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resistência
Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
Esta fala está permeada por vários fatores e influências, desde a prática psi, que
começou na Psicologia há 36 anos atrás quando entrei na faculdade, até os
conhecimentos que fui adquirindo ao longo de tantos anos – da Psicanálise, em
especial.
Vou tratar aqui, de uma série de pensamentos que me chegaram com mais clareza de
2009 para cá. Com o estudo do atendimento de crianças maiores (com problemas
familiares, escolares, de adoecimentos diversos) até a intervenção precoce (a partir de
14 meses, em situações de abrigamento institucional ou não). A partir de 20013, com o
acompanhamento da pesquisa PREAUT no Brasil e na França, e, mais recentemente, de
2015 até hoje, em um projeto próprio, Projeto Da Criança, que conduzo em Poços de
Caldas para crianças que, por vários motivos, apresentam atrasos no desenvolvimento;
atualmente, também têm chegado adolescentes.
Não vou trabalhar conceitos em profundidade, pois isto demandaria muito mais
tempo. Mas os conceitos estão subentendidos para quem os conhece e disponíveis na
literatura.
Comecemos.
HUMANIZAÇÃO
O processo educativo implica em, seguindo-se a uma aposta (que não pode ser
anônima para os pais, mas é anônima para os educadores outros), ensinar a sobreviver
(cuidar de si mesmo e estar com os outros – higiene do corpo, construção de hábitos,
ditames e regras da convivência social), desenvolver autonomia (fazeres consigo e com
o outro, quando necessário, de acordo com as marcas da sobrevivência, nas mais
varadas situações) e conquistar a independência (a partir da sobrevivência e da
autonomia, decidir e arcar com os custos do próprio caminho, sabendo ser/estar
sozinho e com os outros).
CLASSIFICAÇÕES E CATEGORIZAÇÕES
Seguindo-se este raciocínio, é impossível que cada um consiga, com seu cada qual,
vingar no dia-a-dia sem sofrimento, sem desgaste, sem esforço e sem fracasso. Ou
seja, o sofrimento humano é condição existencial de sua possibilidade de aprendizado,
de conhecimento, de crescimento e é a mola mestra das invenções.
Neste sentido, que fique claro, as classificações do tipo CID e DSM não são ferramentas
de avaliação clínica. O que faz a avaliação clínica é a observação de cada caso em
relação aos casos que já se apresentaram com aquela condição.
No quesito das chamadas doenças “físicas”, em que se pode, na maioria das vezes,
estabelecer a história natural da doença, esta observação é mais fácil, pois costuma
superar as singularidades de cada doente. Todavia, no quesito das doenças mentais,
esta é uma tarefa que se mostra infrutífera, pois, nestes casos, é a singularidade que
demarca o formato do adoecimento, juntamente com o contexto em que vive o
adoecido.
Ainda somos humanos e cada humano se humaniza diante de outro humano. Sem
pieguices, mas com a certeza de que há um trabalho (de linguagem, de conversa, de
conflitos, de divergências negociáveis) a ser bancado por cada profissional e pela
sociedade em geral.
Claro que, nas escolas, é difícil ter em uma sala, com outros tantos alunos, uma criança
ou adolescente que demanda prerrogativas diferenciadas para aprender e para estar
com os colegas. Porém, este é o osso do ofício de quem se pretende educador. Para
tais crianças, é preciso ir além de ser professor, ir além dos conteúdos, do que se
recebe como salário ou condições.
Obrigada!