um filho ingressa com
ação de investigação de paternidade cumulada com
petição de herança em face de ascendentes do
falecido, que receberam todos os bens de seu pai.
Como o filho tem prioridade sucessória em relação a
tais ascendentes, conforme a ordem que está
descrita no art. 1.829 do CC/2002, todos os bens lhe
serão atribuídos.” (TARTUCE, 2018, p. 120).

Neto ingrato!
Procedência da
Devolução Restituição
ação de petição
sucessória dos bens
de herança

Art. 1.826, do CC. O possuidor da herança está


obrigado à restituição dos bens do acervo, fixando-se-
lhe a responsabilidade segundo a sua posse,
observado o disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a
responsabilidade do possuidor se há de aferir pelas
regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
Como será mensurada a responsabilidade do
herdeiro possuidor?
Art. 1.826, do CC. O possuidor da herança está
obrigado à restituição dos bens do acervo, fixando-se-
lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado
o disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade
do possuidor se há de aferir pelas regras concernentes
à posse de má-fé e à mora.

OBS: “Após o ato processual, a boa-fé do possuidor fica


afastada pelo fato de ter ciência da demanda
proposta.”
Art. 1.201, do CC. É de boa-fé a posse, se o
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que
impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem
por si a presunção de boa-fé, salvo prova em
contrário, ou quando a lei expressamente não
admite esta presunção.
Possuidor de má-fé

Ex.: Herdeiro que recebeu os bens, mas tinha ou


podia ter, conhecimento do direito daquele que foi
incluído através da ação de petição de herança.
Jurisprudência temática
“Petição de herança. Retificação da partilha.
Restituição dos frutos. Responsabilidade pelos
prejuízos a partir da citação. O herdeiro excluído da
sucessão pode demandar o reconhecimento do seu
direito sucessório e obter em juízo a sua parte na
herança, consoante art. 1.824 do Código Civil. Os
herdeiros que exercem com exclusividade a posse dos
bens do monte, excluindo herdeiro necessário, cuja
existência é do seu conhecimento, agem de má-fé e
respondem pelos prejuízos a partir da citação nesta
ação” (TJRJ, Apelação 2009.001.07769, 7.ª Câmara
Cível, Rel. Des. Ricardo Couto, j. 24.03.2009).
Possuidor de Boa-fé

Não sabia da existência do herdeiro preterido.

Ex.: Irmãos que não sabia da existência do outro (autor


da ação de petição de herança).
Direitos e responsabilidades do
possuidor de boa-fé

Art. 1.214, do CC. O possuidor de boa-fé tem


direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo
em que cessar a boa-fé devem ser restituídos,
depois de deduzidas as despesas da produção e
custeio; devem ser também restituídos os frutos
colhidos com antecipação.
Direitos e responsabilidades do
possuidor de má-fé

Art. 1.216, do CC. O possuidor de má-fé responde


por todos os frutos colhidos e percebidos, bem
como pelos que, por culpa sua, deixou de
perceber, desde o momento em que se constituiu
de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio.
Ex.: “Se um herdeiro que sabe da situação do autor
da ação e toma medidas para afastá-lo da sucessão,
colhe as mangas da mangueira de um imóvel que
está sob sua posse, deverá indenizá-las, mas será
ressarcido pelas despesas realizadas com a colheita.”

(TARTUCE, 2018, p. 122).


Quais são as responsabilidades do possuidor
em relação aos produtos?

Há um dever de restituição ou não?


Produtos Frutos

Os produtos, quando retirados, desfalcam a


substância do principal.

1) Aplicação do 2) O possuidor, de má-fé ou


regime dos frutos de boa-fé, deverá indenizar
para os produtos. a outra parte por perdas e
danos!
Vedação ao enriquecimento
sem causa.
Vamos relembrar os tipos de benfeitorias!

Art. 96, do CC. As benfeitorias podem ser


voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio,
que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que
o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do
bem.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o
bem ou evitar que se deteriore.
Quais são as responsabilidades do possuidor
de boa-fé em relação às benfeitorias?

Art. 1.219, do CC. O possuidor de boa-fé tem


direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis, bem como, quanto às
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-
las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor
das benfeitorias necessárias e úteis.
O possuidor de boa-fé possui o DIREITO DE
RETENÇÃO pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.
Exemplo:

Reformou o telhado
(benfeitoria necessária)

Possuidor de Colocou grade nas janelas


boa-fé (benfeitoria útil)

Terá direito de indenização!


Exemplo:

Colocou uma churrasqueira


(benfeitoria voluptuária)

Possuidor de
boa-fé

Não terá direito de ser indenizado!


Quais são as responsabilidades do possuidor
de má-fé em relação às benfeitorias?

Art. 1.220, do CC. Ao possuidor de má-fé serão


ressarcidas somente as benfeitorias necessárias;
não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Responsabilidade do possuidor de boa-fé
pela perda ou deterioração da coisa

Art. 1.217, do CC. O possuidor de boa-fé não


responde pela perda ou deterioração da coisa, a
que não der causa.

Somente responde se for comprovada a


sua culpa!
(responsabilidade subjetiva)
Responsabilidade do possuidor de má-fé
pela perda ou deterioração da coisa

Art. 1.218, do CC. O possuidor de má-fé


responde pela perda, ou deterioração da coisa,
ainda que acidentais, salvo se provar que de
igual modo se teriam dado, estando ela na posse
do reivindicante.

Responsabilidade objetiva
(independentemente de culpa)
Compensação legal

Art. 1.221, do CC. As benfeitorias compensam-se


com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se
ao tempo da evicção ainda existirem.
São considerados válidos e eficazes os atos
praticados por herdeiro aparente (possuidor
de bens hereditários)?
Sim!
Art. 1.827, do CC. O herdeiro pode demandar os
bens da herança, mesmo em poder de terceiros,
sem prejuízo da responsabilidade do possuidor
originário pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas,
a título oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro
de boa-fé.
A boa-fé do terceiro e a teoria da aparência
vencem a ação de petição de herança.

Então, como fica o herdeiro reconhecido?

O herdeiro reconhecido pode pleitear


PERDAS E DANOS do herdeiro aparente.
Jurisprudência temática

“as alienações feitas por herdeiro aparente a


terceiros de boa-fé, a título oneroso, são
juridicamente eficazes. Art. 1.827, parágrafo único,
do CC/2002. Na hipótese dos autos, o negócio
jurídico foi aperfeiçoado antes do trânsito em
julgado da sentença que decretou a nulidade da
partilha e inexistiam, à época em que foi celebrado
o contrato de compra e venda, quaisquer indícios
de que o imóvel fosse objeto de disputa entre os
herdeiros do espólio” (STJ, AgRg na MC 17.349/RJ,
3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28.06.2011).
Súmula nº 149, do STF. “É imprescritível a ação
de investigação de paternidade, mas não o é a de
petição de herança”.
Súmula nº 149, do STF. “É imprescritível a ação
de investigação de paternidade, mas não o é a de
petição de herança”.
Como era antigamente?

A ação de petição de herança estava sujeita ao


prazo geral de prescrição.

20 anos
Art. 177, do CC/1916. As ações pessoais
prescrevem ordinariamente em trinta anos, as
reais em dez entre presentes e, entre ausentes,
em vinte, contados da data em que poderiam ter
sido propostas.
Como funciona hoje em dia?

A ação de petição de herança estava sujeita ao


prazo geral de prescrição.

10 anos

Art. 205, do CC. A prescrição ocorre em dez anos,


quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
Quando se inicia o prazo para intentar ação
de petição de herança?

10 anos

1) Iniciado com a abertura da sucessão.

2) Iniciado com o reconhecimento do


vínculo parental.
Jurisprudência temática

“Na hipótese em que ação de investigação de


paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o
trânsito em julgado da decisão de partilha de bens
deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo
prescricional para o ajuizamento de ação de petição
de herança é a data do trânsito em julgado da
decisão que reconheceu a paternidade, e não o
trânsito em julgado da sentença que julgou a ação
de inventário.” (...) (STJ, REsp 1.475.759/DF, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, j. 17.05.2016).
Jurisprudência temática

“(...) Assim, conforme entendimento doutrinário,


não há que se falar em petição de herança
enquanto não se der a confirmação da paternidade.
Dessa forma, conclui-se que o termo inicial para o
ajuizamento da ação de petição de herança é a data
do trânsito em julgado da ação de investigação de
paternidade, quando, em síntese, confirma-se a
condição de herdeiro” (STJ, REsp 1.475.759/DF, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, j. 17.05.2016).
Observação:

Não esqueçam do impedimento e da


suspensão da prescrição!

Trabalho de casa!

Olhem os artigos arts. 197 a 199 e o


art. 202, do CC.
Jurisprudência temática
“Sucessão aberta e ação ajuizada, ambas, na vigência do
Código Civil de 1916. Observância do prazo prescricional
de 20 (vinte) anos para reclamar os direitos hereditários,
cujo início se deu a partir da idade de 16 anos da
demandante, posto não correr a prescrição contra os
absolutamente incapazes. Recurso conhecido e provido
para julgar procedente, também, o pedido de petição de
herança, com a condenação dos requeridos/apelados a
entregarem à autora o que lhe cabe em virtude da
morte de seu genitor, do que resulta nula a partilha
antes homologada” (TJSC, Apelação Cível 2009.019580-1,
4.ª Câmara de Direito Civil, Blumenau, Rel. Des. Luiz
Fernando Boller, j. 14.07.2011).
Alguns autores entendem que a ação de
petição de herança deve ser imprescritível!
Referências Bibliográficas

GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de Direito Civil.


Volume 7. São Paulo: Saraiva, 2018.
DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso
Didático de Direito Civil. 6ª ed. São Paulo: Atlas,
2017.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 6 – Direito das
Sucessões. 13ª edição. Rio de janeiro: Forense, 2018.
VitalBook file.
CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das
Sucessões. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.

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