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CMG (EN) Aluisio Sérgio Torres Filho

TEMA: EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE DEFESA


NACIONAL

TÍTULO: A GLOBALIZAÇÃO E A INDÚSTRIA DE DEFESA NACIONAL:


Efeitos e Possíveis Ações Estratégicas de Estímulo à Indústria
Aeroespacial e de Fabricação de Munição e Armas Leves

Rio de Janeiro

Marinha do Brasil
Escola de Guerra Naval

2006
CMG (EN) Aluisio Sérgio Torres Filho

A GLOBALIZAÇÃO E A INDÚSTRIA DE DEFESA NACIONAL:


Efeitos e Possíveis Ações Estratégicas de Estímulo à Indústria
Aeroespacial e de Fabricação de Munição e Armas Leves

Monografia apresentada à Escola de Guerra


Naval, como requisito de conclusão do Curso
de Política e Estratégia Marítimas.

Orientador: CMG (RM1-IM) Teixeira Martins

Rio de Janeiro

Marinha do Brasil
Escola de Guerra Naval

2006
RESUMO

Analisa-se o processo de globalização da economia com os objetivos de


identificar seus efeitos nos setores aeroespacial e de fabricação de munição e armas leves da
Indústria de Defesa Nacional e de propor ações estratégicas para o aproveitamento desse
processo em benefício do País. O método de análise consiste, inicialmente, na avaliação do
contexto no qual se insere a indústria de defesa, abordando-se sua situação atual, no Brasil e
no mundo, assim como a legislação e as políticas governamentais existentes. O método
prossegue com o estudo de artigos acadêmicos relacionados aos efeitos da globalização em
países em desenvolvimento, para então verificar a ocorrência desses efeitos em nossa
indústria de defesa. Finalmente, efetua-se o exame de possíveis medidas para minimizar os
aspectos negativos da globalização e intensificar os positivos, considerando o contexto
previamente apresentado e, como resultado, sugere-se a adoção das seguintes ações
estratégicas para estímulo à Indústria de Defesa Nacional: alteração do modelo de gestão das
instalações industriais do setor de defesa pertencentes ao Estado; emprego de novos
procedimentos para seleção das organizações responsáveis pela manutenção e reparo do
equipamento das Forças Armadas; reavaliação dos critérios para uso de cláusulas de offset em
contratos para obtenção ou modernização de meios; e revisão do posicionamento do Governo
em relação a projetos multinacionais para desenvolvimento de material de emprego militar.

Palavras-chave: Globalização. Indústria de Defesa.


ABSTRACT

The economic globalization process is analyzed with the purposes of investigating


its effects on the aerospace, ammunition and firearms sectors of the Brazilian Defense
Industry and of proposing strategic actions to make use of this process for the benefit of the
country. The analysis method consists initially in the evaluation of the context in which the
defense industry is inserted by describing its current situation, both locally and
internationally, as well as the existing legislation and government policies. The method
proceeds with the study of academic work on the effects of globalization in developing
nations, followed by the verification of the occurrence of these effects in our defense industry.
Finally, an examination of possible measures to minimize the negative aspects of
globalization and to enhance the positive ones is performed, taking into account the context
previously presented and, as a result, the following strategic actions to support the Brazilian
Defense Industry are proposed: to modify the managing models used by state-owned
companies of the defense sector; to adopt new procedures to select repair and overhaul
organizations of military equipment; to change the criteria for the use of offset clauses in
contracts to modernize or obtain equipment; and to alter government positioning regarding
multinational projects to develop military material.

Key words: Globalization. Defense Industry.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS - Aerial Common Sensor


AIAB - Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil
Armscor - Armaments Corporation of South Africa
BID - Base Industrial de Defesa
CMID - Comissão Militar da Indústria de Defesa
CTA - - Centro Técnico Aeroespacial (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial)
CVF - Future Aircraft Carrier
CVM - Comissão de Valores Mobiliários
DEPLOG - Departamento de Logística
DRDO - Defence Research and Development Organisation
DSAM - Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha
EADS - European Aeronautic Defence and Space Company
EB - Exército Brasileiro
EMGEPRON - Empresa Gerencial de Projetos Navais
ENAER - Empresa Nacional de Aeronáutica de Chile
EUA - Estados Unidos da América
FAB - Força Aérea Brasileira
FAJCMC - Fábrica Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos
FAMAE - Las Fábricas y Maestranzas del Ejército
FMA - Fábrica Militar de Aviones
HAL - Hindustan Aeronautics Limited
HK - Heckler & Koch GmbH
IBAS - Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul
INDUMIL - Industria Militar
JSF - Joint Strike Fighter
LCA - Light Combat Aircraft
LMAASA - Lockheed Martin Aircraft Argentina S/A
MB - Marinha do Brasil
MD - Ministério da Defesa
MECB - Missão Espacial Completa Brasileira
OAK - Unified Aircraft Corporation
OMPS - Organização Militar Prestadora de Serviços
PDN - Política de Defesa Nacional
PNEMEM - Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar
PNID - Política Nacional da Indústria de Defesa
SELOM - Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia
SPEAI - Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais
TIMI - Taurus International Manufacturing Inc.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 6

2 DEFINIÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO ................................................................................ 8

3 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE DEFESA NO MUNDO ........................................... 10


3.1 Indústria Aeroespacial ...................................................................................................... 10
3.2 Indústria de Munição e Armas Leves ............................................................................... 15

4 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL ............................................ 18


4.1 Empresas consideradas ..................................................................................................... 18
4.2 Indústria Aeroespacial ...................................................................................................... 18
4.3 Indústria de Munição e Armas Leves ............................................................................... 23

5 LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS .................................................. 27


5.1 Política de Defesa Nacional .............................................................................................. 27
5.2 Política Nacional da Indústria de Defesa .......................................................................... 27
5.3 Restrições e apoio à exportação e importação .................................................................. 28
5.4 Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica ....................................... 30

6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO ...................................... 33

7 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE DEFESA NACIONAL ......... 36


7.1 Estado atual da globalização na Indústria de Defesa do Brasil ........................................ 36
7.2 Perspectivas para a BID em virtude da globalização ....................................................... 37

8 ANÁLISE DE AÇÕES ESTRATÉGICAS ...................................................................... 40


8.1 Ações estratégicas já definidas pelo MD .......................................................................... 40
8.2 Método para avaliação de novas ações estratégicas ......................................................... 40
8.3 Transferência de serviços de manutenção para a BID ...................................................... 42
8.4 Alteração da forma de gestão das instalações industriais pertencentes ao Estado ........... 43
8.5 Detalhamento das exigências de compensações comerciais ............................................ 44
8.6 Participação em projetos internacionais ........................................................................... 46
8.7 Eliminação de barreiras comerciais .................................................................................. 47
8.8 Consolidação da indústria de defesa................................................................................. 48
8.9 Validação das ações propostas ......................................................................................... 49

9 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 51

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 53

APÊNDICES .................................................................................................................... 63
6

1 INTRODUÇÃO

O projeto do futuro avião de emprego tático das Forças Armadas dos Estados
Unidos da América (EUA) e países aliados, o Joint Strike Fighter (JSF), foi orçado em
US$ 18,9 bilhões e envolve atividades nos EUA, Reino Unido, Itália, Canadá, Dinamarca,
Holanda, Noruega, Turquia e Austrália, para a fabricação de cerca de 2.600 aeronaves (1;2).
A European Aeronautic Defence and Space Company (EADS) foi criada em 2000, com sede
na Holanda, reunindo empresas da França, Alemanha e Espanha e transformando-se na sétima
maior indústria de defesa do mundo, com faturamento anual de cerca de US$ 43 bilhões,
investimento em pesquisa e desenvolvimento em torno de US$ 2,6 bilhões e uma linha de
produtos incluindo aviões, helicópteros, mísseis, satélites e seus veículos lançadores (3;4). A
próxima classe de navios-aeródromos do Reino Unido, segundo o programa Future Aircraft
Carrier (CVF), será projetada e construída pela empresa BAe Systems e pelo Grupo Thales, a
primeira criada pela fusão em 1999 das empresas British Aerospace plc, do Reino Unido, com
a Marconi Eletronic Systems, dos EUA, e o segundo formado por indústrias da França, Reino
Unido, EUA, Alemanha e África do Sul (5;6;7).
Essas notícias parecem indicar uma tendência à globalização das indústrias de
defesa, induzindo a questionamentos sobre os seus possíveis efeitos na Indústria de Defesa do
Brasil. Nossa indústria poderá sobreviver, competindo com esses grupos empresariais? Há
benefícios no envolvimento de nossas empresas no processo de globalização? Há maneiras de
o Estado intervir nesse processo, de forma a torná-lo compatível com a Política de Defesa
Nacional?
A motivação desta monografia é, essencialmente, responder a essas três perguntas,
o que leva ao estabelecimento de dois propósitos para o estudo a ser efetuado: identificar os
efeitos da globalização na Indústria de Defesa Nacional e determinar as possíveis ações
estratégicas, para utilizar o aparentemente inevitável processo de globalização dessa indústria
em benefício do País. A abordagem se limita à indústria aeroespacial e a de fabricação de
munição e armas leves, por serem atualmente os setores de maior expressão na Indústria de
Defesa Brasileira, cujo desenvolvimento está diretamente associado à globalização. A
indústria de construção naval militar, praticamente a cargo da Marinha do Brasil (MB), e a de
fabricação de armas pesadas e carros de combate, que, após seu apogeu na década de 80,
praticamente se extinguiu com a falência da Engesa, não são tratadas neste trabalho, embora
seja considerável o potencial da globalização da economia para a expansão desses setores.
7

Considerou-se também necessária uma restrição da abrangência do termo “globalização”,


tratada no capítulo 2, de forma a incluir apenas seus aspectos econômicos.
Para a análise do tema, apresenta-se, no capítulo 3, uma síntese da situação da
indústria de defesa no mundo, com a finalidade de identificar o nível de globalização de suas
atividades e as ações governamentais tomadas para seu estímulo. A situação da indústria de
defesa brasileira é tratada no capítulo 4, com ênfase no seu relacionamento com companhias
estrangeiras e na importância das exportações, analisando-se, sempre que disponíveis, os
dados financeiros das empresas, para avaliar seu grau de sucesso. O capítulo 5 é dedicado à
apresentação da legislação e das atuais políticas do Governo aplicáveis ao setor. Esses três
capítulos são, portanto, descritivos e se destinam à visualização do contexto no qual se insere
a Indústria de Defesa do Brasil.
O capítulo 6 trata da visão acadêmica dos aspectos positivos e negativos da
globalização. A comparação desses aspectos com a situação da nossa indústria, abordada no
capítulo 4, permite cumprir o primeiro propósito da monografia, que é o de identificar os
efeitos da globalização já percebidos na Indústria de Defesa Nacional. Tal comparação,
realizada no capítulo 7, é complementada por uma avaliação, pouco promissora por sinal, da
provável evolução do setor industrial de defesa, caso não sejam tomadas ações estratégicas no
sentido de estimulá-lo.
A análise de possíveis medidas governamentais em benefício da indústria de
defesa e, conseqüentemente, do País, pelo vínculo existente entre a solidez dessa indústria e a
Defesa Nacional, é apresentada no capítulo 8. Assim, no que corresponde ao segundo
propósito da monografia, são propostas ações estratégicas para atenuar os efeitos negativos da
globalização e intensificar os efeitos positivos, levando-se em conta as ações já estabelecidas
pelo Ministério da Defesa (MD), as medidas com objetivo similar tomadas por outros países,
citadas no capítulo 3, bem como a legislação e as diretrizes governamentais relacionadas ao
setor de defesa, apresentadas no capítulo 5.
No capítulo 9, de conclusão, são respondidas as três questões sobre o futuro da
Indústria de Defesa Nacional, formuladas no início desta introdução, tendo em vista as
análises efetuadas ao longo do texto.
8

2 DEFINIÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO

Por mais difundida que seja a discussão sobre o assunto, não parece haver uma
definição única para o termo “globalização”. Analisando-se as definições citadas por Wolf e
Pollack (8), essas são, por vezes, demasiadamente genéricas como “intensificação de relações
sociais em escala mundial […], de forma que acontecimentos locais são influenciados por
eventos que ocorrem a milhares de milhas de distância” (Anthony Giddens, 1990);
estritamente relacionadas às transações comerciais e financeiras internacionais como
“crescimento da interdependência econômica entre países pelo aumento do volume de
transações de produtos, serviços e capital, assim como pela difusão mais rápida de tecnologia”
(Fundo Monetário Internacional, 2000); ou mesmo exclusivamente aplicáveis ao setor de
defesa como “globalização não é uma opção política, mas um fato [...] a realidade emergente
é que as Forças Armadas de todas as nações estão compartilhando essencialmente a mesma
base industrial de equipamentos de defesa de escala global” (Donald Hicks, Defense Science
Board, 2000).
O propósito de tratar, nesta monografia, dos efeitos da globalização na indústria
sugere a adoção de definição relacionada à globalização da economia, desconsiderando-se a
aplicabilidade do termo “globalização” também para referenciar temas como a difusão
cultural e a interdependência entre mercados financeiros, entre outros. Neste sentido,
considera-se apropriada a abordagem adotada por Santarelli e Figini (9), que trata da
globalização como uma fase do desenvolvimento de economias de mercado, caracterizada
pela eliminação de barreiras para o comércio de produtos e serviços, menor participação do
Estado na economia e transferência de decisões dos Estados para entidades internacionais,
como a Organização Mundial do Comércio.
Tangredi (10), ao tratar da definição do termo “globalização”, cita o seguinte
trecho de reportagem publicada em jornal americano: “Isto, com o vasto aumento na rapidez
de comunicações, multiplicou e reforçou os elos entre os interesses das nações, que agora
formam um sistema articulado, não apenas prodigioso em termos de tamanho e atividade, mas
também de excessiva sensibilidade, inigualável em épocas passadas”. O interessante desse
trecho de reportagem é que foi publicado em 1902, e seu autor foi Alfred Thayer Mahan,
conhecido como um dos fundadores da geopolítica e precursor do conceito de Poder
Marítimo. Globalização, portanto, não é um fenômeno recente.
Wolf e Pollack (8) analisam a intensidade do processo de globalização ao longo
9

dos anos, adotando como parâmetro comparativo o percentual do total mundial de


exportações em relação ao somatório dos produtos internos brutos dos países, no período de
1870 a 1999. Os resultados indicam que o processo apresenta variações periódicas de
intensidade e que, na década de 90, considerada por muitos como um período de grande
aceleração da globalização, ocorreu, de fato, uma redução desse percentual de 17,3% em 1995
para 15% em 1999.
A nova e marcante característica do processo de globalização é a chamada
“divisão internacional do trabalho”, que se evidencia pela transferência de atividades fabris de
países desenvolvidos para países em desenvolvimento e pela participação das indústrias de
diversos países na fabricação de determinados produtos. Inicialmente típica da indústria
automobilística, a divisão internacional do trabalho se tornou praticamente obrigatória na
indústria aeroespacial e tende a tornar-se modelo para as demais.
Nesta monografia, serão analisados os aspectos da globalização da economia
citados por Santarelli e Figini (9), complementados pelos decorrentes da divisão internacional
do trabalho, o que envolverá a análise de tópicos, tais como a criação de grupos transnacionais
a partir de processos de aquisição e fusão de empresas, a importância das exportações para a
indústria de defesa, os programas internacionais para a obtenção de material de emprego
militar, a participação de grupos estrangeiros em companhias brasileiras de capital aberto, a
privatização de empresas e a interferência de entidades internacionais em decisões, até
recentemente, de competência exclusiva dos Estados.
10

3 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE DEFESA NO MUNDO

3.1 Indústria Aeroespacial

Segundo Schmitt (6), a indústria aeroespacial nos EUA passou por um processo
de consolidação de 1993 a 1997, por meio de aquisições e fusões de empresas, estimulado e
em parte financiado pelo Governo norte-americano, tendo em vista a perspectiva de redução
do orçamento de defesa então existente. Essa reestruturação, encerrada em 1998, quando o
Governo se opôs à fusão da Lockheed Martin com a Northtrop Grumman, temendo a falta de
competição, determinou que essas duas companhias, juntamente com a Boeing,
concentrassem as principais indústrias do setor aeroespacial.
A consolidação da indústria aeroespacial nos EUA, de acordo com Schmitt, foi
um dos fatores que determinaram uma reestruturação similar da indústria aeroespacial na
Europa, que temia a perda de competitividade com as três grandes empresas americanas.
Outros fatores teriam sido os custos crescentes para pesquisa e desenvolvimento, a redução
dos orçamentos de defesa e a mudança de comportamento dos governos, que, com menos
recursos, passaram a adotar uma postura similar à de clientes civis, procurando menores
custos. Schmitt enfatiza o aumento dos custos com pesquisa e desenvolvimento e exemplifica,
citando Quilè e Chaveau, que os custos dos programas das aeronaves Mirage III (1960),
Mirage F-1 (1973), Mirage 2000 (1983) e Rafale (1998) foram sempre crescentes,
correspondendo a cerca de € 1, 4, 16 e 31 bilhões, respectivamente.
A reestruturação da indústria aeroespacial européia, facilitada pelo histórico de
cooperação industrial em diversos programas de desenvolvimento de aeronaves, teve
características especiais em relação à reestruturação ocorrida nos EUA, pois, além do
processo de consolidação, houve ênfase na racionalização de processos e na diversificação de
serviços prestados, que passou a incluir serviços de manutenção e logística para as Forças
Armadas.
A transferência dos serviços de manutenção e logística para as indústrias de
defesa foi uma forma das Forças Armadas compensarem a diminuição de encomendas e, ao
mesmo tempo, buscarem a redução de custos, beneficiando-se da capacidade de
gerenciamento industrial e comercial das empresas, de acordo com Schmitt. Como exemplo,
pode-se citar o interesse do Reino Unido de transferir toda a manutenção das aeronaves
Tornado para a BAe Systems e Rolls-Royce, que, estima-se, proporcionará uma economia de
11

₤ 1,5 bilhões em um programa de 10 anos (5).


No que se refere ao processo de consolidação da indústria, foram criados três
grandes grupos transnacionais - EADS, BAe Systems e Thales - por meio de fusões e
aquisições, de forma análoga ao ocorrido nos EUA. A consolidação, no caso europeu, não
impede a participação de empresas pertencentes a grupos comerciais distintos em um mesmo
programa de desenvolvimento de aeronaves e evidencia uma complexa relação de controle
acionário, que permite o envolvimento de companhias de menor porte, como a Dassault
Aviation e o Grupo Finmeccanica, nos principais programas europeus (11). Essa combinação
de consolidação de empresas e participação acionária em outras é o que permite ao grupo
EADS manter sua atuação nos setores de fabricação de aviões, helicópteros, mísseis, satélites
e seus veículos lançadores, conforme citado na introdução desta monografia (4).
É oportuno observar que alguns desses grandes grupos transnacionais não se
limitam à atuação no segmento aeroespacial. A Northrop Grumman, por exemplo, atua
também na área de construção naval, por intermédio da Northrop Grumman's Ship Systems
(NGSS), que participa de diversos programas de construção de navios para a U.S. Navy e
U.S. Coast Guard (12). A BAe Systems possui empresas no setor de armas de emprego
terrestre nos EUA, Reino Unido, África do Sul e Suécia, com capacidade de fabricação de
carros de combate, canhões e munição. No segmento de construção naval, a BAe Systems
participa de importantes programas para o Governo britânico, como o desenvolvimento dos
submarinos nucleares da Classe Astute, o projeto das Fragatas tipo 45 e o programa CVF para
construção de dois navios-aeródromos (13). O Grupo Thales, por sua vez, possui capacidade
de integração de sistemas em projetos de navios de guerra e participa dos estudos relativos aos
programas CVF e PA2, este referente à construção do segundo navio-aeródromo da Marinha
Francesa (14).
No caso da Federação Russa, há intenção de consolidar as indústrias de aviação,
criando a Unified Aircraft Corporation (OAK), com a fusão das companhias estatais Sukhoi,
MiG, Tupolev e Ilyushin e da empresa privada Irkut. A meta é colocar a OAK entre as cinco
maiores indústrias de aviação do mundo, com faturamento anual de US$ 7 bilhões, 60% no
setor de defesa, e assegurar a competitividade da indústria aeronáutica russa, frente aos
grandes grupos americanos e europeus. O novo grupo empresarial russo teria estrutura
administrativa semelhante à da EADS e poderia ter seu capital aberto a investidores
estrangeiros. A criação da OAK, originalmente prevista para dezembro de 2003, foi adiada
para dezembro de 2006, por dificuldade de consenso entre os setores envolvidos (15).
Na Índia, a Hindustan Aeronautics Limited (HAL) é uma empresa estatal que
12

fabrica aeronaves sob licença da MiG e BAe Systems, bem como motores de emprego
aeronáutico sob licença da Rolls-Royce (Reino Unido), Honeywell (EUA) e Turbomeca
(França). Em conjunto com a entidade de pesquisa estatal Defence Research and
Development Organisation (DRDO), a companhia já desenvolveu um helicóptero leve, o
Advanced Light Helicopter (DHRUV), e está concluindo o desenvolvimento de um avião de
multiemprego, o Light Combat Aircraft (LCA), um projeto iniciado na década de 80, que
tornará a Índia um dos poucos países capazes de construir aeronaves supersônicas. Há
também estudos para o desenvolvimento de uma aeronave de combate de médio porte, cujo
projeto e construção de dois protótipos foram orçados em US$ 1,5 bilhão. A globalização de
suas atividades se caracteriza pelo uso de equipamentos importados em seus projetos, embora
haja um esforço para substituí-los, como no caso da aeronave LCA, que deverá utilizar o
motor Kaveri desenvolvido na Índia. A HAL também fornece itens de fuselagem para a
Boeing, Airbus, Stork Aerospace e BAe Systems (16;17;18).
O Defense Research and Development Laboratory (DRDL), subordinado ao
DRDO, é responsável pelo desenvolvimento de mísseis (19). Seus atuais programas incluem o
Trishul (superfície-ar de curto alcance), Akash (superfície-ar de médio alcance), Nag
(antitanque), Prithvi (superfície-superfície de curto alcance), Agni e Surya (superfície-
superfície de médio alcance), Dhanush (versão naval do Prithvi), Sagarika (cruise de curto
alcance), Astra (ar-ar beyond-the-visual-range) e Brahmos (cruise antinavio).
O grupo aeroespacial Denel Limited, da África do Sul, desenvolve os mísseis ar-
ar (A-Darter), antitanque (Ingwe e Mokopa) e superfície-ar (Umkhonto-IR), além do
helicóptero de ataque Rooivalk, bombas guiadas e veículos aéreos não tripulados, todos com
projeto próprio. A Denel, que também fabrica canhões e munição, foi fundada em 1992, a
partir das instalações industriais da Armaments Corporation of South Africa (Armscor),
criada em 1968 e responsável pelo bem-sucedido programa de desenvolvimento da indústria
de defesa do país, apesar do (ou estimulado pelo) embargo comercial sofrido pela África do
Sul, enquanto perdurou sua política de segregação racial. As exportações correspondem a
56% das vendas do grupo, que obteve um faturamento de 4,4 bilhões de randes (cerca de
US$ 700 milhões) em 2004 (20;21).
No Chile, a Empresa Nacional de Aeronáutica de Chile (ENAER) é uma
companhia estatal que fabrica a aeronave de treinamento básico T-35 Pillán e presta serviços
de manutenção em aeronaves e motores para a Força Aérea do Chile e empresas civis. A
ENAER também fabrica itens da fuselagem das aeronaves ERJ-135 e ERJ-145, da Embraer;
Falcon 900 e 2000, da Dassault Aviation; e CASA CN-235 e C-295, da EADS. É, portanto,
13

uma companhia que se envolveu com a divisão internacional do trabalho e que soube
diversificar suas atividades entre os mercados civil e militar (22).
Na Argentina, a Fábrica Militar de Aviones (FMA) foi privatizada em 1995,
passando ao controle da Lockheed Martin, com o nome Lockheed Martin Aircraft
Argentina S/A (LMAASA). A empresa fabrica a aeronave de treinamento avançado e de
ataque leve AT-63 Pampa, além de prestar serviços de manutenção em aeronaves e motores
de emprego militar e civil, tendo firmado em 2005 um contrato para a manutenção das
aeronaves AF-1 da MB (23;24).
Deve-se ressaltar, no entanto, que a divisão de tarefas entre as companhias de
diversos países, importante característica no atual processo de globalização da economia, não
se restringe ao fornecimento de itens de fuselagens pelas fábricas de países em
desenvolvimento para as grandes empresas do setor aeroespacial. Essa divisão de tarefas é
observada de forma intensa também em programas de desenvolvimento de novas aeronaves,
permitindo a divisão de investimentos e riscos entre as indústrias participantes. Esses
programas são lançados com o compromisso de diversos países na aquisição da aeronave, o
que, por si só, reduz o risco do projeto e assegura uma escala mínima de produção. Os países
que adquirem os primeiros lotes de aeronaves são, normalmente, aqueles que são sede das
indústrias que participam do programa e que, assim, promovem não só a renovação de seus
meios de defesa, como garantem encomendas para sua indústria e o desenvolvimento de sua
tecnologia.
O programa JSF, citado na introdução desta monografia, é um exemplo desse
novo tipo de gerenciamento de projetos. Esse programa para desenvolvimento de uma nova
aeronave de emprego tático, gerenciado pelo grupo norte-americano Lockheed Martin,
envolve nove países, divididos em três níveis de participação, em função dos investimentos
realizados na fase de projeto e desenvolvimento. Os participantes do 1º nível são os EUA e o
Reino Unido, e os do 2º nível são a Holanda e Itália, que investirão US$ 19 bilhões,
US$ 2 bilhões, US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão, respectivamente. Os demais países
pertencem ao 3º nível, com investimentos entre US$ 200 e 400 milhões, com menor
participação nas decisões referentes ao programa, porém com o direito de suas indústrias
disputarem as concorrências para prover serviços e materiais (1;2;25).
O desenvolvimento de um avião de superioridade aérea e combate ao solo, o
Eurofighter Typhoon, é outro exemplo de programa internacional, com a participação da
Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido. O projeto, que prevê a fabricação de
620 aeronaves, é gerenciado por um órgão da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a
14

NATO Eurofighter and Tornado Management Agency, por meio de dois consórcios
especialmente criados para o programa: Eurofighter GmbH, com participação da Alenia
Aeronautica, BAe Systems e EADS; e o EUROJET Turbo GmbH, envolvendo a MTU
Aero Engines (Alemanha), Rolls-Royce (Reino Unido), Avio (Itália) e Industria de Turbo
Propulsores (Espanha). A divisão de tarefas entre as empresas é determinada pelo número de
aeronaves a ser obtido pelo país (26).
Uma outra estratégia comum no setor aeroespacial, mesmo antes da formação dos
grandes grupos transnacionais, é a dedicação também ao setor de aviação civil, para
compensar eventuais reduções de encomendas militares. Smith (6) apresenta gráfico com a
proporção de faturamento entre os mercados civil e militar das principais empresas do setor
aeroespacial, no qual se verifica que o percentual do mercado militar é inferior a 50% em
todas elas, com exceção da Lockheed Martin e da BAe Systems. No caso da formação da
OAK, pode-se observar um interesse na união de indústrias com produtos quase que
exclusivamente voltados para o mercado militar, como as companhias MiG e Sukhoi, com
fabricantes de aeronaves comerciais, como Tupolev e Ilyushin.
De forma resumida, a indústria aeroespacial de defesa no mundo apresenta as
seguintes características de interesse para o tema desta monografia:
a) Foram formados grandes grupos transnacionais, que apresentam
competitividade superior à de indústrias nacionais atuando isoladamente, pela
capacidade de efetuarem os elevados investimentos atualmente necessários
para o desenvolvimento de novos projetos. Observa-se, no entanto, que esse
processo de consolidação se mantém essencialmente dentro dos blocos
comerciais usuais - EUA, União Européia e Ásia - com exceção da
BAe Systems, constituída por indústrias com instalações nos EUA e na Europa.
b) As companhias nacionais, normalmente com forte apoio estatal, ainda
conseguem desenvolver projetos de aeronaves e mísseis, porém de
complexidade moderada. A Índia e a África do Sul são países em
desenvolvimento, que possuem empresas nacionais com bom nível
tecnológico. Na América do Sul, excetuando o Brasil, não há indústrias com
significativo grau de desenvolvimento tecnológico no setor aeroespacial.
c) Há preocupação na diversificação dos serviços e produtos fornecidos pelas
indústrias, de modo a assegurar a lucratividade em caso de falta de demanda
em um segmento específico. As opções para diversificação incluem:
- Atuação no mercado de aviação comercial;
15

- Prestação de serviços de manutenção para as Forças Armadas;


- Fabricação de itens estruturais utilizados em aeronaves montadas por
companhias maiores.
d) Os novos programas de desenvolvimento de aeronaves militares envolvem
empresas de diversos países. A divisão de trabalho entre as mesmas é
proporcional ao montante dos investimentos efetuados pelos governos dos seus
respectivos países.

3.2 Indústria de Munição e Armas Leves

Nos EUA, 70% das aquisições de munição e armas leves do governo são feitas em
empresas privadas (27). Atualmente, há discussão sobre a necessidade de reorganização das
16 instalações do Exército norte-americano destinadas à fabricação de armamento leve e
munição, analisando-se a conveniência da consolidação ou privatização dessas instalações ou
mesmo da criação de uma companhia governamental para privatizar algumas atividades,
porém mantendo-se o controle estatal sobre o seu patrimônio. A reorganização, caso ocorra,
poderá seguir o exemplo do Canadá, que, de 1965 a 1986, privatizou toda a sua indústria de
armamento leve e de munição, concentrando a maior parte das instalações na Canadian
Arsenals Limited, posteriormente adquirida pela SNC Technologies (28).
O redimensionamento das fábricas de munição americanas é tratado por Matthews
e Scully (29), em reportagem sobre a atual necessidade dos EUA de importar munição de
calibre 5,56 mm da Israel Military Industries (IMI), tendo em vista que a única fábrica de
propriedade do governo que produz esse tipo de munição, a Lake City Army Ammunition
Plant, sob gestão privada da Alliant Techsystems (ATK), não está conseguindo atender à
demanda das Forças Armadas dos EUA. É interessante observar que uma das medidas em
análise para evitar a repetição desse tipo de dificuldade é a contratação de empresas privadas
para fornecimento de munição, fabricando-a ou obtendo-a de outras indústrias, eliminando a
necessidade de gerenciamento do processo de compra por órgãos governamentais.
No setor de armas leves, o Herstal Group é um exemplo de grupo multinacional,
formado pela empresa Herstal e duas grandes subsidiárias, a FN Herstal, que produz
armamentos para emprego militar e policial, e a Browning - U.S. Repeating Arms Company,
especializada em armamento de caça. O grupo, com instalações industriais na Bélgica e EUA,
é o fabricante original dos fuzis 7,62 mm FAL, produzidos sob licença em diversos países, e
atualmente fornece metralhadoras, fuzis, pistolas e munição de pequeno calibre. Uma empresa
16

do grupo, a FN Manufacturing USA, fabrica os conhecidos fuzis M16 em uso pelas Forças
Armadas dos EUA (30;31). Outro exemplo é a Heckler & Koch GmbH (HK), que possui
instalações industriais nos EUA, além de sua fábrica na Alemanha, exportando produtos para
cerca de 100 países (36;37).
As demais indústrias de grande porte de armas leves e munição possuem,
normalmente, instalações industriais apenas em suas nações de origem, o que não significa
um isolamento desse setor de defesa do processo de globalização da economia, pois a
exportação é vital para essas empresas. A companhia Colt Defense Weapon Systems exporta
fuzis de emprego militar para 94 países, a Colt´s Manufacturing Company exporta pistolas e
revólveres para 12, e a SNC Technologies exporta munição de diversos calibres para 19
(32;33;34). A italiana Beretta, com faturamento de € 147 milhões em 2004 e produção diária
de 1.500 armas, exporta cerca de 75% de sua produção para quase 100 países (35).
No Chile, a empresa Las Fábricas y Maestranzas del Ejército (FAMAE) produz
três tipos de fuzis, sob licença da Swiss Arms AG, quatro modelos de submetralhadoras de
projeto próprio, além de carabinas, pistolas e revólveres. A FAMAE fabrica também foguetes
de 160 mm e munição para armas de mão e de caça, assim como para armas pesadas de
calibres entre 60 e 155 mm. Embora sua linha de produtos seja voltada para o setor de defesa,
chama a atenção o fato de atuar também na área de serviços, efetuando atividades de
manutenção de armamentos e de modernização de carros de combate para as Forças Armadas
(38).
A FAMAE é uma empresa pública, com administração autônoma e patrimônio
próprio, que tem apresentado bons resultados financeiros. Em 2004, teve um faturamento de
cerca de US$ 26,7 milhões e lucro líquido de US$ 320 mil. Seu envolvimento no processo de
globalização é moderado, sendo evidenciado pela fabricação de algumas submetralhadoras e
carabinas em conjunto com a companhia brasileira Taurus, da qual é representante no Chile, e
pela presença de agentes comerciais em diversos países da América do Sul e Central (38).
Na Argentina, a Dirección General de Fabricaciones Militares, subordinada ao
Ministério da Economia, é uma das poucas indústrias do setor de defesa que não foi
privatizada ou fechada por ocasião da reformulação do papel do governo nesse segmento,
ocorrida a partir da década de 90 (21). Pertencem à empresa diversas instalações industriais,
como a Fábrica Militar Fray Luis Beltrán, que fornece armas leves e munição de pequeno
calibre; as Fábricas Militares de Villa María e Azul, que produzem pólvora e explosivos; e a
Fábrica Militar Rio Tercero, que desenvolve produtos químicos para uso em explosivos e que
transformou seus equipamentos, originalmente utilizados para fabricação de armamento
17

pesado, em ferramental para construção de equipamentos de uso industrial (39;40).


A situação financeira do conglomerado não é satisfatória, de acordo com a
avaliação da Auditoria General de la Nación (AGN), organismo que auxilia o Congresso
Argentino no controle das contas públicas. Segundo a AGN, haveria um total de dívidas sob
análise judicial de aproximadamente US$ 30 milhões (41).
Na Colômbia, a Industria Militar (INDUMIL) controla três unidades: a Fábrica
General José María Córdoba, de armas portáteis; a Fábrica Antonio Ricaurte, de explosivos; e
a Fábrica Santa Bárbara, de munição. No Equador, a Dirección de Industrias del Ejército
(DINE) coordena as atividades da Explocen, que produz explosivos, e da Fábrica de Munición
Santa Bárbara, que fornece munição de pequeno calibre, pistolas e metralhadoras. No México,
a Dirección General de Fábricas de la Defensa Nacional controla diversas empresas que
produzem munição de pequeno calibre, fuzis, metralhadoras e pistolas sob licença da HK. No
Peru, a Fábrica de Armas y Municiones del Ejército (FAME) e o Centro de Fabricación de
Armas (CEFAR) fabricam munição de armas leves, além de fuzis, pistolas e revólveres sob
licença das empresas Colt e FN Herstal. Na Venezuela, a Compañía Anónima Venezolana de
Industrias Militares (CAVIM) fornece fuzis, pistolas e revólveres, bem como munição para
armas portáteis e explosivos. Nenhuma dessas empresas é de natureza privada (39;42).
Verifica-se, portanto, que a indústria de fabricação de munição e armas leves
apresenta um envolvimento significativo no processo de globalização da economia, embora
menor que o observado na indústria aeroespacial. Dentre os aspectos citados, os considerados
de maior relevância para a avaliação da situação da Indústria de Defesa Nacional são:
a) Há uma tendência, entre os países desenvolvidos, de privatizar as atividades de
produção de munição;
b) Nos EUA, algumas instalações de fabricação de armas e munição pertencentes
às Forças Armadas são gerenciadas por empresas privadas;
c) A exportação de material representa parcela significativa da receita da maior
parte das indústrias do setor de armas leves. O mercado americano é disputado
entre as empresas européias, que mantêm subsidiárias nos EUA;
d) A estatal chilena FAMAE presta serviços de manutenção para as Forças
Armadas de seu país;
e) Há diversos países fabricantes de munição e armas leves na América Latina,
porém poucos produzem munição para armamento pesado.
18

4 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL

4.1 Empresas consideradas

O Catálogo Brasileiro de Itens e Empresas, disponível no site do MD na internet


(43), apresenta 546 empresas nacionais fornecedoras de material militar, enquanto a
Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE) e a
Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) listam, respectivamente, 42 e 35
companhias associadas em seus sites na internet (44;45). Grande parte dessas indústrias é de
pequeno ou médio porte, com maior atuação no mercado civil, que fabrica itens de baixa
tecnologia como rações de sobrevivência, uniformes, pirotécnicos, explosivos, material de
proteção balística, veículos especiais e caminhões. A análise concentrar-se-á nas de maior
importância estratégica para o País, em função de seu porte ou do nível de tecnologia aplicado
em seus produtos.

4.2 Indústria Aeroespacial

De acordo com o site da AIAB na internet, a indústria aeroespacial foi


responsável por exportações anuais de cerca de US$ 2,7 bilhões de 2000 a 2003. As empresas
que se destacam no setor militar são a Embraer - Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A,
Helibras - Helicópteros do Brasil S/A, Aeroeletrônica - Indústria de Componentes Aviônicos
S/A, Mectron - Engenharia, Indústria e Comércio Ltda, Avibras Indústria Aeroespacial S/A e
ELEB - Embraer Liebherr Equipamentos do Brasil S/A.
A Embraer é citada por Goldstein (46) como exemplo de integração ao processo
de globalização e de participação do Estado na criação de empresas bem sucedidas, em artigo
elaborado para a Organisation for Economic Co-Operation and Development (OECD). As
análises desse artigo e as informações contidas no site da empresa na internet (47) permitem
apresentar o histórico da Embraer em quatro fases.
Na fase inicial, após sua fundação em 1969, como empresa estatal, a Embraer
recebeu forte estímulo do Governo, beneficiando-se com a transferência de pessoal
especializado e de projetos de aeronaves do Centro Técnico Aeroespacial (CTA - atualmente
denominado Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial) e por uma política de concessão de
incentivos fiscais.
19

Na segunda fase, a partir do efetivo início da fabricação de aviões em 1970,


ocorreu um grande crescimento, com destaque para o desenvolvimento de três aeronaves de
projeto nacional, o Tucano, o Bandeirante e o Xingu, que, no entanto, se caracterizavam pela
utilização de grande percentual de material importado. Por outro lado, se iniciava um estreito
relacionamento da Embraer com indústrias estrangeiras, mediante um acordo com a
Aermacchi, para a construção sob licença do Xavante, e pela joint venture com a Aeritalia e a
Aermacchi, para o projeto e a construção do AMX. Estimulado pelos elevados impostos
cobrados para a importação de aviões que tivessem modelos similares fabricados no Brasil,
foi realizado um acordo com a empresa Piper, que estabelecia o fornecimento de kits para a
fabricação dos aviões Navajo, Seneca, Sertanejo e Minuano. A partir de 1980, a Embraer se
tornou também fornecedora exclusiva de itens estruturais e peças usinadas para aeronaves
Boeing 777, 747, 767 e MD-11. Esses acordos internacionais, que acelerariam a assimilação
de técnicas de fabricação em série pela empresa, foram seguidos por um grande sucesso na
exportação de seus produtos. Desta forma, em 1982, o Bandeirante passou a responder por um
terço do mercado de aeronaves regionais de 10 a 20 lugares, e foram efetuadas vendas do
Tucano para o Reino Unido, França e Egito.
A terceira fase corresponde a um período de crise, similar ao que ocorreu em
diversas indústrias brasileiras nas décadas de 80 e 90, que foi agravado pelo insucesso do
programa com a empresa argentina FMA, atualmente LMAASA, para o desenvolvimento da
aeronave CBA-123. Apesar da crise, a Embraer lançou, em 1985, o EMB-120 Brasília, com
base nos projetos do Bandeirante e Xingu, que, com a venda de 356 unidades para mais de
14 países, melhorou sua situação financeira.
A quarta fase, de recuperação, se relaciona a sua privatização, em 1994, porém
está mais diretamente associada à decisão, em 1989, de desenvolver o projeto dos jatos de
transporte regional da família ERJ-145, que se tornou um grande sucesso comercial, com a
venda de mais de 900 unidades. Atualmente, a empresa se dedica ao programa da família de
jatos ERJ-170/190 de 70 a 110 lugares, um investimento de US$ 850 milhões, com cerca de
um terço feito por companhias estrangeiras. Estas serão responsáveis pelo desenvolvimento
de sistemas específicos da aeronave, em uma forma de parceria destinada à redução de riscos,
análoga à realizada com os jatos da família ERJ-145.
As principais aeronaves militares projetadas no período foram o Super Tucano, de
treinamento e ataque ao solo, fornecido para a Força Aérea Brasileira (FAB) e Colômbia (48);
o EMB-145 AEW&C, de alarme aéreo antecipado, fornecido para a FAB (Projeto SIVAM) e
Grécia; o EMB-145 RS/AGS, de sensoriamento remoto, fornecido para a FAB (Projeto
20

SIVAM); e o P-99, de patrulha marítima. Recentemente, a Embraer, em consórcio com a


Lockheed Martin, foi vencedora de uma licitação para o fornecimento de 57 aeronaves para o
programa Aerial Common Sensor (ACS) do Exército norte-americano, que utilizaria o avião
ERJ-145 como plataforma de sensores. A seleção da aeronave para o programa, embora
atualmente em revisão - tendo em vista que, com o aumento dos requisitos, o ERJ-145 se
tornou subdimensionado (49) - é relevante pelo fato de não ser usual a aquisição pelas Forças
Armadas dos EUA de aeronaves não desenvolvidas naquele país ou por seus tradicionais
parceiros em programas militares, o que comprova a qualidade do produto da Embraer.
Com foco no cliente e novas técnicas gerenciais, a Embraer volta a ter resultados
financeiros positivos em 1998, após 11 anos acumulando prejuízos. No 3º trimestre de 2005,
possuía um patrimônio líquido de R$ 4,6 bilhões e apresentou um lucro líquido de
R$ 89 milhões (50). Atualmente, sua participação no processo de globalização é evidenciada
pelos seguintes aspectos:
a) A empresa possui um centro de suporte ao cliente nos EUA (EAMS), joint
ventures com indústrias aeronáuticas na China (Harbin Embraer) e Portugal
(OGMA) e escritórios regionais nos EUA, França, China e Cingapura, com
cerca de 15% de seu pessoal trabalhando fora do Brasil;
b) A Dassault Aviation, a EADS e os Grupos SAFRAN e Thales têm participação
acionária de 7,5% na companhia (51);
c) A nova família de jatos ERJ-170/190 terá itens fabricados por empresas de
diversos países, incluindo EUA, Japão, Bélgica, Espanha, Alemanha e França;
d) A Embraer foi a maior exportadora brasileira de 1999 a 2001 e a segunda de
2002 a 2004. Foi, no entanto, também uma das maiores importadoras de
material, a segunda maior em 1999.
A Helibras foi criada por iniciativa do então Ministério da Aeronáutica para
instalar a primeira fábrica de helicópteros no Brasil. A idéia original era estimular uma joint
venture entre uma estatal brasileira e uma indústria estrangeira. Assim, a Helibras foi fundada
em Itajubá em 1978, com 45% do capital de propriedade da indústria francesa Aerospatiale,
atualmente Eurocopter, e 45% do Estado de Minas Gerais, que entrou como o parceiro estatal
previsto pela Aeronáutica. O contrato previa a montagem do helicóptero Esquilo, com futura
nacionalização progressiva de material, sem estabelecer, porém, o compromisso de fabricação
de aeronaves de projeto nacional. A viabilização da linha de montagem do Esquilo foi
resultado da aquisição de seis desses helicópteros pela MB e, ao receber, em 1979, a isenção
de 100% de impostos sobre a importação de máquinas e de peças, se imaginava que a empresa
21

construiria 200 helicópteros em 10 anos e que o índice de nacionalização atingisse cerca de


60%, que não foi, no entanto, alcançado (52;53).
Apesar de a Helibras não ter desenvolvido projetos de helicópteros nacionais,
mantendo sua atuação essencialmente de montadora com material importado da França, é
injusto referir-se à companhia como um acknowledge failure, conforme consta em Freeman
(54), como uma citação de Franko-Jones. A empresa tem capacidade de montar sete tipos de
aeronaves, representa 52% do mercado de helicópteros com turbina no Brasil, já produziu
mais de 400 aeronaves, exportando cerca de 10% para diversos países da América do Sul, e
apresenta um faturamento anual em torno de US$ 40 milhões. Além da montagem de
helicópteros, a Helibras presta serviços de manutenção em componentes das aeronaves que
comercializa, bem como de treinamento e apoio técnico (53;54). A Eurocopter, que controla
atualmente 77% do capital da Helibras, pertence ao grupo EADS (55).
A Aeroeletrônica foi criada em 1983, então como parte do grupo brasileiro
Aeromot. Inicialmente, projetou e fabricou equipamentos de aviônica utilizados no Tucano e,
posteriormente, passou a fabricar itens para o programa AMX, uma parte com projeto próprio,
outra sob licença de empresas estrangeiras. Em artigo de Freeman (54), a Aeroeletrônica é
citada de forma elogiosa como a única empresa, além da Embraer, que projeta e fabrica
material aeronáutico empregado na aviação fora do país, fazendo referência, possivelmente,
aos seus produtos instalados nos Tucanos exportados pela Embraer e nos AMX produzidos na
Itália.
Em 2001, a israelense Elbit Systems Ltd adquiriu o controle acionário da
Aeroeletrônica, como compensação comercial prevista no contrato firmado com a FAB para
modernização da aeronave F-5, que exigia a realização de serviços no Brasil. Com os
investimentos realizados pela Elbit, a empresa aumentou sua capacidade de fabricação de
equipamentos modernos de aviônica (56;57).
Atualmente, a Aeroeletrônica fornece equipamentos com elevado grau de
tecnologia para o Super Tucano e para o F-5 modernizado, denominado F-5BR, incluindo o
computador principal, o painel de instrumentos multifuncional colorido, o gravador de vídeo
digital e a caixa de armamento (57). No recente programa de US$ 400 milhões da FAB para
modernização de 53 aeronaves AMX, está prevista a fabricação pela Aeroeletrônica de 90%
dos itens de aviônica a serem utilizados (56).
A Aeroeletrônica atua também no setor espacial, fabricando componentes para os
satélites dos programas MECB (Missão Espacial Completa Brasileira) e CBERS (Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
22

e no setor civil, fornecendo sistemas de monitoramento de frotas de veículos automotores e


sistemas de controle de processos agrícolas e de extração de madeira (57).
A Mectron, fundada em 1991, iniciou suas atividades desenvolvendo um software
para a MB, que permitia avaliar o sistema de defesa antiaérea de navios. Atualmente, a
empresa ambiciona tornar-se a Missile House brasileira, fabricando o míssil ar-ar MAA-1,
Piranha, e desenvolvendo o sistema anticarro MSS 1.2 e o míssil anti-radiação MAR-1. Na
área espacial, desenvolve equipamentos para emprego em satélites do programa MECB (58).
O projeto do míssil MAA-1, de curto alcance, guiado por radiação infravermelha,
iniciou-se na década de 70 no CTA, tendo como base o míssil americano Sidewinder. Seu
desenvolvimento coincidiu com o período de crise da indústria de defesa na década de 80, que
o levou a passar pelas empresas D.F. Vasconcellos e Órbita, até ser assumido pela Mectron. O
sistema MSS 1.2, de médio alcance, guiado a laser e para uso de infantaria, baseia-se no
míssil MAF da Oto Melara e também tem sido um programa de lento desenvolvimento,
iniciado na década de 80, que passou por outras empresas até ser transferido para Mectron. Ao
contrário dos demais, o projeto do MAR-1 é relativamente recente e foi atribuído diretamente
à empresa (59;60).
A Mectron, que desenvolve ainda o radar SCP-1 para o programa de
modernização das aeronaves AMX, em cooperação com a italiana Galileo Avionica, não tem
histórico de atuação no setor civil, além de alguns serviços nas áreas de automação industrial
e de controle de tráfego veicular (58;61;62). Seu envolvimento com a globalização da
economia é pequeno, restringindo-se à cooperação técnica com algumas indústrias
estrangeiras.
A Avibras teve uma trajetória diferente da maioria das empresas do setor
aeroespacial, por não ter recebido forte estímulo governamental, não ter aberto o seu capital e
ter desenvolvido sua tecnologia sem apoio de companhias estrangeiras. Iniciou suas
atividades há cerca de 40 anos, fabricando o avião de treinamento e ligação Falcão e
desenvolvendo os foguetes de sondagem da família Sonda, os primeiros do Programa Espacial
Brasileiro (63). Assim como a Engesa, teve seu período de apogeu na década de 80,
exportando diversas unidades de seu sistema de artilharia de saturação por foguetes
ASTROS II, porém, ao contrário dessa, soube resistir à alteração da conjuntura internacional,
desfavorável à exportação de material bélico nas décadas seguintes, graças à diversificação de
seus produtos (54).
Atualmente, a Avibras, em sua linha de produtos civis, fornece antenas para
comunicações por satélite, além de explosivos, tintas e selantes, passando a atuar também no
23

setor de transportes, por meio de sua subsidiária Tectran. Na área militar, além do sistema
ASTROS II e sua versão para veículos blindados leves, o ASTROS Hawk, fabrica o foguete
ar-superfície Skyfire-70, utilizado em aviões e helicópteros, o míssil antitanque FOG-MPM, o
sistema antiaéreo FILA e os veículos blindados AV-VBL e AV-VB4-RE (64).
O Programa F-X da FAB foi considerado uma oportunidade para a empresa
retornar à área aeroespacial, pela associação com a Sukhoi (63). Com a interrupção do
programa, a globalização das atividades da Avibras passou a ser representada apenas pela
exportação de material, que inclui um contrato de US$ 500 milhões com a Malásia para o
fornecimento do sistema ASTROS II (54).
A ELEB foi criada em 1999 como uma joint venture entre a Embraer e o grupo
suíço Liebherr, utilizando as instalações e o pessoal técnico da então Embraer - Divisão
Equipamentos, criada em 1984 (65). Destaca-se pela capacidade de projetar e fabricar trens de
pouso, sendo responsável pelos sistemas atualmente instalados nas aeronaves Super Tucano,
Sikorsky S-92 (helicóptero de médio porte), ERJ-145 (trem de pouso principal) e ERJ-170
(trem de pouso auxiliar).

4.3 Indústria de Munição e Armas Leves

As principais indústrias desse setor são a CBC - Companhia Brasileira de


Cartuchos, a Forjas Taurus S/A, a IMBEL - Indústria de Material Bélico do Brasil e a Fábrica
Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos (FAJCMC). As duas primeiras possuem
capital aberto, a IMBEL é uma empresa pública, gerenciada pelo Exército Brasileiro (EB), e a
FAJCMC é uma instalação industrial da MB, sob responsabilidade da Diretoria de Sistemas
de Armas da Marinha (DSAM).
A evolução da indústria de armas leves, segundo artigo publicado por Dreyfus,
Lessing e Purcena (66), é outro exemplo de como a combinação de ação governamental com a
iniciativa privada pode efetivamente desenvolver um setor da indústria, que, no caso, tornou o
Brasil o segundo maior produtor e exportador de armas leves do hemisfério ocidental, com
exportações, desde 1982, variando entre US$ 33 e 112 milhões e situando-se em torno de
US$ 90 milhões nos últimos anos. As informações dos sites da CBC (67), Taurus (68),
IMBEL (69) e FAJCMC (70) na internet e o artigo de Dreyfus, Lessing e Purcena permitem
resumir a história e a atual situação dessas empresas.
As primeiras indústrias de armamento leve - Boito, Rossi e a Fábrica Nacional de
Cartuchos (atualmente CBC) - foram fundadas por imigrantes europeus nas regiões sul e
24

sudeste do país na década de 20. Na década de 30, houve a criação da Forjas Taurus e a
instalação pelo EB da Fábrica de Itajubá para produção de armamento leve.
A CBC, após sua aquisição em 1936 pela norte-americana Remington Arms e pela
inglesa Imperial Chemical Industries, foi nacionalizada em 1980, com apoio de bancos
estatais, com o controle acionário então dividido entre seus diretores (70%) e a IMBEL
(30%). Em 1989, o Grupo ARBI Participações S/A adquiriu as ações em poder dos diretores,
assumindo o controle acionário e, em 2004, a IMBEL transferiu 28% das ações da empresa
para a PDCI Participações Ltda. O período sob o controle da Remington permitiu a obtenção
da capacidade de fabricação de espingardas de caça.
A CBC é, no momento, a maior fornecedora de munição para armas de uso civil
no Brasil. Fabrica também pólvora, espingardas de caça, bem como munição para fuzis,
metralhadoras e canhões, neste último caso, de calibres até 30 mm, normalmente para
emprego em sistemas de defesa antiaérea ou aeronaves, como o F-5 e o AMX da FAB.
Embora suas instalações fabris estejam situadas integralmente no país, Dreyfus,
Lessing e Purcena (66) mencionam que a maior parte das ações da CBC atualmente
pertencem a empresas sediadas no exterior. As exportações, em 2004, foram de
aproximadamente US$ 34,4 milhões para 54 clientes em 38 países, incluindo contratos para
fornecimento de munição militar para o Oriente Médio, América do Sul e Leste Asiático (71).
Segundo informações divulgadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a CBC
apresentou um lucro líquido de R$ 5 milhões em 2004 (71). Esses resultados indicam uma
bem sucedida integração ao processo de globalização da economia.
Em processo análogo ao da CBC, a Taurus foi vendida no início da década de 70
para a Smith&Wesson e nacionalizada em 1977, quando teve suas ações negociadas para a
Polimetal - Indústria e Comércio de Produtos Metálicos Ltda. O relacionamento com a
Smith&Wesson e a aquisição da subsidiária da Beretta no Brasil, em 1980, contribuíram para
a obtenção da capacidade de fabricar pistolas e revólveres de qualidade internacional. Em
1997, com a compra da patente da empresa Rossi para fabricação de armas de mão, a Taurus
adquiriu o monopólio da fabricação de revólveres e pistolas de uso civil no país.
A Taurus fundou, em 1983, uma subsidiária nos EUA, a Taurus International
Manufacturing Inc. (TIMI), que foi responsável pelo aumento das vendas naquele país,
inicialmente como distribuidora de armas fabricadas no Brasil e, posteriormente, fabricando
dois modelos lá comercializados, contando com um departamento de projeto próprio. Há
também acordos comerciais com a FAMAE, fábrica estatal de armamentos chilena, para
produção de submetralhadoras e carabinas com peças chilenas e brasileiras.
25

A Taurus adota uma política de diversificação de atividades. Além da fábrica de


armas leves, que produz 23 modelos de revólveres de uso civil e três modelos de pistolas, a
empresa fabrica capacetes na Taurus Capacetes, coletes à prova de balas e escudos
antitumulto na Taurus Blindagens e embalagens para movimentação e armazenagem de
produtos industriais na Taurusplast. Recentemente, a Taurus comprou a Wotan, fabricante de
máquinas operatrizes para indústria, criando a TaurusWotan. A diversificação de suas
atividades é evidenciada pela diminuição da proporção das vendas de armamento em relação
ao seu faturamento total, que, a partir do ano 2000, se manteve em torno de 50%, com uma
produção anual de aproximadamente de 250 mil armas leves.
A empresa exportou, em 2004, US$ 34,6 milhões, equivalentes a 69,6% da sua
receita líquida e, segundo os dados disponíveis na CVM (72), apresentou um lucro líquido de
R$ 23 milhões. Sua subsidiária TIMI obteve um lucro líquido de US$ 1,1 milhão em 2005.
Com bons resultados financeiros, exportação de produtos para 80 países, uma fábrica nos
EUA, acordos comerciais com a indústria chilena e cerca de 3.000 máquinas operatrizes da
TaurusWotan instaladas em 40 países, a Taurus soube envolver-se no processo de
globalização econômica, aproveitando especialmente o mercado norte-americano, que gasta
anualmente cerca de US$ 605 milhões na aquisição de pistolas e revólveres (73).
A Fábrica de Itajubá do EB, fundada na década de 30, iniciou suas atividades com
a fabricação de rifles sob licença da Deutche Waffen und Munitionsfabrik (DWM). Em 1960,
começou a produzir pistolas Colt .45 para as Forças Armadas e, em 1964, foi feito um acordo
com a FN Herstal para a produção de fuzis 7,62 mm FAL. A IMBEL foi criada em 1975,
concentrando todas as fábricas de armamento e munição do EB que não puderam ser extintas
ou privatizadas, seguindo a orientação do Decreto-Lei nº 200 de 25/02/1967, que estabelecia
que “as empresas públicas [...] que acusem a ocorrência de prejuízos, estejam inativas,
desenvolvam atividades já atendidas satisfatoriamente pela iniciativa privada ou não previstas
no objeto social, poderão ser dissolvidas ou incorporadas a outras entidades”. Verifica-se que
a manutenção de companhias públicas em setores supridos pela iniciativa privada não era
estimulada pelo Governo já na década de 70.
A IMBEL fabrica, em suas instalações em Itajubá, pistolas, fuzis e
submetralhadoras. Entre julho de 1977 e junho de 2004, fabricou cerca de 334 mil armas
leves, o que corresponde a uma produção anual de aproximadamente 12 mil unidades. Cerca
de 40% a 50% da produção é exportada, 90% para os EUA, pela associação da IMBEL com a
norte-americana Springfield Armoury. A exportação de diversos modelos de pistola .45
corresponde a aproximadamente 75% a 95% do faturamento da fábrica de Itajubá. A empresa
26

também fornece foguetes de calibre 70 mm e munição para canhões e morteiros de calibres


40, 57, 60, 75, 81, 90, 105 e 120 mm. Apesar das exportações de armas leves, a IMBEL, de
acordo com Amarante (74), apresenta resultados negativos desde a sua criação.
A FAJCMC foi inaugurada em 1982, concentrando os equipamentos da extinta
Fábrica de Artilharia da Marinha. A fábrica é resultado do esforço da MB para produzir no
Brasil a munição utilizada em navios de guerra, iniciado, em 1966, pelo então Diretor de
Armamento da Marinha, Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos (75).
A MB optou pela administração privada da fábrica por ocasião da sua
inauguração, que ficou sob a responsabilidade da FI - Indústria e Comércio S/A. A
experiência de gestão privada da FAJCMC, entretanto, não foi satisfatória, o que levou a MB
a encerrar o contrato com a FI em 1990 (76) e transferir a administração da fábrica para a
Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) em 1996. A EMGEPRON, empresa
pública de direito privado, vinculada ao MD por meio do Comando da Marinha do Brasil, é
responsável pela contratação de pessoal e pelas atividades gerenciais da FAJCMC, incluindo a
busca de mercados, no Brasil e no exterior, para a venda de produtos e prestação de serviços.
Compete à DSAM, no entanto, a gestão dos recursos financeiros destinados à obtenção de
matéria-prima e ao pagamento das despesas operacionais, como a folha de pagamento de
pessoal e as despesas com gás, água e luz.
A FAJCMC atualmente produz munição para obuseiros e canhões de calibres 38,
40, 76, 105 e 114,3 mm, bem como cargas de salva de calibres 47 e 105 mm. Há alguma
superposição de sua linha de produtos com a da IMBEL, no que se refere à fabricação de
alguns tipos de munição de calibres 40 mm e 105 mm.
Em entrevista informal com oficiais responsáveis pela administração financeira
da FAJCMC, obteve-se a informação de que o preço no mercado internacional de um tiro de
calibre 114,3 mm L55 situou-se entre US$ 1,4 e 1,8 mil, sem frete e seguro, em 2005. Para
fornecer munição com custo similar, a FAJCMC teria que ter uma produção em torno de
8.000 tiros, o que nem sempre é possível, mesmo com o esforço da EMGEPRON para
conseguir outros compradores, além da MB.
27

5 LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS

5.1 Política de Defesa Nacional

A Política de Defesa Nacional (PDN) é estabelecida pelo Decreto nº 5.484 de


30 de junho de 2005 (77). Segundo o decreto, a PDN “tem por finalidade estabelecer
objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da capacitação nacional, com o
envolvimento dos setores militar e civil, em todas as esferas do Poder Nacional”.
Na descrição do atual ambiente internacional e nacional, o decreto cita que “a
persistência de entraves à paz mundial requer a atualização permanente e o reaparelhamento
progressivo das nossas Forças Armadas, com ênfase no desenvolvimento da indústria de
defesa”. Esse vínculo entre o desenvolvimento da indústria de defesa e a Segurança Nacional
determina a formalização de orientações estratégicas diretamente relacionadas a essa
indústria, dentre as quais se destacam:
a) “A integração regional da indústria de defesa, a exemplo do Mercosul, deve ser
objeto de medidas que propiciem o desenvolvimento mútuo, a ampliação dos
mercados e a obtenção de autonomia estratégica”;
b) “Além dos países e blocos tradicionalmente aliados, o Brasil deverá buscar
outras parcerias estratégicas, visando a ampliar as oportunidades de
intercâmbio e a geração de confiança na área de defesa”.
O decreto estabelece também diretrizes estratégicas a serem seguidas pelos
diversos setores do Estado, que incluem a de “contribuir ativamente para o fortalecimento, a
expansão e a consolidação da integração regional, com ênfase no desenvolvimento de base
industrial de defesa”.
Verifica-se por essas orientações e diretrizes estratégicas, portanto, que a
globalização da indústria de material bélico por meio de parceria com empresas de outros
países é compatível com a PDN, desde que esse processo permita o seu desenvolvimento.

5.2 Política Nacional da Indústria de Defesa

A Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) foi aprovada pela Portaria


Normativa nº 899 de 19 de julho de 2005 do MD (78). A Portaria define como Base Industrial
de Defesa (BID) “o conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis e
28

militares, que participem de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção,
distribuição e manutenção de produtos estratégicos de defesa” e estabelece que “a PNID tem
como objetivo geral o fortalecimento da BID”.
A PNID inclui como objetivos específicos a “diminuição progressiva da
dependência externa de produtos estratégicos de defesa, desenvolvendo-os e produzindo-os
internamente”, “redução da carga tributária incidente sobre a BID”, “ampliação da capacidade
de aquisição de produtos estratégicos de defesa da indústria nacional pelas Forças Armadas” e
“aumento da competitividade da BID brasileira para expandir as exportações”. A ênfase na
nacionalização de produtos estratégicos, a redução da carga tributária e o aumento de
encomendas das Forças Armadas como formas de fomento industrial não chegam a ser
medidas originais, que historicamente têm encontrado dificuldades de execução pela falta de
uma demanda contínua de material de emprego militar, associada a restrições do Orçamento
da União. A menção à importância do aumento da competitividade da BID e das exportações
é, entretanto, um aspecto relevante da PNID, que parece estimular, assim como a PDN, a
globalização da indústria de material bélico, em condições favoráveis para o País.
O artigo 6º da PNID atribui à Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e
Tecnologia (SELOM) a responsabilidade pela elaboração das ações estratégicas para efetiva
implementação da PNID e estabelece que “as ações estratégicas devem ser indutoras, sem
retirar da indústria sua capacidade de empreendimento, sua iniciativa e seus próprios riscos” e
que “as empresas públicas devem desempenhar suas atividades em complemento às de caráter
privado, evitando a concorrência com estas últimas”. Entende-se, dessa forma, que uma das
características típicas do atual processo de globalização da economia, a redução da
intervenção do Estado na economia, parece estar sendo levada em consideração. A orientação
para as empresas públicas não competirem com o setor privado parece indicar também uma
preferência pela progressiva privatização da BID.

5.3 Restrições e apoio à exportação e importação

A legislação aplicável à exportação e importação de material de emprego militar


inclui o Decreto nº 3.665 de 20 de novembro de 2000 (79), que estabelece procedimentos para
importação e exportação, e a Lei nº 9.112 de 10 de outubro de 1995 (80), alterada pela
Medida Provisória no 2.216-37 de 31 de agosto de 2001 (81), que trata apenas da exportação.
O Decreto nº 3.665/2000 estabelece procedimentos para fabricação, importação,
exportação, utilização e comercialização de produtos controlados, definidos como aqueles
29

com “poder de destruição ou outra propriedade de risco que indique a necessidade de que o
uso seja restrito a pessoas físicas e jurídicas legalmente habilitadas [...] de modo a garantir a
segurança da sociedade e do país”. Esses produtos são listados no Anexo I do Decreto, que
compreende itens como produtos químicos de possível emprego militar, explosivos, munição,
propelentes, armas de fogo, granadas, material de proteção pessoal, foguetes, mísseis e
veículos blindados.
Para exportação, são exigidos registro e licença prévia emitidos pelo EB. Para
importação, são exigidos documentos similares, porém o artigo nº 190 contraria diretamente o
princípio característico da globalização de eliminação de barreiras comerciais, ao estabelecer
que “o produto controlado que estiver sendo fabricado no país, por indústria considerada de
valor estratégico pelo Exército, terá sua importação negada ou restringida, podendo,
entretanto, autorização especial ser concedida, após ser julgada a sua conveniência”. A
imposição de barreiras comerciais é também objeto do artigo nº 195, que determina que “a
importação de produtos controlados para venda no comércio registrado só será autorizada se o
país fabricante permitir a venda de produtos brasileiros similares em seu mercado interno”.
A Lei nº 9.112/1995 destinou-se a atualizar a legislação brasileira no que se refere
ao controle da proliferação das chamadas “armas de destruição em massa” (nucleares,
químicas ou biológicas), tendo levado à criação da Comissão Interministerial de Controle de
Exportação de Bens Sensíveis, a quem compete manter atualizada uma lista de material
sujeito à autorização formal do Governo antes de ser exportado. A última versão dessa lista,
divulgada pela Portaria Interministerial MCT/MD nº 631 de 13 de novembro de 2001 (82), é
um pouco mais abrangente que a lista do Decreto nº 3.665/2000, incluindo navios militares,
torpedos e minas.
A legislação aplicável à exportação de material de emprego militar foi comentada
pelo então Ministro de Estado das Relações Exteriores, Luis Felipe Lampreia, em Exposição
de Motivos à Câmara dos Deputados (83), ao detalhar as diretrizes gerais para a Política
Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (PNEMEM), estabelecidas pelo
Presidente da República, em 12 de dezembro de 1974. Segundo o Ministro Lampreia, o
controle do material exportado tem o propósito de garantir o cumprimento de embargos de
vendas a determinados países, estabelecidos por organismos internacionais ou pelo Governo
brasileiro. Indiretamente, a inclusão do Brasil no grupo de países com políticas em relação à
proliferação de armas de destruição em massa facilitaria o acesso à tecnologia de ponta,
como, por exemplo, a de utilização em mísseis.
A exportação de material militar é, portanto, regulamentada pelo EB, para o
30

material listado pelo Decreto nº 3.665/2000, e pelos Ministérios da Defesa e da Ciência e


Tecnologia, que receberam as atribuições de gerenciar os assuntos referentes à PNEMEM e
de coordenar a Comissão Interministerial de Controle de Exportação de Bens Sensíveis pelos
artigos nº 14 e 15 da Medida Provisória no 2.216-37 de 31 de agosto de 2001, respectivamente
(81). A existência de duas legislações sobre o mesmo assunto, o Decreto nº 3.665/2000 (79) e
a Lei nº 9.112/1995 (80), e, principalmente, o requisito de autorizações prévias para a venda
de praticamente qualquer tipo de produto de emprego militar certamente não contribuem para
a exportação, em um ambiente competitivo como o do comércio internacional, no qual a
agilidade é fator primordial para o aproveitamento de oportunidades. Embora seja
inquestionável a necessidade de controle das exportações de material de emprego militar, uma
simplificação da legislação em vigor parece oportuna.
A exportação de armas e munição é sujeita a uma restrição adicional. A Resolução
nº 17 de 6 de junho de 2001 (84) estabelece a incidência de imposto de exportação à alíquota
de 150%, para exportações para a América do Sul e Central, excetuando-se Argentina, Chile e
Equador ou quando destinadas ao uso exclusivo de forças armadas ou autoridades policiais.
Essa resolução, destinada à diminuição do contrabando de armas pelo crime organizado no
Brasil (85), segundo o presidente da CBC, Antônio Marcos Moraes, representaria uma
redução de cerca de US$ 8 milhões em exportações anuais (86).
Os elevados impostos sobre a atividade industrial, o chamado “Custo Brasil”,
seriam responsáveis pela perda da competitividade da BID em relação a produtos importados,
para o caso de itens considerados não estratégicos e, portanto, sem a proteção prevista no
artigo nº 190 do Decreto nº 3.665/2000. Cândido (87) e Amarante (74) sugerem a reavaliação
dos impostos incidentes sobre a fabricação de material de defesa, que, segundo Cândido,
tornam o custo de aquisição de produto no exterior pelas Forças Armadas 42% inferior ao de
item similar fabricado pela indústria nacional, uma espécie de barreira comercial com sentido
inverso.

5.4 Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica

Segundo Modesti (88), os Acordos de Compensação Comercial, Industrial e


Tecnológica (offset) foram criados, juntamente com o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional, na reunião de Bretton Woods em 1944, na qual se discutiu a criação de
instrumentos internacionais que possibilitassem a reconstrução da Europa e do Japão. Esse
instrumento permitia que compras efetuadas em fornecedores estrangeiros fossem
31

compensadas por estímulos em setores definidos pelo país importador.


Há diversas formas de offset, a saber: produção sob licença, na qual se exige que o
produto importado seja fabricado no país; co-produção, na qual a produção é feita apenas em
parte no país; produção sob subcontrato, que não envolve o fornecimento de licença de
fabricação para a indústria do país importador; aplicação de recursos em empresa do país, por
joint venture ou investimentos diretos; transferência de tecnologia, por meio de apoio às
atividades de pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica e treinamento; ou simplesmente
por mecanismos de contrapartida comercial, que obrigam o país exportador a comprar
produtos ou serviços de valor equivalente ao do material importado ou aceitá-los como parte
do pagamento (89).
As imposições de cláusulas de offset se tornaram comuns em acordos comerciais
entre países, sobretudo quando se trata de material bélico. Modesti (88) cita um relatório do
Departamento de Comércio dos EUA ao Congresso, referente ao período de 1993 a 1999, no
qual é mencionado que essas cláusulas corresponderam a 55% do valor de contratos de
exportação de sistemas de armas, sendo comum em acordos com países europeus a exigência
de pelo menos 100% em compensações comerciais. Esse relatório cita a aceitação de offset
como essencial para a manutenção da competitividade da indústria de defesa norte-americana,
diante da globalização da economia. Modesti também menciona que a exigência de offset
passou a fazer parte das políticas nacionais de defesa, como forma de obtenção de tecnologia
em setores considerados estratégicos.
Modesti (88) descreve diversos exemplos de acordos de offset já realizados pelo
Brasil. Na década de 50, a aquisição das aeronaves Gloster Meteor TF-7 e F-8 pela FAB foi
condicionada à exportação para a Inglaterra de valor equivalente em algodão. Em 1974, por
ocasião da obtenção do F-5E pela FAB, foi exigida a transferência de tecnologia para a
fabricação de itens da sua fuselagem na Embraer, que permitiu a assimilação de tecnologia de
materiais compostos e de novas técnicas de tratamentos térmicos e usinagem, utilizadas nos
projetos do Xingu e do Brasília. Por ocasião da obtenção do Centro Integrado de Defesa e
Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta I), foi negociada como offset a venda para a Força
Aérea Francesa de 41 aviões Xingu. A implantação da Aviação do Exército Brasileiro, a partir
de 1988, exigiu 100% de offset nos contratos de obtenção dos helicópteros. A aquisição dos
aviões MD-11 pela Varig, em 1992, gerou como compensação comercial a fabricação de
flapes pela Embraer e o financiamento das aeronaves Brasília para o mercado dos EUA.
O programa para desenvolvimento do AMX, feito por acordo binacional entre
Brasil e Itália, é analisado detalhadamente por Modesti (88), que identifica o treinamento
32

propiciado aos técnicos da Embraer, Celma, Rolls-Royce do Brasil, Aeroeletrônica, entre


outras empresas, como vital para o desenvolvimento tecnológico da indústria aeronáutica no
país e responsável, em particular, pela capacitação técnica da Embraer para o lançamento dos
programas das famílias ERJ-145 e ERJ-170/190. O autor comenta, no entanto, que o
investimento feito pelo Governo nesse programa, 30% do seu valor total, sem praticamente
participação financeira da indústria nacional, não surtiu os efeitos de longo prazo desejados,
em função da falta de encomendas posteriores para o setor aeronáutico.
Atualmente, no âmbito das Forças Armadas, foi estabelecida, pela Portaria nº 764
de 27 de dezembro de 2002 do MD (90), a Política de Compensação Comercial, Industrial e
Tecnológica, que determina a inclusão de Acordo de Compensação nos contratos de
importação de produtos de defesa com custo superior a US$ 5 milhões. O valor a ser
compensado deve ser, preferencialmente, correspondente a 100% do valor do contrato de
aquisição. Quanto às prioridades para definição dos setores a serem beneficiados por
exigências de offset, o artigo nº 18 da referida portaria estabelece como áreas de interesse, em
termos talvez excessivamente genéricos, tecnologia, fabricação de materiais ou equipamentos,
nacionalização de manutenção, treinamento de pessoal, exportação e incentivos financeiros à
indústria de defesa.
No âmbito da MB, o capítulo 6 da publicação EMA-420 (89) trata do assunto,
estabelecendo que as negociações de offset são de atribuição das Diretorias Especializadas. O
item 6.5.8 da publicação estabelece prioridades para aplicação de recursos de offset, em
termos apenas um pouco mais específicos que os citados na Portaria 764/MD, detalhando que
esses benefícios devem ser preferencialmente aplicados no atendimento das necessidades das
Organizações Militares Prestadoras de Serviços (OMPS) da MB, do Setor Naval, do Setor
Militar e do Parque Industrial, nessa ordem.
33

6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO

O efeito da globalização nos países em desenvolvimento é assunto polêmico. Seu


potencial para redução da pobreza mundial e da desigualdade entre países é objeto de análise
tanto no Fórum Econômico Mundial em Davos, como nas diversas reuniões do Fórum Social
Mundial, com visões absolutamente opostas. É surpreendente que o mesmo tema possa ser
objeto de protestos populares nas reuniões desses fóruns em países ricos, por parte de
trabalhadores que temem perder seus empregos pela mudança da sede das fábricas para países
com mão-de-obra mais barata, e em países em desenvolvimento, neste caso por operários que
temem que as indústrias nas quais trabalham não possam competir com grupos multinacionais
de grande capital e tecnologia de outros países. Não tomam parte nessas manifestações os
possíveis beneficiários da globalização em países em desenvolvimento: os que trabalham em
condições piores que as oferecidas pelas empresas multinacionais e os desempregados, que
talvez se manifestassem de forma favorável, se pudessem avaliar as possibilidades advindas
do processo de abertura de suas economias.
No meio acadêmico, o assunto também está longe de ser considerado consensual,
apesar dos estudos serem pautados em modelos matemáticos e em análises estatísticas sobre
índices de pobreza e desigualdade, divulgados por entidades internacionais. Há, no entanto,
uma tendência a considerar benéficos os efeitos da globalização. Krugman e Venables (91),
pesquisadores da Stanford University e da London School of Economics, concluem que a
globalização tende a favorecer inicialmente os países desenvolvidos, mas, posteriormente,
com o aumento da integração das economias, haveria uma efetiva transferência de renda
desses países para os em desenvolvimento. Santarelli e Figini (9), em artigo publicado pelo
World Institute for Development Economics Research, afirmam que a abertura comercial e a
redução do tamanho do Estado parecem estar associadas a menores níveis de pobreza, mas
sugerem que a definição de políticas para desenvolvimento relacionadas à globalização deve
considerar principalmente aspectos como posição geográfica e potencial de exportação.
Lindert e Williamson (92), pesquisadores da University of California e da Harvard University,
após uma análise histórica do processo de globalização desde o Século XIX e a tentativa de
correlação desse processo com os índices de desigualdade entre nações, concluem que o
grande aumento da desigualdade nos últimos 20 anos não deve ser atribuído ao processo de
globalização, e que as nações que mais se beneficiaram desse processo foram efetivamente
nações pobres que mudaram suas políticas para explorá-lo.
34

A divergência sobre os efeitos da globalização no meio acadêmico é tratada por


Aisbett (93), pesquisadora da University of California, que atribui a pluralidade de opiniões às
diferentes metodologias para interpretação dos índices de pobreza e distribuição de renda,
assim como a própria definição dos termos “pobreza” e “desigualdade entre nações”. Apesar
da conclusão ser pouco esclarecedora, em seu artigo, publicado pelo National Bureau of
Economic Research, Aisbett cita os principais tópicos de divergência entre os acadêmicos,
três dos quais parecem ser de maior relevância no caso particular da globalização da indústria
de defesa.
O primeiro se refere à discussão acadêmica sobre o nível desejado de liberalização
do comércio internacional. Enquanto alguns propõem a total liberalização, outros defendem
que essa pode não ser a melhor forma de promover o comércio a longo prazo, e que seria
desejável algum controle pelo Estado, sobretudo para evitar custos sociais inaceitáveis. O
segundo tópico corresponde à discussão em torno das vantagens da abertura das economias
para investimentos estrangeiros, que possivelmente eliminaria ineficiências decorrentes de
monopólios nacionais e aumentaria a competitividade pela privatização de determinadas
atividades econômicas, porém ao custo da extinção de pequenas empresas locais. O terceiro e
último tópico corresponde à percepção de muitos para o fato de que, mesmo que a
globalização possa contribuir para a redução da pobreza e da desigualdade, a concentração de
poder econômico em grandes empresas multinacionais e a atribuição de poder decisório a
organismos internacionais podem levar à tomada de decisões não necessariamente
coincidentes com o interesse dos países envolvidos.
No caso específico da globalização da indústria de defesa, há dois outros
importantes aspectos a considerar. O primeiro é a influência dos países exportadores de armas
nas relações internacionais, pois, como a capacidade de defesa é essencial para os Estados, a
venda de produtos a um determinado país cria um importante vínculo de dependência. Esse
vínculo entre a exportação de material bélico e as relações internacionais é previsto na
PNEMEM, que cita “haveria importantes vantagens políticas e econômicas, na vinculação de
países importadores e fabricantes brasileiros de material militar [...] O incremento das
exportações deverá fortalecer [...] a posição internacional do Brasil" (83).
O segundo aspecto é a associação direta entre a existência de uma indústria de
defesa autônoma e a soberania do país, supondo-se implicitamente que uma nação, para ser
soberana, deve ser capaz de defender-se, o que exige armas e munição, cuja disponibilidade
só é assegurada se forem produzidas no país. Essa associação entre indústria de defesa e
soberania é citada na PDN, que enfatiza a necessidade de desenvolver a indústria de defesa
35

“visando à redução da dependência tecnológica” e estipula que “o desenvolvimento da


indústria de defesa [...] é fundamental para alcançar o abastecimento seguro e previsível de
materiais e serviços de defesa”. No espaço acadêmico do site do MD na internet, há diversos
artigos referentes a um ciclo de debates sobre a indústria de defesa, que comentam essa
associação. Dentre eles, Cândido (87) menciona que “não há como negar que a indústria de
defesa é considerada, em qualquer nação moderna, um setor altamente estratégico e
diretamente relacionado com a soberania do Estado e com a autodeterminação de um povo”, e
Silva (94) cita que “sem uma capacidade produtiva nacional, num sistema dependente de
materiais importados, nossas Forças Armadas têm suas estratégias moldadas e limitadas
àquilo que puder ser adquirido de fontes produtivas internacionais”.
A importância atribuída à existência de instalações industriais no país capazes de
produzir, de forma autônoma, todos os meios necessários a sua defesa é verificada
praticamente em todos os países desenvolvidos. Esse vínculo com a soberania tem, de fato,
limitado, por influência dos governos, o processo de fusão e aquisição de empresas àquelas
pertencentes ao mesmo país ou, ao menos, a países tradicionalmente aliados. Como
apresentado no capítulo 3, os grandes grupos industriais do setor de defesa se mantêm com
suas sedes e instalações nos EUA e Europa, estabelecendo o conceito de Fortress America e
Fortress Europe, citado por diversos autores, como Adams (95) e Cornu (96). A empresa
OAK, em criação na Federação Russa, deverá seguir padrão similar, mesmo que abra seu
capital para empresas aeroespaciais estrangeiras.
A autonomia de suas indústrias de defesa também tem sido buscada por outros
países em desenvolvimento, além do Brasil. No capítulo 3, são citados exemplos bem
sucedidos na Índia e na África do Sul e o esforço para atingir ao menos algum grau de
autonomia no setor de defesa em outros países da América do Sul.
De forma resumida, pode-se dizer que a globalização tende a ser benéfica para os
países em desenvolvimento. Seus aspectos negativos, como a transferência de decisões para
entidades internacionais e os custos sociais decorrentes da abertura comercial e da
privatização de empresas, citados por Aisbett (93), bem como suas particularidades, no caso
da globalização da indústria de defesa, que podem afetar a política externa e a soberania de
nações, voltarão a ser abordados nos capítulos seguintes.
36

7 EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INDÚSTRIA DE DEFESA NACIONAL

7.1 Estado atual da globalização na Indústria de Defesa do Brasil

No Brasil, conforme apresentado no capítulo 4, a exportação e o relacionamento


comercial com empresas estrangeiras para obtenção de capacitação técnica sempre foram
políticas adotadas pelas nossas indústrias. Atualmente, os efeitos da globalização na Indústria
de Defesa Nacional se tornam mais evidentes, pois as principais empresas do setor dependem
da exportação de seus produtos para garantir a sua lucratividade, muitas delas possuem
acordos comerciais com indústrias internacionais, algumas possuem grupos com sede no
exterior em sua composição acionária, e um pequeno número dispõe até de subsidiárias em
outros países.
Verifica-se que as indústrias que se mantiveram no mercado foram as que
souberam diversificar sua linha de produtos entre equipamentos de emprego civil e militar, e
as que conseguiram conquistar o mercado internacional, fabricando e exportando material de
qualidade. De certa forma, pode-se mesmo afirmar que a globalização de nossa economia,
embora limitada em relação à de outros países, foi responsável pela sobrevivência de ao
menos parte da Indústria de Defesa Nacional.
O efeito da globalização parece, dessa maneira, ter sido positivo para o País. A
idéia geral no meio acadêmico, citada no capítulo 6, de que o processo de globalização traz,
em algum momento, vantagens para países em desenvolvimento, parece ter sido o nosso caso,
e o Brasil teria sido um dos países, como mencionado por Lindert e Williamson (92), que
soube adaptar suas políticas para explorar esse processo. É emblemática, para essa avaliação,
a seguinte expressão apresentada no site do Banco do Brasil na internet que detalha seu
programa de financiamento às exportações (97): “PROEX - Onde Globalização é Sinônimo
de Oportunidade”.
Há, no entanto, alguns aspectos negativos da globalização, apresentados no
capítulo 6, que já se manifestaram em nossa indústria. A transferência de decisões para órgãos
internacionais ou empresas estrangeiras, citada por Aisbett (93), é um deles. No caso do
Brasil, pode-se citar dois exemplos de decisões tomadas contrariamente à posição do Governo
sobre o assunto. O primeiro foi a disputa entre a Bombardier e a Embraer sobre subsídios para
exportação de aeronaves, iniciada em 1996, que, levada à arbitragem da Organização Mundial
do Comércio, determinou a revisão das taxas de juros cobradas pelo PROEX do Banco do
37

Brasil para o financiamento da compra de aeronaves da Embraer por empresas estrangeiras


(46;98). O segundo exemplo foi a redução dos serviços prestados às Forças Armadas pela
empresa Celma, para dedicar-se à revisão geral de motores de aeronaves comerciais (99), após
a sua privatização em 1991 e, sobretudo, após a assunção do controle acionário pela General
Electric em 1996. A Celma, antes da privatização, chegou a participar do programa AMX,
fabricando itens de motores, depois de um investimento em equipamentos de cerca de
US$ 40 milhões pela FAB (100).
A opção pelo mercado civil feita pela Celma merece comentário adicional, apesar
de estar mais relacionada com a privatização da empresa do que com a globalização da
economia. Embora seja razoável supor-se que uma indústria tenha interesse estratégico em
manter-se nos mercados civil e militar, para assegurar sua lucratividade mesmo em caso de
redução de encomendas em um deles, existe a possibilidade de a empresa abdicar do mercado
militar, se esse for considerado de rentabilidade muito baixa, como aparentemente aconteceu
com a Celma. No caso da Embraer, por ocasião da privatização, houve a preocupação de
instituir-se a golden share, que dava ao governo poder de veto, mesmo sem deter a maioria
das ações com direito a voto, em casos de mudança da área de atuação da empresa, alteração
de controle acionário ou participação em programas de defesa considerados contrários aos
interesses do País. O poder de veto, no entanto, não foi utilizado para impedir o ingresso dos
grupos franceses na participação acionária da empresa, ao qual se opôs a FAB, por temer que
determinasse a aquisição de produtos necessariamente na França, em eventuais processos de
obtenção de aeronaves, que envolvessem a Embraer (46).
Outro exemplo de efeito negativo da globalização, já percebido por nossa
indústria de defesa, foi a dificuldade de exportação de aeronaves AMX para a Venezuela
(101), por interferência do Governo norte-americano, em virtude da existência, nesses aviões
da Embraer, de diversos componentes fabricados nos EUA. Essa dificuldade ilustra a
utilização da exportação de equipamentos de emprego militar como instrumento de política
externa e, de certa forma, a relação entre uma indústria de defesa autônoma e a soberania do
Estado, dois aspectos que foram comentados no capítulo 6.

7.2 Perspectivas para a BID em virtude da globalização

Mais importante do que a avaliação dos atuais efeitos da globalização na Indústria


de Defesa Brasileira é a análise das perspectivas para seu desenvolvimento em uma economia
globalizada, e essas perspectivas não são boas.
38

No setor aeroespacial, a consolidação de empresas nos EUA, Europa e,


futuramente, na Federação Russa deverá eliminar a possibilidade de a indústria nacional
desenvolver projetos autônomos de aeronaves militares, com nível tecnológico similar ao das
novas gerações de aeronaves. Mesmo se o Governo arcasse com os elevados custos de
desenvolvimento, continuaríamos dependentes da importação da maior parte dos
equipamentos, tendo em vista que, como apresentado no capítulo 4, nossa indústria só
desenvolveu capacidade para projeto de trens de pouso (ELEB) e de alguns equipamentos de
aviônica (Aeroeletônica e Mectron).
O cenário mais provável é que a Embraer concentre seus esforços na adaptação de
seus aviões ERJ-145/170/190 como plataformas de sensores para aeronaves militares, a
exemplo dos programas ERJ-145 AEW&C, ERJ-145 RS/AGS, P-99 e ACS, citados no
capítulo 4, ou em eventuais adaptações para missões específicas, como reabastecimento em
vôo e transporte. A fabricação de aeronaves de emprego exclusivamente militar deverá ficar
restrita ao Super Tucano, que se mantém competitivo em sua classe, pela capacidade de
efetuar missões de ataque ao solo e treinamento, com baixo custo de operação. O AMX não
foi um programa bem sucedido em termos de exportações, sendo provável que sua
comercialização no futuro esteja vinculada a situações especiais decorrentes da política
externa de alguns países, como foi o caso da Venezuela. Essa limitada linha de produtos
militares exportáveis poderá comprometer a desejável diversificação do faturamento da
Embraer entre o mercado civil e militar, após o encerramento dos programas de modernização
das aeronaves F-5 e AMX da FAB.
A sobrevivência no mercado militar da Mectron e da Aeroeletrônica depende de
contratos com a FAB, pois a exportação de seus produtos para emprego em outras aeronaves
exigiria dispendiosos programas de homologação aeronáutica, que não são normalmente
custeados pelos compradores. No caso da Mectron, a conquista do mercado internacional
estaria sujeita à competição com indústrias tradicionais no setor e de países em
desenvolvimento, como a Denel. A vulnerabilidade de dispor de apenas um cliente no setor
militar é mais crítica para a Mectron do que para a Aeroeletrônica, pois esta possui ao menos
alguma participação no mercado civil.
A Helibras e a Avibras já demonstraram capacidade de sobreviver sem contratos
com o Governo. A Helibras, no entanto, tem poucas chances de tornar-se uma empresa capaz
de projetar e construir helicópteros, como a Denel ou HAL, em função de sua posição já
consolidada na EADS como simples montadora de aeronaves. Com tecnologia própria, há
boas perspectivas para a Avibras, porém no setor de sistemas de artilharia e de carros
39

blindados e não no setor aeroespacial, no qual deverá enfrentar dificuldades similares às da


Mectron, para comercializar seus foguetes e mísseis.
No setor de fabricação de armas leves e munição, tanto a Taurus como a CBC
parecem bem adaptadas à globalização da economia, com uma linha de produtos diversificada
e comercializada no mercado interno e externo. Embora importantes para a formação de uma
indústria de defesa autônoma, a relevância dessas empresas para a Segurança Nacional é
limitada pelo fato de fabricarem produtos de pouco valor estratégico, como armas de emprego
civil e munição para armamento de pequeno calibre.
A fabricação de munição para armamento pesado e de armas portáteis de emprego
militar está a cargo da IMBEL e da FAJCMC. Essas indústrias apresentam resultados
historicamente deficitários e, mesmo com a injeção de recursos, por meio de programas
específicos, é improvável que se tornem rentáveis, pois a proibição de competirem com o
setor privado, estabelecida na PNID, inviabiliza a diversificação de seus produtos. Assim,
impossibilitadas de obterem baixos custos de produção, por fabricarem lotes relativamente
pequenos para atendimento às Forças Armadas brasileiras, e sujeitas às restrições para
administração financeira e compra de insumos similares aos do serviço público em geral,
essas companhias parecem fadadas a uma baixa competitividade em um mercado globalizado.
Além desses aspectos, a falta de encomendas militares poderá determinar o
afastamento das indústrias do setor de defesa em relação a esse mercado. O envolvimento da
Avibras com a fabricação de antenas e com firmas de transporte, a progressiva redução da
proporção do faturamento com a venda de armas da Taurus em relação a suas outras
atividades e a interrupção dos serviços de reparo em motores militares pela Celma são sinais
de que uma indústria de defesa com base privada não permanecerá aguardando por
oportunidades na área militar por prazo indeterminado.
Resumidamente, a visão prospectiva da Indústria de Defesa Nacional, sem a
participação governamental, indica que não deverá haver desenvolvimento significativo no
setor aeroespacial, e que a própria sobrevivência das indústrias de alta tecnologia não está
assegurada. Essa visão também indica que a IMBEL e a FAJCMC deverão manter-se
deficitárias. A análise de possíveis ações estratégicas para apoiar o desenvolvimento da BID
será objeto do próximo capítulo.
40

8 ANÁLISE DE AÇÕES ESTRATÉGICAS

8.1 Ações estratégicas já definidas pelo MD

Conforme apresentado no capítulo 5, o estímulo à BID é previsto na PDN e PNID,


tendo sido atribuída à SELOM a responsabilidade pela definição das ações estratégicas a
serem tomadas para a efetiva implementação da PNID. Tais ações foram estabelecidas pela
Portaria Normativa nº 586 de 24 de abril de 2006 do MD (102), que prevê atividades em sete
áreas de atuação: conscientização da sociedade quanto à importância da BID, nacionalização
de material de defesa considerado estratégico, redução de impostos, ampliação das
encomendas das Forças Armadas, melhoria da qualidade de produtos, aumento da capacidade
de mobilização da indústria de defesa e incremento da competitividade da BID no exterior.
Algumas das atividades previstas na portaria foram tratadas nesta monografia, tais
como a simplificação dos procedimentos para exportação de material de emprego militar,
estabelecida na área de atuação voltada ao aumento da competitividade da BID; a redução de
tributos incidentes sobre os produtos de defesa e seus insumos; e a adoção de offset de
transferência de tecnologia, prevista na área de atuação referente à melhoria da qualidade dos
produtos de defesa.
Ao prever o aumento da competitividade da BID, a portaria favorece a
globalização. As ações relacionadas a essa área de atuação incluem o envio de subsídios ao
Ministério das Relações Exteriores e órgãos de exportação referentes às oportunidades de
vendas visualizadas pela BID, a divulgação pelos adidos militares brasileiros dos produtos da
indústria de defesa, a coordenação das ações para certificação de produtos em relação aos
requisitos de normas internacionais e o estímulo à realização de acordos entre indústrias
nacionais e estrangeiras para desenvolvimento de itens com tecnologia não disponível no país.
Serão analisadas a seguir algumas ações que, no meu entendimento, poderão
complementar as estabelecidas na portaria do MD, com ênfase nas oportunidades surgidas
com a globalização da economia.

8.2 Método para avaliação de novas ações estratégicas

A análise das novas ações estratégicas a serem propostas será feita a partir dos
tópicos mais polêmicos relacionados ao processo de globalização da economia, identificados
41

no capítulo 6, procurando-se definir ações que possam neutralizar as desvantagens desse


processo para nossa indústria de defesa e tirar proveito de suas vantagens. Serão considerados
o atual cenário das indústrias desse setor no Brasil e no mundo, apresentado nos capítulos 3 e
4, a legislação e as políticas referentes à indústria de defesa, descritas no capítulo 5, e os
efeitos da globalização já percebidos em empresas brasileiras, destacados no capítulo 7.
Dessa forma, foram identificados os seguintes aspectos favoráveis (AF) e
desfavoráveis (AD) associados à globalização ao longo desta monografia:
AF1 - O aumento da exportação de material de defesa reduz a dependência da
BID em relação ao mercado interno;
AD1 - A participação acionária de grupos estrangeiros em companhias de capital
aberto da BID pode eventualmente determinar a saída da empresa da área
militar (seção 7.1 - caso da Celma);
AD2 - A criação de grandes grupos transnacionais poderá eliminar a capacidade
da indústria aeroespacial brasileira para desenvolver produtos competitivos
(seção 7.2 - perspectivas para Embraer);
AD3 - As indústrias de defesa tornaram-se muito dependentes de exportações para
garantir sua lucratividade (seções 4.2 e 4.3 - situação da Embraer, Helibras,
Avibras, CBC e Taurus);
AD4 - A BID depende da importação de material para a fabricação de seus
produtos, o que limita as ações de política externa do Brasil e compromete
sua soberania (seção 7.1 - venda de aeronaves para a Venezuela);
AD5 - A redução de barreiras comerciais e a privatização de empresas podem
provocar o fechamento de indústrias no país (capítulo 6 - desvantagens da
globalização segundo Aisbett).
Para a análise das possíveis ações estratégicas, serão consideradas as seguintes
diretrizes estabelecidas pelo Governo:
D1 - Deverão ser estimuladas a integração regional da indústria de defesa e a
realização de parcerias estratégicas com outros países (Orientação
Estratégica da PDN);
D2 - Deverá ser buscado o aumento de competitividade da BID para a expansão
das exportações (Objetivo da PNID);
D3 - As ações do Governo não devem ser excessivamente protecionistas,
restringindo-se ao estímulo da capacidade de empreendimento da BID, que
deve buscar seu próprio desenvolvimento, com os riscos associados
42

(Orientação para implementação da PNID);


D4 - As empresas públicas não devem concorrer com as do setor privado da BID
(Orientação para implementação da PNID).

8.3 Transferência de serviços de manutenção para a BID

É improvável que uma companhia de capital aberto tome decisões que contrariem
o interesse de seus acionistas, para manter negócios pouco rentáveis com o Governo. Os
investimentos já efetuados na empresa pelo Estado ou a realização de grandes encomendas no
passado não são fatores que pesam na lógica corporativa, voltada essencialmente para as
oportunidades no presente e futuro. Assim, penso que a única forma de assegurar que o
interesse das Forças Armadas seja considerado nos planos estratégicos de companhias
privadas é a transformação dessas Forças em clientes de peso, com demanda contínua de
serviços.
A transferência de serviços atualmente realizados pelas OMPS, Parques de
Material e Arsenais das Forças Armadas para a BID surge como opção para manter elevado o
percentual de serviços prestados às Forças Armadas no faturamento total dessas empresas. As
companhias privadas beneficiar-se-iam de uma demanda mais uniforme de serviços, uma de
suas principais necessidades como já visto, e seriam estimuladas a manter sua linha de
produtos na área militar. Essa ação estratégica minimizaria os aspectos AD1 e AD3,
atendendo às diretrizes D3 e D4.
Não se trata de uma idéia original. Na seção 3.1, foram apresentados o Reino
Unido, Chile e Argentina como exemplos de países que privatizaram parte dos serviços de
manutenção de suas Forças Armadas, e Amarante (74) sugere a diversificação da atuação da
IMBEL, passando a incluir a área de serviços, como forma de melhorar a situação financeira
da empresa.
As ações nesse sentido, creio, deveriam considerar sempre a qualificação de pelo
menos duas empresas, para preservar a competitividade, e assim permitir a obtenção de custos
aceitáveis. As bancadas de testes e o ferramental necessário seriam, preferencialmente, de
propriedade das Forças Armadas, objetivando reduzir o investimento inicial do setor privado,
que, pela baixa demanda de serviços, poderia ser considerado economicamente inviável, e
facilitar a rápida transferência do serviço para outra companhia, caso necessário.
A criação de um órgão único no âmbito do MD para a qualificação de prestadoras
de serviços às Forças Armadas, o Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e
43

de Fomento Industrial (CCEMEFA), instituído pela Portaria Normativa nº 75 de 10 de


fevereiro de 2005 do MD, poderá facilitar o estabelecimento de uma política de qualificação
de empresas adequada às três Forças (103).

8.4 Alteração da forma de gestão das instalações industriais pertencentes ao Estado

A baixa probabilidade da IMBEL e da FAJCMC se tornarem rentáveis, conforme


abordado na seção 7.2, parece abrir espaço para uma discussão sobre as eventuais vantagens
de consolidação dessas fábricas de munição e de armamento leve, sob gestão privada,
propiciando à nova companhia uma maior estabilidade de demanda, pelo monopólio do
mercado nacional civil e militar.
A privatização, ideal de acordo com as diretrizes D3 e D4, poderia ser questionada
quanto à possibilidade de o monopólio acarretar custos elevados para aquisição de material
pelas Forças Armadas. Hix, Held e Pint (28) afirmam, no entanto, que a necessidade de
exportar produtos para assegurar sua sobrevivência acabaria compelindo a empresa a manter
elevados índices de produtividade e, conseqüentemente, baixos preços. Mesmo que colocasse
elevadas margens de lucro em seus produtos, a possibilidade de aquisição de material no
mercado internacional estabeleceria um teto para essa margem. Deve-se considerar, também,
que a manutenção dessas instalações industriais sob controle estatal já onera o valor do
material obtido pelas Forças Armadas, quando as encomendas são de pequena monta.
Embora a IMBEL e a FAJCMC sejam deficitárias, há alguns aspectos que podem
torná-las atrativas à iniciativa privada, tais como o fato de não serem necessários
investimentos imediatos em equipamentos, que se encontram em condições de uso; a ausência
de dívidas, tendo em vista que seu custeio sempre foi de responsabilidade das Forças
Armadas; a existência de um setor na IMBEL, o de fabricação de armas leves, bem
estruturado e com mercado já assegurado no exterior; e, sobretudo, o fato de a rentabilidade,
em princípio, poder ser obtida com a intensificação de buscas de mercados no exterior, a
exemplo do efetuado pela SNC Technologies, explorando o mercado sul-americano, pois,
como visto no item 3.2, há poucas indústrias capazes de fabricar munição para armamento
pesado na região.
Uma ação do tipo golden share, como previsto no caso da Embraer, poderia dar
uma maior garantia às Forças Armadas de que a linha de produtos das empresas, após a
privatização, não seria alterada. Em princípio, não haveria motivos para restringir a
participação de grupos estrangeiros no capital das empresas privatizadas, pois isso já ocorre
44

no caso de diversas companhias do setor de defesa, como apresentado no capítulo 4. A


manutenção das instalações no Brasil parece o principal requisito a ser exigido, em termos
estratégicos.
A gestão privada, mantendo-se o patrimônio da empresa com as Forças Armadas,
poderia também ser considerada, levando-se em conta que o modelo, aparentemente, funciona
com algum grau de eficiência nos EUA. A experiência negativa da MB com a gestão da
FAJCMC pela FI - Indústria e Comércio S/A, no meu entender, não deve fazer com que essa
alternativa não volte a ser considerada. A gestão combinada da IMBEL e FAJCMC poderá
tornar-se atrativa para as indústrias nacionais já com experiência no setor e comprovado
sucesso na obtenção de novos mercados, como a Taurus e a CBC. Talvez a gestão privada
possa mesmo tornar-se uma etapa intermediária para a privatização dessas empresas, pois, se
esse tipo de gestão demonstrar que as mesmas podem ser rentáveis, mantendo sua atual linha
de produtos, o risco de investimento para indústrias eventualmente interessadas na aquisição
seria reduzido e, ao mesmo tempo, o seu valor de venda poderia ser significativamente
superior.
A consolidação da IMBEL e FAJCMC com as demais indústrias de fabricação de
munição e armas leves, privatizadas ou sob gestão privada, contribuiria também para
minimizar o aspecto desfavorável AD3, pois concentraria o mercado interno, com provável
aumento de produtividade, dentro do previsto pelas diretrizes D2, D3 e D4. No que se refere
ao aspecto desfavorável AD5, acredita-se que a privatização possa permitir a contratação de
mais funcionários, pelo aumento de demanda decorrente de uma estratégia de vendas mais
agressiva, típica do setor privado.

8.5 Detalhamento das exigências de compensações comerciais

Como apresentado no item 5.4, a inclusão de cláusulas de offset em contratos de


obtenção de material militar foi um importante instrumento para o fomento da Indústria de
Defesa Nacional e, atualmente, é regulamentado por instruções do MD e MB. Há, no entanto,
dois aspectos sobre o processo de fomento industrial, por meio de compensação comercial,
que merecem consideração.
O primeiro é que o offset, na forma de “produção sob licença”, “co-produção”,
“produção sob subcontrato”, “joint venture” ou “investimento direto” implica em custos para
o comprador. Freeman (54) cita, como exemplo, a exigência da montagem das aeronaves F-15
no Japão, que tornou o preço 250% superior ao da obtenção diretamente das indústrias dos
45

EUA, e o próprio programa AMX, cujo preço unitário acabou tornando-se o dobro do valor
inicialmente previsto de US$ 10 milhões e, dessa forma, bastante superior ao custo de uma
aeronave similar “de prateleira” na época. O segundo aspecto é que offsets normalmente não
propiciam progressos de longo prazo à economia de países em desenvolvimento, pois não
asseguram as condições para que as indústrias que receberam estímulos tornem-se
competitivas, como enfatizam Brauer e Dunne (104). Mesmo a transferência de tecnologia
seria um benefício efêmero, em virtude do rápido desenvolvimento tecnológico.
Para o projeto de equipamentos, a compensação comercial na forma de
“transferência de tecnologia” só se justifica se permitir reduções de custo ou de tempo
significativas nos programas de desenvolvimento e, mesmo assim, se aplicada em empresas
capazes de efetivamente comercializar os equipamentos a serem projetados. No caso da
nacionalização de serviços de manutenção, no entanto, a transferência de tecnologia parece ter
retorno assegurado, não só em termos de economia de recursos a longo prazo, mas também
em termos estratégicos, por assegurar a operação dos meios existentes sem dependência
externa, o que indica a conveniência de priorizar esse tipo de aplicação de offset.
De qualquer forma, seria desejável que as prioridades para a exigência de
compensação comercial definidas no artigo no 18 da Portaria 764/MD (90) fossem melhor
detalhadas. Poderia ser interessante a elaboração de uma lista de programas de transferência
de tecnologia de interesse do País, em ordem de prioridade, que detalhassem o produto final
desejado, como, por exemplo, sensores infravermelhos para emprego em mísseis ar-ar, ou a
capacitação desejada, como a de realizar serviços de revisão geral em caixas de transmissão
de helicópteros de médio porte, com cada um desses programas associados a valores
financeiros a serem considerados para efeito de cômputo de offset em processos licitatórios.
Tal lista seria apresentada aos licitantes, facilitando a elaboração de ofertas de offset no valor
estipulado pelo MD, conhecendo-se a priori a relevância a ser atribuída a sua proposta na
avaliação pela Força Armada contratante, uma vez que essa relevância seria proporcional à
prioridade definida na lista.
No caso de falta de recursos para a exigência de compensação comercial, a
modalidade de “contrapartida comercial”, pela qual o país exportador se obriga a comprar
produtos ou serviços de valor equivalente ao do material importado, deveria tornar-se
obrigatória, novamente associada à elaboração de uma lista de produtos fabricados pela BID,
ordenada pelo valor estratégico correspondente a sua venda, a ser definido pelo MD. Essa
modalidade é particularmente conveniente como argumentação política para reaparelhamento
das Forças Armadas, pois, exigindo-se, por exemplo, 100% de contrapartida comercial,
46

haveria vantagens à economia, em termos de aumento de oferta de empregos e de pagamento


de impostos pelas empresas brasileiras que exportassem o material.
A ação estratégica de priorizar offsets de nacionalização de serviços de
manutenção e de contrapartida comercial não estaria totalmente de acordo com a diretriz D3.
No entanto, a nacionalização da manutenção poderia minimizar o aspecto desfavorável AD3,
pela eventual contratação da BID para prestação de serviços para outros países e, no caso de
offset por contrapartida comercial, seria intensificado o aspecto favorável AF1.

8.6 Participação em projetos internacionais

Pelo apresentado, pode-se dizer que uma das características mais marcantes da
nova fase da globalização da economia é que os programas internacionais para projeto e
desenvolvimento de material de defesa passaram a ser prática usual, enquanto que iniciativas
autônomas de países, como o programa da aeronave Rafale da França, se tornaram exceção à
regra. Em programas como o do avião de emprego tático JSF, que envolve os EUA, Reino
Unido, Itália e mais seis países; dos navios-aeródromos CVF, com participação do Reino
Unido, França e EUA; das Frégates Européenes Multimissions (FREMM), para construção de
fragatas pela França e Itália (105); e do Patrullero de Alta Mar (PAM), entre Argentina e
Chile, destinado à construção de navios-patrulha (106), há uma divisão de trabalho
internacional, com a qual os riscos são reduzidos e se assegura uma escala de produção
mínima para tornar econômico o desenvolvimento de equipamentos especiais para o projeto.
A busca de programas internacionais, como ação estratégica, não auxiliaria a
eliminação da AD4, pois não propiciaria a desejada combinação de uma indústria de defesa
soberana e forte, uma vez que a participação da BID nesses programas seria limitada ao
fornecimento de alguns itens do novo meio a ser projetado. Entretanto, é uma clara
oportunidade de, ao menos, fortalecer nossa indústria de defesa, desenvolver sua capacidade
de projeto e reaparelhar as Forças Armadas com material que, pela quantidade a ser fabricada,
terá menor probabilidade de apresentar problemas de abastecimento. A participação da BID
em programas internacionais serviria para maximizar o aspecto favorável AF1, pois
incrementaria a exportação de material de emprego militar.
Exemplificando, o que se sugere é que pode ser uma ação mais eficiente para a
indústria nacional, hipoteticamente, participar de um programa internacional para a fabricação
de cerca de 2.600 aeronaves, como o JSF, fornecendo itens da estrutura da fuselagem, trem de
pouso e alternativas de mísseis e foguetes, com o compromisso de o País adquirir um pequeno
47

número de aviões, do que comprar aeronaves já projetadas e discutir offsets de transferência


de tecnologia, uma vez que a primeira alternativa permitiria uma fonte de receita contínua
para a indústria, que é, de fato, aquilo que ela mais necessita.
A ação estratégica de participar de programas internacionais é mais abrangente
que a realização de acordos entre indústrias nacionais e do exterior para desenvolver produtos
cuja tecnologia não esteja disponível no Brasil, já prevista pela SELOM, conforme citado no
item 8.1. O propósito da participação nesses programas é, essencialmente, assegurar escala de
produção, que se aplica mesmo no caso de produtos com tecnologia já disponível.
Essa busca de parcerias estratégicas é citada na diretriz D1, embora deva ser
lembrado que, ao menos no que se refere ao setor aeroespacial, a tentativa de estabelecer a
integração regional não foi bem sucedida no passado, quando a Embraer procurou associar-se
com a Argentina no programa de desenvolvimento do avião CBA-123. O estabelecimento de
parcerias estratégicas com a Índia e a África do Sul em programas de desenvolvimento de
aeronaves e mísseis parece, no entanto, uma boa alternativa a ser investigada, pelo nível de
desenvolvimento tecnológico alcançado por esses países, o que poderia minimizar o AD2.
É interessante observar que a importância de parcerias com a África do Sul e a
Índia já foi visualizada por esses países. Um representante do Governo da África do Sul, em
visita à exposição LAAD-2005, ao se referir à maior colaboração com o Brasil e a Índia, teria
feito o seguinte comentário: “com tais cooperações internacionais, nós podemos melhorar
nossa independência estratégica no mundo, aumentando simultaneamente nossa participação
no mercado mundial de defesa" (107). O CTA estaria prestes a assinar contrato com a Denel
para participação no desenvolvimento do míssil A-Darter, que atenderia ao interesse dessa
empresa, pela falta de recursos para concluir o programa, e do Brasil, que precisaria de, no
mínimo, o triplo do orçamento previsto para a parceria, se procurasse desenvolver o projeto
de forma autônoma (108). No que diz respeito à Índia, encontra-se em tramitação na Câmara
dos Deputados a homologação do Acordo Militar com o Brasil, o Projeto de Decreto
Legislativo 1393/04 da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, que prevê
cooperação nos campos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico e aquisição de
equipamentos bélicos (109).

8.7 Eliminação de barreiras comerciais

Como mencionado no item 5.3, o artigo nº 190 do Decreto nº 3.665/2000 (79)


estabelece reserva de mercado para empresas que forneçam produtos estratégicos de defesa.
48

Entende-se que a eliminação dessa reserva de mercado possa ser considerada, pois poderia
atuar como óbice à exportação de material para países que se julgassem prejudicados. Essa
barreira comercial parece desnecessária, pois o artigo nº 24 da Lei nº 8666 de 1993 (110),
modificada pela Lei nº 11.196 de 2005 (111), estabelece a dispensa de licitação “para o
fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no país, que envolvam,
cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional”. Com base nessas leis, as
Forças Armadas poderiam, a seu critério, dar preferência à obtenção de produtos estratégicos
no Brasil, sem que houvesse uma barreira comercial estabelecida por lei.
Quanto ao material não estratégico, como armas e munição de uso civil, as
barreiras tarifárias para importação são relativamente elevadas, situando-se em torno de 20%
no âmbito do Mercosul (112). A redução dessas tarifas de importação, em decorrência da
eventual aceleração do processo de globalização da economia, poderia comprometer ainda
mais a competitividade de determinados produtos da BID no mercado nacional, já afetados
pelo “Custo Brasil”, conforme citado no item 5.3.
Considera-se que, apesar disso, a intensificação da globalização poderia ser
benéfica para a Indústria de Defesa Nacional, pela redução das barreiras tarifárias de outros
países à importação de produtos brasileiros, pois o potencial de negócios no mercado externo
é significativamente maior que no interno e, segundo Kume e Piani (113), o índice de
“Vantagem Comparativa Revelada Simétrica”, que indica a competitividade de um setor da
economia no mercado internacional, é um dos mais elevados no caso da nossa indústria de
armas e munição. Nesse caso, o aspecto desfavorável AD5 seria, provavelmente, compensado
pelo incremento do aspecto favorável AF1.
Mesmo com esse provável benefício, creio que não seja atualmente necessária
uma ação estratégica voltada à negociação de alíquotas de importação aplicáveis a produtos
de defesa com outros países e blocos econômicos, tendo em vista a relativa facilidade
encontrada pelas empresas nacionais para exportação de material, sob as condições vigentes.
O risco de prejudicar a competitividade de alguns itens da BID no mercado nacional não
parece justificar-se, ao menos no momento.

8.8 Consolidação da indústria de defesa

A consolidação da BID em um grande grupo empresarial privado, embora pudesse


fortalecê-la, não seria capaz de torná-la competitiva em relação aos grandes grupos
transnacionais, a ponto de minimizar o aspecto desfavorável AD2, pois, mesmo consolidada,
49

haveria uma grande diferença de faturamento total em relação ao desses grupos. Essa
alternativa, que exigiria possivelmente financiamento de banco estatal, deixa de ser
considerada, pela diretriz D3, assim como uma eventual iniciativa de criar-se uma empresa
estatal para controle da BID, com funções similares às exercidas pela Armscor na África do
Sul, pela diretriz D4.

8.9 Validação das ações propostas

Para validação das ações estratégicas a serem propostas, com intuito de evitar a
sugestão de atividades já analisadas e consideradas inadequadas pelo Governo, solicitou-se
uma visita à SELOM. Assim, realizou-se uma entrevista com o Diretor do Departamento de
Logística (DEPLOG) da SELOM, Brigadeiro-do-Ar José Roberto Scheer, em 27 de abril de
2006, com base no roteiro do APÊNDICE A, no qual foram incluídas as respostas para as
perguntas formuladas. Com base nessa entrevista, verificou-se que:
a) A transferência de serviços de manutenção para a BID não está sendo
considerada pelo MD, por entender-se que tal atividade é da competência dos
Comandos das Forças Singulares;
b) Não está em estudo a alteração da forma de gestão da IMBEL e FAJCMC;
c) Não há, atualmente, ações do MD para que a BID participe de programas
internacionais para desenvolvimento de meios;
d) Há entendimentos para o aumento da cooperação militar entre o Brasil, Índia e
África do Sul, sob coordenação da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos
Internacionais (SPEAI) do MD;
e) A legislação referente à importação de material bélico é considerada adequada
para as necessidades das Forças Armadas;
f) Não há estudo em andamento para consolidação da BID, que, no entender do
MD, deverá ser uma iniciativa da própria indústria de defesa.
Foi verificado junto à SPEAI, de forma informal, a situação da cooperação militar
entre Brasil, África do Sul e Índia. Verificou-se que o MD é responsável pelos entendimentos
na área de defesa do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS), já tendo ocorrido
uma reunião entre os Ministros da Defesa desses países em fevereiro de 2004, em Pretória,
sendo prevista a realização da segunda reunião em 2006. O IBAS, criado em 2003, é um
fórum para tratar de assuntos referentes ao desenvolvimento econômico e social, no qual são
também exploradas possibilidades de parcerias na área de ciência e tecnologia (114).
50

Pelas informações obtidas no MD, pode-se verificar que as ações estratégicas


propostas nesta monografia não estão em desacordo com o entendimento desse ministério
sobre a forma de estimular a BID, embora algumas das ações propostas não tenham sido
consideradas da sua área de competência.
Assim, apenas a sugestão para revisão da legislação para importação de material
de emprego militar, eliminando-se a proteção prevista no Decreto nº 3.665/2000 (79) para o
material de defesa estratégico, deixou de ser considerada, tendo em vista que o MD foi
enfático quanto à adequação da legislação atual.
51

9 CONCLUSÃO

Esta monografia, como exposto em sua introdução, teve como propósitos a


identificação dos efeitos do processo de globalização na Indústria de Defesa Nacional e a
determinação de ações estratégicas para o aproveitamento desse processo em benefício do
País.
No que se refere aos efeitos da globalização, verificou-se que estes foram, em
geral, positivos, sobretudo em função da exportação de material, que foi responsável pela
sobrevivência de parte do setor industrial de defesa, após seu apogeu na década de 80.
Atualmente, há participação de grupos estrangeiros em companhias nacionais e algumas
empresas brasileiras, como a Embraer e a Taurus, começam a se estabelecer no exterior. Por
outro lado, alguns dos aspectos negativos da globalização se evidenciaram, e, principalmente,
a visão prospectiva da evolução da nossa indústria de defesa não é promissora. A ação
governamental, que teve participação direta no desenvolvimento das principais empresas
fornecedoras de material de emprego militar, será novamente importante para assegurar a
expansão da BID, conforme previsto na PDN.
Essa necessidade de participação governamental determinou o estabelecimento da
PNID pelo MD, atribuindo à SELOM a missão de estabelecer as ações estratégicas para
implementação dessa política, cumprida, em abril desse ano, pela emissão de portaria
ministerial. Algumas das ações estabelecidas se relacionam à exportação de material e à
competitividade da BID no comércio internacional, indicando que a estratégia do Governo
inclui o aproveitamento do processo de globalização da economia.
No decorrer da análise das ações estratégicas para desenvolvimento da BID, o
segundo propósito desta monografia, verificou-se a possibilidade de considerar-se novas
ações, em complemento àquelas já estabelecidas pelo MD. Assim, levando-se em conta a
situação da indústria de defesa no mundo e as políticas governamentais em vigor, entendo que
as seguintes ações estratégicas adicionais possam também ser apreciadas:
a) Transferência para a indústria privada dos serviços de reparo e revisão geral de
meios e equipamentos atualmente realizados em OMPS, Parques de Material
Aeronáutico e Arsenais;
b) Privatização ou estabelecimento de contrato de gestão privada na IMBEL e
FAJCMC;
c) Melhor detalhamento do offset a ser buscado por ocasião da realização de
52

contratos para obtenção ou modernização de meios, sob a coordenação do MD,


priorizando os relacionados à nacionalização de serviços de manutenção e à
contrapartida comercial;
d) Opção preferencial pela participação em programas multinacionais para
desenvolvimento de meios, com ênfase na busca de parcerias com países com
grau de desenvolvimento tecnológico similar ao do Brasil, como África do Sul
e Índia.
Por fim, dois aspectos referentes às ações estratégicas sugeridas merecem
destaque e foram deixados para o término da monografia, de forma a assegurar-lhes a devida
ênfase. O primeiro é que as ações sugeridas podem ser tomadas no âmbito das Forças
Armadas, o que lhes confere uma maior chance de sucesso. O segundo é que o tradicional
conceito de desenvolvimento da indústria de defesa a qualquer custo, tendo em vista o seu
valor estratégico, é uma linha de ação que deixou de passar por qualquer análise de
exeqüibilidade, em virtude da redução dos orçamentos das Forças Armadas. As novas ações
estratégicas sugeridas consistem na alteração de procedimentos administrativos e de
prioridades para aplicação de recursos, sem necessariamente acarretarem maiores despesas.
Quanto às três questões levantadas na introdução, que serviram de motivação para
o desenvolvimento deste trabalho, suas respostas se tornaram claras ao longo do texto. Nossa
indústria poderá sobreviver, competindo com os grandes grupos transnacionais? A resposta é
sim, a sobrevivência é possível, não pela competição, mas pela formação de parcerias, como
tem sido a tendência mundial. Há benefícios no envolvimento de nossas empresas no processo
de globalização? Certamente que sim, pois sem um mercado interno com demanda contínua, a
exportação de material de emprego militar torna-se obrigatória, e a globalização crescente da
economia nos favorece. Finalmente, há maneiras de o Estado intervir nesse processo, de
forma a torná-lo compatível com a PDN? Sim, uma intervenção que foi feita historicamente e
que se torna cada vez mais importante.
53

REFERÊNCIAS

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101 ITAMARATY analisa veto americano à Embraer. Folha de São Paulo, São Paulo, 15
jan. 2006. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/seleca
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102 BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria Normativa n. 586/Md de 24 de abril de 2006.


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103 BRASIL. Ministério da Defesa. Apresenta informações sobre o Centro de Certificação,


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104 BRAUER, Jurgen; DUNNE, J. Paul. Arms Trade Offsets and Development. Bristol:
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105 FRANCO-ITALIAN FREMM Multi-Role Frigate Project Formalized. Defense Industry


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106 CHILE y Argentina Inician Proyecto de Construcción Naval. Crónica Digital, Santiago,
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107 DENEL LIMITED. Denel Seeks Collaboration with Brazilian Industry. Defense-
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108 CTA coordena projeto de novo míssil com a África do Sul. Defesa@net, Brasil, 25 fev.
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109 TELLES, Oscar. Finanças aprova acordo militar entre Brasil e Índia. Brasília: Agência
62

Câmara, 12/01/2005. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/agencia/mater


ias.asp?pk=80081>. Acesso em: 17 abr. 2006.

110 BRASIL. Lei n. 8.666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/casaciv
il/site/static/le.htm>. Acesso em: 14 maio 2006.

111 BRASIL. Lei n. 11.196 de 21 de novembro de 2005. Altera a Lei n. 8.666 de 21 de


junho de 1993 entre outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/
casacivil/site/static/le.htm>. Acesso em: 14 maio 2006.

112 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de


Comércio Exterior. Apresenta a Tabela de Tarifa Externa Comum. Disponível em:
<http://www.mdic.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/tec/apresentacao.php>. Acesso
em: 28 jul. 2006.

113 KUME, Honório; PIANI, Guida. ALCA: Uma Estimativa do Impacto no Comércio
Bilateral Brasil-Estados Unidos. Brasília: IPEA, dez. 2004. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/pub/td/2004/td_1058.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2006.

114 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Apresenta informações sobre o IBAS.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/ibas/portugues/indexpt.htm>. Acesso em: 30
abr. 2006.
63

APÊNDICE A - Entrevista com o Diretor do DEPLOG

1. Propósito

Obter informações para elaboração de monografia sobre o tema “Efeitos da


Globalização na Indústria de Defesa Nacional”, para o Curso de Política e Estratégia
Marítimas, da Escola de Guerra Naval.

2. Justificativa para Solicitação da Entrevista

O envolvimento da Base Industrial de Defesa (BID) no processo de globalização


da economia é previsto na Política de Defesa Nacional (PDN) e na Política Nacional da
Indústria de Defesa (PNID), conforme indicado a seguir:
- “A integração regional da indústria de defesa, a exemplo do Mercosul, deve ser
objeto de medidas que propiciem o desenvolvimento mútuo, a ampliação dos
mercados e a obtenção de autonomia estratégica” - Orientação Estratégica 6.10
da PDN;
- “Além dos países e blocos tradicionalmente aliados, o Brasil deverá buscar
outras parcerias estratégicas, visando a ampliar as oportunidades de
intercâmbio e a geração de confiança na área de defesa” - Orientação
Estratégica 6.11 da PDN;
- “Para a consecução do objetivo geral da PNID, concorrem os seguintes
objetivos específicos [...] aumento da competitividade da BID brasileira para
expandir as exportações” - Objetivo Específico VI do artigo 4º da PNID.
A entrevista é considerada importante para o desenvolvimento da monografia,
pois o levantamento de dados já realizado indica que a SELOM poderá influenciar no
processo de globalização da BID, tendo em vista que:
- De acordo com o artigo 6º da PNID, “a responsabilidade pela coordenação da
elaboração das ações estratégicas decorrentes da PNID cabe à SELOM, bem
como a preparação do programa de trabalho, com avaliação anual, contendo
metas e prazos”;
- O SELOM é membro permanente da Comissão Militar da Indústria de Defesa
(CMID), criada pela Portaria 611/MD de 12/05/2005. De acordo com o
64

artigo 4º dessa Portaria, compete à CMID estudar, dentre outros, assuntos


relativos à “política de fomento à produção e à exportação de produtos de
defesa” e “condições para o incentivo da contrapartida comercial (OFFSET)”;
- O SELOM participa do Fórum da Indústria de Defesa (FID), com
representantes das indústrias, federações e associações ligadas à área de defesa,
e, portanto, tem conhecimento das necessidades e perspectivas de
desenvolvimento da Indústria de Defesa Brasileira.

3. Perguntas ao SELOM

a) Decreto nº 3.665 de 20/11/2000 estabelece a necessidade de solicitação de


licenças para importação e exportação de material de emprego militar, que são concedidas
pelo Exército Brasileiro. O artigo nº 190 deste Decreto define que “o produto controlado que
estiver sendo fabricado no país, por indústria considerada de valor estratégico pelo Exército,
terá sua importação negada ou restringida, podendo, entretanto, autorizações especiais ser
concedidas, após ser julgada a sua conveniência”. Por sua vez, a Lei nº 9.112 de 10/10/1995,
alterada pela Medida Provisória no 2.216-37 de 31/08/2001, aparentemente se destina a
registrar os esforços do país para evitar a proliferação de armas de destruição em massa. A
última versão da lista de material sujeito à controle de exportação, divulgada pela Portaria
Interministerial MCT/MD nº 631 de 13/11/2001, é ainda um pouco mais abrangente que a
lista do Decreto nº 3.665, incluindo itens como veículos de combate, navios militares,
foguetes, mísseis, torpedos, bombas, minas, metralhadoras e fuzis, pistolas de calibre 9 mm
ou .45. Há alguma intenção da SELOM em propor a alteração dessa legislação,
simplificando-a ou eliminando barreiras para importação de material bélico?

Resposta: Não se vislumbra a intenção de propor alteração no mencionado


decreto, tendo em vista que o mesmo não cria nenhuma barreira ou dificuldade para a
importação de material bélico. Deve ser salientado que as Forças Armadas têm total
autonomia para importar material bélico de qualquer natureza, não necessitando de
autorização do Comando do Exército para tal, conforme previsto no parágrafo 2o do Art. 183
do Decreto 3.665.

b) O artigo 5º da PNID, que contém orientações para estímulo da BID, estabelece


que “as ações estratégicas devem ser indutoras, sem retirar da indústria sua capacidade de
65

empreendimento, sua iniciativa e seus próprios riscos” e que “as empresas públicas devem
desempenhar suas atividades em complemento às de caráter privado, evitando a concorrência
com estas últimas”. Essas orientações podem ser interpretadas como uma preferência pela
privatização da BID. Esta interpretação esta correta? Há algum estudo em andamento para a
privatização ou gestão privada da IMBEL e da Fábrica Alte. Jurandyr da Costa Müller de
Campos (FAJCMC), apesar do insucesso da MB na tentativa de gestão privada da FAJCMC
pela empresa FI - Indústria e Comércio S/A?

Resposta: Não, não há qualquer idéia a esse respeito. A PNID tem como
macro-objetivo fortalecer a BID, que é constituída por empresas privadas e públicas. A
interpretação é a de que a indústria de defesa é um negócio com características próprias que
deve estar nas mãos daqueles que entendem de negócios para que possam sobreviver e crescer
de forma sustentável. É certo que as Forças Armadas são capazes de gerenciar uma indústria,
mas esse não é o seu negócio, embora deva ter em vista que é imprescindível manter um
parque industrial nacional de material de defesa para que, em momentos de necessidade, sua
capacidade operacional não seja afetada pela excessiva dependência de meios importados.
Alie-se a isso os baixos orçamentos com os quais são contempladas as Forças Armadas que
dificultam os investimentos e as obrigam a concentrar seus esforços na gerência de recursos
necessários a sua vida vegetativa, ou seja, no custeio. Assim, uma empresa de material de
defesa, para sobreviver e crescer no Brasil, não pode prescindir das aquisições das Forças
Armadas e deve manter capacidade exportadora ou de produção de bens duais, perfil que
melhor se adapta a empresas de defesa da iniciativa privada. Com relação à privatização ou
gestão privada da IMBEL e FAJCMC, não é do conhecimento a existência de estudos para
que isso aconteça. A publicação da recente Portaria Normativa no 586/MD, de 24 de abril de
2006, que aprova as Ações Estratégicas, demonstra, de forma clara, a motivação de intenções
elencadas para os mais diversos segmentos da sociedade, visando ao fortalecimento da sua
BID, como fator de notável importância estratégica para o País.

c) Observa-se uma tendência mundial de consolidação das indústrias de defesa e


de aumento do percentual de suas atividades junto ao mercado civil, para melhorar as chances
de sobrevivência, em caso de redução de demanda em determinado setor. A empresa EADS
foi criada em 2000, reunindo indústrias da França, Alemanha e Espanha, e, nos Estados
Unidos, houve consolidação da indústria aeroespacial em três grandes empresas: Lockheed
Martin, Northtrop Grumman e Boeing. Há algum estudo para a consolidação de indústria de
66

defesa no âmbito do Brasil ou da América do Sul?

Resposta: Não é do conhecimento da SELOM qualquer estudo para a fusão de


indústrias de defesa no âmbito do Brasil ou da América do Sul. As empresas se fundem para
garantir, mutuamente, a sobrevivência e o crescimento. As grandes querem garantir a
sobrevivência de seus fornecedores menores para manter seus produtos com qualidade e
preços competitivos, conquistando e/ou consolidando uma posição de mercado e, até mesmo,
expandindo-se. As pequenas querem obter um plano de carga que viabilize a sua existência e
sustentabilidade, vendo na fusão a garantia de uma demanda consolidada. De qualquer forma,
isso é uma decisão empresarial que requer grande sensibilidade, particularmente no mercado
de defesa de um país onde há pouco apoio específico do Governo Federal para esse nicho
mercadológico, o que se assim o fosse poderia dar suportabilidade a tal decisão.

d) Os novos programas de desenvolvimento de aeronaves e de navios de guerra


são multinacionais, para reduzir os riscos e assegurar uma escala mínima de fabricação. Como
exemplos, podem ser citados os programas das aeronaves Eurofighter (Alemanha, Itália,
Espanha e Reino Unido) e Joint Strike Fighter (Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Canadá,
Dinamarca, Holanda, Noruega, Turquia e Austrália), o programa CVF para a nova classe de
porta-aviões do Reino Unido (Reino Unido e França), o programa FREMM para fragatas de
multiemprego (Itália e França) e o programa PAM de navios de patrulha (Argentina e Chile).
Os programas de construção na MB, no entanto, permanecem como programas nacionais,
com a MB como única cliente, como no caso das Corvetas Classe Inhaúma e do projeto de
submarinos, enquanto que o estímulo à indústria aeroespacial tem sido feito essencialmente
por cláusulas de compensação comercial (“offset”), em grandes contratos de obtenção de
aeronaves. Há algum estudo direcionado ao aumento da participação da MB em programas
internacionais de construção de navios ou aeronaves, nos quais a indústria nacional seria
estimulada pelo fornecimento de parte do material empregado nesses meios, a serem
fabricados em grande número?

Resposta: A SELOM não dispõe de informações a esse respeito. Sugere-se


consultar o Comando da Marinha.

e) Verificou-se que a Empresa Nacional de Aeronáutica de Chile (ENAER) presta


serviços de manutenção para as Forças Armadas do Chile, e que o Reino Unido cogita a
67

utilização de contratos de manutenção de aeronaves com as empresas que as fabricaram. Há


algum estudo em andamento para a transferência dos serviços de 3º Escalão atualmente
realizados em OMPS, Parques de Material Aeronáutico e Arsenais para a indústria de defesa,
como forma de estímulo?

Resposta: Não, não há qualquer estudo a respeito do assunto. O Ministério da


Defesa se ocupa da logística estratégica, ou seja, do provimento das necessidades que são
supridas por meio de atividades desenvolvidas na Zona do Interior, ou seja, estabelecimento
de políticas, diretrizes, preparação e emprego da BID, etc. É também preocupação do
Ministério da Defesa a articulação da logística da Zona do Interior com a do Teatro de
Operações, onde se desenrolam as ações de níveis operacional e tático. As Forças Singulares
são inteiramente responsáveis pela administração dos seus orçamentos e de como desenrolar-
se-ão os apoios aos seus meios que serão empregados em caso de conflito armado, ou seja,
decidem como empregam e como empregarão esses meios no nível operacional e tático, em
obediência aos planos combinados. Portanto, não está na alçada do Ministério da Defesa
decidir sobre isso, embora políticas indutoras possam ser expedidas, após discussões dirigidas
com as Forças Singulares. De qualquer forma, a Força Aérea vem utilizando, há alguns anos
os serviços de manutenção de células, motores e equipamentos, de nível Parque, para algumas
aeronaves, em empresas privadas. Como exemplo, podem ser mencionados o VU-55 LEAR
JET, o VC-96 BOEING 737-200 e, atualmente, também para o VC-1A AIRBUS A-319, do
Grupo de Transporte Especial, visando a otimizar suas necessidades e dentro da sua política
de atuação. Quanto à Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro, não se têm notícias deste tipo
de serviço.

f) Verificou-se que a África do Sul possui tecnologia própria para a fabricação de


mísseis e helicópteros e que a Índia possui projetos de aeronaves de combate e um programa
para construção de um submarino nuclear. O programa indiano da aeronave LCA parece ser
de particular interesse da MB, pois a aeronave, em princípio, poderia operar no NAe São
Paulo. Como esses programas são custeados por empresas estatais, é possível que nossa
indústria possa participar dos mesmos, sem a necessidade de grandes investimentos. Há
algum estudo para utilização de acordos de cooperação militar, para que as empresas
brasileiras possam participar desses programas?

Resposta: Existe um GT com a participação da SPEAI sobre o IBAS. Sugiro


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contato com aquela Secretaria.

g) Há alguma perspectiva de aumento da capacidade de investimento do País em


programas de reaparelhamento das Forças Armadas?

Resposta: Há um grande interesse por parte da BID para que haja um orçamento
impositivo por parte do Governo Federal para reaparelhar e manter atualizados os
equipamentos das Forças Armadas. Como pode ser visto na Portaria Normativa no 586/MD,
de 24 de abril de 2006, que aprova as Ações Estratégicas, dentre outros que estão diretamente
direcionados para o tema, este assunto merece atenção especial, pois é entendimento que,
dessa maneira, a BID poderá planejar a médio e longo prazos, manter seu parque industrial
efetivo, garantir competitividade e fomentar suas pesquisas para o desenvolvimento de novos
produtos, tanto para as próprias FA, como para concorrer com o mercado externo.

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