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APOSTILA AGENTE ADMINISTRATIVO

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

SUMÁRIO
1) Administração Pública:................................................................................................................................................2
2) Princípios e Poderes da Administração Pública......................................................................................................3
2.1PODERES DA ADMINISTRAÇÃO...............................................................................................................................5
NORMATIVO............................................................................................................................................................6

3) Atos Administrativos.............................................................................................................................................7
4) Processo e procedimento administrativo.............................................................................................................18
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS..............................................................................................................................19
CONTRATO DE FORNECIMENTO................................................................................................................................25
PROGRAMA DE PARCERIAS DE INVESTIMENTOS – PPI..............................................................................................25
CONTRATO DE GESTÃO..............................................................................................................................................25
CONVÊNIO.................................................................................................................................................................25
da Administração Pública), polícia, fomento,
intervenção, com a peculiaridade de que todas
1) Administração Pública: essas atribuições se concentram em um mesmo
ente (as agências reguladoras, ainda que nem
A EXPRESSÃO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA todas tenham essa denominação).

Basicamente, são dois os sentidos em que se São as seguintes as características da


utiliza mais comumente a expressão Administração Pública, em sentido objetivo:
Administração Pública: 1. é uma atividade concreta, no sentido de que
põe em execução a vontade do Estado contida na
a) em sentido subjetivo, formal ou orgânico, ela lei;
designa os entes que exercem a atividade 2. a sua finalidade é a satisfação direta e
administrativa; compreende pessoas jurídicas, imediata dos fins do Estado;
órgãos e agentes públicos incumbidos de exercer 3. o seu regime jurídico é predominantemente de
uma das funções em que se triparte a atividade direito público, embora possa também submeter-
estatal: a função administrativa; se a regime de direito privado, parcialmente
derrogado por normas de direito público.
b) em sentido objetivo, material ou funcional, ela Assim, em sentido material ou objetivo, a
designa a natureza da atividade exercida pelos Administração Pública pode ser definida como a
referidos entes; nesse sentido, a Administração atividade concreta e imediata que o Estado
Pública é a própria função administrativa que desenvolve, sob regime jurídico total ou
incumbe, predominantemente, ao Poder parcialmente público, para a consecução dos
Executivo. interesses coletivos.

Serviço público é toda atividade que a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO


Administração Pública executa, direta ou SUBJETIVO
indiretamente, para satisfazer à necessidade Considerando agora os sujeitos que exercem a
coletiva, sob regime jurídico predominantemente atividade administrativa, a Administração Pública
público. Abrange atividades que, por sua abrange todos os entes aos quais a lei atribui o
essencialidade ou relevância para a coletividade, exercício dessa função.
foram assumidas pelo Estado, com ou sem Assim, compõem a Administração Pública,
exclusividade. em sentido subjetivo, todos os órgãos integrantes
das pessoas jurídicas políticas (União, Estados,
A intervenção compreende a Municípios e Distrito Federal), aos quais a lei
regulamentação e fiscalização da atividade confere o exercício de funções administrativas.
econômica de natureza privada (intervenção São os órgãos da Administração Direta do Estado.
indireta), bem como a atuação direta do Estado Porém, não é só. Às vezes, a lei opta pela
no domínio econômico (intervenção direta), o execução indireta da atividade administrativa,
que se dá normalmente por meio das empresas transferindo-a a pessoas jurídicas com
estatais. personalidade de direito público ou privado, que
As demais atividades ou são, originariamente, compõem a chamada Administração Indireta do
próprias do Estado ou foram sendo por ele Estado.
assumidas como suas, para atender às Desse modo, pode-se definir
necessidades coletivas; ele as exerce diretamente Administração Pública, em sentido subjetivo,
ou transfere a terceiros o seu exercício, como o conjunto de órgãos e de pessoas
outorgando-lhes determinadas prerrogativas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da
públicas necessárias a esse fim. função administrativa do Estado.
Quanto à regulação, trata-se de atividade Hoje também compõem a Administração
que envolve poder normativo por parte da Indireta os consórcios públicos disciplinados pela
Administração Pública (portanto, função atípica Lei no 11.107.
momento da sua execução em concreto pela
REGIMES PÚBLICO E PRIVADO NA Administração Pública. Ele inspira o legislador e
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA vincula a autoridade administrativa em toda a sua
A Administração Pública pode submeter-se atuação. os interesses públicos têm supremacia
a regime jurídico de direito privado ou a regime sobre os individuais.
jurídico de direito público.
A opção por um regime ou outro é feita, IMPESSOALIDADE
em regra, pela Constituição ou pela lei. Como Significa que a Administração não pode
regra, aplica-se o direito privado, no silêncio da norma atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar
de direito público. pessoas determinadas, uma vez que é sempre o
interesse público que tem que nortear o seu
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO comportamento.
Abrange o conjunto de traços, de
conotações, que tipificam o Direito PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE OU DE
Administrativo, colocando a Administração VERACIDADE
Pública numa posição privilegiada, vertical, na Esse princípio, que alguns chamam de
relação jurídico-administrativa. princípio da presunção de legalidade, abrange
Basicamente, pode-se dizer que o regime dois aspectos: de um lado, a presunção de
administrativo se resume a duas palavras apenas: verdade, que diz respeito à certeza dos fatos; de
prerrogativas e sujeições. Daí a bipolaridade do outro lado, a presunção da legalidade, pois, se a
Direito Administrativo: liberdade do indivíduo e Administração Pública se submete à lei, presume-
autoridade da Administração; restrições e se, até prova em contrário, que todos os seus atos
prerrogativas. Ao mesmo tempo em que as sejam verdadeiros e praticados com observância
prerrogativas colocam a Administração em das normas legais pertinentes.
posição de supremacia perante o particular, Trata-se de presunção relativa (juris
sempre com o objetivo de atingir o benefício da tantum) que, como tal, admite prova em
coletividade, as restrições a que está sujeita contrário. O efeito de tal presunção é o de
limitam a sua atividade a determinados fins e inverter o ônus da prova.
princípios que, se não observados, implicam Como consequência dessa presunção, as
desvio de poder e consequente nulidade dos atos decisões administrativas são de execução
da Administração. imediata e têm a possibilidade de criar obrigações
O conjunto das prerrogativas e restrições a para o particular, independentemente de sua
que está sujeita a Administração e que não se concordância e, em determinadas hipóteses,
encontram nas relações entre particulares podem ser executadas pela própria
constitui o regime jurídico administrativo. Administração, mediante meios diretos ou
indiretos de coação.

2) Princípios e Poderes da ESPECIALIDADE


Administração Pública. Dos princípios da legalidade e da
indisponibilidade do interesse público decorre,
dentre outros, o da especialidade, concernente à
LEGALIDADE ideia de descentralização administrativa.
Segundo o princípio da legalidade, a Quando o Estado cria pessoas jurídicas
Administração Pública só pode fazer o que a lei públicas administrativas – as autarquias – como
permite. No âmbito das relações entre forma de descentralizar a prestação de serviços
particulares, o princípio aplicável é o da públicos, com vistas à especialização de função, a
autonomia da vontade, que lhes permite fazer lei que cria a entidade estabelece com precisão as
tudo o que a lei não proíbe. finalidades que lhe incumbe atender, de tal modo
que não cabe aos seus administradores afastar-se
SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO dos objetivos definidos na lei; isto precisamente
Esse princípio está presente tanto no pelo fato de não terem a livre disponibilidade dos
momento da elaboração da lei como no interesses públicos.
Embora esse princípio seja normalmente e outros, cada qual com atribuições definidas na
referido às autarquias, não há razão para negar a lei. Desse princípio, que só existe relativamente às
sua aplicação quanto às demais pessoas jurídicas, funções administrativas, não em relação às
instituídas por lei, para integrarem a legislativas e judiciais, decorre uma série de
Administração Pública Indireta. prerrogativas para a Administração: a de rever os
atos dos subordinados, a de delegar e avocar
CONTROLE OU TUTELA atribuições, a de punir; para o subordinado surge
Para assegurar que as entidades da o dever de obediência.
Administração Indireta observem o princípio da
especialidade, elaborou-se outro princípio: o do CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO
controle ou tutela, em consonância com o qual a
Administração Pública direta fiscaliza as Por esse princípio entende-se que o
atividades dos referidos entes, com o objetivo de serviço público, sendo a forma pela qual o Estado
garantir a observância de suas finalidades desempenha funções essenciais ou necessárias à
institucionais. coletividade, não pode parar.
Colocam-se em confronto, de um lado, a Dele decorrem consequências importantes:
independência da entidade que goza de parcela 1. a proibição de greve nos serviços públicos; essa
de autonomia administrativa e financeira, já que vedação, que antes se entendia absoluta, está
dispõe de fins próprios, definidos em lei, e consideravelmente abrandada pela CF.
patrimônio também próprio destinado a 2. necessidade de institutos como a suplência, a
atingir aqueles fins; e, de outro lado, a delegação e a substituição para preencher as
necessidade de controle para que a pessoa funções públicas temporariamente vagas;
jurídica política (União, Estado ou Município) que 3. a impossibilidade, para quem contrata com a
instituiu a entidade da Administração Indireta se Administração, de invocar a exceptio non
assegure de que ela está agindo de conformidade adimpleti contractus nos contratos que tenham
com os fins que justificaram a sua criação. por objeto a execução de serviço público;
4. a faculdade que se reconhece à Administração
AUTOTUTELA de utilizar os equipamentos e instalações da
Enquanto pela tutela a Administração empresa que com ela contrata, para assegurar a
exerce controle sobre outra pessoa jurídica por continuidade do serviço;
ela mesma instituída, pela autotutela o controle 5. com o mesmo objetivo, a possibilidade de
se exerce sobre os próprios atos, com a encampação da concessão de serviço público.
possibilidade de anular os ilegais e revogar os
inconvenientes ou inoportunos, PUBLICIDADE
independentemente de recurso ao Poder O princípio da publicidade, que vem agora
Judiciário. É uma decorrência do princípio da inserido no artigo 37 da Constituição, exige a
legalidade; se a Administração Pública está sujeita ampla divulgação dos atos praticados pela
à lei, cabe-lhe, evidentemente, o controle da Administração Pública, ressalvadas as hipóteses
legalidade. de sigilo previstas em lei.
a administração pode anular os seus 1. O inciso LX determina que a lei só poderá
próprios atos, quando eivados de vícios que os restringir a publicidade dos atos processuais
tornem ilegais, porque deles não se originam quando a defesa da intimidade ou o interesse
direitos; ou revogá-los, por motivo de social o exigirem.
conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os MORALIDADE ADMINISTRATIVA
casos, a apreciação judicial”. sempre que em matéria administrativa se
verificar que o comportamento da Administração
HIERARQUIA ou do administrado que com ela se relaciona
Em consonância com o princípio da juridicamente, embora em consonância com a lei,
hierarquia, os órgãos da Administração Pública ofende a moral, os bons costumes, as regras de
são estruturados de tal forma que se cria uma boa administração, os princípios de justiça e de
relação de coordenação e subordinação entre uns equidade, a ideia comum de honestidade, estará
havendo ofensa ao princípio da moralidade Existe grande aproximação entre o
administrativa. princípio da segurança jurídica e o princípio da
proteção à confiança e entre este e o princípio da
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE boa-fé,
Trata-se de princípio aplicado ao Direito SEGURANÇA JURÍDICA
Administrativo como mais uma das tentativas de O princípio se justifica pelo fato de ser
impor-se limitações à discricionariedade comum, na esfera administrativa, haver mudança
administrativa, ampliando-se o âmbito de de interpretação de determinadas normas legais,
apreciação do ato administrativo pelo Poder com a consequente mudança de orientação, em
Judiciário. princípio da razoabilidade, entre outras caráter normativo, afetando situações já
coisas, exige proporcionalidade entre os meios reconhecidas e consolidadas na vigência de
de que se utiliza a Administração e os fins que ela orientação anterior. Essa possibilidade de
tem que alcançar. E essa proporcionalidade deve mudança de orientação é inevitável, porém gera
ser medida não pelos critérios pessoais do insegurança jurídica, pois os interessados nunca
administrador, mas segundo padrões comuns na sabem quando a sua situação será passível de
sociedade em que vive; e não pode ser medida contestação pela própria Administração Pública.
diante dos termos frios da lei, mas diante do caso Daí a regra que veda a aplicação retroativa.
concreto. O princípio tem que ser aplicado com
cautela, para não levar ao absurdo de impedir a
MOTIVAÇÃO Administração de anular atos praticados com
O princípio da motivação exige que a inobservância da lei. A segurança jurídica tem
Administração Pública indique os fundamentos de muita relação com a ideia de respeito à boa-fé.
fato e de direito de suas decisões. sua Isto não significa que a interpretação da lei não
obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de possa mudar; ela frequentemente muda como
ato, porque se trata de formalidade necessária decorrência e imposição da própria evolução do
para permitir o controle de legalidade dos atos direito. O que não é possível é fazê-la retroagir a
administrativos. Frequentemente, a motivação casos já decididos com base em interpretação
consta de pareceres, informações, laudos, anterior, considerada válida diante das
relatórios, feitos por outros órgãos, sendo apenas circunstâncias do momento em que foi adotada.
indicados como fundamento da decisão. Nesse
caso, eles constituem a motivação do ato, dele PROTEÇÃO À CONFIANÇA
sendo parte integrante.
Na realidade, o princípio da proteção à
EFICIÊNCIA confiança leva em conta a boa-fé do cidadão, que
O princípio da eficiência apresenta, na acredita e espera que os atos praticados pelo
realidade, dois aspectos: pode ser considerado Poder Público sejam lícitos e, nessa qualidade,
em relação ao modo de atuação do agente serão mantidos e respeitados pela própria
público, do qual se espera o melhor desempenho Administração e por terceiros.
possível de suas atribuições, para lograr os
melhores resultados; e em relação ao modo de 2.1PODERES DA ADMINISTRAÇÃO
organizar, estruturar, disciplinar a Administração Dentre eles, serão aqui analisados o poder
Pública, também com o mesmo objetivo de normativo, o disciplinar e os decorrentes da
alcançar os melhores resultados na prestação do hierarquia; o poder de polícia constituirá objeto
serviço público. Vale dizer que a eficiência é de capítulo específico.
princípio que se soma aos demais princípios Quanto aos chamados poderes
impostos à Administração, não podendo discricionário e vinculado, não existem como
sobrepor-se a nenhum deles, especialmente ao da poderes autônomos; a discricionariedade e a
legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança vinculação são, quando muito, atributos de
jurídica e ao próprio Estado de Direito. outros poderes ou competências da
Administração.
SEGURANÇA JURÍDICA, PROTEÇÃO À CONFIANÇA O chamado “poder vinculado”, na
E BOA-FÉ realidade, não encerra “prerrogativa” do Poder
Público, mas, ao contrário, dá ideia de restrição, subordinação entre os vários órgãos que
pois, quando se diz que determinada atribuição integram a Administração Pública, ou seja,
da Administração é vinculada, quer-se significar estabelece a hierarquia. Há de se observar que a
que está sujeita à lei em praticamente todos os relação hierárquica é acessória da organização
aspectos. administrativa. Pode haver distribuição de
competências dentro da organização
administrativa, excluindo-se a relação hierárquica
NORMATIVO com relação a determinadas atividades.
Normalmente, fala-se em poder Nos Poderes Judiciário e Legislativo não
regulamentar. Os atos pelos quais a existe hierarquia no sentido de relação de
Administração exerce o seu poder normativo têm coordenação e subordinação, no que diz respeito
em comum com a lei o fato de emanarem às suas funções institucionais.
normas, ou seja, atos com efeitos gerais e
abstratos. Insere-se, portanto, o poder PODER DE POLÍCIA
regulamentar como uma das formas pelas quais O tema relativo ao poder de polícia é um
se expressa a função normativa do Poder daqueles em que se colocam em confronto esses
Executivo. Pode ser definido como o que cabe ao dois aspectos: de um lado, o cidadão quer exercer
Chefe do Poder Executivo da União, dos Estados e plenamente os seus direitos; de outro, a
dos Municípios, de editar normas Administração tem por incumbência condicionar
complementares à lei, para sua fiel execução. o exercício daqueles direitos ao bem-estar
Além do decreto regulamentar, o poder coletivo, e ela o faz usando de seu poder de
normativo da Administração ainda se expressa polícia.
por meio de resoluções, portarias, deliberações, O fundamento do poder de polícia é o
instruções, editadas por autoridades que não o princípio da predominância do interesse público
Chefe do Executivo. Há, ainda, os regimentos, sobre o particular, que dá à Administração
pelos quais os órgãos colegiados estabelecem posição de supremacia sobre os administrados.
normas sobre o seu funcionamento interno. Pelo conceito moderno, adotado no
direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade
DISCIPLINAR do Estado consistente em limitar o exercício dos
Poder disciplinar é o que cabe à direitos individuais em benefício do interesse
Administração Pública para apurar infrações e público.
aplicar penalidades aos servidores públicos e Poder Legislativo, no exercício do poder
demais pessoas sujeitas à disciplina de polícia que incumbe ao Estado, cria, por lei, as
administrativa; é o caso dos estudantes de uma chamadas limitações administrativas ao exercício
escola pública. O poder disciplinar é das liberdades públicas.
discricionário, o que deve ser entendido em seus A Administração Pública, no exercício da
devidos termos. A Administração não tem parcela que lhe é outorgada do mesmo poder,
liberdade de escolha entre punir e não punir, regulamenta as leis e controla a sua aplicação,
pois, tendo conhecimento de falta praticada por preventivamente (por meio de ordens,
servidor, tem necessariamente que instaurar o notificações, licenças ou autorizações) ou
procedimento adequado para sua apuração e, se repressivamente (mediante imposição de
for o caso, aplicar a pena cabível. Não o fazendo, medidas coercitivas).
incide em crime de condescendência criminosa.
POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA
DECORRENTES DA HIERARQUIA O poder de polícia que o Estado exerce
A organização administrativa é baseada pode incidir em duas áreas de atuação estatal: na
em dois pressupostos fundamentais: a administrativa e na judiciária.
distribuição de competências e a hierarquia. O A principal diferença que se costuma
direito positivo define as atribuições dos vários apontar entre as duas está no caráter preventivo
órgãos administrativos, cargos e funções e, para da polícia administrativa e no repressivo da
que haja harmonia e unidade de direção, ainda polícia judiciária. A primeira terá por objetivo
estabelece uma relação de coordenação e
impedir as ações antissociais, e a segunda, punir dirigir veículos automotores, para exercer
os infratores da lei penal. determinadas profissões, para construir. No
segundo caso, o ato é discricionário, porque a lei
MEIOS DE ATUAÇÃO consente que a Administração aprecie a situação
Considerando o poder de polícia em concreta e decida se deve ou não conceder a
sentido amplo, de modo que abranja as autorização, diante do interesse público em jogo;
atividades do Legislativo e do Executivo, os meios é o que ocorre com a autorização para porte de
de que se utiliza o Estado para o seu exercício arma.
são: Diante disso, pode-se dizer que o poder de
1. atos normativos em geral, a saber: pela polícia tanto pode ser discricionário (e assim é na
lei, criam-se as limitações administrativas ao maior parte dos casos), como vinculado.
exercício dos direitos e das atividades individuais, A autoexecutoriedade (que os franceses
estabelecendo-se normas gerais e abstratas chamam de executoriedade apenas) é a
dirigidas indistintamente às pessoas que estejam possibilidade que tem a Administração de, com os
em idêntica próprios meios, pôr em execução as suas
situação; disciplinando a aplicação da lei decisões, sem precisar recorrer previamente ao
aos casos concretos, pode o Executivo baixar Poder Judiciário.
decretos, resoluções, portarias, instruções; A coercibilidade é indissociável da
2. atos administrativos e operações autoexecutoriedade. O ato de polícia só é
materiais de aplicação da lei ao caso concreto, autoexecutório porque dotado de força
compreendendo medidas preventivas coercitiva.
(fiscalização, vistoria, ordem, notificação,
autorização, licença), com o objetivo de adequar LIMITES
o comportamento individual à lei, e medidas Como todo ato administrativo, a medida
repressivas(dissolução de reunião, interdição de de polícia, ainda que seja discricionária, sempre
atividade, apreensão de mercadorias esbarra em algumas limitações impostas pela lei,
deterioradas, internação de pessoa com doença quanto à competência e à forma, aos fins e
contagiosa), com a finalidade de coagir o infrator mesmo com relação aos motivos ou ao objeto;
a cumprir a lei. quanto aos dois últimos, ainda que a
CARACTERÍSTICAS Administração disponha de certa dose de
Costuma-se apontar como atributos do discricionariedade, esta deve ser exercida nos
poder de polícia a discricionariedade, a limites traçados pela lei.
autoexecutoriedade e a coercibilidade. Administração direta
Em grande parte dos casos concretos, a
Administração terá que decidir qual o melhor Se constitui dos serviços integrados na
momento de agir, qual o meio de ação mais estrutura administrativa da Presidência da
adequado, qual a sanção cabível diante das República e dos Ministérios; A Administração
previstas na norma legal. Em tais circunstâncias, o Direta corresponde à prestação dos serviços
poder de polícia será discricionário. públicos diretamente pelo próprio Estado e seus
Em outras hipóteses, a lei já estabelece órgãos. Assim, quando a União, os Estados-
que, diante de determinados requisitos, a membros, Distrito Federal e Municípios, prestam
Administração terá que adotar solução serviços públicos por seus próprios meios, diz
previamente estabelecida, sem qualquer que há atuação da Administração Direita.
possibilidade de opção. Nesse caso, o poder será
vinculado. O exemplo mais comum do ato de Administração indireta
polícia vinculado é o da licença. Para o exercício
de atividades ou para a prática de atos sujeitos ao Compreende as seguintes categorias de
poder de polícia do Estado, a lei exige alvará de entidades, dotadas de personalidade jurídica
licença ou de autorização. No primeiro caso, o ato própria.
é vinculado, porque a lei prevê os requisitos Conjunto de pessoas jurídicas, de direito
diante dos quais a Administração é obrigada a público ou privado, criadas por lei, para
conceder o alvará; é o que ocorre na licença para desempenhar atividades assumidas pelo Estado,
seja como serviço público, seja a título de Brasil, também dos Municípios. Cada um desses
intervenção no domínio econômico. entes locais detém competência legislativa
própria que não decorre da União nem a ela se
Compõem a Administração Indireta, no subordina, mas encontra seu fundamento na
direito positivo brasileiro, as autarquias, as própria Constituição Federal. As atividades
fundações instituídas pelo Poder Público, as jurídicas que exercem não constituem delegação
sociedades de economia mista, as empresas ou concessão do governo central, pois delas são
públicas, as subsidiárias dessas empresas e os titulares de maneira originária.
consórcios públicos. A autarquia é pessoa A descentralização administrativa ocorre
jurídica de direito público; a fundação e o quando as atribuições que os entes
consórcio público podem ser de direito público descentralizados exercem só têm o valor jurídico
ou privado, dependendo do regime que lhes for que lhes empresta o ente central; suas atribuições
atribuído pela lei instituidora; as demais são não decorrem, com força própria, da
pessoas jurídicas de direito privado. Constituição, mas do poder central. É o tipo de
descentralização própria dos Estados unitários,
Centralização, descentralização e em que há um centro único de poder, do qual se
desconcentração destacam, com relação de subordinação, os
poderes das pessoas jurídicas locais.
Centralização é quando o estado exerce Normalmente, combinam-se as duas
suas tarefas diretamente, por meio dos órgãos e modalidades de descentralização.
agentes integrantes da denominada
administração direta. Nesse caso os serviços são Modalidades De Descentralização
prestados diretamente pelos órgãos do Estado Administrativa
integrantes de uma mesma pessoa política
(União, Distrito Federal, Estados e Municípios). 1. descentralização territorial ou
geográfica; é a que se verifica quando uma
Descentralização é a distribuição de entidade local, geograficamente delimitada, é
competências de uma para outra pessoa, física dotada de personalidade jurídica própria, de
ou jurídica. direito público, com capacidade administrativa
Difere da desconcentração pelo fato de genérica. Ocorria no Brasil na época do império.
ser esta uma distribuição interna de
competências, ou seja, uma distribuição de 2. descentralização por serviços, funcional
competências dentro da mesma pessoa jurídica. ou técnica; é a que se verifica quando o Poder
Sabe-se que a Administração Pública é Público (União, Estados ou Municípios) cria uma
organizada hierarquicamente, como se fosse uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a
pirâmide em cujo ápice se situa o Chefe do Poder ela atribui a titularidade e a execução de
Executivo. As atribuições administrativas são determinado serviço público. No Brasil, essa
outorgadas aos vários órgãos que compõem a criação somente pode dar-se por meio de lei e
hierarquia, criando-se uma relação de corresponde, basicamente, à figura da autarquia,
coordenação e subordinação entre uns e outros. mas abrange também fundações governamentais,
Isso é feito para descongestionar, desconcentrar, sociedades de economia mista e empresas
tirar do centro um volume grande de atribuições, públicas, que exerçam serviços públicos.
para permitir seu mais adequado e racional
desempenho. A desconcentração liga-se à No caso da descentralização por serviço, o
hierarquia. ente descentralizado passa a deter a titularidade
e a execução do serviço; em consequência, ele
Descentralização Política E Administrativa desempenha o serviço com independência em
relação à pessoa que lhe deu vida, podendo opor-
A descentralização política ocorre quando se a interferências indevidas; estas somente são
o ente descentralizado exerce atribuições admissíveis nos limites expressamente
próprias que não decorrem do ente central; é a estabelecidos em lei e têm por objetivo garantir
situação dos Estados-membros da federação e, no
que a entidade não se desvie dos fins para os serviços públicos. se tiver personalidade de
quais foi instituída. direito público, é denominado de associação
pública, inserindo-se na categoria de autarquia;
3. descentralização por colaboração; é a se tiver personalidade de direito privado, rege-se
que se verifica quando, por meio de contrato ou pela legislação civil, em tudo o que não for
ato administrativo unilateral, se transfere a derrogado pelo direito público.
execução de determinado serviço público a
pessoa jurídica de direito privado, previamente 4. a sociedade de economia mista é
existente, conservando o Poder Público a pessoa jurídica de direito privado, em que há
titularidade do serviço. conjugação de capital público e privado,
participação do Poder Público na gestão e
É feita por contrato ou ato unilateral, pelo organização sob forma de sociedade anônima,
qual se atribui a uma pessoa de direito privado a com as derrogações estabelecidas pelo direito
execução de serviço público, conservando o público e pela própria lei das S.A. executa
Poder Público a sua titularidade. Isto lhe permite atividades econômicas, algumas delas próprias da
dispor do serviço de acordo com o interesse iniciativa privada e outras assumidas pelo Estado
público, envolvendo a possibilidade de alterar como serviços públicos.
unilateralmente as condições de sua execução e
de retomá-la antes do prazo estabelecido; o 5. a empresa pública é pessoa jurídica de
controle é muito mais amplo do que aquele que direito privado com capital inteiramente público
se exerce na descentralização por serviço, porque (com possibilidade de participação das entidades
o Poder Público é que detém a titularidade do da Administração Indireta) e organização sob
serviço, o que não ocorre nesta última. qualquer das formas admitidas em direito;

Entidades da Administração Indireta 6. a empresa sob controle acionário do


Estado é pessoa jurídica de direito privado, que
1. a autarquia é pessoa jurídica de direito presta atividade econômica (pública ou privada),
público, aparecendo, perante terceiros, como a mas a que falta um dos requisitos essenciais para
própria Administração Pública; difere da União, que seja considerada empresa pública ou
Estados e Municípios – pessoas públicas políticas sociedade de economia mista; em geral, presta
– por não ter capacidade política, ou seja, o poder serviços públicos comerciais e industriais do
de criar o próprio direito; é pessoa pública Estado, atuando, em muitos casos, como empresa
administrativa, porque tem apenas o poder de concessionária de serviços públicos.
autoadministração, nos limites estabelecidos em
lei; 7. a empresa subsidiária da sociedade de
economia mista ou da empresa pública é aquela
2. a fundação instituída pelo Poder em que o controle acionário é exercido por uma
Público caracteriza-se por ser um patrimônio, dessas modalidades de empresas estatais, ficando
total ou parcialmente público, a que a lei atribui a União, o Estado, o Distrito Federal ou o
personalidade jurídica de direito público ou Município com o controle indireto. é a “empresa
privado, para consecução de fins públicos; estatal cuja maioria das ações com direito a voto
quando tem personalidade pública, o seu regime pertença direta ou indiretamente a empresa
jurídico é idêntico ao das autarquias, sendo, por pública ou a sociedade de economia mista”;
isso mesmo, chamada de autarquia fundacional, As três últimas categorias podem ser
as fundações de direito privado regem-se pelo abrangidas pela expressão empresa estatal ou
Direito Civil em tudo o que não for derrogado empresa governamental.
pelo direito público.
PRIVILÉGIOS PRÓPRIOS DAS AUTARQUIAS E
3. o consórcio público é pessoa jurídica de FUNDAÇÕES PÚBLICAS
direito público ou privado criada por dois ou mais
entes federativos (União, Estados, Distrito Federal Já se realçou o fato de que, dentre as
ou Municípios) para a gestão associada de entidades da Administração Indireta, as de direito
público – autarquias e fundações públicas – têm 6. os atos normativos da Administração,
praticamente os mesmos privilégios e abrangendo decretos, portarias, resoluções,
prerrogativas próprios do Estado, enquanto as de regimentos, de efeitos gerais e abstratos;
direito privado têm apenas aqueles que forem 7. os atos administrativos propriamente
expressamente previstos em lei que derrogue o ditos.
direito comum; essas normas derrogatórias foram Dependendo do critério mais ou menos
analisadas no item anterior. amplo que se utilize para conceituar o ato
administrativo, nele se incluirão ou não algumas
impenhorabilidade dos seus bens; o juízo dessas categorias de atos da Administração.
privativo; prazos dilatados em juízo; duplo grau O importante é dar um conceito que
de jurisdição; imunidade tributária (estende-se permita individualizar o ato administrativo como
expressamente às autarquias e fundações categoria própria, na qual se incluam todos os
instituídas e mantidas pelo Poder Público). atos da Administração que apresentem as
Além disso, citem-se a presunção de mesmas características, sujeitando-se a idêntico
veracidade, a imperatividade e a executoriedade regime jurídico.
dos seus atos, as prerrogativas com que o Poder Onde existe Administração Pública, existe
Público aparece nos contratos administrativos, a ato administrativo. nos países filiados ao sistema
autotutela sobre seus próprios atos, além de europeu continental, em especial França, Itália e
outros privilégios que podem ser previstos nas Alemanha, que teve origem e se desenvolveu a
leis específicas de cada entidade. concepção de ato administrativo.

CONCEITO
3) Atos Administrativos.
merecem realce os critérios subjetivo e
ATOS DA ADMINISTRAÇÃO objetivo, o primeiro levando em consideração o
Partindo-se da ideia da divisão de funções órgão que pratica o ato e, o segundo, o tipo de
entre os três Poderes do Estado, pode-se dizer, atividade exercida.
em sentido amplo, que todo ato praticado no Pelo critério subjetivo, orgânico ou
exercício da função administrativa é ato da formal, ato administrativo é o que ditam os
Administração. órgãos administrativos; ficam excluídos os atos
Essa expressão – ato da Administração – provenientes dos órgãos legislativo e judicial,
tem sentido mais amplo do que a expressão ato ainda que tenham a mesma natureza daqueles; e
administrativo, que abrange apenas determinada ficam incluídos todos os atos da Administração,
categoria de atos praticados no exercício da pelo só fato de serem emanados de órgãos
função administrativa. administrativos, como os atos normativos do
Dentre os atos da Administração, incluem- Executivo, os atos materiais, os atos enunciativos,
se: os contratos.
1. os atos de direito privado, como Pelo critério objetivo, funcional ou
doação, permuta, compra e venda, locação; material, ato administrativo é somente aquele
2. os atos materiais da Administração, que praticado no exercício concreto da função
não contêm manifestação de vontade, mas que administrativa, seja ele editado pelos órgãos
envolvem apenas execução, como a demolição de administrativos ou pelos órgãos judiciais e
uma casa, a apreensão de mercadoria, a legislativos.
realização de um serviço; Para definir o ato administrativo, é
3. os chamados atos de conhecimento, necessário considerar os seguintes dados:
opinião, juízo ou valor, que também não 1. ele constitui declaração do Estado ou
expressam uma vontade e que, portanto, também de quem lhe faça as vezes; é preferível falar em
não podem produzir efeitos jurídicos; é o caso declaração do que em manifestação, porque
dos atestados, certidões, pareceres, votos; aquela compreende sempre uma exteriorização
4. os atos políticos, que estão sujeitos a do pensamento, enquanto a manifestação pode
regime jurídico-constitucional; não ser exteriorizada; o próprio silêncio pode
5. os contratos; significar manifestação de vontade e produzir
efeito jurídico, sem que corresponda a um ato 4. os atos de opinião, como os pareceres e
administrativo; falando-se em Estado, abrangem- laudos.
se tanto os órgãos do Poder Executivo como os Em todas essas hipóteses, não há
dos demais Poderes, que também podem editar produção de efeitos jurídicos imediatos como
atos administrativos; decorrência dos atos.
2. sujeita-se a regime jurídico
administrativo, pois a Administração aparece ATRIBUTOS
com todas as prerrogativas e restrições próprias
do poder público; com isto, afastam-se os atos de PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E VERACIDADE
direito privado praticados pelo Estado; Embora se fale em presunção de
3. produz efeitos jurídicos imediatos; com legitimidade ou de veracidade como se fossem
isso, distingue-se o ato administrativo da lei e expressões com o mesmo significado, as duas
afasta-se de seu conceito o regulamento que, podem ser desdobradas, por abrangerem
quanto ao conteúdo, é ato normativo, mais situações diferentes. A presunção de
semelhante à lei; e afastam-se também os atos legitimidade diz respeito à conformidade do ato
não produtores de efeitos jurídicos diretos, como com a lei; em decorrência desse atributo,
os atos materiais e os atos enunciativos; presumem-se, até prova em contrário, que os
4. é sempre passível de controle judicial; atos administrativos foram emitidos com
5. sujeita-se à lei. observância da lei.
As duas últimas características colocam o A presunção de veracidade diz respeito
ato administrativo como uma das modalidades de aos fatos; em decorrência desse atributo,
ato praticado pelo Estado, pois o diferenciam do presumem-se verdadeiros os fatos alegados pela
ato normativo e do ato judicial. Administração. Assim ocorre com relação às
Com esses elementos, pode-se definir o certidões, atestados, declarações, informações
ato administrativo como a declaração do Estado por ela fornecidos, todos dotados de fé pública.
ou de quem o represente, que produz efeitos Da presunção de veracidade decorrem
jurídicos imediatos, com observância da lei, sob alguns efeitos:
regime jurídico de direito público e sujeita a 1. enquanto não decretada a invalidade do
controle pelo Poder Judiciário. ato pela própria Administração ou pelo Judiciário,
os negócios jurídicos (praticados com o ele produzirá efeitos da mesma forma que o ato
intuito específico de produzir determinados válido, devendo ser cumprido;
efeitos jurídicos). Os negócios jurídicos, por sua 2. o Judiciário não pode apreciar ex officio
vez, podem ser unilaterais ou bilaterais a validade do ato; nulidade só pode ser decretada
(contratos). pelo Judiciário a pedido da pessoa interessada;

ATO ADMINISTRATIVO E PRODUÇÃO DE EFEITOS IMPERATIVIDADE


JURÍDICOS Imperatividade é o atributo pelo qual os
Dentre os atos da Administração atos administrativos se impõem a terceiros,
distinguem-se os que produzem e os que não independentemente de sua concordância.
produzem efeitos jurídicos. Estes últimos não são Decorre da prerrogativa que tem o Poder Público
atos administrativos propriamente ditos, já que de, por meio de atos unilaterais, impor
não se enquadram no respectivo conceito. obrigações a terceiros;
Nessa última categoria, entram: A imperatividade não existe em todos os
1. os atos materiais, de simples execução, atos administrativos, mas apenas naqueles que
como a reforma de um prédio, um trabalho de impõem obrigações; quando se trata de ato que
datilografia, a limpeza das ruas etc.; confere direitos solicitados pelo administrado
2. os despachos de encaminhamento de (como na licença, autorização, permissão,
papéis e processos; admissão) ou de ato apenas enunciativo
3. os atos enunciativos ou de (certidão, atestado, parecer), esse atributo
conhecimento, que apenas atestam ou declaram inexiste.
a existência de um direito ou situação, como os A imperatividade é uma das características
atestados, certidões, declarações, informações; que distingue o ato administrativo do ato de
direito privado; este último não cria qualquer do particular; nada impede que as partes
obrigação para terceiros sem a sua concordância. convencionem um contrato inominado, desde
que atenda melhor ao interesse público e ao do
AUTOEXECUTORIEDADE particular.
Consiste a autoexecutoriedade em
atributo pelo qual o ato administrativo pode ser ELEMENTOS
posto em execução pela própria Administração Pode-se dizer que os elementos do ato
Pública, sem necessidade de intervenção do administrativo são o sujeito (competência), o
Poder Judiciário. objeto, a forma, o motivo e a finalidade.
No Direito Administrativo, a
autoexecutoriedade não existe, também, em SUJEITO
todos os atos administrativos; ela só é possível: Sujeito é aquele a quem a lei atribui
1. quando expressamente prevista em lei. competência para a prática do ato. No direito
Em matéria de contrato, por exemplo, a administrativo não basta a capacidade; é
Administração Pública dispõe de várias medidas necessário também que o sujeito tenha
autoexecutórias, como a retenção da caução, a competência.
utilização dos equipamentos e instalações do Pode-se, portanto, definir competência
contratado para dar continuidade à execução do como o conjunto de atribuições das pessoas
contrato, a encampação etc.; jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito
2. quando se trata de medida urgente que, positivo.
caso não adotada de imediato, possa ocasionar Aplicam-se à competência as seguintes
prejuízo maior para o interesse público; isso regras:
acontece no âmbito também da polícia 1. decorre sempre da lei, não podendo o
administrativa, podendo-se citar, como exemplo, próprio órgão estabelecer, por si, as suas
a demolição de prédio que ameaça ruir. atribuições;
2. é inderrogável, seja pela vontade da
TIPICIDADE Administração, seja por acordo com terceiros; isto
Tipicidade é o atributo pelo qual o ato porque a competência é conferida em benefício
administrativo deve corresponder a figuras do interesse público;
definidas previamente pela lei como aptas a 3. pode ser objeto de delegação ou de
produzir determinados resultados. Para cada avocação, desde que não se trate de competência
finalidade que a Administração pretende alcançar conferida a determinado órgão ou agente, com
existe um ato definido em lei. exclusividade, pela lei.
Trata-se de decorrência do princípio da A distribuição de competência pode levar
legalidade, que afasta a possibilidade de a em conta vários critérios:
Administração praticar atos inominados; estes são 1. em razão da matéria, a competência se
possíveis para os particulares, como decorrência distribui entre os Ministérios (na esfera federal) e
do princípio da autonomia da vontade. entre as Secretarias (nos âmbitos estadual e
Esse atributo representa uma garantia municipal);
para o administrado, pois impede que a 2. em razão do território, distribui-se por
Administração pratique atos dotados de zonas de atuação;
imperatividade e executoriedade, vinculando 3. em razão do grau hierárquico, as
unilateralmente o particular, sem que haja atribuições são conferidas segundo o maior ou
previsão legal; também fica afastada a menor grau de complexidade e responsabilidade;
possibilidade de ser praticado ato totalmente 4. em razão do tempo, determinadas
discricionário, pois a lei, ao prever o ato, já define atribuições têm que ser exercidas em períodos
os limites em que a discricionariedade poderá ser determinados, como ocorre quando a lei fixa
exercida. prazo para a prática de certos atos; também pode
A tipicidade só existe com relação aos atos ocorrer a proibição de certos atos em períodos
unilaterais; não existe nos contratos porque, com definidos pela lei, como de nomear ou exonerar
relação a eles, não há imposição de vontade da servidores em período eleitoral;
Administração, que depende sempre da aceitação
5. em razão do fracionamento, a 2. uma concepção ampla, que inclui no
competência pode ser distribuída por órgãos conceito de forma, não só a exteriorização do ato,
diversos, quando se trata de procedimento ou de mas também todas as formalidades que devem
atos complexos, com a participação de vários ser observadas durante o processo de formação
órgãos ou agentes. da vontade da Administração, e até os requisitos
concernentes à publicidade do ato.
OBJETO na concepção restrita de forma,
Objeto ou conteúdo é o efeito jurídico considera-se cada ato isoladamente; e, na
imediato que o ato produz. concepção ampla, considera-se o ato dentro de
Sendo o ato administrativo espécie do um procedimento. No direito administrativo, o
gênero ato jurídico, ele só existe quando produz aspecto formal do ato é de muito maior
efeito jurídico, ou seja, quando, em decorrência relevância do que no direito privado, já que a
dele, nasce, extingue-se, transforma-se um obediência à forma (no sentido estrito) e ao
determinado direito. Esse efeito jurídico é o procedimento constitui garantia jurídica para o
objeto ou conteúdo do ato. Para identificar-se administrado e para a própria Administração; é
esse elemento, basta verificar o que o ato pelo respeito à forma que se possibilita o controle
enuncia, prescreve, dispõe. O objeto deve ser do ato administrativo, quer pelos seus
lícito (conforme à lei), possível (realizável no destinatários, quer pela própria Administração,
mundo dos fatos e do direito), certo (definido quer pelos demais Poderes do Estado. Integra o
quanto ao destinatário, aos efeitos, ao tempo e conceito de forma a motivação do ato
ao lugar), e moral (em consonância com os administrativo, ou seja, a exposição dos fatos e do
padrões comuns de comportamento, aceitos direito que serviram de fundamento para a
como corretos, justos, éticos). prática do ato; a sua ausência impede a
o objeto do ato administrativo pode ser verificação de legitimidade do ato.
natural ou acidental. Objeto natural é o efeito
jurídico que o ato produz, sem necessidade de FINALIDADE
expressa menção; ele decorre da própria natureza Finalidade é o resultado que a
do ato, tal como definido na lei. Objeto acidental Administração quer alcançar com a prática do ato.
é o efeito jurídico que o ato produz em Enquanto o objeto é o efeito jurídico
decorrência de cláusulas acessórias apostas ao imediato que o ato produz (aquisição,
ato pelo sujeito que o pratica; ele traz alguma transformação ou extinção de direitos), a
alteração no objeto natural; compreende o finalidade é o efeito mediato.
termo, o modo ou encargo e a condição. Distingue-se do motivo, porque este
Pelo termo, indica-se o dia em que inicia antecede a prática do ato, correspondendo aos
ou termina a eficácia do ato. fatos, às circunstâncias, que levam a
O modo é um ônus imposto ao Administração a praticar o ato. Já a finalidade
destinatário do ato. sucede à prática do ato, porque corresponde a
A condição é a cláusula que subordina o algo que a Administração quer alcançar com a sua
efeito do ato a evento futuro e incerto; pode ser edição.
suspensiva, quando suspende o início da eficácia Pode-se falar em fim ou finalidade em
do ato, e resolutiva, quando, verificada, faz cessar dois sentidos diferentes:
a produção de efeitos jurídicos do ato. 1. em sentido amplo, a finalidade
corresponde à consecução de um resultado de
FORMA interesse público; nesse sentido, se diz que o ato
Encontram-se na doutrina duas administrativo tem que ter finalidade pública;
concepções da forma como elemento do ato 2. em sentido restrito, finalidade é o
administrativo: resultado específico que cada ato deve produzir,
1. uma concepção restrita, que considera conforme definido na lei; nesse sentido, se diz
forma como a exteriorização do ato, ou seja, o que a finalidade do ato administrativo é sempre a
modo pelo qual a declaração se exterioriza; nesse que decorre explícita ou implicitamente da lei.
sentido, fala-se que o ato pode ter a forma escrita Seja infringida a finalidade legal do ato
ou verbal, de decreto, portaria, resolução etc.; (em sentido estrito), seja desatendido o seu fim
de interesse público (sentido amplo), o ato será Resumidamente, afirma-se que o mérito é o
ilegal, por desvio de poder. Seja infringida a aspecto do ato administrativo relativo à
finalidade legal do ato (em sentido estrito), seja conveniência e oportunidade; só existe nos atos
desatendido o seu fim de interesse público discricionários. Seria um aspecto do ato
(sentido amplo), o ato será ilegal, por desvio de administrativo cuja apreciação é reservada à
poder. competência da Administração Pública. Daí a
afirmação de que o Judiciário não pode examinar
MOTIVO o mérito dos atos administrativos.
Motivo é o pressuposto de fato e de A distinção entre atos discricionários e
direito que serve de fundamento ao ato atos vinculados tem importância fundamental no
administrativo. que diz respeito ao controle que o Poder
Pressuposto de direito é o dispositivo legal Judiciário sobre eles exerce.
em que se baseia o ato. Com relação aos atos vinculados, não
Pressuposto de fato, como o próprio existe restrição, pois, sendo todos os elementos
nome indica, corresponde ao conjunto de definidos em lei, caberá ao Judiciário examinar,
circunstâncias, de acontecimentos, de situações em todos os seus aspectos, a conformidade do
que levam a Administração a praticar o ato. ato com a lei, para decretar a sua nulidade se
No ato de punição do funcionário, o reconhecer que essa conformidade inexistiu.
motivo é a infração que ele praticou; no Com relação aos atos discricionários, o
tombamento, é o valor cultural do bem; na controle judicial é possível mas terá que respeitar
licença para construir, é o conjunto de requisitos a discricionariedade administrativa nos limites
comprovados pelo proprietário; na exoneração do em que ela é assegurada à Administração
funcionário estável, é o pedido por ele formulado. Pública pela lei.
A ausência de motivo ou a indicação de motivo Outra é a teoria dos motivos
falso invalidam o ato administrativo. determinantes, já mencionada: quando a
Não se confundem motivo e motivação do Administração indica os motivos que a levaram a
ato. Motivação é a exposição dos motivos, ou praticar o ato, este somente será válido se os
seja, é a demonstração, por escrito, de que os motivos forem verdadeiros.
pressupostos de fato realmente existiram. Para
punir, a Administração deve demonstrar a prática CLASSIFICAÇÃO
da infração. A motivação diz respeito às Inúmeros são os critérios para classificar
formalidades do ato, que integram o próprio ato. os atos administrativos:
1. Quanto às prerrogativas com que atua a
DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO Administração, os atos podem ser de império e
de gestão.
A partir da ideia de que certos elementos atos de império seriam os praticados pela
do ato administrativo são sempre vinculados (a Administração com todas as prerrogativas e
competência e a finalidade, em sentido estrito), privilégios de autoridade e impostos unilateral e
pode-se afirmar que não existe ato administrativo coercitivamente ao particular
inteiramente discricionário. No ato vinculado, independentemente de autorização judicial,
todos os elementos vêm definidos na lei; no ato sendo regidos por um direito especial exorbitante
discricionário, alguns elementos vêm definidos na do direito comum, porque os particulares não
lei, com precisão, e outros são deixados à decisão podem praticar atos semelhantes, a não ser por
da Administração, com maior ou menor liberdade delegação do poder público.
de apreciação da oportunidade e conveniência. Atos de gestão são os praticados pela
Por isso se diz que o ato vinculado é Administração em situação de igualdade com os
analisado apenas sob o aspecto da legalidade e particulares, para a conservação e
que o ato discricionário deve ser analisado sob o desenvolvimento do patrimônio público e para a
aspecto da legalidade e do mérito: o primeiro diz gestão de seus serviços; como não diferem a
respeito à conformidade do ato com a lei e o posição da Administração e a do particular, aplica-
segundo diz respeito à oportunidade e se a ambos o direito comum.
conveniência diante do interesse público a atingir.
abandonou-se essa distinção, hoje permissão, nomeação, exoneração a pedido. São
substituída por outra: atos administrativos, atos negociais mas não são negócios jurídicos,
regidos pelo direito público, e atos de direito porque os efeitos, embora pretendidos por ambas
privado da Administração. Só os primeiros são as partes, não são por elas livremente
atos administrativos; os segundos são apenas estipulados, mas decorrem da lei.
atos da Administração, precisamente pelo fato de Em resumo, entram na categoria de atos
serem regidos pelo direito privado. negociais todos aqueles que são queridos por
2.Quanto à função da vontade, os atos ambas as partes; excluem-se os impostos pela
administrativos classificam-se em atos Administração, independentemente de
administrativos propriamente ditos e puros ou consentimento do particular.
meros atos administrativos. Entram na categoria de negócios jurídicos
No ato administrativo propriamente dito, administrativos determinados contratos em que
há uma declaração de vontade da Administração, as condições de celebração não são previamente
voltada para a obtenção de determinados efeitos fixadas por atos normativos.
jurídicos definidos em lei. Exemplo: demissão, 3.Quanto à formação da vontade, os atos
tombamento, requisição. administrativos podem ser simples, complexos e
No mero ato administrativo, há uma compostos.
declaração de opinião (parecer), conhecimento Atos simples são os que decorrem da
(certidão) ou desejo (voto num órgão colegiado). declaração de vontade de um único órgão, seja
Pela nossa definição de ato administrativo, ele singular ou colegiado. Exemplo: a nomeação
eles estão excluídos; são atos da Administração. pelo Presidente da República; a deliberação de
Dentre os atos administrativos um Conselho.
propriamente ditos distinguem-se os que são Atos complexos são os que resultam da
dotados de imperatividade e os que não possuem manifestação de dois ou mais órgãos, sejam eles
esse atributo; os primeiros impõem-se ao singulares ou colegiados, cuja vontade se funde
particular, independentemente de seu para formar um ato único. As vontades são
consentimento, enquanto os segundos resultam homogêneas; resultam de vários órgãos de uma
do consentimento de ambas as partes, sendo mesma entidade ou de entidades públicas
chamados de atos negociais. distintas, que se unem em uma só vontade para
É importante realçar o fato de que não se formar o ato; há identidade de conteúdo e de
confundem atos negociais com negócios fins. Exemplo: o decreto que é assinado pelo
jurídicos. Chefe do Executivo e referendado pelo Ministro
Os atos administrativos unilaterais não de Estado; o importante é que há duas ou mais
podem ser considerados negócios jurídicos, vontades para a formação de um ato único.
porque a Administração não tem liberdade para Ato composto é o que resulta da
estabelecer, por sua própria vontade, os efeitos manifestação de dois ou mais órgãos, em que a
jurídicos, que são aqueles fixados na lei; trata-se vontade de um é instrumental em relação a de
de aplicação do atributo da tipicidade, que é outro, que edita o ato principal. Enquanto no ato
decorrência do princípio da legalidade; já com complexo fundem-se vontades para praticar um
relação aos contratos, pode-se falar em negócios ato só, no ato composto, praticam-se dois atos,
jurídicos administrativos em determinados um principal e outro acessório; este último pode
contratos em que as partes podem autorregular ser pressuposto ou complementar daquele.
as suas relações jurídicas, desde que não 4.Quanto aos destinatários, os atos
contrariem as normas legais e atendam ao administrativos podem ser gerais e individuais.
interesse público protegido pela lei. O mesmo Os atos gerais atingem todas as pessoas
não ocorre nos contratos como os de concessão que se encontram na mesma situação; são os atos
de serviços públicos, em que as cláusulas normativos praticados pela Administração, como
contratuais vêm predefinidas em ato normativo. regulamentos, portarias, resoluções, circulares,
Nos atos administrativos em que não há instruções, deliberações, regimentos.
imperatividade, porque os efeitos são queridos Atos individuais são os que produzem
por ambas as partes, fala-se em atos negociais. É efeitos jurídicos no caso concreto. Exemplo:
o caso da licença, autorização, admissão,
nomeação, demissão, tombamento, servidão
administrativa, licença, autorização. AUTORIZAÇÃO: a autorização administrativa tem
5. Quanto à exequibilidade, o ato várias acepções:
administrativo pode ser perfeito, imperfeito, 1. Num primeiro sentido ato unilateral e
pendente e consumado. discricionário pelo qual a Administração faculta
Quando se fala em exequibilidade, ao particular o desempenho de atividade material
considera-se a capacidade do ato para produzir ou a prática de ato que, sem esse consentimento,
efeitos jurídicos. seriam legalmente proibidos. a autorização
Ato perfeito é aquele que está em abrange todas as hipóteses em que o exercício de
condições de produzir efeitos jurídicos, porque já atividade ou a prática de ato são vedados por lei
completou todo o seu ciclo de formação. ao particular, por razões de interesse público
Ato imperfeito é o que não está apto a concernentes à segurança, à saúde, à economia
produzir efeitos jurídicos, porque não completou ou outros motivos concernentes à tutela do bem
o seu ciclo de formação. comum.
Ato pendente é o que está sujeito a Na segunda acepção, autorização é o ato
condição ou termo para que comece a produzir unilateral e discricionário pelo qual o Poder
efeitos. Distingue-se do ato imperfeito porque já Público faculta ao particular o uso privativo de
completou o seu ciclo de formação e está apto a bem público, a título precário.
produzir efeitos; estes ficam suspensos até que Trata-se da autorização de uso.
ocorra a condição ou termo. 3. Na terceira acepção autorização é o ato
Ato consumado é o que já exauriu os seus administrativo unilateral e discricionário pelo qual
efeitos. Ele se torna definitivo, não podendo ser o Poder Público delega ao particular a exploração
impugnado, quer na via administrativa, quer na de serviço público, a título precário. Trata-se da
via judicial. autorização de serviço público. Esta hipótese
6.Quanto aos efeitos, o ato administrativo está referida, ao lado da concessão e da
pode ser constitutivo, declaratório e enunciativo. permissão, como modalidade de delegação de
Ato constitutivo é aquele pelo qual a serviço público de competência da União.
Administração cria, modifica ou extingue um Pode-se, portanto, definir a autorização
direito ou uma situação do administrado. É o caso administrativa, em sentido amplo, como o ato
da permissão, autorização, dispensa, aplicação de administrativo unilateral, discricionário e
penalidade, revogação. precário pelo qual a Administração faculta ao
Ato declaratório é aquele em que a particular o uso de bem público (autorização de
Administração apenas reconhece um direito que uso), ou a prestação de serviço público
já existia antes do ato. (autorização de serviço público), ou o
Ato enunciativo é aquele pelo qual a desempenho de atividade material, ou a prática
Administração apenas atesta ou reconhece de ato que, sem esse consentimento, seriam
determinada situação de fato ou de direito. legalmente proibidos (autorização como ato de
polícia).
ATOS ADMINISTRATIVOS EM ESPÉCIE
LICENÇA
divididos em duas categorias: quanto ao Licença é o ato administrativo unilateral e
conteúdo e quanto à forma de que se revestem. vinculado pelo qual a Administração faculta
São do primeiro tipo a autorização, a àquele que preencha os requisitos legais o
licença, a admissão, a permissão (como atos exercício de uma atividade.
administrativos negociais); a aprovação e a A autorização é ato constitutivo e a
homologação(que são atos de controle); o licença é ato declaratório de direito preexistente.
parecer e o visto (que são atos enunciativos). A autorização caracteriza-se como ato
No segundo grupo serão analisados o discricionário, ao passo que a licença envolve
decreto, a portaria, a resolução, a circular, o direitos, caracterizando-se como ato vinculado.
despacho e o alvará. ADMISSÃO
Admissão é o ato unilateral e vinculado
QUANTO AO CONTEÚDO pelo qual a Administração reconhece ao
particular, que preencha os requisitos legais, o legitimidade formal de outro ato jurídico. Não
direito à prestação de um serviço público. significa concordância com o seu conteúdo, razão
É ato vinculado, tendo em vista que os pela qual é incluído entre os atos de
requisitos para outorga da prestação conhecimento, que são meros atos
administrativa são previamente definidos, de administrativos e não atos administrativos
modo que todos os que os satisfaçam tenham propriamente ditos, porque não encerram
direito de obter o benefício. manifestações de vontade.
PERMISSÃO QUANTO À FORMA
Permissão, em sentido amplo, designa o DECRETO
ato administrativo unilateral, discricionário e Decreto é a forma de que se revestem os
precário, gratuito ou oneroso, pelo qual a atos individuais ou gerais, emanados do Chefe do
Administração Pública faculta ao particular a Poder Executivo (Presidente da República,
execução de serviço público ou a utilização Governador e Prefeito). Quando produz efeitos
privativa de bem público. gerais, ele pode ser:
O seu objeto é a utilização privativa de 1. regulamentar ou de execução, quando
bem público por particular ou a execução de expedido com base no artigo 84, IV, da
serviço público. Constituição, para fiel execução da lei;
APROVAÇÃO 2. independente ou autônomo, quando
A aprovação é ato unilateral e disciplina matéria não regulada em lei. O decreto
discricionário pelo qual se exerce o controle a geral é ato normativo, semelhante, quanto ao
priori ou a posteriori do ato administrativo. conteúdo e quanto aos efeitos, à lei.
No controle a priori, equivale à
autorização para a prática do ato; no controle a RESOLUÇÃO E PORTARIA
posteriori equivale ao seu referendo (cf. Oswaldo Resolução e portaria são formas de que se
Aranha Bandeira de Mello, 2007:562). revestem os atos, gerais ou individuais, emanados
É ato discricionário, porque o examina sob de autoridades outras que não o Chefe do
os aspectos de conveniência e oportunidade para Executivo.
o interesse público; por isso mesmo, constitui “são atos administrativos:
condição de eficácia do ato. I – de competência privativa:
HOMOLOGAÇÃO a) do Governador do Estado, o Decreto;
Homologação é o ato unilateral e b) dos Secretários de Estado, do
vinculado pelo qual a Administração Pública Procurador-Geral do Estado e dos Reitores das
reconhece a legalidade de um ato jurídico. Ela se Universidades, a Resolução;
realiza sempre a posteriori e examina apenas o c) dos órgãos colegiados, a Deliberação;
aspecto de legalidade, no que se distingue da III – de competência comum:
aprovação. a) a todas as autoridades, até o nível de
PARECER Diretor de Serviço; às autoridades policiais; aos
Parecer é o ato pelo qual os órgãos dirigentes das entidades descentralizadas.
consultivos da Administração emitem opinião CIRCULAR
sobre assuntos técnicos ou jurídicos de sua Circular é o instrumento de que se valem
competência. parecer pode ser facultativo, as autoridades para transmitir ordens internas
obrigatório e vinculante. uniformes a seus subordinados.
O parecer é facultativo quando fica a DESPACHO
critério da Administração solicitá-lo ou não, além Despacho é o ato administrativo que
de não ser vinculante para quem o solicitou. O contém decisão das autoridades administrativas
parecer é obrigatório quando a lei o exige como sobre assunto de interesse individual ou coletivo
pressuposto para a prática do ato final. O parecer submetido à sua apreciação. Quando, por meio
é vinculante quando a Administração é obrigada a do despacho, é aprovado parecer proferido por
solicitá-lo e a acatar a sua conclusão. órgão técnico sobre assunto de interesse geral,
VISTO ele é chamado despacho normativo, porque se
Visto é o ato administrativo unilateral pelo tornará obrigatório para toda a Administração.
qual a autoridade competente atesta a ALVARÁ
Alvará é o instrumento pelo qual a E a anulação pode também ser feita pelo Poder
Administração Pública confere licença ou Judiciário, mediante provocação dos interessados.
autorização para a prática de ato ou exercício de
atividade sujeitos ao poder de polícia do Estado. VÍCIOS: os vícios podem atingir os cinco
Mais resumidamente, o alvará é o instrumento da elementos do ato, caracterizando os vícios quanto
licença ou da autorização. Ele é a forma, o à competência e à capacidade (em relação ao
revestimento exterior do ato; a licença e a sujeito), à forma, ao objeto, ao motivo e à
autorização são o conteúdo do ato. finalidade.
VÍCIOS RELATIVOS AO SUJEITO
EXTINÇÃO Sob esse aspecto, o ato administrativo pode
MODALIDADES apresentar vícios de duas categorias:
um ato administrativo extingue-se por: 1. incompetência;
I – cumprimento de seus efeitos, 2. incapacidade.
II – desaparecimento do sujeito ou do Os principais vícios quanto à competência são:
objeto; 1. usurpação de função;
III – retirada, que abrange: 2. excesso de poder;
a) revogação, em que a retirada se dá por 3. função “de fato”
razões de oportunidade e conveniência; O excesso de poder ocorre quando o agente
b) invalidação, por razões de ilegalidade; público excede os limites de sua competência;
c) cassação, em que a retirada se dá Constitui, juntamente com o desvio de poder,
“porque o destinatário descumpriu condições que que é vício quanto à finalidade, uma das espécies
deveriam permanecer atendidas a fim de poder de abuso de poder. ocorre quando o agente
continuar desfrutando da situação jurídica”; público exorbita de suas atribuições (excesso de
d) caducidade, em que a retirada se deu poder), ou pratica o ato com finalidade diversa da
“porque sobreveio norma jurídica que tornou que decorre implícita ou explicitamente da lei
inadmissível a situação antes permitida pelo (desvio de poder).
direito e outorgada pelo ato precedente”; Tanto o excesso de poder como o desvio de poder
e) contraposição, em que a retirada se dá podem configurar crime de abuso de autoridade.
“porque foi emitido ato com fundamento em A função de fato ocorre quando a pessoa que
competência diversa que gerou o ato anterior, pratica o ato está irregularmente investida no
mas cujos efeitos são contrapostos aos daqueles”; cargo, emprego ou função, mas a sua situação
IV – Renúncia, pela qual se extinguem os efeitos tem toda aparência de legalidade.
do ato porque o próprio beneficiário abriu mão
de uma vantagem de que desfrutava. VÍCIOS RELATIVOS AO OBJETO
a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado
ANULAÇÃO OU INVALIDAÇÃO do ato importa em violação de lei, regulamento
Anulação, que alguns preferem chamar de ou outro ato normativo”. o objeto deve ser lícito,
invalidação é o desfazimento do ato possível (de fato e de direito), moral e
administrativo por razões de ilegalidade. Como a determinado. Assim, haverá vício em relação ao
desconformidade com a lei atinge o ato em suas objeto quando qualquer desses requisitos deixar
origens, a anulação produz efeitos retroativos à de ser observado.
data em que foi emitido (efeitos ex tunc, ou seja, VÍCIOS RELATIVOS À FORMA
a partir de então). “O vício de forma consiste na omissão ou na
A anulação pode ser feita pela Administração observância incompleta ou irregular de
Pública, com base no seu poder de autotutela formalidades indispensáveis à existência ou
sobre os próprios atos. Administração pode seriedade do ato”. O ato é ilegal, por vício de
anular seus próprios atos, quando eivados de forma, quando a lei expressamente a exige ou
vícios que os tornem ilegais, porque deles não se quando uma finalidade só possa ser alcançada
originam direitos, ou revogá-los, por motivo de por determinada forma. Exemplo: o decreto é a
conveniência ou oportunidade, respeitados os forma que deve revestir o ato do Chefe do Poder
direitos adquiridos e ressalvada, em todos os Executivo; o edital é a única forma possível para
casos, a apreciação judicial”.
convocar os interessados em participar de autotutela, não pode ficar dependendo de
concorrência. provocação do interessado para decretar a
VÍCIOS QUANTO AO MOTIVO nulidade, seja absoluta seja relativa.
A Lei no 4.717/65 fala apenas em inexistência dos Quando o vício seja sanável ou convalidável,
motivos e diz que esse vício ocorre “quando a caracteriza-se hipótese de nulidade relativa; caso
matéria de fato ou de direito, em que se contrário, a nulidade é absoluta. Cumpre, pois,
fundamenta o ato, é materialmente inexistente examinar quando é possível o saneamento ou
ou juridicamente inadequada ao resultado convalidação.
obtido”. CONVALIDAÇÃO
VÍCIOS RELATIVOS À FINALIDADE Convalidação ou saneamento é o ato
Trata-se do desvio de poder ou desvio de administrativo pelo qual é suprido o vício
finalidade como aquele que se verifica quando “o existente em um ato ilegal, com efeitos
agente pratica o ato visando a fim diverso retroativos à data em que este foi praticado.
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na Ela é feita, em regra, pela Administração, mas
regra de competência”. O agente desvia-se ou eventualmente poderá ser feita pelo
afasta-se da finalidade que deveria atingir para administrado, quando a edição do ato dependia
alcançar resultado diverso, não amparado pela da manifestação de sua vontade e a exigência não
lei. foi observada. Este pode emiti-la posteriormente,
CONSEQUÊNCIAS DECORRENTES DOS VÍCIOS convalidando o ato.
considera que o ato administrativo pode ser nulo Quanto ao sujeito, se o ato for praticado com
ou anulável. Atos nulos são os que violam regras vício de incompetência, admite-se a
fundamentais atinentes à manifestação da convalidação, que nesse caso recebe o nome de
vontade, ao motivo, à finalidade ou à forma, ratificação, desde que não se trate de
havidas como de obediência indispensável pela competência outorgada com exclusividade, Em
sua natureza, pelo interesse público que as inspira resumo, tratando-se de competência exclusiva,
ou por menção expressa da lei. Atos anuláveis não é possível a ratificação.
são os que infringem regras atinentes aos cinco Quanto ao motivo e à finalidade, nunca é
elementos do ato administrativo. Atos irregulares possível a convalidação.
são os que apresentam defeitos irrelevantes, O objeto ou conteúdo ilegal não pode ser objeto
quase sempre de forma, não afetando de convalidação. Com relação a esse elemento do
ponderavelmente o interesse público, dada a ato administrativo, é possível a conversão.
natureza leve da infringência das normas legais; O objeto ou conteúdo ilegal não pode ser objeto
os seus efeitos perduram e continuam, posto que de convalidação. Com relação a esse elemento do
constatado o vício. ato administrativo, é possível a conversão.
Os atos nulos são os que não podem ser CONFIRMAÇÃO
convalidados; entram nessa categoria: Administração não pode ficar sujeita à vontade do
a) os atos que a lei assim declare; particular para decretar ou não a nulidade. Mas a
b) os atos em que é materialmente impossível a própria administração pode deixar de fazê-lo por
convalidação, pois se o mesmo conteúdo fosse razões de interesse público quando a anulação
novamente produzido, seria reproduzida a possa causar prejuízo maior do que a
invalidade anterior; é o que ocorre com os vícios manutenção do ato. A confirmação difere da
relativos ao objeto, à finalidade, ao motivo, à convalidação porque ela não corrige o vício do
causa. ato; ela o mantém tal como foi praticado.
São anuláveis: Somente é possível quando não causar prejuízo a
a) os que a lei assim declare; terceiros, uma vez que estes, desde que
b) os que podem ser praticados sem vício; é o prejudicados pela decisão, poderão impugná-la
caso dos atos praticados por sujeito pela via administrativa ou judicial.
incompetente, com vício de vontade, com defeito
de formalidade. REVOGAÇÃO
os vícios podem gerar nulidades absolutas (atos Revogação é o ato administrativo discricionário
nulos) ou nulidades relativas (atos anuláveis); pelo qual a Administração extingue um ato válido,
dispondo a Administração do poder de por razões de oportunidade e conveniência.
Como a revogação atinge um ato que foi editado ato final é sempre precedido de uma série de atos
em conformidade com a lei, ela não retroage; os materiais ou jurídicos, consistentes em estudos,
seus efeitos se produzem a partir da própria pareceres, informações, laudos, audiências,
revogação; são feitos ex nunc (a partir de agora). enfim, tudo o que for necessário para instruir,
Quer dizer que a revogação respeita os efeitos já preparar e fundamentar o ato final objetivado
produzidos pelo ato, precisamente pelo fato de pela Administração.
ser este válido perante o direito. O procedimento é o conjunto de formalidades
Enquanto a anulação pode ser feita pelo que devem ser observadas para a prática de
Judiciário e pela Administração, a revogação é certos atos administrativos; equivale a rito, a
privativa desta última porque os seus forma de proceder; o procedimento se
fundamentos – oportunidade e conveniência – desenvolve dentro de um processo
são vedados à apreciação do Poder Judiciário. administrativo. a lei estabelece uma sucessão de
Como todo ato discricionário, a revogação deve atos preparatórios que devem obrigatoriamente
ser feita nos limites em que a lei a permite, preceder a prática do ato final; nesse caso, existe
implícita ou explicitamente; isto permite falar em o procedimento, cuja inobservância gera a
limitações ao poder de revogar: ilegalidade do ato da Administração. Em regra, o
1. não podem ser revogados os atos vinculados, procedimento é imposto com maior rigidez
precisamente porque nestes não há os aspectos quando esteja envolvido não só o interesse
concernentes à oportunidade e conveniência; público, mas também os direitos dos
2. não podem ser revogados os atos que administrados, como ocorre na licitação, nos
exauriram os seus efeitos; como a revogação não concursos públicos, nos processos disciplinares.
retroage, mas apenas impede que o ato continue os processos que envolvem solução de
a produzir efeitos, se o ato já se exauriu, não há controvérsia ou que resultem em alguma decisão
mais que falar em revogação; por parte da Administração compreendem, pelo
3. a revogação não pode ser feita quando já se menos, quatro fases: instauração, instrução,
exauriu a competência relativamente ao objeto defesa e decisão.
do ato; Quanto à instauração, estabelece que pode dar-
4. a revogação não pode atingir os meros atos se de ofício (em atendimento ao princípio da
administrativos, como certidões, atestados, oficialidade, analisado no item 14.5.2) ou a
votos, porque os efeitos deles decorrentes são pedido do interessado.
estabelecidos pela lei; PROCESSO ADMINISTRATIVO ELETRÔNICO
5. também não podem ser revogados os atos que o processo administrativo eletrônico como
integram um procedimento, pois a cada novo ato “aquele em que os atos processuais são
ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; registrados e disponibilizados em meio
6. não podem ser revogados os atos que geram eletrônico”.
direitos adquiridos, PRINCÍPIOS
“só quem pratica o ato, ou quem tenha poderes, Existem alguns princípios comuns aos processos
implícitos ou explícitos, para dele conhecer de administrativo e judicial que constituem objeto de
ofício ou por via de recurso, tem competência estudo da teoria geral do processo: tais são os
legal para revogá-lo por motivos de oportunidade princípios da publicidade, da ampla defesa, do
ou conveniência, competência essa intransferível. contraditório, do impulso oficial, da obediência à
forma e aos procedimentos estabelecidos em lei.
4) Processo e procedimento E existem outros princípios que são próprios do
direito administrativo, como o da oficialidade, o
administrativo. da gratuidade, o da atipicidade.
Não se confunde processo com procedimento. O
aos litigantes, em processo judicial ou
primeiro existe sempre como instrumento
administrativo, e aos acusados em geral são
indispensável para o exercício de função
assegurados o contraditório e ampla defesa, com
administrativa; tudo o que a Administração
os meios e recursos a ela inerentes”. Em
Pública faz, operações materiais ou atos jurídicos,
atendimento aos princípios do contraditório e da
fica documentado em um processo; cada vez que
ampla defesa, a Lei no 9.784/99 assegura ao
ela for tomar uma decisão, executar uma obra,
administrado os direitos de ter ciência da
celebrar um contrato, editar um regulamento, o
tramitação dos processos administrativos em que
tenha a condição de interessado, ter vista dos
autos, obter cópias de documentos neles contidos
e conhecer as decisões proferidas; formular
alegações e apresentar documentos antes da
decisão, os quais serão objeto de consideração
pelo órgão competente;
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
5) Licitações. critérios objetivos, sem levar em consideração as
condições pessoais do licitante ou as vantagens por
pode-se definir a licitação como o procedimento
ele oferecidas, salvo as expressamente previstas na lei
administrativo pelo qual um ente público, no exercício
ou no instrumento convocatório.
da função administrativa, abre a todos os
interessados, que se sujeitem às condições fixadas no PRINCÍPIO DA MORALIDADE E DA PROBIDADE
instrumento convocatório, a possibilidade de
formularem propostas dentre as quais selecionará e exige da Administração comportamento não apenas
aceitará a mais conveniente para a celebração de lícito, mas também consoante com a moral, os bons
contrato. costumes, as regras de boa administração, os
princípios de justiça e de equidade, a ideia comum de
Pela licitação, a Administração abre a todos os honestidade.
interessados que se sujeitem às condições fixadas no
instrumento convocatório, a possibilidade de PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
apresentação de proposta. diz respeito não apenas à divulgação do procedimento
PRINCÍPIOS para conhecimento de todos os interessados, como
também aos atos da Administração praticados nas
várias fases do procedimento, que podem e devem ser
PRINCÍPIO DA IGUALDADE abertas aos interessados, para assegurar a todos a
possibilidade de fiscalizar sua legalidade. A
O princípio da igualdade constitui um dos alicerces da
publicidade é tanto maior quanto maior for a
licitação, na medida em que esta visa, não apenas
competição propiciada pela modalidade de licitação;
permitir à Administração a escolha da melhor
ela é a mais ampla possível na concorrência, em que o
proposta, como também assegurar igualdade de
interesse maior da Administração é o de atrair maior
direitos a todos os interessados em contratar.
número de licitantes, e se reduz ao mínimo no
veda o estabelecimento de condições que impliquem convite, em que o valor do contrato dispensa maior
preferência em favor de determinados licitantes em divulgação.
detrimento dos demais. Na parte final, o dispositivo
PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO
deixa claro que o procedimento da licitação somente
CONVOCATÓRIO
permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento Trata-se de princípio essencial cuja inobservância
das obrigações. enseja nulidade do procedimento. a Administração
não pode descumprir as normas e condições do edital,
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ao qual se acha estritamente vinculada”. exige que o
O princípio da legalidade, já analisado no item 3.3.1 julgamento e classificação das propostas se façam de
em relação à Administração Pública em geral, é de acordo com os critérios de avaliação constantes do
suma relevância, em matéria de licitação, pois esta edital.
constitui um procedimento inteiramente vinculado à
lei; todas as suas fases estão rigorosamente PRINCÍPIO DO JULGAMENTO OBJETIVO
disciplinadas na Lei no 8.666/93, cujo artigo 4o Quanto ao julgamento objetivo, que é decorrência
estabelece que todos quantos participem de licitação também do princípio da legalidade, está assente seu
promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere significado: o julgamento das propostas há de ser feito
o artigo 1o têm direito público subjetivo à fiel de acordo com os critérios fixados no edital.
observância do pertinente procedimento estabelecido julgamento das propostas será objetivo, devendo a
na lei. Comissão de licitação ou responsável pelo convite
Tratando-se de direito público subjetivo, o licitante realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação,
que se sinta lesado pela inobservância da norma pode os critérios previamente estabelecidos no ato
impugnar judicialmente o procedimento. convocatório e de acordo com os fatores
exclusivamente nele referidos, de maneira a
PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos
de controle”. Para fins de julgamento objetivo, o
todos os licitantes devem ser tratados igualmente, em
mesmo dispositivo estabelece os tipos de licitação: de
termos de direitos e obrigações, devendo a
menor preço, de melhor técnica, de técnica e preço e
Administração, em suas decisões, pautar-se por
o de maior lance ou oferta Esses critérios não são órgão ou entidade da Administração Pública, de
aplicados para o concurso (v. item 9.7.4) e para o qualquer esfera de governo”; (f) “alienação gratuita
pregão. ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de
uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis
PRINCÍPIO DA ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA
residenciais construídos, destinados ou efetivamente
a Administração não pode, concluído o procedimento, utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de
atribuir o objeto da licitação a outrem que não o regularização fundiária de interesse social
vencedor. “A adjudicação ao vencedor é obrigatória, desenvolvidos por órgãos ou entidades da
salvo se este desistir expressamente do contrato ou o administração pública”; (g) “procedimentos de
não firmar no prazo prefixado, a menos que comprove legitimação de posse; (h) “alienação, gratuita ou
justo motivo. A compulsoriedade veda também que onerosa, aforamento, concessão de direito real de
se abra nova licitação enquanto válida a adjudicação uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de
anterior.” uso comercial de âmbito local;

Em razão de situações excepcionais, a dispensa é


OBRIGATORIEDADE DE possível em certas situações em que a demora do
LICITAÇÃO procedimento é incompatível com a urgência na
A Constituição Federal exige licitação para os celebração do contrato ou quando sua realização
contratos de obras, serviços, compras e alienações puder, em vez de favorecer, vir a contrariar o interesse
(art. 37, XXI), bem como para a concessãoe a público, ou ainda quando houver comprovado
permissão de serviços públicos (art. 175). desinteresse dos particulares no objeto do contrato.

A Lei no 8.666/93 exige licitação para as obras, Quanto à inexigibilidade, o artigo 25 indica três
serviços, inclusive de publicidade, compras, hipóteses em que há inviabilidade de competição, sem
alienações, concessões, permissões e locações (art. excluir outras.
2o). 1. A aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros
Estão obrigados à licitação todos os órgãos da que só possam ser fornecidos por produtor, empresa
Administração Pública direta, os fundos especiais, as ou representante comercial exclusivo, vedada a
autarquias, as fundações públicas, as empresas preferência de marca, devendo a comprovação de
públicas, as sociedades de economia mista e demais exclusividade ser feita através de atestado fornecido
entidades controladas direta ou indiretamente pela pelo órgão de registro do comércio do local em que se
União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 1o, realizaria a licitação ou a obra ou o serviço,
parágrafo único). 2. A contratação de serviços técnicos de natureza
singular, com profissionais ou empresas de notória
DISPENSA E INEXIGIBILIDADE especialização, vedada a inexigibilidade para serviços
A diferença básica entre as duas hipóteses está no fato de publicidade e divulgação (inciso II); não é para
de que, na dispensa, há possibilidade de competição qualquer tipo de contrato que se aplica essa
que justifique a licitação; de modo que a lei faculta a modalidade: é apenas para os contratos de prestação
dispensa, que fica inserida na competência de serviços, desde que observados os três requisitos,
discricionária da Administração. Nos casos de ou seja, o de tratar-se de um daqueles enumerados no
inexigibilidade, não há possibilidade de competição, artigo 13, o de ser de natureza singular, e o de ser
porque só existe um objeto ou uma pessoa que contratado com profissional notoriamente
atenda às necessidades da Administração; a licitação especializado;
é, portanto, inviável.
3. A contratação de profissional de qualquer setor
Existem, contudo, casos de dispensa que escapam à artístico, diretamente ou através de empresário
discricionariedade administrativa, por estarem já exclusivo, desde que consagrado pela crítica
determinados por lei; que dispensa a licitação quando especializada ou pela opinião pública;
se tratar de alienação de bens imóveis, nas seguintes
hipóteses previstas no inciso I: (a) “dação em MODALIDADES
pagamento”; (b) “doação, permitida exclusivamente A Lei no 8.666/93 prevê cinco modalidades de
para outro órgão ou entidade da administração licitação, no artigo 22: concorrência, tomada de
pública, de qualquer esfera de governo; (c) “permuta,
por outro imóvel; (d) “investidura”; (e) “venda a outro
preços, convite, concurso e leilão; foi criado o pregão apresentem, no mínimo, 3 (três) licitantes
como nova modalidade de licitação, a ser utilizada. devidamente qualificados.

CONCORRÊNCIA CONCURSO

Concorrência é a modalidade de licitação que se Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer


realiza com ampla publicidade para assegurar a interessados para escolha de trabalho técnico,
participação de quaisquer interessados que científico ou artístico, mediante a instituição de
preencham os requisitos previstos no edital (art. 22, § prêmio ou remuneração aos vencedores.
1o).
LEILÃO
Do conceito decorrem suas características básicas, que
Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer
são a ampla publicidade e a universalidade. A
interessados para a venda de bens móveis inservíveis
publicação, no caso da concorrência, deve ser feita
para a Administração ou de produtos legalmente
com no mínimo 30 dias de antecedência, salvo
apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de
quando se tratar de licitação do tipo “melhor técnica”
bens imóveis prevista no art. 19, a quem possa
ou “técnica e preço”, ou quando o contrato a ser
oferecer o maior lance, igual ou superior ao da
celebrado contemplar a modalidade de empreitada
avaliação. O leilão pode ser feito por leiloeiro oficial
integral, em que o prazo passa a ser de 45 dias.
ou servidor designado pela Administração
TOMADA DE PREÇOS
PREGÃO
Tomada de preços é a modalidade de licitação
Pregão é a modalidade de licitação para aquisição de
realizada entre interessados devidamente cadastrados
bens e serviços comuns, qualquer que seja o valor
ou que preencham os requisitos para cadastramento
estimado da contratação, em que a disputa pelo
até o terceiro dia anterior à data do recebimento das
fornecimento é feita por meio de propostas e lances
propostas, observada a necessária qualificação.
em sessão pública. O § 1o do artigo 2o da Lei no
permitir a participação de interessados que
10.520/02 permite que o pregão seja realizado por
apresentem a documentação exigida para
meio da utilização de recursos de tecnologia de
cadastramento até o terceiro dia anterior à data do
informação, nos termos de regulamentação específica.
recebimento das propostas. O registro cadastral deve
o pregão aplica-se aos órgãos da administração direta,
ser mantido pelos órgãos e entidades que realizem
aos fundos especiais, às autarquias, às fundações, às
frequentes licitações, devendo ser atualizados
empresas públicas, às sociedades de economia mista e
anualmente.
às demais entidades controladas direta ou
CONVITE indiretamente pela União. compreende uma fase
interna (chamada de fase preparatória pelo artigo 3o
Convite é a modalidade de licitação entre, no mínimo,
da Lei no10.520), que precede a abertura do
três interessados do ramo pertinente a seu objeto,
procedimento ao público, e uma fase externa, que se
cadastrados ou não, escolhidos e convidados pela
inicia com a publicação do aviso do edital de
unidade administrativa, e da qual podem participar
convocação.
também aqueles que, não sendo convidados,
estiverem cadastrados na correspondente REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÃO (RDC)
especialidade e manifestarem seu interesse com
exclusivamente para as licitações e contratos
antecedência de 24 horas da apresentação das
necessários à realização:
propostas; É a única modalidade de licitação em que a
lei não exige publicação de edital, já que a convocação I – dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos II – da Copa
se faz por escrito, com antecedência de 5 dias úteis das Confederações da Federação Internacional de
(art. 21, § 2o, IV), por meio da chamada carta-convite. Futebol Associação III – de obras de infraestrutura e
No entanto, a Lei no 8.666/93 inovou ao permitir que de contratação de serviços para os aeroportos das
participem da licitação outros interessados, desde que capitais dos Estados da Federação distantes até 350
cadastrados e manifestem seu interesse com a km das cidades sedes dos mundiais referidos nos
antecedência de até 24 horas da apresentação das incisos I e II.
propostas. “para a regularidade da licitação na
modalidade convite é imprescindível que se PROCEDIMENTO
O procedimento da licitação fica a cargo de uma decorrente de fato superveniente devidamente
Comissão, permanente ou especial, composta de, pelo comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal
menos, três membros sendo pelo menos dois deles conduta, bem como a obrigatoriedade de sua
servidores qualificados pertencentes aos quadros anulação por ilegalidade, neste último caso podendo
permanentes dos órgãos da Administração agir de ofício ou por provocação de terceiros,
responsáveis pela licitação e, no caso de pregão, a mediante parecer escrito e devidamente
licitação é realizada por um pregoeiro, que é um fundamentado.
servidor do órgão promotor do procedimento,
A observação cabível é quanto à necessidade de
escolhido e designado pela autoridade competente,
ocorrência de fato superveniente e de motivação
ficando a seu cargo a análise da aceitabilidade das
para que o procedimento da licitação possa ser
propostas e lances, a classificação, a habilitação e a
revogado por motivo de interesse público. Em caso de
adjudicação do objeto do certame ao licitante
prejuízo para o licitante, deve o mesmo ser
vencedor. O mandato da Comissão é de até um ano,
indenizado, desde que devidamente comprovado.
vedada a recondução da totalidade de seus membros
para a mesma comissão no período subsequente. anulação do procedimento não gera obrigação de
indenizar, ressalvado o disposto no parágrafo único do
No caso de concurso, o julgamento deve ser feito por
artigo 59, ou seja, ressalvada a hipótese da ilegalidade
comissão especial integrada por pessoas de reputação
ser imputável à própria Administração; nesse caso,
ilibada e reconhecido conhecimento da matéria, não
deverá ela promover a responsabilidade de quem lhe
havendo necessidade de serem servidores públicos.
deu causa.
o procedimento da licitação será iniciado com a
O § 2o do artigo 49 acrescenta que a nulidade do
abertura do processo administrativo, devidamente
procedimento induz a do contrato, ficando a
autuado, protocolado e numerado, contendo a
Administração obrigada a “indenizar” o contratado
autorização respectiva, a indicação sucinta de seu
pelo que este houver executado até a data em que ela
objeto e do recurso próprio para a despesa, e ao qual
for declarada e por outros prejuízos regularmente
serão juntados oportunamente todos os atos da
comprovados, contanto que não lhe seja imputável
administração e dos licitantes, como edital, propostas,
(art. 49, § 2o, combinado com art. 59, parágrafo
atas, pareceres, recursos etc.
único).
EDITAL

O edital é o ato pelo qual a Administração divulga a


abertura da concorrência, fixa os requisitos para
participação, define o objeto e as condições básicas do
contrato e convida a todos os interessados para que
apresentem suas propostas. Em síntese, o edital é o
ato pelo qual a Administração faz uma oferta de
contrato a todos os interessados que atendam às
exigências nele estabelecidas.

HABILITAÇÃO

A segunda fase do procedimento da licitação é a da


habilitação, em que há a abertura dos envelopes
“documentação” e sua apreciação, Os documentos
exigíveis para a habilitação estão indicados no artigo
27 da Lei no 8.666/93 e somente podem referir-se à
habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação
econômico-financeira, regularidade fiscal e
trabalhista e cumprimento do disposto no inciso
XXXIII do artigo 7o da Constituição Federal.

ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO
O artigo 49 da Lei no 8.666/93 prevê a possibilidade
de revogação da licitação por interesse público
CONTRATOS 7. presença de cláusulas exorbitantes;

ADMINISTRATIVOS 8. mutabilidade.

PRESENÇA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO


CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO PODER PÚBLICO

A expressão contratos da Administração é utilizada, Nos contratos administrativos, a Administração


em sentido amplo, para abranger todos os contratos aparece com uma série de prerrogativas que garantem
celebrados pela Administração Pública, seja sob a sua posição de supremacia sobre o particular; elas
regime de direito público, seja sob regime de direito vêm expressas precisamente por meio das chamadas
privado. E a expressão contrato administrativo é cláusulas exorbitantes ou de privilégio ou de
reservada para designar tão somente os ajustes que a prerrogativas, adiante analisadas.
Administração, nessa qualidade, celebra com pessoas FINALIDADE PÚBLICA
físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, para a
consecução de fins públicos, segundo regime jurídico é sempre o interesse público que a Administração tem
de direito público. que ter em vista, sob pena de desvio de poder.

Costuma-se dizer que, nos contratos de direito OBEDIÊNCIA À FORMA PRESCRITA EM LEI
privado, a Administração se nivela ao particular,
Para os contratos celebrados pela Administração,
caracterizando-se a relação jurídica pelo traço da
encontram-se na lei inúmeras normas referentes à
horizontalidade e que, nos contratos administrativos,
forma; esta é essencial, não só em benefício do
a Administração age como poder público, com todo o
interessado, como da própria Administração, para fins
seu poder de império sobre o particular,
de controle da legalidade.
caracterizando-se a relação jurídica pelo traço da
verticalidade. somente são permitidos contratos verbais para
pequenas compras de pronto pagamento, assim
os contratos administrativos enquadram-se no
entendidas aquelas de valor não superior a 5% (cinco
conceito geral de contrato como acordo de vontades
por cento) do limite estabelecido no artigo 23
gerador de direitos e obrigações recíprocos.
2. deve ser publicado, resumidamente, seu extrato, no
No contrato administrativo, existe uma oferta feita,
Diário Oficial, no prazo máximo de 20 dias a contar da
em geral, por meio do edital de licitação, a toda a
data da assinatura (art. 61, parágrafo único); antes
coletividade; dentre os interessados que a aceitam e
disso, o contrato não adquire eficácia; se ultrapassado
fazem a sua proposta (referente ao equilíbrio
o prazo de 20 dias, sem publicação do extrato, o ajuste
econômico do contrato), a Administração seleciona a
deixa de adquirir efeitos e perde, portanto, sua
que apresenta as condições mais convenientes para a
validade.
celebração do ajuste. Forma-se, assim, a vontade
contratual unitária (primeiro elemento). PROCEDIMENTO LEGAL

Os interesses e finalidades visados pela Administração A lei estabelece determinados procedimentos


e pelo contratado são contraditórios e opostos. obrigatórios para a celebração de contratos e que
podem variar de uma modalidade para outra,
CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS
compreendendo medidas como autorização
ADMINISTRATIVOS
legislativa, avaliação, motivação, autorização pela
1. presença da Administração Pública como Poder autoridade competente, indicação de recursos
Público; orçamentários e licitação.

2. finalidade pública; CONTRATO DE ADESÃO

3. obediência à forma prescrita em lei; Todas as cláusulas dos contratos administrativos são
fixadas unilateralmente pela Administração. Costuma-
4. procedimento legal; se dizer que, pelo instrumento convocatório da
5. natureza de contrato de adesão; licitação, o poder público faz uma oferta a todos os
interessados, fixando as condições em que pretende
6. natureza intuitu personae; contratar; a apresentação de propostas pelos licitantes
equivale à aceitação da oferta feita pela 1. quando houver modificação do projeto ou das
Administração. especificações, para melhor adequação técnica aos
seus objetivos;
Mesmo quando o contrato não é precedido de
licitação, é a Administração que estabelece, 2. quando necessária a modificação do valor
previamente, as cláusulas contratuais, vinculada que contratual em decorrência de acréscimo ou
está às leis, regulamentos e ao princípio da diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites
indisponibilidade do interesse público. permitidos nos parágrafos do mesmo dispositivo.

NATUREZA INTUITU PERSONAE A redação do dispositivo permite falar em duas


modalidades de alteração unilateral: a primeira é
Todos os contratos para os quais a lei exige licitação
qualitativa, porque ocorre quando há necessidade de
são firmados intuitu personae, ou seja, em razão de
alterar o próprio projeto ou as suas especificações; a
condições pessoais do contratado, apuradas no
segunda é quantitativa, porque envolve acréscimo ou
procedimento da licitação. Não é por outra razão que
diminuição quantitativa do objeto.
a Lei no 8.666/93, no artigo 78, VI, veda a
subcontratação, total ou parcial, do seu objeto, a Ao poder de alteração unilateral, conferido à
associação do contratado com outrem, a cessão ou Administração, corresponde o direito do contratado,
transferência, total ou parcial; essas medidas somente de ver mantido o equilíbrio econômico-financeiro do
são possíveis se expressamente previstas no edital da contrato, assim considerada a relação que se
licitação e no contrato. estabelece, no momento da celebração do ajuste,
entre o encargo assumido pelo contratado e a
PRESENÇA DAS CLÁUSULAS EXORBITANTES
prestação pecuniária assegurada pela Administração.
São cláusulas exorbitantes aquelas que não seriam
RESCISÃO UNILATERAL
comuns ou que seriam ilícitas em contrato celebrado
entre particulares, por conferirem prerrogativas a uma 1. inadimplemento com culpa abrangendo hipóteses
das partes (a Administração) em relação à outra; elas como não cumprimento ou cumprimento irregular das
colocam a Administração em posição de supremacia cláusulas contratuais, lentidão, atraso injustificado,
sobre o contratado. paralisação, subcontratação total ou parcial, cessão,
transferência (salvo se admitidas no edital e no
EXIGÊNCIA DE GARANTIA
contrato), desatendimento de determinações
A faculdade de exigir garantia nos contratos de obras, regulares da autoridade designada para acompanhar e
serviços e compras está prevista no artigo 56, § 1o, da fiscalizar a execução do contrato, cometimento
Lei no 8.666/93, podendo abranger as seguintes reiterado de faltas,
modalidades: caução em dinheiro ou títulos da dívida
2. inadimplemento sem culpa, que abrange situações
pública (inciso I), seguro-garantia (inciso II), e fiança
que caracterizem desaparecimento do sujeito, sua
bancária (inciso III). A lei atual permite que a exigência
insolvência ou comprometimento da execução do
de garantia seja feita, já na licitação, “para efeito de
contrato
garantia ao adimplemento do contrato a ser
ulteriormente celebrado”. A garantia, quando exigida falência, concordata, instauração de insolvência civil,
do contratado, é devolvida após a execução do dissolução da sociedade, falecimento do contratado,
contrato; em caso de rescisão contratual, por ato alteração social ou modificação da finalidade ou da
atribuído ao contratado, a Administração pode reter a estrutura da empresa;
garantia para ressarcir-se dos prejuízos e dos valores
3. razões de interesse público
das multas e indenizações a ela devidos.
4. caso fortuito ou de força maior
ALTERAÇÃO UNILATERAL
Nas duas primeiras hipóteses, a Administração nada
para possibilitar a melhor adequação às finalidades de
deve ao contratado, já que a rescisão se deu por atos a
interesse público;
ele mesmo atribuídos; o contratado é que fica sujeito
a possibilidade de alteração unilateral nos seguintes às consequências do inadimplemento; se ele for
casos: culposo, cabem o ressarcimento dos prejuízos, as
sanções administrativas, assunção do objeto do
contrato pela Administração, e a perda da garantia.
Nas duas últimas hipóteses, de rescisão por motivo de enriquecimento ilícito.6 Além disso, também não a
interesse público, ou ocorrência de caso fortuito ou de exonera do poder-dever de apurar a eventual
força maior, a Administração fica obrigada a ressarcir o responsabilidade dos seus servidores pela ocorrência
contratado dos prejuízos regularmente comprovados do vício que levou à invalidação do contrato.
e, ainda, a devolver a garantia, pagas as prestações
RETOMADA DO OBJETO
devidas até a data da rescisão e o custo da
desmobilização. têm por objetivo assegurar a continuidade da
execução do contrato, sempre que a sua paralisação
FISCALIZAÇÃO
possa ocasionar prejuízo ao interesse público e,
Trata-se de prerrogativa do poder público, também principalmente, ao andamento de serviço público
prevista no artigo 58, III, e disciplinada mais essencial; trata-se, neste último caso, de aplicação do
especificamente no artigo 67, que exige seja a princípio da continuidade do serviço público.
execução do contrato acompanhada e fiscalizada por
Essas medidas, que somente são possíveis nos casos
um representante da Administração, especialmente
de rescisão unilateral, são as seguintes:
designado, permitida a contratação de terceiros para
assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a “I – assunção imediata do objeto do contrato, no
essa atribuição. O não atendimento das estado e local em que se encontrar, por ato próprio da
determinações da autoridade fiscalizadora enseja Administração;
rescisão unilateral do contrato.
II – ocupação e utilização do local, instalações,
APLICAÇÃO DE PENALIDADES equipamentos, material e pessoal empregados na
execução do contrato, necessários à sua continuidade,
A inexecução total ou parcial do contrato dá à
na forma do inciso V do art. 58 desta lei;
Administração a prerrogativa de aplicar sanções de
natureza administrativas. III – execução da garantia contratual, para
ressarcimento da Administração e dos valores das
“I – advertência;
multas e indenizações a ela devidos;
II – multa, na forma prevista no instrumento
IV – retenção dos créditos decorrentes do contrato até
convocatório ou no contrato;
o limite dos prejuízos causados à Administração.”
III – suspensão temporária de participação em
No direito administrativo, o particular não pode
licitação e impedimento de contratar com a
interromper a execução do contrato, em decorrência
Administração, por prazo não superior a 2 anos;
dos princípios da continuidade do serviço público e da
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou supremacia do interesse público sobre o particular;
contratar com a Administração Pública, enquanto em regra, o que ele deve fazer é requerer,
perdurarem os motivos determinantes da punição ou administrativa ou judicialmente, a rescisão do
até que seja promovida a reabilitação, perante a contrato e pagamento de perdas e danos, dando
própria autoridade que aplicou a penalidade, que será continuidade à sua execução, até que obtenha ordem
concedida sempre que o contratado ressarcir a da autoridade competente (administrativa ou judicial)
Administração pelos prejuízos resultantes e após para paralisá-lo.
decorrido o prazo da sanção aplicada com base no
MUTABILIDADE
inciso anterior.” a pena de suspensão não pode
ultrapassar dois anos. Da aplicação das penas de Um dos traços característicos do contrato
advertência, multa e suspensão temporária cabe administrativo é a sua mutabilidade, que, segundo
recurso, no prazo de cinco dias úteis a contar da muitos doutrinadores, decorre de determinadas
intimação do ato, dirigido à autoridade superior, por cláusulas exorbitantes, ou seja, das que conferem à
intermédio daquela que aplicou a pena; Administração o poder de, unilateralmente, alterar as
cláusulas regulamentares ou rescindir o contrato antes
No caso de declaração de inidoneidade, cabe pedido
do prazo estabelecido, por motivo de interesse
de reconsideração à autoridade que aplicou a pena,
público. o equilíbrio do contrato administrativo seja
no prazo de 10 dias úteis da intimação do ato.
essencialmente dinâmico; ele pode romper-se muito
A anulação do contrato não exonera a Administração mais facilmente do que no direito privado.
Pública do dever de pagar o contratado pela parte do
contrato já executada, sob pena de incidir em
três tipos de áleas ou riscos que o particular enfrenta essa prerrogativa à Administração; trata-se de
quando contrata com a Administração: responsabilidade contratual.

1. álea ordinária ou empresarial, que está presente ÁLEA ADMINISTRATIVA: FATO DA ADMINISTRAÇÃO
em qualquer tipo de negócio; é um risco que todo
O fato da Administração distingue-se do fato do
empresário corre, como resultado da própria
príncipe, pois, enquanto o primeiro se relaciona
flutuação do mercado; sendo previsível, por ele
diretamente com o contrato, o segundo é praticado
responde o particular;
pela autoridade, não como “parte” no contrato, mas
2. álea administrativa, que abrange três modalidades: como autoridade pública que, como tal, acaba por
praticar um ato que, reflexamente, repercute sobre o
a) uma decorrente do poder de alteração unilateral
contrato.
do contrato administrativo, para atendimento do
interesse público; por ela responde a Administração, O fato da Administração compreende qualquer
incumbindo-lhe a obrigação de restabelecer o conduta ou comportamento da Administração que,
equilíbrio voluntariamente rompido; como parte contratual, pode tornar impossível a
execução do contrato ou provocar seu desequilíbrio
b) a outra corresponde ao chamado fato do príncipe,
econômico. O fato da Administração pode provocar
que seria um ato de autoridade, não diretamente
uma suspensão da execução do contrato,
relacionado com o contrato, mas que repercute
transitoriamente, ou pode levar a uma paralisação
indiretamente sobre ele; nesse caso, a Administração
definitiva, tornando escusável o descumprimento do
também responde pelo restabelecimento do equilíbrio
contrato pelo contratado e, portanto, isentando-o das
rompido;
sanções administrativas que, de outro modo, seriam
c) a terceira constitui o fato da Administração, cabíveis. Pode, também, provocar um desequilíbrio
entendido como “toda conduta ou comportamento econômico-financeiro, dando ao contratado o direito a
desta que torne impossível, para o cocontratante sua recomposição.
particular, a execução do contrato”, “toda ação ou
ÁLEA ECONÔMICA: TEORIA DA IMPREVISÃO
omissão do Poder Público que, incidindo direta e
especificamente sobre o contrato, retarda, agrava ou Álea econômica, que dá lugar à aplicação da teoria da
impede a sua execução; imprevisão, é todo acontecimento externo ao
contrato, estranho à vontade das partes, imprevisível
3. álea econômica, que corresponde a circunstâncias
e inevitável, que causa um desequilíbrio muito
externas ao contrato, estranhas à vontade das partes,
grande, tornando a execução do contrato
imprevisíveis, excepcionais, inevitáveis, que causam
excessivamente onerosa para o contratado.
desequilíbrio muito grande no contrato, dando lugar à
aplicação da teoria da imprevisão; a Administração RESCISÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO
Pública, em regra, responde pela recomposição do
A Lei no 8.666/93 prevê, no artigo 79, três tipos de
equilíbrio econômico-financeiro.
rescisão: unilateral, amigável e judicial.
ÁLEA ADMINISTRATIVA: ALTERAÇÃO UNILATERAL DO
As duas últimas são isentas de dificuldade. A amigável
CONTRATO
ou administrativa é feita por acordo entre as partes,
O poder de alteração unilateral do contrato não é sendo aceitável quando haja conveniência para a
ilimitado. pois ele é delimitado por dois princípios Administração. A judicial normalmente é requerida
básicos a variação do interesse público e o equilíbrio pelo contratado, quando haja inadimplemento pela
econômico-financeiro do contrato”. prevê a Administração, já que ele não pode paralisar a
prerrogativa de modificação unilateral “para melhor execução do contrato nem fazer a rescisão unilateral.
adequação às finalidades de interesse público”. E o
A rescisão amigável e a judicial devem ser requeridas
artigo 65, § 6o, obriga a Administração, nessa
nos casos abrangendo os chamados fatos da
hipótese, a “restabelecer, por aditamento, o
Administração: supressão, por parte da
equilíbrio econômico-financeiro inicial”.
Administração, de obras, serviços ou compras,
ÁLEA ADMINISTRATIVA: FATO DO PRÍNCIPE acarretando modificação do valor inicial do contrato,
além do limite permitido suspensão de sua execução,
no caso de alteração unilateral de cláusulas
por ordem escrita da Administração, por prazo
contratuais, a responsabilidade decorre do próprio
superior a 120 dias, salvo em caso de calamidade
contrato, ou seja, da cláusula exorbitante que confere
pública, grave perturbação da ordem interna ou existente na permissão e não na concessão. Com
guerra, ou ainda por repetidas suspensões que relação à autorização de serviço público, constitui ato
totalizam o mesmo prazo, independentemente do unilateral, discricionário e precário pelo qual o poder
pagamento obrigatório de indenizações pelas público delega a execução de um serviço público de
sucessivas e contratualmente imprevistas sua titularidade, para que o particular o execute
desmobilizações e mobilizações e outras previstas, predominantemente em seu próprio benefício.
assegurado ao contratado, nesses casos, o direito de
PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS
optar pela suspensão do cumprimento das obrigações
até que seja normalizada a situação; atraso superior a a parceria público-privada é o contrato administrativo
90 dias dos pagamentos devidos pela Administração de concessão que tem por objeto (a) a execução de
decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou serviço público, precedida ou não de obra pública,
parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em remunerada mediante tarifa paga pelo usuário e
caso de calamidade pública, grave perturbação da contraprestação pecuniária do parceiro público, ou (b)
ordem interna. a prestação de serviço de que a Administração Pública
seja a usuária direta ou indireta, com ou sem execução
MODALIDADES DE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
de obra e fornecimento e instalação de bens,
Dentre os contratos administrativos, sujeitos ao direito mediante contraprestação do parceiro público.
público, compreendem-se a concessão de serviço
CONCESSÃO PATROCINADA
público, a de obra pública, a de uso de bem público, a
concessão patrocinada, a concessão administrativa (as é possível definir concessão patrocinada como o
duas últimas como formas de parcerias público- contrato administrativo pelo qual a Administração
privadas), o contrato de prestação ou locação de Pública (ou o parceiro público) delega a outrem (o
serviços, o de obra pública, o de fornecimento, o de concessionário ou parceiro privado) a execução de um
empréstimo público, o de função pública. serviço público, precedida ou não de obra pública,
para que o execute, em seu próprio nome, mediante
CONCESSÃO
tarifa paga pelo usuário, acrescida de contraprestação
pode-se definir concessão, em sentido amplo, como o pecuniária paga pelo parceiro público ao parceiro
contrato administrativo pelo qual a Administração privado.
confere ao particular a execução remunerada de
CONCESSÃO ADMINISTRATIVA
serviço público, de obra pública ou de serviço de que
a Administração Pública seja a usuária direta ou concessão administrativa constitui-se em um misto de
indireta, ou lhe cede o uso de bem público, para que empreitada (porque o serviço, mesmo que prestado a
o explore pelo prazo e nas condições regulamentares terceiros, é remunerado pela própria Administração,
e contratuais. como se deduz do artigo 2o, § 3o) e de concessão de
serviço público (porque o serviço prestado ou não a
CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
terceiros – os usuários – está sujeito a algumas
Concessão de serviço público é o contrato normas da Lei no 8.987, sejam as relativas aos
administrativo pelo qual a Administração Pública encargos e prerrogativas do poder concedente, sejam
delega a outrem a execução de um serviço público, as relativas aos encargos do concessionário).
para que o execute em seu próprio nome, por sua
CONCESSÃO DE OBRA PÚBLICA
conta e risco, assegurando-lhe a remuneração
mediante tarifa paga pelo usuário ou outra forma de Concessão de obra pública é o contrato administrativo
remuneração decorrente da exploração do serviço. pelo qual o Poder Público transfere a outrem a
execução de uma obra pública, para que a execute por
A permissão de serviço público é, tradicionalmente,
sua conta e risco, mediante remuneração paga pelos
considerada ato unilateral, discricionário e precário,
beneficiários da obra ou obtida em decorrência da
pelo qual o Poder Público transfere a outrem a
exploração dos serviços ou utilidades que a obra
execução de um serviço público, para que o exerça em
proporciona.
seu próprio nome e por sua conta e risco, mediante
tarifa paga pelo usuário. CONCESSÃO DE USO
A diferença está na forma de constituição, pois a É o contrato administrativo pelo qual a Administração
concessão decorre de acordo de vontades e, a Pública faculta a terceiros a utilização privativa de bem
permissão, de ato unilateral; e na precariedade público, para que a exerça conforme a sua destinação.
CONTRATOS DE OBRA PÚBLICA E DE PRESTAÇÃO DE 6. a execução da obra ou serviço pode ser feita
SERVIÇOS diretamente, pelos próprios órgãos e entidades da
Administração, e indiretamente, por terceiros
A Lei no 8.666/93, no artigo 6o, I e II, define obra
contratados para esse fim
pública como toda “construção, reforma, fabricação,
recuperação ou ampliação, realizada por execução a) empreitada por preço global – quando se contrata
direta ou indireta”; e serviço como “toda atividade a execução da obra ou do serviço, por preço certo e
destinada a obter determinada utilidade de interesse total;
para a Administração, tais como: demolição, conserto,
b) empreitada por preço unitário – quando se
instalação, montagem, operação, conservação,
contrata a execução da obra ou do serviço, por preço
reparação, adaptação, manutenção.
certo de unidades determinadas;
A Lei no 8.666/93 estabelece várias normas comuns
c) tarefa – quando se ajusta mão de obra para
ao contrato de obra pública e ao de serviço: 1.
pequenos trabalhos, por preço certo, com ou sem
observância da sequência estabelecida no artigo 7o:
fornecimento de materiais;
projeto básico (definido no art. 6o, IX), projeto
executivo (art. 6o, X) e execução; d) empreitada integral – quando se contrata um
empreendimento em sua integralidade,
2. exigência de só poderem ser objeto de licitação
compreendendo todas as etapas das obras, serviços e
quando: “I – houver projeto básico aprovado pela
instalações necessárias, sob inteira responsabilidade
autoridade competente e disponível para exame dos
da contratada até sua entrega ao contratante em
interessados, em participar do processo licitatório; II –
condições de entrada em operação, atendidos os
existir orçamento detalhado em planilhas que
requisitos técnicos e legais para sua utilização em
expressem a composição de todos os seus custos
condições de segurança estrutural e operacional e
unitários; III – houver previsão de recursos
com as características adequadas às finalidades para
orçamentários que assegurem o pagamento das
que foi contratada.
obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem
executados no exercício financeiro em curso, de A única conclusão segura que se tira desse inciso é a
acordo com o respectivo cronograma; IV – o produto de que os contratos de obra pública e de serviço
dela esperado estiver contemplado nas metas podem ser executados por empreitada e tarefa.
estabelecidas no Plano Plurianual
EMPREITADA
3. proibição, prevista no § 3o do artigo 7o, de incluir
no objeto da licitação a obtenção de recursos A empreitada é contrato que existe no direito privado,
financeiros para sua execução, qualquer que seja sua disciplinado pelo Código Civil, e no direito
origem, exceto nos casos de empreendimentos administrativo, regido pela Lei no 8.666/93. O
executados e explorados sob regime de concessão conteúdo é o mesmo nas duas hipóteses; a diferença
existe quanto ao regime jurídico, já que, na
4. programação da execução das obras e serviços em empreitada celebrada pela Administração, estão
sua totalidade, previstos seus custos atual e final e presentes as características dos contratos
considerados os prazos de sua execução administrativos, com todas as cláusulas exorbitantes já
mencionadas.
5. proibição de participar da licitação ou da execução
da obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles Existe empreitada quando a Administração comete ao
necessários, I – o autor do projeto, básico ou particular a execução da obra ou serviço, para que a
executivo, pessoa física ou jurídica; II – empresa, execute por sua conta e risco, mediante remuneração
isoladamente ou em consórcio, responsável pela prefixada. Quanto à forma de remuneração, ela pode
elaboração do projeto básico ou executivo, III – ser por preço global (quando o pagamento é total,
servidor ou dirigente de órgão ou entidade abrangendo toda a obra ou serviço) e por preço
contratante ou responsável pela licitação; unitário (em que o trabalho é executado
paulatinamente e pago por unidade de execução,
6. a execução da obra ou serviço pode ser feita
como, por exemplo, por metro quadrado ou por
diretamente, pelos próprios órgãos e entidades da
quilômetro).
Administração, e indiretamente, por terceiros
contratados para esse fim.
os regimes de execução são a empreitada por preço semoventes necessários à execução de obras ou
global, a empreitada por preço unitário, a tarefa e a serviços.
empreitada integral.
Fornecimento parcelado, como o próprio nome
No contrato de empreitada não existe relação de indica, é aquele que se faz por partes. Por exemplo,
subordinação entre empreiteiro e Administração quando a Administração adquire quantidade de bens,
Pública; ele não é empregado do Estado e responde, como veículos, máquinas, mesas, e a entrega se faz
perante este, pela má execução da obra ou serviço. parceladamente.

Perante terceiros, a responsabilidade é do Estado o Fornecimento contínuo é aquele que se faz por tempo
Estado responde objetivamente, mas tem direito de determinado, para entrega de bens de consumo
regresso contra aquele a quem transferiu a execução habitual ou permanente, como, por exemplo, papel,
da obra ou serviço, desde que este tenha agido com graxa, tinta, combustível etc. Trata-se de materiais
culpa. na concessão de serviço público, a necessários à realização de obras públicas ou à
responsabilidade objetiva é da concessionária, execução de serviços públicos, de modo que a
respondendo o Estado apenas subsidiariamente ou continuidade destes fica dependendo do
solidariamente, neste último caso se houver má fornecimento.
escolha da concessionária ou omissão do poder de
fiscalização sobre o serviço concedido. PROGRAMA DE PARCERIAS DE
INVESTIMENTOS – PPI
Na empreitada, a remuneração é paga pelo poder destinado ao fortalecimento da interação entre o
público, enquanto na concessão a remuneração é Estado e a iniciativa privada por meio da celebração
paga pelo usuário ou outras fontes de receita de contratos de parceria para a execução de
decorrentes da exploração do serviço. empreendimentos públicos de infraestrutura e de
ADMINISTRAÇÃO CONTRATADA outras medidas de desestatização, PPI tem aplicação
apenas à União.
é o contrato administrativo em que a Administração
defere a terceiro a incumbência de orientar e CONTRATO DE GESTÃO
superintender a execução da obra ou serviço, O contrato de gestão tem sido utilizado como forma
mediante pagamento de importância proporcional ao de ajuste entre, de um lado, a Administração Pública
seu custo total. Direta e, de outro, entidades da Administração
Indireta ou entidades privadas que atuam
O particular contratado, que não tem vínculo paralelamente ao Estado e que poderiam ser
empregatício com a Administração contratante, entra enquadradas, por suas características, como entidades
com a direção dos serviços, com a responsabilidade paraestatais. O objetivo do contrato é o de
técnica, com o know-how, com a técnica de execução. estabelecer determinadas metas a serem alcançadas
O administrador (ou régisseur) não suporta os riscos pela entidade em troca de algum benefício outorgado
do empreendimento, que correm por conta da pelo Poder Público. O contrato é estabelecido por
Administração Pública. tempo determinado, ficando a entidade sujeita a
controle de resultado para verificação do
TAREFA cumprimento das metas estabelecidas.
Tarefa é o contrato administrativo que tem por objeto CONVÊNIO
a mão de obra para pequenos trabalhos, mediante O convênio não constitui modalidade de contrato,
pagamento por preço certo, com ou sem embora seja um dos instrumentos de que o Poder
fornecimento de material. Público se utiliza para associar-se com outras
Normalmente é utilizado para trabalhos em que o entidades públicas ou com entidades privadas.
pequeno valor justifica a dispensa de licitação e o Define-se o convênio como forma de ajuste entre o
termo de contrato; a forma normalmente usada é a Poder Público e entidades públicas ou privadas para a
“ordem de execução de serviço”. realização de objetivos de interesse comum, mediante
CONTRATO DE FORNECIMENTO mútua colaboração. no contrato, os interesses são
opostos e contraditórios, enquanto no convênio são
Fornecimento é o contrato administrativo pelo qual a
recíprocos; Quanto à exigência de licitação para a
Administração Pública adquire bens móveis e
celebração de convênios, ela não se aplica, pois neles 4. o reconhecimento de privilégios para a
não há viabilidade de competição; Administração, como o de encampação, o de uso
compulsório dos recursos humanos e materiais da
CONSÓRCIO ADMINISTRATIVO
empresa contratada, quando necessário para dar
consórcio administrativo é o acordo de vontades entre continuidade à execução do serviço.
duas ou mais pessoas jurídicas públicas da mesma
CLASSIFICAÇÃO
natureza e mesmo nível de governo ou entre
entidades da administração indireta para a
consecução de objetivos comuns.
1. Serviços públicos próprios e impróprios.
CONVOCAÇÃO PARA ASSINATURA DO CONTRATO
serviços públicos próprios são aqueles que,
o interessado, convocado para assinar o termo de atendendo a necessidades coletivas, o Estado assume
contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente, como seus e os executa diretamente (por meio de
deverá observar os prazos e condições estabelecidos, seus agentes) ou indiretamente (por meio de
sob pena de decair do direito à contratação, sem concessionários e permissionários). E serviços públicos
prejuízo das sanções previstas em lei. o licitante que, impróprios são os que, embora atendendo também a
convocado no prazo de validade da sua proposta, não necessidades coletivas, como os anteriores, não são
celebrar o contrato, fica impedido de licitar e contratar assumidos nem executados pelo Estado, seja direta ou
com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, indiretamente, mas apenas por ele autorizados,
pelo prazo de cinco anos, sem prejuízo das multas regulamentados e fiscalizados; eles correspondem a
previstas no instrumento convocatório e no contrato, atividades privadas e recebem impropriamente o
bem como das demais cominações legais. nome de serviços públicos.

2. Quanto ao objeto, os serviços públicos podem ser


7) Serviços Públicos. administrativos, comerciais ou industriais e sociais.
definição de serviço público como toda atividade
material que a lei atribui ao Estado para que a exerça Serviços administrativos “são os que a Administração
diretamente ou por meio de seus delegados, com o Pública executa para atender às suas necessidades
objetivo de satisfazer concretamente às necessidades internas ou preparar outros serviços que serão
coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente prestados ao público, Serviço público comercial ou
público. industrial é aquele que a Administração Pública
executa, direta ou indiretamente, para atender às
Os três elementos que compõem a definição – necessidades coletivas de ordem econômica. Serviço
subjetivo, material e formal – permanecem, porém, público social é o que atende a necessidades coletivas
com sensíveis diferenças em relação à sua concepção em que a atuação do Estado é essencial, mas que
original. convivem com a iniciativa privada, tal como ocorre
PRINCÍPIOS com os serviços de saúde, educação, previdência,
cultura, meio ambiente;
O princípio da continuidade do serviço público, em
decorrência do qual o serviço público não pode parar, FORMAS DE GESTÃO
tem aplicação especialmente com relação aos “incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
contratos administrativos e ao exercício da função diretamente ou sob regime de concessão ou
pública. permissão, sempre através de licitação, a prestação de
No que concerne aos contratos, o princípio traz como serviços públicos. Quando a Constituição fala em
consequências: execução direta, tem-se que entender que abrange a
execução pela Administração Pública direta
1. a imposição de prazos rigorosos ao contraente; (constituída por órgãos sem personalidade jurídica) e
2. a aplicação da teoria da imprevisão, para recompor pela Administração Pública indireta referida em vários
o equilíbrio econômico-financeiro do contrato e dispositivos da Constituição, em especial no artigo 37,
permitir a continuidade do serviço; caput, e que abrange entidades com personalidade
jurídica própria, como as autarquias, fundações
3. a inaplicabilidade da exceptio non adimpleti públicas, sociedades de economia mista e empresas
contractus contra a Administração (hoje abrandada, públicas.
conforme demonstrado no item 8.6.7.8);
Essas são as formas tradicionais de gestão dos serviços 1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime
públicos. No entanto, outras formas foram surgindo estatutário e ocupantes de cargos públicos;
no direito positivo brasileiro, como as parcerias
2. os empregados públicos, contratados sob o regime
público-privadas, os contratos de gestão com as
da legislação trabalhista e ocupantes de emprego
organizações sociais, as franquias. Também não se
público;
pode deixar de lado os consórcios públicos e
convênios de cooperação. 3. os servidores temporários, contratados por tempo
determinado para atender à necessidade temporária
A Administração Pública não é inteiramente livre para
de excepcional interesse público (art. 37, IX, da
escolher a forma de gestão. Quando se tratar de
Constituição); eles exercem função, sem estarem
execução por meio de entidades da Administração
vinculados a cargo ou emprego público.
Indireta, há necessidade de lei,.
PARTICULARES EM COLABORAÇÃO COM O PODER
8) Servidores Públicos PÚBLICO
as pessoas que prestam serviços, com vínculo
Nesta categoria entram as pessoas físicas que prestam
empregatício, à Administração Pública Direta,
serviços ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou
autarquias e fundações públicas.
sem remuneração. Podem fazê-lo sob títulos diversos,
Isso significa que “servidor público” é expressão que compreendem:
empregada ora em sentido amplo, para designar todas
1. delegação do Poder Público, como se dá com os
as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às
empregados das empresas concessionárias e
entidades da Administração Indireta, com vínculo
permissionárias de serviços públicos, os que exercem
empregatício, ora em sentido menos amplo, que exclui
serviços notariais e de registro.
os que prestam serviços às entidades com
personalidade jurídica de direito privado. 2. mediante requisição, nomeação ou designação
para o exercício de funções públicas relevantes; é o
AGENTES PÚBLICOS
que se dá com os jurados, os convocados para
Agente público é toda pessoa física que presta prestação de serviço militar ou eleitoral, os
serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da comissários de menores, os integrantes de comissões,
Administração Indireta. grupos de trabalho etc.; também não têm vínculo
empregatício e, em geral, não recebem remuneração;
pode-se dizer que são quatro as categorias de agentes
públicos: 3. como gestores de negócio que, espontaneamente,
assumem determinada função pública em momento
1. agentes políticos; de emergência, como epidemia, incêndio, enchente
2. servidores públicos; etc.

3. militares; e 9) Redação Oficial


4. particulares em colaboração com o Poder Público. redação oficial é a maneira pela qual o Poder Público
redige comunicações oficiais e atos normativos. É que
AGENTES POLÍTICOS sua finalidade básica – comunicar com objetividade e
agentes políticos são os componentes do Governo nos máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso que
seus primeiros escalões, investidos em cargos, se faz da língua, de maneira diversa daquele da
funções, mandatos ou comissões, por nomeação, literatura, do texto jornalístico, da correspondência
eleição, designação ou delegação para o exercício de particular etc.
atribuições constitucionais”.
Atributos da redação oficial
SERVIDORES PÚBLICOS A redação oficial deve caracterizar-se por:

São servidores públicos, em sentido amplo, as pessoas  clareza e precisão;


físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades  objetividade;
da Administração Indireta, com vínculo empregatício e
mediante remuneração paga pelos cofres públicos.  concisão;

Compreendem:  coesão e coerência;


 impessoalidade; O atributo da precisão complementa a clareza e
 formalidade e padronização; e caracteriza-se por:
 uso da norma padrão da língua portuguesa. a) articulação da linguagem comum ou técnica para a
Clareza e precisão perfeita compreensão da ideia veiculada no texto;
CLAREZA b) manifestação do pensamento ou da ideia com as
A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia
oficial. Pode-se definir como claro aquele texto que com propósito meramente estilístico; e
possibilita imediata compreensão pelo leitor. Não se c) escolha de expressão ou palavra que não confira
concebe que um documento oficial ou um ato duplo sentido ao texto.
normativo de qualquer natureza seja redigido de É indispensável, também, a releitura de todo o texto
forma obscura, que dificulte ou impossibilite sua redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos
compreensão. A transparência é requisito do próprio obscuros provém principalmente da falta da releitura,
Estado de Direito: é inaceitável que um texto oficial ou o que tornaria possível sua correção. Na revisão de um
um ato normativo não seja entendido pelos cidadãos. expediente, deve-se avaliar se ele será de fácil
O princípio constitucional da publicidade não se compreensão por seu destinatário.
esgota na mera publicação do texto, estendendo-se, Objetividade
ainda, à necessidade de que o texto seja claro. Ser objetivo é ir diretamente ao assunto que se deseja
Para a obtenção de clareza, sugere-se: abordar, sem voltas e sem redundâncias. Para
conseguir isso, é fundamental que o redator saiba de
a) utilizar palavras e expressões simples, em seu antemão qual é a ideia principal e quais são as
sentido comum, salvo quando o texto versar sobre secundárias.

assunto técnico, hipótese em que se utilizará Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe
em todo texto de alguma complexidade: as
nomenclatura própria da área;
fundamentais e as secundárias. Essas últimas podem
b) usar frases curtas, bem estruturadas; apresentar as esclarecer o sentido daquelas, detalhá-las,
orações na ordem direta e evitar intercalações exemplificá-las; mas existem também ideias
excessivas. Em certas ocasiões, para evitar secundárias que não acrescentam informação alguma
ambiguidade, sugere-se a adoção da ordem inversa da ao texto, nem têm maior relação com as
oração;
fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas, o
c) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o
que também proporcionará mais objetividade ao
texto; texto.
d) não utilizar regionalismos e neologismos;
e) pontuar adequadamente o texto;
f) explicitar o significado da sigla na primeira
referência a ela; e
g) utilizar palavras e expressões em outro idioma
apenas quando indispensáveis, em razão de serem
designações ou expressões de uso já consagrado ou
de não terem exata tradução. Nesse caso, grafe-as em
itálico, conforme orientações do subitem 10.2 deste
Manual.
PRECISÃO

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