FORÇA, LUTA E
RESISTÊNCIA
O PRIMEIRO SEXO
Prefácio
GENTE DE LUTA
al como a maioria das lutas de grupos so
Os editores
redacao@editoraonline.com.br
3
CAPÍTULO 1
6 Uma história de luta
CAPÍTULO 2
18 Grandes personalidades
CAPÍTULO 3
34 A mulher na política
4
CAPÍTULO 4
50 Conquista de espaço
68 CAPÍTULO 5
Feminismo hoje
CAPÍTULO 6
84 Curiosidades
Guia mundo em foco especial: feminismo.-- 3. ed. - São Paulo: On Line, 2016.
il.
ISBN 978-85-432-1421-4
5
Capítulo 1
Uma história de luta Uma história de luta
DO SUFRÁGIO
À INTERNET
A HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA, DESDE
AS PIONEIRAS SUFRAGISTAS DO SÉCULO XIXATÉ
AS MILITANTES VIRTUAIS DA ATUALIDADE
6
a autonomialegal e o divórcio. bientais – além da igualdade
Na segunda onda, a partir salarial, da representatividade
dos anos 1960, amplia-se o con política, do combate à violência
ceitodo“sermulher”
construção social opressiva.
comouma O sexista e da autonomia sobre o
própriocorpo –compõema am
feminismo passa a lutar pela pla agenda dos movimentos de
igualdade “de fato”, e uma nova mulheres, que ganham as ruas
geração de mulheres conquista novamente graças à articulação
o mercado de trabalho, muitas e à divulgação possibilitadas
vezes recusando completamen pela internet.
te o papel de esposa e mãe. E já há indicações do sur
No nal da década de 1980, gimento de uma quarta onda, tuais, trabalhadoras da cidade e Mulheres
trabalhando na
o feminismo questiona seus er desde 2015, com características do campo, militantes políticas, indústria têxtil,
ros e acertos e entra em uma muito distintas das outras três: mães, donas de casa, estudan no início do
nova fase: a terceira onda, quan não é preciso ser feminista para tes... Todas têm voz no novo século XX: baixos
do o próprio conceito de gênero defender os direitos da mulher; feminismo. salários e duras
cargas horárias
começa a ser descontruído. As não é preciso participar de um
questões sociais, raciais e am grupo para ser ativista. Intelec
PRIMEIRA ONDA:
CONQUISTA DE DIREITOS
A primeira onda feminista vai tas relevantes.
do início do século XIX até me As mudanças reivindicadas
ados do XX. Com forte cunho quebravam completamente
intelectual, losóco e político, certos paradigmas da sociedade
omovimentoconcentrou-se ini da época e, por isso, exigiram
cialmente nos Estados Unidos e atitudes corajosas das ativistas.
na Inglaterra, mas se espalhou Em manifestações e marchas,
pelo mundo. elas enfrentavam forças poli
Durante a Primeira Guerra ciais e muitas chegavam a ser
Mundial (1914-1918), as eu presas; o simples fato de se reu
ropeias (principalmente as de nirem podia fazê-las perder o
baixa renda) foram convocadas emprego e a família.
para o esforço de guerra, ocu A luta começou a ter resul
pando o lugar dos homens em tados já no nal do século XIX,
fábricas, no setor de serviços e quando, por exemplo, as brasi
em funções administrativas nos leiras ganharam o direito a cur
órgãos militares. Com o nal sar a universidade. O sufrágio
da guerra, veio a desmobiliza feminino começou a ser imple casadas, com a Lei 4.121/62 (o “Suffragettes”,
como eram
ção gradual desse contingente mentado em diversos países – a “Estatuto da Mulher Casada”). chamadas as
feminino e as mulheres foram Nova Zelândia foi o primeiro, Com a obtenção de direitos, sufragistas em
obrigadas a voltar a trabalhar em 1893; Alemanha e Inglater outros temas foram sendo apro inglês, pregam
em casa, o que acirrou grande ra, em 1918; nos Estados Uni priados pela pauta feminista, cartaz em Nova
York em 1917
mente as lutas feministas. dos, o direito veio em 1920; e, instigados por grandes intelec
O foco das primeiras ativis no Brasil, somente em 1934. tuais do século XX. Entre essas
tas foi a obtenção de direitos, Já quando o assunto era ca pensadoras, destaca-se a fran
principalmente o de votar e o samento, a resistência às mu cesa Simone de Beauvoir, que
de estudar. A igualdade no casa danças se mostrava ainda maior. em 1949 publicou a obra que é
mento, a legalização do divórcio No Brasil, somente em 1962 a considerada a base da segunda
e o direito de adquirir bens e legislação foi alterada para dar onda do feminismo: “O Segun
propriedades eram outras pau mais direitos e autonomia às do Sexo”.
7
Capítulo 1
SEGUNDA ONDA:
PARA ALÉM DA LEI
A partir da década de 1960, já o grande marco teórico da se
com alguns direitos conquis gunda onda: “O Segundo Sexo”.
tados e com uma maior Nele, Beauvoir desnaturalizou
participação feminina a condição da mulher e criou o
no mercado de trabalho, conceito de gênero: o sexo é na
germinam novos ques tural (se nasce com ele), mas o
tionamentos: sexualida gênero é uma construção social
de, direitos reproduti imposta à mulher, sendo, por
vos e autonomia sobre tanto, uma opressão.
o próprio corpo, família Outra obra essencial foi Cartaz dos anos 1970:
e trabalho, direitos de “A Mística Feminina”, da nor “Somos as mulheres sobre as quais
fato versus direitos le te-americana Betty Friedman. os homens nos alertaram”
gais, entre outros. Lançado em 1963, o livrocoloca
ocupando
Com cada
mulheres
vez pectiva
a gura da dona
crise econômica
de casa na pers-
pós- A época do “amor livre”
foi também a época da “libe
Em “O Segundo
mais espaço nas uni 1929 e pós-Segunda Guerra, e ração das mulheres”, quando
Sexo” (Ed. Nova versidades, as ações do mo analisa do ponto de vista social elas passaram a exigir que os
SimonedeBeauvoirprocura
Fronteira), vimentoforam
1960 feminista
profundamente
a partir de e
dopsicológico
se aproveitava
comodaso frustra-
merca- direitos conquistados fossem
colocados em prática. O slogan
compreender
embasadas por teorias e pensa- ções femininas para incentivar “O pessoal é político”, cunha
como a mulher se mentos formulados por mulhe o consumo. do pela jornalista e militante
coloca no mundo res intelectuais. Uma das prin Junte-se a evolução do pen Carol Hanisch, sintetiza bem
cipais foi Simone de Beauvoir, samento feminista ao advento a segunda onda: as desigualda
que em 1949 havia publicado da pílula anticoncepcional e às des culturais e políticas estão
mudanças na legislação, e o re intimamente ligadas; compre
“Não se nasce mulher, torna-se sultado é uma geração de mu endendo e mudando aspectos
lheres que não se sentiam obri de suas vidas pessoais, as mu
mulher.” — Simone de Beauvoir, “O gadas a casar, ter lhos e car lheres obteriam mudanças po
Segundo Sexo” em casa. líticas e sociais.
8
Uma história de luta
TERCEIRA ONDA:
DIVERSIDADE E EMPODERAMENTO
A terceira onda é considerada
por muitos como uma época em
que o movimento perdeu força,
uma vez que muitas conquistas
já haviam sido obtidas. Porém,
é justamente nessa fase que di
versas vertentes do feminismo
fazem um questionamento das
denições enrijecidas pelo mo
vimento nos anos anteriores.
Assim como a segunda
onda, a terceira tem forte viés
losóco e sociológico, com al
gumas obras importantes nor
teando o movimento. “Proble
mas de Gênero: Feminismo e
Subversão da Identidade”, da
lósofa norte-americana Judi
th Butler, é uma delas. O livro produziu a “Agenda 21 de Ação No início dos anos 2000, o Marcha das
Vadias de 2014
de 1990 deu um passo além de das Mulheres por um Planeta ativismo foi fortalecido pelo ad em Vancouver:
Beauvoir, descontruindo o pró Saudável” e preparou a parti vento da internet e ganhou uma contra a violência
prio conceito de gênero calcado cipação feminina na Eco-92 – a dimensão mais global. Nasceu, e a culpabilização
na dicotomia heterossexual do Conferência das Nações Unidas assim, a Marcha Mundial das das vítimas de
estupro
masculino-feminino. sobre Meio Ambiente e Desen Mulheres (MMM), realizada
Com essa abertura, o femi volvimento (Cenumad) no Rio a cada cinco anos, sempre em
nismo foi ganhando contornos de Janeiro –, com a tenda Pla março, em um número cada vez
de humanismo, assumindo pau neta Fêmea. maior de países.
tas que ultrapassam a questão da A violência contra a mu Em 2011, com as redes so
igualdadeentrehomensemulhe- lher, já abordada na segunda ciais virtuais já desempenhando
res: as lutas de gênero, as ques onda – inclusive com algumas um papel central nos movimen
tões raciais, o desenvolvimento conquistas, como a criação das tos sociais, foi criada no Canadá
socioambiental,entre outras. Delegacias da Mulher no Bra a Marcha das Vadias, pela auto
Nesse contexto foi realizado sil –, ganha especial relevo na nomia sobre o próprio corpo e o
em 1991, em Miami, o Con terceira, culminando, no Brasil, combateàviolênciasexista.Ama-
gresso Mundial das Mulheres com a aprovação da Lei Maria nifestaçãoérealizadaanualmente
por um Planeta Saudável, que da Penha em 2006. em diversas cidades do mundo.
VOCÊ SABIA?
25 de novembro é Dia Internacional Mirabal, conhecidas como “Las
de Combate àViolência contra Mariposas”, torturadas e assassinadas
as Mulheres. A data foi instituída em 25 de novembro de 1960 por
no 1º Encontro Feminista Latino protestarem contra a ditadura na
Americano e Caribenho, em 1981, e República Dominicana.
ocializada em 1999 pela ONU. O combate à violência contra as
Não foi escolhida uma data aleatória. mulheres continua sendo uma das
Trata-se de uma homenagem às principais bandeiras do movimento
irmãs Pátria, Minerva e María Teresa feminista mundial.
9
Capítulo 1
MULHERES UNIDAS
A Assembleia Geral da Desenvolvimento Sustentável
Organização das Nações (ODSs).
Unidas (ONU) criou em 2010 “A igualdade de gênero não
a Entidade das Nações Unidas é apenas um direito humano
para a Igualdade de Gênero e o básico, mas a sua concretização
Empoderamento das Mulheres, tem enormes implicações
a ONU Mulheres. Fruto de uma socioeconômicas. Empoderar as
reorganização das instituições mulheres impulsiona economias
da ONU, a entidade reete a centralidade das questões mais prósperas, estimulando a produtividade e o
de gênero para que sejam atingidos os Objetivos de crescimento”, escreve o website da ONU Mulheres.
10
Uma históriade luta
LINHA DO TEMPO
PRIMÓRDIOS
FEMINISMO NA
REVOLUÇÃO FRANCESA 1791
A militante girondina Olympe de Gouges (1748-1793)
propõe a “Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã”, em resposta à “Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão” – documento culminante da
Revolução Francesa (1789-1799). O texto determina
a igualdade de direitos e deveres, e conclui com um
verdadeiro manifesto: “Mulher, desperta. A força da Mary Wollstonecraft
razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece (1759-1797): autorado
teus direitos. O poderoso império da natureza não livro “A Reivindicação
dos Direitos da Mulher”,
está mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de
durante o Iluminismo
superstições e de mentiras. A bandeira da verdade abordou a igualdade
dissipou todas as nuvens da ignorância e da usurpação. de gênero
O homem escravo multiplicou suas forças e teve
necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus
ferros.Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação 1792 OBRA FUNDAMENTAL
à sua companheira” (fonte: Biblioteca Virtual de Direitos A escritora e lósofa inglesa Mary Wollstonecraft
Humanos da USP). Por m, a Declaração apresenta um (1759-1797) publica“A Reivindicação dos Direitos
modelo de contrato da Mulher” – que colocou na pauta da “Liberdade,
guilhotinada
nunca
ser
Assembleia
e
desua
livre
casamento
aprovado
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chegou em
justo.Nacional,
O
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Igualdade
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muitos
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11
Capítulo 1
PRIMEIRA ONDA
NASCE O
1832 MOVIMENTO BRASILEIRO
Começa a nascer o feminismo brasileiro, com a
BRASILEIRINHAS
vilas e lugares mais populosos do Império” devem publicação do livro “Direitos das Mulheres e Injustiça
AGORA VÃO À ESCOLA dos Homens”, de Dionísia Gonçalves Pinto (1810-1885),
mais conhecida pelo pseudônimo Nísia Floresta
A Lei de 15 de outubro de 1827, assinada por Brasileira Augusta. A escritora e educadora potiguar
Dom Pedro I, determina que “todas as cidades, lutou principalmente pela educação para as mulheres
– tendo, inclusive, criado uma escola para meninas em
ter escolas de primeiras letras”. Além de começar 1838, o Colégio Augusto, no Rio de Janeiro. Militante
a estabelecer e organizar a educação básica no abolicionista e republicana, defendeu também a causa
Brasil, a lei traz uma grande novidade: as meninas indígena. Foi perseguida por suas ideias e seu estilo de
também passam a frequentar a escola, em instituições vida – ela se divorciou do primeiro marido, com quem
exclusivamente femininas. havia sido obrigada a se casar ainda menina; mais tarde,
voltou a se casar, teve uma lha e se mudou para Paris.
12
Uma históriade luta
JAPONESAS NAS
1919 1923 ARTES MARCIAIS
MULHER NO
TRABALHO A tradição japonesa praticamente excluía as mulheres
da prática de artes marciais, até que a primeira
Durante a Primeira Guerra Mundial, mulheres tiveram academia de judô do país, a Kodokan, passa a oferecer
de desempenhar funções antes restritas aos homens treinos femininos extraocialmente. Em 1923, a
por falta de mão de obra masculina. E essa realidade instrução em artes marciais para mulheres é instituída
não foi ignorada nas primeiras convenções emitidas ocialmente.
pela nova Organização Mundial do Trabalho (OIT) –
cuja criação foi determinada pelo Tratado de Versalhes,
que pôs m à guerra. Já em 1919, ano de sua
fundação, a OIT implementa as Convenções nº 3, de 1932 BRASILEIRAS AGORA
proteção à maternidade, e nº 4, que proíbe o trabalho TAMBÉM VOTAM
noturno para mulheres. Mas somente em 1951, com
a Convenção nº 100, a organização estabelece a
“igualdade de remuneração entre homens e mulheres
por um trabalho de igual valor”.
13
Capítulo 1
SEGUNDAONDA
NO BRASIL
DIVÓRCIO
1977
Antiga reivindicação do
movimento feminista, a Lei nº
6.515, de 26 de dezembro de
1977, institui o divórcio e suas
regras no Brasil. Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher,
na Cidade do México, em 19 de junho de 1975
DO MOVIMENTO
ORGANIZAÇÃO REDE DE PROTEÇÃO
1979 1980 Com a pauta feminista focada na violência contra a
mulher, começam a ser criados serviços especializados
NO BRASIL nesse sentido. Em São Paulo, é fundada a organização
Durante a 31ª reunião anual da Sociedade não governamental SOS Mulher, seguida pela SOS
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ação Mulhere Família, de Campinas. As entidades de
em Fortaleza, é realizado o I Encontro atendimento e apoio a mulheres que sofrem com a
Nacional Feminista. A partir de então, são violência doméstica começam a se espalhar pelo Brasil.
organizados encontros anuais dos movimentos
feministas paralelamente às reuniões da SBPC
– e eles ganham força principalmente em
1984 ATENÇÃO À SAÚDE
1981, quando foi discutida a violência contra a Em meio aos debates sobre controle de natalidade no
mulher em Salvador. âmbito da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) sobre a explosão demográca de 1983 no Brasil,
o Ministério da Saúde cria o Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAISM), incorporando ideias
defendidas pelo movimento feminista–tais como o livre
arbítrio para terlhos e a atenção à saúde integral, com
base nas necessidades femininas.
14
Uma históriade luta
FEMINISMO GLOBAL
1985
Conferência das Nações Unidas sobre a Década da Jovens quenianas com vestes tribais na abertura
Mulher, em Nairobi, de 15 e 27 julho de 1985 da Conferência das Mulheres, no Quênia
Ao nal da Década da Mulher, a ONU realiza a Conferência Mundial para a Revisão e Avaliação das Realizações
da Década das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, em Nairóbi, no Quênia. Cerca
de 15 mil representantes de organizações não governamentais participam de um fórum paralelo de ONGs
– evento comumente descrito como o “nascimento do feminismo global”. Na conferência principal, os 157
governos participantes adotam as “Estratégias Prospectivas de Nairóbi para o Ano 2000”. Além disso, é criado o
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM).
A MULHER NA
CONSTITUIÇÃO 1988
A nova Carta Magna reestabelece a democracia
no Brasil, e também garante a equidade de gênero
e os direitos humanos das mulheres pela primeira
vez na República brasileira. No Artigo 5°, determina
que “homens e mulheres são iguais em direitos
e obrigações”. Já o Artigo 226 estabelece:“Os
direitos e deveres referentes à sociedade conjugal
são exercidos pelo homem e pela mulher”. Esses
dois artigos garantiram a igualdade de gênero,
bem como a proteção dos direitos humanos das
mulheres pela primeira vez na República brasileira. Envelope da “Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes”
15
Capítulo 1
TERCEIRA ONDA
PLANETA FÊMEA
1990 PELA 1992
DESCRIMINALIZAÇÃO
DO ABORTO
Descriminalização
Caribe
Caribe
EmVSan
Encontro
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todo
anos.
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pela
que
por
Lei
do
oue Bella Abzug, presidente da Organização das Mulheres para o Meio
16
Uma históriade luta
17
Capítulo 2
Grandes personalidades Grandes personalidades
AS MAISINCRÍVEIS
MULHERES
DA
HISTÓRIA
SERIATAREFA
MULHERES IMPOSSÍVEL LISTAR TODASAS GRANDES
EXTRATO DAHISTÓRIA. A SEGUIR, VOCÊTERÁ UM
DE ALGUMAS DAS FIGURAS MAIS IMPORTANTES
DE SEU TEMPO
L quantidade
tarefa simples. Isto porque é interminável a
todos de nomes que se sobressaem de
levância os cantos do planeta, seja pela sua re-
atuação, história, pelo destaque em sua área de
toriadores
seleção das mulheres mais citadas por his-
Algumas e pela imprensa ao longo dos anos.
histórias possuem biograas polêmicas; outras,
repletas sem muito fundamento comprovado e
ou pelas curiosidades de sua vida pessoal, o de mitos e que, mesmo assim, ganharam
da por seus atos de coragem e ousadia em defesa mundo. Conra.
cidadania.
18
ADELAIDE CABETE um capitão da Marinha, viu seus
crianças órfãs. Criou, em São Paulo,
(Portugal, 1867-1935) três lhos partirem para a Guerra
uma importante instituição de auxílio
do Paraguai, em 1865. Desesperada,
a mulheres, a “Associação Feminina
escreveu para o presidente da
Benecente e Instrutiva”. A entidade
província da Bahia, oferecendo-se
para cuidar dos feridos de guerra mantinha um bazar para a venda
enquanto o conito durasse e, dos produtos feitos em suas ocinas.
assim, poder estar perto e cuidando Depois, inaugurou o chamado
dos lhos. Seu pedido foi aceito “Liceu Feminino”, destinado a
e ela é considerada a pioneira da instruir e preparar professoras para a
enfermagem no Brasil. direção de escolas também fundadas
por Anália. No total, fundou 71
escolas, dois albergues, uma colônia
regeneradora para mulheres, 23
Foi uma das principais feministas asilos para crianças órfãs, uma banda
portuguesas do século 20. Médica musical feminina, uma orquestra
obstetra, ginecologista, professora, e um grupo dramático criados por
pacista, abolicionista, defensora conta própria.
dos animais e humanista. Durante
mais de 20 anos, presidiu o Conselho
Nacional das Mulheres Portuguesas
- organização de mulheres dedicada
à defesa dos direitos sociais e
políticos das mulheres, sendo a mais
importante e duradoura organização
feminista da primeira metade do
século 20 em Portugal.
ALEXANDRA
DAVID NEEL ANA PIMENTEL
(França, 1868-1969) (Brasil - período colonial, datas Instituição benecente fundada por Anália Franco
desconhecidas)
Pseudônimo de Louise Eugénie
Alexandrine Marie David, foi uma Casada com o nobre português
famosa escritora espiritualista, Martim Afonso de Sousa, ela ANITA GARIBALDI
budista, anarquista, reformadora recebeu do marido a incumbência (Brasil, 1821 - 1849)
religiosa e exploradora francesa. de administrar a capitania de São
Viajou durante quatorze anos por Vicente, no Brasil colonial. Entre
todo o Tibete e foi reconhecida outros bons feitos, providenciou
como a primeira mulher europeia o cultivo de laranja na capitania
a ser consagrada lama. Tornou-se com o objetivo de combater o
praticante de tumo, uma técnica escorbuto, uma doença provocada
essencialmente tibetana de pela falta de vitamina C que atacava
aquecimento corporal por meio da os embarcados durante a travessia
meditação e da criação de tulpas, do Atlântico. Também determinou
criaturas imaginárias que, segundo os a retomada do cultivo do arroz, do
monges budistas, chegariam quase a trigo e criação de gado na região.
se materializar no mundo real.
ANÁLIA FRANCO
ANA NÉRI (Brasil, 1853 - 1919) Companheira de Giuseppe Garibaldi,
(Brasil, 1814 - 1880) é conhecida como a “Heroína dos
Foi professora, jornalista, poetisa e Dois Mundos” por ter participado da
Anna Justina Ferreira Nery - ou
simplesmente Ana Néri -, viúva de lantropa brasileira que fundou mais Revolução Farroupilhano Brasil e da
de setenta escolas e abrigos para unicação da Itália.
19
Capítulo2ANNEBONNY
BERTHA LUTZ
(Irlanda, 1702 - 1782) (Brasil, 1894 - 1976)
20
Grandes personalidades
direitos políticos. que passaram a governar. Durante leis para melhorar o ensino, além de
Elegeu-se primeira suplente de as guerras religiosas entre católicos realizar uma verdadeira reforma na
deputado federal pela Liga Eleitoral e protestantes, em 1562, exerce administração.
Independente. Assumiu a cadeira pressão sobre o reinado do lho
na Câmara Federal em 1936, após Carlos IX, o que resulta no massacre
a morte do deputado Cândido de São Bartolomeu, onde mais de 30 CHICA DA SILVA
Pereira. Defendeu então mudanças mil protestantes morreram por toda (Brasil, 1732 - 1796)
na legislação referentes ao trabalho a França.
da mulher e do menor, a isenção
do serviço militar, a licença de três
meses para a gestante e a redução
da jornada de trabalho, então de
13 horas. Sua carreira política se
encerrou no ano seguinte, 1937,
quando Vargas decretou o Estado
Novo.
BOADICEIA
(Tribo dos Iceni, datas
desconhecidas) Centro histórico de Diamantina (MG), cidade onde
viveu Chica da Silva
21
Capítulo 2
ELEANOR ROOSEVELT
Gravura de Christine Pizan na corte de Charles V (EUA, 1884 - 1962)
22
Grandes personalidades
EUGÊNIA ÁLVARO
MOREYRA
(Brasil, 1898 - 1948)
foi
chegando
participação
ao
e
campanha
defensora
movimento
perseguida
asufragista
ser
de
napelo
modernista
ideias
presa,
Intentona
governo
no
comunistas,
acusada
país.
Comunista.
brasileiro
Vargas,
Ligada
de
ELLEN KEY
(Suécia, 1849 - 1926)
23
Capítulo 2
24
Grandes personalidades
GOLDA MEIR exportar petróleo para os Estados Juntos voltaram a Esparta, onde
(Ucrânia, 1898 - 1978) Unidos e países que apoiavam a viveram até a morte.
sobrevivência de Israel, o que levou
à crise do petróleo. Em abril de
1974, Golda Meir apresenta a sua HIPÁCIA DE
demissão devido às inúmeras críticas ALEXANDRIA
que recebeu. (Egito, 351/70 - 415, datas
incertas)
25
Capítulo 2
26
Grandes personalidades
27
Capítulo 2
28
Grandes personalidades
29
Capítulo 2
como o exercício da advocacia pela dúvidas sobre sua biograa. Maranhão, em Recife e no Rio de
mulher, o voto feminino e a defesa da Uma das teorias sobre Nefertiti é Janeiro – onde foram fortemente
emancipação jurídica feminina. Foia que ela era um homem disfarçado de reprimidos.
primeira brasileira a entrar na Justiça mulher, ou que ela era um homem Após a Intentona, Olga e Prestes
pelo direito ao voto. e que Akhenatom era homossexual, conseguiram viver na clandestinidade
ou que ela foi colocada como faraó por mais alguns meses, mas acabaram
porque seu esposo era débil e não presos em 1936. Na prisão, Olga
NATHALIE LEMEL poderia mais assumir. Também é descobriu que estava grávida. No
(França, 1827 - 1921) sabido que Nefertiti utilizou outros mesmo ano, foi deportada para
nomes ao longo da vida, o que a Alemanha nazista e presa pela
Ativista do socialismo na França, diculta ainda mais desvendar os Gestapo. Ficou com sua lha até o
foi uma das fundadoras da União mistérios que rondam sua gura. período de amamentação. Depois, a
das Mulheres durante a Comuna criança foi entregue à avó paterna.
de Paris. O grupo estabelecia Olga foi executada aos 34 anos,
um programa revolucionário, NÍSIA FLORESTA na câmara de gás do campo de
reivindicando igualdade de BRASILEIRA AUGUSTA extermínio de Bernburg.
remuneração, criação de escolas (Brasil, 1810 - 1885)
prossionalizantes com aulas à noite
para adultos, creches e assistência a Foieducadora, escritora e poetisa OLYMPE DE GOUGES
mães solteiras, entre outros direitos. brasileira. É considerada uma (França, 1748 - 1793)
pioneira do feminismo, tendo
publicado textos em jornais, na época Pseudônimo de Marie Gouze, foi
NEFERTITI em que a imprensa nacional ainda uma feminista, revolucionária,
(Egito, 1380 a.C. - 1345 a.C) engatinhava. Nísia também dirigiu historiadora, jornalista, escritora e
um colégio para moças no Rio de autora de peças de teatro francesa.
Janeiro e escreveu livros em defesa Em um primeiro momento, abraçou
dos direitos das mulheres, dos índios a causa da Revolução Francesa, mas,
e dos escravos. depois de perceber que a “igualdade”
de direitos não se estendia às
mulheres, escreveu a “Declaração
OLGA BENÁRIO dos Direitos da Mulher e da Cidadã”,
(Alemanha, 1908 - 1942) em contraposição à “Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão”,
Alemã de origem judaica, Olga defendida pelos revolucionários.
juntou-se ao Partido Comunista Escreveu também o “Contrato
Alemão com apenas 15 anos. Viveu Social”, nome inspirado na famosa
na União Soviética, onde recebeu obra de Jean-Jacques Rousseau,
treinamento político-militar. Foi propondo o casamento com relações
enviada para o Brasil em 1934, por de igualdade entre os parceiros. Por
determinação da Internacional sua conduta, foi presa e guilhotinada.
Comunista, para apoiar o Partido
Comunista Brasileiro, junto com Luís
Carlos Prestes, que se tornaria seu
Comandou o Egito junto com seu companheiro. A intenção era liderar
marido, o faraó Akhenaton, alterando uma revolução armada com o apoio
as crenças religiosas de seu povo de Moscou.
para o monoteísmo e levando-o a Em 1935, Prestes lidera a Intentona
levou-os a louvar o sol ao invés da Comunista, levante militar com o
lua. De acordo com o que se tem objetivo de derrubar o presidente
conhecimento, foi uma mulher Getúlio Vargas e tomar o poder.
de garra e famosa por sua beleza. Participaram do movimento militar
Historiadores vêm há anos tentando de baixa patente inclinados ao
encontrar sua tumba e sua múmia, comunismo e houve rebeliões em
para buscar respostas às muitas Natal, no Rio Grande do Norte, no
30
Grandes personalidades
RAINHA VITÓRIA
Escritora, jornalista e militante (Reino Unido, 1819 - 1901)
comunista brasileira, foi um dos
grandes destaques no movimento
modernista iniciado em 1922.
Defendia a participação ativa da
mulher na sociedade e na política.
Tinha 19 anos quando conheceu
o casal de modernistas Oswald de
Andrade e Tarsila do Amaral, que
a apresentaram ao movimento
antropofágico. Em 1930 Oswald Princesa Isabel na nota de 50 cruzeiros
separou-se de Tarsila e se casou-se
com Pagu, já grávida de seu primeiro
lho, Rudá de Andrade. Três meses
após o parto, Pagu viajou para RACHEL DE QUEIROZ
Buenos Aires, na Argentina, para (Brasil, 1910 - 2003)
participar de um festival de poesia,
onde conheceu Luís Carlos Prestes, Jornalista, tradutora e romancista,
e voltou entusiasmada com os ideais foi a primeira mulher a ingressar
marxistas. Filiou-se ao Partido na Academia Brasileira de Letras. Em 1837, ela herdou o trono
Comunista (PCB), junto com Oswald. Ganhou em 1993 o considerado britânico, poucas semanas após ter
Foi o início de um período de intensa Nobel da literatura portuguesa, o completado 18 anos e depois de os
militância política. Foia primeira Prêmio Camões, e é considerada a três tios paternos terem morrido sem
brasileira do século 20 a ser presa maior escritora brasileira. descendência legítima. Assumiu após
política. uma longa linhagem de monarcas
homens, o que fez com que fosse
RAINHA LEONOR DA recebida como símbolo de uma nova
PRINCESA ISABEL AQUITÔNIA era no país.
(Brasil, 1846 - 1921) (França, 1122/24 - 1204) O Reino Unido já era, então,
uma monarquia constitucional
Princesa imperial do Brasil e Foi uma das mulheres mais ricas e estabelecida, na qual o soberano
primeira senadora da nação, serviu poderosas da Idade Média. Leonor tinha relativamente poucos poderes
como regente do império por três foi Duquesa da Aquitânia e da políticos. Em privado, Vitória tentou
vezes, enquanto seu pai, Pedro Gasconha e Condessa de Poitiers inuenciar o governo e a nomeação
II, viajava para o exterior. Nestas por seu próprio direito. Foi rainha de ministros. Em público, tornou
ocasiões, assinou a Lei do Ventre consorte da França, como esposa se um ícone nacional e a gura que
Livre, que alforriava todas as de Luís VII, e da Inglaterra, como encarnava o modelo de valores
31
Capítulo 2
32
Grandes personalidades
por sua vez mudou o sobrenome para americana, National Woman Suffrage com espada e pistola, levar
“Gandhi” por razões políticas. Association, e foi a primeira mulher a as reivindicações do povo. Foi
Sonia foi presidente do Congresso ter seu rosto estampado em uma presa sob suspeita de arquitetar
Nacional Indiano por uma década, moeda de circulação nacional o assassinato da rainha. Vestia
sempre aparecendo nas listas de nos EUA. se “como homem” e a imprensa
mulheres mais poderosas e inuentes monarquista passou a ridicularizá-la
do mundo. Rejeitou se tornar a por isso. Passou suas últimas décadas
primeira ministra do país, apesar de SUZANNE VOILQUIN internada como louca, sendo gura
muitos acreditarem que ela possuía (França, 1801 - 1877) também bastante citada nos estudos
poder considerável sobre Manmohan de psiquiatria.
Singh, que governou a Índia por Escritora e jornalista francesa,
uma década. Atualmente, é parte conhecida por ser editora do
da oposição e tenta se defender de Tribune des femmes, o primeiro VIRGINIA WOOLF
denúncias por corrupção. periódico feminista voltado para (Reino Unido, 1882 - 1941)
as classes trabalhadoras. O jornal
também mantinha um instituto de
educação e capacitação prossional
para mulheres.
TARSILA DO AMARAL
(Brasil, 1886 - 1973)
SUSAN B. ANTHONY
(EUA, 1820 - 1906) Woolf em selo britânico
33
Capítulo 3
A mulher na política A mulher na política
UM DIREITO
CONQUISTADO
DA ANTIGUIDADE À DEMOCRACIA MODERNA,
PARTICIPAÇÃO FEMININA NA POLÍTICA É
RESULTADO DE LUTAS
“The Awakening”
(1915): a
Liberdade
leva tocha de
Oeste a Leste,
simbolizando o
despertar das
mulheres em todo
o mundo
e as gerações atuais estão habituadas a zes a duras penas, durante o advento da demo
34
GRÉCIA CLÁSSICA
Na democracia de Atenas dos séculos V e IV
a.C., as mulheres não eram consideradas cidadãs
e – assim como os estrangeiros, os escravos (pri
sioneiros de guerra) e as crianças – não podiam
participar da pólis. Elas eram criadas para servir
aos homens – primeiro o pai, depois o marido,
que era escolhido pelo pai. Vivendo reclusas no
gineceu, aposento que as privava ao máximo do
contato com o sexo oposto, as atenienses tinham
como função principal gerar e criar os lhos, de
preferência homens. Havia, ainda, outras duas
classes de mulheres: as concubinas (serviçais es
cravas ou livres) e as prostitutas, que serviam aos
homens para que a castidade de suas esposas e Cariátides na Acrópolis: mulheres como suporte arquitetônico doTemplo do Erectéion,
lhas fosse mantida. construído no nal do século V a.C.
REPÚBLICA ROMANA
Na Roma dos séculos II e I a.C., o modelo de de
mocracia representativa incluía os plebeus e os
moradores das cidades estrangeiras conquistadas,
porém excluía as mulheres – que não tinham di
reitos políticos ou jurídicos (até o século III a.C.,
Romanem mesmocontabilizava em seus recense
amentos as mulheres que não fossem herdeiras).
No entanto, a República Romana viu o fe
nômeno das “matronas”, as chefes das famílias
mais abastadas: com os homens partindo para a
Estátua de mulher romana guerra, as esposas e mães aristocráticas ganhavam
autonomia e autoridade para dirigir o ambiente
doméstico, conquistando, assim, um certo poder
“Mirem-se no exemplo na sociedade.
Muitas personagens femininas são conheci
Daquelas mulheres de Atenas das por terem inuenciado os rumos de Roma,
Vivem pros seus maridos tais como Ácia, mãe de Augusto, primeiro impe
rador romano; Lívia Drusa, esposa de Augusto
Orgulho e raça de Atenas” e mãe do também imperador Tibério; e Agripi
— Trecho de “Mulheres de Atenas” (1976), na, mãe de Nero e a quarta esposa de Cláudio
Chico Buarque de Hollanda (ambos imperadores).
35
Capítulo 3
IDADE MÉDIA
lheres da nobreza eram mais
passivas, responsáveis pela
procriação e pela educação dos
lhos, enquanto as do povo po
diam (e deviam) trabalhar. De
qualquer forma, sabe-se que
as leis não garantiam direitos a
Obra de Carlos
Muñoz de Pablos nenhuma delas – por exemplo,
atualmente em geral elas não tinham auto
exposta no nomia para dispor de bens.
Alcázar (castelo)
de Segóvia retrata
Ainda assim, há casos histó
a coroação de ricos em que mulheres ocupa
Isabel de Castela ram posições de poder: Gisela
(século XI), a primeirarainha da
A Idade Média é um longo pe Historiadores e pesquisa Hungria; Leonor de Aquitânia
ríodo da história europeia, que dores, porém, questionam as (século XII), rainha da França
abrange desde o século XI até o noções que se têm do pensa (quando casada com Luís VII)
início do XVI. Nesses 500 anos, mento medieval em relação à e da Inglaterra (ao se casar com
não houve democracia na Euro mulher, uma vez que os dis Henrique II); a espanhola Isa
pa ocidental: o território frag cursos e relatos da época foram bel de Castela (século XV, já na
mentado era comandado por escritos, em sua maioria, por transição para a Idade Moder
senhores feudais e monarcas, membros do clero e que havia na), que apoiou a expedição de
em uma sociedade fortemente muitas diferenças entre as di Cristóvão Colombo que iniciou
patriarcal e religiosa. versas classes sociais – as mu a conquista da América.
RAINHAS DO EGITO
A sociedade do Egito antigo guerras, expansões comerciais
era extremamente estraticada, e grandes obras arquitetônicas.
sem mobilidade social alguma, e Mas, para exercer sua autoridade,
hierárquica, não havendo democracia. a primeira governante egípcia
Porém, às mulheres da nobreza precisou se impor: autodeclarou-se
(o terceiro estrato social, abaixo lha do deus Amon-Rá e chegou a
apenas do faraó e dos sacerdotes) usar a barba postiça que distinguia
cabiam alguns direitos, como possuir os faraós.
propriedades, receber herança e se Quase mil e quinhentos anos depois,
divorciar – neste último caso, elas outra mulher assumiria a chea do
inclusive tinham o direito de receber Estado egípcio – mais precisamente
Representação da rainha Hatshepsut
“pensão” dos ex-maridos. E tinham, em 51 a.C., com a ascensão da na Tebas egípcia
sim, um direito político: a viúva de jovem Cleópatra, lha primogênita
um faraó poderia tornar-se chefe de Ptolomeu XII que marcou o m
de Estado. da última dinastia egípcia. Conhecida
Hatshepsut é considerada a primeira pelo clichê de mulher sensual e
rainha-faraó do Egito. Era casada hedonista, Cleópatra foi também
com o faraó Tutmés II (seu meio uma grande estadista que, para salvar
irmão), que morreu jovem e deixou sua civilização do domínio de Roma,
como herdeiro um lho ainda concebeu um plano de expansão
criança nascido de uma esposa para o Oriente e uniu-se ao amante
secundária. Enfrentando os homens romano Marco Antônio em uma
do alto escalão estatal, Hatshepsut guerra contra o imperador Otávio.
assumiu a regência e reinou o Egito Seu m foi trágico: derrotados,
por
a.C. 22 anos, deem
– período 1479
quea.C.
ordenou
a 1457 Cleópatra e suicídio
cometeram Marco Antônio
em 30 a.C. Esnge de uma das “Agulhas de Cleópatra”,
localizada em Londres
36
A mulher na política
IDADE MODERNA
O período conhecido como Ida tante, a ascensão da burguesia e Ainda assim, as monarquias
de Moderna, entre o nal do sé as ideias iluministas. Para as mu têm algumas personagens his
culoXV e o nal do XVIII, foi de lheres, todas essas transforma tóricas fortes dessa época, tais
intensas transformações, com a ções nãosignicarama conquista como as rainhas Elizabeth I da
conquista do “Novo Mundo” no de poder político – o mundo se Inglaterra (século XVI), Maria
continente americano e a revolu guiu sendo comandado majorita Teresada Áustria (século XVIII)
ção comercial, a reforma protes riamentepor homens. e Catarina II da Rússia.
REVOLUÇÃO FRANCESA
Em 1789, a Revolução France autoritário de Robespierre. populares da sociedade, mar
sa fez ressurgir o conceito de Em 5 de outubro de 1789, chou até o Palácio de Versalhes
democracia e criou a ideia de por exemplo, ocorreu um pro para exigir providências do rei
direitos humanos. Nesse con testo em Paris que é considera Luís XVI contra a escassez de
texto, a participação feminina do a primeira manifestação po pão na cidade. No dia seguin
na política começa a germinar: lítica feminina da história: um te, a pressão da manifestação já
tanto no movimento que levou grupo de cerca de 7 mil mulhe era tanta, que o monarca aban
à derrocada do antigo regime res, formado por vendedoras de donou o palácio – e os homens
como na oposição ao governo peixe e outras das camadas mais revolucionários enm tomaram
A ‘RAINHA VIRGEM’
Um dos momentos cruciais da reino estava à beira de uma rebelião, atendendo aos anseios da maioria
história inglesa se deu sob o reinado e o trono foi enm ocupado por da população. Mas, ainda que tenha
de uma mulher: Elizabeth I, conhecida Elizabeth – lha de HenriqueVIII com se desvencilhado da Igreja Católica,
como a “Rainha Virgem” e que Ana Bolena, que ele condenara à conseguiu habilmente manter
reinou entre 1558 e 1603. Graças a morte sob a acusação de adultério. relações com Roma. Além disso, a
sua habilidade política, a Inglaterra Assim que foi coroada, Elizabeth rainha impôs uma derrota a Filipe II
viveu relativa estabilidade em seu I proclamou que o soberano na Guerra Anglo-Espanhola.
longo reinado. inglês seria governante supremo Elizabeth nunca se casou nem teve
Elizabeth sucedeu um período da igreja anglicana independente, lhos, pondo m à dinastia Tudor.
bastante conturbado. Em 1547, com
a morte de seu pai, HenriqueVIII,
quem assumiu foi seu meio-irmão
EduardoVI (lho da terceira esposa
do rei), que, por sua vez, morreu
seis anos depois de entronizado. Em
meio aos movimentos da reforma
protestante que se espalhavam pela
Europa, sua sucessora, Maria I Tudor
(lha de HenriqueVIII com Catarina
de Aragão da Espanha) restaurou à
força a submissão inglesa aoVaticano,
fez uma escolha de casamento (Filipe
II, da Espanha) que colocava em risco
a autonomia inglesa e ainda entrou
em guerra contra a França (na qual
perdeu o último território inglês no
continente europeu).
Maria I morreu em 1558, quando o
Rainha Elizabeth I (1533-1603) sendo carregada por cortesãos
37
Capítulo 3
a Bastilha.
No entanto, ainda que tenham participado
ativamente da revolução, as mulheres foram ex
cluídas da vida política francesa: em 1793, foi
estabelecido o “sufrágio universal” apenas para
homens adultos que soubessem ler e escrever. Às
mulheres “virtuosas”, caberia parir e preparar a
futura geração de cidadãos – era a ideia da “mãe
republicana”, em contraponto às mulheres “peri
gosas”, ou seja, as militantes que se opunham ao
governo.
Embora seja precoce falar em feminismo na
Revolução Francesa, já é possível vislumbrar
um anseio por igualdade de direitos. E o prin
cipal registro disso é a “Declaração dos Direitos
da Mulher e da Cidadã”, redigida pela militante
Olympe de Gouges em 1791 em resposta à “De
claração dos Direitos do Homem e do Cidadão”,
documento de setembro de 1789 culminante da
Gravura ilustra Revolução. O texto de Olympe foi recusado pela
a marcha das
mulheres a
Assembleia e ela, condenada à morte por traição,
Versalhes mas a ideia de igualdade de direitos e deveres já
em 1789 estava semeada e iria se espalhar pelo globo.
INDEPENDÊNCIA MASCULINA
Em 4 de julho de 1776, a “Declaração da Independência
dos Estados Unidos da América” era aprovada pelo
Congresso americano. Com esse documento, não só as
13 colônias se tornaram independentes da Inglaterra,
como o novo país independente adotou o ideário
iluminista que guiaria também os revolucionários
franceses: “Todos os homens são criados iguais” e “são
dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis,
entre os quais estão aVida, a Liberdade e a busca pela
Felicidade”.A Declaração arma, ainda: “Para assegurar
esses direitos, governos são instituídos entre Homens”. O
texto, escrito primeiramente pelo herói nacional Thomas
Jefferson (que depois se tornaria o terceiro presidente
dos Estados Unidos), trazia os conceitos de liberdade e
igualdade da época, mas coloca o homem em seu cerne.
O nascimento da democracia norte-americana, porém, A guerra da independência americana, no século XVIII, tem algumas
certamente propiciou o início de um importante heroínas famosas, como Molly Pitcher, que assumiu a posição do marido,
movimento mundial: o das sufragistas, que lutaram a morto na batalha de Monmouth, no canhão. Após a batalha, o General
partir de do século XIX pelo direito de escolher seus Washington celebrou sua participação chamando-a de “Sargento Molly”.
Na foto, o túmulo da heroína em Carlisle, Pensilvânia.
representantes.
38
A mulher na política
SUFRÁGIO FEMININO
O primeiro (e longo) passo para vel desde a Antiguidade, até ra. Marchas e protestos, cartas
a participação feminina na po que o Marquês de Condorcet públicas e obras literárias, e até
lítica foi a conquista do voto e (1743-1794) defendeu a ideia mesmo alguns ataques a autori
começou a ser dado na segunda na Assembleia Nacional duran dades e prédios públicos foram
metade do século XIX – embora te a Revolução Francesa. Logo suas armas de luta.
o tema já tivesse sido levantado depois, a escritora inglesa Mary A Inglaterra e os Estados
um pouco antes. Com a difu Wollstonecraft (1759-1797) pro Unidos, onde o movimento
são dos conceitos de liberdade, duziu os fundamentos para a sufragista foi mais forte, só re
igualdade e direitos humanos e defesa do sufrágio. Já em 1848, gulamentaram o voto feminino
com o surgimento das democra nos Estados Unidos, as partici no século XX, em 1918 e 1920,
cias ocidentais, mulheres prin pantes da Convenção de Sene respectivamente. No Brasil, ele
cipalmente nos Estados Unidos ca Falls incluíram essa reivin veio em 1934. O primeiro país
e na Inglaterra começaram a se dicação em sua “Declaração de do mundo a permitir que as mu
organizar para reivindicar o di Sentimentos”. lheres votassem foi a Nova Ze
reito de votar. Assim, o sufrágio Com a propagação dos ar lândia–
dês se deve,
o pioneirismoneozelan-
em grande parte, a
feminino foi uma das principais gumentos em prol do voto femi
bandeiras da chamada Primeira nino, grupos sufragistas foram Kate Sheppard, uma importante
Onda do feminismo. sendo formados em diversos líder política local e fundadora
A noção de que mulheres países, reunindo mulheres inte da organização Woman’s Chris
pudessem votar era impensá lectuais e da classe trabalhado tian TemperationUnion.
VOTO FEMININO
1913
1906
Noruega
Finlândia
1915
Dinamarca
1917
1917 1919 Rússia
1918Áustria Holanda Suécia e
Alemanha,
e Inglaterra
Polônia
1944 1971
França Suíça
1934
Brasil
1903
Austrália
1893
Nova Zelândia
39
Capítulo 3
MULHERES NO PODER
Conquistado o direito ao voto, foram 25 ao todo, o dobro do depois foi incorporada à União
o passo seguinte seria o de par registrado em 1990 (quando Soviética, teve a primeira pre
ticipar ativamente da política 12 mulheres cheavam gover sidenta do mundo contemporâ
ocupando cargos eletivos. Ain nos e Estados). A pesquisa, que neo, Khertek Anchimaa-Toka.
da hoje, o aumento da repre excluiu monarcas, mostrou que Mas a primeira presidenta elei
sentatividade nas três esferas havia 20 presidentas e primei ta democraticamente foi Vigdís
do poder é uma luta feminina ras-ministras em 2015, repre Finnbogadóttir, na Islândia, em
em praticamente todas as par sentando apenas 10,5% do total. 1980.
tes do globo. Na América Latina, a Ar
Levantamento feito pelo PIONEIRAS gentina foi o primeiro país a ser
site Opera Mundi entre os 191 A partir da segunda metade do comandado por uma mulher,
países que compõem a Orga século XX, algumas chefes de com Isabelita Perón ocupando
nização das Nações Unidas Estado e de Governo zeram a presidência após a morte do
(ONU) revelou que, em 2014, história. De 1940 a 1944, a pe marido, Juan Domingo Perón,
o globo bateu o recorde de mu quena República de Tuva, que em 1974. Cinco anos depois, a
lheres no comando de nações: fazia parte da federação russa e deputada Lidia Gueiler Tejada
ocupou interinamente a presi
dência da Bolívia durante oito
“Quando uma mulher entra na política, muda a meses. A primeira latino-ame
ricana a chegar ao cargo pelo
mulher. Quando várias entram, muda a política.” voto foi Violeta Chamorro, na
— Michelle Bachelet, presidenta do Chile Nicarágua, em 1990.
GAROTA
SUPERPODEROSA
Eleita a mulher mais poderosa do mundo
pela revista Forbes por cinco anos con
secutivos, Angela Merkel, a chanceler
(primeira-ministra) alemã desde 2005, é
a também a primeira mulher e o primei
ro nome da antiga Alemanha Oriental a
ocupar o cargo.
Nascida Angela Dorothea Kasner
(ela manteve o sobrenome do primeiro
marido, Merkel, de quem se separou
em 1982), ela entrou para a política em
1989. Liderança do partido conserva
dor União Democrática Cristã, ocupou
os cargos de ministra da Mulher e Ju
ventude e de ministra do Ambiente,
Geralmente, Angela Merkel aparece assim: em meio a vários
Conservação da Natureza e Segurança
homens. Aqui, ela está ao lado do presidente francês, François Nuclear. Em 2005, foi eleita chanceler
Hollande, em Kiev em uma reunião com o presidente ucraniano pelo Parlamento da Alemanha.
40
A mulher na política
41
Capítulo3
POLÍTICA BRASILEIRA:
AINDA FEITA POR HOMENS
REPRESENTATIVIDADE FEMININA NO CONGRESSO
BRASILEIRO É UMA DAS MAIS BAIXAS DO MUNDO
CÂMARA DOS s brasileiras começaram a votar em conta com 51 deputadas de um total de 513 ca
DEPUTADOS
+ MULHER NA POLÍTICA
Nas eleições de 5 de outubro a ser obedecida pelos partidos.
de 2014, o número de deputadas Por isso, a Bancada Feminina
federais no Brasil subiu de 45 para e a Procuradoria Especial da
51 – ou seja, a representatividade Mulher no Senado lançaram
na Câmara passou de 8,7% para a campanha Mais mulher na
9,9%. Essa proporção é considerada política para pressionar a PEC da
baixa (é inferior que a dos países do Mulher (Proposta de Emenda
Oriente Médio, por exemplo). Constitucional 134/2015), que
A legislação eleitoral e partidária estabelece reserva de vagas
estabelece que pelo menos 30% das no Congresso, com aumento
candidaturas de cada chapa sejam de gradativo ao longo das três Bancada Feminina na Câmara dos Deputados em
protesto realizado em maio de 2015 por maior
mulheres; e que 5% dos recursos do próximas legislaturas: 10% na
representatividade na casa
Fundo Partidário e 10% do tempo primeira, 12% na segunda e
de propaganda partidária gratuita 16% na terceira. Pelo texto,
em rádio e TV sejam destinados à caso as cotas não sejam atingidas, as A PEC da Mulher foi aprovada em
promoção da participação feminina na vagas reservadas são preenchidas por 2015 pelo Senado e, em junho de
política. Segundo a Bancada Feminina candidatas – a mulher mais votada 2016, pela Comissão de Constituição
do Congresso, essa legislação é substituiria o homem menos votado e Justiça e de Cidadania da Câmara
ineciente e, muitas vezes, nem chega dentro da mesma legenda. dos Deputados.
42
A mulher na política
1934 – PRIMEIRA cadeira devido à morte do titular passou a usar o nome de solteira,
DEPUTADA FEDERAL (João Bosco de Lima). Foi a primeira Iolanda Ferreira Lima.
senadora eleita do Brasil – a princesa
Isabel ocupara vaga no Senado na 2010 – PRIMEIRA PRESIDENTA
época do Império, mas não pelo Dilma Rousseff, conhecida por ter
voto. Em entrevista à rede britânica combatido a ditadura militar na
BBC em 2013, Michiles armou que juventude e por ter sido a ministra da
o Senado “não tinha nem banheiro Casa Civil do presidente Luiz Inácio
feminino”. Lula da Silva, tornou-se a primeira
mulher a ocupar a Presidência da
1982 – PRIMEIRA MINISTRA República nas eleições de 2010, sendo
A bacharel em Direito e professora reeleita em 2014.
paulistana Esther de Figueiredo Ferraz
foi ministra da Educação de 1982 a Dilma Rousseff
1985. Além de ser a primeira mulher toma posse em
a ocupar um Ministério no Brasil, 2011 em Brasília
foi também a primeira a lecionar
na Universidade de São Paulo
(USP) e a ocupar a Reitoria de uma
universidade paulista (Mackenzie).
1986 – PRIMEIRA
Carlota Pereira de Queiroz na Assembleia
Constituinte de 1934
GOVERNADORA
Filha de um seringueiro e de uma
imigrante árabe, a professora e
Após organizar a assistência advogada Iolanda Fleming foi eleita
aos feridos na Revolução vice-governadora do Acre em 1982.
Constitucionalista, em 1932 em Assumiu o Governo do Estado em
São Paulo, a médica Carlota Pereira 1986, com o afastamento do titular
Queiroz foi eleita em 1933 para a Nabor Júnior para concorrer ao
Assembleia Nacional Constituinte na Senado, e concluiu o mandato em
chapa paulista e, 1934, conseguiu uma 1987 – ano em que se divorciou e
cadeira na Câmara dos Deputados
– tornando-se a primeira deputada
federal do Brasil.
VOCÊ SABIA?
Em 1986, Fortaleza foi a primeira capital brasileira a ter uma prefeita:
Maria Luiza Fontenele, eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Dois
1979 – PRIMEIRA SENADORA
anos depois, Luiza Erundina tornou-se a primeira mulher a administrar
Eunice Michiles era suplente pela
São Paulo, a maior cidade do Brasil.
Arena do Amazonas e assumiu a
43
Capítulo 3
A CONSTITUIÇÃO
DO BATOM
ASSEMBLEIA QUE PRODUZIU A CARTA DE 1988 TEVE
BANCADA FEMININA PEQUENA, MAS PODEROSA
MULHERES NA CONSTITUINTE
As deputadas que zeram a diferença na Assembleia Constituinte
Deputada (partido/estado) Nº
apresentadas
de emendas Nºaprovadas
de emendas Deputada (partido/estado) Nº
apresentadas
de emendas Nº de emendas
aprovadas
Cristina
Dirce
Beth
Eunice
Irma
Abigail
Anna
Benedita
Lídice
LúciaMendes*
MárciaAzize
Passoni
Tutu
Maria
Braga
Vânia
da
Michiles
Kubitschek
Feitosa
Tavares
da
Mata
Quadros
(PSDB/AM)
(PMDB/GO)
Rattes
(PFL/PB)
Silva
(PT/SP)
(PMDB/SP)
(PSB/BA)
(PCdoB/BA)
(PFL/AM)
(PDT/PE)
(PT/RJ)
(PMDB/DF)
(PSDB/RJ)
(PSDB/SP) 227
166
193
226
468
196
117
143
56
43
93
42
- 120
95
12
25
54
29
71
32
48
17
9
- Maria de Lourdes Abadia (PSDB/DF) 70 21
*Licenciada para exercer o cargo de secretária da Cultura do Estado de São Paulo Fonte: Câmara dos Deputados
44
A mulher na política
lação de propostas resultou na e obrigações, nos termos desta homem e pela mulher”). Além
“Carta da Mulher Brasileira Constituição”) e em seu Artigo disso, grande parte das reivindi
aos Constituintes”, entregue ao 226, Parágrafo 5° (“Os direitos cações femininas foi aprovada,
presidente da Assembleia, de e deveres referentes à socieda como a licença-maternidade de
putado Ulysses Guimarães. de conjugal são exercidos pelo 120 dias.
O lobby teve resultados
positivos. O novo texto cons “A atuação das mulheres nesta Casa foi de tal teor,
titucional garantiu a equidade que, pela edicante força do exemplo, aumentará a
de gênero e a proteção dos di
reitos humanos das mulheres representação feminina nas futuras eleições.”
pela primeira vez no Brasil, — Deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional
em seu Artigo 5º, I (“Homens e Constituinte, em discurso de 5 de outubro de 1988 por ocasião da
mulheres são iguais em direitos promulgação da Constituição Federal
A MULHER
NO JUDICIÁRIO
PRESENÇA FEMININA NOS TRIBUNAIS É RECENTE
ADVOGADAS
A participação feminina no Direito brasileiro é Em 2000, Ellen Gracie foi a primeira ministra do Supremo e, em 2006, tornou
um tema central na Ordem dos Advogados do se a primeira mulher a ocupar a presidência do Supremo
45
Capítulo3
VOZ ÀS PROFISSIONAIS
Em 2016, um grupo de mais de 200
mulheres iniciou o movimento Mais
Mulheres no Direito, cujo objetivo
é fomentar a participação feminina
em debates, seminários, congressos
e eventos da área. “Todas as áreas
do Direito preterem as mulheres em
congressos, simpósios, seminários,
livros acadêmicos, docência
universitária, nos escritórios, nos
concursos públicos”, escreveu,
no blog “Agora É que São Elas”,
Ivy Farias, jornalista, estudante de
Direito e uma das fundadoras do
movimento. E concluiu: “Faz-se
necessário um novo adesivo:‘É Com
Mais Mulheres no Direito Que Se
Faz Justiça’”.
O movimento baseou-se em
busca
outro,incentivar
o #NãoTemConversa,
a participação
que
de debates, simpósios e palestras) de comprometendo-se a não
todas as áreas do conhecimento. participar de eventos que
prossionais
(como congressos,
mulheres em eventos
conferências, No website, homens e mulheres tenham apenas debatedores e
podem assinar um termo palestrantes masculinos.
46
A mulher na política
MULHERES CONTRA
A DITADURA
ELAS PARTICIPARAM ATIVAMENTE DE AÇÕES
CONTRA O REGIME DE 1964 E PROTAGONIZARAM
O MOVIMENTO PELA ANISTIA
Ato em memória
das mulheres
vítimas da
ditadura militar,
em frente ao
1º Batalhão de
Polícia do Exército,
onde funcionou o
Doi-Codi, no bairro
do Andaraí, Rio
de Janeiro
ntre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob um As guerrilheiras do Araguaia eram, em sua
47
Capítulo 3
cada em 1991 – um dos poucos casos em que isso 2012 e 2014, com os trabalhos da Comissão Na
foi possível. cional da Verdade que apurou as violações dos
Maria Lúcia foi apenas uma das muitas mu direitos humanos ocorridas durante o período, o
lheres que combateram o regime militar. Entre Brasil pôde conhecer suas histórias.
48
A mulher na política
Comissão Nacional da Verdade (CNV) entrega o relatório nal dos trabalhos à presidenta Dilma Rousseff
49
Capítulo 4
Conquista de espaço A mulher no mercado de trabalho
A MULHER NO
MERCADO DE
TRABALHO
DO SÉCULO 19 AOS DIAS DE HOJE, MUITA COISA
MUDOU, MAS AINDA HÁ MUITO A CONQUISTAR
té o século 19, o padrão comportamen do os homens partiram para as batalhas e não havia
50
O QUE DIZ A LEI
No mercado de trabalho, existem os que exercem idêntica função, na
discriminações diretas e indiretas mesma localidade e para o mesmo
quanto à presença feminina. De empregador.
maneira sutil, algumas empresas A Lei nº 9.029/1995 elenca práticas
estabelecem critérios para discriminatórias que constituem
contratação que eliminam mulheres crimes. Por exemplo, a exigência,
casadas e com lhos. Muitas vezes, o pelo empregador, de testes relativos
acesso e a permanência no emprego à esterilização ou estado de gravidez.
continuam vinculados à comprovação Ou ainda, a adoção de medidas que
de não gravidez. E o assédio sexual induzam à esterilização genética.
e moral no ambiente de trabalho A CLT também proíbe anúncios
ainda são uma realidade. Mas, por lei, de emprego que façam referência
nenhuma destas práticas é permitida. ao sexo, salvo quando a natureza
Conra: da atividade o exigir; a recusa de e oportunidades de ascensão
O artigo 5º da Constituição de empregar, promover ou motivar a prossional; impedir o acesso ou
1988 assegura a igualdade de todos dispensa do trabalho em razão de adotar critérios subjetivos para
perante a lei,“sem distinção de sexo, idade, cor, situação familiar ou inscrição em concursos em empresas
qualquer natureza (...)”. estado de gravidez; considerar o sexo, privadas, em razão de sexo, idade,
O artigo 461 da Consolidação das a idade, a cor ou situação familiar cor, situação familiar ou estado de
Leis Trabalhistas (CLT) proíbe a como determinante para ns de gravidez; proceder revistas íntimas
distinção de remuneração entre remuneração, formação prossional nas funcionárias.
Além de tudo, a mulher ainda planos em favor da carreira. desiguais entre mulheres e ho
cuidava dos afazeres domésti Mas os avanços são surpreen mens no mundo do trabalho:
cos e dos lhos. Não havia, até dentes. De uma educação vol as limitações para conciliar o
então, qualquer tipo de prote tada exclusivamente para os trabalho com as responsabi
ção à mulher gestante ou em cuidados com o lar, as mulheres lidades com a família e a casa
fase de amamentação. representam, hoje, a presença acontece devido à permanên
Hoje, sejam movidas pela majoritária em todos os níveis cia da divisão desigual entre
necessidade de contribuir para de escolaridade, segundo o úl os gêneros dentro da própria
a manutençãoda família ou pelo timo censo do Instituto Brasi casa. Licença-maternidade e
desejo de realização prossio leiro de Geograa e Estatística paternidade também são temas
nal, as mulheres estão cada vez (IBGE). diretamente relacionados à au
mais presentes no mercado de Há ainda importantes de tonomia econômica das mulhe
trabalho. Ainda segue em curso saos pela frente, como a ob res e seu avanço no mercado de
o conito sobre como equilibrar tenção de igualdade salarial. A trabalho, assim como a amplia
vida prossional e pessoal, com dupla jornada de trabalho das ção da oferta de vagas em cre
muitas mulheres abrindo mão mulheres é uma das principais ches e o ensino de qualidade
da maternidade ou adiando os responsáveis pelas condições nas mesmas.
AS GRANDES EXECUTIVAS
As mulheres se deparam com A revista americana Forbes tes aparece na quarta posição,
velhas e novas formas de discri publica anualmente sua relação sendo a primeira executiva da
minação. Além das diferenças das mulheres mais poderosas e lista (encabeçada há nove anos
salariais, há obstáculos ao acesso inuentes do mundo, de onde pela chanceler alemã Angela
a cargos mais elevados e quali é possível extrair os nomes das Merkel). A fundação que Me
cados, onde estão a concentra principaisexecutivasdedestaque. linda lidera é a maior instituição
ção do poder e os melhores sa ta,MelindaGates,co-presidente
Na ediçãode 2016de sualis- de caridade do mundo. Formada
lários. Mas exemplos que fogem em ciências da computaçãoe em
à regra surgem por toda a parte. da Fundação Bill e Melinda Ga administração de empresas, ela
51
Capítulo 4
Melinda Gates, durante evento Mary Barra, da GM, em evento Meg Whitman, da HP, em
em Nova York (EUA) em Detroit (EUA) conferência da empresa
era uma funcionária da Micro à frente da GM. Um deles foi o que havia escondido o defeito
soft quando engatou o romance recall de mais de 30 milhões de de segurança e enganado os
com o “patrão” Bill Gates, hoje veículos devido a um problema consumidores.
o “homem mais rico do mundo” na chave de ignição dos carros Mary Barra, que é engenhei
segundo a mesma publicação. da marca. A falha foi relaciona ra elétrica e possui MBA em ad
Os dois têm três lhos. da a 124 mortes e resultou em ministração, entrou para a GM
Também gura na lista uma investigação criminal con em1980. Desdeentão, jáocupou
Mary Barra, presidente da Ge tra a companhia nos Estados na empresa os cargos de vice
neral Motors (GM), na quinta Unidos. O processo foi encer -presidente executiva e de dire
posição. Ela foi nomeada presi rado após o pagamento de uma tora global de recursos humanos,
dente executiva em 2014 e teve multa de 900 milhões de dóla engenharia e desenvolvimento
de contornar momentos críticos res. A montadora reconheceu de produtos,dentre outros.
CENÁRIO BRASILEIRO
O estudo mais atual sobre a presença feminina no mercado de trabalho brasileiro data de 2014 e foi feito pelo Instituto
Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE).
As principais constatações do estudo, que faz um comparativo de uma década, de 2003 a 2014, são:
O nível da ocupação das menor proporção foi registrada em percentuais em relação a 2014.
1. mulheres (45,4%) continua 2003, 70,8%. Em 2014, os homens, como em
inferior ao dos homens (62,6%), A população ocupada estava 5. toda série histórica, continuam
entretanto, o aumento em relação a 4. distribuída entre 53,9% de tendo um maior número médio
2003 foi superior ao dos homens. homens (12,4 milhões de pessoas) de horas trabalhadas por semana
A pesquisa revelou que a e 46,1% de mulheres (10,6 milhões em todos os trabalhos, do que as
2. participação das mulheres na de pessoas) em 2014. Como já mulheres, 41,8 horas e 38,1 horas,
população ocupada praticamente não observado em anos anteriores, as respectivamente; uma diferença de
se alterou, passando de 46% em 2013 mulheres continuam sendo minoria 3,7 horas. Mas essa diferença vem
para 46,1% em 2014. Ressalta-se que na população ocupada (PO) e diminuindo: em 2003, os homens
maioria na população em idade ativa
no confronto 2003 (43%), houve trabalhavam em média 43,6 horas,
(PIA). Contudo, a participação da
elevação signicativa da participação enquanto que as mulheres 38,3 horas,
mulher na população ocupada vem
delas no mercado de trabalho. uma diferença de 5,3 horas entre eles.
apresentando contínuo crescimento
Em 2014, em média, as mulheres ao longo desses 10 anos de O rendimento médio de
3. ganhavam em torno de 74,2% do observação. No início da série anual, 6. trabalho das mulheres, em 2014,
rendimento recebido pelos homens em 2003, elas representavam 43% estimado em R$ 1.770,99, continua
– uma expansão de 0,6 ponto da população ocupada, implicando, sendo inferior ao dos homens,
percentual frente a 2013 (73,6%). A portanto, crescimento de 3,1 pontos estimado em R$ 2.387,60.
52
Conquista de espaço
Sheryl Sandberg, chefe têm, aprender como negociar sição do YouTube por US$
operacional do Facebook, é ou aumentos de salário e a rece 1,65 bilhão e foi criticada por
tra executiva a constar na lista, berem o pagamento que mere um bom tempo pelo alto valor.
ocupando a sétima posição. A cem”. Sheryl encorajaas mulhe Hoje a empresa vale mais de
número dois da maior rede so res a sonharem alto, assumirem US$ 20 bilhões.
cial do mundo é autora do livro riscos e se lançarem em busca Meg Whitman, executiva
“Faça acontecer – Mulheres, de seus objetivossemmedo.Ela -chefe da HP,é a nona colocada
trabalhoe a vontade de liderar”, acredita que um maior número da lista. A ex-presidente-exe
onde dá dicas como: “Você não de mulheres na liderança levará cutiva do eBay assumiu a HP
pode ter uma carreira integral e a um tratamento mais justo de depois de concorrer ao cargo de
uma vida integral em casa com todas as mulheres. governadora da Califórnia.
os lhos se você está fazendo Quem vem atrás de Sheryl Por m, Ana Patricia Botín,
todo o trabalho doméstico e na lista da Forbes é Susan Wo presidente do Banco Santan
se responsabilizando por todo jcicki, executiva-chefe do You der, ocupa a décima posição
o cuidado com os lhos”. Ou: Tube, empresa que detém a do ranking da Forbes. Ela é a
“Toda mulher, eu sei, se sente plataforma mais popular de ví herdeira do banqueiro Emilio
culpada com relação às escolhas deos do mundo. Susan é uma Botín, que ocupou o mesmo
que está fazendo, incluindo eu das funcionárias mais antigas cargo de 1986 a 2014, ano de
mesma.Naverdade,eumesinto do Google e também super sua morte. Ana Patriciafoi esco
tãoculpadaque escrevium livro visionou a gestão de produtos lhida por unanimidade entre os
inteiro sobre isso”. Ou ainda: AdSense (serviço de exibição acionistas do grupo e, anterior
“Precisamos ajudar as mulheres de anúncios) e Google Video. mente, comandava as operações
a dominarem o poder que elas Em 2006, ela defendeu a aqui do Santander no Reino Unido.
53
Capítulo 4
EXECUTIVAS
BRASILEIRAS
Há também bons exemplos de de relações internacionais da
grandes executivas no Brasil. GE e atuou na Câmara Ameri
Chieko Aoki, fundadora da rede cana de Comércio (Amcham),
de hotéis Blue Tree Towers, ini na Embaixada Americana e em
ciou sua carreira em 1982, como empresas de tecnologia.
diretora de marketing e vendas A modelo Gisele Bündchen
do Caesar Park. E lançou a ban é sempre apontada como uma
deiraBlue TreeHotelsem 1997. grande mulher de negócios
Ela é formada em Administra do Brasil, já que possui vários
ção pela Universidade de Soa, produtos licenciados com seu
em Tóquio, e em Administração nome, além de estampar propa
Hoteleira, pela Cornell Univer gandas de grifes internacionais.
sity, nos Estados Unidos. Claudia Sender, presidente
Luiza Helena Trajano, do da TAM desde 2013, foi a pri
Magazine Luiza, é formada em meira a assumir uma empresa
direito e administração de em aérea brasileira e ensina: “Mu
presas e está na presidência da lheres, não tentem ser homens.
empresa desde 2008. Esse é o maior erro que pode
A presidente da General mos cometer. Temos compe
Eletrics Brasil, Adriana Macha tências e habilidades únicas e
do, é cientista política e a pri que são valorizadas no mercado
meira mulher a assumir o topo para a tomada de decisões de
Gisele Bündchen, em evento em Nova York (EUA) da empresa. Antes, foi diretora empresas”.
54
Conquista de espaço
55
Capítulo 4
A MULHER NO ESPORTE
Na antiguidade, as mulheres campeões olímpicos, ela esca
eram proibidas de participar pou da morte.
de qualquer prática esporti O primeiro registro de uma
va. Os homens competiam nus mulher nos Jogos Olímpicos da
e as mulheres eram proibidas Antiguidade é de 268 a.C, du
até de assistir às competições. rante a 128º Olimpíada, quando
Na Grécia, a lei era tão rí a grega Belistiche participou
gida que, no regulamento dos e venceu a prova de quadriga
Jogos Olímpicos, o artigo 5º de potros – carro puxado por
dizia que as mulheres casadas quatro animais. Depois dela, os
não podiam assistir as compe gregos instituíram os jogos He
tições, com sanção de morte. ranos, exclusivamente femini
Entretanto, uma mulher cha nos, que contavam apenas com
mada Caripátida desobedeceu uma prova: a corrida de 162
a lei ao assistir a participação metros. Jogos que foram proi
de seu lho, Psidoro, no pugi bidos, assim como a realização
lato, disfarçou-se de treinador dos Jogos Olímpicos, durante a
colocando uma túnica e ingres dominação romana.
sou no local dos jogos. Psidoro Na Era Moderna, as Olim
venceu a competição e Caripá píadas voltaram a ser realiza
tida acabou invadindo a arena das. No entanto, as mulheres
para abraçar seu lho, e foi continuaram sendo proibidas
descoberta, porém por ser de de participar.Na época, o movi
família inuente de esportistas mentopelos direitos das mulhe
MULHERES NO FUTEBOL
“Certamente ninguém exigirá gramados: em 1941, o Decreto
da mulher que jogue futebol ou Lei 3.199, que cou vigente até
rugby, que esmurre antagonistas 1975, proibia a prática de futebol
com o guante de boxe, que para as mulheres no Brasil.
arremesse barras de ferro, que Em 1964, nova resolução do
se engalnhe em luta romana. Conselho Nacional de Desportos
Há exercícios que lhe não proibiu o futebol feminino de ser
são próprios e que lhe seriam praticado e essa decisão somente
prejudiciais, não só à beleza como foi anulada em 1981, mas ainda
à saúde e até a sujeitariam ao assim as jogadoras não poderiam
ridículo”, armou o romancista se prossionalizar.
carioca Coelho Netto em 1926. Curiosamente, foi com as
O esporte era, então, colocado mulheres que o termo “torcer”
como uma prática exclusiva de passou a denir a ação de quem
homens, já que, no pensamento vai a umnervosas
porque, estádio decom
futebol.Tudo
as partidas,
da época, mulheres tinham que
ser delicadas e car reservadas as “torcedoras” torciam seus
ao espaço privado. lenços nas arquibancadas, isso no
Tanto que dois decretos-lei foram início do século 20.
assinados para evitar que as Apenas em 1996, o futebol
mulheres se aproximassem dos feminino foi incluído na lista dos
56
Conquistade espaço
JUDOCAS SUBVERSIVAS
Não existe um relato conável ocialmente proibido para mulheres. para ser advertido. Mas, novamente,
de como o judô chegou ao Brasil, Desta forma, Patrícia Maria de subverteu as ordens e levou toda
mas acredita-se que ele tenha Carvalho e Silva,Ana Maria de a equipe uniformizada e com as
vindo junto com os imigrantes Carvalho e Silva, Cristina Maria de medalhas no peito.
japoneses na década de 1920. Desde Carvalho e Silva e Kasue Ueda se
então, também especula-se, sem tornaram Patrício Mário de Carvalho
comprovações, que lhos e lhas e Silva,Amel Mário de Carvalho e
destes imigrantes tenham aprendido Silva, Cristiano Mário de Carvalho e
as técnicas de luta. Silva e Ueda Kasue. E retornaram do
Mas um marco importante para a Uruguai trazendo duas medalhas de A tática
participação feminina brasileira neste ouro e uma de bronze, bem como o surtiu efeito.
esporte data de 1979, quando o título de campeões gerais do torneio Dois meses depois,
professor e presidente da Federação já que tais pontos foram fundamentais o decreto que proibia
de Judô do Estado do Rio de Janeiro, para serem somados aos dos atletas a participação feminina nos
Joaquim Mamede de Carvalho e Silva, masculinos, que também haviam campeonatos foi revogado.
inscreveu três de suas lhas judocas conquistado medalhas. Em 1980, houve o primeiro
e mais outra aluna no Campeonato Na volta, Carvalho e Silva pai foi campeonato brasileiro
Sul-Americano com falsos nomes imediatamente chamado pelo feminino de judô na cidade do
masculinos. Até então, o esporte era Conselho Nacional de Desportos Rio de Janeiro.
res ganhou muita força e várias prova e tinha testemunhas de organizou os Jogos Olímpicos
instituições pediram ao Comitê seu feito. Mesmo assim, não foi Femininos em1922, 1926, 1930
Olímpico Internacional (COI) reconhecida pelo COI. e 1934.
a participação das mulheres nos Em 1917, a francesa Ali Com a pressão, o COI foi
jogos, a qual foi negada. ce Melliat fundou a Federação obrigado a reconhecer a parti
Como protesto, a grega Sta Esportiva Feminina Interna cipação feminina em 1936, du
mata Revithi correu a maratona cional (FEFI), que passou a rante as Olimpíadas de Berlim,
de 40 quilômetros um dia após supervisionar recordes e esta quando as mulheres foram o
a corrida ocial de 1896. Ela belecer regras para o esporte cialmente reconhecidas como
bateu o tempo dos homens na feminino. A FEFI também atletas olímpicas.
esportes olímpicos e, no mesmo ano, presidir e nanciar o British Ladies – e O grande salto do futebol feminino
o país conquistava o quarto lugar nas era também uma notória feminista. aconteceu em 1917. Naquele ano
Olimpíadas de Atlanta (EUA).Também O clube empunhou a bandeira dos nasceu a Challenge Cup, conhecida
foi quarto lugar nas Olimpíadas direitos da mulher através do país, também como Munitionettes’ Cup por
de Sidney e medalha de prata nas além de promover o esporte feminino. envolver as trabalhadoras da indústria
olimpíadas de Atenas e Pequim. Em A equipe ajudou a abrir a imprensa de munições. Na decisão, 22 mil pessoas
2007, a seleção feminina conquistou para vários debates em voga no nal assistiram à vitória do Blyth Spartans
a medalha de ouro, no Brasil, nos do século 19 sobre os ideais femininos sobre o Teeside por 5 a 0, em jogo
Jogos Pan-americanos, disputado no e a sexualidade. Através de sua realizado no Ayresome Park, o estádio
Rio de Janeiro, sendo que já haviam representatividade, o clube subvertia do Middlesbrough. Entre as estrelas da
conquistado o ouro na nal do Pan de padrões, abolindo anáguas e espartilhos equipe estavam Bella Reay, autora de
Santo Domingo. para vestir calças e blusas. O clube mais de 130 gols naquela campanha, e
duraria apenas dois anos e acabaria por Jennie Morgan, que saiu direto de seu
ORIGEM NA INGLATERRA falta de verbas. casamento para um jogo e, mais do que
Assim como o futebol masculino, o O futebol ressurgiria com força total entrar em campo, anotou dois gols para
feminino também nasceu na Inglaterra. durante a Primeira Guerra Mundial, a equipe.
Em 1894, as mulheres criaram o com a modalidade usada para entreter Contudo, o m do conito voltou a
primeiro clube, em Londres: o British o povo e disciplinar as trabalhadoras. recrudescer o espaço às mulheres em
Ladies Football Club. À frente delas Da mesma forma como elas foram campo. Entre várias iniciativas esparsas,
estava Nettie Honeyball, pseudônimo absorvidas por trabalhos praticamente o futebol feminino só ganhou forças na
de Mary Hutson, capitã e secretária exclusivos aos homens, também segunda metade do século, se tornando
do time, e Lady Florence Dixie, uma puderam experimentar o gosto de um evento global depois dos anos 1990,
aristocrata escocesa que aceitou calçar chuteiras. com a criação da Copa do Mundo.
57
Capítulo 4
A MULHER NA CIÊNCIA
O machismo histórico da socie anos, apenas 47 mulheres foram
dade também se faz presente na agraciadas. Destas, apenas duas
participação ainda tímida das pelos feitos no campo da física,
mulheres nas ciências. Mas este quatro de química, 11 de medi
é um cenário que deve mudar cina ou siologia e apenas uma
emum futuro bastante próximo, de ciências econômicas. Na li
dado o fato de que as mulheres teratura, foram 14 premiadas
já são, hoje, maioria em todos os e o Prêmio Nobel da Paz já foi
graus de escolaridade. concedido a 16 mulheres.
Cada vez mais, as mulheres Sobre a mesma premiação,
fazem parte da produção cien vale destacar que, em 1903,
tíca. Mas ainda são poucas as no segundo ano de sua criação,
que ganham notoriedade. o Prêmio Nobel de Física foi
Existente desde 1901, o entregue a uma mulher, Marie
Prêmio Nobel anualmente ce Curie, e a seu marido, por seus
lebra as maiores descobertas estudos sobre radioatividade.
cientícas de todo o mundo, o Em 1911, ela ganhou sozinha
que de melhor se produz em mais um prêmio Nobel, desta
literatura e os maiores feitos vez de Química, pela desco
no sentido de alcançar a paz berta dos elementos rádio e
mundial, mas, em todos estes polônio.
58
Conquista de espaço
MULHERES NOBEL
NOBEL
1903 DE FÍSICA
1963 - Marie
Maria Goeppert
Curie Mayer 1983 - Gerty
1977
1947 Barbara
RosalynYalow
Cori
McClintock NOBEL
2014 DA PAZ
- MalalaYousafzai
NOBEL DE FISIOLOGIA
OU MEDICINA 1966 - Nelly Sachs
2014 - Elizabeth
2009 May-Britt H.
Moser
Blackburn 1945 - Gabriela Mistral
NOBELDE CIÊNCIAS
ECONÔMICAS
2008
2004
1995
1988
1986
2009 - Rita
Françoise
Linda
Christiane
Gertrude
CarolW.
Levi-Montalcini
B. Buck
Greider
Barré-Sinoussi
B.
Nüsslein-Volhard
Elion 1938
1909
1928 - Pearl
1926 SigridBuck
Grazia
Selma Undset
Lagerlöf
Deledda 2009 - Elinor Ostrom
59
Capítulo 4
AS GRANDES CIENTISTAS
ADA LOVELACE gerir recursos comuns, como FLORENCE SABIN
(1815 - 1852) orestas ou a pesca. Ela contradisse (1871 - 1953)
É considerada a primeira que interesses individuais se A“primeira-damada ciência americana”,
programadora do mundo por sobrepõem a um objetivo coletivo, ela estudou os sistemas linfático
sua pesquisa em motores resultando em destruição dos e imunológico do corpo humano.
analíticos – a ferramenta que bens públicos e dos recursos Tornou-se a primeira mulher a ganhar
baseou a invenção dos primeiros escassos. Comprovou, na prática, uma cadeira na Academia Nacional de
computadores. Suas observações que interesses isolados de certos Ciência dos Estados Unidos.
sobre os motores são os primeiros grupos podem ser mais benécos
algoritmos conhecidos. à economia e ao meio ambiente do FRANCISCA PRAGUER
que uma intervenção do Estado ou FRÓES (1872 - 1931)
CECILIA GRIERSON do mercado. Foi uma médica e feminista brasileira,
(1859 - 1934) uma pioneira em todas as áreas onde
Nascida na Argentina, foi a primeira ELIZABETH ARDEN atuou: foi das primeiras mulheres
mulher a estudar medicina na (1884 - 1966) formadas em medicina e também a
América do Sul. Era feminista e Canadense que criou as primeiras defender direitos femininos.
escreveu um livro sobre cinesiologia, fórmulas dos produtos de beleza.
que é o estudo o movimento do Formada em enfermagem, começou GERTRUDE BELL ELION
corpo humano. sua carreira criando cremes para (1918 - 1999)
queimaduras em sua própria cozinha, A americana foi Prêmio Nobel
ELINOR OSTROM usando leite e gordura. Logo, passou a de medicina em 1988. Ela criou
(1933 – 2012) buscar a receita do creme hidratante medicações para suavizar sintomas
Primeira mulher a ganhar um Prêmio perfeito.A empresa Elizabeth Arden de doenças como Aids, leucemia e
Nobel de Economia. Professora é, ainda hoje, uma das mais valiosas herpes, usando métodos inovadores
da Universidade de Indiana e empresas de cosméticos. de pesquisa, que inibiam os
formada não em economia, mas patógenos sem causar danos às
em ciência política, ela foi laureada ELIZABETH BLACKWELL células contaminadas.
em 2009, juntamente com Oliver (1821 - 1910)
Williamson, por pesquisas no Em uma época em que mulheres GERTRUDE ELLION
campo da governança econômica. não estudava, ela tanto insistiu que (1918 - 1999)
Ela estudou como as pessoas se tornou a primeira a se formar Bioquímica, ganhou o prêmio Nobel
se organizam e colaboram para em medicina. com a invenção de drogas para serem
60
Conquista de espaço
A PRIMEIRA ASTRONAUTA
A primeira astronauta do mundo foi a russa
Valentina Tereshkova, que não era militar,
trabalhava numa fábrica têxtil e participava
de um clube amador de paraquedismo. Ela foi
escolhida pelo líder soviético Nikita Khrushchov
e recebeu treinamento especial, além de aulas de
engenharia espacial.
A ida de uma mulher ao espaço não signicava a
entrada de mulheres no programa espacial russo.
Na verdade, era mais uma propaganda, uma
forma de desviar a atenção do programa espacial
americano.
Em 16 junho de 1963, ela voou na cápsulaVostok
6, tornando-se ao mesmo tempo a primeira Selo impresso em Cuba mostra a famosa
mulher e a primeira pessoa civil no espaço. astronauta soviética ValentinaTereshkova e o
Foram três dias em órbita. foguete Vostok-6
61
Capítulo 4
A MULHER
NAS ARTES
Mais do que musa inspiradora, a mulher
sempre se fez presente nas artes plásticas à
frente do processo criativo. Conra as pio
neiras da área:
SOFONISBA ANGUISSOLA
(1532 - 1625)
Pintora renascentista italiana, discípula
de Bernardino Campi. Era de família
nobre, porém sem muitos recursos -
nanceiros. Recebeu uma educação boa
e completa, incluindo belas artes, e a
sua aprendizagem com pintores locais
estabeleceu precedentes para as mu
lheres serem aceitas como estudantes
de artes. Foi a primeira artista a adqui
rir fama internacional de que se tem no
tícia. Foi admirada por Michelangelo e
Anthony van Dyck, entre outros.
62
Conquista de espaço
FRIDA KAHLO
(1907 - 1954)
Símbolo feminista para as mulheres do século
21, foi umapintora mexicana cuja fama vem de
seus quadros, mas também de sua tumultuada
vida pessoal. Aos seis anos, contrai poliomie
lite, o que a deixa com uma lesão no pé direi
to. Aos 18, sofre um grave acidente, quando
o bonde onde viajava choca-se com um trem.
O para-choque de um dos veículos perfurou
-lhe as costas, causando uma fratura pélvica e
hemorragia. Frida cou muitos meses entre
a vida e a morte e teve que praticamente re
construir seu corpo. Durante a sua longa con
valescença, começou a pintar, usando a caixa
de tintas de seu pai e um cavalete adaptado
à cama.
Em 1928, entrou no Partido Comunista do
México e conheceu o muralista Diego Rivera,
seu futuro marido. O casamento foi tumultu
ado e marcado por muitos casos de traição –
Fridaera bissexual assumida e Rivera aceitava
seus casos com mulheres, mas não com ho
mens. Fridanunca conseguiu levar uma gesta
ção adiante, resultado dos traumas sofridos no Grate
em rua de
acidente de bonde, e sofreu diversos abortos. “Espero que minha partida seja feliz, e espero Montevidéu,
Tentoupor vezes o suicídio e, em 1954, foi en nunca mais regressar – Frida” permite a hipó Uruguai, em
contrada morta – não se sabe se em decorrên tese de suicídio. homenagem
Frida Khalo a
cia de uma embolia pulmonar, como apontado Em suas obras, é possível constatar mui
no atestado de óbito, ou se por overdose de tas referências às enfermidades que sofreu, às
remédios, dado que um bilhete com os dizeres perdas e também ao folclore mexicano.
CAMILLE CLAUDEL
(1864 - 1943)
63
Capítulo 4
AS MULHERES NA SEMANA DE 22
Tarsila do ca. Entrou para o movimento
Amaral (1886 - modernista aos 18 anos, usava
1973) veio de roupas de homem e até fumava
família burgue em público. Junto com Oswald
sa de São Pau de Andrade, se liou ao Partido
lo. Casou-se Comunista e foi presa política.
pela primeira Olívia Guedes Penteado
vez em 1904 e, (1872 - 1934) foi a grande mece
em 1913, con nas dos modernistas. Seus pais
seguiu anular eram os barões de Pirapingui,
o casamento. que tinham uma importante
Resolveu lar plantação de café. Era em sua
gar a vida de casa que se encontravam os ar
dona de casa tistas e os intelectuais da época.
e foi estudar
arte. Mas foi
em Paris que
renou o seu
Selo em O movimento que reuniu artis estilo de pintar e a maneira de
homenagem à
Bienal de Artes de
tas plásticos, músicos, poetas se vestir. Casadacom o também
São Paulo com a e escritores mudou a história artista Oswald de Andrade, o
obra “Urutu”, de cultural do Brasil. Além de pro relacionamento foi interrom
Tarsila do Amaral por uma nova maneira de fazer pido por conta do caso que ele
e ver a arte, os participantes teve com Pagu.
provocaram mudanças compor Anita Malfatti (1889 - 1964)
tamentais na sociedade conser veio de família humilde e desde
vadora da época. sempre estudou arte. Ela dava
Fazer quadros para expor aula de arte acadêmica para se
já era um escândalo para mu sustentar. Nunca se casou e, ao
lheres, participar de um movi contrário das mulheres de sua
mento vanguardista era ainda época, passou a vida sem de
mais inimaginável. Elas nunca pender de nenhum homem.
chegaram a defender bandeiras Patrícia Rehder Galvão ou
feministas, mas chocavam pelas Pagu (1910 - 1962) era poeti
atitudes autônomas. sa, jornalista e ativista políti
A MULHER NA LITERATURA
O Nobel de Literatura de 2015 de mulheres escritoras ocor individualizado. A primeira le
foi para a bielorrussa Svetlana re principalmente a partir do gislação autorizando a abertura
Alexievich, primeira mulher século XIX, pois até então as de escolas públicas femininas
do país a receber o prêmio. Ao mulheres não podiam exercer data de 1827, assegurando os
todo, 112 pessoas já venceram o nenhum tipo de atividade in estudos elementares. Mesmo
Nobel de Literatura, no entanto, telectual ou cultural, os ofícios assim, poucas tiveram acesso à
apenas 14 foram mulheres. O designados a elas eram os afaze educação.
primeiroprêmio a uma escritora res domésticos ou, então, seus Este ano, o país tem sua
data de 1909, e foi dado à sueca pais poderiam optar por envi primeira chance de receber um
Selma Lagerlöf(veja a lista com á-las a conventos, algumas es Nobel de Literatura, justamen
pleta na arte Mulheres Nobel). colas particulares nas casas das te com uma mulher: Lygia Fa
No Brasil, o surgimento professoras, ou ainda o ensino gundes Telles.
64
Conquista de espaço
GRANDES ESCRITORAS
Nobel ou não, muitas mulheres merecem destaque pelo alcance de suas obras. Conra a lista das mais lidas.
65
Capítulo 4
Danielle Steel em
premiação em Beverly
Hills, em 2002 Rowling em
conferência
em Nova
de 2006,
York
MULHERES NAS
ARTES CÊNICAS
No início da história do teatro, somente homens
atuavam. Só a partir do século 17 as mulheres
passaram a dividir a cena. Therese du Parc,
conhecida depois como La Champmesle, é a pri
meira referência feminina de que se tem notícia
nos palcos.
Mas a opção prossional pelas artes cênicas
foi sempre uma luta contra o preconceito para as
mulheres. “Vocês devem saber que nós não tínha
mos nem classe, nós éramos consideradas prosti
tutas mesmo”, armou certa vez em entrevista a
atriz Dercy Gonçalves.
BETTE DAVIS
(1908 – 1989)
Foi uma das personalidades femininas
mais relevantes na história da televisão e
do cinema. Ganhadora de dois Oscars, ela
quebrou uma série de dogmas machistas
da indústria com sua forte personalidade.
Conta-se que, certa vez, um diretor per
guntou se ela poderia levantar um pouco
a saia acima do joelho. Sua resposta foi: “O
que pernas têm a ver com atuar?”.
Bette Davis no museu de cera MadameTussauds de Hollywood (EUA)
66
Conquista de espaço
LIVULLMANN
(1938) de seu lho. Porqueé mulhere
a criançaprecisadelaem casa.
Atriz sueca musa do diretor Como ele é homem, é normal
de cinema Ingamar Bergman, que dê atenção prioritária à
mas ela também diretora, ro sua prossão. Quando um
teirista e escritora, foi outra a homem e uma mulher não se
ganhar a admiração da causa casam, é ela a mãe de um -
feminista. Divorciada e com lho ilegítimo. É dela a respon
uma lha, ela denunciou em sabilidade. Tem de sacricar
seu livro, “Mutações”,a injus dezoito anos de sua vida para
tiça que sofreu ao pedir um o que é melhor para a criança.
salário igual ao de um colega Ela tem de recusar trabalho
homem que exercia a mesma e contato com outras pesso
funçãoeobtevecomoresposta as quando não pode pagar
um “ele sustenta uma família por ajuda ou obtê-la. Tem de
e por isso ganha mais”. Escre correr para casa e ser pontu
veu ela: “Em caso de divórcio, al, porque sabe que qualquer Liv Ullmann em Cannes (França), em 2001
CINEASTAS
Alice Guy-Blache (1873 - 1968) foi a primeira diretora do cinema francês, sendo
reverenciada como a primeira diretora e roteirista de lmes de cção e vista
como uma grande visionária que experimentou o sistema de som, as cores, efeitos
especiais e usou temas complexos na narrativa. Realizou mais de 700 lmes.
No Brasil, a pioneira foi Carmen Santos (1904 - 1952), de origem portuguesa,
mas considerada a mais importante mulher da história do cinema brasileiro.
Ela foi atriz, produtora, roteirista e diretora. Seu maior projeto foi o lme
“Incondência Mineira”.
67
Capítulo 5
Feminismo hoje Feminismo hoje
FEMINISMOS ATUAIS
MOVIMENTO SE RAMIFICA PARA DEFENDER GRUPOS
ESPECÍFICOS, MAS TEM PAUTAS QUE ABRANGEM TODOS
ELES E OCUPAM ESPAÇOS VIRTUAIS
istoricamente, pode-se dizer campo, para citar algumas. Assim, não culações não institucionalizadas e até
ENTIDADES FEMINISTAS
A Associação Brasileira de Católicas pelo Direito de Decidir Rede Nacional Feminista de
Organizações Não Governamentais CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Saúde, Direitos Sexuais e Direitos
(Abong) possui 43 entidades Informação e Ação Reprodutivos
relacionadas às questões de gênero CFEMEA – Centro Feminista de REDOR – Rede Feminista Norte e
e discriminação sexual. Além disso, Estudos e Assessoria Nordeste de Estudos e Pesquisas
existes ONGs feministas no Brasil Coletivo Feminista Sexualidade e sobre a Mulher e Relações de
que não estão associadas à Abong. Saúde Gênero
Conra algumas das mais atuantes. Criola Ser Mulher – Centro de Estudos e
Anis – Instituto de Bioética Geledés – Instituto da Mulher Negra Ação da Mulher Urbana e Rural
CAMTRA – Casa da Mulher Grupo Transas do Corpo SOS Corpo – Instituto Feminista
Trabalhadora Ilê Mulher – Associação Cultural e pela Democracia
Casa da Mulher do Nordeste Benecente Themis – Assessoria Jurídica e
Casa de Cultura da Mulher Negra Rede Mulher de Educação Estudos de Gênero
68
NA ORDEM DO DIA
ALGUMAS DAS PRINCIPAIS LUTAS DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS HOJE NO BRASIL
VIOLÊNCIA SEXISTA
A violência sexista é qualquer de feminicídio no Brasil ainda
tipo de agressão – física, sexual, é a quinta maior do mundo, de
verbal ou psicológica – motiva acordo com a Organização das
da pelo gênero da vítima. E é Nações Unidas (ONU): 4,8 para
esse tipo de violência, praticada cada 100 mil mulheres.
em casa, na escola, no trabalho Para as mulheres negras, a
e na rua, que continua gerando situação é ainda mais perigosa.
protestos e reivindicações. Segundo a ONU, o número de
Muito embora o Brasil pos assassinatos de mulheres negras
sua uma moderna legislação de cresceu 54% entre 2003 e 2013
proteção à mulher, com a Lei (ano em que foram registradas
Maria da Penha, de 2006, e a 2.875 mortes). A taxa de vitimi
Lei do Feminicídio, de 2015, zação de negras – índice que
as brasileiras seguem sofrendo resulta da relação entre as taxas
com a violência de gênero. de mortalidade branca e negra
Segundo os últimos dados – aumentou 190,9% no mesmo
da Central de Atendimento à período.
Mulher – Ligue 180, vinculada “Feminicídios são assassi
à Secretaria de Políticas para natos cruéis e marcados por
as Mulheres da Presidência da impossibilidade de defesa da ví
República, foram feitas 63.090 tima, torturas, mutilações e de TIPOS DE VIOLÊNCIA
denúncias de violência contra a gradações do corpo e da memó A Lei Maria da Penha, como é conhecida a lei
mulher entre janeiro e outubro ria. E, na maioria das vezes, não federal nº 11.340, está em vigor desde 2006
e enrijece a proteção não só de mulheres
de 2015. Destas, 49,82% foram se encerram com o assassinato.
casadas, mas também de solteiras, lésbicas
denúncias de violência física; Mantêm-se pela impunidade e
e transexuais. Além disso, identica como
30,40%, de violência psicológi pela diculdade do poder pú violência doméstica também os casos de
ca; 7,33%, de violência moral; blico em garantir a justiça às sofrimento psicológico (constrangimento,
4,86%, de violência sexual; e vítimas e a punição aos agres insulto etc.), violência sexual (estupro,
2,19%, de violência patrimonial. sores”, disse Nadine Gusman, casamento forçado e impedimento de uso
Quase 80% das vítimas eram representante da ONU Mu de métodos contraceptivos) e violência
mães, e na maioria desses casos lheres no Brasil, na ocasião da patrimonial (destituição de bens, recursos e
(80,42%) os lhos presenciaram divulgação dos dados, em abril documentos pessoais).
a violência. E, em 67,36% das de 2016.
denúncias recebidas pelo Ligue
180 nos dez primeiros meses de
2015, a violência foi cometida MOTIVADORES DA VIOLÊNCIA
por atuais ou ex-companhei
ros, cônjuges, namorados ou DE GÊNERO
amantes. Segundo as “Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com
Dados do Instituto de Pes Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres – Feminicídios”, divulgadas
em abril de 2016 pela ONU em parceria com o governo brasileiro, é possível
quisa Econômica Aplicada
(Ipea) indicam que a Lei Maria tipicar as motivações de crimes cometidos contra mulheres. São elas:
Sentimento de posse sobre a mulher;
da Penha contribuiu para uma
Controle sobre seu corpo, desejo e autonomia;
reduçãode cercade 10%na taxa
Limitação de sua emancipação prossional, econômica, social ou intelectual;
de homicídios contra mulheres Tratamento da mulher como objeto sexual;
praticados dentro da residência Manifestações de desprezo e ódio pela mulher e por sua condição de gênero.
das vítimas. No entanto, a taxa
69
Capítulo 5
ABORTO
que receitarem a pílula do dia
seguinte a vítimas de estupro.
Segundo os críticos do Pro
jeto de Lei 5.069/13, ele impõe
diculdadespara quevítimas de
estupro procurem o atendimen
to de saúde, podendo aumentar
o número de abortos clandesti
nos – potencialmente prejudi
ciais para essas mulheres.
Mulheres fazem
DESTAQUE
O slogan “Meu corpo, minhas tados aprovou o Projeto de Lei
protesto em No Brasil de 2015,“Meu
novembro de
regras” não é novo: ele surgiu 5.069/13, que modica a Lei de corpo, minhas regras” virou
2015 em São já na década 1970, quando a Atendimento às Vítimas de Vio título de um vídeo em
Paulo contra a PL Segunda Onda feminista con lência Sexual. que diversos atores falam
5.069/13 frontou a sociedade com a di O novo texto prevê puni sobre os tabus da gravidez.
fícil questão do aborto. Porém, ções mais severas para o aborto Bruna Linzmeyer, Barbara
ele continua tão atual quanto e altera as regras para que víti Paz, Julia Lemmertz, Nanda
naquela época, uma vez que a mas de estupro tenham direito Costa, Alexandre Borges,
Johnny Massaro e outros
discussão pouco avançou. ao procedimento no SUS. Pelo
fazem uma performance no
A lei brasileira já mostrou projeto de lei, não basta mais
vídeo levantando questões
algum progresso em relação a palavra da vítima de estupro como possibilidade de
às reivindicações femininas, para garantir o direito de abor escolha, desglamourização
permitindo o aborto em casos tar (como acontece hoje), pas da gravidez e papel da
de estupro, feto anencéfalo ou sando a ser exigido que ela pro mulher na sociedade. O
risco de vida para a gestante. cure a polícia e faça um exame vídeo foi uma resposta ao
Porém, mulheres saíram às ruas de corpo de delito. O projeto ataque feito contra a página
em todo o país em outubro e de lei também redene o ter no Facebook do lme
“O Olmo e a Gaivota”, que
novembro de 2015, quando a mo “prolaxia da gravidez” de
trata do aborto.
Comissão de Constituição e outra lei (12.845/13), podendo
Justiça da Câmara dos Depu colocar em cheque os médicos
CULTURA DO ESTUPRO
A “cultura do estupro” é consi Segundo o Mapa da Vio maior do que no levantamento
derada, por estudiosos e ativis lência 2015, que reúne dados anterior.
tas, uma das faces mais cruéis de 2003 a 2013, o número de Essa estatística não só é
da sociedade brasileira: cultu estupros no Brasil teve au preocupante, como também é
ralmente, culpa-se a vítima de mento de 21% em uma déca apenas um recorte da realida
estupro por ter usado uma rou da. Já os dados da Central de de, uma vez que muitos casos
pa curta, por não ter reagido ou Atendimento à Mulher – Ligue de violência sexual e estupro
simplesmente por ser atraente 180, serviço vinculado à Secre não chegam ao conhecimento
demais. E é esse pensamento taria de Políticas para Mulheres das autoridades. Pelas estima
arraigado que tanto estimula da Presidência da República, tivas do Fórum Brasileiro de
a impunidade de estuprado mostram que a violência sexual Segurança Pública, em 2014
res, como também inibe que está crescendo: foram cerca de pode ter havido uma mulher
mulheres denunciem as violên dez casos por dia, em média, estuprada a cada 11 minutos
cias sofridas. em 2015, uma taxa 165,27% no Brasil.
70
Feminismo hoje
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Ainda no mote “Meu corpo,
minhas regras”, uma das lutas
feministas modernas que tem
ganhado cada vez mais adeptas
é contra a violência obstétrica
– abusos e agressões, físicas e
verbais, cometidos por médicos
e enfermeiros durante o parto
normal ou cesariano.
Entre as atitudes das equi
pes médicas consideradas vio
lência obstétrica, estão: recusar
ou não oferecer alívios para a
dor; usar sem parcimônia me
dicamentos como a ocitocina
para acelerar o trabalho de par lar.Porano no Brasil, 46,6% dos ciona-se especicamente a re
to; não informar a parturiente partos, em média, são cesáreas; tomar o protagonismo feminino
sobre procedimentos médicos na rede privada, essa proporção sobre a gestaçãoe oparto, tiran
a serem realizados; negar aten chega a 85%. O índice está bem do os prossionais médicos do
dimento à gestante; agredir acima do recomendado pela centro do processo.
física ou verbalmente a partu Organização Mundial da Saúde
riente; impedir que enfermei (OMS), de 15% de cesarianas. A
ras obstetras e doulas partici taxa indica que cesáreas são re VOCÊ SABIA?
pem do parto. alizadas sem necessidade médi
Segundo levantamento da Fundação Perseu
Outra violência obstétrica é ca, expondo as mães e os bebês Abramo, uma em cada quatro mulheres
relacionada com o tipo de parto brasileiros a mais riscos. arma ter sido vítima de violência durante
realizado: a brasileira sofre para Diante de tal realidade, o parto, independentemente de ele ter sido
conseguir fazer parto normal, existem organizações e redes feito na rede pública ou privada.
especialmente na rede particu de mulheres cuja atuação dire
AMAMENTAÇÃO
Os grupos de feministas no MIS em março de
mães têm uma causa que 2014, em protesto contra
não é importante só para o constrangimento e a
elas: é também essencial para proibição.
a saúde dos bebês.Trata-se Em novembro de 2015, mais
do direito à amamentação, mamaços foram realizados
questão que passa por em todo o Brasil depois
conscientização das mães, que uma mulher publicou,
legislação trabalhista e no Facebook, a foto de
liberação da amamentação uma mãe
com
pobrice”.A
a frase
amamentando
postagem
“Pobre fazendo
em locais públicos.
Casos em que mães são
constrangidas ou até mesmo mamadeira
defendia, ainda, uso da
e deofraldas
proibidas de amamentar
em público se tornaram para esconder o peito. Além
notórios a partir de 2014, com em São Paulo para se retirar da sala de protestos em locais públicos,
frequentes denúncias nas redes de exposições e amamentar seu também houve uma repercussão
sociais. Foi o caso da modelo Priscila bebê em um local mais reservado. nas redes sociais: mães postaram
Navarro, abordada por funcionários Resultado: Priscila e um grupo de fotos amamentando com a hashtag
do Museu da Imagem e do Som (MIS) mães realizaram dois mamaços #PobreFazendoRiquice.
71
Capítulo 5
MUTILAÇÃO
Em mensagem para marcar só fere os direitos humanos das
a data, o secretário-geral das vítimas, como também as coloca
Nações Unidas, Ban Ki-moon, em risco de saúde e pode levá
armou: “Nunca antes foi mais -las à morte.
urgente – ou mais possível – De acordo comlevantamen
acabar com a prática da mutila tos da ONU, houve algum pro
ção genital feminina, evitando gresso na questão. Entre 2008
o sofrimento humano incomen e 2016, mais de 15 mil comuni
surável e aumentando o poder dades em 20 países declararam
de mulheres e meninas de ter estar abandonando a prática;
um impacto positivo em nosso em 2015, cinco países aprova
mundo”. ram legislação que criminaliza
Segundo dados do Fundo a mutilação genital. E o mais
das Nações Unidas para a In importante: as populações das
Associação de fância (Unicef), 200 milhões de regiões onde a mutilação é pra
Mulheres de
Gaoua, em Burkina
Em 6 de fevereiro de 2016, meninas e mulheres já foram ticada tem se mostrado desfavo
Faso, conscientiza Dia Internacional da Tolerância submetidas à mutilação genital rável a ela, inclusive meninos e
sobre os riscos Zero para a Mutilação Genital, em 30 países. Metade delas está homens. Porém, a avaliação das
da mutilação Feminina, lideranças da ONU concentrada em apenas três pa Nações Unidas é de que esse
genital. Na
imagem, membro
zeram um chamado para que o íses, Egito, Etiópia e Indonésia, avanço não é suciente e que,
da associação mundo elimine essa prática até ainda que o problema seja con se nada mais for feito, haverá
fotografada em 2030 – uma meta dos Objetivos siderado mundial pela ONU. aumento signicativo no núme
2009 de Desenvolvimento Sustentá A prática, considerada como ro de meninas e mulheres muti
vel (ODS). parte de algumas culturas, não ladas nos próximos 15 anos.
VOCÊ SABIA?
A mutilação genital feminina é uma prática tradicional em diversas culturas e religiões, e consiste em
procedimentos de remoção total ou parcial dos órgãos genitais externos de meninas e mulheres, ou
que provocam lesões nesses órgãos sem razões médicas. Entre esses procedimentos, estão a remoção
do clitóris e dos grandes lábios vaginais, e o estreitamento do orifício vaginal por meio de corte e
sutura. Algumas das consequências da mutilação genital são: dores, hemorragias, infecções bacterianas
recorrentes, infertilidade, risco no parto e até morte.
72
Feminismo hoje
CASAMENTO INFANTIL
Órgãos das Nações Unidas es países da África, da Ásia e do
timam que, se nenhuma me Oriente Médio. Entre as estra
dida for tomada, o número de tégias usadas pelo Programa,
mulheres e meninas que fo estão o aumento do acesso das
ram obrigadas a se casar ainda adolescentes à educação e a
na infância chegará a 1 bilhão serviços de saúde, a conscien
até 2030. Segundo o Fundo de tização dos pais e suas comuni
População das Nações Unidas dades sobre os perigos do casa
(UNFPA), quase 14 milhões de mento precoce, o aumento do
meninas são forçadas a se casar apoio econômico às famílias e
todos os anos no mundo, uma o fortalecimento e cumprimen
média de 37 mil por dia. to de leis que estabeleçam 18
A ONU entende o casamen anos como idade mínima para
to infantil como uma violação o casamento. A meta é extinguir
dos direitos humanos das ado essa prática até 2030 (um dos
lescentes e mulheres. Além de Objetivos de Desenvolvimento
ferir suas escolhas pessoais e Sustentável – ODS).
seu desenvolvimento, a prática
está relacionada a evasão esco
lar, violência doméstica, infec
ção por HIV/Aids e complica NO BRASIL
ções graves no parto. Segundo dados do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geograa
Em março de 2016, o UN e Estatística (IBGE), em 2010 ao menos 88 mil meninas e meninos de 10 a 14
FPA e o Fundo da ONU para anos, e 567 mil com idades entre 15 e 17 de idade estavam casados no país. No
entanto, segundo pesquisa da organização não governamental Instituto Promundo,
a Infância (Unicef) lançaram o
o casamento infantil no Brasil não tem nada a ver com tradições culturais e
Programa Global para Acelerar
ritualísticas, e sim com a pobreza das famílias e a repressão das vontades das
as Ações para Acabar com o Ca meninas. A maior parte desses casamentos é informal (sem registro em cartório) e
samento Infantil, que combate considerada consensual.
o matrimônio infantil em 12
73
Capítulo 5
NÃO PASSARÃO!
A NOVA ONDA DO FEMINISMO É DIGITAL – E NÃO DEIXA O MACHISMO PASSAR
74
Feminismo hoje
uma polêmica conseguiu unir Uma jornalista foi assediada mulheres jornalistas durante o
um pouco os dois lados. Em por um cantor durante uma exercícioda prossão.
abril de 2016, uma revista de entrevista e, ao denunciá-lo, A campanha, iniciada em ju
circulação nacional publicou foi demitida. O caso repercutiu nho de 2016, teve adesão não só
um perl da “quase primeira e virou uma nova bandeira di de jornalistas, mas também de
-dama” brasileira, Marcela Te gital: o combate ao assédio de movimentos feministas e sociais.
FEMINISMO BLOGUEIRO
Algumas das principais feministas, fontes femininas sejam ouvidas em NoYouTube, rede social
individualmente ou organizadas reportagens jornalísticas. exclusivamente de vídeos, as
em grupos e coletivos, atualmente O coletivo feminista Não Me Kahlo, feministas brasileiras ainda precisam
mostram seu trabalho em blogs, que um dos mais atuantes na atualidade, marcar seu território. Um perl que
são uma espécie de diário na internet. também mantém um blog, escrito por traz o tema de uma maneira diferente
Uma das primeiras foi Lola Aronovich, Bruna Leão Rangel,Thaysa Malaquias, é oVocê É Feminista e Não Sabe,
autora do “Escreva Lola Escreva” Paola Barioni, Gabriela Moura e com uma série de entrevistas sobre o
desde 2008. Professora universitária Bruna de Lara. Já o “Blogueiras feminismo e suas propostas.
e pesquisadora de literatura inglesa, Feministas”, fundado em 2010, é um Uma das youtubers de maior sucesso
cinema e questões de gênero, Lola dos diversos blogs colaborativos no Brasil é a jornalista JuliaTolezano,
é uma referência para as blogueiras feministas, e conta com autoras de que transformou o canal JoutJout
brasileiras. Além disso, é autora do todos os cantos do Brasil. Prazer em fenômeno em 2015.
livro homônimo, que reúne 26 textos No fronte do feminismo materno, Embora não se identique como
sobre a experiência de ver um lme. blogueiras atraem seguidores por feminista – o objetivo de seu canal
O “Think Olga”, da jornalista Juliana tratarem de temas relevantes para é quebrar tabus –, ela já trouxe à
de Faria, é outra página que inspira quem tem lhos, sempre com uma tona algumas questões feministas
feministas – e promove campanhas perspectiva de luta por igualdade e importantes. Por exemplo: um de
criativas e ecazes, como Chega de contra a violência obstétrica. Uma das seus vídeos mais acessados (com
Fiu Fiu e #PrimeiroAssédio. O Olga pioneiras e mais bem estabelecidas é mais de 2 milhões de visualizações)
também toca o projeto “Entreviste Ligia Moreiras Sena, do Cientista que é “Não tira o batom vermelho”, que
uma mulher”, para que mais Virou Mãe. trata de relacionamentos abusivos.
75
Capítulo 5
76
Feminismo hoje
Artigo | Por Beatriz Pagliarini Bagagli* Artigo - Por Beatriz Pagliarini Bagagli
QUESTÕES FUNDAMENTAIS
DO TRANSFEMINISMO
O transfeminismo é uma cor que ainda não foi inventado, e estigmatizante.
rente feminista que se pauta em não como meramente frutos Por isso é tão importante ex
discutir a questão das pessoas predeterminados dela. plicitar, pela teoria feminista, os
transexuais, travestis e trans tre as
O identidades
quehaveriade
trans
comumen-
se refere usos que fazemos dos conceitos.
gêneras – iremos usar “pessoas Entendemos os conceitos de
trans” para simplicar a escrita. às múltiplas formas de como os cisgeneridade e transgenerida
Isso implica partir de um lugar sujeitos se encontram em desa de não como entidades opostas
especíco, já que toda proposi cordo com as expectativas em e essencialmente excludentes:
ção transfeminista só faz senti relação ao gênero originalmente ao contrário, compreendemos
do a partir do momento em que designado ao nascimento e vi que uma coisa depende da ou
*Bia Pagliarini reconhecemos a identidade de venciam tais experiências. Tais tra. A alteridade é constitutiva
Bagagli é formada
em Letras pela
gênero das pessoas trans como expectativas se orientam através da identidade: se é alguma coisa
Universidade legítima. Falamos de identidade de normas cisgêneras. “em si” tão somente na relação
Estadual de num sentido que é, ao mesmo Ao armarmos isso, perce de diferença com oque nãosou,
Campinas tempo, subjetivo e político. bemos o surgimento de um ter ou seja, com a diferença.
(Unicamp),
blogueira
Compreendemos as iden mo talvez inusitado: cisgênero e Neste aspecto, apontamos
e ativista tidades trans como plurais e tantos outros derivados, como como soam não apenas impreci
transfeminista. múltiplas. Não há forma pré cisnormatividade, cissexismo sas, mas bastante equivocadas,
-estabelecida para ser travesti e cisgeneridade compulsória. as designações como “biológi
ou transexual; entendemos que Cisgênero é o antônimo de cas”, “de verdade” ou de “nas
as identidades são construções transgênero. Indica, portanto, cença” para qualicar as pessoas
sócio-históricas: elas se consti um alinhamento subjetivo em que não são trans. O transfemi
tuem num espaço entre a me relação às normas e expecta nismo critica profundamente os
mória socialmente consolidada tivas quanto ao gênero que foi discursos que deslegitimam as
e a atualização deste memória designado ao nascer. identidades das pessoas trans
no acontecimento de uma sub Cisgeneridade e o feminis com base em discursos cissexis
jetivação singular. Não há, por mo – A partir desta denição, tas, que apelam para uma noção
tanto, apenas repetição quando surgem diversas polêmicas em equivocada de biologia.
falamos de identidade: somos torno da teoria feminista. Mui Trocando em miúdos: as
interpelados a sermos homens tas pessoas criticam o uso do inconformidades em relação às
e mulheres a partir de um ima termo cisgênero, pois alegam expectativas quanto ao gêne
ginário pré-estabelecido, mas que seu uso poderia naturalizar ro são experiências que dizem
há margem para o advento do as margens que separam os su respeito também às pessoas cis,
inesperado – já que esta inter jeitos que estão do lado de “cá” assim como as conformidades
pelação não funciona enquanto e do lado de “lá”. Contudo, para em relação a estas expectativas
um destino absoluto, e sim pela o transfeminismo, o conceito de também dizem respeito às pes
falha e uidez, pois somos ins cisgeneridade é fundamental soas trans. Discutir o que afeta
tados também como sujeitos de para se pensar a realidade dos as pessoas trans também é as
nossa própria história rumo ao sujeitos trans de uma forma não sunto para afetar as pessoas cis.
Aliás, queremos que as pessoas
Apontamos como soam não apenas imprecisas, cis sejam aliadas em nossa luta
mas bastante equivocadas, as designações como contra a transfobia. Queremos,
portanto, que as pessoas cis não
“biológicas”, “de verdade” ou de “nascença” para saiam “ilesas” ao transfeminis
qualicar as pessoas que não são trans. mo. Acredito na possibilidade
78
Feminismo hoje
da empatia: o sujeito é capaz reitos fundamentais por aqueles curso transfóbico que legitima
de compreender uma realidade que fazem parte de determina tais atos e se manifesta em um
que não o afeta diretamente, ao das minorias. Para pessoas ne discurso que estigmatiza e de
se colocar na posição do outro. gras, mulheres, trabalhadores sumaniza as pessoas trans. Não
Estar na própria posição do e aquelas pertencentes à sigla reconhecer a identidade de gê
“mesmo” requer a necessidade LGBT, nãobasta lutar por direi nero das pessoas trans, neste
ética da escuta do outro para a tos em abstrato, já que é preciso aspecto, é uma forma de desu
construção da consciência de si levar em consideração a dife manizá-las.
se dando a partir deste outro. rença que as marca em relação
Não há, portanto, confor ao hegemônico. Acredito na possibilidade
midade e inconformidade em Por isso o transfeminismo da empatia: o sujeito é capaz
relação ao gênero de forma ab necessariamente pauta a de
soluta, elas são necessariamente núncia contra a transfobia – de compreender uma realidade
relativas: não só há repetição entendemos a transfobia como que não o afeta diretamente,
nas práticas de subjetivação
quanto ao gênero, como não
um vetor especíco de opressão
quemarginalizae
sujeitos trans em nossa
estigmatizaos
socieda
ao se colocar na posição
há nenhuma criação absolu do outro.
tamente deslocada de alguma de e tem implicações diretas em
memória anterior. Esta é uma todos os âmbitos da vida de uma O transfeminismo, por re
forma de pensar dialeticamente pessoa trans. O transfeminismo, conhecer a legitimidade das
que irá nos afastar de qualquer desta forma, irá denunciar qual identidades trans, irá reatuali
tipo de essencialismo quanto ao quer tipo de discurso que cul zar o entendimento de outras
uso dos conceitos de cisgene pabilize a vítima de transfobia. questões, como a orientação
ridade e transgeneridade: isto É muito recorrente ouvirmos sexual. É recorrente dizermos
se dá num nível teórico que é que pessoas trans “escolhem” que identidade de gênero é
também um nível que orienta ser trans e, por isso, seriam res uma coisa e orientação sexual
a nossa forma de fazer política. ponsáveis pelas represálias que é outra; contudo, ainda vemos
Falar de identidades é ne sofrerem em decorrência de as pessoas não compreenderem
cessário como forma de mo se identicarem em desacordo a sexualidade quando o sujeito
bilizar certas reivindicações com as expectativas cisgêneras. que deseja ou que é desejado é
políticas que concernem de Percebam, contudo, que o pró trans. Neste sentido, armamos
terminado grupo: a aprovação prio ato de pressupor que uma que tanto a homossexualidade,
da lei de identidade de gênero, pessoa não deva ser trans para a bissexualidade e a heterosse
João W.Nery (primeiro homem evitar sofrer é em si mesmo algo xualidade não são prerrogativas
transoperado no Brasil) e a efe transfóbico: se o mundo não das pessoas cisgêneras.
tivação dos decretos de nome permitir com que vidas trans Não é pouca coisa a pauta
social são reivindicações espe sejam viáveis, não estaremos transfeminista: reconhecer a le
cícas das pessoas trans. Con ainda livres! gitimidade de nossas identida
tudo, questões mais amplas que Entendemos que a transfo des implica a crítica de todo um
concernem oacesso à educação, bia se manifesta desde casos de sistema social que naturaliza
à saúde, à moradia e ao traba violência explícitos até os mais que as únicas realidades iden
lho também ganham contornos sutis ou simbólicos, sendo que titárias possíveis e inteligíveis
especícos na forma como se estes últimos são a base do pri sejam as das pessoas cisgêne
pautam enquanto reivindica meiro. De acordo com dados da ras. O transfeminismo luta para
ções políticas, já que existem organização Transgender Euro a construção de um mundo em
vulnerabilidades especícas pe (TGEU), o Brasil é o país em que as vidas trans sejam passí
decorrentes da transfobia que que mais se mata pessoas trans veis de serem vividas sem ne
impedem o pleno gozo destes no mundo. Por trás de todos nhuma forma de estigmatização
direitos pelas pessoas trans em esses assassinatos, há um dis e marginalização.
nossa sociedade.
Os movimentos sociais O transfeminismo denuncia qualquer tipo de discurso
apontam como a denição de que culpabilize a vítima de transfobia... se o mundo
um sujeito universal de direi
tos se torna incompleta para
não permitir com que vidas trans sejam viáveis, não
pensar na reivindicação de di estaremos ainda livres!
79
Capítulo 5
MINORIA DENTRO
DA MINORIA
QUANDO O MOVIMENTO NEGRO SE
ENCONTRA COM O FEMINISMO
Phumzile Mlambo
Ngcuka, diretora
executiva da ONU
Mulheres, abre
a Marcha das
Mulheres Negras
em Brasília
80
Feminismo hoje
De acordo com a Pesquisa no mesmo período, passando breve análise do período 2004
Nacional por Amostra de de 1.747 para 1.576. O índice 2014”, divulgado pelo Ministério
Domicílios (PNAD) 2012, de vitimização das mulheres do Trabalho brasileiro em março
a mais recente realizada negras (violência que não de 2016, mostra que, se as
pelo Instituto Brasileiro necessariamente resulta em mulheres estão em desvantagem
de Geograa e Estatística homicídio, proporcionalmente a no mercado de trabalho, as
(IBGE), 51,7% das mulheres se sua população) cresceu 190,9%, negras têm situação ainda mais
declaram negras. passando de 22,9% em 2003 preocupante. Por exemplo: em
Também segundo a PNAD para 66,7% em 2013. 2014, a média salarial entre os
2012, quasetinham
brasileiros 38% dos
umadomicílios
mulher A mortalidade materna também homens foi de R$ 1.831, contra
é maior entre as negras: entre R$ 1.288 das mulheres e R$ 946
como pessoa de referência (a as parturientes e gestantes das mulheres negras. O combate
pessoa responsável pela família). falecidas em 2012, 62,8% eram a essas desigualdades, embora
Destas, 52,6% eram negras. negras, contra 35,6% brancas. ainda incipiente, tem mostrado
Segundo o “Mapa da Violência As estatísticas são do Ministério resultado: na década analisada
2015: Homicídios de Mulheres da Saúde e foram divulgadas em pelo estudo, o rendimento médio
no Brasil”, o número de março de 2015 no “Relatório da população teve aumento real
mulheres negras assassinadas Anual Socioeconômico da de quase 50%, sendo que foi mais
no Brasil aumentou 54,2% em Mulher”, organizado pela acentuado entre as mulheres
dez anos, saltando de 1.864 em Secretaria de Políticas para negras (77%) do que entre as
2003 para 2.875 em 2013. Ao as Mulheres da Presidência mulheres em geral (61%), que por
mesmo tempo, os assassinatos da República. sua vez cou acima dos homens
de mulheres brancas caiu 9,8% O estudo “Mulheres e Trabalho: brancos (43%).
81
Capítulo 5
FEMINISTAS RURAIS
TRABALHADORAS RURAIS LUTAM PORIGUALDADE E SÃO AGENTES DE
TRANSFORMAÇÕES IMPORTANTES
82
Feminismo hoje
EMPREGADAS DOMÉSTICAS E
OS DIREITOS TRABALHISTAS
O Brasil é o país com maior pela contratação de imigrantes, comparação a outras prossões
número de empregados domés muitas vezes ilegais, é um forte foram alcançados entre 2013 e
ticos do mundo em números sinalizador de que a prossão 2015, com a proposta de Emen
absolutos. O país conta com 7,2 depende da exploração de uma da à Constituição que cou
milhões de prossionais nesta classe social por outra. conhecida como PEC das Do
categoria, de acordo com dados No Brasil, do total de em mésticas. Por ela, deniu-se que
da Organização Internacional pregados domésticos, 6,7 mi nenhum trabalhador doméstico
do Trabalho (OIT). lhões são mulheres, contra 504 pode receber menos do que um
Depois do Brasil, os mais mil homens. De todas as mu salário mínimo por mês; a jorna
signicativos para o empre lheres que trabalham no Bra da de trabalho não deve passar
go doméstico são: Índia, com sil, 17% realizam trabalho do de 44 horas semanais; o recebi
4,2 milhões, e a Indonésia, com méstico. Entre as empregadas mento pelas horas extras passou
2,4 milhões. domésticas, estima-se que 55% a ser obrigatório, assim como o
O fato de a prossão de sejam negras. adicional noturno; o fundo de
empregada doméstica não ser Tamanha é a desvalorização garantia por tempo de serviço
frequente em países desenvol do trabalho doméstico no país, (FGTS) agora é um direito, as
vidos e ser um trabalho que que suaregulamentaçãosó ocor sim como o seguro desemprego
nos Estados Unidos e na Euro reu recentemente. Alguns be e a indenização em caso de de
pa, por exemplo, só se mantém nefícios trabalhistas básicos em missão sem justa causa.
POLÊMICA NO CINEMA
Dois anos depois das discussões provocadas
pela PEC das Domésticas, aprovada em 2013, a
polêmica em torno das relações entre patrões
e empregados domésticos ganhou mais um
capítulo: o lme “Que Horas Ela Volta”, da
cineasta Anna Muylaert (que, com ele, se tornou
a primeira brasileira a concorrer ao Oscar de
melhor lme estrangeiro em 30 anos).
Além da indicação no Oscar, o longa foi
premiado em dois importantes festivais
internacionais, o de Sundance e o de Berlim.
Com isso, atingiu um público amplo no Brasil e
no mundo com um tema que ainda incomoda
muita gente: a empregadaVal (Regina Casé) cuida
do lho da patroa, enquanto outra pessoa cuida
de sua própria lha. usaram termos preconceituosas contra Regina Regina
cena doCasé
lmeem
Além do tema sensível, o lme gerou um Casé e o diretor de arte,Thales Junqueira.
“Que Horas Ela
episódio que causou revolta de muitas feministas: “Show de machismo escandaloso de Lírio Ferreira
Volta?”
em um debate realizado no Cinema da Fundação, e CláudioAssis, que tentaram impedir uma mulher
em Recife, os cineastas Cláudio Assis e Lírio diretora de falar sobre seu próprio cinema”,
Ferreira impediram que Muylaert falasse e descreveu Junqueira em sua página no Facebook.
83
Capítulo 6
Curiosidades Curiosidades
A
QUEIMA
LENDA DE
DASUTIÃS
PROTESTO DURANTE MISS AMÉRICA DE 1968 DE FATO
ACONTECEU, MAS SEM FOGO
Lata de lixo com m dos episódios da Women (N.Y.R.W.) em Atlan concurso para protestar contra
sutiãs e outros
símbolos de
opressão foi
o centro dos
protestos contra o
concurso de Miss
U história do feminismo
mais disseminados na
cultura popular nun
ca aconteceu de fato: a queima
tic City durante o concurso
de Miss América, em 7 de se
tembro de 1968, mas nenhuma
peça chegou a ser queimada.
os padrões de beleza e o ma
chismo. No centro do protes
to, a “lata de lixo da liberdade”
onde elas jogaram produtos
América em 1968
de sutiãs nos Estados Unidos Naquele dia, cerca de 400 de limpeza, cílios postiços,
em 1968. Houve, sim, um pro manifestantes se reuniram na perucas, maquiagens, sapatos
testo organizado por um grupo calçada em frente ao centro de de salto, cintas-liga e... sutiãs.
chamado New York Radical convenções onde acontecia o Embora tenha corrido o boato
PAUTA FEMINISTA
As ativistas que protestaram em Atlantic elas chamavam de fetiche “Madonna/
City em 7 de setembro de 1968 queriam fantasia”).
aproveitar
na mídia para
a repercussão
atrair atenção
do Miss
à causa
América Era racista, pois nunca tinha havido
uma Miss América negra.
críticas
feminista,
aomas
concurso
tambémemtinham
si, tais diversas
como: Apoiava a Guerra doVietnã, ao enviar
a vencedora aoVietnã para entreter
Julgava mulheres de acordo com as tropas.
de serem
padrões de beleza
impossíveis “ridículos”,
atingidos.
ou seja, Para as meninas, o “sonho” de se
tornar Miss América seria equivalente
Transformava as mulheres em objeto, a se tornar presidente, para os
portanto era nocivo a todas. meninos. Por que as meninas não
Era hipócrita pelo duplo padrão, de podiam sonhar em ser presidentes
Debra Barnes, a vencedora do inocência/beleza versus luxúria (o que também?
Miss América em 1968
84
de que elas queimaram todos dizeres “Women’s Liberation”
esses símbolos de opressão – e (liberação das mulheres).
este fosse o intuito inicial –, isso De qualquer forma, a ma
não ocorreu porque elas não nifestação foi muito importante
obtiveram permissão da Pre na época, chamando atenção
feitura para o uso de fogo. Al da mídia para o movimento de
gumas manifestantes, inclusive, liberação feminina e sendo um
estavam na plateia do concurso marco inicial da Segunda Onda
e levantaram um cartaz com os do feminismo norte-americano. Misses entretêm tropas americanas em 1971
O físico alemão Albert Einstein “Uma pessoa que nunca cometeu um erro nunca
publicou a primeira versão da
Teoria da Relatividade Espe
tentou nada novo.” — Albert Einstein
cial em 1905, mudando para
sempre as noções cientícas de crédito algum e o tema seja ob
tempo e espaço. Consta que, jeto de muita controversa entre
nessa primeira versão, Mileva historiadorese biógrafos.
Maric aparecia como coautora Mileva e Einstein tiveram
do estudo. três lhos – o primeiro, uma
Mileva era uma matemática menina, teria nascido antes do
sérvia que Einstein conheceu casamento e morrido antes de
no Instituto Politécnico de Zu completar um ano, mas não
rique, na Suíça, e com quem se se sabe ao certo. Em 1919, se
casou em 1903. Ela é apontada divorciaram e, pelo acordo as
como sendo a responsável pelos sinado, se o físico recebesse o
complexos cálculos matemáticos Prêmio Nobel algum dia, o di
envolvidosna Teoriada Relativi nheiro seria de Mileva. E isso
dade, embora não tenha levado de fato aconteceu, em 1921. Albert Einstein e Mileva Maric´
“Você não pode analisá-lo, caso contrário irá julgá-lo erroneamente. Um gênio como ele
deveria ser irrepreensível em todos os aspectos. Mas, não, a natureza não se comporta assim.
Onde ela dá com extravagância, ela tira com extravagância.”
— Elsa Einstein, sobre Albert Einstein
EINSTEIN MACHISTA?
A revelação de cartas trocadas bem das crianças (até que decidissem, segundo grau por parte de pai e de
entre Albert Einstein e Mileva enm, divorciar-se denitivamente). primeiro grau por parte de mãe.
Maric´ levou à desconstrução da Nesse período de separação sem Eles já estavam se aproximando
gura amplamente divulgada do divórcio, o físico teria feito algumas havia alguns anos e, segundo
gênio da física, mostrando um exigências à esposa, entre as quais: ter biógrafos, a prima teria cozinhado
homem de relacionamento difícil. suas roupas lavadas e passadas, e seu para ele em um período em que
Segundo “Einstein – Sua Vida, Seu quarto e escritório, limpos; receber ele estava doente.
Universo”, livro publicado pelo três refeições diárias no quarto; não Em correspondências, o físico teria
jornalista Walter Isaacson com base ser obrigado a se sentar com ela em escrito a um amigo: “Ganhei quase
em correspondência divulgada em casa; e não ser censurado por ela. 2 kg desde o verão passado, graças
2006, Einstein e Mileva caram juntos Após o divórcio, Einstein se aos bons cuidados de Elsa. Ela mesma
durante alguns anos apenas para o casou com Elsa, uma prima de cozinha tudo para mim”.
85
Capítulo 6
BEAUVOIR E VIOLETTE
A SUPOSTA HISTÓRIA DE AMOR ENTRE UM ÍCONE DO FEMINISMO E
UMA ESCRITORA CENSURADA NA FRANÇA
FLORES RARAS
“Violette” não é o único lme brasileira Lota de Macedo So
a levantar a questão do les ares (vivida por Glória Pires).
bianismo e, de certa, do femi Em entrevista na época do
nismo. Dirigido pelo cineasta lançamento, Glória Pires ar
brasileiro Bruno Barreto com mou que “o fato de a persona
o Rio de Janeiro como cená gem ser gay não é problema,
rio, o longa “Flores Raras” é solução”.
Cena do lme “Flores Raras” não chegou sem furor às telo Indo além da questão
nas em 2013. Para começar, a lésbica, o lme trata de uma
produtora Paula Barreto reve história de amor e traz à tona
lou a diculdade de conseguir questões feministas importan
patrocínio simplesmente pelo tes, como a liberdade para es
fato de o lme contar o ro colher com quem se relacio
mance entre duas mulheres. nar, para usar as roupas que
As duas mulheres em quiser e para desempenhar
questão são a poetisa ameri com maestria a prossão de
cana Elizabeth Bishop (in sejada. Foram esses fatores,
Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro: projeto de Lota de terpretada pela australiana entre outros, que renderam
Macedo Soares Miranda Otto) e a arquiteta boas críticas ao título.
86
Curiosidades
MERYLSTREEP, A HUMANISTA
ÍCONE DE MULHERFORTE E BEM RESOLVIDA, ATRIZ
AFIRMOU NÃO SER FEMINISTA, MAS HUMANISTA
CINEMA FEMININO
Meryl Streep apoia, com ajuda suas carreiras e fazerem seus Com nanciamento, apoio para
nanceira, o projetoThe Writers projetos vingarem. o desenvolvimento de lmes e
Lab, que incentiva mulheres norte O Festival de Sundance, o principal carreiras, pesquisas e campanhas,
americanas com mais de 40 anos do cinema independente dos a iniciativa visa a dirimir uma
a escreverem roteiros de cinema Estados Unidos, também incentiva a inequidade marcante no cinema e no
– as participantes têm mentoras participação feminina no setor, com o próprio festival: apenas 4% dos cem
bem estabelecidas no mercado projeto Female Filmmakers Initiative, lmes com maior bilheteria no país
cinematográco e participam lançado em 2012 em parceria com a são dirigidos por mulheres; e cada
de ocinas, além de receberem entidade Women in Film Los Angeles edição de Sundance tem cerca de
aconselhamento para construírem e outras organizações. 25% de diretoras femininas.
ARQUETTE APROVEITOU
O PRÊMIO DE MELHOR
A norte-americano, foi ofuscada em 2015
pelas declarações da atriz Patricia Ar
quette ao agradecer o prêmio de me
lhor atriz coadjuvante pelo lme “Boyhood – Da
ATRIZ COADJUVANTE Infância à Juventude”.
Em seu discurso, Arquette armou: “A todas
PARA DEFENDER as mulheres que deram à luz, a todos que pagam
impostos. Nós temos que lutar pelos direitos de
DIREITOS IGUAIS ENTRE todos. É nossa vez de ter salários igualitários de
uma vez por todas, e direitos iguais para as mu
HOMENS E MULHERES lheres nos Estados Unidos”. A câmera ainda fo
87
Capítulo 6
Quem
quivo
da
precise
atriz
X”
tem
Gillian
rever
como
a série
única
Anderson
seustelevisa
referência
conceitos.
talvez
“Ar- A candidatura de Anderson
para o papel de 007 é surpre
endente porque o personagem
não só é originalmente masculi
Ela está se mostrando cada vez no, como é um homem bastan
mais como uma feminista que te “mulherengo”. De qualquer
derson
frissonemmaiode
ter,
não
ças
redes
nal,
007A que
com
ao
econsegue
sociais
com
mais
postar
foi
sofre
repercussão
causar
os
nova
edizeres
uma
passarem
na
deixar
um
proeza
mídiatradicio-
foto
2016noTwit-
verdadeiro
“It’s
as
em
sua
batidas.
injusti-
deoutras
Bond,
como
An- forma, parece que os produtores
dos lmes de James Bond pre
tendem inovar: para a sucessão
do ator Daniel Craig, que é o
atual 007, também está no páreo
o britânico Idris Elba, que se
tornará o primeiro Bond negro
da história caso ganhe o papel.
Mas em janeiro de 2016,
Jane“Desculpem,
cartaz
da. Bond”.
é de autoria
Segundo
não
desconheci-
sei
a atriz,
quem o Gillian Anderson já havia bota
do a boca no trombone. Em en
trevista ao The Hollywood Re
E ahashtag#NextBondseespa-
fez o pôster, mas eu adoro!”, es- porter, ela contou sua saga para
creveu em seu perl no Twitter. receber o mesmo salário do ou
Gillian Anderson na premiação Producers tro protagonista de “ArquivoX”,
Guild Awards de 2014 lhou na rede. David Duchovny.
88
Curiosidades
89
Capítulo 6
que lutar pelos direitos das fosse equiparado ao do protagonista como mulheres de cor, como
mulheres muitas vezes virava masculino. Na mesma época, em outros mulheres negras, muito
sinônimo de ódio aos homens. depoimentos à imprensa, Theron frequentemente ouvimos o
Se tem uma coisa de que eu defendeu mais papéis femininos em que ‘precisamos fazer’. Como
lmes de ação, como o seu em “Mad
tenho certeza é que isso precisa Max: Estrada da Fúria”.
precisamos nos comportar,
parar. Para que que registrado, o que precisamos vestir, o
a denição de feminismo é: que é considerado demais ou
‘Acrença de que homens e insuciente, a política cultural
mulheres devem ter direitos do que a sociedade considera
e oportunidades iguais’. Ele é adequado para nós e para nossa
a teoria da igualdade política, vida.”
econômica e social entre os Natalie Portman
Lupita Nyong’o, atriz queniana nascida
sexos.” durante o 68º no México, vencedora do Oscar de
Emma Watson, atriz britânica que Festival de melhor atriz coadjuvante por “12
cou conhecida pela franquia “Harry Cannes, em Anos de Escravidão” e indicada ao
Potter” e também embaixadora da maio de 2015, Tony Award pela peça “Eclipsed”. A
Boa Vontade para Mulheres da ONU, na França declaração foi feita ao jornal US Today
em discurso feito em 2014 na sede da
organização por ocasião do lançamento
da campanha HeForShe. Em 2016,
“ Fico animada com as
oportunidades que tenho, mas
em maio de 2016.
90
Curiosidades
com foco nos direitos das reconhecer a diversidade das livres de violência. Um bom
mulheres. Precisamos canalizar brasileiras como elemento natal a todas e todos!”
essa energia criativa que nos positivo de um país que precisa
Juliana Paes, atriz brasileira e
anima e nos une. Precisamos eliminar desigualdades. Disso
defensora para a Prevenção e
aumentar a representatividade tudo depende a nossa dignidade. Eliminação da Violência contra
política, ocupar mais e melhores Disso tudo depende o m as Mulheres nomeada pela ONU
espaços na comunicação, de sacrifícios de gerações de Mulheres, em postagem no Twitter e no
valorizar empresas com mulheres.” Facebook no Natal. O dia 25 de cada
equidade salarial, garantir saúde, mês foi escolhido pela entidade para o
Camila Pitanga, atriz brasileira e combate à violência contra mulheres, e
direitos sexuais e reprodutivos, a cor laranja representa essa luta (bem
embaixadora da ONU Mulheres no
obter o respeito a territórios, Brasil, em carta escrita a convite da como a hashtag #orangetheworld)
revista CLAUDIA em março de 2016.
ESCRITORA DISFARÇADA
A AUTORA QUE PUBLICOU OBRAS IMPORTANTES DA
LITERATURA FRANCESA COM UM NOME MASCULINO
francesa Amandine-Aurore-Lucile Du
91
Capítulo 6
92
Curiosidades
OS IRMÃOS BELL
Os irmãos Currer, Ellis e Acton literatura.
Bell pagaram para publicar Mais tarde, elas ganharam fama
sua primeira obras juntos, com seus nomes verdadeiros
o livro de poesia “Poems”. e são reverenciadas
Mas, na verdade, eles eram principalmente pelos romances
pseudônimos de Charlotte “Jane Eyre” (de Charlotte), “O
(1816-1855), Emily (1818-1848) Morro dos Ventos Uivantes”
e Anne Brontë (1820-1849) (de Emily) e “A Inquilina de
respectivamente – as irmãs Wildfell Hall” (de Anne,
Capa de
inglesas até hoje celebradas publicamente originalmente edição de
como grandes nomes da com o pseudônimo Acton Bell). “Poems”
PEDALANDO RUMO
À LIBERDADE
BICICLETA GARANTIU O DIREITO
DE IR E VIR ÀS MULHERES
E MARCOU INÍCIO DO
MOVIMENTO FEMINISTA
bicicleta como a guras, queincluíramosistemade momento – que trabalhava fora,
A conhecemos
surgiu no nal do
hoje
93
Capítulo 6
Nos últimos anos, o Brasil tem sistemas de aluguel e emprésti pedalar pela cidade.
presenciado um aumento con mo de bikes. Porém, ainda é No Nordeste, o Meninas
siderável do uso da bicicleta possível notar que o número de ao Vento foi criado em 2011.
como meio de transporte diá mulheres pedalando pelas ruas Segundo a organização Vá de
rio, uma maneira de fugir do brasileiras é menor que o de Bike, o grupo começou com
trânsito cada vez mais intenso homens. O principal motivo é apenas três integrantes e, por
nos grandes centros urbanos. a insegurança que elas sentem isso, contava com a ajuda de
Para atender a esse público, ao estarem expostas na magrela. alguns meninos para reforçar a
muitas prefeituras estão inves Assim, têm surgido diversos segurança. Com o coletivo ga
tindo pesado na infraestrutura grupos de mulheres que peda nhando mais adeptas, elas dis
ciclística, com a construção de lam. Além de divulgarem infor pensaram a presença masculina
bicicletários e ciclovias, além de mações e fazeremum importan em suas voltas pelas ladeiras de
te trabalho de conscientização, Salvador. Natal, Curitiba, Join
eles costumam promover peda ville, Belo Horizonte, Brasília e
ladas em grupo para garantir a Manaus são outras das cidades
segurança das ciclistas. que já contam com esse tipo de
Um dos maiores é o Coleti organização.
vo Feminino de Ciclistas – Pe Nesses grupos, a fronteira
dalinas, formado em 2009 em entre cicloativismo e feminis
São Paulo e que oferece cursos mo é tênue, se que é existe. A
de mecânica e ciclismo, promo bicicleta como meio de liberda
ve cicloviagens e dissemina a de é também uma ferramenta
cultura ciclística. Outro grupo contra o assédio e a violência
Mulheres participam de protesto na Grã-Bretanha contra a paulistano é o Saia na Noite, urbana, bem como contra a vi
dependência dos combustíveis fósseis. No Brasil, a Pedalada que há cerca de duas décadas são da mulher como “sexo frá
Pelada acontece anualmente se encontra semanalmente para gil” e vulnerável.
94
Curiosidades
BRASILEIRAS SÃO AS
MAIS FEMINISTAS
PESQUISA MUNDIAL REVELA QUE 65% DAS
MULHERES NO BRASIL SE CONSIDERA FEMINISTA
Bailarina e jogadora de futebol; linda e astronauta. Cenas do lme da campanha#UseSeuE, da Gillette Venus
95
Capítulo 6
RANKING
1 Eslovênia
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23Islândia
Noruega
Finlândia
Suécia
Irlanda
Ruanda
Filipinas
Suíça
Alemanha
África
Zelândia
Nova
Nicarágua
Países
Dinamarca
França
Namíbia
Reino
Bélgica
Letônia
Estônia
Bolívia
Burundi do
Unido
Baixos
Sul 24 Tanzânia
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49 Trindade
Tobago
Argentina
Austrália
Áustria
Barbados
Espanha
Moldávia
Moçambique
Unidos
Estados
Cuba
Canadá
Lituânia
Luxemburgo
Equador
Bielorrússia
Costa
Portugal
Bahamas
Itália
Colômbia
Bulgária
Panamá
Sérvia
Cazaquistão
Quênia Rica
e 50 Albânia
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77 Tailândia
Cabo
Polônia
Laos
Israel
Singapura
Botsuana
Mongólia
Zimbábue
Uganda
Croácia
Lesoto
El
Gana
Bangladesh
Jamaica
Guiana
Ucrânia
Maláui
Macedônia
México
Senegal
Chile
Madagascar
Rússia
Quirguistão
Romênia
Salvador
Verde 78 Tajiquistão
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99 Venezuela
Vietnã
Azerbaijão
Montenegro
Honduras
Checa
Geórgia
Sri
Brasil
Dominicana
República
Grécia
Brunei
Peru
Camarões
China
Indonésia
Uruguai
Suriname
Eslováquia
Gâmbia
Hungria
Lanka 100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116 Armênia
117
118
119
120 Chipre do
Japão Faso 124
Suazilândia
Belize
Malta
Guatemala
Paraguai
Índia
Camboja
Nepal
Malásia
Libéria
Maldivas
Burkina
Coreia
Sul
Zâmbia
Kuwait
Butão
Unidos
Árabes
Emirados
Maurício
Ilhas Etiópia
125 Nigéria
126 Angola
127 Tunísia
128 Argélia
129 Benim
130 Turquia
131 Guiné
132 Mauritânia
133 Costa do
Marm
134 Arábia
Saudita
135 Omã
136 Egito
137 Mali
138 Líbano
139 Marrocos
140 Jordânia
141 Irã
142 Chade
143 Síria
144 Paquistão
145 Iêmen
121 Fiji
122 Qatar
123 Bahrein
Fonte:Índice Global de Desigualdade de Gênero 2015/Fórum Econômico Mundial
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Curiosidades
ISLÂNDIA NA VANGUARDA
HÁ CERCA DE 40 ANOS, ISLANDESAS CONQUISTARAM
DIREITOS FAZENDO GREVE GERAL
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Capítulo 6
Vozes feministas
VOZES FEMINISTAS
“Liberdade é pouco. O que eu “A mulher que se preocupa condições de trabalho, por
quero ainda não tem nome.” em evidenciar a sua beleza mais segurança nas ruas,
Clarice Lispector (1920-1977), anuncia ela própria que não para cuidar das crianças,
escritora brasileira tem outro mérito maior.” para o bem-estar social,
Julie de Lespinasse (1732-1776), para ajudar vítimas de
“Toda dominação pessoal, escritora francesa estupro, para refugiar
psicológica, social e mulheres e para reformar a
institucionalizada nesta lei. Se alguém me diz: ‘Ah,
Terra pode ser remetida a não sou uma feminista’,
uma mesma fonte original: então eu pergunto: ‘Qual o
as identidades fálicas dos seu problema?”
homens.” Dale Spencer (1943-), escritora e
Andrea Dworkin (1946-2005), sexóloga australiana
escritora norte-americana
“Nossos companheiros
perfeitos nunca têm menos de
“O que é uma mulher?
quatro patas.”
Sidonie-Gabrielle Colette (1873
Eu lhes asseguro, eu não
1954), escritora e jornalista francesa sei. Não acredito que vocês
saibam.”
“Para os ‘masculistas’ Virginia Wolf (1882-1941), escritora
de ambos os sextos, inglesa
‘feminidade’ implica tudo o
que os homens construíram “Eu nunca me considerei
sobre a imagem feminina nos feminista, mas não acredito
últimos séculos: fraqueza, que seja possível ser mulher
imbecilidade, dependência, neste mundo e não ser uma.”
masoquismo, inconabilidade Oprah Winfrey (1954-),
e uma certa sexualidade de apresentadora norte-americana
“baby-doll” que na verdade
é só uma projeção dos “As mulheres têm sido sempre
sonhos masculinos. Para as mais fortes do mundo.
os ‘feministas’ de ambos Os homens estão sempre
em busca de mulheres para
os sexos, feminidade é
sinônimo do eterno princípio terem um pouco de acalento.
feminino, conotando força, Eles estão sempre ansiando
integridade, sabedoria, pelas mães que os tratavam
justiça, conabilidade e como crianças.”
um poder psíquico exótico Coco Chanel (1883-1971),
estilista francesa
e, portanto, perigoso aos “As mulheres podem ser tão
pesados masculistas de rmes quanto os homens,
“O feminismo já lutou
ambos os sexos.” Embora não o pareçam —
várias guerras, e não matou
Elizabeth Gould Davis (1910-1974), ou não queiram parecer.”
oponente nenhum. Suas
bibliotecária norte-americana Indira Gandhi (1917-1984), primeira
autora do livro “The First Sex” batalhas têm sido pela mulher a ocupar o cargo de primeiro
(O primeiro sexo) educação, por melhores ministro da Índia
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