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Direito Sucessório – 2º Semestre

Aula nº 1.

Introdução
Noção geral e justificação da sucessão por
morte.
Extinguindo-se a personalidade jurídica do
falecido, a morte abre uma crise nas relações
jurídicas de que ele era titular e que devam
sobreviver-lhe.
Essas relações desligam-se do seu primitivo
sujeito, a morte deste, e ate que se liguem a um
novo sujeito é necessário que ocorra uma série
de actos ou factos que se encadeiem num
processo mais ou menos longo.
É o complexo desses actos ou factos, designado
por fenómeno sucessório ou fenómeno da
sucessão por morte.

A morte do “de Cuius” abre-se a sucessão – e


procede-se ao chamamento por vocação
sucessória. E a herança fica em situação de
jacência, enquanto se aguarda resposta ao
chamamento. Se este obtém e quando obtiver
resposta afirmativamente, ou seja, quando for
aceite a herança, esta tem-se como adquirida.
2- Conceito de sucessão- art. 1952º
A ideia de que uma pessoa, por vezes, vai
substituir ou sub - ingressar em determinada
posição, que outra pessoa ocupava.
Há um fenómeno de sucessão sempre que uma
pessoa assume, numa relação jurídica que se
mantêm idêntica, a mesma posição que era
ocupada anteriormente por outra pessoa.
O conceito jurídico de sucessão é assim
integrado por dois elementos:
Em 1º lugar que se opera uma modificação
subjectiva em determinada relação jurídica;
Em 2º lugar, que a relação jurídica se mantêm a
mesma apesar da modificação operada.

3- Referencias as concepções subjectivas do


direito subjectivo, para as quais o conceito de
sucessão seria legítimo; legitimidade do
conceito de sucessão a luz de uma noção
objectiva de direito subjectivo.
O conceito de sucessão pressupõe, assim a não
extinção da relação jurídica de que se trata

4- Identidade fundamental dos conceitos de


sucessão e aquisição translativa.
5- Sucessão em vida e sucessão por morte.
Critério de distinção e algumas hipóteses
particulares.
Na sucessão em vida, como a expressão deixa
entrever, a modificação subjectiva da relação
jurídica opera-se ainda em vida do anterior
titular, por força de um acto jurídico translativo
do direito ou obrigação respectivos, acto
jurídico que normalmente se traduz em um
negocio jurídico outorgado entre o antigo e o
novo titular, e de que resulta a aludida
transmissão.
Há porem, casos excepcionais em que a
sucessão se dá sem a vontade do antigo titular
(por exemplo a expropriação por utilidade
publica, venda judicial no processo executivo)
Pelo contrário na sucessão por morte, a referida
modificação subjectiva só se verifica depois da
morte do anterior titular da relação jurídica.
De um modo geral a distinção faz-se com muita
simplicidade: assim por exemplo, uma compra
e venda, uma cessão de crédito, uma
expropriação por utilidade pública são formas
de sucessão em vida; nos casos de sucessão
testamentária, legitima ou legitimaria, já
estamos no domínio da sucessão por morte.
A fronteira entre sucessão em vida e por morte
é porem as vezes difíceis de estabelecer.
A questão discute-se fundamentalmente no
âmbito das doações
Há necessidade de ver se se trata de doação em
vida e, portanto permitida por lei, ou antes de
doação por morte.
O critério geral da distinção baseia-se no
seguinte: há doação por morte se a doação é
feita por causa d morte (mortis causa), ou seja,
se a morte do doador é causa ou concausa dos
bens doados. A doação não vincula o doador e,
em vida deste, não tem ainda o donatário
qualquer direito sobre os bens doados.

Pelo contrario há doação em vida se a doação


produz os imediatamente os seus efeitos
(atribuindo ao donatário um direito sobre os
bens doados)

6- Noção legal de sucessão por morte. O


Direito das sucessões e os vários fenómenos
do fenómeno sucessório.
Diz-se sucessão o chamamento de uma ou mais
pessoas á titularidade da relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a
consequente devolução dos bens que a esta
pertencia. A devolução é a aquisição ou
transmissão dos bens, que resulta, como
consequência do chamamento do sucessor á
titularidade das relações do falecido, ou seja, do
subingresso daquele nas relações jurídicas que
são objecto de sucessão.
Os momentos essências da sucessão são a
abertura da sucessão, a vocação, e a aquisição
sucessória, que se da pela resposta afirmativa ao
chamamento, ou seja, pela aceitação.
A herança tem de ser liquidada e partilhada e,
há necessidade de a administrar até que se
proceda a sua liquidação e partilha.

7- Conexões fundamentais do Direito das


sucessões: propriedade, família e Estado.
A morte de uma pessoa, que destino deverá ter
os bens? Propriedade, família e Estado são as
conexões fundamentais do Direito das
sucessões. Assim poderemos falar de um
modelo individualista, de um modelo familiar e
de um modelo socialista do Direito das
sucessões.
O modelo individualista (que advêm da época
do direito romano em que o paterfamilias
gozava de amplos poderes de disposição por
morte sobre coisas que detinha sobre o seu
dominium), o direito sucessório é um mero
corolário do princípio da autonomia da vontade
e do direito de propriedade revestindo este
direito carácter absoluto, há-de conferir ao seu
titular o poder de dispor para depois da morte,
que assegurará ao direito de propriedade uma
espécie de perpetuidade. Nesta concepção a
sucessão prevalecerá sobre a sucessão legítima.
Esta será uma sucessão testamentária tácita,
assente na vontade presumida do autor da
sucessão. E a legitima ou quota indisponível, a
existir, será simples limite, maior ou menor, que
a lei excepcionalmente porá a liberdade de
testar, liberdade em princípio absoluta.

O direito sucessório familiar (assente


historicamente no direito germânico em que se
admitia uma compropriedade familiar) fará
prevalecer sobre a conexão com a propriedade a
conexão com a família conjugal, parental, ou
ate um grupo familiar que se estenda,
inclusivamente a outras pessoas que o autor da
sucessão tenha a seu cargo.
Este direito sucessório visa assegurar a
permanência do “ património familiar” a morte
do de “ cuius” e transmiti-lo a sua família.
O direito das sucessões em que a conexão com
a família seja a dominante, poderá entender,
designadamente, que só são herdeiros os
familiares do autor da sucessão.
Finalmente o modelo socialista fará prevalecer
sobre as anteriores a conexão com o Estado.

8- Alusão as varias espécies de sucessão por


morte: sucessão legítima, sucessão
legitimaria, sucessão testamentária, e
contratual. Autonomia da sucessão
legitimaria em face das outras espécies de
sucessões.

A sucessão por morte pode ser legal ou


voluntária conforme o título em que se baseia é
a lei ou um negócio jurídico- art.1954º
E conforme este negocio é um testamento ou
uma doação por morte, assim se fala em
sucessão testamentaria ou contratual. Por sua
vez dentro da sucessão legal lato sensu ainda se
distingue entre a sucessão legítima e a sucessão
legitimaria. Designa-se por sucessão legitimaria
(art. 2081º) a que se da em beneficio de
determinados sucessores (os herdeiros
legitimarmos), aos quais a lei reserva uma
fracção da herança de que a autor da sucessão
não tem a faculdade de dispor. Não havendo
herdeiros legitimarios ou, havendo-os, nos
limites da quota disponível, o autor da sucessão
dispõe livremente, por testamento ou doação
por morte; caso não disponha abre-se a
sucessão legitima ( art.2056º) nos termos e
segundo a ordem deste artigo.
Pode-se assim registar-se quatro espécies de
sucessão por morte: a legítima, legitimaria,
testamentária e contratual.

As regras da sucessão legitimaria são


imperativas para o autor da sucessão. A legítima
é intangível há regras próprias a definir o
circulo dos herdeiros legitimarios e a medida da
sua legitima. Finalmente os herdeiros
legitimarios podem ser deserdados , ou seja,
privados da sua legitima, verificados que
estejam preenchidos determinados pressupostos
legais.

9- Plano geral.
A matéria engloba-se numa parte geral e numa
parte especial.
Na introdução é preciso saber a noção de
sucessão por morte e a distinção entre herança e
legado.
1- Herança e legado – art.1958º
Ao contrario da sucessão em vida que é sempre
a titulo particular, versando necessariamente
sobre bens certos ou valores determinados, a
sucessão por morte pode ser a titulo particular
ou a titulo universal.
E conforme se trate de sucessão a titulo
universal ou particular assim se fala de herança
e legado na terminologia doutrinal e legal.

a-) critério legal da distinção


A distinção entre herança e legado tem assento
no nº 1 do art. 1958º
Diz-se herdeiro o que sucede na totalidade ou
numa quota do património do falecido legatário
o que sucede em bens ou valores determinados.
O critério legal da distinção vem assim assentar
na determinação e indeterminação dos bens
deixados: o instituído será herdeiro quando
recebe bens indeterminados e legatário quando
recebe bens determinados.
Mas importa esclarecer o sentido de bens
determinados e indeterminados, importando
salientar que bens determinados não é a mesma
coisa que objectos especificados ou designados
concretamente. Por exemplo se A deixa o
recheio da sua casa, ou uma fracção não
aritmética da sua herança embora sem designar
concretamente os respectivos bens, ou o seu
rebanho de ovelhas, os prédios que tem em
determinada zona. Os bens aqui deixados não
são especificados e não obstante A deixa a B
bens determinados.
Quando se pode dizer então que são deixados
bens determinados?
O critério legal pode-se dizer que legatário é
que sucede em bens
determinados( especificados ou não), isto é,
que sucede apenas em certos bens com
exclusão dos restantes bens do de cuius, e pelo
contrario o herdeiro não é chamado a suceder
em bens determinados, isto é, somente em
certos bens e não outros, mas o seu direito
estende-se, real ou pelo virtualmente, a
totalidade da herança ou duma quota parte
dela.
Significa que o herdeiro é um sucessor a título
universal enquanto o legatário é apenas um
sucessor a título singular ou particular.
O direito do sucessor estende-se a toda a
herança.

10- Algumas aplicações ao critério.


1- Deixa da totalidade ou de uma quota
( aliquota ou não aliquota) da herança.
Se A deixa a B a totalidade da sua herança ou
uma parte aliquota dela ( um terço, um quinto,
um decimo, claro que B é herdeiro de A.

2- Deixa do remanescente da herança ou de


quota da herança.
É ainda herdeiro aquele a quem o testador
deixa o remanescente da herança ou de uma
quota da herança , não havendo especificação
de bens.
3- Deixa de bens determinado
SeA deixa a B um relógio, um prédio, B é
legatário de A.

4- Deixa de universalidade de facto.


Suponhamos que A deixa a B o seu rebanho ou
a sua biblioteca. Os bens que A deixa a B não
são especificados concretamente, mas são
determinados, pois a deixa só compreende
certos bens e não aos restantes bens do testador.
Também assim n caso de deixa de
estabelecimento comercial.

5- Deixa de herança ou quota de herança a


que foi chamado o testador.

6-Disposição de todos os moveis ou de todos


os imóveis.

Se A deixa a B todos os seus bens moveis ou


todos os seus imóveis trata-se de um legado.

7-Deixa de usufruto da herança ou de quota


da herança.
O usufrutuário é legatário porque sucede em
bens ou valores determinados.
Em segundo lugar porque o direito do
usufrutuário é um direito transitório porque
acaba por sua morte ou, se o usufruto for
temporário, mesmo antes dela.
11- Aspectos em que se revela o interesse
pratico da distinção.
1º- Direito de exigir artilha.
Um primeiro aspecto da distinção assume
relevância em que qualquer co-herdeiro ou
cônjuge meeiro tem o direito de exigir a
partilha quando lhe aprouver - art.
Compreende-se que este direito caiba apenas
aos herdeiros e não aos legatários que recebem
bens determinados que já se sabe vir a
pertencer-lhes indecentemente da partilha.

2º- Responsabilidades pelos encargos da


herança.
Pelos encargos da herança só é responsável o
herdeiro – art. 1996º.
A herança é um património autónomo, porque
só os bens da herança (e não o património
próprio do herdeiro) são que respondem pelos
encargos hereditários. É também um
património autónomo no sentido de que os
bens da herança só respondem pelos encargos
hereditários (e não pelas dividas próprias do
herdeiro).
Quanto a responsabilidade do legatário pelos
encargos da herança é preciso dizer que se ele
respondesse pelos encargos da herança so
responderia dentro das forças do legado.
Só se responsabiliza o legatário pelos encargos
do legado, que são coisa diversa dos encargos
da herança.

3- Relevo da distinção em matéria de


inventario.
Esta matéria releva para numerosos efeitos.
Assim os legatários não podem requerer o
inventario, não podem acusar a falta de
descrição dos bens, não podem reclamar contra
o excesso de avaliação, não podem requerer a
remoção do cabeça de casal.

12- Estrutura da Herança e do Legado. O


herdeiro como sucessor pessoal do de “
Cuius”e o legatário como mero adquirente
de bens.

Herdeiro no nosso direito é a pessoa chamada


(pelo testador ou pela lei) a sucessão da
totalidade ou de uma quota da herança. É um
sucessor na posição jurídica do de cuius.

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