BEER, Ferdinand P., JOHNSTON Jr., E. Russell. Mecânica Vetorial para Engenheiros; Estática. 5.ed. São
Paulo: Makron Books do Brasil/McGraw-Hill, 1991.
BEER, Ferdinand P., JOHNSTON Jr., E. Russell. Resistência dos Materiais 3.ed. São Paulo: Makron Books,
1995.
BORESI, Arthur P., SCHMIDT, Richard J. Estática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
CRAIG JR, Roy R. Mecânica dos Materiais. 2.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2003.
HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
HIBBELER, R. C. Mecânica; Estática. 8.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999.
GERE, James M. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
POPOV, Egor P. Introdução à Mecânica dos Sólidos. 3.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1978.
MERIAM, J. L.; KRAIGE, L. G. Mecânica; Estática. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999.
TIMOSHENKO, S. P. , GERE, J. E. Mecânica dos Sólidos. 3.ed. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos,
1994, v.1 e 2.
SCHIEL, Frederico. Introdução à Resistência dos Materiais. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1984.
PREFIXO SÍMBOLO FATOR
exa E 1018
peta P 1015
tera T 1012
giga G 109
mega M 106
kilo k 103
hecto* h 102
deca* da 101
deci* d 10-1
centi* c 10-2
mili m 10-3
micro µ 10-6
nano n 10-9
pico p 10-12
femto f 10-15
atto a 10-18
alfa α Α ni ν Ν
beta β Β xi ξ Ξ
gama γ Γ ômicron ο Ο
delta δ, ∂ ∆ pi π Π
epsilo ε Ε rô ρ Ρ
dzeta ζ Ζ sigma σ Σ
eta η Η tau τ Τ
teta θ Θ ípsilon υ Υ
iota ι Ι fi φ,ϕ Φ
capa κ Κ chi χ Χ
lambda λ Λ psi ψ Ψ
mi µ Μ ômega ω Ω
Metálicos
Ligas Forjadas de 2014-T6 2,79 73,1 27 414 414 172 469 469 290 10 0,35 23
Alumínio 6061-T6 2,71 68,9 26 255 255 131 290 290 186 12 0,35 24
Ligas de Ferro Cinza ASTM 20 7,19 67,0 27 - - - 179 669 - 0,6 0,28 12
Fundido Maleável ASTM A-197 7,28 172 68 - - - 276 572 - 5 0,28 12
Latão Vermelho C86400 8,74 101 37 70,0 70,0 - 241 241 - 35 0,35 18
Ligas de Cobre
Bronze C86100 8,83 103 38 345 345 - 655 655 - 20 0,34 17
Liga de Magnésio Am 1004-T61 1,83 44,7 18 152 152 - 276 276 152 1 0,30 26
Liga de Titânio [Ti-6A1-4V] 4,43 120 44 924 924 - 1000 1000 - 16 0,36 9,4
Não Metálicos
c d d e
Madeira Selecionada Abeto Douglas 0,47 13,1 - - - - 2,1 26 6,2 - 0,29 -
c d d e
Grau Estrutural Abeto Branco 3,60 9,65 - - - - 2,5 36 6,7 - 0,31 -
a
Os valores específicos podem variar para um material em particular devido à composição da liga ou do material, ao processamento mecânico de amostra ou ao tratamento térmico. Para se obter valor mais exato devem ser consultados livros de referência do material.
b
As tensões limites de escoamento e de resistência para materiais dúcteis podem ser admitidos como iguais tanto para a tração quanto para a compressão.
c
Medida perpendicular ao grão.
d
Medida paralela ao grão.
e
Deformação medida perpendicular ao grão quando a carga é aplicada ao longo deste.
Fonte: HIBBELER, R.C., Resistência dos Materiais, 5º ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
B D
P P
A
Figura 1.1. Barra tracionada axialmente
B C C D
P P P P
B C C D
P P
P/A P/A
Figura 1.3. Forças normais distribuídas
Define-se tensão normal média, σ, como sendo a intensidade das forças distribuídas, ou seja, a
força por unidade de área da seção transversal.
P
σ= (1.1)
A
O valor obtido na Eq. (1.1) é um valor médio das tensões normais, porque, nos pontos e nas
seções transversais próximos aos pontos de aplicação das forças externas P, as tensões normais
apresentam uma forma de distribuição com concentrações em certas regiões. Nas seções transversais
distantes dos pontos de aplicação das forças, pode-se assumir que a distribuição das tensões normais é
uniforme.
1-1
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
1kPa = 10 3 Pa = 10 3 N m 2 → kiloPascal
1MPa = 10 Pa = 10 N m → MegaPascal
6 6 2
1GPa = 10 9 Pa = 10 9 N m 2 → GigaPascal
1ksi = 10 3 psi
B C
P
σ=+P/A
B C
P
σ=-P/A
1-2
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
Considerando agora uma chapa BD onde são aplicadas duas forças P na direção transversal à
mesma, conforme ilustrado na Fig. 1.5, e desprezando os efeitos de momentos gerados pelo
desalinhamento destas forças, pode-se analisar o efeito de cisalhamento que tende a cortar a chapa
transversalmente.
B D
P
Figura 1.5. Chapa solicitada transversalmente
Se a chapa BD tiver uma seção transversal de área A e for cortada em um ponto C entre os
pontos de aplicação das forças P, obtém-se duas partes, BC e CD (Fig. 1.6), onde atuam forças internas
P na seção transversal do corte, denominadas forças cortantes, que mantém o equilíbrio de forças em
cada uma das partes seccionadas.
P
B C P D
P C
P
Figura 1.6. Forças cortantes na chapa seccionada
P
τ= (1.2)
A
Deve ser frisado que o valor obtido na Eq. 1.2 é um valor médio das tensões de cisalhamento e,
contrariamente ao que foi dito para as tensões normais, a distribuição de tensões de cisalhamento na
seção transversal não pode ser assumida como sendo uniforme em hipótese alguma. O valor real da
tensão de cisalhamento varia da superfície para o interior da peça, onde pode atingir valores bem
superiores à tensão de cisalhamento média.
A tensão de cisalhamento ocorre comumente em parafusos, rebites e pinos que ligam diversos
elementos de máquinas e estruturas. Na Fig. 1.7 são apresentadas duas chapas B e C, ligadas pelo
rebite DE e solicitadas por forças de tração P.
D C
P
P B
E
Figura 1.7. Ligação rebitada entre duas chapas
As forças P são transmitidas das chapas para o rebite (Fig. 1.8a), originando tensões de
cisalhamento na seção transversal do rebite de área A, definida pelo plano FF. A análise das duas
1-3
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
partes do rebite separadas pelo plano FF, indica que na seção cisalhada ocorrem forças cortantes de
mesma intensidade P (Fig. 1.8b).
D
D P
P
P
F F
Ö P
A P
E P
E
(a) (b)
Figura 1.8. Esforços em um rebite cisalhado em um único plano (corte simples)
Sendo assim, a tensão de cisalhamento média que ocorre na seção FF do rebite é dada por
P
τ= (1.3)
A
Nas condições descritas anteriormente, o rebite está sujeito ao cisalhamento em um único plano,
ou ainda, está sujeito a um corte simples. Podem existir outras configurações, como por exemplo a
apresentada na Fig. 1.9.
B D
C P
P
E
Figura 1.9. Ligação rebitada entre três chapas
Neste caso as tensões de cisalhamento originam-se nas seções transversais de área A, definidas
pelos planos FF e GG (Fig. 1.10a), e portanto, o rebite está sujeito a uma condição de corte duplo. A
intensidade das forças cortantes nas seções cisalhadas é de P/2 (Fig. 1.10b).
D
P/2
D P/2
P/2 P/2
F F
P Ö P
G G P/2
P/2
E P/2
P/2
E
(a) (b)
Figura 1.10. Esforços em um rebite sujeito a corte duplo
Sendo assim, as tensões de cisalhamento médias que ocorrem nas seções FF e GG do rebite sujeito a
duplo corte são dadas por
P2 P
τ= = (1.4)
A 2A
1-4
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
C D
P P
t
P
E
C Aesm=dt
P P P
d
Figura 1.11. Esforços de esmagamento entre chapa e rebite
A força P que atua na chapa representa a resultante das forças elementares que se distribuem ao
longo da superfície interna do semicilindro de diâmetro d e altura t, igual à espessura da chapa.
A forma de distribuição das forças elementares nessa superfície é de difícil obtenção, mas como
normalmente o diâmetro do rebite é menor que o do furo, há uma concentração de tensões na região
central da superfície do semi-cilindro. Na prática, emprega-se um valor nominal médio para a tensão
denominada tensão de esmagamento média σ esm .
A tensão de esmagamento média na chapa é obtida dividindo-se a força P pela área do retângulo
que representa a projeção do rebite sobre a seção da chapa. Essa área é denominada área de
esmagamento Aesm , e é igual a dt.
P P
σ esm = = (1.5)
Aesm dt
Ensaios mecânicos de materiais mostram que seus limites de resistência ao esmagamento são
muito superiores aos limites de resistência à compressão dos mesmos. Esta elevada resistência ao
esmagamento na superfície solicitada se deve ao fato do material esmagado ficar apoiado por quase
todos os lados por um material pouco solicitado, mesmo depois de atingido o regime de deformações
plásticas.
B D
P P
θ
1-5
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
Pcosθ
σ’
P θ θ P Ù σ
Psenθ
τ’
Figura 1.13. Esforços em um elemento prismático da barra tracionada
No plano normal não existe tensão de cisalhamento e a tensão normal média σ que atua no
mesmo é calculada normalmente (σ = P A) . Para se determinar a tensão normal média σ' e a de
cisalhamento média τ' que atuam no plano oblíquo (Fig. 1.13b), a força P atuante no mesmo deve ser
decomposta em uma componente normal ( P cos θ) e outra tangencial ao plano ( P sen θ) , conforme
ilustrado na Fig. 1.13a. As tensões resultantes são calculadas considerando-se as componentes de força
e a área da seção oblíqua, denotada por Aθ , calculada como Aθ = A cos θ .
De maneira análoga à análise anterior, pode ser demonstrado que, em planos oblíquos aos seus
eixos longitudinais de chapas e pinos cisalhados, também podem ocorrer tensões normais e de
cisalhamento, simultaneamente.
1-6
Conceito de Tensão Flávio Y. Watanabe
Elementos de máquinas e estruturas devem ser dimensionados de tal forma que as tensões
atuantes nos mesmos, em condições normais de utilização, sejam consideravelmente inferiores às
respectivas tensões limites de resistência ou elasticidade do material empregado. Além disso, procura-
se trabalhar sempre dentro do regime de deformações elásticas do material. Para isso definem-se as
tensões admissíveis, que correspondem às tensões máximas aplicáveis, obtidas dividindo-se as
respectivas tensões limites por coeficientes de segurança, CS(s).
tensão limite
tensão admissível = (1.7)
coeficiente de segurança
1-7
II – TENSÃO E DEFORMAÇÃO
- CARGAS AXIAIS DE TRAÇÃO E COMPRESSÃO -
B B
d0 (d0+∆d)
l0
A0
C
C
∆l
P
(a) (b)
Figura 2.1 Deformação de uma barra causada por carga de tração
Além disso, o alongamento ∆l sempre é acompanhado de um decréscimo da dimensão transversal da
barra que passa a ter um diâmetro igual a ( d 0 + ∆d ). A relação entre esta deformação transversal e a
longitudinal será discutida posteriormente.
2-1
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe
D F
(d1+∆d1) (d2+∆d2)
l1
A1 l2 A2
E
G
∆l1
P1
∆l2
P2
Figura 2.2 Deformação axial em barras de mesmo material
∆l
ε= (2.1)
l0
2-2
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe
σ σ
σr
σr
σe σe
ε ε
(a) (b)
Figura 2.3 Diagramas tensão-deformação de materiais dúcteis: (a) aço-carbono; (b) ligas de alumínio ou cobre
σr
ε
Figura 2.4 Diagramas tensão-deformaçãode materiais frágeis
σ = Eε (2.2)
2-3
Tensão e Deformação - Cargas Axiais de Tração e Compressão Flávio Y. Watanabe
Pl 0
∆l = (2.3)
EA0
Até agora foram analisados apenas casos de barras tracionadas ( σ > 0 ). Na compressão ( σ < 0 ),
usualmente, os materiais apresentam um comportamento elástico análogo ao da tração, ou seja, a Lei
de Hooke vale também para o caso de barras comprimidas. Emprega-se normalmente o mesmo
Módulo de Elasticidade E tanto para a tração como para a compressão. Deste modo, nota-se pela
Equação (2.2) que a deformação específica ε de encurtamento de barras comprimidas é negativa
( ε < 0 ), enquanto que, no caso de barras tracionadas, a deformação específica de alongamento ε é
positiva ( ε > 0 ).
A Equação (2.3) possibilita determinar o alongamento ou o encurtamento ∆l de uma barra
homogênea (E constante), com seção transversal uniforme de área constante A, comprimento L, e
solicitada axialmente nas extremidades por cargas de intensidade P, sejam elas de tração ( ∆l > 0 ) ou
de compressão ( ∆l < 0 ).
No caso de uma barra solicitada axialmente em pontos diversos, ou se ela for composta por
vários segmentos com diferentes seções transversais e/ou diferentes materiais, deve-se dividir a mesma
em um número n de segmentos que, individualmente, satisfaçam às condições de aplicação simultânea
da Equação (2.3). Denominando por Pi , li , Ei e Ai , respectivamente, à força, ao comprimento, ao
módulo de elasticidade e à área de seção transversal correspondentes ao segmento genérico i, pode-se
expressar a deformação total da barra através do seguinte somatório
n
Pl
∆l total = ∑ E ii Ai i (2.4)
i =1
∆d ∆l
ε t = −νε ou = −ν (2.5)
d0 l0
O coeficiente de Poisson dos materiais pode assumir valores entre 0 e 0,5 . Para o aço, ν ≈ 1 3 e
para o concreto, ν ≈ 1 6 .
A Equação (2.5) corresponde a uma parte da Lei de Hooke generalizada para o caso de
carregamento multiaxial, e o sinal negativo é decorrente do fato de que, quando ocorre um
alongamento longitudinal, ocorre conjuntamente uma compressão transversal, e vice-versa.
2-4
III TORÇÃO DE BARRAS COM SEÇÃO CIRCULAR
A
2
1 4
3
D=2R
Mt B
Mt
x
L
Dentro do regime elástico de deformações do material da barra, cada seção transversal executará
uma rotação com um ângulo ϕ que varia em função da distância da seção ao engaste, na direção x.
Além disso, para equilibrar M t aplicado na extremidade B, em cada seção haverá tensões de
cisalhamento τ distribuídas de modo a gerar um momento torçor equilibrante.
Para a determinação das tensões e deformações características que ocorrem na barra AB
submetida à torção, algumas hipóteses simplificadoras serão formuladas para a análise o que ocorre
nas seções transversais e no elemento 1-2-3-4 da barra, localizado na extremidade A. Cabe ressaltar
que os resultados dessa análise estão em perfeita consonância com resultados de ensaios, validando
dessa forma as hipóteses mencionadas.
3-1
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe
τmáx
τr
D=2R
r
dr
Figura 3.2. Tensões de cisalhamento na seção circular
Portanto, as tensões de cisalhamento τ r que ocorrem à uma distância radial r podem ser
determinadas em função do raio R, da distância r e de τ máx , através da seguinte equação
r
τr = τ máx (3.1)
R
O momento resultante das forças elementares que atuam na seção é igual ao momento M t
aplicado na barra. A força elementar dF = τ r dA que atua no elemento de área dA em forma de anel
circular de espessura dr, e à uma distância r do centro da seção, contribui com um momento
dM = rτ r dA para o equilíbrio. Sendo assim
M T = ∫ dM = ∫ rτ r dA
A A
R R
r 2π πR 3
MT = ∫ r τ máx 2 πrdr = τ máx ∫ r 3 dr = τ máx
0
R R 0
2
2M t 16 M t Mt
∴ τ máx = = = (3.2)
πR 3
πD 3
Wt
onde,
πD 3
. Wt = módulo de resistência à torção de seção circular [m3]
16
O módulo de resistência à torção Wt constitui uma geométrica da seção que caracteriza a
resistência à torção da barra.
No elemento 1-2-3-4, ilustrado na Figura 3.3, a tensão τ máx atuante na face 3-4 e a reação na
face oposta 1-2 são insuficientes para equilibrar o elemento porque estas geram o binário
τ máx (dtdr )dx .
dt 2 dx
τmáx τl
dr 1 4
3
τl τmáx
Figura 3.3. Tensões no elemento 1-2-3-4
O equilíbrio do elemento 1-2-3-4 é garantido por tensões de cisalhamento τ l que atuam nas
faces 1-3 e 2-4, na direção longitudinal da barra, gerando o binário τ l (dxdr )dt ; sendo assim, da
igualdade dos dois binários, resulta
3-2
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe
τ l = τ máx (3.3)
Esta igualdade de tensões de cisalhamento em planos perpendiculares entre si constitui o
Teorema de Cauchy, que ocupa um papel de importância fundamental na análise de tensões.
dt
1 2
dx γ
3 3' 4 4'
3 3' 4 4'
dr
dϕ
O
Figura 3.4. Deformações do elemento 1-2-3-4
τ máx
γ= (3.4)
G
E
G= (3.5)
2 (1 + ν )
3-3
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe
Como exemplos são citados os módulos de elasticidade transversal do aço com G ≈ 80GPa , e
do alumínio com G ≈ 27 GPa .
A rotação dϕ .da seção transversal à uma distância dx do engaste é determinada através da
análise do deslocamento do ponto 3 nos "triângulos" 1-3-3' e O-3-3' :
γ
dϕ = dx (3.6)
R
τ máx
dϕ =
dx (3.7)
GR
O ângulo de rotação relativa ϕ entre as extremidades A e B da barra é determinado a partir da
integral de dϕ, dado na Eq.(3.8), ao longo do comprimento L:
L L
τ máx τ L
ϕ = ∫ dϕ = ∫ dx = máx (3.8)
0 0
GR GR
2 M t L 32 M t L M t L
ϕ= = = (3.9)
GπR 4 GπD 4 GI p
onde
πD 4
. Ip = momento polar de inércia de seção circular [m4]
32
τmáx
τmín
O
D=2R
d
3-4
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe
Observa-se neste caso que na distância radial d/2 ocorre uma tensão mínima de cisalhamento
τ mín , diferente de zero e dada por
d
τ mín = τ máx (3.10)
D
A tensão máxima de cisalhamento τ máx da Eq.(3.10) pode ser deduzida de maneira análoga à
realizada anteriormente para seção circular, resultando
16 M t D M
τ máx = = t (3.11)
π( D − d ) W t
4 4
onde
π( D 4 − d 4 )
. Wt = módulo de resistência à torção para seção em forma de anel circular
16 D
Além disso, o ângulo de rotação relativa ϕ entre as extremidades desta barra, é facilmente
obtido substituindo τ máx , Eq.(3.11), na Eq.(3.8), resultando
32 M t L M L
ϕ= = t (3.12)
Gπ( D − d ) GI p
4 4
onde
π( D 4 − d 4 )
. Ip = momento polar de inércia para seção em forma de anel circular
32
Na Tabela 3.1 são apresentadas algumas seções e as expressões dos respectivos módulos de
resistência à torção e momentos polares de inércia, Wt e I p . O valor de Wt fornece τ máx sem indicar o
ponto mais solicitado da seção.
3-5
Torção de Barras com Seção Circular Flávio Y. Watanabe
πD 3 πD 4
D Wt = Ip =
16 32
π( D 4 − d 4 ) π( D 4 − d 4 )
D d Wt = Ip =
16 D 32
Wt ≈ Ip ≈
t 2 4
π 2 t πtDméd
3
dméd Wt ≈ t D méd (1 − ) Ip ≈
3 5 D méd 3
t
d Wt = 0 ,188 d 3 I p = 0 ,105 d 4
b πab 2 πa 3b3
Wt = Ip =
b<a 16 16 (a 2 + b 2 )
a
Wt = wb 2 h I p = jb 3 h
n w j
~0 0,333 0,333
h 0,1 0,312 0,312
0,2 0,291 0,291
0,3 0,273 0,270
b 0,4 0,258 0,249
0,5 0,246 0,229
b 0,6 0,237 0,209
h>b e n= 0,7 0,229 0,189
h 0,8 0,221 0,171
0,9 0,214 0,155
1,0 0,208 0,141
p/ n<0,25 Ö w ≈ j ≈ 0,333-0,21n
Seção aberta composta por
retângulos estreitos de largura b e Wt =
∑b hi
3
Ip =
∑b h i
3
3-6
IV ESFORÇOS SOLICITANTES
4.1 INTRODUÇÃO
Um dos tópicos mais importantes abordados no estudo de Resistência dos Materiais se refere à
determinação dos esforços internos transmitidos ao longo dos elementos de uma máquina ou estrutura.
Estes esforços internos, denominados Esforços Solicitantes, podem variar ao longo do comprimento
do elemento analisado e sua determinação é essencial no dimensionamento e análise desses elementos.
Alguns Esforços Solicitantes já foram apresentados em estudos anteriores, como a Força Normal, a
Força Cortante e o Momento Torçor.
Antes de entrarmos no estudo de Esforços Solicitantes transmitidos em uma estrutura, devemos
introduzir o conceito de Determinação Geométrica dos elementos estruturais. Para isto, definiremos
alguns termos e adotaremos uma simbologia adequada à análise de "estruturas planas".
- Barra Simples (ou Barra): tem a função estática de transmitir apenas uma força interna, e a
função geométrica de estabelecer a distância entre suas extremidades. No caso de barras simples retas,
o único esforço solicitante transmitido é a Força Normal;
- Barra Geral (ou Chapa): tem a função estática de transmitir forças e momentos internos, e a
função geométrica de estabelecer a posição relativa entre vários dos seus pontos;
- Nó: é uma articulação onde são conectadas várias barras pelas suas extremidades;
- Vínculo: pode ser uma articulação entre chapas, ou um apoio ou engastamento entre chapas e
a "chapa terra".
Dispondo agora dessa terminologia, podemos esclarecer o significado do termo "estrutura
plana", que é naturalmente uma idealização que não existente na realidade. Muitas estruturas podem
ser analisadas, com boa aproximação, como sendo estruturas planas, onde todas as cargas atuantes são
aplicadas no mesmo plano e que os elementos estruturais estão rigidamente vinculados a este plano,
isto é podem movimentar-se apenas em direções contidas nele. Os vínculos necessários para atingir
esta condição não são computados no estudo do sistema plano.
Os diversos tipos de vínculos entre chapas ou entre chapas e a chapa terra podem ser
representados através da simbologia apresentada na Tabela 4.1, e que será adotada em nossos estudos,
à partir de agora. As chapas são representadas por regiões hachuradas ou por traços grossos; as barras
simples vinculares por traços finos.
Os vínculos são caracterizados pelo número de graus de liberdade (GDL) de movimento que
eles retiram da estrutura, sendo este número equivalente ao número de barras vinculares necessário
para a obtenção uma representação vincular geometricamente equivalente.
4-1
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
NO DE GDL
REPRESENTAÇÃO POR RETIRADOS PELO
TIPO DE VÍNCULO SÍMBOLO BARRAS VINCULARES VÍNCULO
APOIO MÓVEL
entre chapa e a 1
chapa terra
APOIO MÓVEL
1
entre chapas
APOIO FIXO 2
ARTICULAÇÃO
2
entre chapas
ENGASTAMENTO FIXO 3
ENGASTAMENTO MÓVEL
2
entre chapa e a
chapa terra
ENGASTAMENTO MÓVEL
2
entre chapas
Consideremos uma estrutura plana composta de c chapas, n nós e b barras simples, incluindo
as barras vinculares de apoios, articulações ou engastamentos. Um nó possui 2 GDL de movimentação
no plano e uma chapa 3 GDL. Cada barra elimina um GDL de um nó ou chapa; sendo assim, a
estrutura plana é considerada geometricamente determinada se b = 3 c + 2 n . Consequentemente,
temos:
Na Figura 4.1 são apresentados alguns exemplos de determinação geométrica de estruturas. Nos
apoios, articulações e engastamentos encontram-se indicados entre parênteses o número de barras
vinculares equivalente. Os dois últimos exemplos (Fig. 4.1e e 4.1f) se referem a casos excepcionais
onde, apesar da relação b ≥ 3 c + 2 n ser satisfeita, existe mobilidade da estrutura devido à alocação de
vínculos de forma inadequada;
(2) (2)
(2) (1) (1)
4-2
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
(3)
(1)
Consideremos uma viga AB em equilíbrio (Figura 4.2a), subjeita à ação de diversas cargas
concentradas [N] e distribuídas [N/m], aplicadas em vários pontos da mesma. Imaginemos um corte
transversal C-C em uma seção arbitrária (Figura 4.2b).
F2 p2
A B
M1
F4
F1 F6 F5
p1
M2
F3
(a)
F2 p2
A C C B
M1
F4
F1 F6 F5
p1
C C M2
F3
(b)
Figura 4.2 - Equilíbrio de esforços em uma viga
As cargas encontradas em uma das partes da viga geralmente não estão em equilíbrio. Podemos
concluir que as tensões transmitidas na seção C, antes de efetuar o corte, garantiam o equilíbrio das
duas partes. Os esforços resultantes dessas tensões são denominados Esforços Solicitantes e podem
ser determinados através do equílíbrio das cargas aplicadas em uma das partes da viga cortada.
Portanto, os Esforços Solicitantes se referem sempre a uma certa seção da viga e suas
componentes são definidas a seguir:
4-3
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
- Força Normal - N
- Força Cortante - V
- Momento Torçor - M T
- Momento Fletor - M
V
R
CG
N MT
M
CG x
MR
z
y
(a) (b)
Figura 4.3 - Esforços Solicitantes N, V, M e M T
- Força Normal - N
- Força Cortante - V e V
y z
- Momento Torçor - M T
- Momento Fletor - M y e M z
4-4
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
V
Plano de
carregamento M
N x
z
y
N N N N
FORÇA NORMAL - N
N>0 N<0
V V
FORÇA CORTANTE -V
V V
V>0 V<0
M M M M
MOMENTO FLETOR - M
M>0 M<0
4-5
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
Os Esforços Solicitantes que ocorrem em qualquer seção de uma viga podem ser determinados
e plotados em função da posição da seção na mesma. Os gráficos obtidos desse modo são
denominados Diagramas de Esforços Solicitantes. Estes diagramas são muito úteis no
dimensionamento de elementos de máquinas e estruturas.
Existem vários métodos de obtenção dos Diagramas de Esforços Solicitantes em uma estrutura
sujeita a um carregamento diverso como o da Figura 4.5a.
F1 M1 F2 p1
A B
(a)
F1 M1 F2 p1
HA A C B
VA VB
(b)
F1 M1 V F2 p1
M M
HA A C N N C B
VA V (c) VB
O método analítico adotado neste curso para a determinação dos Esforços Solicitantes que
atuam em uma seção genérica C da viga AB, se resume basicamente em 3 etapas:
Empregando-se este método analítico nos diversos trechos onde há variação do carregamento
aplicado, obtém-se equações de N, V e M, em função da posição x (eixo longitudinal) para cada trecho
analisado. Os Diagramas de Esforços Solicitantes são obtidos plotando-se estas equações ao longo do
comprimento da viga.
Na maior parte das aplicações de Engenharia, os Esforços Esforços Solicitantes N, V e M
precisam ser conhecidos somente em alguns pontos específicos do elemento analisado. Uma vez
traçados os diagramas de N, V e M podemos determinar diretamente nos gráficos quais os pontos mais
solicitados e os valores dos esforços de qualquer ponto.
4-6
Esforços Solicitantes Flávio Y. Watanabe
A determinação analítica e construção dos diagramas dos Esforços Solicitantes V e M pode ser
bastante simplificada se considerarmos certas Relações Diferenciais existentes entre a carga aplicada,
a força Cortante V e o Momento Fletor M.
Consideremos a viga biapoiada AB da Figura 4.6, sujeita a uma carga distribuída genérica p(x),
aplicada ao longo da direção x.
p(x)
A B
x dx
~ p(x).dx
V
M M+dM
V+dV
~ dx/2
x dx
Figura 4.7 - Esforços Solicitantes em um Elemento de viga
∑ Fy = 0 ⇒ V − ( V + dV ) − p( x )dx = 0
(4.1)
∑ M " x" = 0 ⇒ ( M + dM ) − M − p( x )dx 2 − ( V + dV )dx = 0
dx
dV
p( x ) = −
dx d 2M
⇒ p( x ) = − (4.2)
dM dx 2
V =
dx
Estas Relações Diferenciais são válidas para uma carga distribuída p(x) genérica, mas podem
ser aplicadas convenientemente para trechos sujeitos a cargas concentradas, desde que sejam
observados os problemas de descontinuidade nos diagramas de V e M ocasionados por estas cargas.
4-7
V FLEXÃO NORMAL SIMPLES
O problema básico analisado no estudo de flexão normal simples é o de uma viga retilínea com
área de seção transversal simétrica em relação a um eixo, e no qual o plano de carregamento coincide
com o plano de simetria da viga, conforme exemplificado na Figura 5.1. Assumindo-se que neste
exemplo ocorre também uma situação de simetria de carregamento, tem-se na parte central da viga,
entre os pontos de aplicação das forças F, uma condição de flexão pura, uma vez que as forças normal
e cortante são nulas e, portanto, o único esforço transmitido é o de momento fletor.
x R
z
plano de
carregamento
y R
Problemas envolvendo flexão de vigas com áreas de seção transversal não simétricas e
carregamentos em direções diversas podem ser analisados através da aplicação da formulação básica
de tensões apresentada no presente estudo.
5-1
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe
1 dθ
κ= = (5.1)
ρ dx
dθ
m p
M s dx x s M
a y b
n q
Figura 5.2 – Deformação da viga devido à flexão pura
O alongamento da fibra longitudinal ab, distante y da superfície neutra, pode ser definido através de
sua deformação específica ε, como segue
ε=
(ρ + y )dθ − ρdθ =
y
= κy (5.2)
ρ θ
d ρ
Esta equação mostra que a deformação específica longitudinal ε é diretamente proporcional à
coordenada y, sendo positiva quando a fibra considerada estiver abaixo da superfície neutra, indicando
que a mesma está sob tração, e negativa quando estiver acima desta superfície, indicando compressão
da fibra. Considerando-se que o material trabalha no regime elástico de deformações, obedecendo a
Lei de Hooke, ou seja, σ = Eε , tem-se
σ = κEy (5.3)
Portanto, observa-se que as tensões normais que atuam na seção transversal variam linearmente com a
coordenada y, assumindo valores nulos na superfície neutra, conforme ilustrado na Figura 5.3.
região
comprimida
z M x
M
região y
tracionada σ
y
Figura 5.3 - Tensões Normais
Integrando-se as tensões σ em toda a seção, obtém-se a força normal N resultante que atua na
mesma, mas no caso analisado, de flexão pura, sabe-se que N=0, ou seja,
5-2
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe
Esta integral corresponde ao momento estático Q z da seção transversal, em relação ao eixo z. Sendo
assim, como Q z = 0 , conclui-se que o eixo z passa pelo centróide da seção transversal e, como
estamos trabalhando com seções simétricas, a origem do sistema de coordenadas yz coincide com o
próprio centróide da seção. O eixo z coincide com a linha de interseção da superfície neutra com a
seção transversal e é denominada linha neutra da seção. O caso de flexão analisado é denominado de
flexão normal devido ao fato da linha neutra ser perpendicular ao plano de carregamento.
O momento fletor M que atua na seção transversal pode ser calculado integrando-se, em toda a
seção, os momentos elementares dM resultantes das forças elementares σdA , que atuam a uma
distância y da linha neutra, conforme demonstrado a seguir
onde
I z = ∫ y 2 dA (5.7)
A
sendo I z o momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z. A equação (5.6) pode ser
reescrita da seguinte forma
1 M
κ= = (5.8)
ρ EI z
Esta equação mostra que a curvatura κ do eixo longitudinal da viga é diretamente proporcional à intensidade do
momento fletor M e inversamente proporcional ao chamado módulo de rigidez à flexão da viga, EI z .
Associando-se as equações (5.3) e (5.8), obtém-se a expressão genérica para as tensões normais na seção
transversal da viga
M
σ= y (5.9)
Iz
Nesta expressão, o momento fletor M é considerado positivo quando produz tração na região inferior
à linha neutra e vice-versa.
5-3
Flexão Normal Simples Flávio Y. Watanabe
σs σs
hs hs
M>0 M<0
hi hi
σi σi
(a) (b)
Figura 5.4 - Tensões normais máximas de tração e compressão
Designando por h s e hi , as distâncias da linha neutra às fibras extremas na parte superior e
inferior, respectivamente, as tensões normais máximas σ s e σ i são determinadas aplicando-se a
equação (5.9), resultando em
M
σs = (− hs ) = − M
Iz Ws
(5.10)
M M
σi = (hi ) =
Iz Wi
onde
Iz I
Ws = e Wi = z são denominados módulos de resistência à flexão da seção transversal
hs hi
Cabe ressaltar que, quando a seção transversal for simétrica também em relação ao eixo z, tem-se
h s = hi e W s = Wi , portanto as tensões normais máximas σ s e σ i serão iguais, em valor absoluto.
Além disso, vale mencionar que os módulos de resistência à flexão de vigas com perfis padronizados
são fornecidos em tabelas de referência.
Analisando-se as Figura 5.4.a e 5.4.b, observa-se que, dependendo do sinal do momento fletor
M, as tensões normais máximas de tração, σ tmáx , e de compressão, σ cmáx , coincidem com σ s ou com
σ i , conforme apresentado a seguir
A análise das tensões normais na seção transversal foi realizada para o caso de flexão pura,
desconsiderando-se os efeitos da força cortante na seção. Esta força origina tensões de cisalhamento na
seção transversal que provocam o “empenamento” da mesma. Deste modo, a hipótese de que as seções
transversais permanecem planas só vale para o caso de flexão pura. Entretanto, uma análise mais
aprofundada mostra que as tensões normais calculadas através da equação (5.9) não sofrem grandes
alterações com a existência das tensões de cisalhamento e pela deformação resultante.
5-4
VI FLEXÃO OBLÍQUA SIMPLES E COMPOSTA
No estudo anterior de flexão normal simples tratou-se apenas do caso de uma viga com seção
transversal simétrica e na qual o plano de carregamento coincidia com o plano de simetria. Dando
seqüência ao estudo de flexão serão analisados dois outros diferentes casos: a flexão oblíqua simples e
a flexão oblíqua composta. Em ambos os casos a viga analisada apresentará seção transversal bi-
simétrica; no entanto, o plano de carregamento não coincidirá mais com nenhum dos planos de
simetria. Basicamente, o caso de flexão oblíqua composta se diferencia da flexão oblíqua simples pela
existência adicional de uma força normal atuante na viga.
R
z x
C
plano de
carregamento
R y
Figura 6.1 – Viga com seção transversal bi-simétrica e sujeita à flexão oblíqua simples
plano de
M My
carregamento
z α C
Mz
y
Figura 6.2 - Momento fletor M e suas componentes
6-1
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
Analisando-se uma seção transversal da região central da viga, sujeita à flexão pura, pode-se
representar o momento fletor M que atua nesta seção por um vetor perpendicular ao plano de
carregamento e que forma um ângulo α com o eixo z, conforme representado na Figura 6.2. O sentido
do vetor M é obtido aplicando-se a “regra da mão direita”.
A análise das tensões e deformações no caso da flexão oblíqua simples pode ser realizada
aplicando-se o “método da superposição de efeitos”. Por este método, deve-se inicialmente decompor
o momento fletor M nas direções dos planos de simetria, ou seja nas direções dos eixos y e z,
resultando nas componentes M z e M y , representadas na Figura 6.2 e dadas por
M z = M cos α
(6.1)
M y = M sen α
O problema de flexão oblíqua simples passa então a ser analisado como sendo a superposição
de dois casos de flexão normal simples, conforme ilustrado na Figura 6.3, e que podem ser resolvidos
separadamente, seguindo a teoria de flexão apresentada anteriormente.
M My My
z α C z C z C
≡ +
Mz Mz
y y y
Nos dois casos de flexão normal simples, as componentes de momento fletor M z e M y geram tensões
normais de tração e de compressão na seção transversal da viga, que variam linearmente com as coordenadas y e
z, respectivamente. A componente M z define uma linha neutra que coincide com o eixo z, e para M y a linha
neutra coincide com o eixo y.
Mz My
σ= y+ z (6.2)
Iz Iy
onde
à I z - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z
à I y - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo y
6-2
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
As tensões normais resultantes σ podem ser nula, de tração ou de compressão, dependendo das
coordenadas y e z do ponto analisado e dos sinais dos momentos fletores M z e M y .
Neste estudo, a convenção de sinais adotada define como momento M z positivo, o que
ocasiona tração nas fibras inferiores da seção e como momento M y positivo, o que gera tração nas
fibras do lado esquerdo da seção. Esta convenção de sinais é apresentada de forma gráfica na Figura
6.4.
My>0
Mz>0
z z
Mz<0
My<0
y y
Figura 6.4 - Convenção de sinais para momentos fletores M z e M y
cos α sen α
y+ z =0 (6.3)
Iz Iy
Iz
y = −tgα z (6.4)
Iy
plano de
linha neutra
carregamento
A
M
θ
z C
σcmáx
região tracionada
região comprimida
σtmáx
6-3
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
A linha neutra no caso de flexão oblíqua simples é uma reta que passa pelo centróide da seção e
forma um ângulo θ com o plano de carregamento, conforme exemplificado na Figura 6.5. Na maioria
dos casos I z ≠ I y e consequentemente θ ≠ 90 o , o que caracteriza a flexão oblíqua.
A linha neutra divide a seção em duas regiões distintas, uma sujeita à tensão normal de tração e
a outra sujeita à tensão normal de compressão, conforme ilustrado na Figura 6.5. À medida em que se
afasta da linha neutra, as tensões normais crescem linearmente em valores absolutos; portanto, como
os pontos A e B são os pontos da seção mais distantes da linha neutra, estes estarão submetidos às
tensões normais máximas de compressão e tração, respectivamente
Como a análise se refere ao caso de flexão oblíqua simples de uma viga com seção transversal
bi-simétrica, os pontos mais solicitados da seção estarão sempre eqüidistantes da linha neutra;
portanto, as tensões normais máximas de tração e de compressão serão iguais em valores absolutos, ou
seja
O problema de deflexão da viga será analisado posteriormente, mas vale lembrar que estas deflexões
podem ser determinadas para cada plano ortogonal onde atuam as componentes de momento fletor M z e M y ,
e posteriormente superpostas vetorialmente.
z x
C
e
N plano de
carregamento
y
Figura 6.6 – Viga com seção transversal bi-simétrica e sujeita à flexão oblíqua composta
As forças normais N atuam paralelamente ao eixo longitudinal x e o plano que contém o eixo x
e a linha de ação das forças N constitui o plano de carregamento da viga.
6-4
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
plano de
carregamento
z C
ey e
α
N
ez
y
Figura 6.7 – Carga axial descentrada
e y = e cos α
(6.5)
e z = e sen α
M = Ne (6.6)
plano de plano de
carregamento carregamento
M
z C z α C
≡
N
ey e
α
N
ez
y y
Mais uma vez a análise das tensões e deformações neste caso da flexão pode ser realizada
aplicando-se o “método da superposição de efeitos”. Por este método, o problema de flexão oblíqua
composta pode ser analisado como sendo a superposição dos casos de solicitação axial centrada e de
flexão oblíqua simples, conforme representado na Figura 6.9.
6-5
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
M M
My
z α C z C z α C
≡ +
N N Mz
y y y
Figura 6.9 - Superposição de efeitos na flexão oblíqua composta
M z = Ne cos α = Ne y
(6.7)
M y = Ne sen α = Ne z
N Mz My
σ= + y+ z (6.8)
A Iz Iy
onde
à A - área de seção transversal
à I z - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo z
à I y - momento de inércia da seção transversal, em relação ao eixo y
A tensão normal σ determinada através desta equação pode ser nula, de tração ou de
compressão, dependendo das coordenadas y e z do ponto em questão e dos sinais da força normal N e
dos momentos fletores M z e M y .
1 ey e
+ y+ z z =0 (6.9)
A Iz Iy
6-6
Flexão Obliqua Simples e Composta Flávio Y. Watanabe
Iz ez N
y=− z+ (6.10)
ey Iy A
No caso de flexão oblíqua composta, a linha neutra é uma reta que não passa pelo centróide da
seção e forma um ângulo θ com o plano de carregamento, conforme ilustrado na Figura 6.10. Mais
uma vez, na maioria dos casos θ ≠ 90 o , o que caracteriza a flexão oblíqua.
z C
N
σcmáx
região tracionada
região comprimida
σtmáx
Figura 6.10 - Linha neutra e tensões normais máximas
Neste exemplo, a linha neutra divide a seção em duas regiões distintas, uma maior sujeita à
tensão normal de tração e outra menor sujeita à tensão normal de compressão, conforme ilustrado na
Figura 6.10. O fato da área tracionada ser maior decorre do fato da força normal N ser de tração.
Novamente, à medida em que se afasta da linha neutra, crescem as tensões normais em valores
absolutos; portanto, os pontos A e B da seção estão submetidos, respectivamente, às tensões normais
máximas compressão e de tração; mas neste caso estas são desiguais em valores absolutos, devido à
existência da força normal N.
Um caso particular da flexão composta ocorre quando a força normal N for aplicada sobre um
dos planos de simetria da seção; neste caso, o plano de carregamento coincide com o plano de simetria
em questão e a linha neutra passa a ser perpendicular ao mesmo. Sendo assim, tem-se θ = 90 o e o
caso é definido como flexão normal composta.
Outra observação interessante é que, quando se trabalha com estruturas feitas de materiais cuja
resistência à tração é muito baixa, colunas de alvenaria, por exemplo, pode-se definir um região
central na seção na qual, uma força normal excêntrica N de compressão, gera somente tensões normais
de compressão em toda a seção. Obviamente, o caso oposto de tração também é possível.
6-7
VII ANÁLISE DE ESTADOS DE TENSÕES
∑ FX =0 ∑ FY =0 ∑ FZ =0 (7.1)
Y
F1 F3
Q
F2 F4
X
Z
Figura 7.1 - Corpo rígido em equilíbrio estático
Y σy τ yx
τ yz
τ xy
τ zy Q σx
σ z τ zx τ xz
X
Z
Figura 7.2 - Estado triplo ou geral de tensões
7-1
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
carregamento. Para facilitar a visualização das tensões no ponto Q, considera-se um elemento cúbico
de lado a, centrado no mesmo, juntamente com as tensões normais e de cisalhamento que atuam em
cada uma das seis faces do cubo, constituindo desta forma, um estado triplo ou estado geral de
tensões, ou seja, tensões em três direções ortogonais, conforme ilustrado na Figura 7.2
As tensões apresentadas na Figura 7.2 são as tensões normais σ x , σ y e σ z que atuam nas faces
perpendiculares aos eixo X, Y e Z, respectivamente, e as seis componentes de tensões de cisalhamento,
τ xy , τ xz , τ yx , τ yz , τ zx e τ zy . A notação adotada para as tensões de cisalhamento obedece ao seguinte
exemplo: a tensão τ xy corresponde à componente na direção y da tensão de cisalhamento que atua na
face perpendicular ao eixo x.
Nas três faces do cubo que não são visíveis, ocorrem tensões normais e de cisalhamento iguais
às citadas anteriormente, distribuídas de modo a manter o equilíbrio estático do cubo. As tensões
geradas pelo carregamento e que atuam no cubo, diferem um pouco daquelas que agem no ponto Q, e
o erro cometido tende a zero quando considera-se o cubo com dimensões infinitesimais, ou seja
quando a dimensão a tender a zero.
Algumas relações importantes entre as componentes de tensões de cisalhamento podem ser
deduzidas, considerando-se o equilíbrio de forças e momentos atuantes no cubo centrado no ponto Q.
Adota-se nesta análise um sistema de coordenadas auxiliar xyz, com origem no próprio ponto Q. Vale
ressaltar que, como o corpo da Figura 7.1 estava em equilíbrio estático, o cubo da Figura 7.2 com
todas as tensões atuantes também estará em equilíbrio estático.
Analisando-se uma projeção do cubo no plano xy, verifica-se que as tensões devem estar
dispostas como na Figura 7.3 para que as equações de equilíbrio sejam satisfeitas. As forças normais e
cortantes que atuam no cubo são obtidas multiplicando as respectivas componentes de tensões pela
área de cada face, dA = a 2 .
σy τ yx
τ xy
σx x
z
τ xy σx
τ yx σ
y
Figura 7.3 - Projeção no plano xy
∑ M z = (τ xy dA)a − (τ yx dA)a = 0
∴ τ xy = τ yx (7.3)
A mesma análise pode ser realizada para as projeções do cubo nos planos xz e yz, resultando em
relações semelhantes
τ xz = τ zx e τ yz = τ zy (7.4)
7-2
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
As equações (7.3) e (7.4) indicam que, em planos perpendiculares entre si, existe a igualdade
das componentes de tensão de cisalhamento definidas no plano perpendicular aos dois primeiros.
Estas relações de igualdade são conhecidas como Teorema de Cauchy. Sendo assim, são
necessárias apenas seis componentes para se definir o estado triplo de tensões de um ponto Q
qualquer, a saber, σ x , σ y , σ z , τ xy , τ xz , e τ yz .
Y σy τ xy
τ xy
σx
Q σx
τ xy
τ xy σy X
Z
Figura 7.4: Estado duplo ou plano de tensões
Na seqüência, o estudo se restringirá à análise do estado plano de tensões, mas em planos com
diferentes direções em torno do ponto analisado.
y y
y’
θ
σy σ y′ τ x′y′
τ xy
σ x′ x’
σx x θ x
z σ x′ z
σx
τ xy
σy τ x′y′ σ y′
(a) (b)
Figura 7.5 - Tensões em planos inclinados
7-3
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
τ x′y′
σx σ x′
θ
τ xy
σy
Figura 7.6 - Prisma elementar
σx + σy σx −σy
σ x' = + cos 2θ + τ xy sen 2θ (7.5)
2 2
σx −σy
τ x' y' = − sen 2θ + τ xy cos 2θ (7.6)
2
Para a obtenção da expressão da tensão σ y′ que atua na face perpendicular ao eixo y', basta
substituir o ângulo θ na equação (7.5) por (θ+90°), resultando
σx + σy σx −σy
σ y' = − cos 2θ − τ xy sen 2θ (7.7)
2 2
7-4
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
y y
n̂ n̂
τ xy τ xy
n̂ n̂ x n̂ n̂ x
z z
τ xy τ xy
n̂ n̂
τ xy > 0 τ xy < 0
Figura 7.7 - Convenção de sinais para τ xy
Para τ x′y ′ vale a mesma convenção de sinais definida para τ xy , bastando apenas substituir os
eixos x e y por x ′ e y ′ , respectivamente.
2 τ xy
tg (2θ p ) = (7.9)
σx −σy
Dentre as infinitas soluções da equação (7.9), interessam dois valores de θ p que definem as
direções de dois planos defasados entre si de 90°, e denominados planos principais. As tensões
normais que agem nesses planos são chamadas tensões principais no ponto Q, e são obtidas
substituindo os ângulos θ p na equação (7.5).
A mesma equação (7.9), que fornece θ p , pode ser obtida igualando-se a zero a derivada de
σ x′ , equação (7.5), em relação a θ. Sendo assim, as tensões principais correspondem às tensões
normais máxima e mínima que atuam no ponto Q, e são determinadas por:
2
σx +σy σx −σy
σ máx ,min = ± + τ xy 2 (7.10)
2 2
Para se determinar qual dos dois planos principais está submetido a σ máx e qual está submetido
a σ mín , necessita-se substituir um dos valores de θ p na equação (7.5) para verificação.
y
y’
θ p1
σmín
θ p2 σ máx x’
x
σ máx z
σmín
Figura 7.8 - Tensões principais
7-5
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
O estado de tensões apresentado na Figura 7.8 ilustra as direções dos planos principais e as
tensões σ máx e σ mín associadas a essa condição. Vale ressaltar que θ p foi determinado fazendo-se
τ x' y' = 0 , sendo assim, obviamente não ocorrem tensões de cisalhamento nos planos principais.
σx −σy
tg (2θ c ) = − (7.11)
2 τ xy
A equação (7.11) permite determinar dois valores de θ c , que definem as direções de dois
planos defasados de 90° entre si, denominados planos de tensão máxima de cisalhamento. A tensão
τ máx é determinada substituindo-se θ c na equação (7.6) de τ x' y' , resultando
2
σx −σy
τ máx = ± + τ xy 2
(7.12)
2
O sinal correto de τ máx , segundo a convenção de sinais adotada, pode ser verificado
substituindo-se um dos valores de θ c na equação (7.6).
A mesma equação (7.11) que fornece θ c pode ser obtida igualando-se as tensões σ x′ e σ y′
Sendo assim, as tensões normais que atuam nos planos de tensão máxima de cisalhamento
correspondem à tensão normal média, σ méd .
σx +σy
σ méd = (7.13)
2
O estado de tensões apresentado na Figura 7.9 ilustra as direções dos planos de tensão máxima
de cisalhamento e as tensões τ máx e σ méd associadas a essa condição.
y
θc1 y’
σméd θc 2 σméd
τmáx x
z
τmáx
σméd
σméd x’
Figura 7.9 - Tensão de cisalhamento máxima e tensão normal média
1
tg (2θ p ) = − (7.14)
tg (2θ c )
7-6
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
A relação trigonométrica (7.14) indica que os ângulos θ p e θ c estão defasados de 45° entre si.
Assim, os planos de máxima tensão de cisalhamento formam ângulos de 45° com os planos
principais.
2 2
σ +σy σ −σy
σ x' − x + τ x' y' 2 = x + τ xy 2 (7.15)
2 2
2
σx + σy σx −σy
Sabendo que σ méd = , e definindo R = + τ xy 2 , reescreve-se a
2 2
equação (7.15) na seguinte forma
que corresponde à equação de uma circunferência de raio R com centro no ponto C definido pelas
seguintes coordenadas: C (σ méd , 0 )
A construção do Círculo de Mohr constitui num método gráfico que possibilita uma
visualização muito eficiente do estado de tensões de um ponto, em função dos ângulos de inclinação
dos planos analisados; além disso pode-se analisar com facilidade as tensões principais e a tensão
máxima de cisalhamento, com as respectivas tensões associadas.
Consideremos um cubo elementar submetido a um estado plano de tensões, sendo σ x , σ y e τ xy
as componentes de tensões que atuam neste elemento. A análise gráfica desse estado de tensões,
através do Círculo de Mohr, pode ser realizada seguindo o roteiro prático apresentado a seguir.
(
X σ x , - τ xy ) (
e Y σ y , + τ xy ) (7.17)
7-7
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
τ σy
τ xy
D σx
− τ máx θ
Q σx
− τ x ′y ′ τ xy
Y P
τ xy σy
B C A σ
σmín σ y σ x′ σ méd σ x σ máx
R
− τ xy
X
τ máx
E
O ponto genérico Q do Círculo de Mohr representa um plano cuja direção é definida pelo
ângulo θ, e no qual agem as tensões σ x′ e (-τ x′y′ ) Pontos Q localizados acima do eixo σ
representam planos onde as tensões de cisalhamento tendem a “rodar o elemento no sentido horário”,
em torno do eixo z; e pontos Q localizados abaixo do eixo σ, representam planos onde as tensões de
cisalhamento tendem a “rodar o elemento no sentido anti-horário”.
Os pontos A e B representam os planos principais onde ocorrem as tensões normais máxima e
mínima, σ máx e σ mín , respectivamente, associadas a uma tensão de cisalhamento nula. Suas direções
podem ser determinadas de maneira análoga a do plano representado pelo ponto Q. As coordenadas
destes pontos são definidas por:
As direções dos planos onde ocorre τ máx e os sentidos desta tensão nesses planos são determinadas de
maneira análoga à citada anteriormente para ponto Q.
Apesar da limitação de precisão nos valores das tensões e ângulos obtidos através do Círculo de
Mohr, este método gráfico possibilita uma visualização global de todas as diferentes situações críticas
7-8
Análise de Estados de Tensões Flávio Y. Watanabe
de tensões máximas com suas respectivas direções, facilitando o entendimento da análise de estados
de tensões. Cabe dizer que a análise de um estado triplo de tensões pode ser realizada também através
da construção de um Círculo de Mohr semelhante ao apresentado neste estudo.
7-9
VIII FLAMBAGEM DE VIGAS
P P
(a) (b)
Figura 8.1 - Viga biarticulada sujeita a solicitação axial de compressão
No caso em que o comprimento l é poucas vezes maior que o diâmetro d, não se tem problemas
de instabilidade e a viga suportará uma carga elevada, rompendo-se somente quando o limite de
resistência à compressão ou cisalhamento do material for ultrapassado. Entretanto, vigas muito
esbeltas, onde l >> d , podem tornar-se lateralmente instáveis, conforme ilustrado na Figura 8.1b,
mesmo com cargas inferiores às suportadas pelas vigas mais curtas
Denomina-se flambagem de vigas o fenômeno de instabilidade lateral no qual, pequenos
incrementos da carga axial de compressão P ocasionam grandes deformações laterais e que podem
levar a um colapso catastrófico por flexão da viga. O fenômeno de flambagem pode ocorrer também
em inúmeras situações onde se tem carregamento de compressão ou torção de chapas finas ou cascas,
ou ainda de flexão de vigas estreitas e de alma fina.
O objetivo deste estudo é analisar a flambagem de vigas submetidas a esforços de compressão,
bem como determinar a Carga Crítica, Pcr , a menor carga axial mínima que ocasiona a instabilidade
8-1
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
P P
v v
L/2
x x
vmáx M(x)
P
L/2
(a) (b)
Figura 8.2 – Flambagem de viga bi-articulada
A análise estática de um trecho da viga, ilustrado na Figura 8.2b, permite definir o momento
fletor, M ( x ) , que atua na viga em uma seção genérica.
M ( x ) = Pv (8.1)
Sabe-se do estudo de deformação elástica de vigas sujeitas a momentos fletores puros que a
curvatura da linha elástica, κ, é determinada pela seguinte relação
8-2
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
1 M ( x)
κ= = (8.2)
ρ EI
onde
à ρ - raio de curvatura da linha elástica
à E - módulo de Young ou módulo de elasticidade do material
à I – momento de inércia da seção (I = I mín )
A linha elástica de uma viga pode ser expressa matematicamente como sendo uma função da
coordenada x, ou seja, v = f ( x ) . Para tanto, deve-se inicialmente representar a curvatura κ em função
de v e x. Sabe-se do estudo de geometria analítica que κ de uma curva plana obedece à seguinte
relação:
d 2 v dx 2
k= (8.3)
[1 + (dv dx) ] 2 32
Esta equação representa uma equação diferencial não linear de segunda ordem e sua solução,
normalmente complexa, fornece a equação exata da linha elástica, admitindo que os deslocamentos da
viga são resultantes apenas devido aos esforços de flexão. Entretanto, na maioria dos problemas de
engenharia envolvendo a deformação de vigas devido à flexão, a inclinação dv dx é muito pequena, e
portanto o denominador da equação (8.3) pode ser aproximado à unidade, resultando em
d 2v
k≈ (8.4)
dx 2
Assumindo-se que o momento fletor M ( x ) na Figura 8.2b é positivo, nota-se que ele produz na
viga uma deflexão v também positiva. Além disso, nesta condição, a curvatura resultante implica em
uma diminuição da inclinação, dv dx , da linha elástica e um valor negativo da segunda derivada,
d 2 v dx 2 . Consequentemente, confrontando-se as equações (8.2) e (8.4) deduz-se que a equação
diferencial resultante que representa o problema de deformação por flexão é dada por
d 2v M (x )
2
=− (8.5)
dx EI
d 2v P d 2v P
2
=− v ou 2
+ v=0 (8.6)
dx EI dx EI
A equação (8.6) é uma equação diferencial de segunda ordem, homogênea, com coeficientes
constantes e semelhante à equação diferencial que descreve um movimento harmônico simples, exceto
pela variável independente representada pela coordenada x, ao invés do instante de tempo t. A solução
geral da equação (8.6) é bem conhecida e pode ser definida como
8-3
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
A sen(kL ) = 0 (8.7)
A solução trivial A = 0 da equação (8.7) não se mostra adequada, uma vez que a equação geral
da deflexão da viga se resumiria a v = 0 , indicando que a viga não sofreria deformações. Portanto,
para que a equação (8.7) seja satisfeita, deve-se impor sen(kL ) = 0 , condição satisfeita quando
k = nπ L , sendo n um número inteiro qualquer. Portanto, como k 2 = P EI , conclui-se que
n 2 π 2 EI
P= (8.8)
L2
Quando n = 1 , tem-se o menor valor da carga P que ocasiona a flambagem, ou seja, define-se a
carga crítica ou carga de Euler, Pcr , para uma viga bi-articulada em suas extremidades.
π 2 EI
Pcr = (8.9)
L2
v = A sen ( x)
π
L
(8.10)
e a constante A corresponde à flecha máxima, v máx , que ocorre na posição definida por x = L 2 ,
entretanto, o valor de v máx fica indeterminado e isto ocorre devido ao fato de ter sido empregado uma
equação diferencial aproximada da que realmente descreve a linha elástica da viga.
As soluções da equação (8.8) correspondentes às condições n = 2 ,3 ,... representam outras
condições de flambagem e que são válidas se existirem apoios laterais adicionais na viga, distribuídos
ao longo de seu comprimento, conforme ilustrado na Figura 8.3. Para cada caso são definidas novas
expressões para carga crítica e linha elástica, comparadas a seguir com as expressões originais.
π 2 EI
n = 1 - Figura 8.3a Ö Pcr =
2
e v = A sen (πL x ) (8.11)
L
4 π 2 EI
n = 2 - Figura 8.3b Ö Pcr =
2
e v = A sen (2πL x ) (8.12)
L
9 π 2 EI
n = 3 - Figura 8.3c Ö Pcr =
2
e v = A sen (3πL x ) (8.13)
L
8-4
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
P P P
L/3
L/2
L L/3
L/2
L/3
Adicionalmente, para cada uma das vigas da Figura 8.3 são fornecidos os valores de um
parâmetro denominado comprimento de flambagem da viga, l f , que será discutido posteriormente.
P P P
L/4
*
L 2
L L/2
*
*
L/4
8-5
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
π 2 EI
Pcr = (8.14)
lf 2
Observa-se que o tipo de vinculação adotado para uma viga tem forte influência na sua
“resistência à flambagem”, uma vez que a carga crítica pode assumir valores muito diferentes. A
determinação da carga crítica de flambagem possibilita definir uma carga segura aplicável, baseado
em coeficientes de segurança definidos muitas vezes através de normas técnicas. Um aspecto prático a
ser considerado é a dificuldade em se definir de forma precisa o tipo de vinculação que representa a
forma de fixação de uma viga.
Pcr π 2 EI
σ cr = = 2 (8.15)
A lf A
π2 E
σ cr = (8.16)
(l f r ) 2
A relação l f r , que aparece no denominador da equação (8.16) é denominado coeficiente de esbeltez
da viga, e é denotado por λ. Sendo assim, a forma final da tensão de flambagem é dada por
π2 E
σ cr = (8.16)
λ2
A equação (8.16) descreve a chamada hipérbole de Euler e mostra que a tensão crítica é
inversamente proporcional ao quadrado do coeficiente de esbeltez, λ. Demonstra-se
experimentalmente que esta equação é válida somente para o regime elástico de deformações,
definindo a flambagem elástica de vigas cujos coeficientes de esbeltez são elevados ( λ > 100 ).
Considerando corpos de prova com diferentes coeficientes de esbeltez, confeccionados com um
aço estrutural com módulo de elasticidade E ≈ 200GPa e tensão limite de escoamento
σ e ≈ 250 MPa , levanta-se experimentalmente, através de ensaios de compressão, um diagrama
semelhante ao esquematizado na Figura 8.5.
8-6
Flambagem de Colunas Flávio Y. Watanabe
σ cr
A B
σe
C
hipérbole de Euler
8-7
IX – CRITÉRIOS DE RESISTÊNCIA
A causa mais comum do escoamento de um material dúctil, como um aço, é o deslizamento que
ocorre ao longo dos planos de contato entre os cristais constituintes do material e ordenados
9-1
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
45°
T T
Figura 9.1 Linhas de Lüder em uma barra feita de aço de baixo teor de carbono
Considerando o estado de tensão de um ponto do corpo de prova sob tração e que esteja sujeito
à tensão limite de escoamento σ e , a tensão de cisalhamento máxima pode ser determinada
construindo-se o círculo de Mohr correspondente do referido estado de tensão, representado na Figura
9.2, resultando na seguinte relação
σe
τ máx = (9.1)
2
τ σe σe
τ máx = σ e 2
σ2 = 0 σ1 = σ e σ
σ méd = σ e 2
σ méd σ méd
τ máx τ máx
σ méd σ méd
Figura 9.2 Círculo de Mohr de uma barra tracionada, sujeita à tensão de escoamento
Além disso, a tensão de cisalhamento máximo τ máx atua nos planos posicionados a 45° em
relação aos planos das tensões principais σ 1 e σ 2 , e a direção desses planos coincidem com a direção
das linhas de Lüder mostradas no corpo de prova, indicando que de faro a falha ocorre pelo efeito de
cisalhamento.
Utilizando esta idéia, de um material dúctil falhar pelo efeito do cisalhamento, Henri Tresca em
1868 propôs o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento ou Critério de Escoamento de
Tresca. Essa teoria pode ser utilizada para prognosticar a tensão de falha de um material dúctil sujeito
a qualquer tipo de carregamento.
O Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento estabelece que o escoamento do material inicia-
se quando a tensão de cisalhamento máxima absoluta , τ abs
máx , no material atinge a tensão cisalhante que
causa um escoamento, no mesmo material, ao ser submetido apenas a uma tração axial. Portanto, para
9-2
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
σ1 σ máx
τ abs
máx = ou τ abs
máx = (9.2)
2 2
Por outro lado, se as tensões principais no plano forem de sinais opostos, a falha ocorrerá no
plano das tensões e a tensão de cisalhamento máxima absoluta é dada por
σ1 − σ3 σ máx − σmin
τabs
máx = ou τabs
máx = (9.3)
2 2
σ1 < σe
σ1 e σ2 com sinais idênticos
σ2 < σe (9.4)
σ1 − σ 2 < σe } σ1 e σ 2 com sinais opostos
σ2
+σe
−σ e σ1
+σe
−σ e
9-3
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
Quando um material é deformado por um carregamento externo, ele tende a armazenar energia
internamente através do volume por ele ocupado. A energia por unidade de volume do material é
denominada de densidade de energia de deformação e, se o material é submetido a uma tensão
uniaxial, σ, a energia de deformação específica pode ser expressa como
u = 21 σε (9.5)
É possível formular um critério de falha baseado nas distorções causadas pela energia de
deformação. Antes, porém, precisamos determinar a densidade de energia de deformação referente a
um elemento de volume do material sujeito às tensões principais σ1 , σ 2 e σ 3 , conforme ilustrado na
Figura 9.4a Neste caso, cada tensão principal contribui com parte da densidade de energia de
deformação total, logo
u = 21 σ1ε 1 + 21 σ 2 ε 2 + 21 σ 3 ε 3 (9.6)
Portanto, considerando o estado de tensões principais, substituindo a Equação (9.7) na Equação (9.6) e
simplificando, tem-se
u=
2E
[
1 2
]
σ1 + σ 22 + σ 32 − 2ν(σ1σ 2 + σ1σ 3 + σ 3 σ 2 ) (9.8)
Essa densidade de energia de deformação pode ser considerada como a soma de duas parcelas,
uma representando a energia necessária para causar uma variação do volume do elemento sem que
haja variação na forma e outra representando a energia necessária para distorcer o elemento.
Especificamente, a energia armazenada no elemento como resultado da variação de seu volume é
causada pela aplicação da tensão principal média, σ = (σ 1 + σ 2 + σ 3 ) 3 , em todas as faces do
elemento, uma vez que essa tensão causa deformações principais idênticas no material, Figura 9.4b. As
tensões remanescentes, (σ 1 − σ ) , (σ 2 − σ ) e (σ 3 − σ ) , são responsáveis pela energia de distorção u d
do elemento, Figura 9.4c.
9-4
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
σ2 σ (σ 2 − σ )
σ3 σ (σ3 − σ )
σ1 σ1 σ σ (σ1 − σ ) (σ1 − σ )
≡ +
σ3 σ (σ3 − σ )
σ2 σ (σ 2 − σ )
(a) (b) (c)
Figura 9.4 Estado triplo de tensões e deformações
Evidências experimentais mostram que os materiais não escoam quando sujeitos a um estado de
tensões uniformes (hidrostático), como σ discutido anteriormente. Em consequência, em 1904, M.
Huber propôs que o escoamento em um material dúctil ocorre quando a energia de distorção por
unidade de volume do material é igual ou superior à energia de distorção por unidade de volume do
mesmo material quando ele atinge o escoamento em um ensaio de tração. Esse critério é chamado
Critério da Máxima Energia de Distorção e, uma vez que ela foi posteriormente redefinida de forma
independente por R. von Mises e H. Hencky, também é conhecido como Critério de von Mises.
A energia de distorção por unidade de volume é obtida substituindo-se as tensões σ1 , σ 2 e σ 3
a Equação (9.8) pelas tensões (σ 1 − σ ) , (σ 2 − σ ) e (σ 3 − σ ) , respectivamente. Expandindo o
resultado da substituição e simplificando, resulta
ud =
1 + ν 1
3E 2
[ 2 2 2
(σ 1 − σ 2 ) + (σ 2 − σ 3 ) + (σ 3 − σ 1 )
] (9.9)
Define-se como tensão equivalente ou tensão de von Mises o termo da Equação (9.9)
reproduzido a seguir
σi =
1
2
[
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 + (σ 3 − σ 1 )2 ] (9.10)
ud =
1+ ν 2
3E
[
σ 1 − σ 1 σ 2 + σ 22 ] (9.11)
(u d )e = 1 + ν σ e2 (9.12)
3E
Uma vez que o Critério da Máxima Energia de Distorção requer que u d = (u d )e , para o caso
plano ou bidimensional de tensões, tem-se
σ 12 − σ 1 σ 2 + σ 22 < σ e2 (9.13)
9-5
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
Essa equação representa uma curva elíptica, Figura 9.5. Assim, se um ponto do material é tensionado
de forma que o ponto com as coordenadas de tensões ( σ1 , σ 2 ) seja marcada no contorno da elipse ou
fora dela, o material falhará.
σ2
+σe A
C
−σ e σ1
+σe
D
B −σ e
A Figura 9.6 mostra uma comparação entre os dois critérios de resistência apresentados para materiais
dúcteis. Nota-se que a elipse passa pelos vértices do hexágono. Os dois critérios dão o mesmo
resultado para os estados de tensões representados por esses pontos. Para qualquer outro estado de
tensões, o Critério da Máxima Tensão de Cisalhamento é mais conservador que o Critério da Máxima
Energia de Distorção, uma vez que o hexágono está localizado dentro da elipse.
σ2
+σe
0 ,5σ e 0 ,577 σ e
−σ e σ1
+σe
−σ e
Um estado de tensões de interesse especial é aquele associado a um teste de torção pura que
gera um estado de cisalhamento pura. Neste caso, σ 1 = −σ 2 ; desse modo, os pontos correspondentes
no diagrama da Figura 9.6 estão localizados na bissetriz do segundo e quarto quadrantes. Segue daí
que em um teste de torção o escoamento ocorre quando σ 1 = −σ 2 = ±0 ,5σ e , de acordo com o Critério
da Máxima Tensão de Cisalhamento, e quando σ 1 = −σ 2 = ±0 ,577 σ e , de acordo com o Critério da
Máxima Energia de Distorção.
A análise do estado de cisalhamento puro indica que σ1 e σ 2 devem ter a mesma intensidade
de τ máx que é o valor obtido de um ensaio de torção para a tensão de escoamento ao cisalhamento τ e
do material. Baseado em dados experimentais e calculando-se o valor da relação τ e σ e para materiais
dúcteis, verifica-se que essa relação varia de 0,53 a 0,60. Isso mostra que o Critério da Máxima
Energia de Distorção é um pouco mais preciso, pelo menos no que concerne a estabelecer o
escoamento na torção.
9-6
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
Materiais frágeis como o ferro fundido cinzento tendem a falhar subitamente por fratura sem
escoamento aparente. Nos ensaios de tração, a fratura ocorre quando a tensão normal atinge o valor da
tensão limite de resistência σ r . Também nos ensaios de torção de uma barra cilíndrica ocorre a fratura
frágil devido à máxima tensão de tração, uma vez o ângulo entre o plano de fratura na superfície para
uma elemento e a direção de cisalhamento máximo é de 45°, resultando em uma fratura helicoidal.
Os experimentos tem mostrado que durante a torção a resistência do material não é afetada pela
presença da tensão principal de compressão associada que atua a um ângulo reto em relação à tensão
principal de tração. Conseqüentemente, a tensão de tração necessária para fraturar um corpo de prova
durante um ensaio de torção é aproximadamente a mesma necessária para fraturar um corpo de prova
em um ensaio de tração. Por esta razão, o Critério da Máxima Tensão Normal estabelece que um
material frágil falhará quando a tensão principal máxima σ 1 atuante no material atingir um valor
limite igual à tensão limite de resistência à tração σ r .
Se o material é submetido ao estado duplo ou plano de tensões, devemos assegurar que
Essas equações são mostradas graficamente na Figura 9.7. Nesse caso percebe-se que se o ponto com
as coordenadas de tensões ( σ1 , σ 2 ) referentes a um ponto do material estiver sobre o contorno da área
quadrada ou fora dela, o material falhará. Esse critério é conhecido também como Critério de
Coulomb, devido ao físico francês Charles Augustin de Coulomb (1936-1806). Esse critério tem uma
deficiência séria, uma vez que se baseia na hipótese de que a tensão limite de resistência do material é
a mesma na tração e na compressão, o que raramente ocorre na prática devido à presença de vazios no
material, tais como falhas e fissuras., que debilitam o material tracionado, embora não tenham
influência apreciável no material sujeito a compressão.
σ2
+σ r
−σ r σ1
+σ r
−σ r
9-7
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
podem ser obtidos para esse material. Este critério assume que alguns materiais frágeis quando
submetidos à tração e à compressão apresentam características diferentes de resistência.
Considerando inicialmente a realização de ensaios de tração e de compressão em corpos de
prova feitos de um mesmo material, os quais possibilitam a determinação dos valores de σ rt e σ rc ,
tensões limites de resistência à tração e à compressão, respectivamente.
Os estados de tensões que correspondem às condições de ruptura dos corpos de prova nos
ensaios de tração e compressão originam os círculos de Mohr tangentes à origem do sistema de
coordenadas στ, e de diâmetros 2 σ rt e 2 σ rc , respectivamente, conforme ilustrado na Figura 9.8.
τ
σ rc σ rc
τr
σ rt σ rt
σ rc σ rt σ
τr
τr
Figura 9.8 Critério de Falha de Mohr - representação dos círculos de Mohr
Desse modo, quando as duas tensões principais são de mesmo sinal, o estado de tensões é
considerado seguro se as seguintes condições forem satisfeitas
σ1 < σ rt
σ1 e σ 2 positivos
σ 2 < σ rt
(9.15)
σ1 < σ rc
σ1 e σ 2 negativos
σ 2 < σ rc
9-8
Critérios de Resistência Flávio Y. Watanabe
σ2
σ rt
σ rc σ1
σ rt
σ rc
σ2
σ rt
σ rc σ1
σ rt
σ rc
9-9
A – PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS DE ÁREAS PLANAS
z z zC O
C
yC
A
dA y
y
Figura A.1 - Área arbitrária A, com centróide C
A = ∫ dA (A.1)
A
∫ ydA ∫ zdA
A A
yC = e zC = (A.3)
∫ dA
A
∫ dA
A
A-1
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
ou ainda, empregando-se a expressão de área total dada na equação (A.1) e as definições de momentos
estáticos de área da equação (A.2),
Qz Qy
yC = e zC = (A.4)
A A
Muitas vezes a posição do centróide de um área pode ser determinada por meio de uma simples
inspeção. Quando uma área possui um eixo de simetria, como a exemplificada na Figura A.2a, o
momento estático desta área em relação a este eixo é igual a zero; sendo assim, o centróide, C, estará
localizado em algum ponto sobre o eixo de simetria, necessitando-se determinar apenas uma
coordenada para localizar o ponto C.
z C z C z C
y y y
(a) (b) (c)
Figura A.2 - Áreas com características de simetria
Nos casos em que a área possui dois eixos de simetria, como a exemplificada na Figura A.2b,
pode-se concluir que o seu centróide localiza-se na interseção destes eixos. Finalmente, quando a área
possui um centro de simetria, apesar de não ter um eixo de simetria, conforme ilustrado na Figura
A.2c, este ponto corresponderá ao seu centróide.
Na Tabela A.1 do Apêndice A são apresentadas as expressões de cálculo de área e localizações
dos centróides de diversas formas simples de áreas planas, bem como outras grandezas geométricas
discutidas ainda neste capítulo
A.1.3 – Centróide de Área Composta
Freqüentemente, as áreas que podem ser decompostas ou divididas em várias partes com formas
geométricas simples como retângulos, círculos, semicírculos e triângulos, para as quais são conhecidas
as respectivas áreas e posições dos centróides. A Figura A.3 ilustra a decomposição de uma área em
dois retângulos de áreas A1 e A2 com respectivos centróides C 1 e C 2 , cujas posições são conhecidas.
z zC O
A1 C1 yC
C
C2
A2
y
Figura A.3 - Centróide de área composta
onde
A-2
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
Em alguns casos, se a área possui furos ou regiões sem material, esta pode ser considerada como sendo
composta por áreas positivas cheias e “áreas negativas”, correspondentes aos vazios, facilitando
muitas vezes a determinação da posição do centróide da área total.
I O = ∫ ρ 2 dA (A.6)
A
z z O
A
dA y
y
Figura A.4 - Momento de inércia de uma área arbitrária A
A distância radial ρ pode ser determinada em função das coordenadas y e z do elemento dA,
aplicando-se o teorema de Pitágoras
ρ2 = z 2 + y 2 (A.7)
I O = ∫ ( z 2 + y 2 )dA = ∫ z 2 dA + ∫ y 2 dA = I y + I z (A.8)
A A A
onde, I y e I z são definidos como sendo os momentos de inércia de área, em relação aos eixos y e z,
respectivamente
I y = ∫ z 2 dA e I z = ∫ y 2 dA (A.9)
A A
A partir das formações dos momentos de inércia de área, percebe-se que I O , I y e I z serão
sempre grandezas positivas. Além disso, dimensionalmente são grandezas expressas em [m 4 ] ou
A-3
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
Os momentos de inércia de área de diversas formas simples de áreas planas, em relação a eixos
que passam pelos respectivos centróides, foram determinadas a partir das integrais definidas nas
equações (A.9) e são apresentadas na Tabela A.1 do Apêndice A.
A.2.2 – Teorema dos Eixos Paralelos para Área
Se o momento de inércia de uma área em relação a um eixo que passa pelo seu centróide for
conhecido, pode-se determinar o momento de inércia desta área em relação a um eixo paralelo ao
primeiro utilizando-se o Teorema dos Eixos Paralelos. Para demonstrar este teorema, considere na
área arbitrária A, ilustrada na Figura A.5 e localizada no plano yz, um sistema de eixos coordenados
yz com origem em seu centróide e paralelos aos eixos yz.
z z zC O
z z C
yC
A
dA y y
y
y
Figura A.5 - Teorema dos Eixos Paralelos
y = y + yC e z = z + zC (A.10)
I z = ∫ y 2 dA = ∫ ( y + y C ) 2 dA = ∫ ( y 2 + 2 yy C + y C2 ) dA
A A A
Ö I z = ∫ y 2 dA + 2 y C ∫ ydA + y C 2 ∫ dA
A 23
1 A2
1 3 A
{
Iz Q z =0 A
I z = I z + A y C2 (A.11)
A-4
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
I y = I y + A z C2 (A.12)
Estas equações representam o Teorema dos Eixos Paralelos para Áreas e estabelecem que:
“O momento de inércia de um área em relação a um eixo é igual ao momento de inércia
da área em relação a um eixo paralelo ao mesmo e que passa por seu centróide, mais o
produto da área pelo quadrado da distância entre os dois eixos paralelos.”
Somando-se termo a termo as equações (A.11) e (A.12), deduz-se uma expressão semelhante,
relacionando o momento polar de inércia de um área, I O , em relação a um ponto arbitrário O e o
momento polar de inércia desta mesma área, I C , em relação ao seu centróide C. Denotando por d a
distância entre os pontos O e C, resulta
IO = IC + A d 2 (A.13)
A1
C1
z C
C2
A2
y
Figura A.6 - Momento de inércia de área composta
Sendo assim, os momentos de inércia da área total, em relação a os eixos y e z com origem em seu
centróide C, podem ser determinados aplicando-se o Teorema dos Eixos Paralelos na forma de
somatórios
n n
I y = ∑ ( I yi + Ai z i2 ) e I z = ∑ ( I zi + Ai y i2 ) (A.14)
i =1 i =1
onde
à Ai - área do elemento i
à y i , z i - coordenadas do centróide C i do elemento i
à I yi , I zi - momentos de inércia de área do elemento i em relação aos eixos y i e z i , respec-
tivamente, com origem no centróide C i
A-5
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
I yz = ∫ yz dA (A.15)
A
Diferentemente dos momentos de inércia de área, o produto de inércia de área pode ser positivo,
negativo ou nulo, dependendo da posição da área em relação aos eixos yz. Caso um dos eixos y ou z
coincida com um eixo de simetria da área, o produto de inércia será nulo.
Demonstra-se facilmente também que o Teorema dos Eixos Paralelos vale para os produtos de
inércia de área, sendo expresso da seguinte forma
I yz = I yz + A y C z C (A.16)
onde
à I yz - produto de inércia de área em relação ao sistema de eixos yx, paralelo a yz
à I yz - produto de inércia de área em relação ao sistema de eixos yz com origem no cen-
tróide C
Na Tabela A.1 do Apêndice A são apresentados também os produtos de inércia de várias formas
simples de áreas planas.
A.3 – Momentos de Inércia de Área em Eixos Rotacionados
θ
A
dA y
y’
y’ y
Figura A.7- Momentos de inércia de área em eixos rotacionados
z ′ = y cos θ + z sen θ
(A.17)
y ′ = − y sen θ + z cos θ
Partindo-se das equações de momentos de inércia (A.9) e de produto de inércia (A.15) de área,
definidos para o sistema de eixos y ′z ′ , e empregando-se as transformações da equação (A.17), obtém-
se as seguintes expressões
A-6
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
Iy + Iz Iy −Iz
I y′ = + cos 2θ − I yz sen 2θ
2 2
Iy + Iz Iy −Iz
I z′ = − cos 2θ + I yz sen 2θ (A.18)
2 2
Iy − Iz
I y′z′ = sen 2θ + I yz cos 2θ
2
I y′ + I z′ = I y + I z = I O (A.19)
ou seja, o momento polar de inércia em relação ao ponto O, origem dos sistemas de coordenadas, é
constante e independe da orientação dos eixos y ′ e z ′ .
Observa-se nas equações (A.18) que os momentos de inércia I y′ e I z ′ e o produto de inércia I y′z ′ da
área dependem do ângulo de rotação θ do sistema de eixos y ′z ′ . O nosso interesse está focado na
determinação da direção desses eixos para os quais o momentos de inércia, I y′ e I z ′ , assumem valores
extremos, ou seja, valores mínimo e máximo. Estes eixos particulares são chamados eixos principais
de inércia de área, e os correspondentes momentos de inércia em relação aos mesmos são os momentos
principais de inércia.
Os ângulos θ p que definem a orientação dos eixos principais podem ser obtidos por derivação
da primeira das equações de (A.18), em relação a θ, e igualando-se o resultado a zero, resultando
2 I yz
tg 2θ p = (A.20)
Iz −Iy
Esta equação fornece dois ângulos θ p defasados de 90o e estabelecem a inclinação dos eixos
principais.
A substituição dos ângulos θ p nas duas primeiras equações de (A.18) possibilitam a
determinação dos momentos principais de inércia da área, I máx e I mín
2
Iy + Iz Iy −Iz
I máx = ± + I yz
2
(A.21)
mín 2 2
A substituição de um dos ângulos θ p na terceira equação de (A.18) fornece sempre I y′z ′ = 0 , isto
é, o produto de inércia em relação aos eixos principais é nulo. Conforme mencionado na Seção A.4, o
produto de inércia é nulo em relação a qualquer eixo de simetria, portanto, qualquer eixo de simetria
será um eixo principal de inércia da área.
A-7
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
O raio de giração de uma área A, em relação ao ponto O, origem do sistema de coordenadas yz,
é definido como o sendo o raio rO que satisfaz à seguinte relação
IO
I O = rO2 A ou rO = (A.22)
A
Iy Iz
ry = e rz = (A.23)
A A
A-8
Propriedades Geométricas de Áreas Planas Flávio Y. Watanabe
A = bh
z
h bh 3
hb3
Iz = Iy = I yz = 0
12 12
y
z πd 2
d=2r A = πr 2 =
4
πr 4 πd 4
Iz = I y = = I yz = 0
y 4 64
z (de2 − di2 )
di de A=π
4
π(de4 − di4 )
Iz = I y = I yz = 0
y 64
z A ≈ πdt
d
πtd 3 t2
t Iz = I y ≈ (1 + 2 ) I yz = 0
t<<d 8 d
y
r
πr 2 πd 2
z A= =
4r/3π
2 8
y (9 π2 - 64)r 4 πr 4
Iz = Iy = I yz = 0
d=2r 72π 8
z 3 2
h A= h
2
5 3 4
Iz = I y = h ≈ 0 ,0601h4 I yz = 0
y 144
bh
z h A=
2
h/3
bh3 b3 h
y Iz = Iy = I yz = 0
36 48
b
2a
z A = πab
2b 3
πab πba3
Iz = Iy = I yz = 0
4 4
y
A-9
B – VASOS DE PRESSÃO DE PAREDES FINAS
Um vaso de pressão esférico possui a forma ideal para um vaso que deve resistir a uma pressão
interna. Basta observar uma bolha de sabão para reconhecer que uma esfera é forma “natural” para
esse propósito.
A análise de um vaso esférico de parede fina como o ilustrado na Fig.B.1a, será realizada
considerando-se um vaso com raio interno r e espessura de parede t, sujeito a uma pressão
manométrica interna p (Fig.B.1b), desenvolvida por um gás ou fluido de peso desprezível.
m
t
r
p
(a) (b)
Fig. B.1 Vaso de pressão esférico
Para se determinar as tensões atuantes na parede do vaso esférico, este é seccionado em um
plano diametral vertical m (Fig.B.2a) e o diagrama de corpo livre de uma das partes fica como
indicado na Fig. B.2a. Agindo nesse corpo estão as tensões tangenciais de tração σ na parede do vaso e
a pressão p do fluido atuando perpendicularmente à parede interna. Uma vez que a pressão p é
uniforme, a força de pressão resultante é P=p(πr2) e atua horizontalmente contra a área circular plana
(πr2), projeção horizontal da superfície interna. Por causa da simetria do vaso e de seu carregamento, a
B-1
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe
tensão de tração σ é uniforme ao redor da circunferência. Além disso, uma vez que a parede é fina,
pode-se assumir com boa precisão que a tensão está uniformemente distribuída através da espessura t,
conforme citado anteriormente.
σ
σ
P=p(πr2) σ
(a) (b)
Fig. B.2 Tensões na parede de um vaso de pressão esférico
Assim, considerando como sendo pequena a diferença entre o raio médio e o raio interno do
vaso e aplicando-se a condição de equilíbrio de forças na horizontal, resulta
∑
Fhoriz = 0 ⇒ σ(2 πrt ) − p (πr 2 ) = 0
pr
∴ σ= (B.1)
2t
É evidente que a equação de tensão tangencial σ atuante na casca esférica pode ser obtida
seccionando-se a esfera em qualquer plano diametral. Dessa forma, conclui-se que a parede de um
vaso de pressão esférico está submetida a tensões de tração uniformes σ em todas as direções,
conforme representado no estado plano ou biaxial de tensões da Fig. B2.b, isto é, as tensões normais
atuam apenas em duas direções ortogonais.
Na realidade, o material desses vasos está também sujeito a uma tensão radial de compressão.
Essa tensão tem um valor máximo igual à pressão (-p) em sua superfície interna (Fig. B.3a) e decresce
ao longo da espessura da parede até um valor nulo na superfície externa do vaso (Fig. B.3b), onde a
pressão manométrica é nula. Entretanto, para vasos de paredes finas, considerando a hipótese inicial de
r/t=10, resulta em valores de tensão radial 5 vezes menores do que a tensão tangencial σ. Sendo assim,
a tensão radial na superfície interna de um vaso de parede fina pode ser desconsiderada e os estados de
tensões apresentados na Fig. B3 se equivalem.
y y
σ -p σ
σ σ x σ σ x
-p
z σ z σ
(a) (b)
Fig. B.3 Tensões em vaso de pressão esférico na (a) superfície interna e (b) superfície externa
A análise dos estados de tensões apresentados na Fig. B.3, desconsiderando agora a tensão
radial, possibilita afirmar que, para elementos rotacionados em torno do eixo z, as tensões tangenciais
σ permanecem constantes e não há tensões de cisalhamento. Para se obter as tensões de cisalhamento
máximas absolutas, deve-se considerar as rotações fora do plano xy, ou seja, deve-se analisar
elementos rotacionados em torno dos eixos x e y. A partir desta análise determina-se que elementos
orientados a partir de rotações de 45o em torno dos eixos x e y têm tensões normais iguais a σ/2 e
tensões de cisalhamento máximas absolutas iguais a σ/2, ou seja,
B-2
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe
σ pr
∴ τ máx = = (B.2)
abs 2 4t
σ2 b
(a)
b
σ2
σ1
t
2 r
P2=p(πr )
P1=p(2rb)
σ1
(b) (c)
Fig. B.4 Tensões na parede de um vaso de pressão cilíndrico
B-3
Vasos de Pressão Flávio Y. Watanabe
pr
∴ σ1 = (B.4)
t
σ1 -p σ1
σ2 σ2 x σ2 σ2 x
-p
z σ1 z σ1
(a) (b)
Fig. B.5 Tensões em vaso de pressão cilíndrico na (a) superfície interna e (b) superfície externa
A análise dos estados de tensões apresentados na Fig. B.5, desconsiderando agora a tensão
radial, possibilita afirmar que, em elementos rotacionados de 45o em torno dos eixos x, y e z, atuam
tensões de cisalhamento máxima dadas por
(τmáx )x = pr ; (τ máx ) y = pr e (τ máx ) z = pr (B.5)
2t 4t 4t
Sendo assim, a tensão de cisalhamento máxima absoluta que atua em na parede de um vaso de
pressão cilíndrico é a que ocorre em planos rotacionados de 45o em torno dos eixos x, e é dada por
pr
τ máx = (B.6)
abs 2t
B-4