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LEVY
ISBN: 978-85-99680-05-6
REFERÊNCIA:
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de nossa análise em três episódios de sua vida: o primeiro em sua infância quando tem
o primeiro contato com pessoas da raça negra em uma visita à Exibição do Império
Britânico em 1924, onde conta suas vivências e suas impressões; o segundo e o terceiro
episódios apresentam Queenie em diferentes fases de sua vida adulta.
Andrea Levy é a autora britânica negra, considerada uma das mais prolíficas, e
têm como foco principal de suas obras duas pequenas ilhas, a Inglaterra e a Jamaica,
seus habitantes e seus conflitos culturais e raciais.
Em junho de 1948, quando o S.S.Windrush navegou com destino a Londres
com o primeiro grande grupo de imigrantes vindo das Índias Ocidentais, o pai da
romancista Andrea Levy estava neste navio. Em suas obras anteriores, Every light in
the cosi burnin’, Never far from nowhere and Fruit of the lemon, Levy escreveu sobre
as crianças da geração Windrush e seus conflitos sociais e culturais por serem ambos,
negros e britânicos. Levy compreende bem a complexa relação entre cor e classe social.
Agora, em seu quarto livro, Small Island, que ganhou dois prêmios em 2004, ela se
volta para as lutas e conflitos dos pioneiros dessa geração.
Em seus livros, Levy trata da imigração da Jamaica para a Inglaterra e seus
efeitos nas pessoas envolvidas. Sua maior realização em Small Island é convencer o
público leitor de como o racismo inglês foi a ferida mais profunda para suas vítimas
coloniais, pois envolveu a destruição de seus ideais.
ESTEREÓTIPOS RACIAIS:
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Fanon, “a não ser uma amputação, uma extirpação, uma hemorragia que me jorrou
sangue negro pelo corpo inteiro” (p. 193).
O colonizado é colocado em uma condição inferior, subalterno através da criação
de estereótipos, da degradação do nativo. Segundo Hawthorn: “Caracterizar uma pessoa,
grupo ou instituição como ‘outro’ é colocá-los fora do sistema de normalidade ou
convenção para o qual ele pertence” (2003, p.249). Os sujeitos que não seguem as regras
e padrões estabelecidos, são colocados à margem e considerados ‘outros’. O estereótipo
racial é criado através de impressões e de uma generalização onde os indivíduos são
colocados em uma condição de igualdade em relação a sua cor, raça e atitudes. Através
desses estereótipos, não se distingue um cidadão de outro, mas tem-se uma massa única
na qual todos são um e um são todos.
O estereótipo negativo do negro é reforçado sempre no discurso colonial onde a
cor negra é relacionada com o mau, errado, avesso a convenções sociais e negativo.
Contrário a isso a cor branca sempre é relacionada à pureza, bondade, verdade e tudo o
que é certo. Podemos notar que a criança se viu na imagem da mãe e tudo aquilo que não
se identifica com essa imagem para ela é algo que assusta. Para Fanon “as crianças se
deparam com esses estereótipos raciais e culturais nas ficções infantis, onde heróis
brancos e demônios negros são oferecidos como base para a identificação psíquica e
ideológica. Semelhantes dramas são vividos todos os dias nas sociedades coloniais”
(1991, p. 194).
O “outro” é aquele cuja referência se encontra fora do ambiente daquele que fala.
O sujeito colonizado e pós-colonial é considerado o “outro” devido à centralidade do
colonizador e aos discursos sobre primitivismo, canibalismo e outros proferidos por esse
último.
Como Bhabha define (p. 177), “é na margem colonial que a cultura ocidental
revela sua diferença”. O europeu com seu sentimento de superioridade domina e
outremiza o nativo/negro que se sente inferior e objetificado. Esse sentimento é
proveniente da filosofia ocidental, que é baseada em considerações binárias. Essas
considerações estabelecem oposições hierárquicas na sociedade. O colonizador sente-se
superior ao nativo devido a esse binarismo. Bonnici define esse binarismo no seguinte
esquema:
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Nesse trecho o teórico reforça a teoria de Descartes e Sartre relacionando língua,
discurso e poder, proporcionando uma separação, uma binaridade entre o colonizador e o
colonizado.
A CONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS:
[Hong Kong smelt of drains, and Índia was full of women brightly
dressed in strange long colourful fabrics. And all these women had red
dots in the middle of their forehead. No one could tell me what these
dots were for.‘Go and ask one of them’, Emily said to me. But Mother
said I shouldn’t in case the dots meant they were ill – in case they were
contagious. (p. 4)]
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degradada ao relacionar o ponto na testa das mulheres a uma doença contagiosa. Queenie
é influenciada por sua mãe que não conhece a cultura do nativo também e com isso não
pode dar a Queenie informações reais sobre a cultura do “outro”. Ela passa para Queenie
a impressão de que todas as colônias são sujas e as pessoas estranhas. Queenie começa a
formar uma imagem negativa em relação ao nativo. Tudo que Queenie vê que é diferente
daquilo que ela conhece, não lhe é dada uma explicação racional, pois sua mãe ignora a
cultura do outro totalmente e deixa claro para ela que essa cultura diferente não tem
importância alguma, sua mãe sempre se remete ao nativo com certa superioridade.
Segundo Hawthorn: “Caracterizar uma pessoa, grupo ou instituição como ‘outro’ é
colocá-los fora do sistema de normalidade ou convenção para o qual ele pertence”.
Queenie é apenas uma criança, mas já deixa bem visível sua ignorância cultural e
falta de sensibilidade. Para ele o racismo é algo normal e correto, pois ela vive em uma
sociedade onde o negro é discriminado e estereotipado, uma criança não discerne o que é
correto ou não, para ela o que lhe é imposto é que vale como verdadeiro. Sua visão
estereotipada do nativo é exagerada e equivocada. Esse nativo é colocado em uma
posição inferior e estereotipada, é chamado de macaco e suas características físicas
comparadas a animais. O ‘outro’ é aquele cuja referência se encontra fora do ambiente
daquele que fala. Novamente é colocado em uma posição de subalterno, inferior através
da criação de estereótipos.
[Gilbert moving in had put an end to all that. Darkies! I’d taken in
darkies next door to him. But not just me. There were others living
around the square. A few more up the road a bit. His concern, he said,
was that they would turn the area into a jungle. (p. 95)]
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Então aqui está Mr. Todd mais uma vez na minha porta, querendo
converser comigo sobre meus inquilinos. Eu achei que ele viesse
reclamar do barulho que eles fizeram para carregar o baú (...) Eu o
teria convidado para entrar, mas eu sabia que ele não pisaria dentro da
minha casa.
Para o britânico, a preferência deveria ser sempre sua, pois para ele ser britânico
e possuir uma pele clara é um fator determinante para que ele tenha sempre a
preferência. O fato de sua irmã ter tido que sair da calçada para dar lugar a duas
mulheres negras, soa para Mr. Todd como uma afronta, é como se o negro não soubesse
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se colocar em seu devido lugar, ou seja, uma condição inferior que sempre privilegia o
branco. O imigrante segundo os olhos do colonizador mora de favor em seu país e o
tratamento diferenciado e a rejeição são marcas claras e evidentes que ao longo da vida
de Queenie corroboram para a construção dos estereótipos raciais cada vez mais fortes.
Ao longo de sua história Queenie envolve-se com um homem negro e fica
grávida. Ao conceber seu filho, Queenie o rejeita, pois a cor escura de sua pele está
acima do seu sentimento que ele. Ela não consegue cuidar dessa criança e isso faz com
que ela o entregue aos cuidados de Hortense, imigrante inquilina de sua casa. Na
passagem a seguir pode-se constatar o seu ato:
[‘Will you take him?’ I asked her. She was puzzled by what I’d said.
‘I thought,’ she began, ‘that you might hold the baby so I could drink
my tea.’ ‘Will you take him?’ I said again. ‘But already have him,
Mrs. Bligh.’ ‘No, you don’t understand, listen.’ […] ‘Will you and
Gilbert take him when you leave?’[…] ‘Will you take him with you?
Look after him for me. Will you take him and look after him?’[…] I
pleaded Hortense, turned to her. I was on both my knees now. ‘Take
him and bring him up as if he was your son. Would you, would you,
please?’[…] I was begging, I know I was, but I didn’t care. She was
trying to hand him back to me. I pushed him towards her again. (p.
429-430)]
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO:
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Para que esses padrões sejam aceitos, o colonizador usa estratégias e faz com que as
mesmas pareçam verdadeiras e absolutas aos olhos do colonizado. O colonizador sente-
se ameaçado pelo nativo, pois não aceita dividir com ele o mesmo espaço, aos seus
olhos o privilégio é exclusivamente seu. Nota-se que a cor da pele é um sinal de
superioridade e poder. Ratifica-se esse fato na personagem Queenie, que ao dar à luz a
um filho de pele negra, se exime de qualquer ligação afetiva. Já que o bebê possui a
pele negra, ser filho dela é menos importante do que ser negro, mesmo sendo britânico,
conforme Bhabha (1991, p. 193), “o negro é sempre um negro” - sua raça se transforma
no sinal inextirpável da diferença negativa do discurso colonial. Por meio dos
estereótipos raciais têm-se a impressão de que todos os indivíduos de um mesmo grupo
são semelhantes, suas características individuais são deixadas de lado uma vez que eles
recebem um rótulo igualando-os uns aos outros. Os estereótipos raciais marcam
profundamente o colonizado, que aos olhos do dominador parecem corretos e
verdadeiros.
REFERÊNCIAS
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