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Retífica de trastes - Fret Work

Olá pessoal, nesta edição vou falar sobre um procedimento efetuado pelos luthiers chamado retífica de trastes.
Comumente quando levado o instrumento para uma regulagem completa, o nivelamento dos trastes é feito e
necessário para que os mesmos fiquem perfeitamente nivelados entre si e sem marcas, amassados, ou ate
mesmo com resquícios de falhas de instalação por ventura despercebida pela fabrica. (Alias muito comum).

Por: Edmar Luighi

Quando o músico procura um luthier, pedindo que ele regule seu contrabaixo por estar trastejando, ou com a
tocabilidade “dura”, existe uma grande possibilidade dos trastes estarem desnivelados entre si. Isso causa
trastejamento, pois, a ausência de uniformidade entre eles ocasiona também uma irregularidade de apoio de um
traste para o seu posterior.Ex.: O terceiro traste por estar mais baixo que o quarto, não proporciona a altura de
corda adequada para que a mesma soe livremente.

O que pode acontecer também, é que ao invés do terceiro estar mais baixo, o quarto pode estar mais alto, no
entanto os mesmos sintomas serão percebidos, por isso sugiro que o diagnóstico final seja dado pelo seu luthier
de confiança.

Além de trastejamento, trastes marcados, ásperos, amassados, causam desconforto ao


tocar, pois as depressões neles apresentadas servem de obstáculos para as cordas, fazendo
com que os vibratos, e até mesmo notas “secas”, não fluam naturalmente.

Também, para que seja conseguida uma ação de cordas baixa, é necessário que os trastes
estejam micrometricamente alinhados entre si, como comentado acima, para que não haja
trastejamento.

No momento da regulagem o luthier, normalmente irá verificar se existe algum traste solto
pressionando-o contra a escala para certificar se há algum movimento (foto 01). Caso haja,
esse ou esses trastes deverão ser colados para que no momento da retífica não se
movimentem e acabem por sendo gastos de maneira irregular.

Após essa operação, a escala será isolada pelo luthier, principalmente se for de cor clara,
maple, marfim, para que não haja riscos que macule sua aparência. A forma mais comum é

o uso de fita adesiva (fita crepe). (foto 02)

Agora os trastes já estão prontos para serem retificados. A ferramenta usada para essa
operação é uma lima fina pouco abrasiva, ou pedra de carburundum (a mesma usada para
amolar facas). Essa operação é a mais delicada, pois todos os trastes devem ser atingidos
por igual e com a mesma intensidade (foto 03), até considerando o abaulamento da escala,
pois se assim não for, podem ser danificados e desnivelados mais ainda, de forma até
irreparável, tornado a troca de trastes inevitável. Por isso, só profissionais experientes

estão capacitados para essa operação.

O próximo passo, com o auxílio de uma lixa d’água n° 240 (foto 04), será reduzido os riscos
deixados pela lima ou pela pedra, passando a lixa na mesma direção que anteriormente fora
utilizada a lima. Da mesma forma que o passo anterior, nenhuma região deve ser atritada
mais que a outra, para que não se crie nenhum desnível nos trastes.

O uso da lima ou da pedra, ao nivelar os trastes entre si, tende a deixá-los com um formato
achatado, pois retiram aquela forma arredondada, causando além de um aspecto de trastes
velhos, um possível indício de trastejamento, uma vez que sua superfície de atrito, que agora achatada, ficou
maior, fazendo com que as cordas possam trastejar sobre o próprio traste tocado. Além do que, uma vez que sua
superfície de atrito está ampliada, também ampliado será o campo de movimentação da corda, podendo tornar o
instrumento um pouco “duro” ao ser tocado.

Para evitar esse tipo de problema é que os luthiers mais especializados se utilizam de uma
lima especialmente desenhada para sanar essa dificuldade, pois tem um formato abaulado,
de vários tamanhos para se adequar aos vários tipos e tamanhos de
trastes. (normalmente essas limas são importadas, particularmente
desconheço sua fabricação no Brasil). Essa lima é trabalhada em um
traste por vez, devolvendo-lhe o formato arredondado (foto 05 e 06). É
preciso experiência também no emprego dessa ferramenta, pois ela
pode deixar o traste torto ou riscado, se não usada corretamente.

Concluída essa etapa, é hora do luthier limar as laterais dos trastes para que os mesmos não
machuquem as mãos do músico. Essa operação também é feita com uma lima fina atingindo praticamente todos
os trastes ao mesmo tempo. É utilizada levemente inclinada para a parte de dentro da escala. (foto 07). A
mesma lima usada para arredondar os trastes ou outra bem parecida é usada para acertar as pontas das laterais
superiores, que também podem causar desconforto ao músico. (foto 08)

Agora vem o acabamento. Com o auxílio de uma lixa d’água n° 600 e em seguida uma de n° 400, são retirados
os riscos deixados pelos processos anteriores. Nesse processo também se aplica as lixas sobre os trastes com a
mesma pressão e número de repetições.

O uso de uma esponja de aço (daquelas das mais finas, comuns em cozinha), agora traste à
traste, sem muita pressão, porém com várias repetições, se faz necessário, para o polimento
e eliminação completa dos riscos. (FOTO 09)

Agora é só tirar a fita adesiva com cuidado, limpar a escala, e hidratá-la com algum tipo de
óleo, sem encharcar (recomendo óleo de limão, produto importado, e de uso dirigido a essa
função), e concluir outros itens da regulagem.

Insisto que esse tipo de trabalho seja feito por seu luthier de confiança para que você possa
conservar seus trastes por muito tempo.

Obs. Antes de todos esses procedimentos, o luthier verificará o estado do braço com relação
a existência de torções e empenamentos, ajustará o tensor de forma que a escala fique mais
reta possível para o fret work. Caso haja no braço algumas dessas irregularidades citadas
acima, os procedimentos serão outros.

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Primeiramente vamos determinar as causas deste problema tão persistente.

Tensor mau ajustado. Esta é uma causa bastante comum de acontecer. Muitas vezes, ou por falta de regulagem,
ou por variações climáticas acentuadas, o braço da guitarra assume curvaturas exageradamente côncava ou
convexa, que gera trastejamento.
Quando muito Côncavo, (Foto 01) o braço, tende a trastejar a partir do 12 traste em diante. A razão desta
deformidade, pode ser, além da falta de regulagem inicial, uma troca de encordoamento por outro de maior
tensão. Por exemplo de 009 por 010.
Outra razão, um súbito aumento de temperatura. Uma variação climática, que faça com que a temperatura suba,
por exemplo, de 22 graus para 32 graus, desencadeia um processo que faz com que o tensor por ser feito de
metal, “delata-se” , e desta forma “afrouxando” a tensão hora exercida, permitindo com que o braço da guitarra
arca-se tornando se côncavo, e desta forma causando o trastejamento.

Em qualquer um dos casos a solução é reajustar o tensor, “apertando-o” (Foto 02) no sentido horário, até que a
errônea curvatura seja corrigida.
Importantíssimo lembrar, que o luthier é a pessoa mais indicada para tal ajuste, pois uma conclusão precipitada
sobre o assunto, ou um ajuste indevido, além de não melhorar o problema pode danificar o braço.

Quando o braço se apresenta muito convexo (Foto 03), o trastejado aparece no começo da escala, comumente
entre o primeiro traste até o quinto no máximo.
A razão desta irregularidade além de falta de regulagem inicial, pode ser uma troca de encordoamento de uma
tensão maior para outra menor. Por exemplo de 010 para 009.
Ou um declínio climático. Uma queda acentuada da temperatura, de digamos... 30 graus para 18 graus, faz com
que o metal do tensor se “contraia” e desta forma “aperte” mais a tensão do braço, fazendo com que fique mais
convexo.

A solução em ambos os casos, é “afrouxar” o tensor no sentido anti-horário, até que a irregularidade seja
corrigida. Com nos casos acima procure um luthier, caso não tenha conhecimento prático de tal operação.

Outro problema causador de trastejamento é a


Irregularidade na altura dos trastes entre si. Os sintomas são percebidos por trastejamentos espalhados em
varias regiões do braço.
Este problema ocorre ou por falta de um ajuste inicial, ou pelo próprio uso. A medida que tocamos, os trastes
pela própria pressão das cordas, vão se gastando, riscando, amassando, contraindo sulcos, que não se
apresentam, de forma homogênea. Por tal razão, em alguns casos o traste que deveria dar “suporte” a corda
para que a mesma não encostasse no próximo traste, não o faz, por estar, talvez gasto ou amassado e desta
forma ficando com menor altura que os demais a sua frente, e sendo assim proporcionando o trastejamento.
A solução para tal problema é nivelar os trastes.
O luthier após isolar toda a escala, com fita crepe para evitar possíveis arranhões, (Foto 04), começará um
procedimento chamado retífica de trastes. (ver CG. 64, 91, Ou o Guia Ilustrado da guitarra)
Tal procedimento começa com o uso de uma lima ou uma pedra de Carburundum (Foto 05), com o intuito de
nivelar os trastes entre si, e retirar deformidades como amassados, sulcos, etc.
Após esta operação, é usado lixas, de varias espessuras para retirar os riscos deixado pelo processo anterior,
(Foto 06), (e em seguida o uso de uma lima especifica para o estreitamento e arredondamento dos trastes é
utilizada. (Foto 07)
Agora, novamente o uso de lixas é requisitado, só que desta vez ao final uma palha de aço fina, (tipo Bombril) é
usada para melhor polimento. (Foto 08)
Após uma limpeza cuidadosa, é momento de colocar novamente as cordas, e finalizar o trabalho.
Importante salientar que as vezes a irregularidade na altura dos trastes se encontra em apenas um ou dois
trastes, por motivo ou de uma pequena batida, ou algum traste se descolando, e desta forma, fica um pouco
mais alto causando o trastejado.
A solução é mais simples, as vezes apenas recolando-se o traste solto, ou levando o traste muito baixo resolve-
se o problema. Portanto como pode perceber, o diagnóstico de um técnico especializado, é de suma importância.

Cordas velhas, podem gerar trastejamentos, os quais podem trazer sintomas, semelhantes a todos esses citados
acima. É preciso Ter cuidado para não proferir diagnósticos errados, pois a impressão de trastejamentos grave
que encordoamento velho pode sugerir, é muito grande.
A razão, é que cordas velhas podem apresentar amassados, elevações e ou depressões por sua extensão,
ferrugens ou zinabres, causados pelo próprio uso, que propiciam esses trastejado.
A solução, é simples! Antes de qualquer diagnostico, ou mesmo um prognóstico, verifique se as cordas estão
novas. (até duas semanas) .Se não, troque-as, e aí faça de novo a constatação se há ou não trastejado.

Ponte muito baixa, pode ser a causadora de trastejamento.


Muitas vezes os parafusos dos sadles (Foto 09) ou dos pivôs (Foto 10) podem ceder, em razão ou de impacto, ou
da própria vibração e uso do instrumento, fazendo com que as cordas fiquem tão baixas a ponto de
apresentarem trastejado.

A solução é levantar um pouco os sadles para voltar a Ter uma ação de cordas coesa. Lembre-se! Leve a um
luthier para que ele melhor avalie a situação.

Nut com ação de cordas muito baixa, é um forte causador de trastejado em se tratando do uso das cordas soltas.
O nut pode em função do próprio uso, ter seus sulcos, (Foto 11) gastos e desta forma, propiciar uma ação de
cordas tão baixas, que quando tocadas soltas, esbarram no primeiro traste, causando o trastejado.

foto 01 foto 02 foto 03

foto 04

A solução será através de calços, restabelecer a altura conveniente. Este trabalho só deve ser feito por técnicos
especializados. (maiores informações no Livro “Guia ilustrado da guitarra”, ou nas edições 64 e 91 da cover
Guitarra)

A mão direita do músico, é uma forte causadora de trastejamentos em guitarra.


Muitas vezes o músico pede ao luthier, uma ação baixa de cordas, a qual não esta acostumado e nem pronto
para usar. Um ação baixa de cordas, comumente é solicitada, com o intuito de dotar o instrumento de uma
performance “leve” e fácil de tocar. Desta forma se imagina que o instrumentista queira, tocar levemente sem
fazer força, para não se cansar, não contrair uma tendinite, ou não ter sua técnica prejudicada, por esforços
desnecessários. Só que ao contrario, alguns músicos, “descem a mão” na guitarra, e argumentam, que a mesma
esta trastejando. Ora vejam. Precisamos respeitar algumas leis da física. Por exemplo, se as cordas estão como
uma distancia de 1milímetro dos trastes, é imprescindível que a mão direita contenha sua força para que ao
tocar as cordas não as faça vibrar superior a esta medida de 1 milímetro, pois, se não com certeza trastejarão, é
não será por defeito e sim por lógica.

Caso o músico não consiga deter sua mão, a solução será pedir a seu luthier que aumenta a ação de cordas de
sua guitarra pois, esta não é a altura de cordas ideal para a sua técnica no momento.
Braços empenados ou torcidos, são também causadores de fortes trastejamentos, entretanto, nesta situação, os
procedimentos não são de ajustes e sim de consertos.
A solução é retirar os trastes e plainar a escala até que a mesma se encontre novamente em condição de uso.
Mas isto já é assunto para um outro dia. (Ver Cover guitarra, 65, ou “guia ilustrado da guitarra”)

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Nesta edição, além de comentarmos sobre as causas, vou dar algumas dicas de “pronto socorro”, para aqueles
casos em que o “paciente” – no caso, a guitarra – apresente falhas na chave de comutação de captadores,
potenciômetros raspando, chiando ou falhando, jacks barulhentos... Enfim, sintomas que, muitas vezes,
aparecem em algumas horas do show, não havendo tempo hábil para procurar um “médico” ou “clínica
especializada”.

Quem ainda não se deparou com problemas semelhantes a estes que citei acima pode se considerar um sujeito
de sorte. Chaves, potenciômetros e jacks são componentes que atuam nos seus objetivos através de contato
físico entre dois ou mais pontos. Estes pontos de contato, feitos em metal, estão sujeitos a oxidação, zinabres e
ferrugens, que impedem ou prejudicam o desempenho desses componentes. Até mesmo a umidade ou o pó
contribuem para o aparecimento de falhas. Evitar que isso aconteça é difícil, pois pó, sujeira e umidade existem
em todo o lugar.

Existem alguns cuidados essenciais, como:

a) Não deixar acumular pó sobre a guitarra, para que o mesmo não impregne os contatos da chave e/ou os
potenciômetros.

b) Não derramar líquidos sobre o instrumento (água, cerveja ou refrigerante), coisa muito comum de acontecer
em shows.

c) As pessoas que transpiram demais devem procurar secar as mãos com maior freqüência (os músicos que
moram e/ou fazem shows em cidades litorâneas ou regiões onde a umidade relativa do ar é alta presenciam
esses problemas com maior freqüência)

d) Fixar “saquinhos” de sílica próximos as chaves e potenciômetros, na parte interna do gabinete destinado aos
componentes eletrônicos do instrumento (isso ajuda a controlar a umidade e assim, minimizar seus defeitos).

Essas são algumas dicas que ajudam a reduzir a freqüência do problema. No entanto, quando constatada a falha
nos controles, a solução é procurar seu luthier para que ele – no caso da chave, por exemplo – possa limpar os
contatos (até mesmo lixa-los) para que a mesma volte a funcionar com perfeição (embora, em alguns casos, se
faça necessária a substituição).

Já os potenciômetros merecem uma escovação interna cuidadosa e uma limpeza minuciosa, para que o seu
funcionamento retorne à perfeição.
É comum as pessoas acharem que basta jogar um óleo em spray – do tipo WD40 – para que se solucione o
problema. Isso é um enorme engano! Embora, momentaneamente, tudo pareça estar sanado, na maior parte dos
casos o problema volta mais forte, com falhas, ruídos e chiados intensos. Isto se deve ao fato de que, se por um
lado o óleo limpa os contatos, por outro os impregna de tal forma que a sujeira e o pó grudam com uma extrema
facilidade às vezes causando danos irreparáveis.

Darei aqui algumas dicas de como agir nessas situações. Mas apenas nos casos urgentes, em que você não possa
levar o instrumento para uma limpeza mais criteriosa em seu luthier de confiança.

I) Numa loja de produtos farmacêuticos, compre uma seringa de vidro, uma agulha, benzina ou álcool
isopropílico. A benzina e o álcool isopropílico ajudam a limpar os contatos, pois sua química atua diretamente no
zinabre ou na “sujeira” que estiver dificultando/impedindo o contato, solvendo, limpando e melhorando – ou até
sanando – o problema. (Às vezes apenas momentaneamente) Como são líquidos voláteis – evaporam com
facilidade – não deixam resquícios de umidade ou gordura, que poderiam atrair poeira ou criar algum tipo de
oxidação.
No caso dos potenciômetros, aplique o produto com a seringa na parte de cima do potenciômetro, na lateral e no
centro de sua haste (FOTO 1). Posteriormente, retire o escudo ou abra o compartimento de acesso a parte
elétrica, e aplique o álcool ou a benzina diretamente na abertura próxima aos contatos do potenciômetro (FOTO
2). Em seguida, gire a haste do potenciômetro para os dois lados, repetidas vezes.
Pronto! Isto deverá melhorar e até sanar o problema momentaneamente. Após o show, procure seu luthier para
que ele possa, pessoalmente, limpar seu potenciômetro.
foto 01 foto 02 foto 03

foto 04

II) A chave de comutação, sofrerá o mesmo processo do potenciômetro. Será aplicado o produto na parte
superior e inferior interna (FOTO 3). Posteriormente, deverá seu mudada suas posições repetidas vezes.

III) No Jack, será feito o mesmo processo (FOTOS 4 e 5), entretanto utilizando-se também de um cotonete
embebido no mesmo produto. O resultado não será tão satisfatório, pois o problema quase sempre é a falta de
pressão nas garras de contato. No entanto, vale a pena a tentativa, embora o seu luthier, com certeza, terá mais
êxito.

Após ter passado por estas situações de emergência, cesse os primeiros socorros, leve o “paciente” à sua “clínica
de confiança” para que um “médico” possa efetuar os cuidados mais específicos e corretos para sanar essa
“enfermidade”.

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É muito comum nós Luthiers recebermos em nossas oficinas, músicos se queixando de que a sua guitarra esta
com ronco que antes não havia, ou, - que se tirar as mãos das cordas, aparece um “zumbido” - ou até mesmo
quando - com o volume “zerado” o instrumento apresenta ruídos...etc. -
Todos nós já nos deparamos com ruídos em nossos instrumentos que as vezes não conseguimos detectar a sua
causa. Citarei alguns causadores mais comuns de ruídos, para que assim vocês possam tomar algumas
precauções, para amenizar esse problema quase sempre, extremamente irritante.

Primeiramente, importante lembrar que captadores single coils (foto 1) geram ruídos (hum), pois são
transdutores de energia eletromagnética, e como ta,l possuem uma bobina, e essa por sua vez é vulnerável a
interferência de radiação eletromagnética.
Isto significa que, essas bobinas, tendem a captar ruído ou zunido por si só. (ver cover guitarra nº 50, ou “O
Guia Ilustrado da Guitarra).

Por essa razão que fora inventado o humbucker que possui duas bobinas em vez de uma (foto 2) com suas
polaridades magnéticas opostas uma da outra e “enroladas” defasadas, e desta forma, conseguindo o
cancelamento do ruído.

Hoje em dia é muito comum, além dos tradicionais humbuckers, instalar-se, os chamados “Stacks”, que são
captadores em formato de single coils, entretanto, possuem duas bobinas como o humbucker, (As vezes
sobrepostas, ao invés de paralelas) (Foto 03), e reproduzem bem próximo os timbres de captadores de uma
única bobina, contudo, sem o ruído. Esses “singles de duas bobinas” chegam muitas vezes a proporcionar
timbres e saídas tão fortes quanto os tradicionais humbuckers.
Bem, embora os humbuckers e os “Stacks” sejam eficazes com relação ao hum, (ruído) captadores não são os
únicos causadores de roncos e ruídos.

As vezes a parte elétrica da guitarra não estando “aterrada” pode gerar um ruído constante.
Comumente a parte elétrica é aterrada na ponte do instrumento (foto 4) pela parte de baixo, no compartimento
de molas (foto 5), no caso de uma ponte trêmolo.

Ou seja, - uma vez que o aterramento esta feito na ponte, e a mesma é feita de metal, e por sobre ela repousa as
cordas, que também são feitas de metal, quando colocamos as mãos sobre as cordas estamos usando nosso
corpo como uma espécie de “fio terra” “isolando” o ruído e desta forma amenizando-o. Então é compreensível,
que quando tiramos as mãos das cordas, o ruído tenderá a aumentar.

Uma maneira de detectar se o instrumento está “aterrado” ou não, é colocando justamente as mãos sobre as
cordas e tentar perceber se isso minimiza o ruído. Se reduzir seu instrumento esta “aterrado” devidamente, caso
contrário, procure seu luthier para que ele verifique o que esta ocorrendo.

Um outro causador de “barulho” são as “fontes” de pedais ou pedaleiras (foto 6).


Essas “fontes” são conversores de energia. Elas transformam muitas vezes a corrente alternada (a.c) da nossa
rede elétrica, em corrente continua (d.c), reduzindo a voltagem de 110volts para 6, 9, ou 12 volts. Entretanto
quando não “balanceada” e “filtrada” adequadamente, geram um ronco grave (riple), que muitas vezes nos leva
a crer que esse ruído provém da guitarra ou do amplificador.
A solução é procurar um luthier ou um técnico em eletrônica, para que verifique o estado de sua fonte e caso
detecte algum mal funcionamento, lhe sugira ou a troca, ou um balanceamento ou uma filtragem.

foto 01 foto 02 foto 03

foto 04

Outro inimigo do silêncio são os cabos de ligação guitarra e amplificador de mau qualidade. (foto 7)
Cabos com a malha de má qualidade não oferecem uma blindagem eficaz gerando ruído ou até perda de sinal.

Conectores (foto 8) de metal de má qualidade, e mal soldados, geram mau contatos, falhas e até ronco,
impossibilitando um som cristalino.
As diferenças sonoras entre um cabo bom e um ruim, é perceptível facilmente; apenas trocando um pelo outro,
já se nota as vezes de forma gritante diferença entre eles.
Antes de comprar um cabo, pergunte ao vendedor as características do mesmo. Consulte se possível alguém que
já usou esta marca ou modelo. Acredite melhorará e muito o som e o ruído de seu instrumento, um cabo de boa
qualidade.

Um dos principais geradores de ruídos é a nossa própria rede elétrica.


A rede elétrica pode gerar em amplificadores um ruído constante de freqüência média chamado histerese, que
se evidencia mais quando usamos saturação. (over drive etc).
É uma espécie de interferência que pode estar sendo causada por máquinas elétricas de pequeno e ou grande
porte, rádio freqüência, lâmpadas florescentes, enfim, inúmeros fatores.

Existem regiões como avenida Paulista em São Paulo, por exemplo, que devido também, ao grande número de
torres, antenas transmissoras de rádio e televisão que existe na região, que fica quase que impossível ligar
qualquer equipamento sonoro, e não perceber uma forte interferência, que as vezes nos leva acreditar que ou a
guitarra esta com problemas ou o amplificador, ou até mesmo os pedais e pedaleiras.

A solução é o uso de filtros de linha e estabilizadores de voltagem, para amenizar o problema,entretanto em


algumas regiões a melhora se dá apenas na ordem de 15%.
Uma solução mais efetiva, é a de fazer um aterramento na rede elétrica, ( requer perfurações no solo) como
muitos estúdios de ensaio e gravação adotam, para acabar com esse ruído de interferência.

Com esse processo se permite comutar o terceiro pólo das tomadas (foto 9) de amplificadores por exemplo, que
irá funcionar como um aterramento.
Amplificadores de má qualidade ou com defeitos, podem gerar ruídos que nos levam a crer que o problema seja
na guitarra, fazendo nos as vezes gastar dinheiro na troca de componentes do instrumento.
Por essa razão antes de julgar a guitarra, teste-a em outro amplificador ou com um outro cabo, com e sem os
pedais, para que assim você possa julgar melhor o problema.
Potenciômetros e chaves (foto 10) sujos com mau contato, no futuro podem ser grandes propagadores de
ruídos.

Existem alguns procedimentos que podem ser seguidos tais como cabos blindados na parte elétrica de sua
guitarra ao invés de fios, revestir o compartimento elétrico do seu instrumento com tinta condutiva, ou lâminas
de metal para se conseguir uma melhor isolação ao ruído. Porém antes de julgar qualquer elemento do seu set
up, procure um profissional da área para melhor orienta-lo pois como você pode ver, o problema pode estar
desde a rede elétrica da sua casa, até os cabos que você utiliza.

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Nesta edição, escreverei sobre o potenciômetro push pull, e sua utilização na guitarra como um “fabricante de timbres”. Na
verdade não é o push botom – outro nome dado ao potenciômetro - que fabrica o timbre. Ele apenas disponibiliza uma nova
opção por meio de um pequeno toque. Esse recurso veio para substituir aquelas mini chaves (foto 01) usadas para conseguir
um pouco mais de versatilidade nos timbres uma guitarra. O push pull nada mais é do que um potenciômetro combinado com
uma chave comutadora (foto 02). Sua grande vantagem é a praticidade tanto de instalação, quanto de utilização. Isso porque,
ele atua em duas funções. Além de regular o volume, pode “tornar um captador single em humbucker” , isso sem ocupar o
mesmo espaço de um potenciômetro comum, evitando furos desnecessários no escudo ou no corpo da guitarra.

Seu funcionamento se dá como o próprio nome já diz, puxando e empurrando. Quando puxado para cima (foto 03), ele ativa o
novo timbre; e quando empurrado para baixo (foto 04), retorna o timbre anterior. Alguns músicos comentam que é difícil ficar
puxando o potenciômetro durante uma música para mudar o timbre e, portanto, preferem a antiga mini chave. Acredito que foi
por causa dessas reclamações que inventaram o push push.

Com o nome já diz, basta empurrar para ativar um novo timbre e depois empurrar novamente para retornar ao timbre anterior.
Evidente que esse sistema é muito mais prático. A utilização dos push botom dependem quase que exclusivamente da pré
disposição dos captadores para esse tipo de adaptação timbral. Ou seja, para que essas modificações sejam possíveis, os
captadores terão que oferecer as possibilidades para que isso aconteça. Os humbuckers ou singles de bobina dupla (stacks)
(ver COVER GUITARRA nº50) apresentam com os seus condutores (fios) para instalação em quantidade que variam com o tipo
e modelo de cada captador.

· Captadores que possuem um condutor – Apresentam os seguintes fios: fio positivo + malha

· Captadores que possuem dois condutores – Fio positivo + fio de função das bobinas + malha.

· Captadores que possuem três condutores – Fio positivo + fio de função das bobinas + fio negativo + malha.

· Captadores que possuem quatro condutores – Fio positivo + fio negativo de uma bobina + fio positivo + fio negativo de outra
bobina + malha.

Cada uma dessas configurações oferecem possibilidades variadas de alterações que vão desde o desligamento de uma bobina,
até uma defasagem, ligações em paralelo ou série. É importante que o músico conheça esses detalhes, para que no momento
da compra de um captador, saiba quais recursos e variações de timbres poderá obter.

A seguir, darei sugestões de timbres que poderão ser conseguidos com ligações elétricas desde que os captadores permitam
tais arranjos. O meu intuito nessa edição é informar ao leitor sobre várias possibilidades de melhorar a sonoridade e
versatilidade de seu instrumento apenas com a utilização de um push botom. Mas, é importante lembrar que você deve
procurar sempre seu luthier de confiança para que ele lhe indique as possibilidades que o seu set up elétrico (captadores,
chaves, potenciômetros, e fiação) pode oferecer.

A sugestão a seguir é para aquelas guitarras que possuem dois humbuckers e um single. Um humbucker ponte, um single
central e um humbucker braço. Por exemplo: Jackson, Ibanez, Kramer, etc. (foto 05). Para esse tipo de configuração, é
necessário que os humbuckers possuam ao menos dois condutores. O push botom será instalado para transformar os
humbuckers em single coil. Ele proporcionará um “curto” em uma das bobinas dos humbuckers, anulando-a. Desta forma, o
som captadores ficará parecido com o de um single coil.

Esse recurso é bastante interessante para que o instrumentista obtenha um som mais limpo e cristalino, com um ataque mais
discreto para se tocar por exemplo blues, country, ou funk. É evidente que ao transformar um humbucker em single coil, o
guitarrista terá que lidar com o hum (ruído) tradicional de single coil. Entretanto, esse ruído é discreto, a menos que seja usado
uma distorção.
Essa outra configuração se destina a instrumentos que possuem três captadores de bobina dupla e pelo menos três condutores.
Por exemplo: guitarras com três humbuckers, stratos com três singles de bobinas duplas (Stacks) ou guitarras com dois
humbuckers e um single de bobina dupla. Neste caso, o que faremos é acrescentar mais um push pull para que os três
captadores se “tornem” singles. Um dos push pull tornará single os captadores da ponte e braço, por exemplo; e o outro, o
captador central. O resultado que obteremos com essa adaptação será parecido com o anterior, entretanto com a vantagem de
podermos combinar humbuckers com single, single com humbuckers, single com single, enfim até 14 timbres diferentes,
aproximadamente. Esses recursos são bastante interessantes e úteis para músicos que precisam de guitarras com som pesado
para tocar hard rock, por exemplo, e de um som limpo para tocar funk.

Essa próxima configuração se destina mais para guitarras modelo strato, já que possuem três potenciômetros (um volume e
dois tons) (foto 6). Como nos casos anteriores, é necessário que os captadores sejam de bobina dupla e possuam no mínimo
três condutores. Neste tipo de instrumento será colocado, como no anterior, um push botom para tornar single os captadores
das extremidades (ponte e braço), um outro para tornar single o captador central, e um terceiro para fazer com que os
captadores das extremidades operem simultaneamente. Esse feito é conhecido também como blend. Essa última opção pode
ser feita com o potenciômetro de tom. Ou seja, ele deixa de atuar como um controlador de tom e, girando o potenciômetro,
passa a comutar gradativamente os captadores da posição ponte e braço. Essas configurações permitirão além de todas as 14
combinações anteriores, mais seis, no mínimo.

Você comutará os captadores das posições extremas (ponte e braço) operando-os juntos como em uma Les Paul na posição
central da chave. Ao utilizar o outro push botom, transformará os captadores extremos em singles. Com isso, terá um timbre
que semelhante ao de uma Telecaster. Se você colocar ainda a chave comutadora de captadores nas posições intermediárias,
fará com que os três funcionem juntos, além de variá-los com uma ou duas bobinas. Ou seja, terá uma infinidade de timbres.
Essa configuração é excelente para instrumentistas de jazz rock, ou bandas que fazem versão de músicas já conhecidas.

Para finalizar, um truque bastante utilizado por “strateiros” que pode ser usado em qualquer guitarra. Trata-se da instalação de
um capacitor cerâmico cujo o valor é 470pF (foto 7) ao potenciômetro de volume. O intuito é preservar as freqüências agudas,
que normalmente são perdidas quando se reduz volume da guitarra. Esse recurso faz com o timbre se mantém igual mesmo
com as variações de volume, sem dar aquela “abafadinha”. Mas, muitos músicos curtem essa “abafadinha”. Eles argumentam
que quando utilizada com saturação, essa redução de volume torna o timbre da guitarra mais suave e menos estridente.

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Primeiramente, vamos entender o princípio do problema. Como medida padrão, o instrumento deve ter a mesma distância
entre o nut (capotraste) e o 12º traste (foto 1), e entre o 12º traste e o saddle (carrinho da ponte) (foto 2). Desta forma, o 12º
traste marca exatamente a metade da distância entre esses dois pontos - nut e saddle. Essa medida compreende
aproximadamente 32,5 centímetros do nut até o 12º traste e do mesmo até o sadle, somando 65 centímetros. Mas é preciso
ressaltar que esses números podem variar bastante de acordo com o projeto do instrumento. Independente do comprimento da
escala ou da altura dos trastes, o 12º sempre deve marcar a metade da distância entre os dois pontos citados acima.

Sabe-se que até a espessura das cordas interfere na afinação do instrumento. Por isso, as guitarras possuem um saddle para
cada corda. Dessa forma, podemos ajustar individualmente a distância dos mesmos.

Uma das formas mais comuns de detectar e corrigir um desajuste na afinação é produzir um harmônico na 12ª casa da corda a
ser testada - primeira corda E, por exemplo (foto 3). Com ajuda de um tuner (afinador eletrônico), afine o harmônico no tom
correspondente à nota (Foto 4). Em seguida, toque-a no 12º traste, só que desta vez pressionando-a. Se a nota e o harmônico
estiverem na mesma altura, a afinação está perfeita. Agora, se a nota tocada estiver mais alta do que o harmônico (Foto 5),
significa que a distância entre o nut e o saddle está pequena e precisa ser aumentada. Para isso é só puxar o saddle para trás
(foto 6). Se a nota estiver mais baixa que o harmônico (foto 7), significa que a distância entre o nut e o saddle esta muito
grande e precisa ser encurtada. Para isso, traga o saddle para frente (foto 8).

Tanto nas pontes Strato (foto 9) quanto nas pontes Les Paul (foto 10), o ajuste do saddle é feito por meio de um parafuso que
se encontra atrás do mesmo. Já nas pontes Floyd Rose, é só afrouxar o parafuso que é colocado por cima do saddle (foto 11)
e, posteriormente, empurrá-lo para trás ou para frente com a ajuda de uma pequena chave de fenda (foto 12). A ação de
cordas - se alta ou baixa - é outro fator participante na afinação das cordas.

As dicas citadas servem para você realizar pequenos ajustes quando o instrumento já está todo regulado. Mas em caso de troca
do encordoamento, talvez seja necessário fazer algumas mudanças para fixar a afinação. Recomendo que você procure um
luthier de confiança para que ele detecte possíveis problemas e possa corrigi-los, pois até o ângulo da Floyd Rose pode
interferir nos ajustes. Um julgamento errado por parte do músico pode piorar ainda mais o problema.

É importante saber que esses ajustes só devem ser feitos com cordas novas e de boa qualidade pois estas, quando
envelhecem, vão perdendo a afinação em toda escala. Lembre-se ainda que a pressão aplicada com os dedos sobre as cordas,
no momento do teste da afinação, tem que ser a mesma aplicada quando se toca normalmente. Todo cuidado é pouco no
momento do ajuste.

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Um problema que incomoda muitos músicos é o verniz atrás do braço da guitarra. Alguns deles afirmam que
quando suam, a “mão agarra” por causa do produto usado, restringindo um pouco o movimento das mãos e
prejudicando a execução de solos e ritmos. Com o objetivo de sanar essa dificuldade, algumas guitarras trazem
o braço apenas encerado, mas o verniz não serve apenas para dar aquele brilho, mas sim para impermeabilizar a
madeira e evitar que o suor penetre pelos poros da mesma. Caso contrário, a guitarra pode ganhar manchas,
muitas vezes irreparáveis, e ficar mais exposta à formação de fungos - um braço “fungado” fica com marcas
esverdeadas e um aspecto horrível. Quase sempre esta marca é muito profunda e nem mesmo com uma lixa é
possível reverter a situação.
Se você quer evitar que sua mão fique “presa” no braço da guitarra por causa do verniz, recomendo que
substitua essa proteção por uma leve camada de um impermeabilizante fosco. Na hora de tocar, a sensação será
a mesma de um braço encerado, só que sem o risco de manchas. É possível ainda lixar moderadamente o próprio
verniz com o intuito de reduzir sua espessura e brilho, e poli-lo novamente com massa de polimento e cera. O
resultado é semelhante ao verniz fosco citado acima. É preciso ressaltar que o aparecimento de manchas
esverdeadas em braços encerados não é uma regra, já que a ocorrência de fungos não está ligada somente ao
tipo de madeira ou de cera, mas sim ao suor do guitarrista, que pode ser ácido demais e excessivo.
Independente da medida escolhida para contornar esse problema, lembre-se que os procedimentos devem ser
feitos por luthiers, profissionais familiarizados com vernizes e outros produtos.
Outro problema que incomoda bastante os guitarristas são os braços “gordinhos”, espessos, que dificultam a
execução de solos e ritmos, tornando a prática bastante cansativa. Os argumentos sobre a espessura dos braços
giram em torno do gosto pessoal de cada músico. As medidas mais apreciadas são as que ficam em torno de 21
mm., obtidas com um instrumento de precisão chamado paquímetro (foto1). Problemas com braços “obesos”
são resolvidos quando achatamos um pouco seu centro (foto 2), reduções geralmente feitas com uma pequena
grosa (foto 3) ou alguns formões (foto 4). Após o uso dessas ferramentas, é preciso lixar o instrumento e retirar
os riscos, melhorando o acabamento. Em seguida, uma nova camada de verniz deve ser aplicada para proteção.
Tal operação também só deve ser feita por um profissional capacitado e de confiança, pois é um serviço de alto
risco. Um luthier irá calcular com precisão quanto o braço poderá ser gasto, pois o tensor do instrumento está
localizado entre a escala e o braço. A retirada excessiva de madeira pode comprometer o instrumento tanto no
aspecto estético quanto em sua funcionalidade, às vezes de forma irreparável.
Um outro recurso que vem sendo usado com mais freqüência é o “escalope”, técnica que consiste em retirar um
pouco da madeira da escala entre os trastes, para que a mesma assuma uma forma côncava, como uma concha
(foto 5). Este recurso é aplicado com o intuito de facilitar a execução de solos, uma vez que os dedos deixam de
entrar em atrito com a madeira retirada, tornando mais fácil a prática de técnicas como vibratos e bends - um
dos pioneiros da guitarra escalopada foi Ritchie Blackmore. Quando bem feito, o escalope não oferece qualquer
perigo ao braço do instrumento. Recomendo que ele seja feito da primeira à última casa pois, se aplicado de
forma parcial (da 12ª casa em diante, por exemplo), pode tirar o equilíbrio do braço, causando pequenas torções
ou funcionamento irregular do tensor.
Algumas precauções ainda podem ser tomadas para garantir a segurança do braço da guitarra. Evite fazer uma
concavidade superior a três milímetros. Independente da espessura da escala, recomendo essa medida para
diminuir possíveis riscos de torções e empenamentos. Aprofundamentos maiores que isso em nada melhoram a
performance do instrumento e acabam atrapalhando a execução de acordes. É preciso ainda verificar se não há
indícios desse problema que podem piorar após o escalope. Se houver algo do tipo, conserte antes de aplicar
essa técnica. Seu luthier procederá uma retífica da escala, talvez com uma troca de trastes (veja na CG 65). É
bom que a profundidade de cada casa seja a mesma, sem variações discrepantes, para que a escala não fique
descompensada em sua estrutura. Seu luthier saberá tomar todas essas precauções para que seu instrumento
saia “ileso” após a escalopagem.

Existem várias formas de escaloparmos uma escala. Descreverei aqui uma das mais comuns (Se você quiser
saber mais detalhes sobre o assunto, verifique a minha coluna na edição 52):

1) Com ajuda de um lápis, traçamos uma linha na lateral da escala do braço, para que seja estipulada a
profundidade do escalope. Nenhuma casa deve ser mais cavada que a outra (foto 6, na página anterior);

2) O luthier verifica a necessidade de retirar as marcações de casas da escala;

3) Com o auxílio de uma grosa redonda, começamos a gastar o centro das casas a serem escalopadas (foto 7);

4) Utilizando um formão, começamos a dar forma côncava às casas (foto 8);

5) Usando lixas de madeira de números 150 e 220 - ambas enroladas em pequenos cilindros de madeira -,
damos acabamento ao escalope (foto 9);

6) Recolocamos as marcações (caso tenham sido retiradas) e damos melhor acabamento, agora usando lixas
220 e 240, respectivamente.

Pronto! A grosso modo, está pronto o escalope.


Estes passos servem apenas para vocês conhecerem um pouco mais sobre o procedimento. Não se arrisque a
escalopar sua guitarra sozinho, nem peça a alguém que não seja acostumado a realizar tal tarefa. Qualquer erro
pode causar danos irreparáveis em seu instrumento.
Antes de fazer modificações em sua guitarra, veja se o verniz ou a espessura do braço do instrumento o
incomoda. Pense se o escalope é realmente a ajuda que você espera. Converse com seu luthier de confiança ou
escreva para nós.

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Os assuntos abordados nesta primeira parte são os cuidados, as formas de conservação e as regulagens dessas
guitarras. De maneira geral, vou tomar como base o modelo Gibson 335 e seus similares. Nos próximos
números, outros tipos de guitarras serão colocados em pauta, além de seus captadores, potenciômetros,
principais características, defeitos mais comuns e suas respectivas pontes

Primeiramente, é importante saber que por não serem maciças, essas guitarras são mais frágeis do que as
tradicionais de corpo rígido. Se uma delas sofrer uma queda, o dano, na maioria das vezes, será maior do que se
acontecesse com uma de outro gênero. Uma Fender Stratocaster pode ter a pintura riscada ou até mesmo a
madeira lascada, mas seu reparo fica perfeito mesmo nos casos em que é necessário inserir novos pedaços de
madeira. Isso não é suficiente para alterar o seu som original - caso isso aconteça, a alteração não ultrapassa os
15%. Já no caso de uma semi-acústica, a necessidade de enxertos pode acarretar transformações em sua
sonoridade, às vezes, de até 80%. É claro que isso é uma hipótese bem negativa, mas possível. Outra
característica fundamental desse instrumento é o fato de, aproximadamente, 90% deles possuírem o braço
integral ao corpo (foto 1) ou colado (foto 2), o que requer ainda mais cuidado. Quedas de forte impacto podem
ocasionar rachaduras e envergamentos de braço, mais comumente na altura do tróculo (foto 3). Essas avarias
têm soluções, porém o custo é alto devido à delicadeza que uma operação desse gênero exige. No caso de um
reparo mal efetuado, o braço pode ficar desalinhado em comparação ao corpo, o que acarreta vários problemas
em relação à altura das cordas, ao conforto e à sonoridade sem trastejamento.

A maior parte dos músicos que usa semi-acústicas opta por encordoamentos pesados, em virtude do estilo que
esse tipo de guitarra sugere (jazz e blues). Por serem muito macias de tocar, medidas de cordas como 0.09 e
0.10 normalmente não são utilizadas em semi-acústicas bem reguladas. Prioritariamente, usa-se tamanhos
pesados, como 0.11, 0.12 e 0.13. É evidente que encordoamentos de tensões maiores proporcionam melhor
sustentação, definição e volume de som, mas a pressão sobre o braço exercida pela corda é muito alta. Então, se
ele não estiver adequado para aquele calibre, corre o risco de empenar.

O tensor das semi-acústicas deve ser ajustado (foto 4)e reajustado com
freqüência, a fim de evitar qualquer tipo de irregularidade no braço. Se o uso de
cordas pesadas, por um lado, oferece vantagens em relação a timbres, por outro
torna a semi-acústica bastante dura de tocar. Se a guitarra não estiver com uma
boa ação baixa de cordas, trastes nivelados entre si, tensor bem ajustado e o
conjunto ponte/capotraste bem regulados, ela não terá tocabilidade. Note que a
diferença entre uma corda Mi (E) 0.09 e um Mi 0.13 (foto 5) é muito grande no
que diz respeito à espessura. Daí se justifica a preocupação excessiva quanto à
regulagem e ao braço.Normalmente, as semi-acústicas possuem afinação quase
indefectível por toda a extensão do braço, mas é imprescindível a regulagem de
oitavas por meio dos parafusos de fenda (foto 6), que são localizados na ponte.
Isso deve ser conferido com uma periodicidade maior do que àquela recomendada
para as guitarras maciças pois, em virtude da utilização de encordoamentos
pesados, as oitavas tendem a se desajustar mais freqüentemente.
A resposta para isso é simples: a pressão exercida pelas cordas mais pesadas pode modificar a posição dos
saddles – também conhecidos como "carrinhos da ponte" (foto 7) -, criando discrepâncias na afinação. Elas
também tendem a gerar microfonias quando ligadas a pedais ou pedaleiras de overdrive (distorção), quando
submetidas a volumes altos ou quando excessivamente próximas do amplificador. Isso se dá por conta das
aberturas em "F" localizadas no tampo superior do instrumento (foto 8), que permitem a guitarra ter uma
sonoridade acústica. Entretanto, ela gera também uma realimentação do som que proporcionam esse tipo de
ruído. O fato de a guitarra ser oca contribui bastante para isso.

Os covers (foto 9) - capas de metal que cobrem os captadores - são determinantes na produção de microfonia.
Sua função não é apenas estética, pois o metal contribui com as freqüências agudas e médias. Por essa razão,
propiciam esse barulho quando o instrumento é tocado muito próximo ao ampli com um drive bastante forte.
Um truque que os guitarristas costumam usar - e que, às vezes, minimiza o problema em até 50% - é o de vedar
as duas bocas em "F" com fita adesiva transparente (durex ou papel contact). Isso diminui bastante esse tipo de
feedback, mas compromete um pouco a sonoridade do instrumento quando não conectado a um amplificador.

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Na verdade, é bem difícil ter essa certeza apenas olhando. Sabemos que o instrumento pode se apresentar na
loja, em “termos de conforto”, maciez e ação de cordas, de um jeito simplesmente “horrível”. Fato que acontece
porque a guitarra pode não ter sido previamente regulada. No entanto, mesmo quando previamente regulada,
ela pode não oferecer a plenitude de todas as suas características pelo fato de essa pré-regulagem ter como
objetivo apenas tornar o instrumento dotado de uma estabilidade padrão.

Seu luthier poderá regular seu novo instrumento e torná-lo perfeito para seu gosto. No momento da compra,
pode-se seguir alguns critérios de avaliação que reduzirão as probabilidades de comprar um braço com
problemas. Mas absoluta certeza, apenas um luthier e, ainda sim, analisando o instrumento em sua mesa de
trabalho. Pois alguns defeitos de alinhamento da escala vistos apenas pelos olhos são impossíveis de detectar.
Entretanto o tensor, quando ajustado, pode corrigir esse problema em até 100%. E vice-versa. Um diagnóstico
de um leve empenamento de escala, muitas vezes pode ser corrigido pelo tensor, evitando-se assim
transformar-se em uma torção, caso esse mais difícil de solucionar.

As dicas que posso dar são as seguintes:

Verificar visualmente (foto acima) se o braço não se apresenta empenado demasiadamente côncavo (foto a) ou
ao contrário (foto b). Se apresentar uma dessas deformidades, evite comprá-lo pois pode não haver solução
simples;
Outra verificação determinante é prestar atenção se o braço não está torcido, condição em a curvatura
verificada em uma lateral não é a mesma notada na lateral oposta. Exemplo: em um lado notamos o braço um
pouco côncavo, no outro, convexo. Se a discrepância dessas curvaturas forem muito acentuadas, esse
instrumento não deve ser comprado porque, apesar de esse problema ter solução, o custo é bastante elevado.

Na edição 66 de CG, você encontrará um guia de compra bastante detalhado e ilustrado, explicando como
proceder no momento da aquisição de uma guitarra.

Concluindo: como vocês perceberam, ter 100% de certeza na “hora da compra”, se o instrumento está apenas
desregulado ou com problemas mais sérios é praticamente impossível.

Façam essas verificações preliminares e, depois de sua avaliação e provável compra, leve imediatamente o
instrumento ao seu luthier para que ele possa realmente avaliar o estado de sua guitarra. Caso o instrumento
não esteja em condições para que seja regulado com perfeição, dentro, é claro, da qualidade que o produto
ofereça, deverá ser trocado na loja.

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