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O CULTO CRISTÃO

Pr. Kenneth Eagleton

Escola Teológica Batista Livre


(ETBL)
Campinas, SP

2013
1

O CULTO CRISTÃO
Pr. Kenneth Eagleton

Introdução
O culto cristão é um assunto vasto e intrigante. É entendido e praticado de maneiras
bastante diversas nas diferentes vertentes do Cristianismo (“Cristianismo” é usado aqui
como termo abrangente que inclui as religiões católica, ortodoxas, protestantismo em
todas as suas subdivisões e certas seitas como Mormonismo e Testemunhas de Jeová).
Mesmo dentro de qualquer uma das vertentes, como o evangélico, por exemplo, existe
muita diversidade. Esta diversidade leva à confusão. Não se sabe mais o que é tradição e
o que é bíblico. Dúvidas existem quanto à validade da introdução de novas formas de
adoração. Um dos motivos comuns de desentendimento entre igrejas evangélicas
(mesmo das que compoem uma mesma denominação) é a divergência quanto à maneira
de conduzir o culto público e o seu conteúdo.

O estilo de culto público e adoração de uma igreja passou a ser fator importante para as
pessoas na escolha que fazem quanto à igreja que irão frequentar. “A grande força
motora para a transferência de membros entre igrejas já não é mais o aspecto
doutrinário, geográfico ou o ensino bíblico, mas o estilo de adoração e culto” 1. Por isso,
em vez de simplesmente copiarmos o que outras igrejas fazem nos cultos, precisamos
fazer uma reflexão.

Don Saliers e outros já diziam que “adoração e teologia caminham juntas e grande parte
de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de
adoração)”2. A maneira de adorar a Deus no culto público vai moldando no adorador os
seus conceitos sobre Deus, sua posição diante dele e a função da igreja. O contrário
também é verdadeiro; a teologia influencia a forma de adorar a Deus. Se começamos
com conceitos errados a respeito de Deus, de nossa posição diante dele e da função da
igreja, isto determina como adoraremos a Deus.

Este curso nos ajuda a refletir sobre o significado do culto cristão, sua liturgia, sua
história, suas diferentes tradições, os componentes do culto público e algumas práticas
polêmicas.

1 dos SANTOS, Valdeci, Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão,


http://www.thirdmill.org/files/portuguese/20851~9_19_01_10-25-36_AM~refletindo_sobre_a_adoracao.htm
2 Em Valdeci dos Santos, Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão

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Definições
Culto:
Culto é a adoração ou veneração a uma divindade ou o conjunto de rituais que se usa
nesta adoração. O culto cristão é a adoração prestada pelos cristãos a Deus na sua
trindade. Além da adoração, o culto serve para edificar o cristão e anunciar a Palavra de
Deus. Este culto pode ser particular ou público. Neste curso concentramo-nos no culto
público.

Liturgia:
Liturgia provém do grego clássico, leitourgía, que significa função ou obra pública
prestada ao estado, a um indivíduo ou a uma divindade. “A liturgia tornou-se assim
manifestação do culto público, sancionado e codificado no conjunto das cerimônias, das
fórmulas e dos ritos necessários para expressá-lo. Esse significado permanece até
hoje”3.

O Novo Dicionário Aurélio define liturgia como “o culto público e oficial instituído por
uma igreja”. O Dicionário Aulete Digital a define como “conjunto de práticas e elementos
religiosos instituídos por uma igreja para se prestar culto a Deus; RITUAL”.

História do culto e da liturgia


Com o decorrer de quase dois milênios desde o início da igreja cristã, circunstâncias tais
como idiomas, culturas, política e desdobramentos quanto ao entendimento de
doutrinas bíblicas influenciaram o culto e a liturgia. Com o passar dos séculos,
diferentes tradições litúrgicas foram surgindo. Não é nosso objetivo entrar
detalhadamente na história de cada uma delas, mas fazemos um resumo desta
progressão. As principais tradições litúrgicas abordadas são: católica, ortodoxa,
protestante, evangélica, pentecostal e neopentecostal.

Liturgia na igreja primitiva

A primeira descrição que temos do culto público dos cristãos se encontra em Atos 2:42-
47, quando a Igreja ainda estava engatinhando e se limitava a cidade de Jerusalém. Ali
percebemos alguns elementos do culto: coletivamente recebiam instrução dos apóstolos
(perseveravam na doutrina dos apóstolos), oravam (no templo e nas casas), louvavam a
Deus e participavam de refeições em comum. Durante estas refeições se celebrava a
Ceia do Senhor (1 Co 11:20-22).

A forma do culto dos primeiros cristãos parece ter recebido muita influência do culto
hebraico realizado no templo e principalmente nas sinagogas, mas sem alguns dos

3 História da Liturgia Cristã - www.psleo.com.br/lit_his_lit.htm

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elementos judaicos, como o sistema sacrificial. A primeira descrição importante da


liturgia cristã é fornecida por Justino Mártir em meados do século II: “No dia chamado
Domingo, todos que vivem nas cidades ou nos campos se reúnem em um só lugar, lêem-
se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas, quanto for permitido pelo
tempo; quando o leitor termina, o presidente instrui verbalmente e exorta à imitação
destas boas coisas. Em seguida nos levantamos e oramos e, como já dissemos, quando a
nossa oração termina, trazem-se pão e vinho misturado com água e o presidente da
assembléia oferece orações de agradecimento, de acordo com a sua possibilidade, a que
todos concordam com um amém; e há uma distribuição a cada um e sua participação
nos elementos sobre os quais ações de graça foram dadas e àqueles que estão ausentes
uma porção é levada pelos diáconos”4.

Antes do IV século, praticamente todas as igrejas locais eram pequenas e se reuniam em


casas. O cristianismo nem sempre era bem visto e passou por vários períodos de
perseguição. Algumas ondas de perseguição eram regionais enquanto que outras foram
promovidas pelos próprios imperadores romanos com grande repercussão em todo o
Império. Em momentos de grande perseguição, os cristãos eram obrigados a se reunir
em esconderijos subterrâneos (catacumbas) ou então em locais secretos nas florestas
ou nas montanhas. Não havia um padrão para o local de culto. Nos cultos havia
comunhão e ampla participação de todos, assim como a ceia, que era realizada à mesa.
Os cultos eram frequentados por pessoas comprometidas, que poderiam até perder a
vida se fossem descobertos.

Desenvolvimento da tradição litúrgica católica

O Imperador Constantino “se converteu” e, em 313 d.C., o Edito de Milão concedeu


liberdade a todas as religiões. Teodósio I decretou o Cristianismo como a única religião
oficial do Império em 380 d.C.. Este fato teve grandes repercussões para a igreja e o
culto. Com o novo “status” do Cristianismo, muitas pessoas passaram a fazer parte da
igreja; mas estas pessoas não eram convertidas. Tornaram-se cristãs por conveniência
ou até por obrigação. Trouxeram para dentro da igreja várias práticas de suas religiões
pagãs de origem, como a idolatria. O chefe do governo passou a ser também o chefe da
igreja. Começou a haver disputas políticas pela direção das igrejas. Muitos passavam a
fazer parte do clero por indicação política, principalmente nos cargos de prestígio, como
o de bispo. O culto começou a sofrer as influências do protocolo imperial.

Em suma, as modificações que se podiam observar eram:


 Passou de um culto simples para um culto muito mais ritualístico;
 Aparição do uso do incenso (até então usado só no culto ao imperador);
 Uso de roupas litúrgicas bastante ornamentadas;

4 Tradução: Justino Mártir, Primiero Livro de Apologias, capítulo LXVII, disponível na internet em inglês:
http://earlychristianwritings.com/text/justinmartyr-firstapology.html, acessado em 01/08/2009

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 Gestos de respeito imperial;


 Procissão no início do culto;
 Coros compostos por sacerdotes
 A participação do público diminuiu e as pessoas passaram praticamente a ser
simples espectadoras;
 Iniciou-se a confecção de estátuas para representar personagens bíblicos e
mártires;
 Da celebração do aniversário dos diferentes mártires passou-se a dar
importância às suas relíquias e, em seguida, à sua veneração e à adoração,
atribuindo-se poderes milagrosos às relíquias;
 A celebração da Ceia passou de um ato comunitário a um rito praticado somente
pelos sacerdotes. Os fiéis passaram a simples espectadores. O significado da Ceia
passou de memorial a ato de sacrifício e a hóstia passou a ser venerada como o
próprio corpo de Cristo (transubstanciação);
 O clero passou a exercer a função de sacerdote, como no Antigo Testamento. Os
fiéis passaram a ser obrigados a receber do sacerdote o perdão pelos pecados e o
sacramento da Ceia;
 Como no Antigo Testamento, voltou-se a considerar alguns locais como espaço
sagrado (prédios das igrejas, cemitérios, etc.);
 Grandes prédios foram construídos como forma de ostentação de poder e
riqueza.

O culto se profissionalizou, sendo todo ele realizado pelos sacerdotes com o auxílio de
ajudantes consagrados para isso, inclusive a parte cantada. Aos fiéis remaneceu
simplesmente a assistência passiva e, ocasionalmente, a participação na cerimônia de
recebimento da hóstia. O culto passou a ser centrado na morte de Cristo, na eucaristia
(sacrifício do corpo de Cristo a cada missa). Com o uso obrigatório da língua latina nas
missas, poucos fora de Roma entendiam o que era dito ou cantado. Com o tempo, as
leituras bíblicas foram suprimidas nas missas e finalmente a Igreja Católica proibiu aos
fiéis de possuírem a Bíblia em casa. A liderança da igreja passou a reinvindicar
autoridade sobre a própria Bíblia, colocando-se como superior a ela e como única
autorizada a interpretá-la. Na Idade Média, uma taxa passou a ser cobrada dos fiéis para
comprar o perdão dos pecados (indulgências).

Surgimento da tradição litúrgica ortodoxa

Com o distanciamento que se deu entre as igrejas orientais e ocidentais entre os


sécuclos IV e VII, por razões políticas, as liturgias começaram a se diferenciar. A divisão
se tornou definitiva no ano de 1.054, quando o Império Romano se dividiu oficialmente
em dois. As igrejas orientais, baseadas em Constantinopla (atual Turquia), mantiveram
a língua grega por muito tempo, enquanto que as igrejas ocidentais, baseadas em Roma,
passaram a usar o latim. Ritos diferentes foram desenvolvidos nas duas tradições. A

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igreja oriental desenvolveu a liturgia que vemos hoje nas Igrejas Ortodoxas. A igreja
ocidental desenvolveu a liturgia que vemos hoje na Igreja Católica Romana. Apesar de
algumas divergências regionais, houve esforço para se uniformizar a liturgia em todas
as igrejas. Lecionários (livros com leituras bíblicas e sermões) e missais (livros com as
orações da missa) foram confeccionados e usados em todas as igrejas.

Tradição litúrgica protestante

A Reforma Protestante deflagrou por causa de uma onda cada vez maior de insatisfação
com o rumo da Igreja Católica Romana, o comportamento imoral e o abuso de poder de
grande parte do clero. O movimento da Reforma procurou voltar às Escrituras e fazer
uma limpeza de tudo o que não era bíblico. Foi um movimento de purificação e
simplificação da igreja, retornando aos padrões bíblicos. A Reforma foi caracterizada
por cinco expressões em latim: sola scriptura (somente as Escrituras), solus Christus
(somente Cristo), sola gratia (somente a graça), sola fide (somente pela fé) e soli Deo
gloria (somente glória a Deus): somente a Bíblia consiste em regra de fé e prática;
somente a graça de Deus pode alcançar o homem com a salvação; a salvação é somente
pela fé em Cristo e devemos dar glória somente a Deus.

As igrejas protestantes que nasceram da reforma colocaram muita importância na


Palavra de Deus, sua leitura, seu estudo, sua explicação e o seu anúncio (pregação). O
culto passou a ser mais centralizado na Palavra de Cristo e na sua ressurreição, em vez
de sua morte. A Bíblia foi traduzida nas línguas vernaculares e os cultos passaram a ser
realizados no idioma do povo. Foi restaurado o conceito do sacerdócio de todo cristão,
como ensina o Novo Testamento. Com isso, há uma volta à participação dos fiéis no
culto. As orações são espontâneas em vez de orações fixas recitadas. Os cultos na
tradição reformada têm caráter mais austero, voltados para o raciocínio, a reflexão e o
respeito a Deus.

Tradição litúrgica evangélica livre

Até agora falamos de como se desenvolveram as tradições litúrgicas Ortodoxa, Católica


Romana e das igrejas protestantes da Reforma. Durante a revolução industrial inglesa,
surgiu o metodismo, com Charles Wesley. Wesley evangelizou a classe mais pobre e
inculta, introduzindo uma forma de culto ainda mais popular, espontânea, participativa
e emocional. Os avivamentos dos séculos XVIII e XIX se caracterizaram por este tipo de
culto, criando uma tradição litúrgica evangélica livre. Apesar de mais espontânea, ainda
se manteve uma ordem de culto e sermões preparados. Além dos pastores com
formação teológica, muitos pregadores que surgiram não tinham formação alguma.

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Tradição litúrgica pentecostal

Com o surgimento do Pentecostalismo, no início do século XX, surgiu uma liturgia


pentecostal voltada mais para a pessoa do Espírito Santo. A espontaneidade substituiu a
ordem rígida de culto. Nada é planejado com antecedência, pois o que é planejado é
visto como sendo da carne e não procedente do Espírito. As músicas são escolhidas na
hora, qualquer pessoa pode se assenhorar da palavra para dar um testemunho, pedir
oração e fazer uma “profecia”. As orações são mais barulhentas, feitas por vários
indivíduos ao mesmo tempo. Grande importância é dada ao batismo do Espírito Santo, à
prática de falar em línguas durante o culto (não só durante as orações), oração para
cura e libertação de endemoninhados. Os sermões não são preparados com
antecedência, mas desenvolvidos segundo “o mover do Espírito Santo”. A maioria dos
pregadores não têm formação teológica.

Tradição litúrgica neopentecostal

Hoje, principalmente no Brasil, vemos o surgimento de outro tipo de tradição litúrgica: a


neopentecostal. No neopentecostalismo existe uma aversão à teologia e ao estudo e
formulação de doutrinas bíblicas. Este descaso pela teologia e pela hermenêutica bíblica
(arte de interpretação da Bíblia) se faz sentir na liturgia das igrejas. Textos bíblicos são
usados de forma alegórica ou sem levar em consideração o seu contexto. Com isso,
muitas aberrações são observadas em suas práticas. Outro fator característico desta
liturgia mais nova é a presença de elementos sincréticos (combinação de práticas cristãs
com as de outras religiões), não só do catolicismo, mas principalmente do espiritismo
ou animismo (por exemplo, o uso de amuletos e elementos como o sal grosso e o
sabonete de arruda para o afastamento e a proteção contra os maus espíritos, dança em
giras, etc.).

Uma característica distintiva da liturgia neopentecostal é o uso de uma variedade de


liturgias temáticas utilizadas na semana. Celebram-se em dias definidos da semana
cultos da família, do empresário, da terapia do amor, da libertação de maus espíritos, da
purificação de “encostos” e muitos outros. Cada dia da semana é reservado para um
tema.

A prosperidade econômica de todo o crente é muito enfatizada nessa liturgia,


aparecendo em muitos elementos do culto. Um dos mais destacados é o tempo e a
energia investidos em apelos por dinheiro. Diversas estratégias agressivas são usadas
para arrecadação de fundos, fazendo com que os recursos captados por estas igrejas
permitam o seu rápido crescimento numérico e enriquecimento sob a alegação de
serem grandemente abençoados por Deus. Uma de suas estratégias é a divulgação
maciça de seus cultos e outros programas religiosos em mídia, como rádio e televisão.

Alguns elementos “novos” introduzidos pelas igrejas neopentecostais na liturgia dita


“evangélica” incluem: venda (ou às vezes distribuição) de objetos “abençoados” para

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trazer prosperidade ou algum tipo de bênção ao fiel; realização de cerimônias com a


participação dos fiéis para alcançar algum tipo de graça (exemplo: passagem por algum
arco ou portão); realização de curas e exorcismos públicos (inclusive dos fiéis) em
quase todos os cultos e o uso de símbolos judáicos (chofar, réplicas da arca da aliança,
menorá, etc.). Estas cerimônias estão sendo continuamente inventadas e modificadas.

O que se nota é que a liturgia neopentecostal hoje se constroi sobre o pressuposto de


um clero que se coloca novamente em posição sacerdotal. O fiel depende do pastor, o
“homem de Deus”, com sua oração forte, autoridade de expulsar demônios, dom de
abençoar objetos e capacidade de declarar bençãos e determinar prosperidade, para
conseguir o favor de Deus. O fiel se sente distanciado de Deus e dependente do clero,
intermediário entre o fiel comum e as bençãos de Deus. A procura por Deus no culto
público passa a ser utilitarista, focada principalmente na busca e no agradecimento de
suas bençãos.

Palavras bíblicas para adoração e culto5


1. sāhā (hebraico) – adorar, se prostrar, se curvar. O ato de se curvar ou se prostrar
em reverência é geralmente feito a uma pessoa superior ou a um rei.

2. proskuneō (grego – das palavras pros, “para” ou “em direção”, e kuneō, “beijar”) –
se prostrar, se curvar. Um ato de rendição ou reverência frequentemente
praticado no oriente. É a palavra mais usada no NT para adoração (Mt 4:10; Jo
4:21-24; 1 Co 14:25).

3. sebomai – (grego) reverenciar, enfatizando o sentimento de temor, respeito,


admiração ou devoção (Mt 15:9; At 16:14; 18:7, 13).

4. latreuō – (grego) servir, render serviço religioso (Fp 3:3; At 7:42; 24:14; Hb
10:2). É a origem da palavra “liturgia”.

Princípios bíblicos
Veremos a seguir alguns princípios bíblicos ligados à adoração e ao culto cristão.

1. Todos os momentos do culto público (cânticos, oração, ofertas, pregação, leitura


bíblica, ordenanças, etc.) constituem uma adoração a Deus. Tudo que fizermos deve
ser feito diretamente a Deus na forma que o agrada e o glorifica – Sl 69:30-31; Cl
3:17.

5 VINE, W. E.; UNGER, Merrill; WHITE, Jr., William, Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New
Testament Words (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1985), p. 295 e 686

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2. O culto deve ser oferecido com todo o coração, amor e vontade. Culto por obrigação
ou por rotina ou rito não tem valor – Is 29:13; Os 6:6; Mt 15:8-9.

3. Adorar é amar a Deus – Mt 22:37-38.

4. Mais do que somente um culto, adoração é um estilo de vida – Sl 34:1; 1 Co 10:31; Cl


3:23.

5. A essência da adoração é rendição a Deus – Rm 6:13; 12:1-2; Lc 9:23. “Pessoas


entregues a Deus são exatamente aquelas usadas por Deus”6.

6. O culto não depende de lugar físico ou geográfico (Jo 4:21). O culto cristão não é
realizado em templo como no AT. O “templo” (prédio) de uma igreja cristã não é
sagrado. Deus está presente em todo lugar. O culto pode ser celebrado em prédio
próprio, alugado, casa ou mesmo debaixo de uma árvore. A ideia de um Deus
territorial, limitado pela geografia, encontra-se nas religiões pagãs ou animistas.
Fazer oração ou culto no monte (montanha) não tem mais poder do que em outro
local. Esta ideia também se encontra no paganismo (Torre de Babel, Gn 11:4; lugares
altos das religiões pagãs, 1 Re 13:33).

7. A adoração é em espírito e em verdade – Jo 4:23-24.

 Em espírito: autêntica – depende do coração da pessoa, não dos atos externos.


Depende da atitude, motivação e sinceridade. A oferta de Abel foi aceita e de
Caim rejeitada não por causa do que ofertaram, mas por causa do coração (Hb
11:4). Deus é espírito e a adoração deve ser feita em espírito, sem dependência
de qualquer objeto (instrumentos musicais, bancos, púlpito, etc.). Estes objetos
não são necessariamente errados ou proibidos, mas não são essenciais.

 Em verdade: a adoração tem que ser correta, de acordo com a Palavra de Deus e
Jesus Cristo (os dois são chamados de “verdade”). A Bíblia = verdade escrita (Jo
17:17); Jesus = verdade viva (Jo 14:6).

8. A adoração sincera, feita do coração, mas não segundo a verdade bíblica, ou de


acordo com os princípios bíblicos, não é uma adoração aceitável a Deus (exemplo: a
adoração sincera que se faz a um ídolo). Uma adoração feita de forma correta, mas
sem o coração e a sinceridade, também não é uma adoração aceitável a Deus. A
verdadeira adoração é a que reune tanto a sinceridade do coração como a forma
bíblica correta. “A adoração agradável a Deus é profundamente emocional e
profundamente doutrinária; usamos tanto o coração quanto a cabeça”7.

6 WARREN, Rick, Uma Vida com Propósitos (São Paulo: Editora Vida, 2002), p. 73
7 WARREN, p. 90

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9. Tudo deve ser feito com decência e ordem – 1 Co 14:33, 40.

 Nos cultos públicos a atenção deve estar voltada para Deus. As distrações devem
ser evitadas (barulhos desnecessários, movimentação desnecessária, conversas
paralelas, etc.)

 Confusão (várias coisas acontecendo ou pessoas falando ao mesmo tempo) e


gritaria não glorificam a Deus. Isto pode incluir orações conjuntas em voz alta,
muitas vezes feitas aos gritos (ninguém entende o que está sendo dito; muitas
vezes atrapalha a concentração e a oração de outra pessoa; o visitante pode ficar
confuso e escandalizado).

 O uso do “amém”. O termo “amém” significa “assim seja”. É um termo que a


congregação usa para concordar com o que está sendo dito: uma oração, uma
pregação. É sempre usado após uma afirmação. Não é correto usar o termo
“amém” para animar uma platéia.

 Indecência não glorifica a Deus – trajes indecentes, linguagem indecente.

10. A verdadeira adoração implica um custo – 2 Sm 24:24; Lc 21:1-4. O custo é a entrega


de si e/ou o uso dos próprios recursos.

11. O perdão e a purificação são importantes no preparo do culto: exemplo dos ritos do
AT (Ex 40:30-32); Mt 5:23-24; 1 Co 11:27-29.

12. A adoração nos momentos em que Deus parece distante ou quando não entendemos
o porquê das coisas. Exemplos de Davi (Sl 102:1-11), Jó (Jó capítulo 19: ele se vê
abandonado por Deus, mas continua o adorando) e Elias (1 Re 19:9-14).

13. O que não agrada a Deus na adoração:

 Vãs repetições – Mt 6:7.

 Adoração sem sinceridade – Mc 7:6.

 Falsa adoração: seguindo preceitos e tradições de homens em vez dos princípios


bíblicos (Mc 7:6-9).

 Idolatria – não colocar Deus em primeiro lugar (Ex 20:3-5).

 Tomar a Ceia do Senhor indignamente – 1 Co 11:20-22, 27-30.

 “Fogo estranho” em Lv. 10:1-2. Práticas contrárias aos mandamentos divinos


quanto à adoração.

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Desvios na adoração
 Influência do sentimentalismo: ênfase nos sentimentos8. Uma ênfase exagerada
nas emoções leva a crer que quando existem emoções fortes (choro, comoção),
isto vem de Deus. Uma adoração movida pelo Espírito teria muitas manifestações
emocionais. Uma adoração compenetrada e racional é vista como fria e sem a
presença do Espírito.

 Ênfase humanística: egocêntrica, busca por entretenimento; culto como


programa9. A preocupação humanística é com o ser humano que passa a ser o
centro das atrações e a motivação por trás de tudo o que é feito. O culto é voltado
ao agrado do “cliente” para que este se sinta bem. Programas especiais são
desenvolvidos para cada segmento da “clientela”. Existe um esmero na
preparação e na execução dos programas para que o “cliente” saia satisfeito e
volte. Técnicas de marketing são utilizadas para fidelizar o “cliente”.

Uma característica sintomática na música é o conteúdo das letras com


preponderância de pronomes na primeira pessoa: eu, nós, meu, nossa, etc. –
minha bênção, meu milagre, minha promessa, eu isso e eu aquilo). O foco da
adoração passa de Deus para o ser humano. Muitos vão ao culto público “buscar
a sua bênção”. Não estão ali para oferecer algo a Deus, mas para buscar algo de
Deus.

 Influência da confissão positiva10. Nessa crença, uma palavra dita com fé teria o
poder de criar uma nova realidade. “Declarar” ou “profetizar bençãos” por uma
pessoa com fé teria o poder de criar a situação positiva desejada. Por outro lado,
proferir uma maldição também teria o poder de fazê-lo acontecer.

Ainda nesta linha, o cristão adquire certos direitos como “filho do Rei” e deve
tomar posse das promessas divinas e reclamar seus direitos. Os direitos são
exigidos com autoridade e, na prática, Deus passa de Senhor a servo e tem
obrigação de satisfazer o que o cristão vê como promessas. Essas promessas
geralmente se encontram na área da prosperidade financeira, da cura e da
proteção física. O cristão se vê no direito de exigir estas bênçãos.

 Influência do pragmatismo11. A pressuposição do pragmatismo é que o que


funciona é certo ou deve ser feito. O Rev. Valdeci dos Santos explica que nesse
sistema, “se um princípio ‘funciona’ (atende à função desejada), julgamos ser
verdadeira a proposição. Uma decisão sob bases pragmáticas é uma decisão
tomada não pela essência, mas pelo efeito (resultado) causado na maioria do

8 dos SANTOS, Valdeci, Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão


9 idem
10 idem
11 idem

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povo cristão”. Igrejas que têm introduzido práticas novas e estranhas à Bíblia
justificam-nas pelo fato de estarem atraindo grandes públicos. Isso demonstraria
que a benção de Deus deve estar sobre eles.

 Ênfase na experiência sobrenatural. Existe hoje, em muitos meios, uma sede pela
experiência sobrenatural visível. Há uma busca constante pelo milagre, pela cura
sobrenatural, pelos sinais e maravilhas. Cria-se uma expectativa de que se não
houver alguma manifestação visível do sobrenatural, Deus não esteve presente
ou não esteve agindo. Igrejas anunciam cultos baseados nas curas e milagres que
Deus irá fazer. Os cânticos e orações dos fiéis pedem sempre um milagre. Este
desvio na adoração não leva em conta que Deus está sempre presente e, na
grande maioria das vezes, age de acordo com as leis da natureza que ele mesmo
criou e através dos seres humanos. A sua intervenção sobrenatural (fora das leis
da natureza) são excepcionais e de acordo com a sua vontade, para o seu
propósito, não de acordo com a hora marcada pelo homem. Em vez de buscar um
milagre de Deus devemos buscar o Deus do milagre.

“A presença desses elementos de erro na adoração produz dois resultados imediatos. A


adoração, que deveria ocupar o centro de nossa vida cristã, ‘sendo secularizada, é
incapaz de nutrir, edificar, desafiar, inspirar ou formar’12 nossa espiritualidade. Como
outros no passado, podemos estar atraindo sobre nós maldições e não bênçãos ao
apresentarmos ‘fogo estranho’ diante do Senhor em adoração”13.

Componentes do culto público


1. Música. A música no culto cristão tem sido uma área de bastante polêmica no meio
cristão.

a. Existem diferentes tipos de apresentações musicais usadas no culto cristão:


canto congregacional (onde todos os presentes participam), apresentações
especiais de canto (solos, grupos, corais) e apresentações instrumentais (um
ou mais instrumentos, inclusive orquestras e bandas).

b. Em alguns cultos a música pode ser um componente mínimo do culto


enquanto em outros a música pode ocupar a maior parte ou quase o culto
todo. Alguns são planejados como cultos musicais, como por exemplo, as
cantatas.

c. Canto. A Bíblia ensina que devemos cantar como uma das formas de cultuar a
Deus. Temos muitos exemplos de personagens da Bíblia que cultuaram a
Deus com seus cânticos. Muitos compuseram cânticos para agradecer a Deus

12 WEBBER, Robert E., “Preconditions for Worship Renewal”, Evangelical Journal, 9 (1991): 5.
13 Valdeci dos SANTOS

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por seus grandes feitos (Moisés – Ex 15:1-19; Davi – 2 Sm 22; Maria – Lc


1:46-55; Simeão – Lc 2:28-32). Somos instruidos a louvar a Deus de coração
com salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5:19). Os salmos foram
compostos como poesia hebraica que eram cantados em ocasiões de culto. O
canto deve louvar a Deus (Ef 5:19) e expressar a alegria e gratidão dos nossos
corações (Sl 81:1; 95:1; Is 30:29; Tg 5:13). A música mexe com as nossas
emoções, mas deve também ser a expressão da nossa racionalidade (1 Co
14:15). É por isso que a letra das músicas deve refletir verdades bíblicas
(doutrinas corretas).

d. Instrumentos musicais. Instrumentos musicais mencionados na Bíblia usados


para adorar a Deus: buzinas, címbalos, gaita de foles, pífaros, harpa, flauta,
saltério, cítara, tamborins, adufes (pandeiros), trombetas e instrumentos de
cordas. Estes instrumentos são bastante variados, incluindo instrumentos de
corda, percussão e sopro. Biblicamente não existe restrição quanto ao uso de
instrumentos musicais no culto.

Alguns cristãos hoje não aceitam o uso de certos instrumentos (como bateria
e guitarra nos países do ocidente e uma espécie de xilofone na África) sob
alegação de que esses instrumentos estão intimamente ligados à música que
desonra a Deus (rock) ou que é usada na adoração de espíritos malignos (no
caso da África).

e. Estilo de música. Uma das questões envolvendo a música do culto cristão que
mais tem dividido o povo de Deus nos dias de hoje é a questão do estilo de
música. Existe um ou mais estilos de música que são mais aceitáveis a Deus
na adoração (música sacra do hinário, por exemplo)? Existe algum estilo de
música que não glorifica a Deus (rock, funk ou samba, por exemplo)? O que é
que torna a música cristã? O ritmo? A letra? Ou os dois? Estas questões têm
sido o combustível para debates apaixonados.

Alguns princípios a serem levados em consideração:

 Música é um “instrumento” amoral (não confundir com imoral): nem


bom, nem ruim em sua essência. Tudo depende de como é usado.
Pode-se compará-lo ao dinheiro. Em sua essência o dinheiro não é
nem bom e nem ruim. É um instrumento que pode ser usado para bem
ou para o mal (ou até de forma neutra).

 Conceitos e estigmas relacionados a um estilo de música estão mais


relacionados à cultura e à experiência das pessoas. O mesmo estilo
musical pode ter conceitos diferentes para pessoas com culturas e
experiências diferentes. Um estilo musical que para uma pessoa pode
ser muito negativa pode não ter a mesma conotação para outra. Ao

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


13

contrário, um estilo musical que para uma pessoa condiciona um


ambiente de adoração pode ser reprovável para outra.

 Qual é a reação que o estilo musical provoca nas pessoas? Oração?


Reflexão? Alegria? Sensualidade? Pode ser que o mesmo estilo musical
provoque reações diferentes em pessoas diferentes.

 Nem todos os estilos podem ser apropriados para todos os grupos de


pessoas. Pode existir uma necessidade de se adaptar os estilos de
acordo com o que é apropriado.

 A música no culto público deve conduzir toda a congregação a louvar a


Deus. Se um determinado estilo de música for empecilho à adoração
de um grupo razoável de pessoas na congregação, então este estilo não
é apropriado para aquela congregação.

 Em 1 Coríntios 8 o apóstolo Paulo lida com o problema de se os


cristãos deveríam comer carne sacrificada a ídolos ou não. O contexto
histórico-cultural é de que a carne que se comprava em Corínto era
primeiramente sacrificada a ídolos antes de ser vendida. Os pagãos
que se convertíam a Cristo se escandalizam com um cristão que comia
carne. A questão colocada a Paulo era se o cristão poderia comer
carne. Será que o princípio desenvolvido por Paulo neste capítulo
quanto a como lidar com esta questão pode ser aplicada também à
música (ou outros elementos do culto)?

2. Leitura da Palavra de Deus. Tanto no Antigo como no Novo Testamento vemos que
a leitura da Palavra de Deus em público sempre fez parte do culto. Moisés e o rei
Josias leram a Lei a toda a congregação de Israel (Ex 24:7; 2 Re 23:2), Jeremias
mandou ler a Palavra de Deus no Templo (Jr 36:8), Esdras leu as Escrituras ao povo
de Israel (Ne 8:2-8, 18), Jesus a leu na sinagoga (Lc 4:16-20) e as epístolas dos
apóstolos eram lidas nas igrejas (Cl 4:16). A leitura da Palavra de Deus deve ter
primazia no culto. Esta leitura tem tomado várias formas nas diferentes tradições:

a. Litanias (ladainha) ou coletâneas de leituras que são feitas de passagens


bíblicas diversas.

b. Leitura de um trecho bíblico por uma pessoa.

c. Leitura responsiva: o dirigente faz a leitura de um versículo e a congregação


responde com leitura em uníssono (uma só voz) do versículo seguinte.
Convém observar que para se fazer uma leitura responsiva, é necessário que
todos tenham o texto na mesma versão, senão, vira confusão.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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3. Pregação ou sermão. A pregação ocupa um lugar de destaque na maioria dos cultos


cristãos. A Bíblia está repleta de sermões que foram pregados pelos profetas, pelos
apóstolos e por Jesus. A leitura da Bíblia e a pregação estão intimamente ligadas,
pois a pregação bíblica depende da leitura da Palavra de Deus. Pregação bíblica é um
ensino, um desafio, encorajamento ou uma advertência baseada na Palavra. Existem
vários tipos de sermões:

a. Sermão expositivo: faz uma explicação do texto bíblico lido.

b. Sermão tópico: faz uma exposição do que a Bíblia ensina sobre um


determinado assunto.

c. Sermão de desafio: traz um desafio à congregação relativo a algum princípio


bíblico.

d. Sermão evangelístico: anuncia as boas novas do Evangelho e desafia as


pessoas a se entregarem a Jesus Cristo.

4. Oração. Momentos de oração fazem parte do culto público cristão. Orar é falar com
Deus. A oração pode ser de dedicação do culto a Deus, louvor, gratidão, confissão de
pecados, intercessão por outras pessoas e também de pedidos pessoais ou do grupo.
Muitos cultos separam um período do culto para a oração. Pedidos de oração são
mencionados de público ou coletados em algum recipiente.

a. Oração escrita e oração espontânea. Algumas tradições usam exclusivamente


orações escritas, às vezes compiladas em livros de oração. Na tradição
evangélica, as orações são espontâneas.

b. Prática da oração:

 Silenciosa, cada um orando por si;

 Uma pessoa ora em voz alta pela congregação;

 A congregação toda ora simultaneamente em voz alta, com ou sem


outras práticas relacionadas (gritos, choro, música concomitante).

c. Significado de “amém” = “assim seja”: Ao final de uma oração é o desejo


daquele que ora que o que foi dito seja assim. Quando uma pessoa ora pela
congregação, e esta diz “amém”, é expressão de concordância com o que a
pessoa orou.

d. Olhos fechados. Por que se fecham os olhos ao orar? Pode-se orar de olhos
abertos?

e. A oração faz diferença? A oração muda a maneira de Deus agir?

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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5. Sacramentos e ordenanças. Os sacramentos ou ordenanças fazem parte do culto


público das igrejas cristãs. Em algumas igrejas estes ritos são praticados todas as
semanas, enquanto que em outras são praticados com uma frequência menor e até
esporadicamente.

a. Sacramentos seriam “meios de graça”. Deus utilizaria estas cerimônias, ou


ritos, para transmitir alguma graça, benção ou poder especial ao fiel. A Igreja
Católica Romana ensina que Cristo instituiu sete sacramentos: o Batismo, a
Crisma, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos (extrema unção), a
Ordem (ou ordenação ao sacerdócio) e, finalmente, o Matrimônio. Com
relação ao batismo, a Igreja Católica Romana ensina: “Pelo Batismo somos
libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos
membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua
missão”14. Portanto, para a Igreja Católica, é o batismo que salva. É por isso
que os bebês são batizados o quanto antes, para que não venham a morrer
pagãos.

O sacramento católico da Eucaristia seria o sacrifício de Cristo através dos


elementos do pão e do vinho. O sacerdote católico, ao levantar os elementos
da ceia, transforma o pão literalmente no corpo de Cristo e o vinho
literalmente no sangue de Cristo. Esta transformação é conhecida como
“transubstanciação”. Portanto, a Eucaristia é um novo sacrifício de Jesus.

A maior parte das igrejas da Reforma reduziram os sacramentos para dois: o


batismo e a Ceia do Senhor. Na tradição conhecida com reformada, os
sacramentos continuam sendo “meios de graça”, mas não conferem a
salvação. A Ceia do Senhor não é vista como um novo sacrifício de Cristo e
nem como o corpo e sangue literais de Cristo, mas crê-se que Cristo se faz
presente espiritualmente nos elementos da Ceia, conferindo uma graça
especial ao fiel.

b. As igrejas Batistas (e muitas outras igrejas evangélicas) não usam o termo


“sacramento”, mas sim “ordenança”, por entender que não é meio de graça. A
ordenança é apenas simbólica. O batismo é um rito externo de iniciação ao
Cristianismo, que demonstra publicamente uma decisão que já aconteceu
internamente. A Ceia do Senhor é uma cerimônia memorial daquilo que
Cristo fez por nós. Os elementos da Ceia não são o Corpo de Cristo e nem
contêm a sua presença mística, sendo apenas elementos simbólicos do corpo
e sangue de Cristo em uma cerimônia memorial.

c. A Igreja Batista Livre aceita a posição dos demais grupos Batistas como
descritos acima, mas acrescenta uma terceira ordenança: o Lavar dos Pés dos

14 Catecismo da Igreja Católica (São Paulo: Edições Loyola, 2000), p. 340

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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Santos (veja João 13:1-20). Esta cerimônia é uma demonstração de


humildade cristã e reconhecimento da necessidade de purificação diária do
pecado.

6. Uso das artes no culto. Quando se fala em expressões corporativas de louvor e


adoração (culto público), forçosamente todas as expressões externas passam pela
arte. Algumas destas não geram muita polêmica quanto a sua essência (sua presença
no culto), somente quanto a sua forma (maneira de serem administradas): oratória
(pregação, ensino), música, poesia (incluindo jograis), filme, teatro, pinturas
(crianças na EBD, outros), decoração (Natal, casamentos e tantas outras ocasiões),
etc. É obvio que em todas estas artes existem parâmetros, normas e critérios. Não
permitimos qualquer coisa em nome de Deus. Decência, bom gosto, beleza, treino e
outros critérios são aplicados para que a forma de arte seja também de acordo com o
segundo critério da verdadeira adoração: adorar em espírito e em verdade.

a. Teatro. O teatro é um elemento usado com frequência nas igrejas evangélicas.


A forma mais comum é aquela que encena algum acontecimento bíblico,
geralmente ligado à celebração de datas importantes da vida cristã, como o
Natal e a Páscoa. Peças teatrais com cenário moderno servem para chamar a
atenção para as necessidades espirituais do homem moderno. O teatro é um
instrumento das artes utilizado para ilustrar narrativas ou princípios
bíblicos. É um meio de divulgação do Evangelho, ensino bíblico e desafio à
vida cristã. O teatro pode ser apresentado só ou em conjunto com
apresentações de música.

b. Dança. Em Salmo 150:3-6 somos instruídos a louvar o Senhor com uma série
de recursos: cânticos, instrumentos musicais e danças (v. 4). Miriã e várias
mulheres louvaram ao Senhor com danças quando os israelitas foram libertos
do exército de Faraó (Ex 15:20-21), Davi dançou diante do Senhor em meio a
muito júbilo e som de instrumentos musicais quando a arca foi levada para
Jerusalém (2 Sm 6:14-16; 1 Cr 15:28-29).

Alguns princípios a serem levados em consideração no tocante à dança:


 Qual é a motivação e o objetivo? A motivação glorifica a Deus?
 Quais são as posições e os gestos usados? Chamam a atenção para o
corpo ou para a pessoa que dança?
 Quais são as roupas usadas? As roupas são provacantes ou sensuais?

Diferentes tipos de danças usadas contemporaneamente nas igrejas:


 Coreografia: danças, geralmente com movimentos leves e cordenados
por um grupo de dançarinos.

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 Baladas “gospel”: eventos organizados na igreja ou pela igreja ao som


de músicas de cunho evangélico. Qual é a sua reação às baladas
“gospel”?
 Giras. Algumas igrejas neopentecostais têm usado as giras durante o
culto, semelhante às sessões espíritas em que mulheres, chamadas de
“pomba-gira” dançam de forma provacante e libidinosa. Esta é uma
manifestação de sincretismo associada ao espiritismo.

c. Pintura. Durante o culto, alguns artistas têm usado a pintura em tela ou


desenho a giz durante uma música ou enquanto contam uma história, com o
objetivo de evangelismo.

d. Jogral. Muito em moda nas décadas passadas, o jogral é um leitura (ou


recitação) feita por várias pessoas que se alternam e, em alguns pontos,
também fazem leituras em uníssono.

e. Recitação de poesia. Mais comum nas décadas passadas e em algumas


culturas.

Pelo fato da adoração ser individual e ao mesmo tempo corporativo no caso do culto
público, nunca iremos agradar a todas as pessoas. Invertendo este pensamento, nem
todas as formas de arte ajudam todas as pessoas a adorar a Deus. Já estamos
cansados de saber disso. A pregação que abençoou um irmão fez o outro dormir. A
música que abençoou um grupo desagradou outro. A decoração que ficou
maravilhosa para uma irmã foi criticada por outra. Nem todos vão gostar. O gosto
também é muito cultural, mesmo dentro de um mesmo grupo étnico.

Quando fazemos afirmações do que agrada ou desagrada a Deus, creio que temos
que tomar muito cuidado, a não ser que Ele tenha expressamente afirmado isto na
sua Palavra. Creio que muitas vezes julgamos o que agrada a Deus pelo que nos
agrada; isto é, as nossas preferências. Este critério limita o nosso Deus e ignora a Sua
apreciação pela diversidade.

7. Libertação/exorcismo. No Novo Testamento vemos Jesus e os apóstolos expelindo


demônios de pessoas possessas. Ainda hoje encontramos pessoas que precisam de
libertação. Geralmente a expulsão de demônios se faz em particular. Não é uma
prática do culto público. Ultimamente a tradição neopentecostal tem se valido deste
recurso como parte regular e integrante do culto público. Infelizmente, muitos
abusos e desvios têm sido observados nesta prática, como, por exemplo:

 Muitos casos exibidos em público parecem ser mais uma manifestação de


histeria do que de possessão demoníaca.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


18

 A aparente exploração desses casos para demonstração do poder ou da


autoridade da pessoa que está realizando o exorcismo.

 Culpa-se o suposto demônio por tudo de errado ou desagradável na vida


das pessoas. Este ensino não leva em conta o pecado e suas
consequências. Não se prega a necessidade do arrependimento. Com isso,
isenta-se o pecador de sua responsabilidade.

 Exorcismo de cristãos. A pessoa verdadeiramente salva por Jesus Cristo é


habitação do Espírito Santo. Ela aceitou Jesus como seu senhor. É
impossível que uma pessoa seja ao mesmo tempo possessa por demônios
e habitação do Espírito Santo, tendo Jesus como Senhor.

8. Testemunho. Nós somos testemunhas do Senhor Jesus Cristo (Is 43:10-12) e fomos
por ele instruídos que, no poder do Espírito Santo, seremos suas testemunhas até os
confins da terra (At 1:8). O evangelho do Reino será pregado como testemunho a
todas as nações (Mt 24:14). Jesus declarou que seremos levados até diante de
governadores para servirmos de testemunhas (Mt 10:18). Os apóstolos foram
testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo (At 4:33). Todos nós devemos dar
testemunho do evangelho e do que Jesus Cristo fez e está fazendo em nossa vida.

Muitas igrejas dão oportunidade aos fiéis para dar um testemunho durante o culto.
Às vezes os testemunhos são de conversão e, às vezes, relativos às lutas e às bênçãos
de Deus em suas vidas.

9. Uso de línguas estranhas. O uso de línguas no Novo Testamento aparece 4 vezes: 3


vezes no livro de Atos e uma vez em 1 Coríntios (capítulos 12-14). O trecho de 1
Coríntios é a única epístola a mencioná-lo como parte do culto público. Fica claro
nestes contextos que o falar em línguas foi um fenômeno miraculoso de falar em
idiomas estrangeiros que os falantes nunca tinham aprendido.

1 Co 14:21-22 diz “que as línguas constituem um sinal”. É o único versículo na Bíblia


que nos dá uma razão pela qual Deus deu a variedade de línguas. O apóstolo Paulo
baseia sua afirmação nos versículos do Antigo Testamento citados no v. 21 (Is 28:11-
12). Estes versículos dizem que é “por homens de outras línguas” (idiomas) que a
Palavra de Deus seria anunciada ao povo de Israel. No entanto, os eleitos de Deus
não ouviriam. Eles são os incrédulos do v. 22; não os incrédulos, de modo geral, que
não eran judeus. A manifestação do dom de línguas tinha, portanto, o intuito de
testemunhar contra a incredulidade dos judeus. Era um sinal para os judeus de que a
nação incrédula de Israel não seria mais o povo eleito de Deus. Foi um choque para
os judeus ouvirem a Palavra de Deus anunciada nas línguas pagãs.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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1 Coríntios 14 nos dá instruções para o uso dos dons no culto público. O conteúdo do
culto deve edificar a igreja (v. 4-6), mas o falar em línguas no culto não a edifica.
Paulo dá instruções à igreja de Corinto dizendo que se o dom for usado no culto,
deve ser com interpretação de outra pessoa que recebeu um dom miraculoso e,
quando muito, duas ou três pessoas sucessivamente (v. 27). Se não respeitarem
estas regras, devem se calar (v. 28). Não é isso que se vê nas igrejas de hoje.

10. Introdução de elementos judaicos. Muitas igrejas hoje têm introduzido o uso de
elementos judaicos na liturgia do culto, tais como a minorá (candelabro judaico de
sete hastes), uma réplica da arca (passagem da arca pelo meio do povo), o chofar
(trombeta oriental confeccionada com chifre de carneiro), etc. A volta ao uso desses
elementos é um equívoco completo. As leis cerimoniais judaicas, juntamente com o
sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, foi substituída pela Nova Aliança de
Jesus. Um retorno às leis cerimoniais do Antigo Testamento seria uma judaização do
Cristianismo, coisa que o apóstolo Paulo combateu nas igrejas do primeiro século. Os
que pregavam tais coisas eram conhecidos como judaizantes, pessoas que
desejavam fazer os convertidos gentios adotarem a cultura judaica.

11. Dízimos e ofertas. Ofertar ao Senhor é também um ato de louvor e de gratidão a


Deus, além de ser uma demonstração de amor. No Antigo Testamento, Deus exigiu
contribuições do dízimo e das primícias, além de ofertas voluntárias. O Novo
Testamento ensina os princípios da proporcionalidade (contribuição proporcional
ao ganho), da espontaneidade (entregar voluntariamente, sem obrigação), da
liberalidade (entregar com generosidade) e de contribuir com alegria.

O ato de contribuir faz parte do culto público da maioria das igrejas cristãs. Algumas
igrejas colocam um gazofilácio (recipiente para recolher contribuições com fenda na
parte superior) à entrada do local de cultos para que o fiel faça a sua contribuição ao
entrar, sem que a contribuição faça parte da liturgia. A maioria das igrejas
evangélicas inclui um tempo especial para as contribuições na liturgia do culto. Isto
se faz de duas formas principais. Durante um ofertório instrumental ou um cântico,
um recipiente é passado em todas as fileiras de assentos para recolher as
contribuições sem que o fiel tenha que sair do seu lugar. Uma variação deste método
é que durante o ofertório ou cântico, o fiel se desloca até o gazofilácio colocado à
frente da congregação para depositar a sua contribuição.

Infelizmente, a igreja evangélica está caindo em descrédito com a sociedade


brasileira por causa dos abusos cometidos nesta área de contribuições. A tradição
neopentecostal ensina que, para obter as bençãos de Deus, é necessário “plantar
uma semente”, ou seja, fazer uma contribuição à igreja para que Deus retribua de
forma multiplicada. A contribuição virou uma forma de fazer barganha com Deus ou
de conseguir manipulá-lo para que ele nos conceda um benefício. Os cultos são

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


20

frequentemente tomados por apelos descarados por contribuições, tomando um


tempo desproporcional do culto.

12. Benção apostólica. Algumas igrejas evangélicas terminam o culto e despedem os


fiéis com a “Benção Apostólica” que se encontra em 2 Co 13:13: “A graça do Senhor
Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”.

Elementos do culto público


1. Espaço sagrado. Quando vimos os princípios bíblicos da adoração, mencionamos
que o culto cristão não depende de um lugar físico ou geográfico. No Novo
Testamento, a adoração a Deus pode ser feita em qualquer lugar. Não existe mais
espaço sagrado, como no Antigo Testamento, quando tinha-se o Tabernáculo e mais
tarde o Templo. O culto cristão não tem mais um “templo” físico. Os cristão é que são
santuário do Espírito Santo (1 Co 3:16 e17; 6:19) e edifício de Deus (1 Co 3:9). É um
equívoco chamarmos os nossos locais de culto de templo ou santuário. Isto transmite
uma falsa impressão de que o local onde nos reunimos é um espaço físico sagrado.

Não são os locais ou objetos que são sagrados, mas as pessoas é que são santas.
Portanto, os cemitérios não são sagrados, o prédio onde se reúne a igreja não é
sagrado e nem o palco (ou altar) de onde se dirigem os cultos. Aliás, na igreja bíblica
não existe altar. As menções a “altar” no Novo Testamento se referem ao sistema
sacrificial da Antiga Aliança. O “altar” das referências do livro de Apocalipse se
encontra no céu. A única referência que talvez não se aplique a estes dois casos é Hb
13:10: “Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no
tabernáculo”. No contexto, o autor está fazendo um contraste metafórico com o altar
do Antigo Testamento, referindo-se a um altar espiritual, não a um espaço físico na
igreja. Cinco versículos depois ele diz: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus,
sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (v. 15),
demonstrando assim que não se trata de um altar físico.

2. Ritos no culto cristão. Existe lugar para ritos no culto cristão? Rito é um “conjunto
de regras e cerimônias que devem ser cumpridas em uma religião”15. A Nova Aliança
aboliu os ritos das leis cerimoniais da Antiga Aliança. Jesus deseja uma adoração
feita em espírito; uma adoração feita com o coração, não baseado no rito. Existem
algumas cerimônias que devem ser realizadas no culto cristão, como as ordenanças,
mas isso pelo valor interno que tem para o fiel, não pelo rito em si.

3. Papel do celebrante ou líder do culto. Qual é o papel do celebrante ou líder do


culto cristão? Seria ele (ela) mediador entre a congregação e Deus? Seria sua função

15 AULETE, Caldas; Aulete Digital – Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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de abençoador do povo (mediador entre Deus e a congregação)? Poderia ele (ela)


ser um intercessor ou instrutor? Possui ele (ela) alguma autoridade especial ou
confere alguma cobertura espiritual? Ou seria ele (ela) simplesmente um dirigente
escolhido entre seus pares? Estas são questões nas quais não existe consenso entre
os cristãos.

A Igreja Católica Romana usa somente o clero (pessoas ordenadas) para a


celebração de suas missas. O sacerdote funciona como mediador entre os fiéis e
Deus, sendo o único autorizado a celebrar a missa, ouvir confissões, conferir
absolvições e administrar os sacramentos. O padre deve vestir roupas litúrgicas
como a alba (ou alva), estola, cíngulo e casula.

Nas igrejas protestantes e evangélicas, não é necessário ter uma pessoa ordenada
para celebrar o culto. Muitos dirigentes não ordenados participam da condução do
culto. O Novo Testamento ensina que somente Jesus Cristo é mediador entre Deus e
o homem (1 Tm 2:5). Nenhum celebrante de culto tem esta autoridade. Todos os
fiéis têm o direito de entrar diretamente na presença de Deus através de Jesus
Cristo, sem depender de outro indivíduo (conhecido como o sacerdócio de todo o
cristão). Todos os fiéis são “sacerdotes” (1 Pe 2:9). A tradição neopentecostal tem se
desviado deste princípio ao apresentar os seus pastores como “o homem de Deus”,
fazendo dele o canal das bênçãos de Deus e tornando a sua oração uma oração mais
poderosa. Ele (ou ela) seria o instrumento de Deus para conferir “cobertura
espiritual” contra os demônios e a maldição e uma posição privilegiada para receber
a bênção de Deus, exigindo-se uma obediência cega ao líder para poder permanecer
debaixo desta cobertura.

O Novo Testamento nos ensina que o pastor foi constituido pelo Espírito Santo para
servir o rebanho de Deus, pastoreando-o, edificando-o e protegendo-o dos falsos
mestres (Jo 21:15; At 20:28-31; Ef 4:11-12). Existe um perigo muito grande quando
se coloca o pastor em uma posição de superioridade espiritual. A pompa, as regalias
e o prestígio levam facilmente a um orgulho espiritual e a um esquecimento de sua
posição de servo. O pastor deve se proteger destas armadilhas. Em algumas
tradições o celebrante do culto se veste de toga, estola e/ou usa gola branca de
cunho clerical. Mesmo o uso de terno pelo pastor às vezes se torna um artifício para
separá-lo dos fiéis. Algumas vezes o pastor fica isolado do restante da congragação
durante a primeira parte do culto, sem participar, até próximo ao momento em que
trará a mensagem. Todos esses gestos criam uma distância entre o pastor celebrante
do culto e os fiéis, o que deve ser evitado.

4. Participação ativa nos cultos. Quem pode ter participação ativa nos cultos? Nas
igrejas protestantes e evangélicas a resposta a esta pergunta é muito variada.
Algumas igrejas têm um controle rígido, só permitindo que algumas pessoas seletas

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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compareçam à frente, seja como dirigentes, músicos, cantores ou qualquer outra


função. Outras igrejas exigem que a pessoa seja membro da igreja para que tenha
visibilidade no palco. Em algumas igrejas não existem exigências e qualquer pessoa
pode participar à frente.

A maioria das igrejas exige que o ministrante das ordenanças (ou sacramentos) e do
ofício do casamento seja um pastor ordenado. O pastor pode pedir ajuda aos
diáconos, anciãos ou presbíteros para ajudar na ministração da Ceia do Senhor.

A participação da mulher na liderança da igreja é tema bastante polêmico nos dias


de hoje. Até poucas décadas atrás, na grande maioria das tradições, a mulher não
podia ser ordenada ao ministério. Ela não podia ministrar as ordenanças (ou
sacramentos), o ofício do casamento, ensinar um auditório onde houvesse homens e
nem pregar. As bases bíblicas para esta posição são: 1 Co 14:34-35 e 1 Tm 2:11-15. A
mulher, sendo submissa ao seu marido, não deve ter posição de autoridade
espiritual sobre o homem. Nas últimas décadas esta posição tem mudado em muitas
igrejas. Existe um número cada vez maior de igrejas que confere às mulheres os
mesmos direitos de ordenação e ministração no culto público que os dos homens.

5. Posições do corpo. Na liturgia do culto público, existem várias posições do corpo


que são praticadas. As mais comuns são a posição sentada e a posição em pé.

a. Sentado. Esta posição é a mais comum e é usada durante a maior parte do


culto público cristão.

b. Em pé. Esta posição é usada durante vários componentes do culto. Em


algumas igrejas a leitura bíblica ou as orações são sempre feitas em pé. Em
outras igrejas só se canta em pé.

c. Ajoelhado. A posição ajoelhada somente é utilizada em algumas igrejas e


geralmente durante algum período de oração, seja particular ou coletiva.

d. Erguendo os membros superiores. Em algumas igrejas mais informais os fiéis


erguem os braços e as mãos em sinal de adoração durante os cânticos ou a
oração. Nas igrejas mais formais este gesto não é apropriado.

e. Palmas. Semelhantemente ao item anterior, em muitas igrejas mais informais,


os fiéis batem palmas com o ritmo da música de alguns cânticos ou dão uma
salva de palmas em certos momentos do culto. Nas igrejas mais formais este
gesto não é apropriado.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton


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Diferentes tipos de culto


Nem todos os cultos dentro da mesma tradição tem a mesma liturgia. Existem diferentes
cultos para diferentes fins ou com um público-alvo diferente. Os componentes nestes
cultos podem variar de acordo com a sua finalidade. No culto de oração, o período
dedicado à oração é maior. No culto de estudo bíblico o foco é o ensino. Cultos
evangelísticos também são celebrados. Batismos às vezes são celebrados em cultos à
parte. Existem cultos comemorativos e de gratidão a Deus por aniversários de
nascimento e de casamento, por formaturas e outros eventos especiais. Cultos também
são celebrados para públicos específicos: culto de jovens, cultinho infantil, culto das
mulheres ou de homens. Em cada um destes cultos, os componentes e elementos podem
ser diferentes.

Cultos ecumênicos. Cultos ecumênicos são cultos celebrados com outras denominações
ou religiões. O culto ecumênico inter-religiões é aquele celebrado não só com outras
denominações cristãs, mas também com outras religiões não cristãs. Exemplo: culto
com a presença de representantes evangélicos, católicos, muçulmanos, budistas, hindus,
etc. O culto ecumênico cristão é aquele celebrado somente com membros de outras
tradições cristãs como: evangélicos, pentecostais, liberais, católicos e ortodoxos. Outro
tipo de culto ecumênico é o evangélico, onde se celebra somente com outras
denominações que possuem a fé evangélica em comum: Batista, Presbiteriana,
Assembléia de Deus, Cristã Evangélica, Congregacional, etc.

É permitido ao cristão evangélico celebrar tais cultos ecumênicos?

Até que ponto, no espectro de ecumenismo, estamos prontos a participar?

Pode haver cooperação entre igrejas evangélicas, igrejas liberais e a Igreja Católica em
questões como ação social, militância contra ou a favor de legislação de interesse de
todas as igrejas cristãs?

Ano litúrgico. O ano litúrgico é celebrado na tradição católica e em algumas igrejas da


Reforma. É um calendário de celebrações de datas relativas ao Cristianismo. O ano
litúrgico começa com o Tempo do Advento (uma preparação espiritual para o Natal),
quatro semanas antes do Natal, culminando com a celebração da Encarnação de Jesus
Cristo (Natal). Depois vem o Tempo da Quaresma, uma preparação espiritual para a
Páscoa, a mais importante das datas cristãs. O Tempo da Quaresma é seguido do Tempo
Pascal que dura 50 dias e vai da Páscoa ao Domingo de Pentecostes.

O Culto Cristão Pr. Kenneth Eagleton

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