ANAIS:
ARTIGOS COMPLETOS
BELO HORIZONTE
2011
I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito
Edições Uberlândia e Belo Horizonte
Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em
C749a Direito (1. : 2010 : Belo Horizonte ; Uberlândia, MG)
Anais : artigos completos / I Congresso da Associação
Mineira de Pós-Graduandos em Direito. – Belo Horizonte :
AMPD : Pergamum, 2010.
3392 p.
Inclui bibliografias
CDU: 34(061.3)
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COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
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APRESENTAÇÃO
A AMPD
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I CONGRESSO DA AMPD
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SUMÁRIO
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PREFÁCIO
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se pesquisa e como se pesquisa, está bem realizado. A publicação tem o formato ideal
para que se aviste o quanto de produção os vários autores materializam ou insinuam.
Como expusemos ao início, a trajetória é indicativa de vários outros
eventos. Com muita honra, a Universidade Federal de Uberlândia e o curso de
mestrado em direito públicos estarão prontos e, solícitos, receberemos os - futuros -
congressos da AMPD participando, assim como participamos este ano, deste palco
privilegiado, recebendo este público qualificado.
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CIDADANIA,
CRIMINALIZAÇÃO E
PRÁTICAS PUNITIVAS
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RESUMO
1 Advogada, graduada pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.
E-mail: dri_x@yahoo.com.br
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1 - INTRODUÇÃO
2 Além da seletividade Eugênio Raul Zaffaroni apresenta como características estruturais do sistema
penal: a reprodução da violência, a criação de condições para maiores condutas lesivas, a corrupção
institucionalizada, a concentração de poder, a verticalização social e a destruição das relações
horizontais ou comunitárias.
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outros fatores, pelo reduzido espaço social conferido aos sujeitos, tornando-os mais
suscetíveis a assumir o papel de delinqüentes que lhes é atribuído pela sociedade.
De fato, as causas da criminalidade são várias e, dentre elas, não se pode
ignorar a falta de apoio estatal no combate à pobreza, vista esta em sentido amplo.
Da falha estatal e, portanto, da sociedade como um todo, surge a sua co-
culpabilidade no delito, emergindo da omissão estatal um dos fatores criminógenos.
Em outras palavras, ao negar aos indivíduos marginalizados oportunidades de vida
dadas a outros cidadãos, atribuindo-lhes o papel de delinqüentes, a sociedade torna-
se parcialmente responsável pela prática do delito por eles.
Dessarte, o princípio da co-culpabilidade é corolário do princípio
constitucional da igualdade, uma vez que, reconhecido um menor grau de
determinação do indivíduo que não dispõe, ou dispõe precariamente, de condições
econômicas, educação, alimentação, moradia, lazer, etc., impõe-se que a resposta
estatal ao delito praticado por ele leve em conta, no momento de individualização da
pena, a omissão da sociedade.
Diante da parca abordagem da doutrina sobre o tema, a despeito da sua
importância, objetiva o presente trabalho compreender o conceito de co-
culpabilidade e a sua influência na fixação da pena do deliquente, tendo-se em vista
que cada vez mais circunstâncias têm que ser consideradas na atividade judicante,
para a realização da justiça material.
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situação normal, o indivíduo deve ser livre para agir de acordo com sua
autodeterminação, dentro do âmbito de exigência da norma jurídica, ou seja, não ser
exigível comportamento distinto no caso concreto. Presentes tais elementos, impõe-se que
a sanção estabelecida no momento da individualização da pena seja proporcional ao
fato cometido (VALLEJO, 1999, p. 42; ZAFFARONI, 2003, p. 246).
Na lição de ZAFFARONI, PIERANGELI (2004, p. 571) “Um injusto, isto é,
uma conduta típica e antijurídica, é culpável quando é reprovável ao autor a realização desta
conduta porque não se motivou na norma, sendo-lhe exigível, nas circunstâncias em que agiu, que
nela se motivasse. Ao não ter se motivado na norma, quando podia e lhe era exigível que o fizesse, o
autor mostra uma disposição interna contrária ao direito”.
Por sua vez, CAMARGO (1994, p. 10) ressalta a influência da culpabilidade
nos demais elementos do crime, ao afirmar que “Antes mesmo da fixação da pena, há que
definir-se pela reprovação penal do agente. Numa etapa posterior, a pena, fundamentada nos
princípios da proporcionalidade e necessidade, será fixada através dos critérios previstos na lei
penal”. 4
A culpabilidade apresenta-se assim, como a terceira categoria na teoria geral
do delito correspondente ao pressuposto da aplicação da pena ao autor de um fato já
classificado como típico e antijurídico. Em suma, atua culpavelmente quem pratica
uma conduta tipificada no nosso direito penal, sem a presença de qualquer causa de
exclusão da ilicitude, quando podia atuar de maneira diversa, ou seja, conforme o
direito.
Não é fácil, entretanto, verificar concretamente que o agente mostra uma
disposição interna contrária ao direito, ou seja, não agiu conforme a norma quando
podia e lhe era exigível que o fizesse. Nesse diapasão, o livre-arbítrio, como
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3 - DO PRINCÍPIO DA CO-CULPABILIDADE
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5 No campo do Direito Penal, a garantia de liberdade do indivíduo consubstancia-se especialmente
nos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, da legalidade, da
irretroatividade, da intervenção mínima, da culpabilidade e da individualização da pena.
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desejável, ou ainda, para um plano no qual o Estado tem muito pouco a fazer, por
estarem os fatos fora do âmbito de relevância jurídica.
Nas palavras de ZAFFARONI e PIERANGELI (2006, p. 715), “os
habitantes dispõem de distintas margens sociais de autonomia ou de distinto espaço social, em razão
das desigualdades socioeconômicas, de instrução etc., isto é, existem pessoas que dispõem de meios
econômicos e de graus de instrução superiores aos dos outros, estes, frequentemente, em graus de
carência bem marcados”.
Diferente de outras circunstâncias, os meios econômicos e sociais,
constitucionalmente garantidos ao cidadão, constituem fatores objetivamente
verificáveis, e que, portanto, interessam ao reconhecimento da co-culpabilidade.
Dessarte, o Estado omisso torna-se parcialmente responsável quando um indivíduo
pratica um delito impulsionado por necessidades cujo atendimento lhe foi negado
pelo governo, sendo sua conduta menos reprovável do que seria em condições ditas
“normais”.
Portanto, de acordo com a teoria da co-culpabilidade, as condições sociais
desfavoráveis são determinantes na anormal motivação da vontade nas decisões da
população marginalizada, razão pela qual a sociedade é responsável pela prática de
delitos por tais indivíduos, na medida em que nega a estes a igualdade de acesso às
oportunidades sociais.
Conforme posicionamento de SANTOS (2004, p. 255-256), um dos
primeiros estudiosos a fomentar a ideia, “é admissível a tese da co-culpabilidade da sociedade
organizada, responsável pela injustiça das condições sociais desfavoráveis da população
marginalizada, determinantes da anormal motivação da vontade das decisões vida. Em sociedades
pluralistas, as alternativas de comportamento individual seriam diretamente dependentes do status
social de cada indivíduo, com distribuição desigual das cotas pessoais de liberdade e determinação
conforme a respectiva posição de classe da escala social”.
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6 Para um aprofundamento sobre a legislação de outros países que consagram expressamente a co-
culpabilidade, vide MOURA (2005).
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delituoso, notadamente aquelas que a própria lei diz que sempre alteram a pena, como
é o caso das atenuantes legais (CAMARGO, 1994, p. 148-152).
Com base nessas considerações, não há dúvidas quando à possibilidade de
aplicação da co-culpabilidade como atenuante legal genérica, uma vez que constitui
circunstância relevante anterior ao crime, a qual deve obrigatoriamente ser analisada
pelo julgador.
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exigências históricas já superadas, mas cuja adoção, hoje, prejudica toda sistemática da
culpabilidade”.
A partir dessa premissa, de que a inexigibilidade de conduta diversa
constitui uma causa supralegal de exclusão da culpabilidade, torna-se possível a
exculpação com fulcro na co-culpabilidade quando se comprovar que a ausência de
condições materiais, fruto da omissão do Estado em cumprir seus deveres
constitucionais, influiu de forma incisiva no âmbito de autodeterminação do autor do
fato, compelindo-o à prática do crime.
Sendo assim, “Somente através da extensão da utilização do conceito de inexigibilidade
de conduta diversa às reais condições de vida do povo, independentemente desta hipótese estar prevista
ou não expressamente em lei, é que conseguiremos desenvolver uma culpabilidade efetiva, traduzida
no conceito de co-culpabilidade, que garanta a iguadade” (RODRIGUES, 2009, p. 250).
Por fim, embora a situação de inexigibilidade de conduta diversa esteja
abarcada pelo nosso direito como excludente “genérica” de culpabilidade,
consideramos de suma importância a positivação da co-culpabilidade como causa de
exculpação, de modo a garantir sua inequívoca aplicação pelo julgadores.
5 – CONCLUSÃO
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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, v. 1., 5 ed. São
Paulo: Saraiva, 2007.
CASTRO, Carla Rodrigues Araújo de. Co-culpabilidade. Revista do MP. Rio de Janeiro.
n.º 21, jan. - jun. 2005.
CONDE, Francisco Muñoz. Teoria Geral do Delito. Porto Alegre: Fabris, 1988. Trad. e
notas de Juarez Tavares e Luis Regis Prado.
GOMES, Luiz Flávio. Vitimologia e Justiça Penal Reparatória. In: LEAL, César Barros e
MOURA, Grégore Moreira de. Do princípio da co-culpabilidade no direito penal. Niterói:
Impetus, 2006.
REALE JR., Miguel. Instituições de direito penal, v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
ROCHA, Fernando Antônio Nogueira Galvão da. Direito Penal - Parte Geral. Niterói,
RJ: Impetus, 2004.
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SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível. 3 ed. Curitiba: Fórum,
2004.
VALLEJO Manuel Jaén. Cuadernos Luis Jiménez de Asúa, 5. Los princípios superiores del
Derecho Penal. Madrid, España : Dykinson, 1999.
ZAFFARONI, Eugénio Raul. Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003. v. I,
p. 246.
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RESUMO
∗
Graduanda do 9º período em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 1019, apud ESTEFAM, André. Crimes Sexuais: Comentários à
Lei n. 12015/2009. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 57.
12 ESTEFAM, André. Crimes Sexuais: Comentários à Lei n. 12015/2009. São Paulo: Saraiva, 2009. pp.
57-58.
13 TRINDADE, Jorge; BREIER, Ricardo. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. Porto Alegre: Livraria do
12.015/2009, p. 09.
15 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à lei 12.015, de 7 de
agosto de 2009. São Paulo: RT, 2009, p.34. Defensor do caráter absoluto daquela presunção,
MIRABETE leciona que “a primeira hipótese de violência presumida, indutiva ou ficta, é de ser a vítima
menor de 14 anos. Embora seja certo que alguns menores, com essa idade, já tenham maturidade
sexual, na verdade não ocorre o mesmo com o desenvolvimento psicológico. Assim, o fundamento do
dispositivo é a circunstância de que a menor de 14 anos não pode validamente consentir, pelo
desconhecimento dos atos sexuais e de suas conseqüências, o que torna seu consentimento
absolutamente nulo”, In: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado, São Paulo: Atlas,
1999, p. 1314. Defendendo a relativização, por sua vez, afirmava TELES: “é evidente que essa norma é
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inconstitucional. Viola o princípio da legalidade. Ninguém pode ser punido senão quando pratica o
fato descrito na norma incriminadora. O tipo descreve um acontecimento real, em abstrato. O fato
deve a ele se ajustar. O tipo de estupro contem a violência como elementar. Ela deve ser real. Se não
existiu não pode haver estupro. Nem a lei pode mandar que seja presumida, porque aí o sujeito será
punido pelo que não fez, pelo que não aconteceu, por algo apenas imaginado na norma”. In: TELES,
Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial, vol. 3, 2ª Ed, São Paulo: Atlas:, 2006, pp. 7-8.
16 DUPRET, Cristiane. Manual de Direito Penal. Niterói: Editora Impetus, 2009, Adendo Lei nº
12.015/2009, p. 09.
17 DUPRET, Cristiane. Manual de Direito Penal. Niterói: Editora Impetus, 2009, Adendo Lei nº
12.015/2009, p. 21.
18 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal– Parte Especial. Niterói: Editora Impetus, 2009, Adendo Lei
nº 12.015/2009, p. 03.
19 A noção de sexualidade é complexa. Apenas a título ilustrativo, o conceito estabelecido pelas
Ademais, foi criado um capítulo exclusivo para tratar dos crimes cometidos
contra as vítimas vulneráveis, entendidas como tal as crianças e adolescentes em
determinadas faixas etárias21. Nesse contexto, atendendo aos anseios da doutrina no
que concerne à necessidade de se dar tratamento jurídico diferenciado aos crimes
sexuais cometidos contra a criança, passou a figurar como delito autônomo o estupro
de vulnerável22, cujo sujeito passivo é o menor de 14 anos23. Tornou-se ilícito,
portanto, simples fato de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
esses indivíduos, sem que para a configuração do delito seja exigível que a conduta
seja praticada mediante violência ou grave ameaça24.
dimension of being human which includes sex, gender, sexual and gender identity, sexual orientation,
eroticism, emotional attachment/ love, and reproduction. It is experienced or expressed in thoughts,
fantasies, desires, beliefs, attitudes, values, activities, practices, roles, relationships. Sexuality is a result
of the interplay of biological, psychological, socio-economic, cultural, ethical and religious/spiritual
factors”. In: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Promotion of Sexual Health: Recommendations
for Action, Maio, 2000, p. 8.
20 GROFF, Alcione Maria. Sexualidade e Contexto Escolar. EDUCERE – Revista da Educação, vol. 2,
vulnerável (art. 217-A), corrupção de menores (art. 218) e satisfação de lascívia mediante presença de
criança ou adolescente (art. 218-A) considera-se vulnerável o menor de 14 anos. Esse patamar etário é
mais rigoroso apenas quanto ao delito de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
sexual de vulnerável (art. 218-B) no qual se entende serem vulneráveis os menores de 18 anos.
22 “Art. 217-A, verbis: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
deficiência mental e dos que não podem oferecer resistência à prática do ato à vulnerabilidade
decorrente da faixa etária, o presente estudo, por razões metodológicas, não abordará tais hipóteses.
24 DUPRET, Cristiane. Manual de Direito Penal. Niterói: Editora Impetus, 2009, Adendo Lei nº
12.015/2009, p. 02.
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ordenamento jurídico brasileiro, estando presente também no artigo 4º, inciso I, da Lei nº 8.078, de 11
de setembro de 1990, que estabelece o Código de Defesa ao Consumidor.
26 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª Edição. Rio de
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28 FORSTER, Jacques. Reversing the spiral of vulnerability. In: International Review of the Red Cross,
Genebra, International Committee of the Red Cross for the International Red Cross and Red
Crescent Movement, nº 301, 1994, p. 319.
29 Segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, os indivíduos mais
vulneráveis são “aqueles com maior risco de situações que ameaçam a sua sobrevivência ou sua
capacidade de viver com um mínimo de segurança social e econômica e dignidade humana”. No
original: “those at greater risk from situations that threaten their survival or their capacity to live with a
minimum of social and economic security and human dignity”. In: Federação Internacional da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho. Improving the situation of the most vulnerable -Strategic Work Plan for the
Nineties, revisado e adotado pela Assembléia Geral em sua IX Sessão, Birmingham, 25-28 de Outubro
de 1993, p.7, trad. livre.
30 GRAZ, Liesl. A question of vulnerability. In: Red Cross, Red Crescent, International Red Cross and
próprias do sujeito – a saúde, a idade ou o sexo, entre elas -; outras, de circunstâncias sociais – a
condição de indígena, estrangeiro, detido, por exemplo.” Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Sentença de 4 de julho de 2006. Série C No. 149. Voto fundamentado do
Juiz Sergio García Ramírez, p. 01, §5º, trad. livre.
33 GRAZ, Liesl. A question of vulnerability. In: Red Cross, Red Crescent, International Red Cross and
vulnerabilidade é o resultado de causas naturais, há pouco, se houver alguma, diferença entre ser
‘vulnerável’ e estar ‘em risco’.” No original: “When vulnerability is the result of natural causes, there is
little, if any, difference between being ‘vulnerable’ and being ‘at risk’.” In: HOFFMASTER, Barry.
What Does Vulnerability Mean. In: The Hastings Center Report, Vol. 36, Nº 2 (Mar. - Abr., 2006), p. 41,
trad. livre.
35 Nesse sentido, manifestou-se a Corte Interamericana de Direitos Humanos: “(e)m virtude de sua
empobrecido da população do país continua muito vulnerável, mesmo que possa ter apenas os meios
para sobreviver. Os pobres estão à mercê dos acasos da vida familiar (doenças, acidentes, morte de um
chefe de família, perda de emprego). Apenas ‘redes de segurança’, tais como os fornecidos pela
seguridade social e solidariedade de grupo ou família podem impedir que eles sejam atraídos para a
espiral de adversidade cumulativa. A relação entre pobreza relativa e vulnerabilidade, portanto,
depende não só do rendimento médio, mas também sobre a natureza do tecido social No original:
“The impoverished sector of a country's population remains very vulnerable, even though it may have
the bare means to survive. The poor are at the mercy of the hazards of family life (illness, accidents,
death of a breadwinner, loss of employment). Only ‘safety nets’ such as those provided by social
security and group or family solidarity can prevent their being drawn into the spiral of cumulative
adversity. The relationship between relative poverty and vulnerability therefore depends not only on
average income but also on the nature of the social fabric.” In: FORSTER, Jacques. Reversing the
spiral of vulnerability. International Review of the Red Cross, Genebra, International Committee of the Red
Cross for the International Red Cross and Red Crescent Movement, nº 301, 1994, p. 319, trad. livre.
37 Por serem em certa medida temas conexos, as ponderações de CANÇADO TRINDADE sobre as
(Villagrán Morales y otros) Vs. Guatemala. Mérito. Sentença de 19 de novembro de 1999. Serie C No. 63.
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39 Corte Interamericana de Direitos Humanos. Condición Jurídica y Derechos Humanos del Niño. Opinião
Consultiva OC-17/02 de 28 de agosto de 2002. Serie A No. 17, Voto fundamentado do Juiz Cançado
Trindade, p. 02, §5º, trad. livre. No original: De modo general, es al inicio y al final del tiempo
existencial que uno experimenta mayor vulnerabilidad, frente a la proximidad del desconocido (el
nacimiento y la primera infancia, la vejez y la muerte). Todo medio social debe, así, estar atento a la
condición humana.
40 COSTA, Antonio Carlos Gomes. Natureza e implantação do novo Direito da Criança e do
Adolescente. In: SILVA PEREIRA, Tânia da. (Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei
8.069/90: estudos sociojurídicos. Rio de Janeiro: Ed. Renovar, l992, p. 26. Apud SILVA PEREIRA,
Tânia da. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996.
p.28.
41 AGUIAR, Beatriz; SANTOS, Joseleno. Desenvolvimento da Sexualidade de Crianças e
Adolescentes. In: Castanha, N. (org.). Direitos sexuais são direitos humanos. Brasília: Comitê Nacional de
Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, p. 26.
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42 NEDEFF, Cristiano Carvalho. Contribuições da sexologia sobre a sexualidade do adolescente: uma
revisão bibliográfica. Psico Utp Online – Revista Eletrônica de Psicologia, nº03, Curitiba, out. 2003, p.04.
Disponível em: < http://www.utp.br/psico.utp.online/site3/contribsexologia.pdf>. Acesso em:
08/05/2010.
43 Tratando da construção da sexualidade da criança e de sua suscetibilidade a aceitar diversos tipos de
prática sexual sem oferecer resistência, assevera FREUD: “É instrutivo que a criança, sob a influência
da sedução, possa tornar-se perversa polimorfa e ser induzida a todas as transgressões possíveis. Isso
mostra que traz em sua disposição a aptidão para elas; por isso sua execução encontra pouca
resistência, já que, conforme a idade da criança, os diques anímicos contra os excessos sexuais — a
vergonha, o asco e a moral — ainda não foram erigidos ou estão em processo de construção. (…) Em
condições usuais, ela pode permanecer sexualmente normal, mas, guiada por um sedutor habilidoso,
terá gosto em todas as perversões e as reterá em sua atividade sexual.” FREUD, Sigmund. Obras
Psicológicas completas de Sigmund Freud: Volume VII: Um caso de Histeria, Três ensaios sobre a
sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Rio de Janeiro: IMAGO, 1972, p. 196.
44 AMAZARRAY, Mayte Raya; KOLLER, Silvia Helena. Alguns aspectos observados no
desenvolvimento de crianças vítimas de abuso sexual. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 11, n. 3,
1998 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79721998000300014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05/05/2010. doi: 10.1590/S0102-
79721998000300014.
45 Na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID -10, a pedofilia é incluída
por essa patologia têm como alvo crianças em idade pré-puberal ou que acabaram de
ingressar na puberdade46.
Nesse sentido, afirmam KAPLAN & SADOCK que a pedofilia “envolve
impulso ou excitação sexual recorrente e intensa por crianças de treze anos de idade
ou menos, persistindo por, no mínimo, seis meses.”47 Corroborando essas
afirmações, em estudo sobre os aspectos psicológicos da pedofilia, TRINDADE
assevera que “os pedófilos preferem as crianças que são bem infantis, ou seja, que
parecem ser totalmente inocentes, não são muito conscientes do mundo que as cerca,
e que se mostram mais imaturas para a sua idade. (…) tendem a escolher as crianças
que mostram maior grau de vulnerabilidade”48.
A impossibilidade de se afirmar com absoluta certeza que a reunião desses
fatores internos e externos aumenta o risco de os menores pré-puberes sofrerem esse
tipo de violência reside unicamente no fato de que a determinação de qualquer risco
não pode estar dissociada do cálculo de probabilidades, e esse, por sua vez, só pode
ser realizado com base em dados matemáticos que se aproximem ao minimamente da
realidade. Ocorre que, a existência de elementos estatísticos seguros, infelizmente,
não se verifica no contexto das investigações sobre o abuso sexual, muito menos
quando se trata dos delitos cometidos contra crianças. Ao contrário, os estudos sobre
o tema são enfáticos ao declarar que o silêncio imposto às vítimas tanto pelos
abusadores quanto por seus próprios representantes legais é uma das características
46 No Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais, em seu texto revisado em 2000
(DSM-IV-TR) define-se que “o foco parafílico da Pedofilia envolve atividade sexual com uma criança
pré-púbere geralmente com 13 anos ou menos). O indivíduo com Pedofilia deve ter 16 anos ou mais e
ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança.”
47 KAPLAN H. & SADOCK B. J. Compêndio de Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990, p. 379,
apud TRINDADE, Jorge; BREIER, Ricardo. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2007, p. 19.
48 TRINDADE, Jorge; BREIER, Ricardo. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. Porto Alegre: Livraria do
mais marcantes dessa natureza de delitos49 e que acaba por ocultar grande parte de
suas ocorrências50. Ao tentar estabelecer as razões pelas quais a violência contra a
criança é oculta, não denunciada e, consequentemente “sub-registrada”, a ONU
asseverou que:
49 Cf. a esse respeito, BRAUN, S. A violência sexual infantil na família. Do silencio à revelação do segredo.
Porto Alegre: Editora Age Ltda., 2002.
50 Nesse sentido, cf. MARCHIORI, Hilda. Victimas vulnerables: niños víctimas de abuso sexual.
ILANUD Al Día, San José, Instituto Latinoamericano de las Naciones Unidas Para la Prevención del
Delito y el tratamiento del Delincuente, Ano 14, Nº27, pp.281-291, 2006, p. 281.
51 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Rapport de l’expert indépendant chargé de l’étude
des Nations Unies sur la violence à l’encontre des enfants, A/61/299 (2006), p. 09. No original: “(…)
beaucoup d’enfants ont peur de signaler les incidents de violences dont ils sont victimes. Souvent, les
parents, qui devraient protéger leurs enfants, restent silencieux si l’acte de violence est commis par un
conjoint ou un membre de la famille, un membre plus influent de la société tel qu’un employeur, un
policier ou un dirigeant de la communauté. La peur est intimement liée à la stigmatisation qui entoure
souvent le fait de dénoncer la violence, notamment dans les milieux où « l’honneur de la famille » est
placé au-dessus de la sécurité et du bien-être de l’enfant. En particulier, le viol ou d’autres formes de
violence sexuelle peuvent entraîner l’exclusion, d’autres violences ou la mort.”
59
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Washington, DC: U.S. Department of Justice, Office of Justice Programs, Office of Juvenile Justice
and Delinquency Prevention, 2006.
54 SNYDER, Howard N.; SICKMUND, Melissa. Op. cit. p. 32
55 SNYDER, Howard N.; SICKMUND, Melissa. Op. cit. p.. 31
60
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Washington, DC: National Center for Juvenile Justice, Jul. 2000, p. 02. trad. livre. No original: “One
percent of victims of these crimes was age 54 or older. Seven percent of victims were over age 34
(table 1). Another 12% were ages 25 through 34, and 14% were between ages 18 and 24. The
remainder, over two-thirds (67%) of all victims of sexual assault reported to law enforcement
agencies, were juveniles (under the age of 18 at the time of the crime). More than half of all juvenile
victims were under age 12. That is, 33% of all victims of sexual assault reported to law enforcement
were ages 12 through 17 and 34% were under age 12. Most disturbing is that one of every seven
victims of sexual assault (or 14% of all victims) reported to law enforcement agencies were under age
6”
57 MARCHIORI, Hilda. Victimas vulnerables: niños víctimas de abuso sexual. ILANUD Al Día, San
José, Instituto Latinoamericano de las Naciones Unidas Para la Prevención del Delito y el tratamiento
del Delincuente, Ano 14, Nº27, pp.281-291, 2006, p. 282.
58 No original: “Es muy grande el número, de niñas, niños y adolescentes que son víctimas de esta
forma de violencia. La edad de mayor incidencia es alrededor de la pubertad (de 9 a 12 años de edad)
pero la vemos a cualquier edad, inclusive en bebes”. GORGAL, Alicia Casas. ¿De Qué Hablamos
Cuando Hablamos De Violencia Sexual Hacia Niños, Niñas Y Adolescentes? In: CESARE, Luis A.
(Org). La protección de los derechos de los niños, niñas y adolescentes frente a la violencia sexual. Instituto
Interamericano da Criança, Out. 2003, p. 67. Disponível em:
<http://www.iin.oea.org/La_proteccion_de_los_derechos.pdf>. Acesso em 09/04/2010.
59 Idem.
61
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de todas essas circunstâncias faz com que as crianças sejam alvos mais fáceis de
abuso sexual, determinando-se, assim, a necessidade de serem consideradas
especialmente vulneráveis no que diz respeito à sexualidade.
Uma vez definidos os contornos do conceito de vulnerabilidade e
explicitada sua aplicabilidade no caso das crianças em idade pré-púbere, nos resta
determinar quais são as implicações jurídicas decorrentes da atribuição dessa
característica a uma determinada parcela da população.
De modo geral, verificada a vulnerabilidade de uma parcela da população,
surge para o Estado a obrigação de adotar políticas de compensação capazes de
reduzir as desigualdades de fato em favor dos setores menos favorecidos60. Sobre o
tema, declarou GARCÍA RAMÍREZ que:
60 Sobre a diferenciação de tratamento discriminatório e diferenciado, cf. MACHADO, Isabel Penido
Haven: The Yale Law Journal Company, Vol. 109, No. 3, pp. 507-539, Dez., 1999. pp. 509-510.
63 Idem.
63
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64 No original: “La coerción está presente a través de diferentes maneras, ya sea por presión,
amenazas, chantaje, premios y castigos, seducción, engaño, o más raramente a través de la fuerza
física”. GORGAL, Alicia Casas. ¿De Qué Hablamos Cuando Hablamos De Violencia Sexual Hacia
Niños, Niñas Y Adolescentes? In: CESARE, Luis A. (Org). La protección de los derechos de los niños, niñas y
adolescentes frente a la violencia sexual. Instituto Interamericano da Criança, Out. 2003, p. 54. Disponível
em: <http://www.iin.oea.org/La_proteccion_de_los_derechos.pdf>. Acesso em 09/04/2010.
65 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à lei 12.015, de 7 de
68 ESTEFAM, André. Crimes Sexuais: Comentários à Lei n. 12015/2009. São Paulo: Saraiva, 2009. p.
58.
69 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p.
481.
70 BARROS, Francisco Dirceu. Vulnerabilidade nos Novos Delitos Sexuais. Jornal Carta Forense,
71 NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à lei 12.015, de 7 de
agosto de 2009. São Paulo: RT, 2009. p. 37.
72 A título exemplificativo, cf. NUCCI, op. cit., p. 37 e ESTEFAM, op. cit., p. 59.
66
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74 No original: “The notion of 'innocence' and, therefore, the potential for the loss of innocence can
also facilitate further victimization: The sexually victimized child may be viewed neither as a child nor
as an adult but rather as a piece of'damaged goods' lacking the attributes of both childhood and adult
(…)(Sgroi, 1982: 114). A child who is known to be a victim of sexual abuse is often subject to further
exploitation: 'a bizarre spin-off of the labelling process is the fascination the girl presents to others....
Publicly deflowered as she is, she is regarded as no longer deserving respect or protection' (Summit
and Kryso, 1978: 244). Innocence, then, is a problematic concept because it is itself a sexual
commodity and because a child who is anything less than 'an angel' may be seen as 'fair game', both by
the courts and by other men who will avail themselves of a child they know has previously been
abused (Ward, 1984: 159; Sarnacki Porter et al., 1982: 114)”. KITZINGER, op. cit., p. 81.
68
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3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
75 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. REsp 252827/GO , Rel.: Min. Ministro
FELIX FISCHER , ac. de 08/08/2000, DJ de 04/09/2000 p. 183, LEXSTJ vol. 137 p. 390.
76 GUERRINA, Britton. Mitigating Punishment for Statutory Rape.The University of Chicago Law Review,
BARROS, Francisco Dirceu. Vulnerabilidade nos Novos Delitos Sexuais. Jornal Carta
Forense, 02/03/2010. Disponível em:
<http://www.cartaforense.com.br/Materia.aspx?id=5314>. Acesso em:
10/05/2010.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. REsp 252827/GO , Rel.: Min.
Ministro FELIX FISCHER , ac. de 08/08/2000, DJ de 04/09/2000 p. 183, LEXSTJ
vol. 137 p. 390.
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002.
DUPRET, Cristiane. Manual de Direito Penal. Niterói: Editora Impetus, 2009, Adendo
Lei nº 12.015/2009.
70
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FORSTER, Jacques. Reversing the spiral of vulnerability. In: International Review of the
Red Cross, Genebra, International Committee of the Red Cross for the International
Red Cross and Red Crescent Movement, nº 301, 1994, pp 318-326.
FRANCO, Alberto Silva; SILVA, Tadeu. Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial.
8ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
GORGAL, Alicia Casas. ¿De Qué Hablamos Cuando Hablamos De Violencia Sexual
Hacia Niños, Niñas Y Adolescentes? In: CESARE, Luis A. (Org). La protección de los
derechos de los niños, niñas y adolescentes frente a la violencia sexual. Instituto Interamericano
da Criança, Out. 2003. Disponível em:
<http://www.iin.oea.org/La_proteccion_de_los_derechos.pdf>. Acesso em
09/04/2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal– Parte Especial. Niterói: Editora Impetus,
2009, Adendo Lei nº 12.015/2009.
GRAZ, Liesl. A question of vulnerability. In: Red Cross, Red Crescent, International Red
Cross and Red Crescent Movement, Genebra, nº03, 1997, Disponível em: <
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HAREL, Alon; PARCHOMOVSKY, Gideon. On Hate and Equality. The Yale Law
Journal, New Haven: The Yale Law Journal Company, Vol. 109, No. 3, Dez., 1999,
pp. 507-539.
HOFFMASTER, Barry. What Does Vulnerability Mean. In: The Hastings Center Report,
Vol. 36, Nº 2 (Mar. - Abr., 2006), pp. 38-45.
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MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado, Ed. Atlas, SP, 1999,
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à lei 12.015,
de 7 de agosto de 2009. São Paulo: RT, 2009.
73
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SNYDER, Howard N.; SICKMUND, Melissa. Juvenile Offenders and Victims: 2006
National Report. Washington, DC: U.S. Department of Justice, Office of Justice
Programs, Office of Juvenile Justice and Delinquency Prevention, 2006.
TELES, Ney Moura. Direito Penal – Parte Especial, vol. 3, 2ª Ed, São Paulo: Atlas:
2006.
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RESUMO
O presente estudo tem por objetivo fazer uma análise das garantias processuais do
réu no processo penal do Estado Democrático de Direito, bem como a efetividade
destes direitos no Brasil. Sabemos que, no nosso direito, o devido processo penal é o
procedimento pelo qual o Estado aplica a pena de forma legal. Tal procedimento
necessita, para ser legítimo, atender aos princípios e garantias processuais previstos
na lei vigente, principalmente a Constituição Federal. O que vemos, porém, embora
estejam a igualdade e a imparcialidade entre os mandamentos de maior expressão, é o
réu ocupando a posição de parte mais fraca, visto que precisa “lutar” contra todo o
aparato punitivo estatal, contando, muitas vezes, apenas com um defensor dativo
com o qual não articulou uma boa defesa. Faz-se necessário, portanto, rígida
observância de princípios como in dubio pro reo, legalidade (CF, art. 5º, II), vedação ao
tratamento desumano ou degradante (CF, art. 5º, III), juiz natural (CF, art. 5º,
XXXVII ), honra e intimidade (CF, art. 5º, X) , entre outros, sem a qual o processo
padecerá de vícios capazes de causar sua ilegitimidade. Vale destacar, também a
moderna concepção do direito penal mínimo, segundo a qual o direito penal deve
buscar o máximo bem-estar possível dos não desviantes e o mínimo mal-estar
necessário dos desviantes. Enfim, num Estado que consagra como objetivos
fundamentais “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (Art. 3º, I) e livre (IV),
não se deve conceber as flagrantes violações aos direitos e garantias fundamentais do
réu que temos visto nos noticiários.
1 Graduando do 3º ano de Direito da Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Campus
Franca.
Membro do Grupo de Pesquisas Avançadas em Direito Processual Civil Brasileiro e Comparado da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus Franca.
E-mail: rafael.aroucarosa@hotmail.com .
Lattes: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalheest.jsp?est=9419860194836307.
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oriundos das classes mais abastadas) e aquele que se senta no banco dos réus (na
maioria dos casos advindo das classes desfavorecidas economicamente).
Tais obstáculos não podem ser admitidos na atual fase da instrumentalidade
em que se encontra o processo, que passa a ser, além de meio para compor a lide,
instrumento de participação política (compreendida esta na cidadania), e de busca
para a consecução dos objetivos do Estado, elencados no artigo 3º da Constituição,
entre os quais a erradicação da pobreza e a construção de uma sociedade livre e
igualitária.
Paralelamente a isto, os nossos já altíssimos índices de criminalidade
continuam a subir, chegando, em alguns casos, a afrontar a soberania e as bases de
nosso sistema democrático. Isto é o que ocorre nos interiores de algumas das grandes
favelas brasileiras, nas quais traficantes de drogas e milícias ditam as regras,
chegando, até mesmo, a impedir a entrada da polícia.
Como forma de frear a expansão desordenada da criminalidade, surgem
muitas vezes, sugestões que não encontram amparo em nosso sistema constitucional,
nem nas modernas doutrinas de direitos humanos, tais como penas de morte, prisão
perpétua e afins, as quais, como se demonstra a cada dia, falham no desempenho da
atividade de prevenção dos delitos.
A tais proposições, se opõem, também, a teoria do direito penal mínimo,
que defende a intervenção do Estado somente no que for estritamente necessário, de
forma contrária à banalização do direito penal e à agravação das penas como formas
de conter a expansão da criminalidade.
O presente estudo tem por objetivo fazer uma análise de alguns dos direitos
processuais do réu em nosso sistema jurídico, análise esta que tem sua importância
no fato de o acusado ocupar a posição de parte mais frágil da relação processual
penal, e, consequentemente, ter suas garantias constitucionais desrespeitadas com
freqüência consideravelmente maior.
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2. Princípios
2 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios de processo civil na Constituição Federal. 8. ed. rev.,
158.
4 MACHADO, op. cit., p. 158.
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A observância de tal princípio é conditio sine qua non para a aplicação de penas
em nossa ordem constitucional, seja o processo de natureza civil, militar, administrativa,
penal, etc.
2.2 O princípio da justa causa
5 Idem, op. cit., p. 168.
6 Idem, op. cit. p. 167.
7 CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Trad. José Antonio Cardinalli. [s.l.]:
CONAN, 1995.
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10 BRASIL, STF, Plenário, HC 100.311/RS, Rel. Min. Cezar Peluso. 09 mar. 2010.
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11 DIÁRIO DE CUIABÁ. Lavrador é preso por raspar casca de árvore. Cuiabá: Diário de Cuiabá,
2000.
Disponível em: <http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=9595>. Acesso em 20 mai.
2010.
12 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: Teoria do garantismo penal. 2. ed. ver. e ampl. Tradução
de Ana Paula
Zomer et al. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. passim.
13 DESTAK. Prisões do ES são denunciadas na ONU. São Paulo: Destak, 2010. Disponível em:
14 MACHADO, op. cit., p. 161.
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atuais, embora seja a segunda a ser defendida pelo direito penal, juntamente com a
primeira, de prevenir os delitos.
Embora o sistema elaborado por Ferrajoli choque à primeira vista por trazer
um novo paradigma, uma vez que defende, ao invés do aumento desenfreado com
fins de prevenção, a redução e o controle das penas, tal ideia mostra-se muito mais
coerente com o nosso ordenamento constitucional, de viés garantista, e que preza
pela dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), ao qual a realidade dos sistemas
processual e de execução penal brasileiros tem se mostrado paradoxalmente
indiferentes.
4. Conclusão
BRASIL, STF, Plenário, HC 100.311/RS, Rel. Min. Cezar Peluso. 09 mar. 2010.
BRASIL, STF, Plenário, HC 100.574/MG, Rel. Min. Celso de Mello, DJE 218, nov.
2009.
MACHADO, Antônio Alberto. Teoria geral do processo penal. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.
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RESUMO
Todo o sistema penal, portanto, gira em torno de qual será a pena aplicada
ao réu considerado culpado ao fim do processo. Ele assim foi construído para poder
realizar tal tarefa de forma justa, estabelecendo princípios e normas que devem ser
obedecidos continuamente.
Uma vez que a pena e, mais especificamente, o quantum desta é o objetivo
final da prestação jurisdicional do Estado, o seu estudo é de fundamental
importância. As diversas interpretações do texto legal podem gerar resultados de
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O juiz, pois, nos limites que a lei impõe realiza uma tarefa de
ajustamento da resposta penal em função não só das
circunstâncias objetivas, mas principalmente da pessoa do
denunciado, e, também, do comportamento da vítima. (2003, p.
53)
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Pelo texto supra percebe-se que a posição do STJ em vedar que a atenuante
reduza a pena abaixo do mínimo legal fundamenta-se no sentido de ser aquele (limite
cumulado ao tipo penal) uma barreira intransponível em virtude dos princípios
constitucionais penais da legalidade (art. 5º, inc. XXXIX) e da pena cominada (art. 5º,
inc. XLVI).
O princípio da legalidade configura-se como verdadeira restrição ao poder
estatal de intervir na esfera das liberdades individuais, isso porque ele determina que a
elaboração de normas incriminadoras e suas respectivas sanções constituem matéria
reservada ou função exclusiva da lei (TOLEDO, 2007, p. 21).
Ao entendimento do STJ, o inciso II do art. 59 do CP, que impede o juiz de
ultrapassar os limites legais da pena cominada ao tipo no momento da determinação
da pena, é aplicável tanto na fase das circunstâncias judiciais quanto na aplicação das
atenuantes e agravantes. Dessa forma, o reconhecimento da atenuante de maneira a
reduzir a pena abaixo do mínimo legal ou de uma agravante que ultrapassasse o teto
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máximo entraria em choque com o referido princípio, visto que, nestas fases o
quantum da variação da pena não foi estipulado pelo legislador, mas sim é calculado
de acordo com a faculdade que o juiz tem de se determinar conforme seu livre
convencimento.
Alega ainda que tais limites somente podem ser ultrapassados em razão das
causas de aumento ou de diminuição, quando o legislador, afastando a
discricionariedade do juiz, expressamente estabeleceu as frações de variação
aplicáveis às penas.
Contudo, a fundamentação apresentada pelo egrégio Tribunal Superior
apresenta falhas graves, especialmente quando leva-se em conta sua função
primordial como tribunal garantidor das leis infraconstitucionais.
Haja vista que o atual Estado Democrático de Direito fundamenta-se num
conjunto de normas que formam o ordenamento jurídico e que tal grupo normativo
deve ser coeso sob pena de tornar-se ineficaz, ao se deparar com uma polêmica cabe,
tanto ao doutrinador quanto ao magistrado, buscar refúgio e inspiração dentro
daquele aglomerado, realizando uma interpretação conjunta das normas existentes e
buscando a coesão do todo.
Desde o princípio geral do Direito Processual Penal do in dubio pro reu até a
defesa da imposição da prisão somente como ultima ratio, por todo o ordenamento
espalham-se diversas normas que se traduzem em benefícios concedidos ao
condenado. Tal fato decorre da política criminal existente que procura reduzir os
profundos danos que naturalmente decorrem do encarceramento.
A Constituição Federal assinala como direitos fundamentais o direito à vida,
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Essa limitação intransponível não deve ocorrer nas atenuantes, haja vista que
o seu reconhecimento pode vir a levar a pena provisória abaixo do mínimo legal. No
caso da agravante, ao contrário, isso exacerbaria a pena por demasiado, prejudicando
imensamente o condenado – o que não merece prosperar, como explanado acima.
Sobre o tema refletem Jorge de Oliveira Vargas e Felipe Heringer Roxo da Motta:
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4 CONCLUSÃO
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não há no Código Penal qualquer referência sobre qual é o quantum a ser utilizado
na segunda fase da dosimetria.
A doutrina e a jurisprudência, agindo de forma a tentar completar as lacunas
do ordenamento, procurou estabelecer parâmetros ultra legem, via de regra utilizando-
se da analogia. Dessa forma, o STJ publicou a súmula 231, que veda a utilização da
circunstância atenuante para fixar a pena abaixo do limite inferior cominado e, em
decisões recorrentes, os tribunais vem adotando a fração de 1/6 sobre a pena-base
fixada como quantum aplicável tanto às atenuantes quanto às agravantes.
No tocante à súmula, ao analisar o disposto pelo STJ, percebe-se que a
Corte realiza uma leitura contra legem do artigo 65 do CP, completamente ignorando o
texto do dispositivo retro em clara negativa de vigência ao texto infraconstitucional.
Ainda, num processo de analogia in malem partem, o STJ expandiu o alcance do inciso
II do artigo 59, buscando dar ares de legalidade à interpretação feita. Como se
demonstrou no desenvolvimento deste trabalho, a analogia no Direito Penal possui
aplicação restritíssima, apenas podendo ser feita a favor do réu. Novamente, patente
é a violação dos princípios constitucionais.
Além disso, em função do texto expresso do art. 65, CP, que diz que tais
circunstâncias “sempre” atenuam a pena, e do art. 68, CP, que impõe a realização
obrigatória das três fases da dosimetria, não há duvida sobre a validade da aplicação
das atenuantes para fixar a pena provisória abaixo do mínimo legal. Não há, no caso,
qualquer espaço para uma leitura diversa da aqui apontada, haja vista a cristalina
posição adotada pelo legislador, obviamente deturpada pelo STJ.
A súmula 231, dessa forma, fere o principio da legalidade, ao ignorar a
orientação expressa do legislador presentes nos artigos supra citados; e
simultaneamente, o princípio da individualização da pena, haja vista que não permite
que o juiz sopese os pormenores do fato e calcule a real culpabilidade do agente.
Também, na medida que a súmula francamente impõe a realização do processo da
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOMES, Luiz Flávio. Reformas penais (XV): pena abaixo do mínimo legal. In Juris
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GRECO, Rogério. Curso de Direito Prnal: parte geral. 4. ed. Niterói: Impetus,
2004.
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NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 8. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral parte especial.
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OLIVEIRA, Eugenio Pacelli. Curso de Processo Penal. 10. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2008.
PRADO, Luiz Regis. Comentários ao Código Penal. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.
QUEIROZ, Paulo. Pode o juiz fixar pena abaixo do mínimo legal? In Boletim
IBCCRIM nº 112. Março 2002. Disponível em <http://www.ibccrim.com.br>
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RESUMO
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INTRODUÇÃO
1Durante nossa participação como estagiária do CJS, a Cadeia Pública de Batatais/SP era ainda
masculina, e o Projeto Cadeia era realizado no anexo da Delegacia de Polícia de São José da Bela
Vista/SP. Devido à intervenção do Ministério Público Estadual de Franca, a unidade prisional de São
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Paulo César de Souza) cujo original, em 1878, inaugura a maturidade do pensamento de Nietzsche
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4 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. 30ª edição. Petrópolis:
Vozes, 2005.
5GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes.
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8Informações on-line em http://www.mj.gov.br/depen. Acesso aos 20 de outubro de 2009.
9BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. 6ª ed. Traduzido por Sérgio Milliet. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1980.
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Nesse sentido, crucial foram as leituras das obras de Olga Espinoza10, Judith
Butler11 e Julita Lemgruber, que trazem á tona os problemas de gênero como
instrumentos de subversão da identidade feminina. O mote, comum, é o cárcere
enquanto instituição total.
Por entendermos ser crucial que o escritor situe-se no tempo e no espaço,
restringimos o nosso olhar territorialmente sobre a hipótese paulista, e,
historicamente, às políticas penitenciárias implementadas a partir da segunda metade
da década de setenta. Os estudos de Fernando Salla12 desenvolvidos junto ao Núcleo
de Estudos da Violência (NEV) da USP13 inspiraram nossa compreensão dos
acontecimentos políticos e governamentais em São Paulo.
Nossa tentativa é vislumbrar uma aproximação entre a filosofia da
libertação, cujo lastro teórico não poderia ser outro que não Enrique Dussel14, e o
Direito, fomentando uma nova hermenêutica e concepção da cidadania à luz de sua
fundamentalidade no Estado Democrático de Direito brasileiro. Recorrendo a Michel
Miaille15, buscaremos contribuir para “fazer aparecer o invisível”, a partir de uma
categoria de exterioridade. Propugnamos pelo gozo necessário dos direitos
fundamentais, inclusive, pelas mulheres encarceradas. Para tanto, cumpre denunciar
que o Estado, através de seu sistema e políticas carcerárias, voltadas única e
exclusivamente ao paradigma masculino hegemônico, impede a eficácia expansiva e
10 ESPINOZA, Olga. A mulher encarcerada em face do poder punitivo. São Paulo: IBCCRIM,
2004.
11 BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 2ª ed. Rio de
Maissiat. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2005. Do mesmo autor: Ética da libertação na idade da
globalização e da exclusão. 2 ed. São Paulo: Vozes, 2002.
15 MIAILLE, Michel. Introdução crítica ao direito. 2ª edição. Trad. Ana Prata. Lisboa/Pt: Estampa,
1994. P.21.
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(13.491, 3%) e Santa Catarina (12.654, 3%) somados! Em um ranking dos Estados
com maior população carcerária, São Paulo desponta em primeiro lugar com uma
população igual à soma dos 2º à 8º colocados.
Embora os números não possam expressar em sua completude a dimensão
humana do sistema prisional, podemos, a partir da plataforma on-line do DEPEN,
adquirir uma compreensão mais concreta de nossa realidade penitenciária, uma vez
que o InfoPen disponibiliza regularmente dados atualizados e detalhados sobre a
população carcerária e respectiva estrutura prisional.
Conforme foi dito, São Paulo possui uma população carcerária de 158.704
pessoas, sendo que sua capacidade é de 99.074 presos. A superlotação das cadeias e
penitenciárias paulistas é uma constante, já que o seu trabalha com um déficit de 33%
de suas vagas. Quanto à sua estrutura, precária, o sistema conta com 132
estabelecimentos penais, sendo 121 masculinos e apenas 11 femininos. Desses
recintos, 77 são penitenciárias, 13 são colônias agrícolas, 38 são cadeias públicas e há
ainda quatro hospitais de custódia e tratamento. Inexistem casas de albergados.
Os dados revelam ainda uma insuficiência no número de servidores
penitenciários. São Paulo conta atualmente com 29.011 servidores16, sendo que 1.862
pertencem ao quadro administrativo, 25.583 são agentes penitenciários (estima-se um
agente para cada grupo de seis presos), 341 são assistentes sociais e apenas 1.225 são
profissionais da área da saúde. São números alarmantes por demonstrarem a escassez
de servidores para tratar significativa parcela dos cidadãos.
16 De acordo com os indicadores do InfoPen – referência 6/2009 – não há estimativas de quantos
destes servidores (funcionários públicos na ativa) estão lotados em presídios masculinos ou femininos.
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17 Nesse sentido, desconsideramos, ainda, o fato de a extensão territorial do Estado de São Paulo
dificultar o deslocamento desses médicos da Capital (onde provavelmente encontram-se lotados) para
o interior. Consideramos que referido deslocamento, se existente, é realizado em outro horário, que
não o do expediente.
18 Muito provavelmente referidos ginecologistas trabalham no tratamento antes do que na prevenção e
manutenção da saúde feminina, pois não teriam tempo hábil para atender a demanda e ainda se
deslocar pelos inúmeros municípios paulistas, ou sequer na Grande São Paulo.
125
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19Lembrando que estamos trabalhando com um total de 148.943 pessoas encarceradas.
204.257 homens não informaram o seu grau de instrução (cerca de 3% do total dos homens
encarcerados).
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21 VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das letras, 1999. P.90 e 91.
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corroboram o relato de Varella. A cadeia em pauta possuía quatro celas de 6m² cada,
e era destinado à uma população carcerária flutuante de 45 a 60 pessoas. As celas
eram dispostas uma ao lado da outra, em fila única, dispostas no mesmo corredor.
Ventilação, iluminação e água potável eram “luxos” com os quais o sistema
penitenciário “não podia arcar”. Amontoadas, as mulheres passavam a maior parte
do tempo deitadas no chão encostadas umas às outras. O ar estagnado aliado à
precária higiene das presas e limpeza do local não poderia acarretar outra
conseqüência: doenças de pele, das mais variadas. A sarna reinava triunfante e a
maior reclamação das presas era a insuficiência de remédio para combater a “praga”.
Aliás, as reclamações eram ironicamente entonadas para sugerir que o remédio,
quando existente, tinha destino certo: as “queridinhas” do cárcere.
Outra consideração a ser feita é que o presidiário brasileiro é um cidadão
em idade produtiva, já que mais da metade dos encarcerados possui entre 18 e 29
anos de idade. Críticas a parte sobre os impactos que este fato causa na realidade
brasileira – mormente no que tange á condição social e econômica das famílias
dependentes destes detentos e que acabam sofrendo grande impacto em seu nível de
vida via reflexa ao encarceramento – centremos nosso olhar sobre o dia-a-dia desses
cidadãos. São raras as instituições que investem em programas de trabalho (somente
41.863 presos têm acesso a algum tipo de trabalho interno ou externo ao sistema
prisional) e, quando os estabelece, o faz de modo insatisfatório, já que o número de
vagas oferecidas é insuficiente para alocar todo o contingente carcerário e,
principalmente, não atende as particularidades profissionais dos presos.
Os trabalhos dispostos aos presos, além daqueles comumente dispensados à
manutenção do próprio prédio prisional (faxina, pequenos trabalhos burocráticos,
cozinha, pequenos reparos...), são muitas vezes subempregos que atendem antes aos
interesses do particular explorador dessa “mão de obra” do que à própria legislação
trabalhista. Má remuneração (quando existente), exploração e trabalhos artesanais
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22DUSSEL, 1980, p.11.
23BEAUVOIR, Simone de. O SEGUNDO SEXO. 6ª edição. Traduzido por Sérgio Milliet. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1980. P.9.
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24 BEAUVOIR, Simone de. Op. Cit. P.12.
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25 BEAUVOIR, Simone de. Op. Cit. P.13.
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28 ESPINOZA, Olga. A mulher encarcerada em face do poder punitivo. São Paulo: IBCCRIM,
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31 Acesso aos 20 de novembro de 2009.
http://www.jornaldeluzilandia.com.br/pontocritico.php?dia=01&mes=10&ano=2009
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reside na própria visão que a totalidade impôs á mulher, enquanto “outro”. Segundo
Beauvoir32:
32 BEAUVOIR, Simone de. O SEGUNDO SEXO. 6ª edição. Traduzido por Sérgio Milliet. Rio de
Editora Nova Fronteira. Obra em fascículos encartados na Folha de S.Paulo, 1995. P. 344 e 446.
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35CHIES, Luiz Antônio Bogo et al. A prisão dentro da prisão: sínteses de uma visão sobre o
encarceramento feminino na 5ª região Penitenciária do Rio Grande do Sul. In Revista brasileira
de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 17, n.79, jul.-ago./2009. P.262.
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a um segundo plano: são as últimas a receber refeições, ficam na pior cela, utilizam os
espaços coletivos (pátios) nos piores horários e em menor tempo. Outra constatação
deplorável é a utilização do mesmo “seguro” (local onde o preso cumpre pena de
castigo por infração disciplinar) para homens e mulheres. Segundo relato das presas,
o uso comum do “seguro” propicia, inclusive, a disseminação de doenças nas
mulheres.
Ainda segundo o Gitep, o encarceramento feminino possui alguns
desdobramentos específicos, pois tanto as questões psicossociais como as
socioculturais, como questões conjunturais, agregariam outras dimensões, mais
potencializadas, por assim dizer.
A mulher passa por um processo de estigmatização desde a infância36.
Beauvoir chega mesmo a afirmar que ninguém nasce mulher, torna-se. Com isso, a
filósofa existencialista introduz o questionamento do processo cultural de
estigmatização feminina. Desde o seu nascimento, o indivíduo do sexo feminino
passa a ser “educado” (adestrado) para incorporar vários valores “femininos”: desde
o processo de identificação (nomes), até o processo de “catalogação” (vestuárias
diferenciadas, cores específicas, posturas sociais necessárias). Findo o processo (se é
que possui fim), o indivíduo é mulher (o verbo “ser” é aqui empregado no sentido de
ter-se tornado).
Homens e mulheres são iguais. Não obstante a evidência da afirmação retro,
a especificidade do gênero feminino atuou e atua como um peso no desenvolvimento
da mulher em sua potencialidade humana, funcionando mesmo como empecilho, em
determinados casos, para a sua realização enquanto “homem”, no sentido amplo.
36 Segundo Mariana Bachin: “As relações de gênero surgem a partir de representações estereotipadas
do que vem a ser o feminino e o masculino. Se elaboram como parte do processo de identificação de
gênero, que perpassa espaços como a família, a escola e o contexto social. (Ninguém é mulher
impunimente: a opressão de gênero no sistema prisional brasileiro. TCC, Unesp/Franca, 2007.
P. 19).
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DUSSEL, Enrique. Filosofia da Libertação: crítica à ideologia da exclusão. Trad. Georges
37
DUSSEL, Enrique. Op. Cit. P.49.
38
39BRAGA, Ana Gabriela Mendes. A identidade do preso e as leis do cárcere. Dissertação de
mestrado. Usp, 2008.
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CONCLUSÕES
feminino;
h) As mulheres encarceradas passam a constituir um “outro”
estigmatizado;
i) Uma nova categoria é possível, sendo a exterioridade uma importante via
de visibilização feminina;
j) Referida visibilização é necessária para a humanização da humanidade.
Referências Bibliográficas
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 6ª edição. Traduzido por Sérgio Milliet.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
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CHIES, Luiz Antônio Bogo et al. A prisão dentro da prisão: sínteses de uma
visão sobre o encarceramento feminino na 5ª região Penitenciária do Rio
Grande do Sul. In Revista brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos
Tribunais, ano 17, n.79, jul.-ago./2009.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. 30ª edição.
Petrópolis: Vozes, 2005.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das letras, 1999.
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RESUMO
Período.
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1 INTRODUÇÃO
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2 EXACERBAÇÃO PUNITIVA
3 SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. A expansão do Direito Penal: aspectos da política criminal nas
sociedades pós-industriais. Trad. Luiz Otavio de Oliveira Rocha. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. – (Série as ciências criminais no século 21; v. 11). p. 38.
154
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155
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de ser o mais relevante, volvendo-se os olhos para quem a pratica, logo, Direito
Penal do autor e não do fato.
3.1 Apresentação
5 SANTOS, Juarez Cirino dos. O direito penal do inimigo – ou o discurso do direito penal desigual.
Disponível em: < www.icpcjur.com.br/images/direito_penal_do_inimigo.pdf>. Acesso em: out.
2009.
6 JAKOBS, Günther. 2008. p. xxv.
7 Ibidem, p. xxv.
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3.2 Conceito
8 JESUS, Damásio de. Direito Penal do Inimigo[1]: Breves Considerações. Disponível em: <
sociedades pós-industriais. Trad. Luiz Otavio de Oliveira Rocha. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. – (Série as ciências criminais no século 21; v. 11). p. 150.
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10 JAKOBS, Günther. 2008, p. xxv.
11 Ibidem. p. 1.
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[...] mas sim provocar um efeito, o que quer dizer que ela não se
aplica ao sujeito de direito, mas sim ao indivíduo perigoso. Isso
deveria ficar especialmente claro quando se passa do efeito
assegurador da pena privativa de liberdade para a custódia de
segurança como medida; nesse caso, o olhar volta-se não apenas
para trás, para o fato a ser julgado, mas também, principalmente,
para frente, para o futuro.13
12JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. org. e trad.
André Luís Callegari, Nereu José Giacomolli. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 21.
13 JAKOBS, Günther. 2008. p. 2-3.
14 Ibidem, p. 3.
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observa os mesmos parâmetros, posto que ele não está inserido nesse vínculo
jurídico. Assim, o tratamento a ele destinado não é determinado pelo Direito. Aos
inimigos, a coação. Jakobs fundamenta ainda, com apoio em Hobbes e Kant, que o
status de cidadão não é necessariamente algo que não se pode perder, posto que “não
se trata como pessoa quem me ‘ameaça... constantemente’, quem não se deixa coagir
ao estado de civilidade”15.
Para que um sujeito possa ser considerado pessoa, na perspectiva de Jakobs,
deve se comportar de tal maneira que nele se observe participação,
comprometimento, e lealdade jurídica suficiente. A convivência social cria
expectativas de comportamento pessoal e quando essas expectativas são frustradas de
maneira duradoura, isto é, o indivíduo “não age de maneira relativamente confiável
prestando e prometendo lealdade jurídica, deixaria de ser considerado pessoa, seria um
indivíduo perigoso a quem o Direito Penal do Inimigo se destinaria”16.
O Direito Penal do Cidadão, nessa ótica, estaria destinado a regular a vida
daqueles que prometem lealdade jurídica e não delinqüem de “modo contumaz por
princípio - e um Direito Penal do Inimigo contra aqueles que se desviam por
princípio; este exclui, enquanto aquele deixa intocado o status de pessoa”17.
Entretanto, não é demais lembrar, que esses modelos de Direito Penal subsistem
dentro do mesmo contexto e
15 Ibidem, p. 7.
16 CHAMON JUNIOR, Lúcio Antônio. O Direito Penal do Inimigo e o Constitucionalismo: mise-em-scène de
uma proposta funcionalista. Artigo analítico inserido ao final da obra de Jakobs (2008, p. 131).
17 JAKOBS, Günther. 2008. p. 7.
18 Ibidem, p. 47.
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19 Ibidem p. 41.
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23 SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. 2002. p. 149.
24 JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. 2008. p. 29.
25 JAKOBS, Günther. 2008. p. 38.
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32Ibidem, p. 71-72.
33ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: Parte
Geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 117-118, apud MORAES, Alexandre Rocha Almeida
de. Direito Penal do inimigo: a terceira velocidade do Direito Penal. Curitiba: Juruá, 2008. p. 266.
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garantias de todos os cidadãos diante do poder punitivo, dado que não sabemos ab
initio quem são essas pessoas”34.
Jakobs teorizou sobre a necessidade de todos os indivíduos ofertarem
segurança cognitiva mínima, isto é, demonstrarem determinado grau de fidelidade à
norma para que possam ser considerados pessoas. Entretanto, o posicionamento de
Zaffaroni se assenta também na impossibilidade de relativização do conceito de
pessoa, pois “a negação jurídica da condição de pessoa ao inimigo é uma característica
do tratamento penal diferenciado que lhe é dado, porém não é a sua essência, ou seja,
é uma conseqüência da individualização de um ser humano como inimigo, mas nada
nos diz a respeito da individualização em si mesma”35.
O catedrático argentino afirma ainda que
Juarez Cirino dos Santos aponta que “a ingenuidade desse direito penal do
inimigo não está em apostar na violência do Estado sobre o indivíduo - afinal, um
dado universal, mas em ignorar as aquisições científicas sobre crime e controle social
nas sociedades atuais” 37. Além disso, destaca no mesmo texto:
38 SANTOS, Juarez Cirino dos. O direito penal do inimigo – ou o discurso do direito penal desigual.
Disponível em: < www.icpcjur.com.br/images/direito_penal_do_inimigo.pdf> Acesso em: out. 2009.
39 ZAFFARONI, 2007. p. 192.
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40 CARVALHO, Amilton Bueno de; CARVALHO, Salo de. Aplicação da pena e garantismo. 3. ed. ampl.
41 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. p. 84-85.
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I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito
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pretende do processo afeta os pressupostos das condenações e das penas e não das
absolvições e da ausência de penas”42.
Zaffaroni salienta que “referir-se a um direito penal garantista em um Estado
de direito é uma redundância grosseira, porque nele não pode haver outro direito penal
senão o de garantias, de modo que se supõe que todo penalista, nesse marco, é
partidário das garantias, isto é, garantista”43. E arremata:
Para que seja possível trilhar o mesmo caminho percorrido pelo juiz ao fixar
a pena é preciso saber qual direção ele seguiu. Decisões que não possibilitam essa
digressão ferem previsão constitucional, uma vez que os julgamentos do poder
judiciário serão públicos e as decisões fundamentadas, consoante o disposto no art.
93, IX, da Constituição Federal.
42 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. p. 85.
43 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. 2007. p. 173.
44 Ibidem.
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45 FAYET, A Sentença Criminal e suas Nulidades, p. 49-50, apud CARVALHO, Amilton Bueno de;
CARVALHO, Salo de. Aplicação da pena e garantismo. 3. ed. ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p.
32.
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não pode ser confundida com arbitrariedade. Nucci assim conceitua a fixação da
pena:
Não basta ao juiz apenas fazer referência ao art. 59, CP, pois o acusado tem
o direito de saber qual a razão da punição e o porquê desta e não daquela pena. Citar
de forma genérica as circunstâncias previstas no artigo não realiza seu desiderato.
Sentenças dessa natureza, por vezes, acobertam razões de decidir que não se
amoldam aos princípios e garantias fundamentais em matéria penal. Os Tribunais
têm anulado repetidamente decisões que aplicam a pena acima do mínimo sem a
46 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9. ed. rev. atualiz.. ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008. p. 388.
47 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. Porto Alegre: Sérgio Fabri, 1991, apud GALVÃO,
Fernando A. N. Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Impetus, 2004. p. 691.
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176
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6 CONCLUSÃO
51 CHAMON JUNIOR, Lúcio Antônio. O Direito Penal do Inimigo e o Constitucionalismo: mise-em-scène de
uma proposta funcionalista. Artigo analítico inserido ao final da obra de Jakobs (2008, p. 131).
51 JAKOBS, Günther. 2008. p. 7.
52 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. p. 86.
177
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53 SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. A expansão do Direito Penal: aspectos da política criminal nas
sociedades pós-industriais. Trad. Luiz Otavio de Oliveira Rocha. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002. – (Série as ciências criminais no século 21; v. 11). p. 151.
179
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Código Penal: Legislação Penal, Constituição Federal. 12. ed. rev. ampl.
atualiz. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1007.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.
MORAES, Alexandre Rocha Almeida de. Direito Penal do inimigo: a terceira velocidade
do direito penal. Curitiba: Juruá, 2008.
GALVÃO, Fernando A. N. Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.
180
I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito
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JAKOBS, Günther; Meliá, Manuel Cancio. Direito Penal do inimigo: noções e críticas.
org. e trad. André Luís Callegari, Nereu José Giacomolli. 3. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2008.
JESUS, Damásio de. Direito Penal do Inimigo[1]: Breves Considerações. Disponível em:
< http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10836f> Acesso em: out. 2009.
JÚNIOR, Otávio Binato. Do Estado social ao Estado penal: o direito penal do inimigo
como novo parâmetro de racionalidade punitiva. 2007. 198f. Dissertação (Mestrado
em Direito) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2007.
MORAES, Alexandre Rocha Almeida de. Direito Penal do inimigo: a terceira velocidade
do Direito Penal. Curitiba: Juruá, 2008.
MORAES, Vinícius Borges de. O Direito Penal do inimigo e a concretização dos direitos
fundamentais: um estudo sobre a presença da teoria de Günther Jakobs no
ordenamento jurídico brasileiro. 2009. 187f. Dissertação (Mestrado em Direito) -
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2009.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9. ed. rev. atualiz. ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
SANTOS, Juarez Cirino dos. O direito penal do inimigo – ou o discurso do direito penal
desigual. Disponível em: <www.icpcjur.com.br/images/direito_penal_
do_inimigo.pdf> Acesso em: out. 2009.
181
I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito
Edições Uberlândia e Belo Horizonte
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. O inimigo no direito penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2007.
182
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RESUMO
1 Pós-graduada em Segurança Pública e Complexidade pela Rede de Altos Estudos em Segurança
Pública do Ministério da Justiça e pela Escola Superior Dom Helder Câmara
(http://lattes.cnpq.br/2923150491618126).
183
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Uma história
Vários são os autores brasileiros que afirmam ter a história do Direito Penal
sido iniciada em “tempos primitivos”, “envoltos em ambiente mágico”
(MIRABETE, 2004, p. 35), período no qual prevaleceu, em ordem cronológica, a
“vingança privada”, a “vingança divina” e a “vingança pública”. A sobrevivência
desta narrativa sem indicação de tempo nem de lugar, talvez resultante de uma
simplificação dos dados históricos2, contada e recontada para os estudantes dos
cursos jurídicos Brasil afora através dos manuais mais populares, dos reprodutores do
direito, merece aqui um breve registro tão somente para lembrar que as prisões nem
sempre estiveram presentes na trajetória dos vários direitos de punir, ao menos como
item indispensável para suas práticas. A privação de liberdade, se nem sempre
constituiu uma prática punitiva, conferiu ao Direito Penal moderno uma razão de
existir, desde quando se tornou um marco na chamada humanização das penas em
meados do século XVIII - com a introdução dos princípios da legalidade, do devido
processo legal e da proporcionalidade -, e até os dias atuais, quando continua sendo
apontada como principal instrumento de controle social ou, como muitos (juristas,
inclusive) costumam dizer, um “mal necessário” (BITTENCOURT, 2004), embora
seja óbvio que, tratando-se de um mal, não pode haver espaço para considerá-lo
necessário.
A história que se conta aqui começa na Europa da Idade Média, mais
precisamente no que se conhece hoje como Inglaterra, França e Países Baixos,
durante a vigência do modo de produção pré-capitalista, momento em que o cárcere
como pena ainda não existia, servindo apenas de custódia preventiva e para acautelar
2 Na obra de BATISTA (2000), percebe-se que tal simplificação corresponde às práticas punitivas
dos povos germânicos antigos (século I d.C.), fontes históricas mais remotas do sistema penal
brasileiro.
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disciplina dos antigos camponeses com o trabalho operário – afinal, embora expulsos
do campo, eles ainda estavam acostumados com o modo de produção feudal -,
sujeitando-os a condições de trabalho terríveis, contra as quais era quase impossível
resistir. Na Inglaterra, por exemplo, chegou-se ao ponto de obrigar seus súditos a
aceitação da primeira oferta de trabalho que lhes fizessem, sob pena de ser
severamente punido com trabalho forçado (MELOSSI e PAVARINI, 2006). Porém,
em verdade, tal estratégia não era de todo exitosa, na medida em que não havia
capital suficiente para empregar todos os pobres, servindo, então, o cárcere para
abrigar todo esse “exército de reserva3”.
Com o avanço capitalista, as relações de produção ganham legitimidade a
ponto de se naturalizarem, fazendo com que a violência física seja usada apenas
excepcionalmente, o que abre um flanco para que ganhasse força o clamor iluminista
pela legalidade, pela proporcionalidade das penas à gravidade do delito cometido e
pela humanidade das penas. Ora, a fonte ideológica de tais inquietações também
serviu para combater o abuso de poder consubstanciado nas monarquias absolutas e
para inaugurar o chamado Estado moderno. Ao fundar uma ordem política fundada
naqueles princípios, refinou-se a técnica jurídica da punição, ao mesmo tempo em
que se promoveu a aceitação dos direitos civis fundamentais que, de fato,
contribuíram para conter os ânimos exaltados das massas populares, antes tão
interessantes para burguesia que pretendia ascender ao poder. A maior conquista da
burguesia, portanto, não foi sobre o Estado absoluto, que de alguma maneira já
3 O exército de reserva, ou a superpopulação relativa de trabalhadores sem qualificação profissional,
foi percebido por Karl Marx ao examinar a formação do capitalismo na Inglaterra (quando da
acumulação primitiva do capital). Ele observou que havia um contingente expressivo de trabalhadores
sem ocupação fixa que tendia a aceitar as condições de trabalho piores do que as praticadas no
mercado de empregos regulares. Assim, tal massa era prontamente convocada quando necessária e
mantinha sob a pressão os trabalhadores ativos (o “exército ativo”), e quando não era, servia para
conter as pretensões de melhoria de condições de vida dos últimos (MONTENEGRO, 2009).
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estava por ela dominado, mas sim a sua consolidação de sua hegemonia frente ao
proletariado.
Com a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Inglaterra,
possível graças à acumulação primitiva do capital, observa-se o crescimento da
população e outro grande movimento de expulsão dos campos. O desenvolvimento
industrial faz desaparecer o trabalho no cárcere ou torna-o improdutivo ante a
competição com o mercado livre, cujas tecnologias passam a sobrepor-se às
manufaturas. No entanto, a coação exclusivamente econômica não consegue ser mais
capaz de conter a resistência, ora menos desorganizada, do proletariado. Mais uma
vez, o aparelho estatal é mais uma vez acionado para promover tal contenção.
Assiste-se, então, à retirada dos potenciais trabalhadores no interior das casas de
correção e a permanência dos incapacitados nas casas de assistência, já que a
abundância de mão-de-obra livre faz com que o trabalho forçado perca sua função
reguladora, sobrando-lhe apenas a função disciplinante.
É por isso que, em meados do século XVIII, verifica-se que o trabalho
deixa de ser a tônica do cárcere na Inglaterra que, em 1770, inaugurou a deterrent
workhouse, a casa de trabalho “terrorista”, assim denominada por se destinar somente
àqueles que não tinham outra opção. As condições de vida lá eram propositadamente
piores do que as oferecidas ao trabalhador livre – orientação do princípio da less
eligibitity, consagrado na Poor Law Amendment de 1834 – e assim o era também como
forma de o Estado se posicionar (com a intimidação) frente às primeiras lutas
operárias. O trabalho lá desenvolvido era improdutivo, inútil, insignificante, restando
tão-somente a finalidade punitiva e disciplinadora do cárcere.
A invenção penitenciária
manufatureiro até chegar, ainda no século XIX, a assumir a indústria como principal
atividade. Assim como a européia nos séculos anteriores, a sociedade estadunidense
pós-colonial tinha o pobre como o único responsável por sua condição – já que as
oportunidades estavam acessíveis a todos - e a pobreza como a fonte de
criminalidade, sendo, então, ambos combatidos não mais com a assistência privada,
mas sim com os mesmos instrumentos de repressão já experimentados no Velho
Mundo: internamento e trabalhos forçados.
Foi assim que os Estados Unidos “inventaram” a penitenciária: em 1790, na
mesma Pensilvânia dos quakers, que num ato de filantropia, mobilizaram a opinião
pública e as autoridades locais para a construção de um lugar que oferecesse
condições para que os criminosos salvassem suas almas - isolamento, oração e total
abstinência de bebidas alcoólicas. Conseguiram, assim, fundar um modelo de
instituição no qual, declaradamente, o trabalho não tinha outra função senão a de
ocupação de tempo, vez que o isolamento celular, por si só, não permitiria a
introdução de uma atividade verdadeiramente produtiva no seu interior. O solitary
confinement tinha por finalidade promover no interno o “processo psicológico de
introspecção” (MELOSSI e PAVARINI, 2006, p. 189) necessário para que o
condenado se arrependesse do seu crime. Em pouco tempo, contudo, o
confinamento mostrou-se mais eficaz para o crescimento do número de suicídios e
de encarcerados acometidos pela loucura.
Olvidadas as razões humanitárias, e em vista da industrialização da
economia que, somada ao decréscimo na importação de escravos, fez com que
crescesse a necessidade de mão-de-obra, o sistema pensilvânico passou a ser
criticado, já que reduzia o número de trabalhadores livres e deseducava os presos ao
obrigá-los a trabalhar sem fins produtivos. Dessa forma, tentou-se primeiramente
introduzir o trabalho produtivo nas prisões mantendo-se o isolamento celular, o que
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5 A pretensão do atual governo mineiro em estabelecer uma parceria público-privada para
administrar as prisões, portanto, não pode ser vendida como uma novidade: novo mesmo é
transformar em matéria-prima o preso e do seu sofrimento retirar a mais-valia.
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operárias. Assim, o trabalho artesanal e, muitas vezes inútil, voltou a ser a tônica das
prisões, até porque não mais havia real necessidade de treinar a população carcerária
para ocupar mercado de trabalho, mas sim, e tão somente, reproduzir no cárcere a
idéia corrente de que empregado sempre está subordinado ao patrão.
As reinvenções do cárcere
imprimindo-lhe com o signo das ciências uma moralidade burguesa que pretendia,
sob o engodo de ressocializar ou de reinserir à sociedade, subjugar as classes
subalternas, tanto para adestrar seus corpos para produzir, quanto para moldar seus
espíritos à ordem.
Isso vale notadamente para os saberes psi, cujos técnicos se destacam na
tarefa da avaliar e o diagnosticar os presos7, e, assim, compõem, como qualquer
“funcionário do cárcere”, o seu aparato de segurança: a indisciplina do sujeito é,
invariavelmente, tomada como sintoma de sua não regeneração ou de doença mental,
ao passo em que a normalidade restringe-se àqueles que apresentam bom
comportamento, seja ele dissimulado ou não (RAUTER, 2003).
A partir da segunda metade do século XIX, a melhora das condições de
vida dessa classe influencia no decréscimo ou, ao menos, na manutenção nos índices
de criminalidade. Também ressurge a demanda por mão-de-obra com a expansão da
produção industrial em tempos de imperialismo. Simultaneamente a tais fatos, o
desenvolvimento de uma abordagem sociológico-naturalista sobre a questão criminal,
o que, por sua vez, altera o enfoque da punição:
“[...] o problema dos métodos punitivos não era mais visto como
um problema de manutenção de uma proporção justa entre o
crime e a pena; ele era agora examinado sob o ponto de vista do
criminoso, a expectativa de reabilitação e as precauções que valiam
a pena de serem tomadas. [...] A concepção de culpa social
envolvia a idéia de garantir a volta do maior número de forças
7 A Lei de Execuções Penais, em seu art. 5º, manda classificar os condenados, segundo os
antecedentes e a personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Tal mister incumbe
à Comissão de Técnica de Classificação, que deve ser presidida pelo diretor do estabelecimento e em
cuja composição deve haver, no mínimo, um psiquiatra e um psicólogo (art. 7º). Apesar de haver sido
revogada a obrigatoriedade do exame criminológico para reconhecimento dos direitos à progressão de
regime e ao livramento condicional (alteração da Lei 10.792/03), as decisões dos técnicos continuam
exercendo forte influência na sorte dos condenados quanto ao gozo desses direitos, já que seus
saberes subsidiam o julgamento das faltas disciplinares, faltas essas que pontuam o comportamento
carcerário a ser avaliado em juízo.
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O açoite reservado8
liberdade por uma infração estatal, ainda eram sujeitos à punição de seus senhores dentro das prisões.
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experiências que não foram seguidas fielmente), mas sua finalidade corretiva era
reservada aos presos não escravos, pois, a estes, a pena
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novidade, pois o mesmo já fora previsto no Código Penal de 1890, em seu art. 509),
bem ainda uma espécie de período de estágio para o livramento condicional
(MUAKAD, 1998), para os condenados de “bom procedimento”, a ser cumprido em
colônias penais e estabelecimentos similares (então art. 30, §2º), os quais nunca
“saíram do papel”.
Observa-se, assim, uma curiosa insistência em obedecer a um projeto
disciplinar que, mesmo nunca tendo sido efetivamente seguido à risca, continua
preservado enquanto discurso até hoje - ainda que tenha perdido completamente seu
sentido.
A invenção brasileira
9 “Art. 50. O condemnado a prisão cellular por tempo excedente de seis annos e que houver
cumprido metade da pena, mostrando bom comportamento, poderá ser transferido para alguma
penitenciaria agricola, afim de ahi cumprir o restante da pena.
§ 1º Si não perseverar no bom comportamento, a concessão será revogada e voltará a cumprir a
pena no estabelecimento de onde sahiu.
§ 2º Si perseverar no bom comportamento, de modo a fazer presumir emenda, poderá obter
livramento condicional, comtanto que o restante da pena a cumprir não exceda de dous annos”
(SENADO..., 2010).
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iniciativas bem sucedidas tomadas pelos juízes de primeira instância durante os anos
cinqüenta, inclusive em outros estados-membros.
Em 1954, foi promovida uma campanha em prol da prisão aberta pelo
Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça de São Paulo, “impressionado com a
promiscuidade e com o abandono espiritual” das prisões paulistas (MUAKAD, 1998, p. 83).
Apesar de inspirar-se em experiências estrangeiras10, a denominação “prisão-
albergue” não foi importada: a Casa do Albergado, a dimensão espacial do regime
prisional aberto no Brasil, é uma “invenção” brasileira, pelo menos na sua
denominação.
O regime, criado pela jurisprudência paulista, mandava o condenado
dedicar-se ao trabalho durante o dia e, nas horas de repouso, à noite, e nos fins de
semana e dias de folga e nos feriados, recolher-se em estabelecimento especialmente
destinado a tal fim – a Casa do Albergado – ou, na falta deste, em seção isolada
reservada para tal fim em presídios, cadeias públicas ou distritos policiais. Também
exigia o cumprimento de condições, tais como proibição de freqüentar certos lugares
“incompatíveis com o regime” (casa de jogo, lupanares, etc.) e de ingerir bebidas
alcoólicas, o cumprimento dos horários de saída do trabalho e de retorno ao
estabelecimento onde o condenado deveria recolher-se quando não estivesse
trabalhando, e o comparecimento periódico perante o juiz para comprovar a
satisfação dos encargos familiares e o efetivo exercício do trabalho. A depender de
seu comportamento, teria acesso a algumas “regalias” como visitar a família em datas
especiais, freqüentar curso profissionalizante de segundo grau ou superior, ir à igreja
ou participar, fora do estabelecimento, de outras atividades que concorressem com
“sua emenda e reintegração ao convívio social” (MÉDICI, 1979, p. 44). Interessante ver tais
10 A prisão-albergue é a versão nacional da “semiprisão ou semiliberdade na França e Bélgica, o
regime de meia liberdade em Portugal, saída livre na Suécia e o Day Parole ou liberação condicional
diurna nos Estados Unidos” (MUAKAD, 1998, p. 85). A sua originalidade restringe-se às
denominações “albergue” e “Casa do Albergado”.
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normas reproduzidas no art. 115 da atual Lei de Execução Penal: lá subsistem todas
as condições elencadas, exceto a expressa proibição de freqüentar certos lugares e de
ingerir álcool - o que não impede que o juízo da execução a imponha como uma
condição especial, mediante oitiva do Ministério Público (art. 115). A LEP
acrescenta, ainda, a condição de não se ausentar da comarca sem expressa
autorização judicial.
Destaca-se, também, que o ingresso no regime aberto, como já dispunha o
Provimento XVI, “supõe a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo juiz” (art.
113 da LEP), não podendo ser progredido o condenado que não os aceita
expressamente ou caso “se deduza, por seu comportamento, que não os aceita” (MIRABETE,
1993, p. 289): a entrada na Casa do Albergado revela-se um “contrato” que não
contempla a hipótese de consentimento tácito, mas tão só de recusa tácita!
Por fim, a fiscalização direta dessas condições incumbiria aos conselhos da
comunidade, aos patronatos ou similares ou, à falta, às “pessoas idôneas nomeadas
pelo juiz” (art. 29). A Lei 7.210/84 mantém, em seu art. 78, a incumbência expressa
somente aos Patronatos, cujo nome em si parece dispensar comentários!
A ressocialização pelo trabalho é o móvel do instituto, destinado a propiciar
aos condenados a oportunidade de conquistar uma profissão cujo aprendizado, na
maioria das vezes, não seria possível no interior do cárcere. Os primeiros
experimentos com a prisão-albergue ocorreram em tempos de grande
desenvolvimento industrial em São Paulo (anos cinqüenta do século passado), o que
pode ter impulsionado a liberalidade. Os braços do “exército de reserva” brasileiro,
àquela época, tinham menos dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, (a
industrialização avançava a passos largos), ainda menos exigente quanto ao nível de
escolaridade e aos atributos dos candidatos às tarefas mais subalternas.
A experiência da prisão-albergue foi mantida e, inclusive, consolidada na
década seguinte, período marcado por uma forte crise econômica e atravessado pelo
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sentido de trabalho for reduzido àquele que ajuda o preso a se manter ocupado no
interior do cárcere, e não fora dele, pois, ainda, que seja um trabalhador, tal condição
não o deixa imune à seleção do Direito Penal12.
Outra razão de ser para o gozo da prisão-albergue residiria na superlotação
dos cárceres paulistas (MUAKAD, 1998), e tal justificativa vem expressamente
anunciada nas considerações do Conselho da Magistratura paulista no Provimento
XCII, de 1975 (MÉDICI, 1979).
Se a necessidade da época era esvaziar as prisões e desonerar o Estado da
adequação do aparato penitenciário à população que devia abrigar, de fato, para isso
não serviria o já positivado livramento condicional, que então exigia o cumprimento
de mais de metade da pena, se primário, e mais de três quartos da pena, se
reincidente nas penas superiores a três anos (o extinto art. 60 do Código Penal).
Assim, com a criação da prisão-albergue, os julgadores paulistas acabaram
proporcionando um benefício tanto para os presos, que ganharam outra chance, e
menos demorada, de sair do cárcere antes de cumprida a pena, quanto para o Estado-
administração que deles se livrava, ao menos temporariamente.
As Casas do Albergado, por não exigirem o rigor penitenciário das demais
unidades prisionais (art. 57 da Lei Estadual paulista 1. 819/78, que tem hoje como
correlato o art. 94 da LEP), permitiam que o Estado não dispusesse dos elevados
custos para manter os presídios. Tal vantagem, contudo, não foi o bastante para
convencer os gestores públicos a assumir a solução da magistratura paulista no
campo da execução penal. Aliás, até hoje, trinta anos após a positivação do regime
aberto no Brasil, pouca foi a mobilização do Poder Executivo para instalar as Casas
12Vale aqui a referência ao trabalho de MATTOS (2008) no Complexo Penitenciário Feminino
Estevão Pinto de Belo Horizonte: 69% das internas, em 2005, exerciam atividade laborativa lícita antes
de ingressar no sistema. Desse número, 54% sustentava sozinha a família e 74% trabalhava sem
carteira assinada.
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13 Antes da LEP, já havia o dispositivo do Código de Processo Penal, art. 668: “a execução, onde não
houver juiz especial, incumbirá ao juiz da sentença, ou, se a decisão for do Tribunal do Júri, ao seu
presidente. Parágrafo único. Se a decisão for de tribunal superior, nos casos de sua competência
originária, caberá ao respectivo presidente prover-lhe a execução”.
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de 1975), o que, nos casos elencados, presumia-se existir, sem qualquer chance de
prova em contrário. No caso das penas superiores a três anos e um dia, o juiz poderia
concedê-la ainda na sentença, com base em elementos para aferir a periculosidade do
agente, colhidos durante a realização dos atos processuais da ação penal,
especialmente o interrogatório (art. 5º do Provimento XCII, de 1975). Se quisesse, a
autoridade judicial poderia instaurar uma sindicância para realizar tal aferição (art. 6º,
idem). Já segundo o art. 15 do mesmo diploma, no caso de condenação não superior a
cinco anos, tal sindicância era obrigatória e era realizada por pessoa de confiança do
juiz, de preferência assistente social, a qual investigava o condenado, sua família e até
a idoneidade do empregador (MÉDICI, 1977).
Se o candidato à prisão albergue estivesse cumprindo medida de segurança
em casa de custódia e tratamento (semi-imputáveis), ou fosse multirreincidente,
“criminoso habitual ou por tendência”, deveria ser submetido a exame de aferição da
periculosidade no Instituto de Biotipologia Criminal ou no Manicômio Judiciário. Se
a periculosidade já fosse declarada na sentença condenatória, passaria o condenado,
então, por um exame para apurar se ela foi cessada. Oportunizava-se, ainda, um
reforço no assujeitamento dos albergados com a permissão para que o juiz, antes ou
durante o regime aberto, determinasse seu tratamento psicoterápico ou psiquiátrico,
com ou sem internamento (art. 32 do Provimento XCII, de 1975)15. Assim, acionava-
se o arsenal ideológico da defesa social para farejar aqueles que, minimamente, teriam
internalizado a ordem das coisas, bem como para selecionar, dentre a clientela das
penitenciárias, aqueles cuja personalidade foi transformada, com êxito, para, enfim,
obedecer ao patrão.
15 O dispositivo era compatível com o sistema do duplo trilho (a pena privativa de liberdade poderia ser
seguida de aplicação de medida de segurança para os “incorrigíveis”), ainda em vigor à época
(FRAGOSO, 2010).
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Hoje, a Lei de Execuções Penais dispõe, em seu art. 114, II, que um dos
requisitos de ingresso no regime é a apresentação, “pelos seus antecedentes ou pelo resultado
dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime”. É só um jeito diferente de dispor aquilo que a
magistratura paulista já ditava! E para avaliar a pertinência do regime aberto ao caso
concreto, Mirabete (1993) alerta não ser o bastante a mera análise dos registros na
folha de antecedentes criminais do condenado, já que neles não constam “todos os fatos
da vida pregressa do condenado com relação ao comportamento familiar, trabalho, atividades sociais,
etc”. E afirma mais: é necessário submeter o sentenciado a exames de personalidade,
pois não basta a comprovação de bom comportamento carcerário, “que não deve ser tão
valorizado, porque é sabido que a periculosidade ou antissociabilidade na prisão sofre controles
inibitórios” (p. 290). Mas não seria a função do cárcere justamente manter sob controle
ou inibir tais idiossincrasias? Independente da resposta, é de se observar o “esforço”
do legislador na LEP para, com outras palavras, manter em ação o eterno e
incansável “periculômetro” (MATTOS, 2005)!
O Conselho Superior da Magistratura de São Paulo elencou, ainda no
Provimento XCII, de 1975, em seu art. 40, as hipóteses em que o condenado em
regime aberto poderia cumprir o restante da pena em sua própria residência,
moldando, assim, o que hoje se conhece por prisão domiciliar. Aquele dispositivo
previa a possibilidade de cumprimento de pena no próprio domicílio quando faltasse
estabelecimento adequado na comarca onde o condenado cumpria pena, por certo
uma aplicação analógica da Lei 5.256, de 06 de abril de 1967, destinada aos indiciados
ou denunciados que fazem jus à prisão especial em localidades que não dispusessem
de estabelecimentos adequados ao seu recolhimento.
Sem dúvida, causa certo estranhamento a possibilidade de aplicar na
execução penal de qualquer condenado uma hipótese de prisão provisória que,
claramente, visava privilegiar o elenco de “autoridades” ainda previsto no art. 295 do
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últimas, sim, podiam dar-se ao luxo de serem histéricas e loucas, concessões que a
moralidade burguesa lhes conferiu para exprimir-se contra o patriarcado (COSTA,
1979), enquanto às subalternas só parecem ter restado o nobre papel de mãe - e que
as torna merecedoras dessa espécie de licença (maternidade). Para não deixar dúvidas
quanto ao tom patriarcal da norma, basta conferir o dispositivo do art. 2º da Lei
Estadual paulista 1.819/77, in verbis: “as mulheres cumprem pena em regime fechado,
semi-aberto ou aberto, em estabelecimentos apropriados, ou, à falta, em Seção
especial de penitenciária ou prisão comum, sujeitas a trabalho interno, admitido o
benefício do trabalho externo, sempre em atividades profissionais compatíveis com o seu sexo”.
Com o tempo, não respeitado o comando legal que determinava a
construção das Casas do Albergado, os Tribunais se dividiram: passaram a mandar o
“albergado” recolher-se em local reservado a este fim em cadeias públicas ou
presídios comuns, ou a permitir que o mesmo, mediante condições, cumprisse o
regime aberto em seu próprio domicílio. Os que defenderam e continuam a defender
a primeira alternativa opõem-se em deixar o sentenciado totalmente livre e sem
qualquer fiscalização, o qual, ao menos, seria mantido sob algum controle quando
recolhido à noite. Já a outra corrente alega que o condenado não pode sofrer com a
desídia do Poder Público e não ficar sujeito a regime mais grave do que faz jus. Em
comum em ambos os posicionamentos, condena-se o desrespeito à lei.
No embate de idéias, parece estar em vantagem a linha do argumento de
que, na ausência de estabelecimentos adequados e de qualquer controle ou
fiscalização sobre os condenados, desvirtuou-se o regime aberto, o que passou a ser
uma forma de impunidade velada. Isso porque, no atual projeto de reforma da Parte
Geral do Código Penal, não mais se contempla a hipótese deste regime inicial,
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Conclusão
17 O Projeto de Lei nº 3.473, de 2000, pretende dobrar o lapso temporal necessário para obtenção do
livramento condicional.
18 O artigo de Nilo Batista (2000) é cópia integral da carta enviada em 11 de setembro de 2000 a Ivete
Lund Viégas, então Secretária de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, em que requer a
retirada do seu nome da Exposição de Motivos do citado Projeto de Lei.
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19 Em Minas Gerais, já foram testadas tornozeleiras eletrônicas em condenados em regime semi-
aberto da comarca de Nova Lima (RUBENS, 2010). Isso indica que o sistema progressivo pode até
continuar existindo, mas deixando de lado seu sentido original, que é construir o senso de
responsabilidade no condenado. Ora, a Lei de Execuções Penais em vigor prevê a fiscalização do
cumprimento da pena em regime semi-aberto ou aberto, porém garante ao condenado sua saída da
unidade prisional sem qualquer escolta. Seria o monitoramento uma mera forma de fiscalizar ou uma
espécie de escolta?
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20 Não resta claro qual das unidades, de fato, atende o público feminino, afinal, só há uma vaga, e
obviamente não pode ser dividida por duas!
21 O lado de fora, na gíria carcerária.
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obra, cada vez mais mal remunerada e descartável, pela contínua negação da
assistência (não-oferta de bens básicos para se viver: saúde, educação, moradia, etc.) e
pela invisibilidade de sua existência.
Diante de tudo que foi aqui demonstrado, não se enxerga outra saída senão
uma verdadeira ruptura do sistema punitivo vigente, culminando com o fim do
encarceramento, o que vai exigir, a princípio, que o Direito Penal dispa-se de toda
sua irracionalidade e, a partir de então, talvez não lhe sobre qualquer sentido político
ou social, ou lhe reste o papel de impor sanções tomadas de empréstimo de outros
ramos do Direito (Administrativo, Civil, por exemplo) até com estes se confundir. E
pior que o fim das prisões não é o suficiente, ou melhor, não seja um dia alcançado
enquanto sobreviverem as demais instâncias penais estatais e, principalmente, as que
ultrapassam o âmbito estatal, infiltradas que estão nos meios de comunicação, nas
relações sociais, na cultura.
Para tanto, é imprescindível a promoção do debate sobre o significado
político da repressão penal, vez que o cometimento do crime e a conseqüente
resposta do Estado não podem ser encarados como um mero conflito entre o
indivíduo e a sociedade, no papel de vítima. É preciso, sim, desvelar a forma
maniqueísta como se trata a criminalidade que, além de mascarar os conflitos sociais,
econômicos e culturais envolvidos na questão, também justifica a implementação de
práticas repressivas violadoras de direitos e garantias fundamentais, inclusive as que
pretendem transformar o condenado em matéria-prima, e de seu sofrimento retira a
mais-valia para lucrativas empresas de administração carcerária.
Tal discussão política, portanto, vai além da necessidade de melhoria das
condições de vida oferecidas nas prisões e de tratamento digno aos seus amigos e
familiares, alcançando o próprio sentido (ou melhor, a sua falta) das penas privativas
de liberdade. Se, na sociedade industrial, a prisão prestou-se a disciplinar os corpos
ora para o trabalho, inscrevendo-o no universo da subalternidade, na sociedade atual,
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REFERÊNCIAS
COLON, Leandro. Juiz que libertou assassino de Luziânia rebate críticas. Estadão.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,juiz-que-libertou-
assassino-de-luziania-rebate-criticas,539629,0.htm>. Acesso em: 18 abr 2010.
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COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal,
1979.
FRAGOSO, Heleno. Sistema do duplo binário: vida e morte. Disponível em: <
http://www.fragoso.com.br/cgi-bin/heleno_artigos/arquivo19.pdf>. Acesso em: 16
mar. 2010.
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PRADO, Daniel Nicory do. Sobre a natureza jurídica da execução penal. Jus
Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1468, 9 jul. 2007. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10124>. Acesso em: 11 dez. 2009.
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RESUMO
O presente trabalho trata da concepção de Direito Penal Mínimo, passando por uma
análise do princípio da intervenção mínima, para, posteriormente, aprofundar o
estudo em relação aos princípios que dele decorrem, quais sejam, o princípio da
insignificância e o princípio da irrelevância penal do fato. Por meio de uma digressão
teórica, abordam-se os elementos componentes do conceito tripartite de crime e,
posteriormente, secciona-se a composição do fato típico, com o estudo focado na
tipicidade. Analisam-se as características comuns a ambos os princípios, apontando
suas diferenças e peculiaridades.
1 – INTRODUÇÃO
1 Advogado. Pós-graduando em Direito Público pela Faculdade de Direito “Prof. Jacy de Assis” da
2 FERRAJOLI, Luigi. El derecho penal mínimo, in “Poder y control”, nº 0, 1986.
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quando os demais ramos do Direito forem insuficientes à proteção dos bens jurídicos
em conflito.
A teoria aqui abordada defende a proporcionalidade na aplicação de um tipo
penal. Analisemos, a título de exemplo, a seguinte situação: o artigo 155 do Código
Penal dispõe que é crime subtrair coisa alheia móvel; entretanto, não é crível atribuir
ao legislador, quando da criação desse tipo penal, a intenção de atingir também
aquele que subtrai um simples chiclete de um imenso hipermercado. Parece ser
incoerente movimentar toda a máquina judiciária por conta de uma mera goma de
mascar, até pelo fato de ser economicamente inviável ao Estado tutelar bens jurídicos
tão ínfimos.
Para Ferrajoli3 o Direito Penal Mínimo:
335.
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4 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 22.
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5 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990, pág. 87.
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Por seu turno, o princípio da irrelevância penal do fato vai além e considera,
ainda, o desvalor da ação e o desvalor da culpabilidade. Assim, presente qualquer
deles o fato torna-se penalmente relevante, devendo o agente ser sancionado.
A diferença entre os dois princípios supra mencionados, cuja co-existência é
absolutamente impossível, é assim explicada pela doutrina6:
6 GOMES, Luiz Flávio. Delito de Bagatela: Princípios da Insignificância e da Irrelevância Penal do Fato. In sítio
do princípio da insignificância.
Necessário, portanto, que o magistrado analise o caso que se lhe apresenta
com bom senso a fim de selecionar qual dos dois princípios melhor rege a questão,
sendo temeroso adotar, a priori, qualquer deles e prescindir do outro.
4 – CONCLUSÃO
7 Disponível em:
http://www.advocaciabittar.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=75 &Itemid=1;
Acesso em 25 de março de 2010.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan,
1990;
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RESUMO
1
Graduando em Direito pela PUC Minas.
2
Mestre em Direito pela PUC Minas.
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DESENVOLVIMENTO
A sociedade, desde tempos remotos, tem procurado punir aqueles que não
se enquadram em suas normas, neste sentido Teles:
Apesar de haver passado por várias fases, o que podemos afirmar com
certeza é que, conforme Carvalho Filho (2002, p.21), o cárcere faz parte de quase
toda trajetória histórica da humanidade, porém, suas finalidades mudaram. O fim da
pena era apenas a punição do indivíduo consubstanciada na vingança, como exemplo
a Lei de Talião. Porém, com o passar dos tempos e com a evolução social, foram
nascendo princípios e garantias, mudando-se o conceito e as finalidades da punição
do sujeito.
Uma mudança notável é a passagem do Estado Absolutista para a ascensão
do Estado de Direito, onde foi possível a criação dos Direito Fundamentais, marco
fundamental dessa transição no que se refere às penas. De acordo com Freitas (ano),
o Estado Absolutista baseou-se na doutrina da monarquia divina, respaldada no
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Portanto, isso não tem ocorrido, pois temos visto situações não condizentes
com o Estado de Direito, mesmo a nossa Constituição resguardando os direitos
fundamentais e proibindo penas desumanas e cruéis, como podemos encontrar no
art. 1º , III e art. 5, III.
Em tempos passados, o direito de punir não era apenas do Estado,
principalmente na era da vingança privada, porém, a partir do Estado de Direito, o
Estado é indubitavelmente o único titular do direito de punir, sendo que ocorrem
inúmeros casos de punição aplicada por particulares, o que nada mais é do que uma
ilegalidade e inconstitucionalidade. Mas ao exercer o Jus Puniendi, deve atentar para os
direitos fundamentais do condenado e observar os limites constitucionais de sua
atuação e interferência.
De acordo com Julio Fabrini Mirabete, jus puniendi pode ser definido
como direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da
norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou omissão descrita no
preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica. (MIRABETE, 2006)
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“Costuma-se dizer que há, aqui, uma ‘co-culpabilidade’ com a qual a própria
sociedade deve arcar” (Zaffaroni; Pierangeli, 2007, p. 525).
A grande preocupação sobre a crise do Sistema Penitenciário Brasileiro e
suas conseqüências, gera a busca de medidas alternativas e soluções efetivas para os
problemas deste sistema. O Sistema Punitivo apresenta vários problemas de fato,
como as superlotações nos presídios, falta de atividades laborativas, tratamento
médico inexistente ou insuficiente, além de inúmeras outras situações generalizadas
de desrespeito aos direitos dos condenados.
A crescente preocupação do Estado e da sociedade fez surgir propostas de
mudança do Sistema Carcerário, sendo os mais constantes a Proposta de Privatização
das Penitenciarias e as ASSOCIAÇÕES DE AMPARO E PROTEÇÃO AO
CONDENADO - APAC´s, que vem ganhando força no Brasil e no exterior,
principalmente em Minas Gerais.
Segundo Carvalho Filho (2002, p.62), a privatização de presídios foi
implantada nos Estados Unidos da América a partir da década de 1980, quando as
penitenciárias estavam superlotadas e a Justiça exigia adequação do número de vagas
ao número de presos e não havia recursos para gerenciar e construir novos presídios.
Após a idéia foi se espalhando pelo mundo, sendo introduzida também em
países como Austrália, França e Inglaterra, chegando ao Brasil na década de 1990.
Nos países indicados, exceto o Brasil, embora tenham unidades prisionais
privadas, estas são minoria frente ao sistema estatal, e cada país adota um modelo
diferente de privatização, com maior ou menor participação do empreendedor
privado, destacando-se os Estados Unidos como o modelo em que se constata maior
participação, ou seja, quase total, do empresário na administração do presídio,
diferentemente do que ocorre na França, que adota o modelo segundo qual o Estado
está, juntamente com o empreendedor, administrando a unidade prisional, numa
verdadeira co-gestão (Carla Renata, 2006, p.44).
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É melhor que esse lixo que existe hoje. Nós temos depósitos
humanos, escolas de crime, fábrica de rebeliões. O estado não tem
recursos para gerir, para construir os presídios. A privatização
deve ser enfrentada não do ponto de vista ideológico ou jurídico,
se sou a favor ou contra. Tem que ser enfrentada como uma
necessidade absolutamente insuperável. Ou privatizamos os
presídios; aumentamos o número de presídios; melhoramos as
condições de vida e da readaptação social do preso sem
necessidade do investimento do Estado, ou vamos continuar
assistindo essas cenas que envergonham nossa nação perante o
mundo. Portanto, a privatização não é a questão de escolha, mas
uma necessidade indiscutível, é um fato". (Capez, 2007)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO JUNIOR, João Marcello de (Org.). Privatização das prisões. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1995.
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D`URSO, Luiz Flávio Borges. Direito criminal na atualidade. São Paulo: Editora
Atlas, 1999.
PRADO, Luis Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral. 2º edição.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001
TELES, Ney Moura. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2004.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 Mestre em Ciências Penais e Doutorando em Direito pela FDUFMG
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2 ROXIN, Claus. Estudos de direito penal, p. 134.
3 ROXIN. Estudos..., p. 135.
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4 ROXIN. Estudos..., p. 138; _____. Derecho penal: parte general, p. 806.
5 ROXIN. Derecho penal..., p. 807.
6 Entre os mais proeminentes defensores desta concepção de culpabilidade no Brasil está Francisco de
fenômeno empírico que, afinal, não se pode constatar, o princípio “in dubio pro reo”
imporá sempre a absolvição, inviabilizando um direito penal da culpabilidade.7
Dessa forma, Roxin limita a culpabilidade e, afinal, a imputação subjetiva do
injusto ao agente, à constatação de que ele atou com imputabilidade e potencial
consciência da ilicitude. Ambas as circunstâncias demonstráveis empiricamente, com
maior ou menor dificuldade. Nessas condições, o livre arbítrio do agente é
simplesmente presumido, e se pode – a princípio – responsabilizar o agente pela
adoção da conduta ilícita em prejuízo das alternativas lícitas que em princípio lhe
eram psiquicamente acessíveis.8
As causas de exclusão da culpabilidade, no sentido estrito que lhe confere
Roxin, serão então apenas aquelas previstas nos §§ 17 e 20 do Código Penal (CP)
alemão.9
Tal não significa desconsiderar a relevância das circunstâncias conhecidas
como excesso escusável em legítima defesa ou estado de necessidade exculpante para
a exclusão da pena. Isso iria de encontro às disposições expressas nos §§ 33 e 35 do
CP alemão.10 Antes, Roxin lhes dá a merecida atenção, reconhecendo nelas hipóteses
7 ROXIN. Derecho penal..., p. 800.
8 ROXIN. Derecho penal..., p. 808.
9 § 20. Incapacidad de culpabilidad por perturbaciones psíquica. Actúa sin culpabilidad quien en la
comisión de un hecho es incapaz por una perturbación síquica patológica, por perturbación profunda de la conciencia o
por debilidad mental o por otra alteración síquica grave de comprender lo injusto del hecho o actuar de acuerdo con esa
comprensión. § 17. Error de prohibición. Sí le falta al autor en la comisión de un hecho la comprensión de lo
injusto de su actuar entonces actúa sin culpa si el no pudo evitar ese error. Si el autor pudo evitar el error, entonces puede
atenuarse la pena conforme al § 49, inciso 1. (Código Penal Alemán. Trad. Claudia López Diaz)
10 § 33. Exceso en la legítima defensa. Si el autor excede los límites de la legítima defensa por confusión temor o miedo,
entonces no será castigado. § 35. Estado de necesidad disculpante. (1) Quien en un peligro actual para la vida, el cuerpo
o la libertad no evitable de otra manera, cometa um hecho antijurídico con el fin de evitar el peligro para él para un
pariente o para otra persona allegada, actúa sin culpabilidad. Esto no rige en tanto que al autor se le pueda exigir
tolerar el peligro, de acuerdo con las circunstancias particulares, porque el mismo ha causado el peligro o porque el estaba
en uma 12 especial relación jurídica. Sin embargo, se puede disminuir la pena conforme al § 49 inciso l., cuando el autor
no debería tolerar el peligro en consideración a una especial relación jurídica. (2) Si el autor en la comisión del hecho
supone erróneamente circunstancias que a él lo puedan exculpar conforme al inciso primero, entonces sólo será castigado
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13 ROXIN. Estudos..., p. 152.
14 ROXIN. Estudos..., p. 153.
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15 ROXIN. Estudos..., p. 158-159.
16 JAKOBS, Günther. Derecho penal: parte general, p. 566.
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Trata-se de um conceito simples, mas que não diz muito, e por isso é
tratado como um conceito formal. Pois se o déficit de motivação jurídica dominante
decorre simplesmente do comportamento ilícito, a culpabilidade será definida
exclusivamente em função do que seja determinante para a responsabilização do
culpável por esse déficit.
A abertura de tal conceito de culpabilidade reside justamente ai. Para Jakobs
essa responsabilidade se dá sempre que a falta de disposição do agente para se
motivar conforme a norma que descumpre não possa ser compreendida sem abalar a
confiança geral nessa norma.17 Como se vê, a culpabilidade não é definida a partir de
características da conduta, de um juízo sobre ela, mas segundo fatores extrínsecos. O
que fundamenta e determina a medida da culpabilidade de um comportamento
antijurídico, em Jakobs, é o abalo que ele possa gerar no reconhecimento geral da
norma defraudada.
Dessa forma Jakobs concebe a culpabilidade como uma categoria
totalmente funcional, cuja determinação e a medida serão sempre coincidentes com a
oportunidade e necessidade da pena no caso concreto.
Com efeito, Jakobs reconhece na pena exclusivamente a finalidade de
manter o reconhecimento geral da norma e, conseqüentemente, a expectativa social
de que a norma é vinculante. Atribui-lhe, pois, um caráter preventivo geral,
convencionalmente referido como positivo, em oposição à clássica teoria da
prevenção geral negativa, que espera da pena uma eficácia de intimidação. Nas
palavras desse autor, “se pune para manter a confiança geral na norma; para exercitar
o reconhecimento geral da norma”.18
Ora, quando o comportamento antijurídico do autor não pode ser
compreendido senão como uma demonstração de infidelidade ao direito, haverá
17 JAKOBS. Derecho penal..., p. 566.
18 JAKOBS. Derecho penal..., p. 581. Tradução nossa.
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culpabilidade e a pena terá lugar como mecanismo para exercitar a fidelidade devida,
estabilizando expectativas em torno da ordem jurídica violada.
Na medida em que o conceito de culpabilidade está voltado para as
repercussões que o comportamento antijurídico possa ter sobre as expectativas
sociais de vinculação da norma, torna-se irrelevante o questionamento do livre
arbítrio. Com efeito, a verificação do livre arbítrio, ou mesmo a sua consideração
como um pressuposto indemonstrável da culpabilidade, só faz sentido quando por
esse juízo não se visa unicamente lograr um efeito social, mas também a
reprovabilidade do indivíduo, o que não ocorre na perspectiva de Jakobs.19
O poder agir de outro modo só pode ser entendido na perspectiva de
Jakobs como uma construção normativa. Significa simplesmente que o âmbito da
culpabilidade, por ser o âmbito da responsabilidade, é justamente aquele da
autonomia do indivíduo. O âmbito sobre o qual ele não necessita suportar
ingerências, exatamente porque ali será responsável por suas escolhas, “por suas
motivações defeituosas”. Em suma, a culpabilidade coincide com a liberdade do
culpável, não no sentido de livre arbítrio, mas da ausência de obstáculos
juridicamente relevantes para sua atuação; para seus “atos de organização”.20
Os críticos do conceito de culpabilidade formulado por Jakobs acusam-no
de ser inidôneo a limitar a punibilidade, que ficaria sempre à deriva de necessidades
preventivas.21 Jakobs, todavia, vê na função da pena um limite seguro para a
punibilidade, acreditando que a necessidade de punição e a medida necessária da
pena podem ser objetivamente definidas segundo padrões gerais, com independência
e prejudicialmente à opinião pessoal do julgador.
19 JAKOBS. Derecho penal..., p. 585.
20 JAKOBS. Derecho penal..., p. 585
21 Nesse sentido ROXIN. Derecho penal...., p. 806.
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Para esse autor o princípio nulla poena sine culpa impõe justamente que entre
o suposto fático e sua conseqüência jurídica deve haver uma proporção adequada,
determinada pela necessidade. O limite que a culpabilidade estabelece para a pena
não gira em torno do que o delinqüente “mereceu” segundo a opinião geral – ou
pessoal do julgador, acrescentaríamos – mas do necessário à manutenção da
confiança.22 Desse modo, só se imporá pena quando estiver descartada a
possibilidade de resolver o conflito sem castigar o autor e, sendo esta necessária,
vinculará para sua medida o padrão válido para casos semelhantes. Nesse sentido, o
princípio da culpabilidade atuaria limitando o arbítrio nas decisões judiciais, uma vez
que as decisões particulares sobre a culpabilidade estariam vinculadas “pelas
exigências do sistema de exculpação e inculpação que se pratica em geral”.23
Resta-nos, então, descrever em seus traços essenciais o “sistema de
inculpação e exculpaçao” proposto por Jakobs. Em outras palavras, as condições
mediante as quais seria plausível supor uma disposição geral a aceitar ou negar a
responsabilidade do autor pelo seu déficit de motivação jurídica.
Trata-se do “tipo total de culpabilidade”, composto por elementos
positivos, determinantes da deslealdade ao direito do autor, que conformam o “tipo
de culpabilidade”, e por elementos negativos da inexigibilidade, que conformam o
“tipo de exculpação”.24
Como elementos positivos, determinantes do tipo de culpabilidade, Jakobs
se refere primeiramente ao próprio injusto, que é, afinal, a expressão do déficit de
motivação jurídica do autor. O comportamento típico evitável, doloso ou
22 RAMOS, Enrique Peñaranda; GONZÁLEZ, Carlos Suárez; MELIÁ, Manuel Cancio. Um novo
sistema do direito penal: Considerações sobre a teoria de Günther Jakobs, p. 63.
23 JAKOBS. Derecho penal..., p. 588-589.
24 JAKOBS. Derecho penal..., p. 596.
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imprudente, que não está justificado é, assim, para Jakobs, simultaneamente objeto e
elemento do juízo de culpabilidade.25
Depois, Jakobs trata da imputabilidade como condição geral para se atribuir
responsabilidade ao autor de um injusto pelo déficit de motivação que revela. Como
essa responsabilidade ocorrerá sempre que a falta da motivação segundo a norma
puder abalar as expectativas gerais sobre a vinculação desta, serão imputáveis todos
os sujeitos definíveis como iguais.26
Isto porque em situações motivacionais semelhantes, a infração da norma
por um sujeito determinado exemplifica a infração da norma por qualquer outro a ele
equiparável, ofendendo assim a validade da norma em relação a todos esses.27 O
indivíduo “igual” que não se motiva conforme a norma, atuando antijuridicamente,
apresentará uma alternativa de comportamento capaz de abalar a confiança na
vinculação da norma infringida.
O mesmo não ocorre quando o autor do fato antijurídico puder ser
qualitativamente definido como “anormal” sob o ponto de vista psíquico, ou quando
lhe faltar a “igualdade” em razão da menoridade. As condições determinantes dessa
anormalidade Jakobs reconhece nas hipóteses centrais previstas no § 20 do CP
alemão, que reúne também, segundo ele, causas de inexigibilidade. Já a presunção de
desigualdade e, pois, inculpabilidade, das crianças e pré-adolescentes pelo
desenvolvimento social incompleto se dá nos termos do §19 do mesmo diploma.28
25 JAKOBS. Derecho penal..., p. 598.
26 JAKOBS. Derecho penal..., p. 598.
27 JAKOBS. Derecho penal..., p. 598
28 JAKOBS. Derecho penal..., p. 598 e 599. Aqui transcrevemos esses dispositivos, correspondentes no
essencial aos artigos 26, caput, e 27 do Código Penal brasileiro: § 19. Incapacidad de culpabilidad del nino:
Es incapaz de culpabilidad quien en el momento de la comisión de un hecho aún no ha llegado a la edad de los catorce
años.
§ 20. Incapacidad de culpabilidad por perturbaciones psíquicas: Actúa sin culpabilidad quien en la comisión de un
hecho es incapaz por una perturbación síquica patológica, por perturbación profunda de la conciencia o por debilidad
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mental o por otra alteración síquica grave de comprender lo injusto del hecho o actuar de acuerdo con esa
comprensión.(Código Penal Alemán. Trad. Claudia López Diaz)
29 JAKOBS. Derecho penal..., p. 599. Com base nessa idéia os defensores de sua teoria pretendem
responder a crítica segundo a qual esse conceito puramente funcional de culpabilidade ofenderia a
dignidade dignidade do culpável ao trata-lo como mero objeto da pena necessária e, neste sentido,
como instrumento de estabilização de expectativas sociais. (a respeito vide RAMOS; GONZÁLEZ;
MELIÁ. Um novo sistema..., p.65 e segs.)
30 JAKOBS. Derecho penal..., p. 600.
261
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1.3 Confronto
por um e outro para que o injusto seja um fato punível, há muito mais semelhanças
que diferenças.
Antes de tudo é preciso pontuar que a comparação entre os conceitos e
respectivos pressupostos da culpabilidade nesses dois autores é tarefa equivocada e
infrutífera, uma vez que pelo mesmo termo cada um se refere a categorias
sistemáticas diferentes, uma mais abrangente que a outra. Por “culpabilidade” Roxin
se refere apenas a uma das condições – necessária, mas não suficiente – para a
responsabilização penal do autor do injusto, enquanto Jakobs se refere a todas as
condições para tanto. Consequentemente, só faz sentido comparar, pela semelhança
dos papeis que desempenham no sistema desenvolvido por cada um, o conceito de
culpabilidade de Jakobs com o de responsabilidade penal, de Roxin.
A responsabilidade penal, para Roxin, resulta da conjugação entre
idoneidade do agente para ser destinatário de normas e a verificação de necessidades
preventivas da pena, sendo essas duas condições totalmente independentes entre si,
enquanto a culpabilidade de Jakobs é integralmente concebida segundo a necessidade
da resposta penal ao injusto.
Por esta razão esses autores divergem quanto à possibilidade de a
culpabilidade do agente estar aquém da necessidade preventiva da pena. Enquanto
Roxin admite essa possibilidade sempre que as exigências de prevenção fizerem
desnecessária ou mesmo desaconselhável a pena no limite máximo da culpabilidade,33
Jakobs a rejeita, por considerar essas variáveis coincidentes. Em suas palavras, “a
pena adequada à culpabilidade é por definição a pena necessária para a estabilização
da norma”.34
Quanto a essas necessidades preventivas, também não estão inteiramente
conformes, já que Roxin não atribui à pena somente a função de prevenção geral
33 ROXIN. Estudos..., p. 155.
34 JAKOBS. Derecho penal..., p. 589
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35 ROXIN. Derecho penal..., p. 879.
36 ROXIN. Derecho penal..., p. 811.
37 ROXIN. Derecho penal..., p. 866
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38 ROXIN. Derecho penal..., p. 866
39 Como bem sintetiza Luís Augusto Sanzo Brodt, para essa teoria as normas jurídicas são normas de
cultura reconhecidas pelo Estado. Assim, do conhecimento das normas de cultura resultaria a
inferência das normas jurídicas e, conseqüentemente, da ilicitude. (BRODT, Luis Augusto Sanzo. A
consciência da ilicitude no direito penal brasileiro, p. 25-26).
40 ROXIN. Derecho penal..., p. 866
41 ROXIN. Derecho penal..., p. 867.
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44 ROXIN. Derecho penal..., p. 871
45 ROXIN. Derecho penal..., p. 864
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46 ROXIN. Derecho penal..., p. 864.
47 ROXIN. Derecho penal..., p. 864.
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48 ROXIN. Derecho penal..., p. 878-879.
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49 ROXIN. Derecho penal..., p. 879
50 ROXIN. Derecho penal..., p. 892.
51 ROXIN. Derecho penal..., p. 880
52 ROXIN. Derecho penal..., p. 880
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53 ROXIN. Derecho penal..., p. 892
54 ROXIN. Derecho penal..., p. 813-814.
55 ROXIN. Derecho penal..., p. 814.
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56 ROXIN. Derecho penal..., p. 892-893.
57 JAKOBS. Derecho penal..., p. 668
58 JAKOBS. Derecho penal..., p. 667.
273
I Congresso da Associação Mineira de Pós-Graduandos em Direito
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59 JAKOBS. Derecho penal..., p. 668.
60 JAKOBS. Derecho penal..., p. 669.
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61 JAKOBS. Derecho penal..., p. 656.
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via revolucionária, do erro que recaia sobre as normas que compõem o âmbito
“disponível” desse ordenamento, para usar a expressão do autor.62 Essas últimas são
as normas cujo conteúdo não está desde logo determinado pelos princípios básicos
do ordenamento e que, portanto, são modificáveis em um processo de evolução,63
conforme as contingências sociais, diríamos.
A inevitabilidade do erro sobre normas que componham o núcleo
fundamental de um ordenamento jurídico só é concebível para Jakobs em situações
muito excepcionais. Praticamente só reconhece a escusação de um erro dessa
natureza quando partir de pessoas pertencentes a outras culturas. Pois para Jakobs
pessoas assim poderiam ser reconhecidas de forma análoga aos inimputáveis. Em
razão de sua “socialização exótica”, as conduta e motivações que manifestam não
servem de parâmetro para as expectativas sociais a respeito do comportamento geral;
elas não podem “servir de norma”. Assim, conforme os exemplos de Jakobs, a idéia
de que uma pessoa tenha suposto equivocadamente que, por princípio, a alta traição,
a coação ao Parlamento, o homicídio, as lesões ou até mesmo os danos estejam
permitidos só é aceitável se esta pessoa é cometida de grave perturbação psíquica ou
se seu estado psíquico é determinado pela estranheza de sua socialização.64
A escusa do erro sobre “os fundamentos”, além desse caso “extremo de
inimputabilidade”, poderia também se admitir na hipótese ainda mais rara da
consciência e motivação do agente ter sido determinada por regimes de governo
totalitários, marcados pela injustiça. Jakobs se lembra aqui do nacional socialismo, o
regime nazista, cuja atuação instigadora de comportamentos essencialmente injustos,
eficiente ao ponto de tratá-los como legais, seria idônea à exculpação do sujeito que
realiza suas demandas. Pois o contexto social imposto por regimes como esse, se
62 JAKOBS. Derecho penal..., p. 659-660.
63 JAKOBS. Derecho penal..., p. 661
64 JAKOBS. Derecho penal..., p. 659-660.
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67 JAKOBS. Derecho penal..., p. 661.
68 JAKOBS. Derecho penal..., p. 661-662.
69 JAKOBS. Derecho penal..., p. 662.
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70 JAKOBS. Derecho penal..., p. 683.
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definidos por outros ramos do direito, parcela da doutrina defendia, como informa
Brodt, a equiparação do erro de direito extrapenal ao erro de fato.71
Mas tampouco essa solução se firmou como satisfatória. Primeiramente pela
dificuldade em se delimitar o que seja o erro de direito penal em relação ao que seja
um erro de direito extrapenal. Depois, por que o fato de uma matéria estar regulada
exclusivamente no âmbito do direito penal não justifica por si só a irrelevância do
erro que sobre ela recaia. Como argumenta Frank72, citado por Roxin, não é razoável
atribuir conseqüências diversas ao erro sobre as condições e limites da auto tutela,
correspondente ao nosso desforço necessário, e ao erro sobre os pressupostos da
legítima defesa, simplesmente pelo fato daquele instituto estar previsto no Código
Civil e este no Código Penal.73
Acabou se impondo, segundo Roxin, a opinião científica de que também o
erro de proibição deve desculpar o agente, pelo menos quando inevitável. Não
obstante, permaneceu a divergência sobre a relevância do erro evitável sobre a
ilicitude do fato. E por traz de uma e outra posição divergente estão justamente as
teorias do dolo e da culpabilidade.
Para a primeira, que teve em Binding um de seus mais consistentes
defensores, a essência do delito consistiria na rebelião consciente do sujeito contra a
norma. Consequentemente, só haveria culpabilidade dolosa – nota-se que tal
concepção parte de um modelo causalista de delito – quando o sujeito atuasse com
efetiva consciência da ilicitude do seu comportamento. Essa teoria converte, assim, a
71 BRODT. Da consciência da ilicitude..., p. 56.
72 FRANK, StGB, 1931, §59 III 2 apud ROXIN, Derecho penal..., p. 862.
73 No fundo, como bem observa Jakobs, a fluidez e imprecisão da distinção entre erro de fato e erro
de direito, serviu para que o Tribunal Imperial (Reichsgericht) decidisse conforme o “sentimento
jurídico”, considerando “extrapenal” o erro “sentido” como exculpante, e “penal” o inescusável.
(JAKOBS. Derecho penal..., p. 658) Nisso a jurisprudência do Reichsgericht muito se aproxima, em seus
resultados, da concepção de Jakobs sobre a relevância do erro de proibição, baseada em que ele recaia
sobre normas fundamentais ou sobre normas “disponíveis” do ordenamento jurídico.
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74 ROXIN. Derecho penal..., p. 863.
75 ROXIN. Derecho penal..., p. 863.
76 JAKOBS. Derecho penal..., p. 663.