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Relertria Bibliogrs dca YIMA AZ, Henevque C. de. A Concep. odo orisha. * medieval do Women. IW: Ano pologia CilossProa. Val. 1, Ked. S34 Pyvlo: oyola, 4404, 5 ipaq. | eb deve mudar conPorme as PAHs Prchadhs et Daras dos Prchamenles \e parte: paqs 49_ 58 2 oc. tolos oF porte: pays 59.64 =p 15 -A9l05 u A concepgao cristdio-medieval do homem A concepgaio cristdo-medieval do homem prevalece na cultura ocidental do século VI ao século XV, mas seu influxo permanece pro- fundo e, sob certos aspectos, decisivo nas concepgdes moderna e con- tempordnea. que Ihe sucedem. Na verdade, trata-se de uma concep- Go teolégica (no sentido especificamente cristao de teologia), mas os instrumentos conceptuais utilizados na sua elaboragdo provém, em grande parte, da filosofia grega'. A concepcao cristio-medieval do homem procede, assim, de duas fontes: a tradicéo biblica, vetero e neotestamentaria, e a tradicio filosdfica grega, A tradicao biblica goza, na formago do pensamento cristo, de uma primazia em termos de normatividade, pois constitu uma instancia tiltima de referéncia, se- undo a.qual deve ser julgada a autonticidade crista das concepges € teorias que se apresentam no campo teolégico. Compreende-se, assim, que uma tensdo permanente se estabelega entre a tradigaio biblica e a tradigao filos6fica, ¢ é essa tensdo que oferece um fio con- dutor para se acompanhar a. evolugao do pensamento cristo particu- larmente no dominio da antropologia*. Por outro lado, 6 importante notar que, sobretudo nos primeiros séculos, a idéia cristé do homem no se elabora ex-professo, mas emerge no contexto das grandes 1. Antropologia é um campo importante e mesmo decisivo do encontro entre 2 Vor as reflexdes de W. Jaeger em Barly Christianity and Greek Bollngp Pres ofthe Harvard University Pres, 10 idem Human of These (ir fr de HL D. Safrey), Paris, ed. du Céxf, Paris, 1956, o AropologinFlostca 1 disputas teoldgicas, sobretudo as trinitérias ¢ cristolégicas do s 1V, ou se forma no Ambito da leitura cristé da Sagrada Escritura, & luz de grandes temas que ai se fizem presentes, como o tema da “ima- gom de Deus" ou do “assemelhar-se” (omoiousthai) a Deus, temas que ‘evocam, por sua vez, problemas © conceites da tradigio filoséfica. A concep¢ao cristao-medieval do homem nasce, assim, num terreno onde as duas grandes tradides tecem uma complexa trama con- cepiual que aqui poderemos seguir apenas em suas grandes linhas. 1. Concepgao biblica do home E preciso acentuar de infcio que, entre a concepgao biblica do ho- mem? e a concepeao clissica que estudamos no capitulo I, existe uma inegdvel comunidade tematica, ligada sem diivida a universalidade da experiéncia humana ¢ de seus contetidos fundamentals. Assim, siio temas comuns o homem ¢ o divino, o homem e o universo, 0 homem e a comunidade humana, o homem eo destino e o tema que rretine todos os demais, ou seja, a unidade do homem. No entanto, & concepgao biblica é formulada na. linguagem Teligiosa da revelacao. Hé nela, pois, um discurso sobre o homem que se supse ter origem numa fonte transcendente. Esse discurso contém uma teologia impit- cita, ou seja, uma referéncia sua origem como fundamento de sua verdade, referéncia que se tornaré teologia explicita quando trans- posta em conceitos e métodos préprios do pensamento filoséfico. £ nesse sentido que se pode falar de uma teologia biblica do homem, € 6 nola que so delineiam os tragos fundamentais da antropologia bfblica que serdo retomados pela.antropologia crista. Entre esses tracos convém destacar os seguintes: — a unidade radical do ser do homem, definida pela relagio constitutiva que o ordena & audiggo da Palavra de Deus’. Essa relagio 6 compreendida como ‘imagem’ (eikén), um tema que se tornaré, 3. Ver o artigo “Homme” de X. Léon-Dufour no Dictionnaire de Théologie biblique, Paris, Cerf, 1962 (tr bras, Sdo Paulo, Edigdes Loyola e artigos correlativos. Olivro do reforéncias fundamental é 0 do H. Wolf, Antropologia do Antigo Testamento, ‘bras, Sdo Paulo, Hdigdes Loyola, 1975. Sobre a antropologia hebraica ver ainda 220-212 ida pelo grande teblogo K. Rahner em Hérer des Wortes: neu bearbeitetv. J. B. Motz, Kdsel, Munique, 1963; tr fr. Dhomme d Vécoute du Verbe, Paris, Mamo, 1063. 30 2 pR¥e 88 Te=109%¢ YY A concen cisfosmeea do hoe deals de salvage predominante na antropologia crista®. A unidade do homem 6 pen- sada ndo numa perspectiva ontolégica, mas soteriolégicd, e ela se desdobra em trés momentos que se articulam como momentos de uma hist6ria ou de um itinoréirio salifico. Trata-so, pois, da unidade g), de um designio de salvagao que da parte de Deus 6 dom ou ofereci-"**? mento e da parte do homem resposta ou aceitagéo, a recusa do} dom implicando justamente a perda da unidade ou a cisio irreme-ésale idvel do seu ser por parte do homem. Os trés momentos definem, pois, uma unidade de origem, expressa nos temas da criagio, da 7 queda e da promessa, presentes jé: nos primeiros capitulos do livro da Origem (Génesis); uma unidade de vocagdo expressa no tema da Allanga que percorre todo o AT e se consuma no Evento do Verbo feito carne no NT; uma unidade de fim expressa no tema da vida na presenga de Deus (AT) ¢ da vida em Deus (NT). Nao obstante certas contaminagdes gnésticas que alguns autores pensam descobrir em formulas do NT°, o que separa radicalmente a concopgao biblica da unidade do homem de qualquer forma de dualismo ontol6gico 6 0 fato de que a linguagem biblica sobre o homem néo se refere a naturezas que nele se oponham, mas a situagdes existenciais que traduzem as vicissitudes de seu itinerério em confronto permanente com a iniciativa salvifica de Deus e com a sua Palavra. Assim, 0 homem é “carne” (basar) na medida om que se revela a fragilidade a transitoriedade de sua existéncia; 6 “alma” (nefesh) na medida lidade 6 compensada, nele, pelo vigor de sua vitali- dade; 6 “espirito” (rua), ou seja, manifestagao superior da vida e do conhecimento, pela qual o homem pode entrar em relagéo com Deus; finalmente, 6 “coragdo" (eb), ou seja, o interior profundo do homem, ‘onde tem sua sede afotos e paixdes, onde se enraizam inteligéncia e vontade ¢ onde tém lugar 0 pecado ¢ a conversio a Deus. A todos esses termos a traducéo dos Setenta dou uma ressondncia grega (sarx, psyché, pnetima, kardia) que incorporou significagdes provin- das da tradigao filoséfica, o mesmo acontecer r assim 0 risco do entrecruzamento da perspe: com a perspectiva existencial © soteriolégica bi 5. Sobre o tema da “imagom’ ver R. Javelet, Image et Ressemblance au XIléme’ sidcle, Paris, Letouzoy 6, Ver, pox. S. Pot Cerf, 1984, pp. 147-304, 7, Sobre essa tonsio ver H.C Lima Vaz, Cristianismo o conscléncia histéric, ap. Ontologiae Fistéra, Sto Paulo, Duas Cidados, 1969, pp, 205-210, 295-244 a observ (oda nota om Esentos de Filosofia, Problems de ranteira, Sao Paulo, Edigdes Loy, 000, p. 201, n. 37 Antroplogin Flosica 1 — a manifestagdo progressiva do ser ¢ do destino do homem por meio do proprio desenrolar da histéria da salvagao. A concep- cdo biblica do homem no é uma teoria que se expée num discurso articulado conceptualmente e que se pretende demonstrativo, como acontece na filosofia. Ela se dé a conhecer por meio da narracao do uma histéria que, sendo historia da revelagao e dos gestos sal- vificos de Deus, é igualmente histéria da revelagéo do homem a si mesmo. Nessa revelagéo progressiva, porque histérica, as situa- Ges fundamentais do homem vo sendo integradas na unidade profunda do seu ser-para-Deus. A leitura crista do AT vé a con- sumagao desse proceso no mistério da encarnagao do Verbo de Deus: o homem Cristo-Jesus passa a ser o arquétipo ou a analogia entis concreta como norma absoluta da concepgao crista do mem. A antropologia do NT apresenta-se, pois, como a fonte meira da visdo biblico-cristé do homem, da qual fluird incessante- mente o pensamento cristdo sobre o homem ao longo dos séculos’ A antropologia do NT 6, fundamentalmente, ou soja, em sua visio das situagdes existenciais elementares do homem, um prolon- gamento da antropologia do AT: os temas da “carne”, da “alma”, do “espfrito” e do “coragio” retornam, porém assumidos na perspec- tiva cristoldgica que Ihes confere um sentido de profunda novida- de com relagéo ao horizonte do AT. E sobretudo nos escritos paulinos joaninos que essa novidade se faz mais nitidamente presente. Neles aparecem igualmente tragos da koiné filos6fica grega da época, mas uma anélise cuidadosa mostra com indiscu- tivel evidéncia a transposicao dessa terminologia para o terreno de uma visao especificamente cristé, sendo um des casos mais conhecidos a tricotomia séma, psiqué, pnetima de 1Ts 5,23, cuja originalidade em face do correspondente esquema platinico foi amplamente demonstrada"*, O mesmo se pode dizer das oposigdes fpicas das cartas paulinas e dos escritos joaninos (como “carne , “animal! [psiquilés|-“espiritual” [pnedmatikés!, “homem, omem novo" ¢ outras em Paulo, ou “trevas"-"Iuz”, “mor- 8. A expressiio Analogia entls concreta é de H. U, von Balthasar in Theologie der ‘Johannes Verlag, 1950, pp. 53-54 vor também JY. (Cal. Taélogiques), Paris, PUF, 1990, pp. 78-80 pensamento encontra-se em J. Mouroux, Sens 1945, religieux dee Grees ot 'Bvangile, Paris, Gabalda, 1992, pp. 187-220, 32 A concept cristo medical do omen te’-“vida", “mentira’-"verdade" e outras em Jofio) que exprimem situagées existenciais do homem em face da palavra e do apelo de Deus € néo naturezas contrérias, como no caso do Gnosticismo"" 2, Antropologia patrstca O Gnosticismo foi, com efeito, o grande adversério intelectual e spiritual do Cristianismo nos dois primeiros séculos". Sua antropo- logia aprofunda o dualismo presente na tradigao grega e difundido em sua forma radical pela tradi¢do iraniana', dando-Ihe ademais um sentido moral e soteriol6gico que fez da pregagio gndstica um rival poderoso do kérigma cristéo. O dualismo preconizado pelas corren- tes gnésticas implica uma condenagdo da matéria, obra do princi- io do mal, o que o coloca em oposi¢ao frontal verdade central do antincio cristao, expressa no “fazerse carne” do Logos divino (0 logos sdrx egéneto, Jo 1,14). Ora, a antropologia patristica desenvol- verso toda a luz do mistério da Encarnagéo, e é esse mistério que transpée em um nivel concreto, pela referéncia a um arquétipo historico, o tema da “imagem e semelhanga O primeiro grande tedlogo cristéo a desenvolver de maneira Tigorosa e coerente uma antropologia crist em oposigéo e critica & antropologia gnéstica foi Sto. Irineu de Lido (século ID, em sua obra Adversus Haereses (liv. IID, onde o tema do homem reflexo da. eloria de Deus é 0 fio condutor da critica irineana a0 gnosticismo", O pensamento patristico, como é sabido, divide-so em duas gran- des correntes, cujo fundo é comum, mas cujas particularidades sio inconfundiveis: a patristica grega e a patristica latina, A antropologia cristina tradicao patristica grega sofre mais profundamente a in- fluéncia da filosofia grega. Ela acentua, assim, 0 cardter ontolégico iamo, a biliografia 6 muito vasta, Vor umna sinteso magisteal jonas, La Religion Gnostique (tr f+), Paris, Flammarion, 1970 Le Dieu séparé, supra, n. 6 1cem incontestéveis, Ver S, Pétrement, duane chez Paton, ls Gnosique ot tes Monihéens, Paris, PUF, 1048 4. Sobre 0 tema do “assemelhar-se" com Deus e sua relagto com a tradiciéo fica groga ver as observagies de W. Jacger em Seripta minora, Roma Edziont Storia € Letieratura, 1000, Il pp. 420-499, 469-483, 15. Ver A. Orbe, La Antropotogia de San Irineo, Madi, BAC, 1969 33 ArteoplogiaFlostcn | da concep¢io do homem, o que no deixa de gerar tensdes e dificul- dades com 0 carter histérico da visio biblica, Essas tenses so tipicas, por exemplo, do pensamento de Origenos (séc, IID, sem dii- vida o maior tedlogo da patristica grega, em cujo pensamento se dé pela primeira vez, em proporgées grandiosas e dramaticas, o encon- tro entre cristianismo e platonismo', A antropologia origeniana opera a transposic&o de varios temas de origem platénica como & “assimilagio" (omofésis) a Deus e a preexisténcia da alma numa perspectiva cristé, mas deixando abertos problemas de interpreta- cdo que suscitaram uma intermindvel querela na tradigao patristica grega. Por outro lado, a repercussao das grandes controvérsias tri- nitérias e cristoldgicas do século IV sobre a antropologia cristé, deu origem a temas que se tornardo fundamentais no desenvolvimento posterior da concepoio cristé do homem, como os de “subsisténcia” (hypéstasis) como “pessoa”, de "natureza” (physis) como “esséncia’ (ousia) ou 0 de “vontade” (théléma). No século IV, a obra de S. Gre- g6rio de Nissa sobre a igdo do homem (De hominis opificio) € no século V a de Nemésio de Emesa sobre a natureza do homem (De natura hominis) representam uma sintese antropol6gica da pa- tristica grega, sendo que a obra de Nemésio, por longo tempo atribut- da a Gregorio, teré influéncia na Idade Média latina”. _Na.patristica latina, embora os temas antropol6gicos ocuy parte importante no pensamento de Tertuliano (séculos deixou escrito um De Anima, é na obra de Sto. Agostinho que a.concencéo crista do homem em sua expresséo latina alcanca uma_amplitude-e.uma profindidade que fizeram dela um marco decisivo na histéria da cylfura.ocidental”. Podemos identificar trés fontes principais que confluiram na visio agostiniana do homem: “16, Sobre Origenes om sua rela CChristignus: Uberahme und Ungestaltung des Platonismus durch aie Vator, te de Bargundi, 6, cree avce ‘une introduction sur Tanthropologie de Nemesius par G. Verbeke — J. R. Moncho, Leiden, Brill, 1075. Sobre a antropologia de Neméslo ver ainda G. Lafont, Structure ef méthode do la Somme Thédlogique de saint Thomas &'Aquin, Pari, Desclée, 1980, ‘Secrdtan), Paris, Cerf, 1987, pp. 04-10, 4 ‘A concep sists do homem 8) 0 neoplatonismo, que constitui a base da formagao filoséfica de Agostinho e ao qual ele teve acesso por meio de alguns textos de Plotino e de Porfirio e do neoplat6nico latino Mério Vitorino, célebre professor de Retérica convertido ao Cristianismo”. © eco mais conhe- cido dessa formagao neoplaténica de Agostinho se encontra no livro VII das Confiss6es. Alguns criticos quiseram ver nos tragos pessimis- tas da visio agostiniana do homem uma influéncia persistente do ‘maniquofsmo ao qual Agostinho aderiu em sua juventude. Essa inter pretagio, no entanto, é dificilmente aceitével, em primeiro lugar pelo caréter radical da critica a que Agostinho submeteu a doutrina mani- queista e, em segundo lugar, pelo fato de que o pessimismo de Agos- tinho nao tem nenhum resquicio dualista, pois envolve 0 homem todo, sendo igualmente o homem todo objeto do designio é da ago saluifica. de Deus. A influéncia neoplaténica se fard sentir sobretido “na elaboracio agostiniana do tema da estrutura do “homer interior” coroada pela mens (equivalente ao nods da antropologia neoplaté- nica) e na qual Deus esté presente como interior e superior (interior \,_ intimo et superior summo, Conf. II, 6); ba antropologia paulina, que fornece a Agostinho uma visio do +homem eminentemente soterioldgica, a partir da qual ele formularé, adoutrina do pecado original e da graca e aprofundaré, no contexto da controvérsia antipelagiana, o problema da liberdade e do livre- arbftrio, introduzindo no pensamento antropol6gico ocidental uma tematica que se tornard, a partir de entao, uma matriz fundamental para a elaborago da idéia do homem caracteristica de nossa civili- zag. O que se poderia denominar impropriamente 0 pessimismo agostiniano busca provavelmente sua origem nessa fonte paulina de seu pensamento e, por isso mesmo, nada tem a ver com qualquer heranga maniqueista, devendo ser entendido na perspectiva da dialética paulina do pecado e da graca, na qual se enraiza o conceito ‘agostiniano de liberdade™, ~ . Sobre a formagto de Agostinho, ver o livro fundamental de P. Courcelle, Recherches sur les "Confessions" de Saint Augustin, Paris, de Boccard, 1950, © & sintese magistral de J.J. O'Meara, La jeunesse de Saint Augustin: introduction 4 la lecture des Confessions (tr. f. de J. H. Marrow), Priburgo S./Paris, Editions Univorsitaires-Cerf, 1088 20, Sio sugestivas as andlises de H. Jonas, Augustin und das paulinische Freiheltsoroblem: eine philosophische Stuale zum pelagianischen Ste 2ed, Céitingen, ‘Vandehoock w. Ruprecht, 1065 Aniropotogia Flsstica ©) a antropologia da narragéo biblica da criagéo que constitui um dos temas preferidos das meditagdes de Agostinho, como 0 atestam os livros XI a XIII das Confissdes, 0 De Genesi ad litteram, © De Genesi contra manichaeos ¢ outras inimeras passagens de sua obra, nas quais retorna o t6pico inesgotdvel do Deus criador. Enesse contexto que encontra seu lugar prdprio o tema fundamen- tal da antropologia patristica sobre o homem imagem de Deus que Agostinho trata com predilegao® e do qual sua antropologia recebe oparadigma ideal para natureza e a destinagao do homem (ver Conf, XIII, 22-24). E também o tema da imagem que alimenta as profundas e sutis andlises psicol6gicas que Agosti- nho desenvolve a propésito de sua meditagao do mistério trinitario (wer sobretudo De Trinitate, livros III a XI) e que constituem a vertente estrutural de sua antropologia. importante observar que as linhas tedricas da antropologia agostiniana acompanham em estreito paralelismo as linhas do seu itinerdrio existencial, sendo Agostinho 0 tinico pensador antigo no qual a busca da verdade surge do intimo de uma experiéncia pessoal que aparece entrelacada com a prépria expressio teérica da verda- de: o primeiro pensador, em suma, no qual o pensamento do ser 6 insepardvel da descoberta do Eu. Fazendo confluir as trés fontes acima citadas na prépria experiéncia de Agostinho, os tépicos funda- mentais de sua antropologia aparecem em sua coeréncia profunda: —o homem como ser uno: néo obstante a influéncia neopla- tOnica e expressdes que poderiam fazer supor uma concepedo ins- trumentalista na relagéo da alma e do corpo, a unidade do homem ¢ assegurada pela referéncia ao horizonte teolégico em cujo ambi- to ela é pensada. A criagdo do homem como episédio culminante da criagao de todo o universo segundo a narragao genesfaca impli- ca uma superagao radical do dualismo maniquetsta; a encarnagéo do Verbo, no qual todas as coisas foram criadas (paralelismo entre a narragdo do Génesis e 0 Prélogo joanino), implica a assuncao do corpo na.unidade da natureza humana na.qual o Verbo se enca 21. Ver G. Mertens, art. cit, pp. 180-188 ‘Mas 0 Bu agostiniano é pensado em sua ordenagéo existencial a Deus, © a logia agostiniana 6 insepardvel da prépria personalidade © experiéncia, espiritual de Agostinko, cujo itinerério 6 uma ‘aventura da razo e graca’. Vor A. Mandouze em sua obra fundamental: Saint Augustin: aventure de la raison et de la grace, Paris, Les Etudes Augustiniennes, 1968, 56 ‘A concep eisto-mesoral do homem ‘enfim a ressurrei¢do de Cristo, antecipacdo © promessa da res- surreigao de seu corpo que é a Igreja (doutrina central na eclesio- logia de Agostinho), implica a restituigdo escatolégica da unidade do homem tal como procedeu da Palavra criadora de Deus*; — 0 homem como ser itinerante: esse aspecto 6 0 que aparece mais intimamente ligado & experiéncia de Agostinho e a sua tradu- ‘edo nas categorias de uma antropologia existencial da qual as Con- fiss6es constituem o texto fundamental. A itinerdncia do homem segundo a visdo agostiniana 6 essencialmente um aspecto da concep- ‘:40 do tempo como caminho para a. cternidade: um cami faz e avanga no préprio desenrol i 6, portanto, em primeiro lugar um itinordrio da vida pensado segun- do a radical ordenagio do homem para Deus ¢ no qual o evento da la que, para Agostinho, deriva diretamente nto central e decisivo*, O itinerdrio da vida procede, segundo Agostinho, ao longo de duas linhas distintas, mas dialeticamente relacionadas entre si: 0 itinerério é juam inventuri: sic inveniamus tamquam quaesituri. O pensamento filosdfico-teol6gico de Agostinho 6 um pensamento inquisitivo em sua esséncia”, © essa inquisigio da mente que 6 necessariamente uma busca de Deus — um quaerere Deum que arrasta 0 homem todo simbolizado na inquietude do vida; 0 itinerério da vontade, cujo ponto de parti na condigéio do homem pecador e que, sob a agdo da graca, caminha 28, Sobre a “alma em Agostinho ver as paginas cléssicas de E. Gils tion @ Vétude de Saint Augustin, op. cit, pp. 56-72; © sobre origin antropologia de Agostinho ver 8. Grocthuysen, Anthropologie philosop Gallimard, 1952, pp. 10 24, Ver H. de Noronha Galvdo, Dia existntille Gotteserkenntnis bei Augustin: ine hermeneutische Lektiire der Confessiones, Finsiedeln, Johannes 25. Ver H.C. Lima Vaz, A motafisica da interioridade: Santo A Ontologia e Histéria, op. elt, pp. 02-106. A 26. Sobre esse aspecto vor J. M. Le Blond, Lee conversions de saint Augustin, Paris, Aubier, 1950, 21, Faz-se presente aqui o tema do inquictum cor: Feciti nos ad Te, Domine et fnquietum est cor nosirum donec requiescat in Te (Conf. 1,1, Sobre a inquisigao da. mente ver A. Mandouze, op. cit, pp. 252-260, 28, A inquletude do coragao tem doscanso, afinal, sogundo Agostinho, na sabe: doria que é liberdade na caridade, Ver Noronha Galvio, op. cit, pp. 81-200 AnuopoogisFilssfes 1 para a libertas vordadeira que é deleitagao na justica, O itinerdrio da vontade 6, propriamente, 0 itinerério da beatitude, tema que Agostinho recebe da filosofia cléssica e transpée para o contro de sua antropo- logia teolégica®. A concepgio do homem como ser itinerante corresponde, como dimensao essencial da antropologia agostiniana, a representagio grandiosa do itinerdrio da humanidade ado na figura das duas_cidades, tema da ultima e maior obra de Agostinho, o De Civitate Dei. A leitura teolégica da histéria humana apéia-se af numa visto linear do tempo, nao como mera sucesséo cronolégica, mas, segundo 0 modelo da vida humana, como crescimento para consumagéo final na segunda ¢ definitiva manifestacéio.do Cristo. ‘Ao esquema circular do tempo, imagem de uma perleigao que re- torna eternamente sobre si mesma, conforme a tradigao platénica, sucede 0 esquema linear de uma histéria orientada radicalmente para Deus pela dispensatio temporalis do Verbo feito carne ou pelo envolvimento dramético da eternidade no tempo®, —ohomem como ser-para-Deus é 0 terceiro tépico fundamental da antropologia agostiniana, que dé um sentido definitivo a unidade do homem ¢ & sua itinerfincia. O homem é pensado como ser-para- Deus, seja em virtude do caréter dinamico de sua estrutura de imagem em que a ordenago para Deus aparece como linha. fun- damental da atividade do homem interior segundo o ritmo triddico de sua vida (memoria, intelligentia, voluntas; mens, notitia, amor..), seja pela inelutdvel particinagdo do homem histérico na dialética das duas cidades, segundo a'diregao do amor profundo que o move: fecerunt itaque civitates duas amores duo”. senta uma transposicao ger A antropologia agostiniana rep da tradicao platénica nas linhas temticas fundamentais da tradigéo biblica e da tradicao crista da patristica anterior. Ela sord a matriz 20, Ver R. Holte, Béatitude et Sagesse: Saint Augustin et le probldme de la fin de homme dans la philosophie antique, Paris, Les Etudes Augustiniennes, 1962. 30, Sobre esse problema ver a obra clissica do J. Gultion, Le temps et I'éernisé chez Plotin et Saint Augustin, Paris, Boivin, 1989, e as observagies de Mandouzo, op. cit, pp, 204-200, fe De, XIV, 28; ver Bnarratio in Psalmum LXIV 2.28, © De Genesi ad 6. ‘32, Sobre agostinismo ¢ platonismo ver E, von Ivanka, Plato Christionus, op. cit pp. 189-224 3 ‘A concede eistio-meden do homem da concepedo medioval do homem, mas sua influéncia se estenderé até nossos dias, constituindo uma das referéncias permanentes do pensamento antropolégico ocidental 3. Concepedo medieval do homem A antropologia medieval vai buscar seus temas e sua inspiracdo om trés fontes principais que iréo constituir as auctoritates por exceléncia na vida intelectual da Idade Média: a Sagrada Escritura ou sacra pagina, autoridade maior ¢ incontestada; os Padres da Igreja dentro os quais se destaca a figura de Sto. Agostino, referén- ia privilegiada apés a Escritura; os fildsofos e escritores gregos 10s, dentre os quais Aristoteles se afirmard, a partir do século ‘como 0 Philosophus simplesmente ou, como se exprimiré Dante, imaesiro di color che sanno (Inf. IV, 131), Por outro lado, ndo obstante o privilégio concedido As auctoritates no método medieval do saber, concepgio do homem evolui em estreita relagéo com o proprio desenvolvimento da civilizagao. Ora, em que pesem esteredtipos historiogréficos largamente difundidos, a civilizagio medieval co- nheceu uma evolugéo complexa e passou por profundas crises®, nela jé se delineando muitas das linhas que se prolongardo nos tempos modernos. Assim, a concep¢So do homem apresenta na Idade Média uma surpreendente riqueza que estudos recentes tém procurado explorar’. No campo filoséfico-teolégico, a influéncia de Sto. Agostinho 6 predominante até o século XII. Somada a influéncia dos escritos dionisianos, que se torna também poderosa a partir do século IX, ela imprime as primeiras exprossées da antropologia medieval ‘tragos neoplat6nicos caracteristicos que se integrardo naturalmente 1088, 34. Sobre a antropologia na Idade Média sio fundamentals duas obras em cor laboracto, constituindo as Atas do 1° e do’ Congressos Intemacionals de Plosofia ‘medieval: homme et son destin d'apris les penscurs du Moyen-Age, Louvain: Paris, 2B. Nauwelaerts, 1960, ¢ homme et son univers au Moyen-Age (ed. Wenin),2 vols, Louvain-Paris, Poters-Vrin, 1006. Uma boa sintese em G. Gusdort, Lhomnme et le monde dans Ia culture médiévale, ap. Les sciences humaines et la pensée occidentale, I 2eme ed, Paris, Payot, 1908, pp. 15-201 AnopologiaFlessiice 1 .estrutura do pensamento simb6lico dominante até o século XII*. aristotelismo se imporé a partir do século XIIP*, mas a autoridade de Agostinho continua elevada acima de todas as outras e s6 inferior & da sacra pagina. Assim, a antropologia medieval, em seu apogeu, mostraré uma tenséo permanente entre aristotelismo ¢ agostinismo, cujo equilibrio é assegurado pela tradigao biblico-crista”. A originali dade dese equilfbrio manifesta-se nos tragos fundamentais da antro- pologia cristiio-medieval, na, qual assistimos a uma transposi¢ao, em. contexto espiritual e conceptual modelado pela heranga biblico- crista, das oposigdes que assinalaram 0 pensamento antropoldgico na tradigéo filoséfica cléssica. Cor sim, uma filosofia, crista. do homem, a cujas exigéncias de inteligibilidade deverdo submeter- se as categorias antropoldgicas herdadas da filosofia antiga™. Nela, duas questées adquirem particular relevo”: a da historicidade e a da corporalidade do homem. No primeiro caso, a “natureza” humana aparece estruturalmente inserida numa situagao histérica que 6 de- terminante do destino dos individuos e que, segundo a visao agosti- niana, orienta toda a histéria: a situagéo soteriolégica, definida pelos acontecimentos salvificos da historia salutis. No segundo caso, ainda aqui na trilha da reflexdo antropoldgica de Agostinho, a compreensao do corpo na unidade de esséncia do homem permanece uma exigén- cia fundamental da doutrina da criago ¢ dos pressupostos antropo- logicos do mistério da Encarnagéio do Verbo. Assim, segundo as, palavras de M-D. Chenu®, o problema da unio da alma e do corpo torna-se “o ponto sobre o qual, mesmo em teologia, os problemas encontraram posigao e as mentalidades sua clivagem’. jese mais bem-sucedida da antropologia medieval, vamos encontré-la no pensamento de Sto. Tomas de Aquino (1225-1274) expresso artis: 435, Uma brilhante exposigdo do pensamonto simbélico em société 960-1240, Lica encontra-se em G. Duby, Le temps des cathédrates: Lart et Paris, Gallimard, 1976, pp. 121-102 C, Lima Vaz, Fsionomia do século XII, ap. Eseritos de Fosofa 1, op. v0, ap. homme et son destin. ldssica ¢ do pensamento modioval, té classique au Moyen-Age, ap. por B, Gilson om Lespirit de to dos ne cormunicagio de M-D. Chenu, Situation ‘ap. Lhomme et son destin... op. cit, pp. 23-40. 40. M-D. Chenu, loc. cit, p. 42 | concep cristo medical do homer Nela convergom as grandes teses da antropologia cléssica e da antro- pologia bfblico-crista, encontrando finalmente seu ponto ideal de equilibrio'’. Dois termos consagrados na historiografia da filosofia medieval encerram as complexas correntes de idéias que vieram confluir na antropologia tomista: 0 agostinismo e 0 aristotelismo. So- bretudo o aristotelismo, que Sto. Tomds procurou reconstituir em ‘sua autenticidade original nos comentarios aos textos de Aristételes, chega de fato ao Ocidente latino nos séculos XII @ XIII acompanhado de elementos provindos de outras correntes da filosofia grega, sobre- tudo do neoplatonismo®, A antropologia tomésica pode ser situada, assim, num espago conceptual delimitado por trés coordenadas: — a concepgao cldssica do homem como animal rationale% —a concepgéo neoplaténica do homem na hierarquia dos seres, como ser fronteirigo entre o espiritual e o corporal; — a concepgao biblica do homem como criatura, imagem e semelhanga de Deus, Consideremos cada um desses aspectos: Na perspoctiva da definigio cléssica, 0 grande problema com © qual se defronta Sto. Tomas 6 o da unidade do homem ou o da relagdo da alma racional com o corpo, que se apresenta como um 41. Ver as obras em colaboragdo, Lianthropologie de Saint Thomas, Friburgo, Publications Universitaires, 1974, e anima nell antropologia di Santo Tommaso lo, Massimo, 1907, ies doctrinos grecques sur 'anthropologie thomiste, ap. [homme et son univers... op. ct, I, pp. 252-258. O A. mostra em que sentido Sto. Toms considera ohilemorfismo antropoldgico de Aristételos como uma sintese do materialismo e do espiritualismo das flosoflas anteriores, 43, Esse aspecto ¢ desenvolvido por N. Hinske no capitulo sobre Tomés de ‘Aquino em M. Landmann, De Homine, op. cit, pp, 112-120. 44. Esse toma é 0 objeto de estudo aprofundado por F. Marty. La perfection de homme selon Saint Thomas d'Aquin, Roma, Universidade Grogoriana, 1062, pp. 169- 188; ver também P. Engelhardt, Der Mensch und seine Zukunft: zur Frage nach dem Menschen bei Thomas v. Aquin, ap. Die Frage nach dem Menschen (Festgabe Max Maller), Friburgo B-Munique, Alber. 1966, pp. 352-274. Um estudo textual completo 6 0 do J. Legrand, Lihomme et 'univers dans la philosophie de Saint Thomas d’Aguin, 2 223; Ver lambém A. de Libera, Penser au Moyen-Ago, Paris, Sou 1091, p. 324, nola 28. 45. Essa perspectiva teoldgica prevalece na construed da Summa contra Gentes, I, caps. 56-90; e ds Summa Theologiae 1" p,q. q. 75-102 e ao longo da 1a 2ae. Vor C. Lafont, Structures et méthode dans a Somme Théologique de Saint Thomas d'Aquin, ‘op. cit, pp. 265-296 tw pp. 164-170 Aropologia losses 1 dos temas mais vivamente polémicos da filosofia medieval. A tese da pluralidade das formas substanciais hierarquizadas no mesmo com- posto atraia muitas simpatias e parecia a mais apta a preservar a natureza espiritual da alma intele decididamente mantendo, com Ai tancial e, portanto, a rigorosa unidade hilemérfica do homem. Ao mesmo tempo, no entanto, mantém a estrita espiritualidade da alma , portanto, sua essencial transcendéncia sobre a matéria © sua criagdo imediata por Deus. Sendo, porém, a anima intellectiva a \inica forma substancial do composto humano®, a diferenca espect- fica rationale da definicao cléssica determina todo o homem, assegu- rando assim a unidade antropoldgica exigida pela tradicdo biblico- cristd. A alma intelectiva é, pois, a enteléqueia do corpo ou o ato que © integra na perfeicao ossoncial do ser-homem, e de sua unicidade deriva a unidade do agir ¢ do fazer humanos, conclusio de grande importancia para a ética tomésica”. Da unidade profunda do homem fluem, portanto, suas faculdades de agir e fazer (potentiae activae) ‘que, para Sto. Tomés, so distintas da alma, estando esta, como prin- ‘ofpio primeiro da unidade e da perfeico do homem, sempre em ato*. rationale como diferenga especifica do homem designa primeira- mente a razo discursiva (ratio), forma do conhecimento intelectual inforior a inteligéncia propriamente dita (intellectus) que 6 propria dos espiritos puros, mas da qual também o homem participa O lugar do homem na hierarquia dos seres aparece a Sto. Tomas essencialmente determinado por sua natureza racional. E em fungaio desse problema que a definigao do homem como animal rationale, além de seu interesse teérico, adquire igualmente um significado prético fundamental”. Com efeito, é a partir da racionalidade como diferenca especifica que o homem, encontrando seu lugar na nature- za, pode empreender a busca do seu fim. A eudaimonta do homem A. Forest, La siructure métaphysique du concret selon S. Thomas d’Aquin, 2° od Paris, Vin, 1950, pp. 265-268, 49, Ver S.7h, 1a, . 58, a8 c. @ ad 3m. 30. Vor N. Hinske, loc. cit, pp. 12188 [A concep cristo. medieval do homens dove ser proporcionada a sua razao: essa conclusio perfeitamente aristotélica entra em tenséo, no contexio em que Sto. Toms a de- monstra®, com a revelagdo crist& do fim sobrenatural do homom, abrindo-se aqui um dos capftulos mais importantes e mais discutidos da antropologia tomasica®. No que diz respeito a sua situagio no universo, 0 predicado da racionalidade confere ao homem a caracte- ristica singular de se encontrar na fronteira do espiritual e do corpo- ral, do tempo © da cternidado*. O homem é horizon et confinium’, ¢ ssa sua posigaio mediadora permite definir sua relagio com a ordem. do cosmos, com o tempo e com a histéria®. O tema biblico do homem imagem de Deus é tratado por Sto. ‘Tomas em contexto teoldgico. Ele supde, no entanto, uma filosofia do homem em sua relagdo com Deus que tem como tema fundamen- tal a idéia da perfeicdo relativa do homem participante da perfeigao absoluta de Deus, da qual decorre a capacidade de conhecer a ver- dade e de agir moralmente segundo o bem. E essa a versio tomésica da aufdrqueia ou independéncia do homem na ordem natural segun- do a tradic&o cléssica, mas que admit essencial capacidade (potentia oboedient gratuita de Deus que funda a ordem sobrenatural da participagao que est, pois, nos fundamentos biblico da imagem tal como Sto. Tomés o pensa e integra em sua antropologia. Ela culmina na afirmacéo da intrinseca inteligibilidade St, Ver sobretudo a $.CG, Il, cap. XXV a cap. LXIIl © $.Th, 19 220, @2, 01 08 52. A propésito, ver H.C. Lima Vaz, Tomés de Aquino ¢ o nossa tempo, 0 problema. do fim do homem, ap. Bscritos de FlosofaI op. ci. pp. 34-70. fa propria razdo que ‘dove demonstrar a inadequagio do “fim natural’ & perfeita boatitudo do homem. ‘59, Essa idéia remonta ao Estoicismo médio (Possidénio de Apaméial e foi trans- mitida a Sto. Tomés por meio da Blomentatio theologiea de Procio (stoichtsis theo “Saint Thomas, lecteur du Liber de Causis", ap, Rewue Thomiste, 221982) ‘4, Ver In ib. de Causis, prop. 2: in Il Sent, Prol; S.C-G. Ii cap. 68 IN, cap. 55: De Anima, qu. un. al f 58, Vor P. Engelhard, art. cit, pp. 352-354; sobre a metafisica da orem em Sto Tomé ver A. Silva-Tarouca, San Tommaso og@t:tentativa di construire una metori- sicaesistenziate del'ordine secondo San Tommaso d Aqua (et), Turim, Marieti 1954, Ver af pp. 59-78: 0 fu da construgao da ordem, 56. Ver SCG. ver, igualmente, . Masterson, The coexistence lof Man and God Saint Thomas Aquinas, ap. images of Man in ‘ancient medieval Thought, op. cit, pp. 235351 Artiopooga Floste do existir da criatura (esse participatum) em sua dependénci * lagao de criaturalidade) do existir absoluto (esse subsistens) de D O tema da imagem pode ser assim considerado 0 centro irradiador da antropologia tomasica, pois é em tomo dele que se articulam os trés planos da natureza, da graca e da gldria, que sio 0s trés estados da existéncia humana considerada filosoficamente em sua esséncia e teologicamente em sua historia® ous”, ‘Tomés de Aquino realiza assim uma sintese admiravelmente equilibrada ¢ profunda da tradigio cléssica e da tradigao crista no campo da antropotogia, Nos séculos que se seguiram até o fim da Idade Média, assistimos a0 aparecimento de novas tendéncias do losdtico © teoldgico orientadas em sentido oposto & a em antropologia, O voluntarismo inaugurado por Duns Escoto no século XIV, o nominalismo que prevaleceu no século XV operaram no sentido da desagragagdo da sintose medieval entre filosofia ¢ teologia, percorrendo um caminho que iré conduzir 8 f- losofia moderna ¢ a uma nova concepgao do homem. E preciso nfo esquecer, por outro lado, que a0 longo do desen- volvimento da civilizagéo medieval 0 concurso de las causas conduz lentamente & reabilitagio do homo arlifex, rejeitado a um plano secundério pela pr ‘éncia dada & vida contemplativa na tradigao cldssica. Significativas so, a esse respeito, entre outras, as obras dos dois representantes da escola de Sao Vitor (Vitorinos), da abadia de Sao Vitor em Paris. Sio elas 0 Didascalicon de Hugo de 1096-1141) ¢ o Liber exceptionam de Ricardo de So Vitor 73, Structure Méthode, op cit. BP. 1810. ie ‘a porspectiva agotiniana da mente comoimago Tinilats cua ah rates matress a I llac, rol. q X, a. a Ta 13. Excelentes sinteses da conoepdio do homem em Sto, Tomés, encontramolas em J. B. Loz, Martin Heidegger et Saint Thomas d'Aquin {tl Paris, PUF col, Théologiques 18, pp, 0-197 ¢¥ Cali "De Tommie 2 Sygation de Thomme dans é ponsée de Saint Tomas Amin’ Bowe de Philosophie & Théologe, 64

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