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O Uso das Variações Linguísticas por Alunos do Ensino Médio [1]

AMARAL, Railane Matos de [2], SANTOS, Julius François Cunha dos [3]

AMARAL, Railane Matos de; SANTOS, Julius François Cunha dos. O Uso das Variações Linguísticas por
Alunos do Ensino Médio. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 03, Vol.
02, pp. 26-35, Março de 2018. ISSN: 2448-0959

Contents

RESUMO
INTRODUÇÃO
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
PRECONCEITO LINGUÍSTICO
METODOLOGIA APLICADA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o uso das variações linguísticas, na modalidade escrita por alunos
do Ensino Médio. No trabalho identificamos as principais dificuldades de compreender as variações, o que
leva o uso de Gírias e Linguagem Coloquial em textos dissertativos. Observa-se também a presença de
forte preconceito linguístico entre os alunos, e como este contribui negativamente na qualidade de
produções textuais. O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, que possibilita por em
prática aulas de intervenção com os alunos da Escola Estadual Frei Mario Monacelli.

Palavras-Chaves: Variação Linguística, Preconceito Linguístico, Texto Dissertativo.

INTRODUÇÃO

O artigo a seguir, partiu de uma pesquisa de campo, realizada na Escola Estadual Frei Mario Monacelli,
localizada no Bairro Alfredo Nascimento, na Av. Grande Circular 2, no período de 04 de julho até 29 de
outubro, período este que fiz o estágio, onde pude perceber a variação linguística entre os alunos, tendo
em vista que na mesma turma, tinha alunos de outro estado, com sotaque bem forte de sua região, e por
isso muitas das vezes sofriam preconceito linguístico, e assim surgiu a motivação de fazer o artigo sobre

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variações Linguística.

Logo é correto afirma que, a variação linguística é um fenômeno que acontece com a língua e pode ser
compreendida através das variações históricas e regionais. Em um mesmo país, com um único idioma
oficial, a língua pode sofrer diversas alterações feitas por seus falantes. O português que é falado no
Nordeste do Brasil pode ser diferente do português falado no Sul do país.

As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a comunicação, então é


compreensível que seus falantes façam adaptações de acordo com suas necessidades comunicativas. Os
diferentes falares devem ser considerados como variações, e não como erros. Quando tratamos as
variações como erro, associa-se ao preconceito linguístico.

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

A variação linguística é uma variedade social, caracterizada por religião, grau de escolaridade, grupos,
domínio social, região e etc. Os papéis são definidos por normas socioculturais. É algo que já está em
nossa cultura e que de um modo natural nota-se uma divisão evidente que se reflete na língua. A divisão
linguística ocorre da seguinte maneira, de um lado têm o português não padrão, que é o uso coloquial da
língua, e do outro lado tem o português padrão que é segundo as regras das gramáticas.

Vygotsky afirma que “o meio social é determinante no desenvolvimento humano” (NEVES, DAMIANI 1982,
p.6), ou seja, o ambiente em que o indivíduo está inserido influencia direto ou indiretamente no
desenvolvimento e aprendizagem da linguagem, que a aprendizagem ocorre por “imitação”, uma
reprodução do que se é vivenciado.

De acordo com Marcos Bagno (2009, p. 19), existe uma regra de ouro na linguística que afirma: “só existe
língua enquanto houver seres humanos que a falem”. Esse princípio, algo fácil de verificar no dia a dia,
deveria ser uma coisa óbvia se encarássemos os fatos simples dos estudos da língua de qualquer falante,
como eles realmente são: qualquer pessoa que fala é porque sabe falar. “Pode ser que falem de formas
um pouco peculiares, que certas características do seu modo de falar nos pareçam desagradáveis ou
engraçadas. Mas isso não impede que seja verdade que sabem falar” (POSSENTI, 1996, p. 29).

Exemplo disso são os bebês, quando uma mãe pergunta a outra se o bebê dela com mais ou menos dois
anos já sabe falar, ela responde que sim, porém não quer dizer que o mesmo saiba corretamente a língua,
pois o principio da fala é a comunicação, mesmo que seja engraçado ou errado o bebê esta se
comunicando. E de acordo com convivo social este vai aprender as regras dessa língua.

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“E se sabem falar é porque sabem uma língua”. E se sabem uma língua é porque sabem as regras de
funcionamento dessa língua, ou seja, a gramática. “Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua”.
“Saber uma língua, na concepção científica da linguística moderna, significa conhecer intuitivamente e
empregar com facilidade e naturalidade as regras básicas de funcionamento dela” (BAGNO, 2009, p. 51).

Uma pessoa ainda que tenha nascido dentro de uma sociedade dita primitiva, consegue dominar
perfeitamente as regras gramaticais de sua língua. Não apenas ela, mas todos os brasileiros cuja situação
social e econômica não permitiu que estudassem durante vários anos, falam o tempo todo em português
com uma gramática intuitiva lógica e coerente.

Sem haver escolas, sem haver professores, sem haver alunos, sem haver instrução institucionalizada, a
criança, pela mera inserção progressiva na vida do grupo a que pertence, vai dominando sua língua,
internaliza-lhe as regras e, cedo, entre 12-13 anos, é adulto na sua língua: pratica todas as regras e
gramáticas que todos praticam, sabe todas as palavras que todos sabem e tende a ter uma visão de
mundo, um fazer do mundo e um saber do mundo como todos do seu mundo (HOUAISS, 1991, p. 25).

Ou seja, para as ciências da linguagem, esses fatos são elementares, mas pode parecer algo novo, um
pouco estranho ou um completo absurdo para quem não faz parte do campo. Isso porque ainda impera
nas salas de aula e na imprensa brasileira que “saber português” é saber distinguir um complemento
nominal de um adjunto adnominal. “Nesse ponto, é importante esclarecer que da mesma forma que o
molde de um vestido não é um vestido, uma receita de bolo não é um bolo, um mapa-múndi não é o
mundo, a gramática normativa não é a língua”. (BAGNO, 2009).

As gramáticas normativas apresentam um conjunto de regras, relativamente explícitas e coerentes, que


devem ser seguidas quando surge a necessidade do emprego da norma padrão, mas não são
necessariamente a língua, o uso dessas regras pode ser encontrado nos textos jornalísticos, acadêmicos e
de boa parte dos livros publicados no país, essa norma é exigida na produção de publicações
universitárias. Por isso, essa variedade padrão é ensinada na escola, já que seu ensino é uma ferramenta
essencial para o conhecimento e para o acesso de informações fundamentais para a vida de qualquer
pessoa.

No entanto, apesar da importância de conhecer as regras de funcionamento da gramática normativa, os


falantes que fazem uso dela podem incorrer no preconceito de que existe uma única maneira certa de
falar a língua portuguesa. E essa maneira correta estaria estampada na gramática prescritiva. Essa ideia
faz parte do que é denominado na academia de preconceito linguístico. O termo foi popularizado pelo
professor Marcos Bagno (2009) na década de 1990 e define qualquer juízo de valor que estigmatiza direta
ou indiretamente as pessoas que não dominam formas linguísticas consideradas certas por uma dada
comunidade.

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PRECONCEITO LINGUÍSTICO

O preconceito linguístico é velado e funciona da seguinte forma: em tese, essas gramáticas se baseiam
num modo peculiar de atividade linguística a escrita de um grupo seleto de cidadãos que fizeram uso
dessas variantes prestigiadas. Em outras palavras, a sociedade elege às vezes de maneira arbitrária ou
baseada no que ela convencionou chamar elegante uma variante linguística, tornar-se padrão e em
seguida passa a ser errado todo e qualquer falante que não siga aquela variação.

Inspirados nos usos que aparecem nas grandes obras literárias, sobretudo do passado, os gramáticos
tentam preservar esses usos compondo com eles um modelo de língua, um padrão a ser observado por
todo e qualquer falante que deseje usar a língua de maneira ‘correta’, ‘civilizada’, ‘elegante’, etc. É esse
modelo que recebe tradicionalmente, o nome de norma culta (BAGNO, 2003, p. 43).

Como observamos acima, a aprendizagem da língua é um processo natural, dinâmico e vivo que segue
regras internas próprias de funcionamento. Nesse sentido, é necessário frisar também que todas as
línguas variam, alteram-se, transformam-se. Não existe nenhuma sociedade onde todos falam da mesma
forma, utilizando o mesmo vocabulário, as mesmas sentenças. Esse fato não significa que a língua fica
melhor ou pior, mais rica ou mais pobre.

Logo elas simplesmente mudam, uma língua uniforme, homogênea e única é uma ficção. O idioma dos
falantes de qualquer nação passa por alterações, independentemente do nível de letramento das pessoas,
dos avanços econômicos e tecnológicos do seu povo, do poder mais ou menos repressivo das instituições
políticas ou culturais. Formas linguísticas perdem ou ganham prestígio.

“E que tal alguma coisa assim: “Estou-me nas tintas se não te apetece uma bola de Berlim”?

— Vai me dizer que isso também é português? — duvida Sílvia.

— Claro que é, é português falado em Portugal. Significa:

“Estou pouco ligando se você não gosta de comer sonho”. (BAGNO, 2006, p. 14).

Sendo assim, um idioma pode sim sofrer variações, ou podemos dizer adaptações, exemplo disso sãos os
países Brasil, Portugal, Moçambique, angola e entre outros, têm como língua oficial o Português, mas cada
um deles falam de uma forma. E se um brasileiro for conversar com um angolano, ele vai compreender
pois o princípio da linguagem é a comunicação.” A fala da Eulália não é errada: é diferente. É o português
de uma classe social diferente da nossa”( BAGNO, 2006, p 14). E quem vai dizer que o angolano está
falando errado, não é errado, é apenas diferente.

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A Eulália mora com a minha tia Irene. É a pessoa mais querida do universo inteiro! Eu simplesmente amo
ela…

— A “moela”, que eu saiba, é um órgão das galinhas, meu bem…

— diz Emília, sarcasticamente.

— Não enche, Emília, a gente “estamos” de férias, “tá bão”? —

graceja Sílvia. (BAGNO, 2006, p. 09).

Portanto, às vezes podemos nos pegar falando de maneira, não tão formal, num dia qualquer de
descontração com amigos, parentes ou vizinhos, pois o importante mesmo é compreender a mensagem à
ser passada, e se por um momento as diferenças fonéticas, sintáticas, lexicais ou semânticas aparecer nós
continuaremos compreendendo.

METODOLOGIA APLICADA

O procedimento metodológico foi realizado em sala de aula, com os próprios alunos, através de aula de
intervenção, primeiramente dei uma aula explicando o que é variação linguística, e como acontece, com o
retroprojetor mostrei algumas charges, a seguir.

Figura 1

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Figura 2

Essas duas primeiras imagens tratam-se da variante regional da língua. Pois uma mesma fruta como
mostra na primeira imagem, sofre variação, pois para a mesma é dado vários dialetos, tem nomes
diferentes dependendo da região, aqui em Manaus conhecemos como tangerina.

E na segunda imagem, há um dialogo entre dois homens, um do capo e outro da cidade, onde o homem
da cidade entra na linguagem do campo, e aparentemente não consegue voltar para a língua formal.

Figura 3

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Figura 4

E essas duas tratam-se do preconceito Linguístico, aqui na primeira imagem temos, dois homens do
campo, o preconceito linguístico envolve duas pessoas do mesmo convívio social, pois os dois são do
campo.

No momento em que se estabelece uma norma-padrão, ela ganha tanta importância e tanto prestígio
social que todas as demais variedades são consideradas “impróprias”, “inadequadas”, “feias”, “erradas”,
“deficientes”, “pobres”… E esta norma-padrão passa a ser designada com o nome da língua, como se ela
fosse a única representante legítima e legal dos falantes desta língua. (BAGNO, 2006, p. 26).

E é exatamente o que acontece na segunda imagem, o preconceito parte literalmente da linguagem, onde
ela diz “Aí Varêia”, quando certo seria AÍ VARIA.

Após as ilustrações foi o momento de debate. Depois pedi para os alunos fazerem um texto dissertativo,
para assim juntos analisarmos, a presença da variação linguista ou do preconceito linguístico. Para o artigo
separei duas redações, a seguir.

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Redação A

Na redação A, o tema é Maioridade Penal, a aluna em um trecho escreveu “Eu apoio e muito essa nova lei,
que é prender os adolescentes que fazem crimes, só assim que para um pouco da vandalidade (…) tem
muitos projetos ai que ajudam adolecentes a sair das drogas da vadalidade”. Linguisticamente falando
está correto, pois podemos compreender a mensagem, mas se for levar para o lado da gramática
primitiva, o correto seria vandalismo e adolescente.

Redação B

Na redação B, o título deixei ao critério dos alunos, pedi para que discorressem sobre como foi seu fim de
semana, a aluna presente escolheu o título da sua redação “Sabado de Sol”, já em seu título ela já
cometeu erros gramaticais, e em um trecho ela escreveu “ Fomos até um lugar que nunca tinhas ido antes
(…) lá havia uma casa inorme”, reescrevendo sua frase o certo seria “ Fomos até um lugar que nunca
tínhamos ido antes (…) lá havia uma casa enorme”. Como professores não podemos criticar, tendo em
vista que não sabemos em que convívio social, o aluno se encontra, mas devemos sim orientar mostrar o
caminho a ser seguido, “ O professor é um facilitador da aprendizagem..” (Carl Rogers).

CONCLUSÃO

Contudo, o artigo presente alcançou seu objetivo, que é mostrar as variações linguísticas, para assim
esclarecer aos alunos, que nem sempre alguém fala errado por querer, e que na verdade não é “errado” é
diferente, mas por falta de orientação, conforme o ambiente social que vivi, essas pessoas acabam
fazendo adaptações na língua, e que por isso acabam sofrendo o preconceito linguístico.

Pois, falar diferente não é errado, toda língua sofre variação, em qualquer lugar do mundo há viação
conforme seu idioma, como por exemplo, o inglês falado nos Estados Unidos é diferente do inglês falado
na Inglaterra, sofre mudanças variações, mas tudo é inglês.

Já o Português, falado em Portugal não é o mesmo falado no Brasil, mais tudo é Português, ah quem diga
que o Português correto é o de Portugal, mas da mesma forma sofre variação.

Porém, no Brasil tem descendência de vários países, na região Norte e Centro Oeste os descendentes na
maioria são dos nativos que já viviam em território brasileiro, na região Nordeste são dos exploradores
europeus, dos africanos e dos nativos da região, no Sudeste mais precisamente São Paulo e Rio de Janeiro,
os descendentes são de desempregados de vários países e de toda região do Brasil, que imigravam para
esses dois estados em busca de emprego, e na região do Sul os descendentes são da Itália, Alemanha,

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Japão, Polônia e coreia, Minas Gerais mais parece à Itália no Brasil, com suas fortes tradições e culturas.

E desta forma, a Língua Portuguesa não tem como deixar de sofrer variações, com tantas nações por
assim dizer, reunidas em um só país.

REFERÊNCIAS

BAGNO, A Língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2006.

BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. São Paulo: Loyola, 2009.

HOUAISS, Antonio. O que é língua. São Paulo: Brasiliense, 1991.

NEVES, Rita de Araújo, DAMIANI, Magda Floriana. Vygotsky e as teorias da

Aprendizagem. UNIrevista – Vol. 1, n° 2 :abril, 2006.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996.

[1]
Trabalho de Conclusão de Curso, modalidade Artigo Científico, apresentado como requisito para a
obtenção do título de Licenciado em Letras. Orientador: Prof. Ms. Julius François Cunha dos Santos

[2]
Graduando em Licenciatura Plena em Letras (UNINILTON LINS).

[3]
Mestre em Letras e Artes (UEA). Especialista em Didática do Ensino Superior (UNINILTON LINS).
Graduado em Licenciatura Plena em Letras – Língua e Literatura Portuguesa (UFAM).

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