DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA Prof.ª Dr.ª MARIA EMÍLIA VASCONCELOS DOS SANTOS JOSÉ CORDEIRO DOS SANTOS NETO
RESENHA – A escravidão entre os africanos
Obra: A Manilha e o libambo – A África e a escravidão, de 1500 a 1700.
Autor: Alberto da Costa e Silva
Nascido no ano de 1931, Alberto da Costa e Silva é um diplomata paulista, que
circulou por diversos países, lecionou e escreveu inúmeras poesias, destacando-se através dos inúmeros prêmios que recebeu e por ser membro da Academia Brasileira de Letras. O autor destaca-se, como historiador, pelas obras produzidas, incluindo a obra “A Manilha e o Libambo: A África e a escravidão, de 1500 a 1700”, e pesquisas realizadas sobre a África, sendo considerado um especialista no assunto. A obra ao qual essa resenha refere-se, datada de 2001, apresenta uma reflexão sobre a escravidão na África, com o recorte temporal que percorre os anos de 1500 a 1700. O título da obra refere-se a uma cadeia de ferro e uma braçadeira metálica, já oferecendo pistas sobre a construção do texto. Com 25 capítulos, que tratam sobre as relações escravistas, os processos de escravidão e algumas localidades, como Madagascar e Etiópia, o autor apresenta importantes questões sobre a escravidão em África. A partir dessas contribuições, é possível obter um panorama que auxilia no conhecimento sobre as origens dos nossos antepassados. O terceiro capítulo da obra, “A escravidão entre os africanos”, oferece um pequeno panorama sobre a relação da escravidão na África. Logo no início o autor pretende esclarecer como teria sido originado a escravidão no continente, relatando as experiências em outras regiões e questionando se o processo chegou a África a partir de uma absolvição do que já existia fora ou se apenas recebeu algumas influências para construir a feição da escravidão. “O que não sabemos é se, assim como a África recebeu do Oriente Médio os animais domésticos, não terá absolvido de fora a escravidão. Certamente, adotou por influxo externo algumas de suas feições e de suas técnicas” (SILVA, 2011, p.80). Após apresentar diversas formas de escravizar, o autor descreve as diferenças de aplicação dentro do continente. “Em determinados povos (...), distinguiam-se nitidamente entre os filhos de mulheres livres e os filhos livres de mulheres escravas. E em outros (...), o descente do escravo não se integrava jamais na família do dono” (SILVA, 2011, p. 83). Essa descrição, permite romper com alguns estereótipos do continente, que por muitas vezes é tratado como um único povo, com uma cultura e história única, igual. Um trecho importante do capítulo ajuda a compreender a diferença entre a escravidão e outras formas de exploração do homem. Entre as diferenças citadas, o autor fala sobre o escravo ser considerado propriedade do senhor, ser um produto que pode ser comprado ou vendido, mas também ser considerado humano. O escravo é entendido como um estrangeiro, com menor valor, sendo tratado com violência, estando à mercê do seu dono. O autor recorda que o escravo não tem direito nem sobre sua sexualidade, colocando-se a disposição do seu senhor. A tese do socialmente morto, apresentada na obra, exemplifica bem a compreensão do autor sobre o processo, em que o escravo não tem vida para além do que o seu senhor lhe oferece. O autor prossegue abordando as implicações do comércio de escravos a distância, no continente, explicando que, essa abertura ao novo tipo de comércio modificou a estrutura do escravismo na região. Outro dado importante apresentado na obra, a relação entre a escravidão e as elites. “Os grandes senhores cedo encontraram novos modos de usar os muitos escravos de que dispunham” (SILVA, 2011, p. 90). O autor explica que os escravos além de serem utilizados no trabalho, primeira função que eles tinham, foram alocados até como administradores em terras dos reis, cuidando de outros escravos. Alberto da Costa e Silva descreve, pois, algumas dessas inúmeras formas em que a mão-de-obra escrava fora utilizada na África. O escravo também era entendido como forma de riqueza, quanto maior o seu número, mais rico seria o seu proprietário. O autor relaciona a escravidão com a posse de terras na Europa, para explicar que, assim como na Europa para ser considerado rico necessitaria de uma grande extensão da terra, para ser considerado rico na África necessitaria possuir um grande número de escravos, sendo considerado como um investimento, uma riqueza que se multiplicava, reproduzia. O autor ainda descreve as resistências escravas, através da fuga, mas o temor da morte conseguia conter o crescimento desses movimentos. O texto, pois apresenta as inúmeras formas de violência e de controle que os senhores ofereciam aos escravos, para expor essa relação de poder. O capítulo, portanto, oferece um bom aparato para conhecer a realidade diversa que foi a escravidão na África. O texto pode ser compreendido sem muito esforço, ajudando aos que não estão no mundo acadêmico a terem acesso ao mesmo. Além disso, o texto é um importante contributo para a temática, tendo em vista a escassez de produções que abordem a questão. Como já destacado durante a resenha, a obra permite esclarecer questões que influenciam na história do Brasil, além de romper com estereótipos formados pela falta de conhecimento sobre o continente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, Alberto da Costa e. A Manilha e o libambo – A África e a escravidão, de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 79-132.