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Instituto Homeopático Jacqueline Peker

Relato de caso: Acupuntura na leishmaniose canina (Recuperação


de quadro de anemia severa.)

Lóren de Fátima Mendes

Belo Horizonte – MG

2011
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Lóren de Fátima Mendes

Relato de caso: Acupuntura na leishmaniose canina (Recuperação de quadro de


anemia severa.)

monografia para conclusão


do Curso de Especialização em
Acupuntura Veterinária
Apresentada ao Instituto Homeopático
JacquelinePeker

Orientador: Leonardo Rocha Vianna

Belo Horizonte – MG

2011
2

“Embora o Senhor te dê pão da adversidade e a água da aflição, contudo não se esconderão mais os
teus mestres, os teus olhos verão os teus mestres.”

“Que te desvies para a direita, que te desvies para a esquerda, teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma
palavra, dizendo: Este é o caminho, anda por ele.”

Isaías 30:20-21
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Resumo

A leishmaniose é fonte de grandes discussões pela alta incidência no país. O presente relato traz o uso
da acupuntura como auxilio ao tratamento alopático na tentativa de reverter uma das principais
sintomatologias da doença, a anemia, reflexo das varias lesões provocadas pelo parasito à medula e
aos rins. No tratamento com acupuntura os pontos escolhidos VG14, B20, E36 foram tonificados com
moxabustão. Outros pontos foram acrescentados mediante a inspeção, língua, pulso, sintomatologias
descritas pelo proprietário avaliadas diariamente. A resposta ao tratamento foi positiva tendo um
progressivo aumento do hematócrito chegando a 158% três meses após o inicio das sessões.

Palavras chave: acupuntura, anemia, leishmaniose, moxabustão


4

Sumário

Resumo........................................................................................................................................3
1. Introdução ............................................................................................................................... 7
2. Revisão de literatura ............................................................................................................... 7
2.1. Leishmaniose Visceral Canina ................................................................................................. 7
2.1.1. Epidemiologia................................................................................................................. 7
2.1.2. Ciclo e sintomas da Leishmaniose Visceral Canina (LVC) ................................................. 9
2.2. Anemia na Medicina Ocidental ............................................................................................ 11
2.3. Anemia na Medicina Chinesa ..................................................................................................14
3. Tratamento ...............................................................................................................................16
3.1. Tratamento pela Medicina Ocidental .....................................................................................16
3.2. Tratamento pela MTC ............................................................................................................16
4. Relato de Caso .........................................................................................................................19
5. Conclusão .................................................................................................................................22
6. Referências bibliográficas --------------------------------------------------------------------------------------23
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Lista de figuras

Figura 1 Distribuição de casos autóctones de Leishmaniose visceral segundo município, Brasil 2002 ..8
Figura 2 Cão com sinais clinicos de LVC ............................................................................................. 10
Figura 3 Ciclo de Leishmaniose.......................................................................................................... 11
Figura 4 Causas de palidez de mucosa (Ettinger, et al 1992) .............................................................. 13
Figura 5 Formação de Qi e Xue (Ross, 1994) ...................................................................................... 15
Figura 6 Cadela Janes 5 meses após o inicio do tratamento com acupuntura em 13/10/2011 ........... 22
6

Lista de Tabelas

Tabela 1- Casos de Leishmaniose Visceral no Brasil - 1990 a 2010 .......................................................8


Tabela 2- Espécie de Leishmania e principais reservatórios .................................................................9
Tabela 3- Função das substâncias e principais órgãos associados ...................................................... 14
Tabela 4- Alguns dados hematológicos antes e após inicio das sessões de acupuntura da cadela Janes
......................................................................................................................................................... 21
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Introdução

A leishmanise visceral atualmente atinge 21 unidades federativas e as 5 regiões brasileiras. Fonte de


grande preocupação em diversos municípios nota-se uma falta de controle por parte dos órgãos
públicos que se preocupam com métodos ineficazes de combate e não estimulam a produção científica
e atualização dos profissionais envolvidos.

A Leishmania sp. parasita macrófagos, célula do sistema fagocitário presente em todo o organismo;
por conseqüência lesa vários tecidos sendo os mais afetados o baço, o fígado, os rins, medula óssea e
pele, essas lesões advêm da ocupação do espaço funcional ou deposição de imunocomplexos.

Apesar dos problemas jurídicos envolvendo o tratamento da Leishmaniose, este é realizado por muitos
veterinários que discutem justamente a ineficácia de métodos como a eutanásia. Diante desse quadro,
o controle do parasito através de medicamentos faz-se necessário e a medicina complementar é
utilizada para harmonizar e dar condições para a recuperação de lesões já instaladas.

A anemia é uma das conseqüências dessa infecção e que muitas vezes, dependendo da intensidade,
não se consegue resposta ao tratamento, tanto pela medicina ocidental quanto oriental, mas, visto a
gravidade, aliar os dois métodos aumenta as chances de recuperação.

A Medicina Tradicional Chinesa é utilizada em animais há mais de 3500 anos, traz uma visão
holistica, alcança níveis que nossa medicina moderna ocidental não alcança devido à sua fragmentação
e direcionamento sintomático. A MTC consegue uma abordagem mais abrangente e holística
(Schwartz, 2008), visto que todos os seres são integrais e complexos como uma grande teia.

2- Revisão de literatura

2.1 – Leishmaniose Visceral Canina


2.1.1 - Epidemiologia

Atualmente a Leishmaniose Visceral está distribuída em 21 unidades federativas atingindo as 5


regiões brasileiras. (MS, 2007) Nas duas últimas décadas as características rurais, até então observadas
e descritas pelo ministério da saúde, foram modificadas, a doença tomou proporções e avançou para o
meio periurbano destacando os surtos ocorridos na última década nas cidades do Rio de Janeiro (RJ),
Belo Horizonte (MG), Araçatuba (SP), Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina(PI), Natal (RN), São
8

Tabela 1- Casos de Leishmaniose Visceral no Brasil - 1990 a 2010

Luís (MA), Fortaleza (CE), Camaçari (BA) e mais recentemente as epidemias ocorridas nos
municípios de Três Lagoas (MS), Campo Grande (MS) e Palmas (TO).

Figura 1- Distribuição de casos autóctones de Leishmaniose visceral segundo município, Brasil 2002
9

A constante urbanização da leishmaniose vem modificando as características de uma doença


distribuída nas áreas rurais e periferias, de baixo nível sócio econômico e poucas condições de higiene,
essa modificação pode provavelmente ser atribuída ao crescente processo migratório, esvaziamento
rural reduzindo o espaço ecológico da doença. (MS, 2007)

2.1.2 - Ciclo e sintomas da LVC (Leishmaniose Visceral Canina)

O agente etiológico são protozoários tripanossomideos, do gênero Leishmania, a espécie mais comum
isolada nos casos de LVC é Leishmania chagasi (Noli e Auxilia, 2005). O protozoário é parasita
intracelular obrigatório do sistema fagocitário mononuclear dos vertebrados na forma amastigota e
passando por fase promastigota no sistema digestivo dos invertebrados transmissores. (MS, 2007)

Os cães, raposas e marsupiais são reservatórios. No meio urbano destaque para a importância dos cães
já que estes tem se mostrado mais prevalentes que o homem. (MS, 2007)

Os principais vetores são os flebotomideos Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. Entretanto, o


carrapato tem sido cogitado por alguns autores. Além de vetores outras hipóteses de transmissão têm
sido cogitadas como mordeduras e cópula. (MS, 2007)

Tabela 2- Espécie de Leishmania e principais reservatórios

Especie de Leishmania envolvida Principais reservatórios


Leishmania chagasi Cão (Canis familiaris) área urbana, raposa e
marsupiais no ambiente silvestre.
Leishmania brasiliensis Animais domésticos: cães, eqüinos, roedores
domésticos e sinantropicos.
Leishmania guyanensis Classe dos desdentados e marsupiais.
Leishmania naiffi Tatu
Leishmania shawi Animais silvestres como macacos, preguiças e
procionídeos.
Leishmania lainsoni Paca como animal suspeito
Leishmania amazonensis Roedores e marsupiais.
ADAPTADO DE GONTIJO e CARVALHO, 2003; MS, 2000)..

O período de incubação é bastante variável tanto no homem, quanto no cão; um cão pode levar de 2 a
12 meses para apresentar sintomas, em cães infectados experimentalmente foi observado período de
incubação de até 25 meses. (Oliveira et al., 1993)
10

Classicamente a Leishmaniose Visceral Canina (LVC) apresenta lesões cutâneas, principalmente


descamação e eczema, em particular no espelho nasal e orelha, pequenas úlceras rasas, localizadas
mais freqüentemente ao nível das orelhas, focinho, cauda e articulações e pêlo opaco. Nas fases mais

(Almeida, 2006) Fotos do curso de pós-graduação Qualittas/aula prática/Módulo de Dermatologia

Figura 2- Cão com sinais clínicos de LVC

adiantadas da doença, observa-se, com grande freqüência, onicogrifose (crescimento exagerado das
unhas), esplenomegalia, linfoadenopatia, glomérulo nefrite, alopecia, dermatites, úlceras de pele,
ceratoconjuntivite, coriza, apatia, diarréia, hemorragia intestinal, edema de patas e vômito, além da
hiperqueratose. Na fase final da infecção, ocorre em geral a paresia das patas posteriores, caquexia,
inanição e morte. Entretanto, cães infectados podem permanecer sem sinais clínicos por um longo
período de tempo. (Ettinger, et al 1992)

A insuficiência renal é decorrente da glomérulo nefrite intersticial oriunda da deposição de


imunocomplexos. (Feitosa, 2006)
11

Figura 3- Ciclo de Leishmaniose

Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Leishmaniasis_life_cycle_diagram-es.svg

2.2 Anemia na Medicina Ocidental

A anemia é uma condição de deficiência de sangue seja por hemorragia, seja por destruição celular ou
deficiência na sua produção. (Figura 4)

Na LVC temos como causa mais significativa da anemia a diminuição na produção das células
sanguíneas por dois mecanismos prováveis, a insuficiência renal levando a redução na produção de
eritropoietina e a própria Leishmania sp na medula reduzindo e até comprometendo sua função.

As células tronco são responsáveis pelo constante reabastecimento dos componentes celulares do
sangue, com a sua falência, citopenias e suas manifestações clinicas são esperadas. A falência das
células tronco pode ser resultado de vários processos patológicos incluindo danos causados por drogas
ou toxinas, doenças imunomediadas, agentes infecciosos, estimulação insuficiente de citocinas e
fatores de crescimeto, ou alteração do nicho das células tronco (isquemia, inflamação, etc.) (Jain,
2010) A Leishmania sp, parasita intracelular obrigatório, multiplica-se dentro dentro do sistema
linforeticular. (Kontos, 1993)
12

A eritropoietina é o principal hormônio regulador da eritropoiese. É produzido pelos fibroblastos


peritubulares intersticiais dos rins nos animais adultos. Uma pequena quantidade de eritropoietina é
produzida no fígado durante a anemia. É a concentração de oxigênio nos tecido que regulariza a
produção de eritropoietina. (Jain, 2010) Na LVC pode ocorrer o comprometimento renal devido à
deposição de imunocomplexos nos glomérulos levando a glomerulonefrite membranoproliferativa e
nefrite intersticial. (Lopes et al., 1996)

O reticulócito é uma célula precursora eritroide, em muitas espécies é a primeira a migrar da medula
óssea para a corrente sanguinea, como é o caso do cão, em outras como em vacas e ovelhas só é
possível observá-las no sangue durante a resposta regenerativa. (Jain, 2010) Em cães, podemos utilizar
o reticulocito como chave para definir a resposta medular. As anemias regenerativas são aquelas onde
há resposta satisfatória da medula óssea. A anemia pouco regenerativa é aquela onde há uma
diminuição na resposta a estímulos. E, finalmente, as arregenerativas onde não se observa resposta aos
estímulos medulares devido a falta de precursores eritroides na medula. (Carneiro, 2004)
13

2.3- Anemia na Medicina Chinesa

Figura 4- Causas de palidez de mucosa (Ettinger, et al 1992)


14

2.3. Anemia de acordo com a MTC (Medicina Tradicional Chinesa)

O sangue (Xue) na Medicina Tradicional Chinesa é uma forma de Qi muito denso e material. O Qi e
Xue são inseparáveis, Qi é que dá vida a Xue. (Maciocia, 1996.) Sua principal função assim como na
medicina ocidental, é a nutrição dos tecidos corporais.

Tabela 3- Função das substâncias e principais órgãos associados

Substancia Principal órgão Funções Distribuição


(Zang) associado.
Qi Pulmão (Fei), Rins Move, aquece, Dentro e fora de
(Shen) e transforma, protege, canais (jing luo) e
baço/pâncreas (Pi) retém e nutre vasos (xue mai)
Sangue (xue) Coração (xin), Nutre e umedece. Nos vasos (xue mai)
fígado(Gan) e e canais (jing luo)
baço/pancreas (Pi).
Liquidos orgânicos Rins (shen), pulmão Umedece e nutre. Pelo corpo todo
(jin ye) (Fei) e baço/pancreas
(Pi)
Essencia (jing) Rins (shen) Ativa transformações Nos oito canais extra
e controla e no jing luo;
crescimento, armazenado nos Rins
desenvolvimento e (shen).
reprodução.
Espirito (Shen) Coração (xin) Vitaliza o corpo e Reside no coração.
consciência. (xin).
(Ross, 1994)

O sangue (Xue) deriva, na maior parte do Qi dos alimentos (Gu Qi) transformado pelo Baço/Pancreas
(Pi), isto ocorre no Coração (Xin) através da ação impulsora do Qi do pulmão. A essência (Jing)
armazenada pelo Rim (Shen) é que gera a medula e contribui também para formação de Xue.
(Maciocia,1996)

O conceito de deficiência refere-se geralmente quando existem padrões internos crônicos associados
com a debilidade de uma ou mais substâncias e de um ou mais Zang Fu (órgãos e vísceras). (Ross,
15

1994) Se as funções do Baço/Pâncreas (Pi) estão enfraquecidas poderá haver deficiência de energia
(Qi) e sangue (Xue) além de possível estagnação de líquidos orgânicos (Jin ye).

O Baço/Pâncreas (Pi) além de participar da formação de Xue também o governa mantendo-o assim
dentro dos vasos sanguineos. (Ross, 1994)

Figura 5- Formação de Qi e Xue (Ross, 1994)

A desarmonia de qualquer um dos órgãos envolvidos na síntese do sangue (Xue) leva a alteração na
sua formação. Logo, estão envolvidos o Pulmão impulsionando o Gu Qi para o coração, o Baço/
Pâncreas responsável por sua base, o coração governando-o e controlando seu transporte; o Fígado o
armazena; os Rins contribuindo na sua síntese com o Qi Pré Natal.

A deficiência de Xue normalmente origina-se na deficiência de Qi do baço/pâncreas e desencadeia


outros padrões como a deficiência de Fígado e a deficiência de Sangue do Coração. Se o Yang do
Coração for deficiente poderá não impulsionar adequadamente o sangue, logo o Baço/Pâncreas
sofrerá. (Maciocia,1996)

Podemos lembrar também dessas agressões pela teoria dos Cinco Elementos. Estes têm o equilíbrio
quando em harmonia, uma vez que haja o desequilíbrio de um desses elementos outros deixarão
instável esse ciclo. Cada sistema é mantido sob controle pelo outro, nos quadros mais comuns da
origem da anemia, como na deficiência do yang do Baço/Pâncreas, o Baço/Pâncreas também irá falhar
na sua função de controle do Rim desempenhando inadequadamente as funções de excreção dos
fluidos. Se o fogo (mãe) não aquecer a terra (filha) o Baço/Pâncreas falhará na sua função de
transformar e transportar levando a uma deficiência de Xue.

Na MTC a anemia significa deficiência de Xue, mas nem sempre na deficiência de Xue teremos
anemia. Geralmente na Medicina Ocidental quando temos um quadro anêmico não se trata de um fator
primário mas secundário a uma serie de outras patologias, para tanto é necessário fazer todo o
16

diagnóstico com o maior número de elementos (pulso, língua, teoria dos cinco elementos, oito
princípios) e juntos identificar as possíveis desarmonias.

3- Tratamento

3.1- Tratamento pela Medicina Ocidental.

O tratamento pela Medicina Ocidental para a anemia consiste em eliminar a causa primária. No caso
da leishmaniose não há protocolo curativo, apenas um controle do parasito, sem provas de cura
efetiva. A legislação preconiza a eutanásia dos animais portadores, mas tratamentos têm sido
realizados por diversos médicos veterinários, visto que o papel do cão no ambiente familiar transpôs a
categoria de apenas um animal de estimação para se tornar um membro da família envolvendo varias
questões sócio-psicológicas.

Diversos protocolos são instituídos atualmente utilizando um coquetel de drogas. Drogas como a
anfotericina B, também usada no tratamento humano, é utilizada por alguns veterinários em alguns
desses protocolos, essa droga é utilizada também em infecções micóticas, ela rompe a membrana
celular do parasita provocando sua morte.

O glucantine bloqueia o metabolismo do parasito, inibe a síntese de ATP e bloqueia a síntese de DNA.

Um dos mecanismos da aminosidina é inibir a síntese protéica e alterar a permeabilidade plasmática


das células dos parasitos.

Atualmente uma das drogas mais utilizadas nesse tratamento é o Milteforan na dosagem de 2mg/Kg de
peso vivo, uma vez ao dia durante 28 dias. De acordo com a bula, a miltefosina impede a penetração
da Leishmania nos macrófagos. Está disponível apenas na Europa, comercializado para o mercado
veterinário pela Virbac. Ainda não há permissão para entrada legal desse medicamento no Brasil.

Ainda utiliza-se no tratamento, corticóides para evitar a formação de complexos imunes, complexos
vitamínicos, principalmente contendo ferro, a eritropoietina para os casos de anemia causada pela
lesão renal, suportes como protetores gástricos e hepáticos e, o alopurinol conhecido por suas
propriedades leishmaniostáticas.

3.2- Tratamento pela MTC


17

O uso da Medicina Chinesa preconiza a harmonização dos canais energéticos envolvidos. Se a


desarmonia for deficiência de sangue (Xue), estimular os Zang Fu (órgãos e vísceras) envolvidos na
sua produção e aumentar a imunidade.

Alguns pontos escolhidos para tratamento da anemia refletem a necessidade de estimular a produção
do sangue sendo o mais adequado o método de tonificação ou moxa.

A moxibustão é um estímulo no ponto de acupuntura aplicando, para isso, calor. É utilizada nos
padrões de deficiência, vazio, fraqueza para aumentar a energia vital e calor. (Kothbauer, 1990).

O nome de Moxibustão provém do japonês „mogusa‟ (Artemísia seca), por ser esta a erva (Artemisia
vulgaris), envolta em papel ou em cones, a mais utilizada. Estes charutos ou cones são acesos e usados
sobre os pontos de acupuntura. (Becke, 1989)

Auerswald (1982) identificou aumento de hemoglobina e eritrócitos, além de taxas de leucócitos que
se normalizaram após aplicação de moxibustão em tratamento de asma utilizando os pontos VG14,
VG15 e B13.

Alguns pontos que podem ser utilizados:

 E36 (Zusanli) ponto He - para fortalecer a função do Baço/Pâncreas (Pi) e do Estômago


(Wei), a formação e a circulação do Qi e de sangue (Xue), com isso fortalecer tanto a
debilidade digestiva quanto a fraqueza geral do corpo. Fortalece o corpo e a mente em pessoas
muito debilitadas. (Maciocia, 1996)

Localização: Em um aprofundamento lateral a tuberosidade tibial, na base do musculo tibial cranial.

 B20 (Pishu) ponto Shu do Baço/Pâncreas- para promover as funções de transformação e de


transporte do Baço/Pâncreas (Pi) e de eliminar a Umidade e Fleuma através da tonificação.
Uma vez que promove a função de transformar e transportar nutre o sangue já que o
Baço/Pâncreas é sua origem, neste caso geralmente é utilizado com B23. (Maciocia, 1996)

Localização: Uma largura de costela, lateral a extremidade interior do processo espinhoso da 12ª
vértebra torácica.

 VG 14 (Dazhui) Grande Vértebra - Ponto importante de reunião de todos os


meridianos Yang.

De acordo com Maciocia (1996) este ponto pode apresentar efeitos opostos de acordo com o
método de punção. Com sedação é utilizado nos ataques externos de vento-calor. Regulariza o
18

Qi defensivo e o Qi Nutritivo. Elimina o calor interior. Para o interesse do presente relato de


caso, se utilizado com tonificação, em especial a Moxa, pode ser utilizado em qualquer padrão
de deficiência do Yang, em especial o Yang do coração.

Localização: Entre as apófises espinhosas da 7ª vértebra cervical e 1ª torácica na altura da a.


escapular.

Visto que as desarmonias se envolvem em um ciclo, outros pontos, de acordo com a sintomatologia e
métodos diagnósticos, devem ser acrescentados ao longo do tratamento.

 B13 (Feishu) Ponto Shu do pulmão – estimula as funções dispersoras e descendentes do


Pulmão (Fei), regulariza o Qi do Pulmão (Fei), regulariza o Qi defensivo e nutritivo, tonifica o
Qi do Pulmão, interrompe a tosse, elimina o calor.

Localização: um tsun lateral a extremidade inferior do processo espinhoso da 3ª vértebra torácica,


na margem dorsal da escápula.

 B18 (Ganshu) Ponto Shu do Fígado – Ponto do Fígado. Equilibra e fortalece o Fígado e pode
ser usado em todos os desequilíbrios de deficiência de sangue do Fígado. Todos as
deficiências de sangue (Xue) podem ser beneficiadas pela tonificação do sangue do Figado,
Baço/Pancreas e Rim. (Schwartz, 2008)

Localização: Um tsun lateral à extremidade inferior do processo espinhoso da 10ª vértebra torácica.

 B23 (Shenshu) Ponto Shu do Rim- fortalece os Rins (Shen), harmoniza a via das águas
principalmente do aquecedor inferior. (Ross, 1994). Uma vez que participa na formação do
sangue pode ser tonificado na sua deficiência. Beneficia os ossos e a medula. Resolve a
umidade, fortalece a função do Rim (shen) de recepção do Qi. (Maciocia, 1996)

Localização: Uma tsun lateral à extremidade inferior do processo espinhoso da 2ª vértebra lombar.

 BP6 (Sanyinjiao) Ponto de cruzamento dos 3 meridianos Yin – harmoniza o Rim e o Fígado e
fortalece o Baço/Pâncreas.(Ross, 1994). Utilizado com o E36 tonifica o Qi do Sangue (Xue).
Resolve a Umidade. Ponto de encontro dos meridianos do Baço/Pâncreas (Pi), Fígado (Gan) e
Rim (Shen), portanto tem ação sobre todos esses meridianos. Nutre o Sangue e o Yin.
(Maciocia, 1996)
19

Localização: Exatamente atrás da extremidade medial da tíbia, na altura de uma linha vertical da
tuberosidade calcânea (se repartirmos por quatro a linha do côndilo medial ao maléolo medial, assim o
ponto estaria no limite do quarto inferior.

 VG20 (Baihui) Uma centena de unificações – clareia os sentidos e acalma a consciência


(Shen) estabiliza o yang ascendente.(Ross, 1994)

Localização: Partindo perpendicularmente à pele para cima da base posterior da concha acústica para a
linha central da abobada do crânio.

 R3 (Taixi) Fenda mais alta – tonifica o Rim (Shen) em qualquer padrão de deficiência do Yin
ou do Yang do Rim (Shen). Tonifica os ossos, a essência e a medula. (Maciocia, 1996)

Localização: Medial, entre o maléolo medial e a tuberosidade calcânea.

 F3 (Taichong) - É o ponto fonte do meridiano do Fígado. Ajuda a fortalecer o sangue e o Qi,


pode ser utilizado em qualquer deficiência de sangue (Xue). (Schwartz, 2008)

Localização: Medial na extremidade superior do osso metatársico II, visto aqui o 1º dedo não ser
desenvolvido.

De acordo com Lapertosa (2009), que utilizou em um experimento os pontos BP6, E36, B10, B17,
B18, B20, VB39, F8, IG11, P3, VG20 objetivando a estimulação e tonificação do sangue, muitos
desses pontos utilizados no tratamento da cadela Janes, teve como resultado, num período entre
estimulo e coleta de 24 horas, um aumento de 16,1% na contagem de eritrócitos e 41,98% na
leucometria. Isso justifica a utilização da acupuntura em casos de deficiência de sangue (Xue).

4- Relato de Caso

Cadela Janes, SRD, idade indeterminada, aproximadamente 2 anos. Chegou ao consultório em agosto
de 2010, com relato do proprietário de sangue vivo e muco nas fezes. Estado geral bom, normorexia,
normodipsia. Vacina octupla ética em dia. O diagnostico clinico foi giardíase. O hemograma realizado
estava com os resultados dentro dos parâmetros normais, apenas uma tendência para linfocitose. Foi
realizado o tratamento com o uso de associação de sulfa com metronidazol, na dose de 20mg/kg, 2
vezes ao dia, por 5 dias, descanso de 5 dias, retorno com a mesma medicação por mais 5 dias. Nesse
período ocorreu o desaparecimento dos sintomas perdurando por até 7 dias após o ultimo dia do
20

tratamento, quando houve o retorno da manifestação clinica, foi realizado nesse período exame de
fezes que obteve resultado negativo para ovos, larvas de helmintos, cistos e trofozoitos de
protozoários. O proprietário foi então abordado sobre a possibilidade de outra doença estar envolvida,
no caso a leishmaniose então muito discutida no município devido a grande incidência de casos. O
proprietário não realizou o exame solicitado e abandonou o tratamento.

Aproximadamente 2 meses depois houve o retorno ao consultório e então foi realizado exame
sorológico para leishmaniose. Nessa fase Janes já estava com vários sinais clínicos, apesar de comer
normalmente, ocorreu um emagrecimento considerável, escore corporal 2, peso vivo 6,2 kg,
descamação da pele, pelos opacos, linfadenomegalia.

Chegado o exame sorológico o resultado foi definido como Elisa reagente e RIFI 1/40. A proprietária
optou por procurar uma clínica onde poderia ser realizado o tratamento.

No inicio do tratamento foi detectado alterações consideráveis no hemograma, uréia e creatinina,


revelando anemia regenerativa e lesão renal o que dificultaria o tratamento, portanto o prognóstico.

Periodicamente Janes vinha ao consultório para os exames de rotina. O controle, de uréia e creatinina,
foi efetivo e a preocupação tornou-se a constante queda dos valores dos eritrócitos.

Foram realizadas duas tentativas com eritropoietina, cada bloco com aproximadamente cinco
aplicações além de reposição de ferro, mas a queda do hematócrito continuou até alcançar o valor
próximo de 12% (Janes continuava bem clinicamente, se alimentando e ativa.). A veterinária
responsável pelo tratamento da leishmaniose informou a proprietária sobre os danos do protozoário na
medula e reforçou a importância do retorno as terapias complementares, já instituídas e abandonadas
anteriormente. Nessa fase (maio, 2011) as drogas principais para o controle do protozoário e dos
sintomas já haviam sido ministradas (fevereiro, 2011), ficando apenas o alopurinol e o sulfato ferroso.

Retornada às sessões de acupuntura, foi instituída uma modificação no tratamento, anteriormente


realizado apenas com agulha seca. O tratamento com acupuntura utilizando apenas agulha, feito no
inicio do tratamento para leishmaniose, foi de pouca resposta (apenas quatro sessões, sendo uma por
semana.) e de grande incomodo para o animal. A proprietária também se sentiu incomodada com o
estresse do animal e abandonou as sessões. No retorno, quase quatro meses depois, foi utilizada a
moxa. Janes mostrou-se extremamente receptiva e confortável com a técnica facilitando a colocação
de outras agulhas.

O diagnóstico pela Medicina Chinesa através do pulso, palpação de pontos e temperatura, relato do
proprietário sobre comportamento e eventuais sintomas surgidos no período.
21

O quadro clínico refletia deficiência de Xue provavelmente oriunda de um Qi do Baço/Pâncreas que


não governa o Sangue. Além disso, havia uma lesão Renal, que também afeta a produção de Xue.

Foi utilizada moxabustão em 3 pontos: VG14, B 20, E 36 por aproximadamente 5 minutos em cada
ponto a uma distancia de 1 cm. E para casa tratamento com florais de Minas, trabalhando a agitação, o
ciúme, a carência.

O diagnóstico através do pulso foi utilizado constatando com freqüência padrões alterados na posição
do Pulmão, Baço/Pancreas e Rim. Nas primeiras sessões, a posição do Rim era quase que
imperceptível tanto para o Yin quanto para o Yang do rim.

A língua, poucas vezes observada, apresentava palidez, saburra branca fina em toda a sua extensão.

A cor da língua mais pálida, esbranquiçada geralmente é encontrada em casos de Vazio-Frio, Yang Qi
enfraquecido, insuficiência de Xue. (Auteroche & Navailh, 1992)

Outros pontos utilizados durante o tratamento: B23, B18, B14, R3, F3, P5, VG20, BP6 utilizando
agulha.

Os hemogramas foram realizados a cada duas ou três semanas após a sessão. No primeiro mês foram
feitas duas sessões semanais de acupuntura e moxa, depois uma sessão por semana. O resultado foi um
progressivo aumento do hematócrito.

Tabela 4- Alguns dados hematológicos antes e após inicio das sessões de acupuntura da cadela Janes

16/12/10 21/1/11 01/02 24/02 28/04 23/05 30/06 14/07 29/09


hematócrito 19,0% 21,8% 17,9% 16,7% 12,1% 21,4% 29% 31,3% 31,9%
Leucócitos 13500 13000 13800 9900 8100 10200 11100 11700 13600
totais
linfócitos 4320 4810 4416 5841 3726 4692 4218 6084 6392
plaquetas 243 253 242 312 190 248 268 254 275
Contagem 1%
reticulócitos
Uréia 122 24,6 32,3 39,0
mg/dl mg/dl mg/dl mg/dl
Creatinina 2,83 0,48 1,00 1,37
mg/dl mg/dl mg/dl mg/dl

Plaquetas (x10³) 23/05- Primeiro hemograma após inicio das sessões de acupuntura.
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5- Conclusão

A utilização da moxabustão nos pontos VG 14, B20 e E36 mostrou-se efetiva, é fato que houve
influência de outros pontos que foram utilizados de acordo com o diagnóstico pela medicina chinesa
de pulso, língua, inspeção, palpação de pontos e temperatura, relato do proprietário, mediante a
avaliação no devido momento.

É claro que, haviam condições fisiológicas favoráveis a essa recuperação. O grande problema é que a
maioria dos proprietários só procura auxilio quando as lesões, agravadas pelo tempo, se mostram
irreversíveis.

Convém lembrar que o objetivo desse relato não é estimular o tratamento da leishmaniose, visto que
todo o tratamento tem por objetivo apenas conter os sintomas diminuindo a carga parasitária.

Figura 6- cadela Janes em 13/10/2011


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REFERÊNCIAS

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< http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Leishmaniasis_life_cycle_diagram-es.svg>

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