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Religiões Africanas e Ciência: As religiões negro-africanas tradicionais estão longe de ocupar

todo o espaço do saber na sociedade tradicional. E na mesma, certamente nem tudo era
religioso. Seguem sendo, todavia, hoje em dia as noções reguladoras do pensamento religioso
negro-africano. O que impede conhece-las é o efeito de rechaço que a ciência dominante
ocidental exerce sobre o conjunto de outros saberes culturalmente estranhos a mesma. Mas
além de sua diversidade, as religiões tradicionais negro-africanas, quando se esforçam em
narrar o começo dos seres e das coisas, ilustram ante toda a realidade, o sério e a perspicácia
da sede de conhecimento dos fundadores destas religiões. Agora bem, nesta sede, subjacente
uma busca, uma espera e uma espécie de inquietude. Para as religiões negro-africanas, é Deus
o Ser supremo o que, mais além ou mais perto, de todas as causas empiricamente
constatáveis, assume a função de causa última ou primeira, de quem depende todas as
divindades incluídas como inferiores, cujo culto, como já temos vistos, é tão exuberante que
vela por menor a presença de deus. Nas relações do negro-africano com Deus, os deuses, os
homens, os animais, os vegetais e, de uma maneira geral, o cosmos, os aspectos das religiões
negro-africanas descritos em páginas, mostram com bastante clareza a permanência dessa
sede de conhecimento, ao mesmo tempo a presença e a eficácia dessa busca de causa.. Então
não há dúvidas em apresentar as divindades como “obras do saber” ou “produto do
conhecimento”. E é na confecção dos altares das divindades inferiores, como de amuletos,
fetiches e outros suportes dos quais se considera conter poderes especiais ou uma força
específica que o sacerdote, o mago ou o fiel esperam por a seu serviço,o caráter necessário de
todos e cada um dos componentes que intervem como causa em relação com o resultado final
buscado e testemunhado constantemente pelo feito de que nenhum daqueles é substituível.
14 O fetichismo e a magia oferecem em particular, na África, o espetáculo constante da
vontade de submeter aos feitos (atos) confiados ao juízo, não do indivíduo isolado, mas sim do
grupo de co-atores que são assim ao mesmo tempo conhecedores e co-crentes. Em um
terreno que, como o da medicina, se distingue de religião e da magia ainda que muito próximo
as mesmas, são muitos exemplos que atestam a intensa consciência que existe entre os negro-
africanos a busca de um nexo causal (ou casual?) e da necessidade de submeter os efeitos
esperados ao testemunho e como a verificação do maior número possível de indivíduos. A
gradação da religião na medicina e na farmacopéia, passando pela magia e o fetichismo, assim
como pela predileção do futuro, mostra que a religião negro-africana está l africana está longe
de ocupar o espaço inteiro do saber nas culturas africanas. O importante é que esta
familiaridade ancestral das religiões negro-africanas com a causa e a busca da prova coloca
este pensamento em uma relação de interlocutor possível com o pensamento técnico-
científico moderno. As preocupações da ciência e da técnica moderna são por tanto
compatíveis com as do pensamento religioso negro-africano. O conhecimento segue sendo um
valor digno de ser buscado por si próprio. Em lugar de continuar negando a presença de toda a
ciência em no pensamento negro-africano sob o pretexto de que no mesmo tudo é religioso,
convém reconhecer os princípios reguladores de uma atividade científica autêntica.

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