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Saúde Ambiental e Enfermagem: Conhecimento de funcionários dos serviços


gerais1

Paula Marciana Pinheiro de Oliveira2


Gisele Mendes da Silva3
Maria Gleiciane Gomes Jorge4
Márcio Flávio Moura de Araújo5
Edmara Chaves Costa6
RESUMO

Saúde e ambiente é temática trabalhada atualmente não somente com profissionais da


área, mas com toda a humanidade, pois o impacto ambiental em consequência à
degradação tem existido e significa ameaça aos sistemas de suporte à vida. Objetivou-se
nesta pesquisa identificar o conhecimento de profissionais dos serviços gerais sobre
saúde ambiental e meio ambiente. Tratou-se de pesquisa exploratória, descritiva com
abordagem quantitativa, realizada com funcionários dos serviços gerais em
Universidade Pública na região Nordeste. Para coleta de dados, utilizou-se instrumento
e foi organizado encontro. Na análise, o programa epiinfo foi usado assim como
literatura pertinente à temática. O projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em
Pesquisa. De acordo com os dados, as idades dos sujeitos variaram de 19 a 49 anos, com
maioria do sexo feminino (58,18%). O maior número cursou ensino médio (50,91%),
são casados/ união estável (52,73%), católicos (80,0%) e com renda familiar entre
R$788,00 e R$2.364,00 (58,18%). Com relação aos questionamentos sobre conceito e
descarte do lixo, além de possíveis doenças causadas pela contaminação da água e solo,
os participantes demonstraram relativo conhecimento, porém percebe-se que educação e
promoção da saúde a esses indivíduos devem ser realizadas. A enfermagem, enquanto
profissão que busca promover saúde e prevenir doenças deve está inserida em diversos
contextos trabalhando e realizando atividades educativas para diferentes públicos com o
intuito de contemplar a saúde ambiental e a conscientização de todos.
Palavras-chave: Saúde Ambiental. Enfermagem. Conhecimento.

INTRODUÇÃO

A relação entre saúde e ambiente tem sido trabalhada como assunto cada vez
mais importante, não somente para profissionais que lidam diretamente com este tema,
mas para toda a humanidade, pois a degradação ambiental tem existido e significa uma
ameaça aos sistemas de suporte à vida. Esta destruição é também consequência de
avanços científicos, econômicos e materiais (FREITAS; PORTO, 2006) e os seres
humanos são os responsáveis diretos pelos danos causados à natureza, por isso é
necessário o pensamento e reflexão sobre o bem-estar ecológico e consequentemente
humano (BESERRA et al., 2010).

1
Trabalho de Extensão realizado na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-
Brasileira (UNILAB).
2, 5
Enfermeiros. Professores Adjuntos do curso de enfermagem da UNILAB.
3,4
Alunas do curso de Enfermagem da UNILAB. Bolsistas Pesquisa e Extensão, Arte e Cultura.
6
Médica Veterinária. Professora Adjunta do curso de Enfermagem da UNILAB.
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Entre os efeitos globais mais discutidos na mídia e acompanhados pelos


ambientalistas em consequência desta falta de harmonia entre o homem e a natureza são
o “aquecimento global” e a “destruição da camada de ozônio”. Estes decorrentes da
emissão contínua de gases poluentes na atmosfera já estão originando sérios danos. O
primeiro é resultado do efeito estufa, pela emissão de gases como o monóxido (CO),
dióxido de carbono (CO2) e outros derivados fósseis (petróleo, carvão e derivados)
originados de veículos, indústrias retendo quantidade maior de calor na superfície e
elevando a temperatura do planeta. O aquecimento global é um dos assuntos mais
divulgados nos diferentes meios de comunicação atualmente e grande parte das
informações que chegam às pessoas por meio da mídia, acaba passando a imagem de
um fenômeno catastrofista e indiscutível. A camada de ozônio, por sua vez, também
está sendo destruída pela influência principal de gases clorofluorcarbonos (CFC).
Assim, compromete-se esta barreira localizada na estratosfera e que impede a passagem
de raios ultravioletas (raios UVA e UVB) e no eficiente processo de fotossíntese das
plantes, que remove CO2 do ar (BARSANO; BARBOSA, 2013).
Na atualidade, o ambiente é visto numa perspectiva mais ampla e inovadora,
como determinante de saúde, na busca pela promoção da saúde. Neste intuito, percebe-
se que diferentes áreas de atuação interdisciplinar devem unir-se para alcançar medidas
de conscientização sobre os problemas ambientais, pois estes estão cada vez mais
presentes e interferem na saúde das pessoas.
A Enfermagem, nesse âmbito, como profissão que aborda em seu cotidiano a
educação e promoção da saúde, deve inserir-se nessa área efetivamente por meio de
ações que capacitem o indivíduo e a comunidade. Deve mostrar ao sujeito a necessidade
de reflexão crítica para uma mudança de comportamento comprometida com a saúde
ambiental. Trata-se, então, do desafio de capacitar pessoas para concretizarem
atividades consideradas ecologicamente corretas, uma vez que o desenvolvimento se
encontra continuadamente estimulado e a degradação ambiental mais presente. O
enfermeiro pode atuar, trabalhando conteúdos acerca da saúde ambiental e,
consequentemente humana. As atividades educativas sobre a saúde ambiental devem
seguir os eixos da Promoção da Saúde descritos na Carta de Otawa, consentindo a
ampliação de habilidades pessoais para reforçar a ação comunitária numa articulação
coletiva e rever a formulação de políticas públicas para criar ambientes saudáveis e
livres de poluição (BESERRA et al., 2010). Ambientes estes tanto residenciais, de
trabalhos, sociais, individuais e coletivos.
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Finalmente, é imprescindível pensar em (re)discutir o conceito de meio


ambiente, e incluir diferentes perspectivas a ele associadas (social, econômica, cultural,
dentre outras), no intuito de buscar um olhar e ação para além do modelo biomédico.
Deve-se pensar nos sujeitos, objeto de trabalho (pessoas, famílias, comunidades) dos
profissionais de saúde, de uma forma mais holística, integral e menos medicalizada e
biologicista, para valorizá-los enquanto seres humanos. É preciso acreditar que,
enquanto trabalhadores da área da saúde, pode-se e deve-se, tomar decisões conscientes
e agir responsavelmente com o meio ambiente, já que todos são atores sociais, que
respondem pelos atos imediatos e futuros. Para isso, é indispensável uma relação de
horizontalidade entre os seres humanos e os demais elementos do ambiente, como já
preconizava Florence Nightingale, há mais de um século (CAMPONOGARA, 2012).
Na presente pesquisa, objetivou-se identificar o conhecimento de profissionais dos
serviços gerais sobre saúde ambiental e meio ambiente. Sabe-se que a partir da situação
diagnóstica de determinada população, existe a possibilidade de intervenção e
consequente importância do meio ambiente, manutenção do ambiente de trabalho,
especificamente, limpo e sua relação com a prevenção de várias doenças.

MÉTODO

Tratou-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, com abordagem quantitativa,


realizada com a comunidade acadêmica (funcionários dos serviços gerais) da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), em
seus três campus.
Para execução das atividades foram reservadas salas de aulas, uma em cada
campus. A coleta de dados foi concretizada em março e abril de 2015 e seguiu três
etapas. Neste estudo, será contemplada a descrição das duas primeiras etapas:
A primeira etapa, após anuência do Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição,
Diretor do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) e Diretor da empresa terceirizada, do
qual presta serviço para a Instituição (recursos humanos), foram reservadas salas,
organizadas atividades e efetivado convite aos sujeitos do estudo (funcionários de
serviços gerais - comunidade acadêmica). No mesmo momento, com o aceite de
participação, efetivou-se a segunda etapa concernente à aplicação do instrumento de
coleta de dados.
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O instrumento que foi utilizado para coleta de dados contempla duas partes, além
da identificação, perfil pessoal e profissional do sujeito participante. A primeira parte do
instrumento aborda questões objetivas de múltipla escolha sobre a temática. A segunda
parte, por sua vez, foi constituída por questões subjetivas relacionadas à opinião dos
sujeitos sobre a realização da atividade e importância do conteúdo para cada
participante.
Como critérios de inclusão utilizados para os sujeitos: ser funcionário público ou
terceirizado dos serviços gerais com idade acima de 18 anos e alfabetizado. Não
houveram critérios de exclusão.
Para análise dos dados foram elaboradas frequências relativas e absolutas
utilizando o programa epiinfo, além da discussão à luz da literatura científica pertinente
à temática.
Para participação do sujeito na pesquisa, o mesmo preencheu e assinou o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) confirmando o conhecimento sobre
vantagens e possíveis riscos da pesquisa. O estudo obedeceu à resolução 466/2012 que
condiz com o respeito, à individualidade, privacidade e direito de desistência da
pesquisa a qualquer momento se assim desejar. O projeto foi submetido à avaliação do
Comitê de Ética em Pesquisa sendo aprovado com número do parecer 962.995.

RESULTADOS

O presente estudo foi concretizado com 55 sujeitos de uma Universidade


Pública no interior do estado do Ceará.
Abaixo estão apresentadas as tabelas com os resultados coletados. A primeira
tabela apresenta a relação do perfil dos sujeitos com as variáveis idade, sexo, nível de
escolaridade, estado civil, religião e renda familiar.
As outras tabelas foram elaboradas a partir de questões do instrumento de
coleta de dados. As mesmas estão relacionadas ao conceito e descarte do lixo,
ecossistema e doenças causadas pela contaminação da água e solo.
A seguir, apresenta-se a primeira tabela com a caracterização dos sujeitos da
pesquisa.
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Tabela 1: Distribuição do número de sujeitos segundo variáveis. Acarape, 2015.

Variáveis n % Intervalo de Confiança


Idade
19 a 30 anos 24 43,64% 30,30% - 57,68%
31 a 39 anos 20 36,36% 23,81% - 50,44%
40 a 49 anos 11 20,00% 10,43% - 32,97%
Sexo
Masculino 23 41,82% 28,65% - 55,89%
Feminino 32 58,18% 44,11% - 71,35%
Nível de Escolaridade
Fundamental Incompleto 14 25,45% 14,67% - 39,00%
Fundamental Completo 7 12,73% 5,27% - 24,48%
Médio Incompleto 4 7,27% 2,02% - 17,59%
Médio Completo 28 50,91% 37,07% - 64,65%
Superior Incompleto 1 1,82% 0,05% - 9,72%
Superior Completo 1 1,82% 0,05% - 9,72%
Estado Civil
Casado/União Estável 29 52,73% 38,80% - 66,35%
Divorciado/Separado 3 5,45% 1,14% - 15,12%
Solteiro 21 38,18% 25,41% - 52,27%
Viúvo 2 3,64% 0,44% - 12,53%
Religião
Católica 44 80,00% 67,03% - 89,57%
Protestante 9 1,82% 7,77% - 28,80%
Ateu 1 16,36% 0,05% - 9,72%
Católico/Umbanda 1 1,82% 0,05% - 9,72%
Renda Familiar
< R$ 787,00 21 38,18% 25,41% - 52,27%
Entre R$ 788,00 e 2.364,00 32 58,18% 44,11% - 71,35%
Entre R$ 2.365,00 e 3.940,00 1 1,82% 0,05% - 9,72%
Acima de R$ 3.941,00 1 1,82% 0,05% - 9,72%

De acordo com os dados, as idades dos sujeitos variaram de 19 a 49 anos, com


maioria do sexo feminino (58,18%). O maior número cursou ensino médio (50,91%),
são casados/ união estável (52,73%), católicos (80,0%) e com renda familiar entre
R$788,00 e R$2.364,00 (58,18%).
Abaixo está a tabela 2 com a distribuição dos sujeitos em relação ao
conhecimento dos mesmos sobre o conceito de lixo.
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Tabela 2: Distribuição do número de sujeitos segundo conhecimento sobre o conceito


de lixo, Acarape, 2015.
Intervalo de
O que você entende por lixo? n %
Confiança
O que não utiliza mais 8 14,55% 6,50% - 26,66%
Restos alimentares 7 12,73% 5,27% - 24,48%
Quaisquer objetos que não tem mais utilidade 6 10,91% 4,11% - 22,25%
O que causa sujeira 8 14,55% 6,50% - 26,66%
Todas alternativas anteriores 21 38,18% 25,41% - 52,27%
Outros 2 3,64% 0,44% - 12,53%
Restos alimentares; Quaisquer objetos que não
2 3,64% 0,44% - 12,53%
tem mais utilidade
Quaisquer objetos que não tem mais utilidade;
1 1,82% 0,05% - 9,72%
O que causa sujeira
Total 55 100,00%

Esta tabela 2 representa uma das questões presentes no instrumento de coleta


de dados. Nesta o indivíduo poderia marcar mais de uma alternativa, pois todas estão
corretas, no entanto, com a resposta todas alternativas anteriores ele englobaria a opção
mais completa. Percebe-se, porém, que menos da metade 21 (38,18%) dos participantes
atentou-se para tal escolha.
É importante destacar também que duas pessoas tinham outra compreensão de
lixo e que acreditavam não está sendo contemplada nas alternativas do instrumento,
marcando o item outros como opção, sendo elas: material reciclável e aquilo que não se
utiliza e polui o ambiente urbano, que não são degradáveis. Descrições estas que
contemplam o conceito de lixo, porém de uma forma também restrita.
A tabela 3, 4 e 5 que seguem abaixo apresenta, por sua vez, o conhecimento
dos participantes da pesquisa em relação ao descarte do lixo, conhecimento sobre
ecossistema e doenças causadas pela contaminação da água e lixo.
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Tabela 3: Distribuição do número de sujeitos segundo conhecimento sobre descarte do


lixo, Acarape, 2015.
Intervalo de
Onde deve ser descartado o lixo? n %
Confiança
Enterra 2 3,64% 0,44% - 12,53%
Usa para outros fins/reutiliza 3 5,45% 1,14% - 15,12%
Joga no lixo/Despreza em sacos próprios 14 25,45% 14,67% - 39,00%
Joga em qualquer lugar 2 3,64% 0,44% - 12,53%
Queima 2 3,64% 0,44% - 12,53%
Separa material orgânico e inorgânico/recicla 11 20,00% 10,43% - 32,97%
Total 55 100%

Nesta tabela 3 apontam-se para as principais formas de descarte de lixo


encontradas, sendo elas: Joga no lixo/Despreza em sacos próprios 14 (25,45%) e logo
em seguida Separa material orgânico e inorgânico/recicla 11 (20,0%). Pode-se atribuir
esse resultado também a crescentes e inúmeras propagandas esclarecendo e
sensibilizando as pessoas a maior consciência ecológica para melhor vivência no
planeta não só para hoje, mas conservação para gerações futuras.
Importante mencionar que boa parte dos participantes 21 (38,18%) marcaram
mais de uma opção. Isto podia ser feito, mas, deveriam marcar as opções corretas: usa
para outros fins/reutiliza; Joga no lixo/Despreza em sacos próprios; Separa material
orgânico e inorgânico/recicla. Isto aconteceu com 17 (30,9%) sujeitos.

Tabela 4: Distribuição do número de sujeitos segundo conhecimento sobre Ecossistema,


Acarape, 2015.

Intervalo de
O que você entende por ecossistema? n %
Confiança
Conjunto formado por todas as comunidades
5 9,09%
vivem e interagem em determinada região. 3,02% - 19,95%
Sistema composto pelos seres vivos e o local
onde eles vivem (onde estão inseridos todos os
componentes não vivos do ecossistema como 61,00% - 85,33%
41 74,55%
os minerais, as pedras, o clima, a própria luz
solar, e etc.) e todas as relações destes com o
meio e entre si.
Não entendo nada. 9 16,36% 7,77% - 28,80%
Total 55 100,00%
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Esta tabela descreve o resultado do questionamento relacionado ao


conhecimento do público-alvo sobre ecossistema. Os mesmos em sua maioria marcaram
a opção correta: Sistema composto pelos seres vivos e o local onde eles vivem (onde
estão inseridos todos os componentes não vivos do ecossistema como os minerais, as
pedras, o clima, a própria luz solar, e etc.) e todas as relações destes com o meio e
entre si. Isto mostra que os participantes tinham conhecimento prévio do que é
ecossistema.
Antes de apresentar a tabela a seguir, que apontam as possíveis doenças
causadas pela contaminação da água e solo, é importante ressaltar que uma das questões
presentes no instrumento foi se o acúmulo de lixo pode ocasionar doenças. Com a
seleção da alternativa sim, foram mostrados indicadores positivos, porque supõem-se
que o público tem ciência que o contato do lixo com água e solo pode estar
contaminando os mesmos e desses esperam-se uma atitude mais comprometida com a
saúde da comunidade e do planeta.

Tabela 5: Distribuição do número de sujeitos segundo conhecimento sobre doenças


causadas pela contaminação da água/solo, Acarape, 2015.
Doenças pela contaminação da água/solo Conhecimento
Sim Não
n % N %
Diarreia 40 72,7 15 27,3
Hepatite A 17 31,0 38 69,0
Dengue 50 90,9 5 9,1
Leptospirose 31 56,4 24 43,6
Esquistossomose 29 52,7 26 47,3
Doenças dos olhos 20 36,4 35 63,6
Doenças da pele 50 90,9 5 9,1

Uma das perguntas realizadas no instrumento foi concernente a possibilidade de


possíveis doenças causadas pela contaminação da água e solo. Como foi possível
identificar ao observar a tabela, as doenças mais selecionadas como possíveis de
contaminação são dengue e doenças de pele (90,0%) seguidas de diarreia (72,7%).
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DISCUSSÃO

Como pode ser observado na tabela um, homens e mulheres estão em número
semelhantes, respectivamente 23 (41,82%) e 32 (58,18%), porém com ainda
predominância feminina. Este fato deve-se possivelmente a relação das funções do
profissional dos serviços gerais, que assemelha-se aos ofícios realizados na maioria dos
casos pela mulher em seu lar.
Na tabela 2 percebeu-se que a resposta “todas as alternativas anteriores” foi
selecionada por 21 participantes (38,18%). Esta é a resposta mais correta, pois
contempla todos os itens corretos. Porém, no geral, ficou claro que a maioria dos
participantes tem compreensão limitada do que venha a ser lixo, por marcar somente
uma opção.
Conhecer o destino final do lixo é fundamental, pois este é um dos agravantes
da degradação do meio ambiente. Atualmente, tem sido mais discutido a respeito da
coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos como possível solução para reduzir o
volume de lixo a ser disposto em aterros ou lixões. A reciclagem é uma das maneiras
que permite a diminuição do volume de lixo produzido e o reaproveitamento de
diversos materiais, auxiliando a preservar elementos da natureza neste processo de
reaproveitamento da transformação de materiais. A conscientização da sociedade em
geral é fator relevante para que as políticas ambientais tenham sucesso e sejam efetivas
(PERSICH; DJALMA, 2011).
Nesta pesquisa, dentre àqueles indivíduos que marcaram ou somente esta
opção separa material orgânico e inorgânico/recicla ou juntamente com outros itens,
totalizaram 28 (51,0%) sujeitos, ou seja, quase metade dos participantes tem esta
consciência. Número ainda pequeno considerado ao total de funcionários que trabalham
com limpeza e ambiente.
Na verdade, é importante se trabalhar a consciência ecológica. Termo este
utilizado em literaturas especializadas e que tem sua origem historicamente no período
pós-guerra quando setores da sociedade ocidental industrializada passam a propagar
reações às destruições produzidas pelo desenvolvimento tecnocientífico e urbano
industrial sobre o meio ambiente natural e estabelecido. Esta expressão significa o
despertar de um entendimento e sensibilização da degradação do meio ambiente e das
consequências dessas atitudes à qualidade da vida humana e para o futuro da espécie
como um todo. Apregoa a dimensão da presente crise ecológica (SILVA et al., 2015).
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Atualmente, vive-se em ambiente onde a natureza é profundamente agredida.


Toneladas de matérias-primas, originadas de vários lugares no planeta são
industrializadas e consumidas gerando rejeitos e resíduos, denominados lixo. Este
definido como todo e qualquer material descartado, consequência das atividades
humanas (pequena parte do que é produzido diariamente), composta pelos resíduos de
outros setores, podem ser classificados em vários tipos a depender da origem de cada
um: espaços públicos como ruas e praças, com folhas, terras, entulhos; estabelecimentos
comerciais com restos de comida, embalagens, vidros, latas, papéis, plásticos; casas
com papéis, embalagens plásticas, vidros, latas, restos de alimentos (orgânicos);
rejeitos; fábricas com rejeitos sólidos e líquidos. A composição desses produtos é
variada, que depende dos materiais e processos usados. Também tem os lixos
hospitalares, das farmácias e casas de saúde, um tipo especial de lixo, contendo agulhas,
seringas, curativos, que produz inúmeras doenças (ANDRADE, 2013).
Impactos no ambiente não eram tão relevantes na pré- história, pensando nas
características dos resíduos basicamente orgânicos, que se decompunham mais
rapidamente. Também a produção per capita infinitamente menor. O avanço tecnológico
atual, por sua vez, trouxe benefícios e melhorias para a qualidade de vida da população,
porém causou degradação progressiva no meio ambiente e aumentou sobremaneira a
produção de materiais residuais com atributos mais agressivos e tempo de
decomposição maiores (MARCONDES, 2014).
Na atualidade, o ideal é trabalhar com a sociedade de forma constante a
possibilidade de “repensar” como reflete o Ministério do Meio Ambiente – MMA
(BRASIL, 2012). Este termo exibe elementos substanciais para a gestão dos resíduos
sólidos. Em primeiro lugar, pensa-se a não geração, que indiretamente engloba a atitude
de repensar. Assim, seguem-se reduzir; reutilizar; reciclar; tratar; e dispor
“adequadamente” os resíduos. Reduzir o consumismo e a consequente produção de
resíduos após repensar é primordial. Quando não se consegue reduzir, tentar reutilizar
alguns produtos para evitar a produção de mais lixo. Reciclar é fundamental. Neste, a
pessoa tenta utilizar os resíduos para outros fins (OLIVEIRA et al., 2015).
Na Tabela 3, observa-se que dentre as diversas formas de descarte do lixo, na
qual se considerou umas mais e outras menos adequadas, seis pessoas indicaram enterra
como opção e ainda nove selecionaram queimada, embora boa parte tenha marcado as
opções corretas, por serem pessoas que moram em serra e interior, alguns falaram
dessas formas de descarte do lixo como únicas ou por falta de informação mesmo.
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As consequências da queimada podem ser prejudiciais à sociedade e aos


ecossistemas. Para a sociedade devem ser observados os efeitos sobre a saúde humana e
os de ordem econômicas e sociais. No sistema de saúde, elevado número de internações
hospitalares por doenças do aparelho respiratório podem acontecer. Queimadas e
incêndios florestais afetam a reciclagem de nutrientes, causa morte de plantas e animais,
diminuindo a variedade das espécies e biodiversidade, eliminando predadores naturais
de pragas, destroem nascentes, contribui negativamente para o aquecimento global,
favorecendo o efeito estufa. A fumaça diminui a incidência solar e isto prejudica a
fotossíntese, tem como consequências perdas de nichos ecológicos, que impacta
negativamente a capacidade do meio ambiente em resistir às mudanças (SILVA;
SOUZA, 2013).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2010),
cerca de 58% dos domicílios rurais queimam lixos devido a carência de serviços de
coleta. Isto pode ser um risco à saúde da população no entorno pela liberação de
dioxinas, substância química com potencial cancerígeno, resultante da queima de
materiais plásticos.
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) do Brasil, são
fundamentais a universalidade e eficiência do serviço de coleta seletiva formal. Porém,
observa-se que desde a aprovação desta política houve poucos avanços na
universalização do serviço, por meio do acréscimo de sua abrangência na maioria dos
municípios. Grande parte desses ainda tem projetos piloto de baixa abrangência, pois
encontram dificuldades de ordem técnica e econômica e pouca prioridade na agenda
pública para a coleta seletiva (BESEN et al., 2014).
Neste sentido, com resultados positivos neste estudo para esta pergunta do
descarte do lixo, mas ainda existindo pessoas que queimam e enterram resíduos, sabe-se
que a educação é fundamental e um direito universal. Trabalhar com o conhecimento
voltado à realidade não se desvinculando da identidade e cidadania apresentada é o
primeiro passo para transformar a história de cada um e da sociedade em geral
(OLIVEIRA, 2014). Disponibilizar formas corretas de descarte do lixo explanando a
este público a forma correta para tal instigará reflexões capazes de modificar fatos para
melhor. Este aspecto deu continuidade à realização desse estudo.
Na Tabela 4, foi apresentado o conceito de ecossistema no intuito de que os
sujeitos também pudessem associar esta definição e a sua relação com os seres vivos e o
habitar; e todas as relações destes com o meio e entre si.
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Na Tabela 5, por sua vez, foi perceptível que as únicas doenças que foram
selecionadas por menos da metade dos sujeitos foram hepatite A (31,0%) e Doenças de
olhos (36,4%). Isso pode está associado à divulgação escassa da relação entre o
aparecimento dessas doenças com o acúmulo de lixo na água e solo.
Os riscos ambientais têm interconexão com os problemas de saúde tais como
desnutrição e doenças associadas; doenças mentais, respiratórias, cardiovasculares,
dermatológicas, infecciosas, cancerígenas e o mesmo contribuem para o ressurgimento
de determinadas doenças, causados por alimentos contaminados com agrotóxicos,
poluição hídrica, mudanças climáticas, poluição do ar e destruição de ecossistemas.
(CAMPONOGARA, 2011).
Diversas doenças infecciosas e parasitárias tem no meio ambiente uma fase de
seu ciclo de transmissão. O controle dessas doenças é fundamental, além da intervenção
em saneamento e cuidados médicos. Completa-se esta ação quando é promovida a
educação sanitária, educação e promoção da saúde, mostrando a necessidade de adoção
de hábitos higiênicos como utilização e manutenção adequadas das instalações
sanitárias; e melhoria da higiene pessoal, doméstica e dos alimentos (RADICCHI;
LEMOS, 2009).
As principais doenças relacionadas com a água e pela falta de saneamento são
doenças como diarreias e disenterias, cólera, giardíase, febre tifoide e paratifoide,
leptospirose, amebíase, hepatite infecciosa, ascaridíase (lombriga), infecções na pele e
nos olhos como o tracoma, e tifo, piolhos, escabiose, esquistossomose, malária, febre
amarela, dengue, filariose (elefantíase), ascaridíase, tricuríase, ancilostomíase, teníase e
cisticercose. Todas essas pertencentes a grupos de doenças com formas de transmissão e
prevenção específicas. Além dessas doenças de origem biológica, a água pode, ainda,
ser veículo de numerosas substâncias químicas capazes de provocar problemas graves à
saúde do indivíduo que as consumir durante um período ou em quantidades elevadas
(RADICCHI; LEMOS, 2009).
Especificamente às hepatites virais, essas são doenças infecciosas originadas
por diferentes agentes etiológicos com características epidemiológicas, clínicas e
laboratoriais distintas. A hepatite viral é uma doença universal com variações a
depender dos agentes determinantes. Os principais vírus são A, B, C, D e E, tendo o
homem como único reservatório importante. Os vírus VHA e VHE tem transmissão
fecal-oral, e os demais, VHB, VHC, VHD são transmitidos mais frequentemente por via
sexual, parenteral percutânea e vertical (CRUZ et al., 2009). Sendo assim, para a doença
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ora questionada neste estudo, percebe-se que o acúmulo de lixo e a contaminação de


água e solo pode causar a infecção da Hepatite A.

CONCLUSÕES

Com a realização desse estudo, foi perceptível que existe algum conhecimento
desses funcionários dos serviços gerais, mas também a intervenção e educação em
saúde devem ser trabalhadas com os mesmos na perspectiva de modificar quaisquer
pensamentos e percepções errôneas.
Quando se retrata o conteúdo de saúde ambiental é muito importante
questionar e relatar sobre o conceito e descarte do lixo, contaminação de água e solo,
além de descrever sobre as principais doenças que podem ser adquiridas em
decorrências desta contaminação. Isto, de fato, foi trabalhado e nesses questionamentos,
nas suas individualidades, houveram respostas relativamente boas com aspectos a
melhorar.
Sobre o conceito de lixo, ainda há uma visão limitada sobre tal, com relação ao
descarte do lixo, 42 (76,35%) sujeitos conseguiram responder de forma correta. E no
que concerne às doenças, somente duas dessas foram selecionadas por menos da metade
dos participantes, a hepatite A (31,0%) e Doenças de olhos (36,4%).
Este projeto é de grande relevância, pois oferece colaboração significativa para
os estudos relacionados à saúde ambiental e enfermagem, uma vez que foi realizado
também revisão narrativa e poucas publicações foram encontradas a cerca desta
temática e com o público de serviços gerais.
A enfermagem, enquanto profissão que busca promover saúde e prevenir
doenças deve está inserida em diversos contextos trabalhando e realizando educação em
saúde para diferentes públicos com o intuito de contemplar a saúde ambiental e a
conscientização de todos. Estudo em continuidade a este foi realizado na perspectiva de
disponibilizar oficinas educativas a este público e melhorar o conhecimento prévio dos
mesmos.
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