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Psicopatologia ‘Tipos de personalidade A personalidade oral. A personalidade onal O cardter fico Conilto € defesa Madanca de comportamento ‘omientérios sobre os dados "A resposta de Jim aos testes projetivos Os testes projetivos e a teoria psicanalitica PONTOS DE VISTA AFINS E AVANCOS TRECENTES ‘Dois dlesafios iniciais para Freud "Alfred Adler (1870-1937) Carl G. Jung (1875-1961) snfase cultural e interpessoal "Karen Horney (1885-1952) ‘Harry Stack Sullivan (1892-1949) “ Avancos recentes na teoria psicanalitica tradicional ‘Teoria das relagdes objetais O narcisismo ea personalidade narcisista A teoria do apego e as relagies pessozis adultas AVALIACAO CRITICA Conteibuigdes importantes Limitacées da teoria O status cientifico da teoria psicanalitica ‘A visto psicanalitica da pessoa Avaliacao resumida PRINCIPAIS CONCEITOS REVISAO = Lawrence A. Pervin e Oliver P. John FOCO DO CAPITULO : Quando eta crianca, algut ‘edu. Voce deifaya na grama com um amigo e olh _asniuvens, até que “visse" algo Se voce tentasse| isica por. tr: Projetivos, como 6 Teste das manchas de tinta de 1 ver vor’ brincou Roi somas nitvens? Deveria ser um dia em que houves- - se nuvens brancas ¢ fofas, contra o fundo azul QUESTGES ABORDADAS NESTE CAPITULO 1. Quais testes de personalidade s4o mais adequa- dos para avaliar a personalidade de um indivi- duo do ponto de vista psicanalitco? 2. Como podemos compreender as diversas for- mas de psicopatologia a partir da perspectiva psicanalitica? 3. Como a terapia psicanalitica tenta facilitar 0 crescimento psicolégico e um melhor funciona- mento psicolégico? 4. Por que muitos dos primeiros seguidores de Freud rejeitaram a psicandlise em favor de uma feoria alternativa? 5. Como podemos avaliar a psicandlise como uma teoria da personalidade? APLICAGOES CLINICAS A psicandlise é uma teoria clinica da personali- dade, concentrada no estudo intensivo da pessoa Central a teoria & a énfase nos processos inconscien- tes ea interacéo entre motivos. Um tema chave neste livro é que uma teoria da personalidade nao existe sozinha, mas, pelo contrério, est ligada e reflete ma- neiras de observar as pessoas. Além disso, até 0 pon- to em que a teoria estd associada a uma abordagem de psicoterapia ou mudanga, a teoria e a terapia irdo refletir alguns pressupastos bésicos comuns. Iremos entao considerar a maneira como 0s conceitos psica- naliticos bésicos estéo refletidas em abordagens & ava~ liagdo de pessoas, assim como no entendimento e no tratamento de psicopatologias. AVALIACAO: TESTES PROJETIVOS Embora muitos testes de personalidade diferen- tes possam ser utilizados com a teoria psicanalitca, 08 testes projetivos relacionam-se mais intimamente com a teoria. Os testes projetivos envolvem o uso de estimulos relativamente ambiguos, 20s quais 0 sujei- tos esté livre para responder de maneira altamente individualizada e é improvavel de estar consciente da maneira como a resposta sera interpretada pelo exa- minador. O termo projegio, em relacio a técnicas de avaliagao, foi primeitamente utilizado em 1938, por Henry A. Murray, mas a importincia dos testes projetivos foi primeiramente enfatizada de maneira clara por L. K. Frank, em 1939. Frank combateu o ts0 Ge testes padronizados, que sentia que classificavam as pessoas, mas dizizm pouco a seu respeito como fpaividuos. Ble defendia 0 uso de testes que ofereces- jem oma visdo dos mundos particulares de significa- dos esentimentos dos individuos, Esses testes permi- tiriam que os individuos impusessem sua propria es- frutura e organizacio aos estimulos e assim expres- assem um conceito dindmico de personalidade. Nesta secdo, iremos considerar dois testes projetivos,o Teste das manchas de tinta de Rorschach 0 Teste de Apercepeao Tematica (TAT). Ambos so nao-estruturados ~ significando que eles permitem ques sueitos respondam de suas préprias maneiras peculiares. Ambos sio testes disfarcados, no sentido Ge que 0s sujeitos, em gral, 1do esto conscientes do seu propésito ou de como respostas particulares se- rio interpretadas. A teoria psicanalitica esté relacio- nada com 0s testes projetivos da seguinte maneira: 1. A teoria psicanalitica enfatiza as diferengas in- dividuais e a organizacto complexa do funcio- namento da personalidade. A personalidade 6 vista como um processo através do qual o indi- vviduo organiza e estrutura os estimulos exter- nos do ambiente. Os testes projetivos permitem que 0s sujeitos respondam com liberdadle com- pleta no que diz respeito ao contetido e & arga- nizagao. 2. A teoria psicanalitica enfatiza a importancia do inconsciente e dos mecanismos de defesa. Nos testes projetivos, as instrugdes e os estimulos: proporcionam poucas diretrizes para responder, © 08 propésitos do teste e as interpretagdes das respostas so ocultos do sujeito. 3. A teoria psicanalitica enfatiza um entendimen- to holistico da personalidade, em termos das relacées entre partes, ao invés da interpretacao do comportamento como expressando partes isoladas de caracteristicas da personalidade. Os testes projetivos geralmente levam a interpre- tages holisticas, com base nos padrées e na or- ganizagio das respostas ao teste, ao invés da interpretagio de uma resposta tinica que reflete uma caracteristica particular. ‘Tendo considerado algumas relagées gerais en- tre a teoria psicanalitica e os testes projetivos, iremos considerar dois deles detalhadamente, Teste das manchas de tinta de Rorschach foide- senvolvido por Hermann Rorschach, um psiquiatra suico, Emborajsetivessem utilizado manchas de tinta antes, Rorschach foi o pri- meiro a compreencler intei- ramenteo uso potencial das respostas dos sujeitos para avaliagdo da personalida- de. Rorschach colocou tin- ta em um papel e dobrou-o de forma a produzir formas simétricas, mas maldefi- nidas, Essas manchas de tinta foram, entio, apresen- tadas a pacientes hospitalizados. Através de um pro- cesso de tentativa e erro, as manchas de tinta que evo- caram respostas diferentes em grupos psiquidtricos diferentes foram mantidas, enquanto aquelas que no ‘evocaram foram descartados. Rorschach experimen- tou com milhares de manchas de tinta e, finalmente, ficou com dez. Rorschach conhecia bem o trabalho de Freud, 0 conceito de inconsciente e a viséo dindmica da persona- lidade, O desenvolvimento de seu teste parece ter sido influenciado por essa visio. Rorschach sentiu que os da- dos do teste das manchas de tinta aumentaria oentendi- mento do inconsciente e teria relevancia para a teoria psicanalitica. Ele utilizava a teoria psicanalitica em suas pproprias interpretagGes das respostas dos sujeitos. ‘O teste de Rorschach consiste em 10 pranchas contendo manchas de tintas. Ao apresentar as pran- chas, o experimentador tenta deixar os sujeitos rela- xados e confortéveis, enquanto proporciona-lIhes in- formacées suficientes para completarem a tarefa. As- sim, o teste é apresentado como “mais uma das tantas ‘maneiras utilizadas hoje em dia para tentar compre- ender as pessoas”, ¢ o experimentador fomece o mé- nimo de informacdes possivel ~ “Ei melhor nao saber muita coisa sobre o procedimento até ter passado por ele”. Solicita-se que os sujeitos observem cada pran- cha e digam ao examinador o que véem ~ qualquer coisa que possa estar representada na prancha. Os in- dividuos estdo livres para escolher 0 que irdo ver, onde o vero, e 0 que determina as suas percepgdes. Todas as respostas para o teste so registradas. ‘Ao interpretar o Rorschach, o interesse esté na ‘maneira como a resposta, ou a percepeao, é formada, Hermann Rorschach 1 | Lawrence A. Pervin e Oliver P. John Teste das manchas de tinta de Rorschach ~ 0 interpretador do teste Rorschach pressupée que @ personaliade do sujeito € projetada em estimulas ndo-estruturados como as manchas de tinta. Desenho de Ross; © 1974 The New Yorker Magazine, Inc. as razies para as respostas ¢ o seu contetido. O pres- suposto basico 6 que a maneira como os individuos formar as suas percepgées esta relacionada com a maneira como eles geralimente organizam e estrutu- ram os estimulos em seus ambientes. As percepgdes que correspondem a estrutura da mancha de tinta su- gerem um bom nivel de funcionamento psicolégico, que esté bem-orientado para a realidade. Por outro lado, respostas malformadas, que nao se encaixam na estrutura da mancha de tints, sugerem fantasias inrealistas ou comportamentos bizarros. O conteddo das respostas dos sujeitos (se eles erergam mais ob- jetos animados ou inanimados, seres humanos ou ani- mais, e contetidos que expressem afeto ou hostilide- de) faz uma grande diferenga na interpretacio da per- sonalidade dos sujeitos. Por exemplo, compare as in- texpretagdes que podemos fazer de dois grupos de res- ppostas, uma em que animais so repetidamente vis- tos lutando, e uma segunda em que humanos so vis- tos compartilhando e envolvidos em esforsos coope- rativos. Além disso, o contetide pode ser intexpretado simbolicamente. Uma explosdo pode simbolizar hos- tilidade intensa; um porco, tendéncias vorazes; uma raposa, uma tendéncia a ser esperto e agressivo; ara- nhas, bruxas e polvos, imagens negativas de uma mée dominadora; gorilas e gigantes, atitudes negativas re- lacionadas com um pai dominador; ¢ uma ostra, uma tentativa de esconder-se de contlitos (Schafer, 1954). Dois estimulos e respostasilustrativas so apresenta- dos na Figura 41. £ importante reconhecer que o Rorschach nao é interpretado com base apenas ern uma tinica respos- ta, mas em relago & soma total de respostas. Contu- do, cada resposta ¢ utilizada para sugerir hipéteses ou interpretacdes possiveis sobre a personalidade do individuo, Essas hip6teses so conferidas contra terpretagdes baseadas em outras respostas, no padréo tofal de tesposta e no comportamento do sujeito en- quanto responde ao Rorschach. Em relacio a este tik timo, o examinador observa qualquer comportamen- to incomum e utiliza isso como fonte de dados para ‘mais interpreiagdes. Por exemplo, um sujeito que cons- tantemente solicita orientagéo pode ser interpretado como dependente. Um sujeito que pareca tenso, faz perguntas de maneira sutil e desvia o olhar da pran- cha pode ser interpretado como descontiado e, possi- velmente, parandico. i | | i E [ | : osposta: “Dols ursos tocando as suas patas e brincando de pscewos de J8, ou podem estar lutando, € 0 vermelho é 0 sangue devido & futa" Resposta: “Dols canibais. Devo ver algo aqui? Natives africa- nos inclinados sobre um pote. Possivelmente cozinhando al- {qua coisa ~ espero que ndo sejam antropéfagos. Nao devo fazer piadas ~ sempre gosto de humor. (S40 homens ou mu- theres?) Pacem ser homens ou mulheres. Mais mulher por «causa dos seios aqui. Mas no me chamou a atengéo a prin. ipio como sendo de nenhum sexo". Personalidade: teoria e pratica Figura 4.1 Exemplos do teste das manchas de tinta de Rorschach. As ilustragdes das manchas de tinta reproduzidas aqui so do mapa de localizaco do Rorschach. As pranchas ‘sob permissao de Hans Huber, editores). O Teste de Apercep¢ao Tematica (TAT) Um dos testes projetivos mais usados é 0 Teste de Apercepgao Tematica, desenvolvide por Heny ‘Murray e Christina Morgan. O TAT consiste de pran- chas contendo cenas. A maioria das pranchas mos- tram uma ou duas pessoas em alguma situacéo im- portante da vida, embora algumas pranchas sejam mais abstratas. O sujeito deve produzir uma historia baseada na cena apresentada na prancha, incluindo 0 que est acontecendo, os pensamentos e sentimentos dos participantes, o que levou Aquela cena, e 0 sesul- tado, Como as cenas sfo freqiientemente ambiguas, las deixam um consideravel espago para a individu- alidadeno contetido dashistérias dos sujeitos: “O teste &baseado no fato conhecido de que, quando uma pes- ‘com as manchas de tinta reais contém cor. (Reimoresso soa interpreta uma situacio social ambigua, ela pode expor a sua propria personalidade, assim como o fe- ndmeno que esté observando” (Murray, 1988, p. 580). Algumas pranchas do TAT sao apresentadas a st- jeitos dos dois sexos; outras séomostracasa membros de uumiinico sexo. Umexemplo de prancha e respostas a ela fornecidas por dois indivi- duos diferentes é apresenta- do na Figura 4.2. A prancha, apresentada a sujeitos do sexo feminino,€ descrta por Murray como "O retrato de uma mulher jovem. Uma Henry Murray 2) Lawrence A. Pervin e Oliver P. John velha estranha, com um xale sobre a cabega, aparece fazendo uma careta ao fundo”. Alguns temas comuns fomecidos em resposta a esta prancha sao histrias de decepcao com um dos pais, de pressao parental e de pensamentos tristes a respeito do passado. Além disso, algumas mulheres parecem considerar que a mulher ‘mais jovem apresenta uma visio de seu selfmau ou de i simesma quando for mais velha (Hoot, 1978) Aiidéia por tras do TAT daramente mostra sua re- Jagéo com a visdo psicodinamica, Segundo Murray (1938), o TAT éusado para descobrir tendéncias incons- cientes¢inibidas. O pressupasto &de que os sujeitos no estdo conscientes de que estio falando de si mestnos, ¢ assim, as suas defesas slo evitadas: “Se o procedimento tivesse simplesmente exposto fantasias conscientes elem- brado de eventos, ele i teria sido suficientemente pro- veitoso, mas ele fez mais do que isso. Ele deu ao experimentador excelentes pistas para a conjectura de formagies tematicas inconscientes!” (p. 534) As respostas dos sujeitos ao TAT podem ser ava- liadas sistematicamente segundo um esquema desen- volvido por Murray, ou numa base mais impres- sionista (Cramer, 1996; Cramer e Block, 1998). O teste € utilizado no trabalho clinico ¢ em estudos experi- mentais da motivacéo humana. O TAT pressupée uma relacdo intima entre a fantasia expressa (histéria so- bre a prancha do TAT) e a motivacdo subjacente, as- sim como a relagao entre essa fantasia e © comporta- mento. As tentativas de testar essas suposighes tive- tam resultados confusos. A fantasia pode ser associa. da & expresso de motivos no comportamento e tam- bém pode ser um substituto para a expresso de mo- ‘tivos no comportamento, Assim, por exemplo, uma pessoa com um motivo forte para ser agressiva com 0 outros pode expressar esse motivo através da fan- tasia (TAT) e do comportamento, mas a pessoa tam- bem pode expressé-lo na fantasia e bloqueé-lo da ex- presséo no comportamento observavel. ‘Amostra de prancha do Teste de Apercepgo Temtica Mustraglo 1 Esta & 2 imagern de uma mulher que, du ‘ante toda @ sua vids, foi ume pessoa desconfiods ¢ Imisteriosa Ga ests se clhando no expelho e ve cefletile atrds de si ume imagem daquilo que se tomnaré quando for velha - ainda um tbo de pessoe desconfiada & mist. ‘asa. Ela no suporta a ida de que iso foi aonde sua vido @ fevou, @ quebra 0 espelha, e fage da casa gntandl, enlouguece e vive em um sanatério pelo resto de st via. Mustragéo 2 Esta mulher sempre enfatizou a beleze em ‘sua vida. Quanda era uma garctinha, ela ero elogiads Por ser bonita e, quand joven, atrale muitos homens om a sua beleza. Apesar de sentirse secretamente an. siosa e incapaz @ maior parte do tempo, sua Beleza en: terior aludava a disfarcar esses santimentos do mundo &, as vezes, dela mesma. Agora que eb ests envehe- ‘endo e seus fhos esto saindo de casa, el ests prea: ‘cupada com 0 futuro. Ela se otha no espetho @ se imagi- na como ume vetha bruka ~ @ pior pessoa que poderia se tomar, fla e sércida ~ ¢ imagine 0 que 0 futuro Ihe reserva. E um momento dif e deprimente pare 2a, Figura 4.2 Exemplo de prancha do TAT e respostas. Uso e avaliagao da pesquisa ilustrativa (Os testes projetivos tém sido utilizados em mmui- tos tipos de pesquisa, tanto com relagio a teoria psi ‘onaltica quanto fora dela, Um estuco sobre comedi- sates, palhacos eatores ilustra.0 uso de teste projetivos oda abordagem psicodinémica (Fisher e Fisher, 1981), (CO estudo buscava entender as origens, motivagoes € personalidades daqueles que fazem as pessoas rirem, Ein oposigdo aqueles que entretém enquanto atuam. Palhagos profissionais, comediantes e atores foram ‘enirevistados e completaram testes projetivos como 0 Rorschach e o TAT. ‘Como pode essa pesquisa contribuir para o nos: so entendimento de comediantes e palhagos? Em pi seiro lugar, verificou-se que eles so divertidos des- de cedo em sua vida, particularmente na escola, mes- smo tendo pouco apoio de seus pais para as suas atividades cémicas. Em segundo, intimeras motiva- bes parecem contribuir para a sua decisto de serer comediantes. Entre as motivagdes sugeridas pelos dados, estéo as seguintes: 1. Poder. A capacidade de controlar uma audién- cia e fazer as pessoas rirem. 2. Preocupacio com o bem e 0 mal e apresenta- sao positiva do self. “Sugerimos que uma im- rportante motivacio dos comediantes para evo- car a graca 6 provar que no séio maus ou re~ pugnantes. Eles séo obcecados em defender a sua bondade basica” (p. 69). 3. Ocultagao e negagdo. O humor é usado para fugir da dificuldade e como um abrigo para se esconder ao se sentir envergorihado ou inferior. 4, Anarquia. Os comediantes fazem pouco caso das normas aceitas, deixando nada sagrado e tomanco tudo risivel. Consideremos as evidéncias ilustrativas do Rorschach para duas dessas motivagbes. Primeira- mente, hé a preocupagao com o que é bom e o que é ruim, e a virtude e o mal. Um sistema de contagem foi projetado para considerar a freqtiéncia com que esses temas apareciam nos registros do. Rorschach. Bram consideradas respostas lustrativas as que se re- feriam diretamente a algo bom ou ruim (por exem- plo, pessoa mé, aparéncia virtuosa), aquelas que se referiam a questées religiosas (por exemplo, igreja, anjo, deménio, paraiso, purgatorio) e aquelas a pes- 20a freqiientemente relacionadas com o bem eo mal Comediantes pathagos ~ Pesquisas que utiizaram a teoria psicanalitica e técnicas projetivas sugerem que os come- diantes eos palhagos, com frequéncia, séo sensiveis com relagdo a uma parte de seu compo. Aqui, em uma cena do Jovern Frankenstein, os olhos salientes do cormediante ‘Marty Feldman so ressaltados. (por exemplo, policial, criminoso, juiz, pecador). Ve- rificou-se que 0s registzos do teste de Rorschach de 35 comediantes e palhacos apresentavam significativa- mente mais referéncias a0 bem e 20 mal do que os registros de 35 atores que nao eram comediantes. Em segundo lugar, hé a preocupacio com a ocultagao ea negacéo. Muitas das respostas a0 Rorschach pareci- am expressar negacdo de que as coisas esto tio ruins ‘ou ameagadoras quanto parecem. Por exemplo, con- sidere as seguintes respostas: “Faces, parecem més... O mal, nem tao mal. Fingimento”. “Mefisto...ipo charmoso”. “Tigre. Tigre adorével”. “Monstro....Ele 6 legal”. "Lobisomem.. Ele € malcompreendido... As ‘pessoas tém medo. Se voce falar com ele, ele & decer- fe". "Dois deménios. Deménios engracados. Nao de- ‘vem ser levadlos a sério”, Ao analisar 08 registros do teste de Rorschach de comediantes, verificou-se que cles continham significativamente mais dessa ima- gens “nada mal” do que os registros de atores ndo- i Lawrence A. Pervin e Oliver P, John comediantes. Além disso, verificou-se que os regis- tros de comediantes apresentavam significativamen- te mais temas de ocultacio (por exemplo, escondes, mascaras, disfarces, magica, truques) do que os regis- tros de outros tipos de atores. ‘Um tiltimo tema observado nesse estudo relacio- nava-se com a tendéncia dos comediantes e palhacos de serem sensiveis em relacgo a uma parte de seus corpos ou seu senso de self, de um modo geral. Pense, por exemplo, nas piadas de Jimmy Durante sobre 0 seunariz. Ouconsidere o ator cdmico Marty Feldman, cuja marca registrada eram os seus olhos salientes. Fle disse o seguinte com relagio a sua aparéncia: “Asoma total dos desastres da minha vida. Se eu quisesse ser Robert Redford, eu endireitaria os meus olhos e arru- maria o meu nariz, e acabaria como qualquer outro ator ruim, com duas falas no Kojak. Dessa forma, eu sou uma novidade” (The New York Times, 4 de dezem- bro de 1982). Em suma, a comédia é vista pelos come- diantes como uma forma de ajudar a si mesmo a lidar com um certo senso de inferioridade ‘Uma reviséo desse estudo permite que conside- remos brevemente as forgas eas limitagdes desses es- tudos ¢ testes projetivos. O Rorschach, como os projetivos em geral, é um instrumento maravilhoso para enxergar a fantasia individual e a complexidade de organizacao da percepcdo individual. Entretanto, as dificuldades em substanciar hip6teses teéricas ou em estabelecer a confiabilidade e a validade do pré- Pri teste so enormes. Aqueles que utilizam téenicas rojetivas enfatizam que somente esses testes podem capturar a riqueza da personalidade, Estimulos am- biguos evocam respostas individuais e idiossincré- ticas. Através dessas respostas, os individuos expres- sam suas personaliclades. O Rorschach é considerado © microscépio ou o raio-x do psicélogo, capaz de pe- netrar nas profundezas da personalidade do indivi duo. Comparativamente, os dados de outros testes so considerados triviais e fragmentados, Por outto lado, esses esforgos para conferir uma imagem multidimen- sional da personalidade total criam problemas na in- vestigacdo empirica. Assim, é dificil estabelecer a confiabilicade e a validade do Rorschach ou de ou- tros testes projetivos, Mais uma vez, estamos envolvidos com a ten- séo entre a iqueza dos dados clinicos psicodinémicos € 08 requisitos cientificos da investigacao sistemética. Essa tensdo ird permanecer conosco enquanto consi- derarmos a seguir a interpretacao psicanalitica da psicopatologia e da mudanca da personalidade PSICOPATOLOGIA Freqientemente, tomna-se dificil de apreciar a teoria psicanalitica sem primeiramente entender a natureza dos comportamentos estrarihos e confusos que eram trazidos a atencio de Freud. Freud passou a maior parte de sua vida profissional trabalhando com pacientes com transtornos neuréticos. De fato, 08 elementos mais criticos de sua teoria sto baseados nas observacées que vieram desse trabalho, Durante essas investigagdes, Freud decidiu que os processos psicolégicos de seus pacientes ndo eram peculiares quelas pessoas que apresentavam perturbagbes neu- r6ticas, mas poderiam ser encontrados, em um ou ou- tronivel ede uma ou outra forma, em todas.as pessoas, Assim, apesar de ser originalmente baseada em ob- Servacbes com pacientes, sua teoria é uma teoria ge- ral do funcionamento da personalidade, ao invés de apenas uma teoria do comportamento anormal, Tipos de personalidade Conforme mencionado anteriormente, Freud pensava que os primeiros cinco anos de vida eram rnhos como rota para o inconsciente), mas os conceitos teGricos essenciais permanecem sendo os mesmos. ‘Aléin de expandir seus esforgos clinicos ao tra- tamento de criancas, os psicanalistas cada vez: mais preocupam-se com tipos de problemas de pacientes diferentes daqueles que Freud normalmente enfren- tava, Nas palavras de um analista,os pacientes de hoje em dia vém de um contexto social e cultural diferente do de Freud, ¢ eles trazem problemas diferentes con- sigo. Ao invés de apresentarem-se com “neuroses tf picas”, eles buscam ajuda para a depresséo, para sen- timentos de vazio e para vidas “sem prazere alegria” (Wolf, 1977). Essas mudangas nos principais proble- mas que chegam atencéo dos analistas levaram a novos avancos teéricos, nao por uma insatisfagao para com a teoria freudiana em si, mas pela necessidade de entender e resolver diferentes problemas clinicos. Teoria das relacdes objetais O interesse clinico em problemas de autode- finiggo e em um senso de auto-estima excessivamen- te vulnervel levou os analistasa interessarem-se cada vyez mais pela maneira como, durante os primeiros anos, a pessoa desenvolve um senso de self ¢ entéo fenta proteger a sua integridade. Como grupo, 0s in- dividuos interessados nessas questdes so conhecidos como tebricos das relacées objets (Greenberg e Mitchell, 1985; Westen e Gabbard, 1999). A palavra objetal aqui refere-se a pessoas, a0 invés de objetos fisicos. Assim, © interesse esta em como as experiéncias com pessoas importantes no passado séo representadas como par- tes ou aspectos do self e assim afetam os relaciona- mentos do individuo com outras pessoas no presen- te. Embora existam diferencas entre 0s teéricos das relagdes objetais e embora alguns se afastem da teoria psicanalitica tradicional mais do que outros, de um modo geral, existe uma énfase maior nas pessoas con- sideradas como individuos que procuram relacio- namentos, e néo concentradas na expressao de instin- tos sextiais e agressivos. Por exemplo, um importante relacionamento com uma av6 estimulante pode ser representado como uma parte estimulante do self. Por outro lado, um importante relacionamento com uma av6 considerada egoista pode levar a uma represen- tacdo egoista do self. © narcisismo e a personalidade nardsista Em relagio aseu interesse nas perturbagées no senso de self, aaten- fo psicanalitica temvse concentrado particularmente Lawrence A. Pervin e Oliver P. John no conceito de narcisismo e de personalidad narcisista ‘As duas figuras mais importantes nessa érea s40 Heinz Kohut e Otto Kernberg: No desenvolvimento de um senso saudavel de self e de um narcisismo saudével, wm individuo tem um senso claro de self, um nivel satisfatério ¢ razoavelmente estdvel de auto-estima, orgulha-se de suas realizagies e tem conscifncia e res- pond as necessidades das outros, enquanto responde as suas proprias necessidades. Na personalidade nar- cisista, hé uma perturbacdo no senso de self do indi duo, uma vulnerebilidade a golpes 8 auto-estima, uma necessidade de admiraggo dos outros e uma falta de empatia com as necessidades e os sentimentos de ou- tras pessoas. Enquanto é vulnerdvel a sentimentos in- fensos de inutilidade e impoténcia (vergonha e humi- Ihagio), um individuonarcisista possui um senso gran- dioso de auto-importncia e preocupa-se com fantasi- as de sucesso e poder ilimitado. Esses individuios ten- dem a ter uma sensagio exagerada de ter o dieito a re- cebercoisas dos outros, de merece” aadmiracioe oamor dos outros, e de serem especicis ou tinicos. Eles sio ca- pazes de ser bastante obsequiiosos para com 0s outros, embora nao em um nivel emocional ou empatico, mas também de ser muito exigentes. As vezes, eles ideali- zamos outros ao seu redor ~assim como asi mesmos~ ‘mas em outros momentos, podem desvalorizar os ou- {ros completamente, Na terapia, néo € incomum que 0 individuo narcisista idealize o terapeuta como alguém extremamente criterioso em um momento, mas chame © mesmo terapeuta de incompetente e estipido no momento seguinte. Henry Murray, que desenvolveu o TAT, também desenvolveu um questiondrio para medir o narcisismo (Figura 4.3). Mais recentemente, foi desenvolvido o Narcissistic Personality Inventory (NPI) (Raskin e Hall, 1979; 1987), 0 qual esté comecando a ser utilizado em pesquisas (Emmons, 1987) Figura 4.3). Em um estudo, verificow-se que os individuos que apresentaram um resultado alto no NPT utilizavam muito mais atito-re. feréncias (por exemplo, eu, meu) do que aqueles que apresentavam um resultado baixo (Raskin e Shaw, 1987), e em outro estudo, verificou-se uma relagio en. ‘re resultados altos no NPI e ser descrito por outras ‘pessoas como exibicionista, assertivo, controlador e cri tico-avaliativo (Raskin e Terry, 1987). Verificou-se que 0s individuos que apresentazam um resultado alto no item narcisismo avaliavam o seu desempenho de ma- zneira mais positiva do que aavaliacio feita por amigos ou pela equipe de pesquisa, demonstrando uma ten- déncia significativa a autovalorizagio, com relacéo a individucs com resultados baixos no item narcisismo (ohn e Robins, 1994a; Robins e John, 1997). Além dis- 80, enquanto a maioria das pessoas se sente desconforté- vel e constrangida quando se vé em um espelho ou vVideoteipe, isso no ocorre com individuos narcisista, Assim como com o Narciso mitico, que admirava oseu. proprio reflexo em um lago, os individvios narcisistas passam mais tempo se olhando em espelhos, preferem se ver ao invés de outra pessoa em videoteipe, e, de fato, ecebem um “reforgo no ego” ao se assistirem em videoteipe (Robins e John, 1997). Finalmente, os indi- viduos narcisistas no apenas possuem um estilo atributivo auto-engrandecedor, como também posst- «em conceitos de sebastante simples e uma desconfian- ga cinica em relacio aos outros (Rhodewalt e Mort, 1995). Essas descobertas sto consistentes com a ima- gem do narcisista como uma pessoa preocupada com a manutengéo de sua auto-estima exagerada. Com re- lagio a isso, ndo de surpreender que os individuos narcisistas busquem parceiros amorasos que os admi- rem, diferentemente de individos nao-narcisistas, que buscam parceiros afetivos (Campbell, 1998). Escala de narcsimo de Murray (1938, p. 181) ‘Narcissism Personality Inventory (Raskin e Hall, 1973) Ev realmente gosto de ser 0 cantro das atengBes, Eu penso que sou uma pessoa especial Eu espero muito das outras pessoas, Eu tenho inveja da sorte das outras pessoas £1 nBo fico satisfeto ate ter 0 que merece Eu freqiientemente penso ei minha aparéncia @ em qua impresséo estou causando nos outros, Meus zentimentos s20 magosdos fadimente por zombarias ou pelos menores comentatios dos outros, Eu falo bastante de mim mesmo, minhas experiéncias, meus sentimentos e minhas ideas. Figura 4.3 tens ilustrativos de questioncirios de medida do narcisismo. “Amaior parte das pesquisas realizadas sobre 0 sarcisismo tem sido correlacional, relacionando os ‘esultados verificados no NPI com os resultados de Sutras questionérios ou com observagies de com portamento (por exemplo,auto-referéncias,olhar-se Pespetho). Maio recentemente, a pesquisa voltou- fe pata métodos experimentais. Por exemplo, explo- rando as observacoes clinicas de que os narcisistas respondema criticas oua ameacas a auto-estima com fentimentos de raiva, vergonha ou humilhacao, Rhodewalt e Morf (1998) expuseram individuos com nfveis altos e baixos de narcisismo (NPI) a experién- fias de sucesso € fracasso em dois testes descritos como medidas de inteligéncia. Como ositens das me- ididas eram moderadamente diffceis, 0s sujeitos teriam diividas sobre a preciso de suas respostas eo feedback relacionado com a preciso poderia ser manipulado Personalidade: teotia e pratica pelos investigadores. Para observar 0s efeitos do fra- asso apés 0 sucesso, em oposicéo a um sucesso inicial, a metade dos sujeitos recebeu um feedback de siucesso para o primeiro teste ¢ um feedbuck de fra~ casso para o segundo teste, e a outra metade rece- eu a ordem inversa de feedback. Apés cada teste, solicitou-se que os sujeitos respondessem a questies relacionadas com as suas emocbes ¢ indicassem suas atribuigdes para o seu desempenho. Conforme pre- visto, 08 individuos com altos indices de narcisismo (NPI) reagiram ao fracasso com maior raiva do que osindividuos com um nivel baixo denarcisismo, par- ticularmente quando o fracasso vinha apés 0 suces- 0 (Tabela 4.3). Esse resultado € consistente com a viséio de que a raiva narcisista é uma resposta a ame- acas percebidas as suas auto-imagens grandiosas. ‘Além disso, verificou-se que individuos com altos Tabola 4.3 Classficagbes de autoestima, rave e felicdade de sujeitos com nveis de narcsismo alto balxo apés sucesso seguido de fracasso (esquerda) e apos fracasso seguido de sucesso (direita) Autoestima ———Raiva Felicidade Autoestima Rava elicidade FORTE: Adaptado de Rhodevah e Warf, 1588. sleeroaraesecces Lawrence A. Pervin e Oliver P. John niveis de narcisismo eram particularmente vulneré- veis a variacdes em sua auto-estima, como conseqii- éncia de receberem feedbacks positives e negativos sobre o self. Sentimentos de felicidade também eram muito afetados por esse tipo de feedback (Tabela 4.3). Finalmente, verificou-se que os narcisistas tendiam mais a engrandecer a si mesmos, atribuindo 0 suces- 50 sua propria habilidade, ea culpar os outros para explicar 0s fracassos, do que os sujeitos menos nar- cisistas. Em suma, os resultados experimentais con- firmam as observagGes clinicas com relacéo a vulne- rabilidade de individuos narcisistas a golpes contra a sua attiorestima ea sua resposta a esse tipo de gol- pe com raiva A teoria do apego e as relacdes pessoais adultas Esta teoria lida com os efeitos das primeiras ex- periéncias no desenvolvimento da personalidadee sua relagio com o funcionamento posterior da personali- dade. Embora nao seja especificamente uma parte da teoria psicanalitica ou da teoria das relacdes objetais, 2 teoria do apego apresenta muitos pontos em comum com ambas. A atual teoria do apego baseia-se, amplamen- te, nos primeitos trabalhos do psicanalista britanico John Bolwby eno trabalho empfrico da psicdloga do desenvolvimento Mary Ainsworth (Ainsworth ¢ Bowlby, 1991; Bretherton, 1992; Rothbard e Shaver, 1994), Bowlby teve formacéo como psicanalista e in- teressava-se pelos efeitos da separagdo precoce dos pais no desenvolvimento da personalidade. Isso foi um grande problema na Inglaterra durante a segun- da guerra mundial, quando muitas criancas foram enviadas para o interior, longe de seus pais, para fi- carem seguras dos bombardeios inimigos das cida- des, Em seu trabalho conceitual, Bowlby foi ampla- menie influenciado pelos avangos da etologia, uma parte do campo da biologia que se concentra no es- tudo dos animais em seu ambiente natural, e por avangos na teoria geral dos sistemas, uma parte do campo da biologia que se concentra nos principios gerais de operagao de todos os sistemas biol6gicos. Suas observagées clinicas e leituras da literatura le- varam-no a formular uma teoria do desenvolvimen- to do sistema comportamental de apego (ABS)*. 'N.deR. ABS, em inglés, significa atachment behavioral system. Segundo essa teotia, obebé em desenvolvimento peg sa por uma série de fases no desenvolvimento de ape. g0 com uma pessoa importante, geralmente a mie, eno uso desse apego como uma “base segura” par, exploragao e separacdes. 0 ABS é considerado coma algo programado dentro dos bebés, uma parte de nossa heranga evolutiva que possui um valor adaptative. Ele proporciona a manutencao do con. tato intimo com a mae e a exploragao do ambiente 4 partir daquela base de contato segura. Como outra parte do desenvolvimento do ARS, o bebé desenvolve modelos internos ou represents. ges mentais (imagens) de si mesmo e de seus princ- pais cuidadores. Esses modelos sao associados & enno- go. Com base na experiéncia interacional durante a infancia, eles proporcionam a base para 0 desenv vimento de expectativas com relacio a relacionamen- tos futuros. Com a énfase na impartancia dos primei- z0s relacionamentos emocionais para o desenvolvi- ‘mento da personalidade e relacionamentos futuros, a teoria do apego assemelha-se & teria psicanalitica e 4 teoria das relacdes objetais. Com relagao ao trabalho empirico, uma mudan- «a importante ocorren com o desenvolvimento do Pro- cedimentodasituagioestranka, observado por Ainsworth, Basicamente, esse procedimento envolve a observagio sistemética da maneira como osbebésrespondem & par- fida (separagio) e ao retomo (reunigo) da mae ou de outro cuidador. Essas observagtes levam & classifica Gfo dos beb’s em uma entre txés categorias de apego: seguro (aproximadamente 70% cos bebés), ansioso-es- quivo (aproximadamente 20% dos bebés), ¢ ansioso- ambivalente (aproximnadamente 10% dos bebés). De smaneira breve, os bebés seguros so sensiveis& partida da me, mas a cumprimentam quando a teencontram, sto rapidamente confortados, sendo capazes de retornar para a exploragdo e para as brincadeiras. Por outro lado, os bebés ansiosos-esquivos apresentam pouco protesto pela separacio da mie, mas, com o seu retorno, apresentam comportamentos de esquiva, vi rando-se e olhando ou indo para o lado oposto. Final- ‘mente, os bebés ansiosos-ambivalentes tém dificulda- de para se separar da mae e dificuldade para se reurir a ela quando ela retorna. O que é diferente no seu com- portamento é a mistura de apelos para serem pegos no colo, com aborrecimento ¢ insisténcia para que sejam deixados no chao. ‘Muito mais poderia ser dito sobre a teoria e 0 procedimento mas, primeiramente, € importante pa- Pre examinar a questo de se as diferencas indivi- Zuais em apego telacionam-se com diferencas em re- Jacionamentos interpessoais adultos ~ em particular com relacionamentos amorosos, Na pesquisa a ser Considerada, os psicblogos decidiram investigar pos- siveis relagées entre vinculos emocionais desenvolvi- dos na infancia e vinculos emocionais estabelecidos como adultos apaixonados por outra pessoa (Hazan t Shaver, 1987). De maneira especifica, foi sugerido que 0s esis iniciais de apego (seguro, esquivo, an- Personalidade: teoria e pratica sioso-ambivalente) estariam relacionados com estilos adultos de amor romantico - 0 tipo de continuidade de padrdes emocionais e comportamentais sugerida pela teoria psicanalitica. Os sujeitos que participaram do estudo respon- diam a uma enquete ou “jogo do amor” de um jornal. Como medida do estilo de apego, os leitores do jomal se descreveriam como adequados a uma das trés ca- tegorias, em termos de seus relacionamentos com 03 outros. Essas trés categorias eram descritivas dos trés cestilos de apego (Figura 4.4). Como medida do esta- do atual de amor romantico, os sujeitos deveriam res- TTipos de apego em adultos Qual dos seguintes tipos melhor descreve os seus sentimentos? Sagura (N = 319, 56%): Considerorlativamenteféci me aproximar dos outros e me snto confortvel por dependerdeles © er Gee depencierer de mim. Nao me preocupo muito com o fato de ser abandonado ou de alguém se aproximar demas de Esquvo (1 = 145, 25%). Me snto um pouce desconfortive pert de outas pessoas; tenho dficudade de confi complet: Fea (elas, tenho dificuldade de permitieme depender delas. Fico nervaso quando alguém se aproxima demais, ©, ffealentemente, meus perceiros amerosos querem ter mais intimidade do que eu gostara, Esquivo-ambivelente (N ~ 110, 19%): Sito que os outs relutam em se aprevimar tanto quanto eu gosta, Freqlentemente, rebeoporme que meu parceifo ndo me ama de verdad ou que no queia fica comigo. Eu quero me fundir completamente fa outta pessoa, e esse desejo, as vezes, assusta as pessoas Nome da escala Amestra (Média do tipo de apego Ansioso/ Esquivo ——_ ambivalente Seguro Felicidade ‘Meu telaconamento com sme (deva/ceixou) 3,19 3,31 351 muito fez Amizade Eu (considerava/considero) tum dos meus 318 3,19 3,50 melhores amigos. Confianga Eu (sentia/sinto) confianga absoluta em ___. 31 313 343 Medo de provimidade As vezes, eu (sentia/sinto) que me aproximar demais 2,30 245 1.88 ‘de _____ poderia causar problemas. Aceitagao Eu (tnha/tenho) cansciéncia das imperteicées de 2,86 3.08 301 Ea iso no (dinui/diminuis) 0 meu amor Extremes emocionais Fu (zinto/senti) quase tanta dor quanto alegria em meu 2,75 3,05 2,36 relacionamento com —_ idime Eu (amofamava) tanto _que freqientemente 287 2.88 2A7 (tenhno/tinha) aime, Preocupagso obsessive As vezes,(perso/ persata) incontlavemente ern. 3,01 3,29 301 Atracdo sexual Eu (estoufestava) muito araido fscamente por_, 3,27 3,43 327 Desejo de uniso As vezes, eu (desejo/desejava) que _eeufésse 2.81 3,25 2,69 ‘mos uma unidade, um "n6s" sem limites laos. Desejo de recipvocidade Mais do que qualquer cosa, eu (desejo/desejava) que 3,24 3,55 322 __retribulsse 05 meus sentimentos. ‘Amor & primeira vista Quando note! eu jé estava atraldo pot 291 37 297 Figura 44. tens ilustrativos e médias de tr8s tipos de apego para 12 Escalas de Experiéncia Amorosa Lawrence A. Pervin e Oliver P. John ponder a questées listadas sob o titulo de uma maté ria do jornal: “Fale sobre o amor da sua vida’. As res- postas a essas questdes relativas ao relacionamento ‘amoroso mais importante que eles tiveram formavam a base para os resultados em 12 Escalas de Experitn- ia Amorosa (Figura 4.4). Outras questées foram feitas, com relagio a visdo de cada pessoa do amor romanti- co com o passar do tempo e das lembrancas de relaci- ‘onamentos da infancia com os pais ¢ entre os pais, Serd que os diferentes tipos de respondentes (se- guro, esquivo, ansioso-ambivalente) também diferem na maneira como experimentaram seus relacionamen- tos amorosos mais importantes? Conforme as médias dos trés grupos nas Escalas de Amor indicam, esse parece ser 0 caso. Estilos de apego seguros foram as- Sociados a experiéncias de felicidade, amizade e con- fianca;estilos esquivo a medo de proximidade, altos € baixos emocionais, e citime; e estilos ansiosos- ambivalentes a uma preocupacéo obsessiva com a pessoa amada, um desejo de unio, atraco sexual extrema, extremos emocionais e citime. Além disso, 0s trés grupos diferiam em suas visdes ou modelos menfais de relacionamentos amorosos: amantes segu- x08 viamn os sentimentos roménticos como algo relati- vamente estavel, mas também como algo que cresce ¢ diminui, e rejeitavam o tipo de amor romantico de “perder a cabeca”, freqiientemente representado em livrose filmes; amantes esquivos eram cépticos quanto 4 qualidade duradoura do amor romantico e sentiam que era raro encontrar uma pessoa por quem pudes- sem realmente se apaixonar; os amantes ansiosos- ambivalentes sentiam que era facil se apaixonar, mas taro encontrar amor verdadeito, Finalmente, os sujei- tos seguros, em comparacio com sujeitos nos outros dois grupos, relataram relacionamentos mais afetuo- 808 com ambos os pais, assim como entre os seus pais Um outro estudo conduzido por psicdlogas com estudantes universitérios confirmou o padrao desses zelacionamentos e também sugeriu haver diferencasna maneira como os membros dos trés grupos se descre- viam: sujeitos seguros se descreviam como féceis de conhecer ¢ apreciacos pela maioria cas pessoas, 20 pas- $0 que 0s sujeitos ansiosos-ambivalentes se descreve- am como pessoas que tém dtividas a seu proprio res- peito e mal-compreendidas e subestimadas pelos ou- ‘0s. Os sujeites esquivos ficaram entre esses dois gra- os, mas mais proximos do tiltimo em suas respostas. Em pesquisas subseqiientes, essas relagdes foram, replicadas e ampliadas de duas maneiras. Em prime, x0 lugar, foi sugerido que o estilo de apego exerce uma influéncia penetrante nos relacionamentos das pessoas com 0s cuttos ¢ em sua auto-estima (Feeney e Nolle, 1990). Em segundo, o estilo de apego parece estar re, lacionado com a orientacio para o trabalho: sujeitos seguros abordam o seu trabalho com confianca, sig relativamente livres de medos de fracasso e néo per. item que o trabalho interfira em seus relacionamen. tos pessoais; 08 sujeitos ansiosos-ambivalentes sio ‘muito influenciados por elogios e pelo medo da rejei. ‘0 no trabalho e permitem que questées amorosas interfram no seu desempenho no trabalho; sujeitos esquivos utilizam o trabalho para evitar interacées sociais e, embora tenham sucesso financeiro, so me. os satisfeitos com seus empregas do que os sujeitos seguros (Hazan e Shaver, 1990). Embora muitos dessestestudos de estilos de ape- go contenham medidas de auto-avaliagio, um estudo inteligente de Fraley e Shaver (1998) fez. uso de obser. ‘aches naturalisticas para examinar a relacio entre 0 estilo de apego e 0 comportamento de casais em situ. agio de separacio, Nesse estudo, 0 comportamento de casais que iriam se separar temporariamente foi observado em um aeroporto. Veja como a pesquisa foi conduzida, Primeiramente, um membro da equi- pe de pesquisa abordou casais que estavam esperan- do no sagudo de um aeroporto e perguntou se cles estariam dispostos a preencher um questionario so- bre “os efeitos das viagens modemas sobre os relacio- amentos intimos”, que seria utilizado em um proj to de classe. A maioria (95%) dos casais concordou em patticipar, Cada membro do casal preencheu um questionério independentemente. Uma medida de es- lilo de apego estava incluida no questionério, Enquan- 0 0s questionérios eram preenchidos, um membro da equipe de pesquisa sentava-se a uma certa distancia do casal e tomava notas acerca das interacdes enquan- to esperavam a partida do véo. Esses comportamen- {os foram codificados em categorias de comportamen- to de apego como huscar contato (por exemplo, beijar, olhar pela janela apés 0 parceiro ter embarcado), man: ‘er contato (por exemplo, abracar, no deixar parts), evitar (por exemplo, desviar o olhar, romper o conta. to) e resistir (por exemplo, desejar ser abracado, mas resistir ao contato, sinais de raiva ou tvitagéo). Aques- tao abordada foi se os individuos que diferiam em sotto de apego iriam diferir em seu comportamento fm situagao de separacao, Essa relagio verificou-se om as mulheres, mas no com os homens, Por exem- plo, as mulheres altamente esquivas tendiar menos F uscare manter contato com seus parceiros tendiam menos a cuidar e apoiar os seus parceiros ¢ tendiam jhaisademonstrar um comporlamento retraido, como ‘astarse Ou NAO estabelecer contato visual, do que gs mulheres nao-esquivas. O que é particularmente interessante sobre esses resultados é que o comporta- mento das mulheres esquivas foi bastante diferente quando estavam acompanhando seus parceiosna Vi gem, ao invés de separando-se deles. Os comporta- srentos acima ocorreram com mulheres esquivas du- ‘ante a separacio. Entretanto, quando elas itiam voar juntamente com seus parceios, ou seja, quando nao jhavia ameaga de abandono, elas tendiam mais a bus- cat atencdo e contato com seus parceiros. Em suma, pelo menos no que diz respeito as mulheres, os dados jndicam que a dindmica do comportamento de apego verificado em estudos de criangas também se aplica 20 contexto de relacionamentos amorosos adultos. Eimportante lembrar que Bowlby sugeriu que cesses estilos de apego so desenvolvidos como re- sultado de experiéncias iniciais com a mae ou wm Personalidade: teoria e pratica cuidador, e envolvem modelos internos do self e do outro, Recentemente, tentou-se estabelecer uma re- lacdo entre 0s diversos estilos de apego com 0s mo- delos internos do self e do outro (Bartholomew e Horowitz, 1991; Griffin e Bartholomew, 1994). Se- gundo Bowlby, a partir desse modelo, podem ser definidos padrdes de apego de acordo com duas dimenstes, refletindo 0 modelo interno do self ¢ 0 modelo interno do outro (Figura 4.5). Cada dimen- sio envolve um lado positive e um lado negativo. “Um exemplo do lado positivo do self seria um sen- 0 de amor-préprio e expectativas de que os outros respondam de forma positiva, Um exemplo do lado positive do outro seriam expectativas de que os outros sejam disponiveis e apoiadores, prestando- se 4 proximidade. Como pode ser visto na Figura 45, esse modelo leva & adigdo de um quarto estilo de apego, o de reeigdo. Os individuos com esse pa- rio de apego nao se sentem confortaveis com rela- cionamentos préximos e preferem néo depender dos outros, mas ainda retém uma auto-imagem po- sitiva. Pesquisas atuais atribuem uma certa utili- dade ao modelo de quatro padrées, relativamente a0 modelo de trés padrdes, mas o nimero de pa- drdes de apego que seria melhor identificar ainda ‘permanece uma questéo aberta, Seguro (Confortivel com intinidade € avtonoria) ‘Self Positive Fejeitador (Rejeita a Irtimidades ‘antidependéncia) ‘outro Positive Outro Negativo Preocupsdo (Preocupado com relacionamentes) Self Negative Temerario (Temerétio de intimidade; sodalrmente esquivo) Reimpresso sob permissao,) Figura 4.5. Modelos internos de Bartholomew das dimensbes do self ¢ do outro e padrdes de apegp associados. Feoctiotmev¢ Horowitz, 1991; Griffin e Bartholomew. Copyright © 1994 da American Psychological Assocation. Lawrence A, Pervin e Oliver P. John A pesquisa apresentada aqui apenas toca na su perfice daquela que se tomou uma importante érea de investigagio. Os estos de apego foram associados & selecéo de parceiros e estabilidade de relacionamentos, amorosos (Kirkpatrick e Davis, 1994), a0 desenvolvi- mento da depressio em adultos e dificuldades em re- Jacionamentos interpessoais (Bartholomew e Horowitz, 1991; Camelley, Pietromonaco e Jaffe, 1994; Roberts, Gottib e Kassel, 1996), ao movimento rumo a tornar-s¢ ‘ais religioso (Kirkpatrick, 1998) e a maneira como os individuos lidam com crises (Mikulciner, Florian e ‘Weller, 1993) Além disso tam recente estudo sugere que estilo de apego se desenvolve em experiéncias fami- liares compartilhadas por irméos, 20 invés de ser forte- mente determinado por fatores genéticos (Waller e Shaver, 1994). Assim, comega a ser desenvolvida wma grande quantidade de pesquisas (Cassidy e Shaver, 1999; Simpson e Rholes, 1998) Ao mesmo tempo, é importante ter algumas questdes em mente. Em primeiro lugar, apesar das sugestivas evidéncias de continuidade do estilo de apego, também existem evidéncias de que esses esti- los néo sao fixados em pedra. Com relagio a esse pon- to, a quantidade de continuidade ao longo do tempo de estilo de apego e as razbes para uma maior ou menor continuidade permanecem questées de consi- derével debate (Fraley, 1999; Thompson, 1998). Em segundo, esses estudos tendem a enxergar os padriy de apego como se cada pessoa tivesse apenas um es. tilo de apego. Ainda assim, existem evidéncias de que mesmo individuo pode ter muitiplos padres de ape. 40, talvez um em relacionamentos com homens ¢ ou. ‘tro com mulheres, ou um para certos contextos e ot tro para contextos diferentes (Sperling e Berman, 1994). Finalmente, é importante reconhecer que a maioria dessas pesquisas envolve 0 uso de auto-ava. liagdes e a lembranga de experiéncias da infancia. Em outras palavras, necessitamos de mais evidéncias so- bre o verdadeiro compartamento de individuos com padres de apego diferentes e pesquisas que acom- panhem os individuos da infancia até a idade adult Alguns esforgos estéo atualmente em andamento, co. ahecidos como pesquisa longitudinal Groufe, Carlson ¢ Shulman, 1993). Em suma, as pesquisas, até o dia de hoje, sustentam a visio de Bowlby da importancia das Primeiras experiéncias para o desenvolvimento dos ‘modelos intemnos que tém efeitos poderosos sobre os relacionamentos pessoais, Ao mesmo tempo, so ne- cessdrias mais pesquisas para definir as experiéncias da inféncia que determinam esses modelos, a estabi- lidade relativa desses modelos e os limites de sua in- fluéncia na infancia. AVALIAGAO CRITICA Ao avaliar a psicandlise como teoria da perso- nalidade, devemos ter em mente que ela é uma teoria complexa, com muitos componentes, com alguns con- ceitos que so mais fundamentais &teoria do que ou- ‘tos. Assim, por exemplo, o conceito de fase de laténcia do desenvolvimento & menos fundamental do que a énfase na importancia das primeiras experiéncias para moldar 0 desenvolvimento da personalidade. Além disso, ao considerar a psicanélise como teoria, é im- pottante diferencié-la da psicandlise como método de terapia. A questéo do sucesso terapéutico com a psi- canilise néo foi tratada aqui porque ndo é essencial 20 entencimento da teoria ou & sua avaliacdo. A eficd- cia da terapia é uma questéo muito complexa, ainda Pouco compreendida, e é dificil extrapolar a partir dessa dtea de pesquisa para fazer uma avaliacéo da teoria da personalidade bm CONTRIBUICOES IMPORTANTES. A psicandlise 6 uma boa teoria da personalida- de? Claramente, Freud fez importantes contribuicées 8 psicologia. A psicandlise levou ao uso de novas téc- nicas, como a associacio livre e a interpretagdo de so- hos, e tem sido uma forga significativa no desenvol- vimento @ no uso de testes especiais para a avaliacio da personalidade. Além disso, duas contribuigdes no- taveis sdo dignas de serem mencionadas. Em primei- to lugar, a psicandlise fez uma grande contribuigao para a descoberta e investigacdo de fendmenos, A medida que avangamos além das superficialidades do comportamento humano, ficamos impressionados com as observacées de Freud, que se tomam particu- larmente aparentes no trabalho clinico com pacien- tes, Se escolhemos interpretar esses fenémenos como | 5 oboe iminceeear ts oe sins Renerennes caracterfstcas de todo 0 funcionamento humano,

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