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EQUAÇÃO PARA OS COEFICIENTES DE DESAGREGAÇÃO DE CHUVA

Article · January 2000


DOI: 10.21168/rbrh.v5n4.p143-147

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André Luiz Lopes da Silveira


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.4 Out/Dez 2000, 143-147

EQUAÇÃO PARA OS COEFICIENTES DE DESAGREGAÇÃO DE CHUVA

André Luiz Lopes da Silveira


Instituto de Pesquisas Hidráulicas - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Caixa Postal 15029 - CEP 91501-970 Porto Alegre, RS
silveira@if.ufrgs.br

RESUMO rente da função logarítmica, que seria a escolha


óbvia pelo aspecto da referida curva.
O objetivo desta nota técnica é apresentar,
Esta nota técnica apresenta uma equação
portanto, a partir de coeficientes de desagregação
analítica para os coeficientes de desagregação dos
de chuvas médios do Brasil (DAEE/CETESB,
totais de chuva, máxima de 24 horas de duração,
1980), uma equação obtida empiricamente que
em totais correspondentes para durações menores.
retorna, com pequeno erro, o valor do coeficiente
Uma expressão matemática original, obtida empiri-
de desagregação da chuva máxima - para dura-
camente, mostrou-se mais precisa que uma função
ções inferiores a 24 horas - em função da altura de
logarítmica. O ajuste foi realizado com coeficientes
chuva máxima de 24 horas.
generalizados para o Brasil, entretanto a expressão
A equação obtida, ao permitir o cálculo do
matemática ajustou-se, igualmente, bem com da-
coeficiente de desagregação a partir da chuva de
dos regionais do Rio Grande do Sul. A síntese dos
24 horas, exclui, por consequência, o coeficiente
coeficientes de desagregação, na forma de uma
de desagregação que multiplica a chuva máxima
equação, facilita o manuseio destes em calculado-
diária (dado do pluviômetro) para obter a corres-
ras programáveis, planilhas eletrônicas, e códigos
pondente chuva máxima de (quaisquer) 24 horas.
de programação. Portanto, propicia maior rapidez e
Apresenta-se, a seguir detalhes de obten-
automatização de cálculo de chuvas de projeto
ção desta equação simples, mas inédita, de desa-
para locais que dispõem somente de dados diários.
gregação de chuvas.

INTRODUÇÃO OBTENÇÃO DA EQUAÇÃO

A desagregação de totais de chuva, máxi- Várias tabelas com coeficientes de desa-


ma de 24 horas de duração em totais correspon- gregação são encontradas em diversas publica-
dentes para durações menores, é freqüentemente ções, mas a presente nota técnica baseia-se
realizada com os chamados coeficientes de desa- naqueles apresentados por DAEE/CETESB (1980)
gregação de chuvas. Esta prática é usada, nor- e Beltrame et al. (1991).
malmente, para estabelecer relações de Na Tabela 1 são reproduzidos os coeficien-
intensidade-duração-freqüência (IDF) em locais tes de desagregação do Brasil calculados por
que dispõem somente de dados diários medidos DAEE/CETESB (1980), a partir do estudo de chu-
com pluviômetros convencionais (Bertoni & Tucci, vas intensas do clássico estudo de Pfafstetter
1993). (1957), que abrangeu todo o território nacional. Os
Os coeficientes de desagregação disponí- valores da Tabela 1 são relações médias de preci-
veis, na literatura técnico-científica do país, são pitação máxima com períodos de retorno entre 2 e
apresentados na forma de tabelas e, também, co- 100 anos obtidas das curvas IDF deste último au-
mo índices em cascata (por exemplo, dois coefici- tor. Pode-se notar, um grupo de índices relativos a
entes multiplicativos sucessivos para desagregar durações menores que 30 min e outro para dura-
uma chuva de 24 horas na chuva de 1 hora). A ções iguais ou superiores a 1 hora. O coeficiente,
síntese de todos os coeficientes na forma de uma que relaciona a chuva de 30 min com a chuva de 1
equação facilitaria, então, o manuseio destes em hora, é o elo entre os dois grupos.
calculadoras programáveis, planilhas eletrônicas, e Conforme a Tabela 1, para se obter a chu-
códigos de programação. va de 5 min a partir da chuva de 24 horas, a se-
Aparentemente, o ajuste de uma equação qüência de coeficientes em cascata é igual a 0,42
deste tipo é uma questão banal, mas a inflexão multiplicado por 0,74 e por 0,34. Ou seja, a chuva
peculiar da curva dos coeficientes com a duração máxima de 5 min corresponde, com duas casas
exige a busca de uma expressão matemática dife- decimais, a 0,11 (ou 11%) da chuva máxima de 24

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Equação para os Coeficientes de Desagregação de Chuva

Tabela 1. Coeficientes de desagregação do


Brasil (DAEE/CETESB, 1980). 1.0

Relação de durações Relação de chuvas 0.8


5 min / 30 min 0,34
10 min / 30 min 0,54 0.6 C24 obs
15 min / 30 min 0,70

C24
20 min / 30 min 0,81 Log. (C24 obs)
25 min / 30 min 0,91 0.4
30 min / 1 h 0,74
1 h / 24 h 0,42 y = 0.1659Ln(x) - 0.2353
6 h / 24 h 0,72 0.2 R2 = 0.9926
8 h / 24 h 0,78
10 h / 24 h 0,82 0.0
12 h / 24 h 0,85
0 240 480 720 960 1200 1440

horas. Pode-se estabelecer coeficientes similares a d (min)


este 0,11 para as outras durações da Tabela 1, que
chamaremos nesta nota técnica de coeficientes Figura 1. Ajuste logarítmico.
diretos de desagregação. Isto foi feito e estes coe-
ficientes foram notados por C24 obs na Tabela 2. A
presença do “24”, nesta denominação, lembra que
0.6
se trata de um coeficiente direto de desagregação
a partir da chuva máxima de 24 horas. C24 obs
Em seguida, os pontos de C24 obs, e res-
pectivas durações, foram plotados em papel mili- ajuste log
metrado, para delinear a curva destes coeficientes 0.4
diretos de desagregação e efetuar uma interpola-
ção gráfica para outras durações. Esta interpolação
C24

teve o objetivo de gerar mais coeficientes de desa-


gregação para representar bem a curvatura da
função e, assim, permitir um melhor ajuste de uma 0.2
equação matemática.
Desta forma, passaram a estar disponíveis
para ajuste os coeficientes diretos das durações de
5, 10, 15, 20, 25, 30 e 60 minutos e, a partir desta, 0.0
de 60 em 60 minutos até 1440 minutos (24 horas).
0 5 10 15 20 25 30
Nas Figuras 1 e 2, estes coeficientes, são conside-
rados como coeficientes diretos de desagregação d (min)
observados, mantendo-se a notação C24 obs.
O aspecto da curva dos C24 obs, em fun- Figura 2. Ajuste logarítmico até 30 min.
ção da duração, é claramente logarítmico e o ajus-
te realizado aparentemente é bom, com alto
2
coeficiente de determinação de R = 0,993, con- As Figuras 1 e 2 mostram que os erros ou
forme mostra a Figura 1. Nesta figura, C24 (= y na desvios do ajuste logarítmico decorrem da peculiar
equação de ajuste) é o coeficiente direto de desa- inflexão da curva dos pontos referentes aos coefi-
gregação (com valor entre 0 e 1) e d (= x na equa- cientes diretos de desagregação, que faz com que
ção de ajuste) corresponde à duração em minutos. a curva logarítmica ajustada subestime-os abaixo
Entretanto, uma análise mais acurada do da duração de 15 minutos e acima de 16 horas
ajuste da Figura 1, cuja ampliação mostrada na (960 min), havendo efeito contrário para as dura-
Figura 2 permite, mostra que a equação logarítmica ções intermediárias.
subestima muito o coeficiente da duração de 5 Este ajuste insatisfatório de uma função lo-
minutos (cerca de 71%, pela análise dos dados) e garítmica estimulou à procura de uma outra ex-
o da duração de 10 minutos (cerca de 14%). Para a pressão matemática, que desse melhor ajuste geral
maioria das outras durações, há erros de 5 a 6%. que esta curva, e que representasse melhor o coe-

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RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.4 Out/Dez 2000, 143-147

ficiente de desagregação das durações de 5 e 10


minutos, no extremo inferior da curva. 0.5
Durante o processo especulativo de busca y = 1.5091Ln(x) - 3.0033
de uma expressão matemática condizente, notou- 0.0 2
R = 0.999
se que os logaritmos naturais dos coeficientes dire-
tos de desagregação observados (C24 obs), plota- -0.5

y = ln C24
dos com os logaritmos naturais de suas respectivas
durações, é que se ajustavam muito bem à função
2 -1.0
logarítmica, com R = 0,999 (Figura 3).
O ajuste bi-logarítmico da Figura 3 tornou
possível o estabelecimento de uma equação que -1.5
fornece um excelente ajuste. Reproduzindo-se o
ajuste da Figura 3 tem-se: -2.0

ln C24 = 1,5091ln(ln d) - 3,0033 -2.5


0 1 2 3 4 5 6 7 8
Algumas manipulações algébricas e
x = ln d
propriedades dos logarítmicos permitem reescrevê-
la como:
Figura 3. Ajuste bi-logarítmico.

ln C24 = 1,5091lnæç ln d ö
è 7,3165 ÷ø
0.6

Finalmente, isolando-se C24, obteve-se pa- C24 obs


ra os coeficientes de desagregação diretos deriva- ajuste bi-log
dos da tabela do DAEE/CETESB (1980), a
equação abaixo, onde optou-se por arredondar os 0.4
parâmetros na casa decimal:
C24

1,5 lnæç ln d ö
7,3 ÷ø
C24 (d) = e è
(1) 0.2

onde d é a duração (min) a que se refere o coefici-


ente de desagregação C24.
A Equação (1) retorna o valor de 0,104 0.0
para d = 5 min quando o valor real visto mais acima
0 5 10 15 20 25 30
era de 0,11. A Tabela 2 mostra todos os valores
calculados. d (min)
Observando-se, na Figura 4, uma amplia-
ção análoga à da Figura 2, pode-se perceber uma Figura 4. Ajuste bi-logarítmico até 30 min.
significativa melhoria no ajuste para as menores
durações. A comparação dos ajustes é feita com gação de chuvas provenientes do estudo de chu-
mais detalhe no item seguinte. vas intensas de Beltrame et al. (1991) para o Rio
A Equação (1), que representa o ajuste bi- Grande do Sul, são pouco diferentes dos relativos
logarítmico, vale recordar, reproduz os coeficientes ao Brasil inteiro. A Equação (1) para o Rio Grande
diretos de desagregação obtidos a partir dos coefi- do Sul teria o parâmetro 1,5 mudado para 1,4 e o
cientes de desagregação em cascata médios para parâmetro 7,3 para 7,5.
o Brasil, fornecidos por DAEE/CETESB (1980). De qualquer forma, não foi objetivo desta
A experiência mundial tem demonstrado nota técnica estudar eventuais diferenças regio-
que estes coeficientes são, notavelmente, seme- nais, sazonais ou de tipo de chuva nos coeficientes
lhantes para regimes pluviométricos diversos (ver de desagregação de chuvas, tema que ainda care-
DAEE/CETESB, 1980), por isso não se faz usual- ce de estudos específicos. O objetivo, conforme
mente uma diferenciação climatológica regional, colocado anteriormente, foi o de definir uma equa-
apesar de se esperar haver pequenas diferenças. ção, no caso a Equação (1), capaz de calcular,
Por exemplo, os coeficientes médios de desagre- com pequeno erro, o valor do coeficiente de desa-

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Equação para os Coeficientes de Desagregação de Chuva

gregação com base naqueles fornecidos pelo DA- Tabela 2. Coeficientes C24 do Brasil,
EE/CETESB (1980). observados e calculados.
No item seguinte, dando seguimento ao
propósito principal desta nota técnica, é apresenta-
Duração C24 C24 erro
da uma pequena análise da precisão da Equa-
obs equação (%)
ção (1).
5 min 0,11 0,104 -5,5
10 min 0,17 0,177 +4,1
AVALIAÇÃO DA EQUAÇÃO
15 min 0,22 0,226 +2,7
A Equação (1) pode ser avaliada de manei- 20 min 0,25 0,263 +5,2
ra simples, comparando-se os erros dos seus valo- 25 min 0,28 0,293 +4,6
res em relação aos coeficientes C24 observados, 30 min 0,31 0,318 +2,6
que são derivados da tabela dos coeficientes em 1h 0,42 0,420 0
cascata do DAEE/CETESB (1980), apresentados 6h 0,72 0,724 +0,6
na Tabela 1. Observe-se que esta avaliação não
considera os erros de estimação dos C24 observa- 8h 0,78 0,778 -0.3
dos, restringindo-se apenas ao ajuste matemático 10 h 0,82 0,820 0
da Equação (1). 12 h 0,85 0,856 +0,7
Os erros do ajuste, mostrados na Tabela 2,
consideram o arredondamento do resultado da
Equação (1) nas três casas decimais. A magnitude 1.0
dos erros é pequena. O erro percentual máximo é
de 5,5% e há erros absolutos máximos de apenas
0,013 (durações de 20 e 25 min) no coeficiente 0.8
C24 calculado e arredondado.
C24 calculado

Graficamente, na Figura 5, pode-se compa- 0.6


rar o grau de precisão da Equação (1) com o da
equação logarítmica.
O melhor ajuste da equação proposta (E- 0.4
quação (1), ajuste bi-logarítmico) sobre o ajuste equação (1)
logarítmico é evidente para toda a faixa de variação
0.2 equação log
de C24, não se restringindo às pequenas durações,
conforme indicou a comparação antes realizada reta 45º
com as Figuras 2 e 4. 0.0
A Tabela 2 e a Figura 5 autorizam que seja 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
sugerida a aplicação da Equação (1) em substitui-
ção à tabela do DAEE/CETESB (1980), quando C24 observado
isto convier ao usuário.
Figura 5. Grau de precisão da Equação (1).

CONCLUSÃO equação logarítmica bem ajustada, sobretudo para


as durações de 5 e 10 minutos.
Foi obtida uma equação empírica que re- A equação obtida pode substituir os coefi-
torna com boa precisão os valores dos coeficientes cientes tabelados do DAEE/CETESB (1980), além
médios de desagregação da chuva máxima de 24 de permitir uma flexibilidade de cálculo para qual-
horas no Brasil, fornecidos por DAEE/CETESB quer outra duração (exceto abaixo de 5 min). Pro-
(1980). A equação reproduz, com erros inferiores a picia também uma aplicação mais fácil em
6% os coeficientes resultantes da cascata de coefi- calculadoras programáveis, planilhas eletrônicas e
cientes de desagregação apresentados por códigos de programação.
DAEE/CETESB (1980). Com pequena mudança nos parâmetros,
O aspecto da equação decorre de um ajus- apontada no texto desta nota técnica, a equação
te bi-logarítmico (ajuste logarítmico aplicado aos proposta gera também coeficientes de desagrega-
logaritmos dos coeficientes e durações). A expres- ção com boa precisão para o Rio Grande do Sul,
são resultante é original e mais precisa que uma com base nos dados de Beltrame et al. (1991).

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AGRADECIMENTOS Equation for Rainfall Disaggregation


Coefficients
O autor agradece apoio dos projetos do REHIDRO
da FINEP e PRONEX (IPH/UFRGS, MCT/MEC) e a
concessão de bolsas pelo CNPq. ABSTRACT

This technical note presents an analytical


REFERÊNCIAS equation for the disaggregation coefficients of
maximum 24-hour duration rainfall totals, in corre-
BELTRAME, L.; LANNA, A. E.; LOUZADA, J. A. (1991) sponding totals for shorter durations. An original
Chuvas Intensas (RS), IPH-UFRGS, Porto Alegre. mathematical expression, empirically obtained,
BERTONI, J. C.; TUCCI, C. E. M. (1993) Precipitação, In: proved more precise than a logarithmic function.
TUCCI, C. E. M. (org.), Hidrologia: Ciência e The fit was performed using generalized coeffi-
Aplicação, Editora da Universidade, Porto Alegre, cients for Brazil, but the mathematical expression
p. 177-241. was fitted equally well to the regional data of the
DAEE/CETESB (1980) Drenagem Urbana, Manual de
state of Rio Grande do Sul. The disaggregation
Projeto, Departamento de Águas e Energia Elétrica
e Companhia de Tecnologia de Saneamento, São coefficients, synthetized in the form of an equation,
Paulo. make it easier to handle them in programmable
PFAFSTETTER, O. (1957) Chuvas Intensas no Brasil, calculators, electronic spreadsheets and program-
Departamento Nacional de Obras de Saneamento, ming codes. Thus it provides greater speed and
Ministério do Interior, Rio de Janeiro. automation to calculate design rainfalls for sites that
only have daily data.

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