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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 1

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E D I T O R I A L
A ciência como matéria-prima
da odontologia
Conselho Editorial Executivo
Presidente: Dr. Luiz Fernando Varrone
Diretor Científico: Prof. Dr. Laurindo Borelli Neto É com muito orgulho que apresentamos o anuário
Secretária Executiva: Dr.ª Stephanie Teixeira 2014 da Revista Científica da ABO. Esta compilação
Conselho Consultivo de artigos reúne o resultado do estudo de diver-
Prof. Dr. Tarley Pessoa de Barros
Prof.ª Dr.ª Marcia Moreira
sos profissionais de especialidades diferentes, que
Prof. Dr. Gabriel campolongo usaram seu tempo, conhecimento e recursos para
Prof.ª Dr.ª Monica Andrade Lotufo
Prof.ª Dr.ª Ana Lucia Borelli aprofundar-se em temas importantes com o obje-
Prof.ª Dr.ª Natalia Hernandes da Fonseca
Prof.ª Dr.ª Ivete Abrão
tivo de melhorar não apenas suas habilidades, mas
também de compartilhar seu aprendizado com os
colegas e contribuir para a odontologia em geral.
A Revista ABO Nacional é ma publicação da ABO A importância do estudo científico para a odontolo-
Nacional. Sede Administrativa: Rua Vergueiro, 3153, conj.
82 e 83 - Vila Mariana, São Paulo - SP - CEP 04101-300 gia é indiscutível. E os avanços na pesquisa odontológica brasileira crescem
Telefax: (+55 11) 5083-4000
Website: www.abo.org.br
a cada ano. Sem pesquisa não há inovação ou transmissão de conhecimento.
E-mail: abo@abo.org.br Isto é fundamental para que a área tenha cada vez mais credibilidade no
Address to correspondence:
Rua Vergueiro, 3153, conj. 82 e 83 - Vila Mariana, meio científico e entre a população em geral, pois mais estudos levam a
São Paulo - SP - CEP 04101-300
uma melhor prática clínica.
Uma das missões da ABO Nacional é a valorização do cirurgião-dentista
Registrada no Instituto Brasileiro de Informação no contexto técnico-científico. Por isso, a Revista Científica da ABO é uma
em Ciência e Tecnologia (IBICT), sob o Número
Internacional Normalizado para Publicações Seriadas peça fundamental para cumprirmos com nosso papel de fomentar a pes-
(ISSN) 0104-3072.
A Revista ABO Nacional está indexada nas bases
quisa e o desenvolvimento em um País onde a odontologia evolui cada vez
de dados Bibliografia Brasileira de Odontologia e mais aos olhos do mundo.
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (Lilacs). Nota-se cada vez mais a busca do profissional da odontologia por cursos de es-
pecialização, mestrado e doutorado. Isso demonstra que o dentista brasileiro
Produção: Agência Cadaris - cadaris.com.br está mais consciente de que o estudo científico é uma das “matérias-primas”
E-mail abo@abo.com.br.
Diretora de Redação: Maristela Harada – Mtb 28.082.
de seu trabalho. E quanto mais abrangente, aprofundado, multidisciplinar e
Editora: Maristela Harada. colaborativo esse estudo for, mais a Odontologia tem a ganhar.
Editora assistente: Balbina Arantes.
Projeto Gráfico: Maurício Trentini Stoppa. Nosso maior objetivo é fazer uma revista que se consolide como referência
Impressão: Coan Gráfica
Tiragem: 10.000 exemplares para os profissionais de odontologia no Brasil, tanto para leitura quanto
para publicação. Um dos passos que serão dados nessa direção em um fu-
turo próximo é a publicação da Revista Científica da ABO também em
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados
são de inteira responsabilidade dos autores e não
meio digital. Já estamos trabalhando nesse sentido e em breve poderemos
expressam necessariamente a posição da ABO comemorar esta e outras novidades, sempre com o objetivo de incentivar
Nacional. A ABO Nacional não se responsabiliza
pelos produtos e serviços das empresas anunciantes, a pesquisa e o desenvolvimento na área.
as quais estão sujeitas às normas de mercado e do
Código de Defesa do Consumidor.
A reprodução dos artigos científicos é sujeita à
autorização expressa dos autores. Luiz Fernando Varrone
Presidente da ABO Nacional

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4 Anuário de Artigos Científicos 2014

DIRETORIA NACIONAL – ABO CORPO EDITORIAL ABO Nacional


Conselho Executivo Nacional (CEN) CEO:
Presidente Luiz Cláudio Soares Azambuja
Luiz Fernando Varrone (ABO/TO) Gerente Executiva:
Vice-presidente Olivia R. P. Neves.
Jander Ruela Pereira (ABO/MT)
Secretário Geral
Dr. Marcelo Januzzi
Tesoureiro-geral
Sérgio Bastos Abraham (ABO/SC)

ABO nos Estados


ABO - SEÇÃO ACRE ABO - SEÇÃO MARANHÃO ABO - SEÇÃO RIO DE JANEIRO
PRES: ROBSON HENRIQUE REIS PRES: OSCAR CUTRIM FROZ PRES: PAULO MURILO OLIVEIRA DA FONTOURA
End. Pres. Cons.: Rua Raimundo Gama, 85 – Prox. End. Entid.: Av. Ana Jansen, 73 – São Francisco - São Luís/MA - End. Entid.: R. Barão de Sertório, 75 - Rio Comprido -
PV Rio Branco - Cep: 69900-000 - Rio Branco-AC CEP: 65076-200 Rio de Janeiro/RJ - CEP: 20261-050
E-mail do Presidente: rhr.odonto@ig.com.br E-mail do Presidente: ortomar@uol.com.br E-mail do Presidente: fountouramurilo@ig.com.br;
E-mail: aboacre@aol.com E-mail: aboma4@hotmail.com E-mail: aborj@aborj.org.br
Tel.: (68) 8108-1111 Tel.: (98) 3227-1719 Tel: (21) 2504-0002
ABO - SEÇÃO ALAGOAS ABO - SEÇÃO MATO GROSSO ABO - SEÇÃO RIO GRANDE DO NORTE
PRES: TAIGUARA CERQUEIRA CAVALCANTI PRES: ERNANE LACERDA DE OLIVEIRA PRES: HARRISON DE ALMEIDA DANTAS
End. Entid: Av. Roberto Mascarenhas de Brito, End. Entid.: R. Padre Remeter, 170 - Baú - Cuiabá/MT - End. Entid.: Av. Jaguarari, 2791 - Candelária - Natal/RN -
s/nº - Jatiuca - Maceió/AL - CEP: 57037-240 CEP: 78008-158
E-mail do Presidente: taiguarac@hotmail.com CEP: 59064-500
E-mail do Presidente: drenaeado@uol.com.br E-mail do Presidente: secretariauniabo@gmail.com
E-mail: aboal@aboal.org.br E-mail: secretariaabomt@gmail.com
Tel.: (82) 3235-1008 / 3235-1409 Tel: (84) 3222-3812
Tel.: (65) 3623-9897
ABO - SEÇÃO AMAPÁ ABO - SEÇÃO RIO GRANDE DO SUL
ABO - SEÇÃO MATO GROSSO DO SUL
PRES: PRISCILA BUENO FLORES DA SILVA PRES: LINA EDA MARTINELLI SANTAIANA
PRES: CARLOS MAGNO DE OLIVEIRA RODRIGUES
End. Entid.: R. Dr. Marcelo Cândia, 635 - Santa Rita – End. Pres. Entid.: Rua Quintino Bocaiuva,1495/1101 –
End. Entid.: Rua da Liberdade, 836 - Jd. Monte Líbano -
Macapá/AP - CEP: 68901-341 Moinhos de Vento – Porto Alegre/RS – CEP: 90440-051
Campo Grande/MS - CEP: 79004-150
E-mail do Presidente: priscillaflores@outlook.com E-mail do Presidente: linamartinelli@terra.com.br
E-mail do Presidente: carlosmagno@ortodontista.com.br/
E-mail: aboap@hotmail.com E-mail: administrativo@abors.org.br;
presidencia@aboms.org.br
Tel.: (96) 3242-9300 eventos@abors.org.br
E-mail: gerencia@aboms.org.br
Tel.: (67) 3383-3842 Tel: (51) 3330-8866
ABO - SEÇÃO AMAZONAS
PRES: ALBERTO TADEU DO N. BORGES ABO - SEÇÃO RONDÔNIA
End. Entid.: R. Maceió, 861 - Adrianópolis - Manaus/AM - ABO - SEÇÃO MINAS GERAIS
PRES: LÍVIO DE BARROS SILVEIRA PRES: ANTONIO CARLOS POLITANO
CEP: 69057-010
End. Entid.: R. Tenente Renato César, 106 - Cidade Jardim - End. Entid:. R Senador Álvaro Maia, 3471, esquina com Venezuela -
E-mail do Presidente: atadeuborges@gmail.com;
Belo Horizonte/MG - CEP: 30380-110 Embratel - Porto Velho/RO - CEP: 76820-860
atedeuborges@bol.com.br
E-mail: aboam1@hotmail.com E-mail do Presidente: secretaria@abomg.org.br E-mail do Presidente: dr.politano@hotmail.com
Tel.: (92) 3584-6068 / 3584-6066 E-mail: abomg@abomg.org.br drpolitano@hotmail.com
Tel.: (31) 3298-1800 E-mail: financeiroabo@hotmail.com
ABO - SEÇÃO BAHIA Tel: (69) 3221-5655
PRES: ANTÍSTENES ALBERNAZ ALVES NETO ABO - SEÇÃO PARÁ
End. Entid.: R. Altino Serbeto de Barros, 138 - Itaigara - PRES: CARLOS MARCELO LUCAS FOLHA ABO - SEÇÃO RORAIMA
Salvador/BA - CEP: 41830-492 End. Entid.: Av. Marquês de Herval, 2298 - Pedreira - PRES: GALBANIA POLICARPO DE SÁ
E-mail do Presidente: Belém/PA - CEP: 66087-320 End. Entid. : Rua Barão Do Rio Branco, 1309 – Centro –
antistenes.albernaz@hotmail.com E-mail: abo@abopa.org.br; Boa Vista/RR – CEP: 69301-130
E-mail: abo-ba@abo-ba.org.br; Tel.: (91) 3277-3212 E-mail do Presidente: galbaniapolicarpo@hotmail.com
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PRES: PATRÍCIA MEIRA BENTO
ABO - SEÇÃO CEARÁ End. Entid.: Av. Rui Barbosa, 38 – Torre – João Pessoa/PB – ABO - SEÇÃO SANTA CATARINA
PRES: JOSÉ MARIA SAMPAIO MENEZES JUNIOR CEP: 58040-490 PRES: LESSANDRO KIELING
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Fortaleza/CE - CEP: 60110-261 E-mail: contato@abopb.org.br CEP: 88090-830
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Celina@abo-ce.org.br Tel: (48) 3248-7101
ABO - SEÇÃO PARANÁ
Tel.: (85) 3311-6666 PRES: CELSO MINERVINO RUSSO ABO - SEÇÃO SÃO PAULO
End. Pres. Entid.: R. Dias da Rocha Filho, 625 - Alto da XV - PRES: JOSÉ SILVESTRE
ABO- SEÇÃO DISTRITO FEDERAL
Curitiba/PR - CEP: 80045-275
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Endereço: SGAS Quadra 616 lote 115 - L2 Sul - Brasília/DF - São Paulo/SP – Cep: 02037-000
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ABO - SEÇÃO PERNAMBUCO
Tel.: (61) 3445-4800
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End. Entid.: Rua Dois Irmãos, 165 - Apipucos - Recife/PE - ABO - SEÇÃO SERGIPE
ABO - SEÇÃO ESPÍRITO SANTO PRES: LUCIANO PACHECO DE ALMEIDA
PRES: JOÃO BATISTA GAGNO INTRA CEP: 52.071-440
E-mail do Presidente: alexrizuto@bol.com.br End. Entid.: Av. Gonçalo Prado Rolemberg, 404 –
End. Entid.: R. Henrique Rato, 40 - Fátima - Serra/ES - CEP: 29160-812 São José - Aracaju/SE - Cep: 49015-230
E-mail do Presidente: joaobatistababa@hotmail.com E-mail: secretariascdp@abo-pe.org
Tel.: (81) 3441-0678 / 3266-2862 / E-mail do Presidente: lpacheco@infonet.com.br
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3267-2748 / 3442-8141 E-mail: abo-se@infonet.com.br
teresa@aboes.org.br
Tel: (79) 3214-4640
Tel.: (27) 3395-1460
ABO - SEÇÃO PIAUÍ
ABO - SEÇÃO GOIÁS PRES: ANTÔNIO FRANCISCO DE MELO TORRES ENTIDADE: ABO - SEÇÃO TOCANTINS
PRES: RAFAEL DE ALMEIDA DECURCIO End. Entid.: R. Dr. Arêa Leão, 545 Sul CP 280 - Centro - PRESIDENTE: JOSÉ CLAUDIO LÓIS
End. Entid.: Av. Itália, 1184 – Quadra 23- Lotes 8/9 - Teresina/PI - CEP: 64001-310 End. Entid.: Av. LO 15 602 Plano Diretor Sul– Conj. 02 – Lote 02
Jardim Europa - Goiânia/GO - CEP 74325-110 E-mail do Presidente: - Palmas/TO – CEP: 7022-008
E-mail do Presidente: rafaeldecursio@gmail.com juliomedeirosdfortes@bol.com.br E-mail do Presidente: jclois@ig.com.br
E-mail: ca@abogoias.org.br E-mail: abopi@uol.com.br E-mail: abotocantins@gmail.com
Tel.: (62) 3236-3100 / 3236-3129 Tel.: (86) 3221-9374 / 3221 4647 Tel.: (63) 3214-2246

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6 Anuário de Artigos Científicos 2014

Instruções aos autores


A Revista ABO Nacional é uma publicação bimestral da Associação Brasileira de Odontologia, dirigida à classe odontológica e aberta à
publicação de artigos inéditos de investigação científica, relatos de casos clínicos, resumo de teses, artigos de revisão e/ou atualização,
bem corno reportagens sobre assuntos diversos relacionados à Odontologia. Os artigos devem ser enviados em cópia impressa e
gravados em mídia digital regravável (CD ou DVD), em arquivo de editor de texto compatível com Windows (para PC).

1 - Apresentação dos artigos unidades comuns de medida. 5 - Referências (estilo Vancouver)


Os artigos devem ser inéditos, não sendo permitida a sua As notas de rodapé são indicadas por asteriscos e res- Citar as referências, no máximo 30, por ordem alfabética
apresentação simultânea em outro periódico. Reservam-se os tritas ao indispensável. de autores e numeradas em ordem cres-cente (www/nlm.
direitos autorais do artigo publicado, inclusive de tradução, nih.gov/bsd/uniform_requirements.html.
permitindo-se, entretanto, a sua reprodução como transcri- Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o
ção e com a devida citação da fonte. 2 -Ética
"List of Journals Indexed in Index Medicus" (www.nlm.nih.gov/).
Todos os artigos são analisados pelo Conselho Edito- Estudos que envolvam seres humanos, bem como pron-
Publicações com dois autores até o limite de seis citam-se
rial Científico, que avalia o mérito do trabalho. Aprovados tuários clínicos, devem ter o consentimento por escrito
todos; acima de seis, acrescentar em segui-da a expressão et al..
nesta fase, os artigos são encaminhados ao Conselho Con- do paciente e aprovação da Comissão de Ética da Unidade
sultivo (revisão por pares), que, quando necessário, (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus Exemplos:
indica as retificações que devem ser feitas antes da edição. complementos). Artigo de periódico
Os textos, porém, passam por revisão conforme as regras Brinhole MCP, Teixeira R. Tosta M, Giovanni EM, Costa
gramaticais vigentes. C. Melo JAJ, et a/. Intubação submental: evitando a traque-
3 - Preparo dos manuscritos
Quando houver mais de cinco autores, justificar a efetiva ostomia em cirurgia bucomaxilofacial. Rev Inst Ciênc Saúde.
contribuição de cada um deles. Página de identificação: título do artigo e subtítulo em 2005; 23(2):169-72.
português e inglês (conciso, porém informativo); nome do(s)
Os artigos devem atender à política editorial da Revista autor(es), indicando em nota de rodapé um título e uma única Artigo de periódico em formato eletrônico
e às instruções aos autores baseadas no "Uniform Require- filiação por autor, sem abreviaturas e endereço eletrônico. Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the
ments for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (es- ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet].
tilo Vancouver), elaborado pelo International Comrnittee of Resumo/Abstract: deve ressaltar o objetivo, o método,
os resultados e as conclusões do trabalho. Usar a terceira pes- 2002 Jun [cited 2002 Aug 12];102(6):[about 3 p.]. Available from:
Medical Joumal Editors (ICMJE). www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm.
soa do singular e verbo na voz ativa. Os resumos devem ter
O idioma do texto pode ser o português, o inglês ou o até 250 palavras, no máximo. Livro
espanhol, desde que tenha título, palavras-chave e resumo
traduzidos para o português, pelo autor. Os resumos dos artigos originais devem conter informa- Newman MG. Carranza periodontia clínica. 9' ed. Rio de
ção estruturada constituída de Introdução - Material e Janeiro : Guanabara Koogan; 2004.
Exigem-se declaração assinada pelo autor, responsabili- Métodos - Resultados - Conclusões. Para outras cate-
zando-se pelo trabalho, em seu nome e dos co-autores; carta Livro em formato eletrônico
gorias, o formato do resumo deve ser o narrativo.
anexa, constando nome, endereço tele-fone e e-mail do autor Marzola C. Transplante e reimplante [CD-ROM]. São
que ficará responsável pela correspondência; duas vias (origi- Palavras-chave/Keywords: identificam o conteúdo Paulo: Pancast; 1997.
nal e cópia) acompanhadas cada uma das respectivas imagens. dos artigos. Consultar: Descritores em Ciências da Saúde
Dissertação e tese
Recomenda-se que os autores retenham outra cópia em seu (DeCS/Bireme) disponível em http://decs.bvs.br; Descri-
poder. tores em Odontologia (DeOdonto/SDO-FOUSP); "Medical Ferreira TLD. Ultrassonografia — recurso imaginológico
Subject Headings" (MeSH/Index Medicus). aplicado à Odontologia [dissertação de mestrado]. São Paulo:
Os artigos devem ser digitados (fonte Times New Roman, Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, 2005.
corpo 12) e impressos em folha de papel tamanho A4, com
espaço duplo e margens laterais de 3 cm e ter até o máximo Comunicação pessoal e citação de citação (apud) devem
4 - Estrutura do texto
de 15 laudas com 30 linhas cada (incluindo ilustrações). ser evitadas. Quando consideradas essenciais, devem ser cita-
INTRODUÇÃO - Deve ser concisa, explanar os pontos das no texto e indicadas em notas de rodapé, sem fazer parte
As ilustrações (gráficos, quadros, desenhos e fotogra- essenciais do assunto e o objetivo do estudo baseado em refe- da lista de referências.
fias) devem ser apresentadas em folhas separadas e numera- rências fundamentais.
das, em algarismos arábicos. Cada tipo de ilustração deve ter a Identificar os autores no texto em algarismos arábicos
numeração própria sequencial de cada grupo. As legendas das MATERIAL E MÉTODOS - Descreve a seleção dos in- em forma de potenciação correspondente às referências.
fotografias, desenhos e gráficos devem ser claras, concisas e divíduos que intervieram na pesquisa, incluindo os controles Citar os nomes dos autores no texto com seus respectivos
localizadas abaixo das ilustrações e precedidas de numeração e os métodos relacionados às etapas da pesquisa. números sobrescritos e data entre parênteses só quando for
correspondente. Os métodos e os equipamentos (apresentar nome, cidade, necessário enfatizá-los. Quando houver dois autores mencio-
pais do fabricante entre parênteses), bem como os fármacos nar ambos ligados pela conjunção "e"; acima de dois, cita-se o
As ilustrações devem ser mencionadas no texto em segui- primeiro autor seguido da expressão et al..
da onde foram citadas, limitadas até o número máximo de 10. incluindo os nomes genéricos e produtos químicos, devem
As imagens referentes aos trabalhos devem ser apresentadas ser identificados no texto. Exemplos:
na dimensão 12 x 9 em contraste correto, em papel. Porém, RESULTADOS - Apresentar os resultados, sempre que A prótese adesiva foi introduzida há poucas décadas3.
dá-se preferência a imagens digitalizadas, que devem ter reso- possível, subdivididos em itens e apoiados em gráficos, tabe- Loe et al.2 (1965) comprovaram que o acúmulo de placa bac-
lução de, no mínimo, 300 DPIs. Não são aceitas imagens no las, quadros e figuras. teriana está relacionado com o desen-volvimento da gengivite.
formato cromo ou slides. Não se adota o procedimento de
DISCUSSÃO - Enfatizar os aspectos novos e importantes Recomenda-se que incluam também a bibliografia nacio-
publicação de foto do autor.
do estudo e não repetir em detalhes o que já foi citado em nal existente. A exatidão das referências é de responsabilidade
As tabelas devem ser numeradas, consecutivamente, em Introdução e Resultados. dos autores.
algarismos arábicos. As legendas das tabelas e quadros devem
CONCLUSÃO(ÕES) - Vincular as conclusões aos objeti-
ser colocadas na parte superior das mesmas. Não traçar linhas
vos do estudo e respaldadas pelos dados. Quando for conve-
internas horizontais ou verti-cais. As notas explicativas devem
vir no rodapé da tabela. niente, incluir recomendações.
Enviar originais dos artigos para:
Para unidades de medida usar somente as unidades AGRADECIMENTOS - Quando necessários, devem ser
mencionados os nomes dos participantes e/ou instituições Sede Administrativa da ABO Nacional
legais do Sistema Internacional de Unidades (SI). Quanto
a abreviaturas e símbolos, utilizar somente abreviatura pa- que contribuíram para o trabalho. Rua Vergueiro, 3153, Conj. 82 - 04101-300 - São Paulo
drão. O termo completo deve preceder a abreviatura quan- Para relato de casos apresentar: INTRODUÇÃO, - SP - Brasil - Telefax: (+5511) 5083-4000
do ela for empregada pela primeira vez, salvo no caso de RELATO DE CASO, DISCUSSÃO e CONCLUSÃO. E-mail: abo@abo.org.br

* UnifOrm Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. Bethesda Nal; 2005 [updated 2005 Oct; cited 2005 Oct 24]. Available from: http://www.icmje.org/

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8 Anuário de Artigos Científicos 2014

S U M Á R I O
Summary

10 32 56
Redução da ansiedade e medo odontológico: Efeito da técnica de reembasamento com Desinfecção de escovas dentais: uma técnica
perspectivas do tratamento restaurador resina composta na retenção de pinos de
simples que pode auxiliar na prevenção de
atraumático fibra de vidro em canais radiculares amplos
muitas doenças
Reduction of dental fear and anxiety: the outlook of Effect of composite relining technique on glass fiber post
atraumatic restorative treatment etention to flaed root canals

66
16 38
Como docentes do curso de Odontologia
Apicificação pós-traumatismo dentário: Atestado odontológico e declaração de escolhem seus dentistas?
relato de caso acompanhamento de paciente a atendimento
odontológico
Apexifiction after dental trauma: a case report
Oral health certificte and patient accompaniment
declaration for oral health care 82
Saúde Bucal e o Programa Saúde da Família:
21 Impactos na saúde da população usuária e
Prevalência de alterações de língua em 46 comunidade, revisão de literatura.
pacientes atendidos na Faculdade de
Odontologia – UFAM Toxina Onabotulinica A (Botox®) como The Oral Health and Family Health Program: health
alternativa aos pacientes reabilitados com impacts of the user population and community, literature
Prevalence of tongue alterations in patients assisted of the próteses implantossuportadas portadores de
review.
Dentistry College – UFAM bruxismo

27 51 87
Avaliação da percepção dos pais/ Prevalência de cárie em dentes decíduos e Tratamento de fraturas de sínfise e
responsáveis quanto aos fatores etiológicos permanentes de escolares com 6 a 12 anos de idade
parassínfise com a técnica de lag screw
da cárie dentária em uma escola pública em Maceió, Alagoas

Evaluation of the of parents/guardians perception about Prevalence of caries in deciduous and permanent teeth of Treatment of fracture symphysis and parasymphysis
the etiologic factors of the tooth decay schoolchildren 6-12 years old in a public school of Maceió,Alagoas technique whit lag screw

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 9

92 113 130
Aplicação de Toxina Botulínica Tipo A Efetividade dos selantes na prevenção de
Utilização de resina de baixa viscosidade
no tratamento de sorriso gengival - lesões cariosas
caso clínico como camada intermediária em restauração
Effectiveness of sealants in caries prevention
com compósito resinoso

96 Flowable composite used as intermediate layer restored with


dental composite
Percepção de gestantes sobre
conhecimentos de saúde bucal em
uma unidade de saúde da família 134
Perception of Pregnant About Oral Health Knowledge Comportamento de consumo e
in a Health of Family’s Unit 118 características do uso de produtos de
higiene bucal: um estudo exploratório com
alunos de graduação da cidade de Maceió
Resistência à torção de instrumentos
rotatórios de uso repetitivo: K3 Endo x Consumer behavior and characteristics of use of oral
102 hygiene products: an exploratory study with undergraduate
ProTaper
students of the city of Maceió
Uso do ácido hialuronico como tratamenta
dos desarranjos internos da articulação Torsional resistance of rotary instruments repetitive use: K3
temporomandibular
Endo x ProTaper
Use hyaluronic acid as a treatment for internal
derangement of the temporomandibular joint
142
Atendimento ao paciente politraumatizado
125
108 Assistance to the patients with polytrauma
Disfunção temporomandibular: Toxina
Estudo de prevalência das lesões da
região bucomaxilofacial em um Centro de Botulínica uma alternativa de tratamento
Referência na região Nordeste do Brasil
Temporomandibular dysfunction: botulinum toxin an
146
Prevalence study of oral and maxillofacial lesions in a
Referral Center in northeastern region of Brazil alternative treatment Osteoporose e as fraturas bucomaxilofaciais

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10 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Redução da ansiedade e medo odontológico:


perspectivas do tratamento restaurador atraumático

Reduction of dental fear and anxiety: the outlook of atraumatic restorative treatment

Palavras-chave: Ansiedade, Tratamento Restaurador Atraumático e Cimento de Ionômero de Vidro.


Keywords: Anxiety, Atraumatic Restorative Treatment (ART), Glass Ionomer Cement.

Patricia Aleixo dos Santos DOMINGOS* RESUMO


Livia Maria Prado FONSECA** O presente estudo objetivou apresentar um caso clínico da técnica do Tratamento
Ana Luísa Botta Martins de OLIVEIRA*** Restaurador Atraumático (TRA) em paciente com ansiedade frente ao atendi-
mento odontológico convencional. A técnica foi realizada no dente 85, o qual
apresentava lesão cariosa de cavidade atípica, por meio da remoção de tecido
cariado amolecido com a utilização de instrumentos manuais, sem anestesia e uti-
lização de material restaurador direto com liberação de flúor (cimento de ionô-
mero de vidro). Observou-se maior colaboração do paciente e diminuição da an-
siedade inicialmente revelada. Conclui-se que o TRA é uma técnica já consagrada
que mostrou eficiência clínica no controle da evolução do processo carioso e
que, por estar bem indicada, foi capaz de induzir maior colaboração do paciente,
ocasionando o sucesso da terapia restauradora. Por outro lado, o CIV convencio-
nal apresentou desgaste superficial excessivo e, portanto, não se aconselha o seu
emprego em cavidades atípicas, sendo melhor indicado o cimento de ionômero
de vidro de alta viscosidade.
Palavras Chave: Ansiedade, Tratamento Restaurador Atraumático e Cimento de
Ionômero de Vidro.

ABSTRACT
This study aimed to report a case in which the technique used was the Atraumatic Restorative Treatment (ART)
in patients with fear of conventional treatment. This procedure consisted in the treatment of carious lesions in
the patient associated with the program of educational and preventive measures which the patient has under-
gone. The technique described here was performed on tooth 85, which presented atypical carious lesion cavity,
*Professora do Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, through the removal of softened carious tissue with the use of hand instruments, without anesthesia and use
Curso de Odontologia, Centro Universitário de Araraquara, UNIARA. of direct restorative material with fluoride release (glass ionomer cement). As a result of this technique, there
Avenida: Doutor Rocha Lima, 572 – Jardim Adalgisa. CEP: 14806-146
– Araraquara/SP Contato: (16) 9235 1520. E-mail: patyaleixo01@
was greater patient cooperation and decrease of anxiety initially revealed. Thus, it might be concluded that
yahoo.com.br / pasantos@uniara.com.br
the Atraumatic Restorative Treatment is a technique already established that showed clinical effectiveness in
controlling the evolution of the carious process and that being well indicated, was able to induce more coopera-
**Cirurgiã-dentista graduada pelo Centro Universitário de Araraquara, tion from the patient, leading to the success of therapy restorer. The conventional glass ionomer cement showed
UNIARA. E-mail: liviapradof@hotmail.com excessive surface wear and therefore should not be used to restore cavities atypical.
***Doutoranda do Departamento de Clínica Infantil, Faculdade de
Odontologia de Araraquara, UNESP. E-mail: analuisabotta@hotmail.com

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INTRODUÇÃO ção das doenças bucais14. ansiedade frente ao contato com o pro-
A Odontologia, mesmo nos dias atu- Deste modo, de acordo com Wam- fissional e ao ambiente clínico, além de
ais, em que apresenta um perfil preven- bier et al.22 (2003), foi desenvolvido relatar medo de “sentir dor”.
tivo bastante divulgado entre a popula- um método alternativo para trata- A técnica de TRA foi indicada por
ção, ainda enfrenta um grande desafio: mento da doença cárie por Frencken tratar-se de paciente ansioso e com
a rejeição de muitos pacientes frente ao em 1992, nomeado Tratamento Res- problemas de comportamento pe-
tratamento, devido ao seu receio quan- taurador Atraumático (TRA), com a rante o emprego de anestesia e ins-
to à sensação de dor ou procedimentos finalidade de minimizar o desconforto trumento rotatório de alta-rotação. É
que lhes causem incômodo, aflição ou causado durante o tratamento odonto- importante salientar que, mesmo em
inquietação. Assim, a ansiedade consti- lógico para aqueles pacientes ansiosos, ambiente de Clínica Odontológica de
tui um dos problemas para a aceitação além de várias outras indicações como Ensino, o procedimento foi realizado,
do tratamento odontológico4,20. o atendimento de pacientes de difícil simulando-se uma situação de campo,
O paciente ansioso tende a evitar o comportamento, pacientes acamados, evitando-se o uso de refletor, de apare-
tratamento dental e, uma vez no con- comunidades carentes, regiões com lho fotopolimerizador, motores de alta
sultório, torna-se difícil seu atendi- baixa infra-estrutura e falta de consul- e baixa-rotação, seringa tríplice, entre
mento4, pois o mesmo não consegue tórios odontológicos, serviço público, outros, com a finalidade de minimizar
administrar este sentimento a cada entre outras. os estímulos negativos que pudessem
etapa do procedimento e apresenta Com esta proposta de tratamento, provocar no paciente qualquer sensa-
resistência ao uso de determinados buscava-se alcançar a mínima inter- ção de medo ou ansiedade durante seu
instrumentos como agulhas, seringas, venção operatória, redução da proba- atendimento. O procedimento consis-
motores, entre outros. Este fenôme- bilidade da necessidade de tratamento tiu na remoção de tecido cariado amo-
no é particularmente comum entre as endodôntico e de futura extração, tor- lecido com a utilização de instrumen-
crianças, o que demanda do profissio- nando-se por isso, menos desconfortá- tos manuais, sem anestesia e utilização
nal a realização de condicionamento vel ao paciente1. de material restaurador direto com
emocional deste paciente previamente liberação de flúor. O procedimento foi
ao tratamento. Com isso, o cirurgião- Diante do exposto, o presente estu- realizado no dente 85 que se encon-
-dentista deve procurar reduzir as do teve como objetivo relatar o caso trava com cavidade cariosa extensa de
exposições aos estímulos que desen- clínico de um paciente ansioso com profundidade mediana (Figura 1), teci-
cadeiam a ansiedade e transformar o grandes destruições nos dentes decí- do dentinário amolecido, sem evidên-
tratamento em uma experiência posi- duos, o qual foi submetido ao TRA, e cia clínica de envolvimento do tecido
tiva como maneira de melhorar a saúde observar o resultado da técnica após pulpar. A seqüência clínica operatória
bucal destes indivíduos8. acompanhamento clínico. adotada encontra-se descrita a seguir:
Também é devido à ansiedade ao A realização deste estudo esteve vin- - Escovação supervisionada previa-
tratamento odontológico que ocorre culada à aprovação do Comitê de Ética mente ao atendimento;
a postergação da consulta ao cirur- em Pesquisa do Centro Universitário
de Araraquara – UNIARA sob proto- - Isolamento relativo do campo ope-
gião-dentista até o momento em que ratório com roletes de algodão;
há a sensação de dor ou desconforto. colo n°912/09.
De tal modo, a ansiedade ou fobia Apresentou-se na clínica de odonto- - Escavação em massa do tecido den-
podem levar não somente à saúde logia da UNIARA paciente do gênero tinário amolecido do dente 85 (Figura
bucal deficiente e perda dos dentes, masculino, com seis anos de idade, 2) utilizando instrumentos manuais de
mas também ao sentimento de ver- queixando-se de lesões de cárie e ne- tamanho compatível com a cavidade (co-
gonha e inferioridade17. cessidade de tratamento das mesmas. lheres de dentina no11½ e 18), restrin-
Ao realizar a anamnese e o exame clí- gindo-se à dentina infectada, desorgani-
Neste contexto, busca-se solucionar
nico, observou-se higiene bucal defi- zada e amolecida, mantendo-se a dentina
os problemas apresentados por meio
ciente, dieta cariogênica e excesso de afetada, passível de remineralização, cli-
de procedimentos cada vez menos in-
consumo de alimentos cítricos. É im- nicamente caracterizada por “lascas”;
vasivos para evitar a ansiedade gerada
nos pacientes20, assim como para pre- portante ressaltar que o paciente de- - Lavagem da cavidade com água e
servar a estrutura dental e manter a monstrou, durante a primeira consulta, secagem com bolinhas de algodão;
população ativa no processo de preven- alguns problemas de comportamento e - Limpeza e descontaminação da ca-

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vidade por 10 segundos com próprio salta-se que algumas restaurações rea- No presente trabalho, o TRA foi
líquido do material restaurador que lizadas posteriormente ao caso clínico selecionado como procedimento res-
contém um ácido fraco (ácido tartári- supramencionado foram executadas taurador, devido ao fato do paciente
co), seguida de lavagem e secagem; pelo método convencional e não pelo apresentar-se ansioso frente ao atendi-
- Proporcionamento do pó e líquido TRA, já que o paciente neste momento mento odontológico e ser uma crian-
do CIV convencional quimicamente ati- apresentava comportamento condicio- ça com comportamento desfavorável.
vado – Figura 1- (Vidrion R - SSWhite nado e confiança no profissional. Embora o ambiente de atendimento te-
Artigos Dentários Ltda, Rio de Janei- A restauração de CIV foi acompa- nha sido a Clínica de Ensino do Curso
ro - RJ, Brasil, lote: 0060709, val. 11 nhada e na reavaliação aos cinco me- de Odontologia, a qual oferecia condi-
jul 2011). A aglutinação do material foi ses foi constatado excessivo desgaste ções adequadas para o tratamento con-
realizada utilizando-se uma espátula de superficial do material com exposição vencional, a opção pelo TRA seguiu-se
número 24 (Figura 3). Para isso, a por- dentinária nas margens da restauração. pela dificuldade inicial de condicionar
ção de pó foi dividida ao meio e uma o paciente quanto à aceitação do em-
parte incorporada ao líquido e a ou- prego de anestesia local e instrumen-
tra parte do pó foi incorporada a esta DISCUSSÃO tos rotatórios. Segundo Freire et al.6
mistura completando-se um minuto de A Odontologia atual busca a pre- (2003), esta técnica está direcionada a
manipulação, com obtenção de mistura venção das doenças bucais por meio pacientes que apresentam como carac-
homogênea e brilhante, de acordo com da promoção de saúde, em que a po- terísticas o medo e a ansiedade; pro-
recomendações do fabricante; com pulação recebe informações sobre blemas mentais e/ou físicos, pacientes
tempo de trabalho de 3 minutos; hábitos salutares de higiene e dieta, muito jovens, que ainda não se sub-
- Preenchimento da cavidade com o assim como, o profissional procura meteram ao tratamento odontológico
CIV manipulado com a utilização da realizar intervenções clínicas que mi- convencional; indivíduos acamados;
espátula no1, aplicando-se pressão di- nimizem a perda de estrutura dental. idosos impossibilitados de sair de casa
gital (Figura 4) durante 30 segundos Dentro da filosofia da Odontologia ou institucionalizados e pacientes de
para melhorar a adaptação marginal do Restauradora minimamente invasiva, alto risco a cárie, com a finalidade de
material às paredes cavitárias e evitar a surgiu a necessidade de desenvolver estabilizar as condições de saúde bucal.
formação de bolhas; uma técnica que abordasse pacientes A vantagem da técnica de TRA está
com problemas de comportamento, na remoção apenas do tecido amole-
- Checagem da oclusão com papel dificuldade de acesso odontológico
articulador e ajuste oclusal com espá- cido desmineralizado, permanecendo
ou apresentando alto risco à cárie, dentina afetada que é mais endurecida
tula Hollemback nº33; bem como solucionar a dificuldade de e passível de remineralização12. O pre-
- Aplicou-se o verniz protetor – (Fi- atendimento na saúde pública19. enchimento da cavidade preparada, ao
gura 5) - (Cavitine – SSWhite Artigos Assim, o TRA é uma técnica preco- ser realizado com CIV, prioriza pro-
Dentários Ltda, Rio de Janeiro - RJ, nizada e aceita desde 1994 pela Or- priedades como a capacidade adesiva
Brasil, lote:0050809, val. 07 ago 2011) ganização Mundial de Saúde (OMS) e o poder de liberação de fluoretos2.
com pincel descartável sobre a superfí- para tratamento da doença cárie den- Entretanto, o TRA não atende as ne-
cie externa da restauração de CIV para tária como uma alternativa ao método cessidades restauradoras de todos os
evitar sinérese e embebição; convencional, não só pela facilidade tipos de cavidades e, por isso, o cor-
- O paciente foi orientado a não con- de aplicação da técnica, como tam- reto diagnóstico para o tratamento
sumir alimentos ou bebidas antes do bém pelas propriedades do material se torna essencial para a obtenção de
período de uma hora da realização do utilizado. Diante disso, torna-se viá- sucesso a longo prazo11,18. Para isso,
procedimento restaurador assim como vel a sua utilização em comunidades antes da decisão pela técnica, devem
evitar ingerir alimentos que conte- carentes, de baixa renda familiar16 e/ ser analisadas a ausência de alteração
nham corantes nas primeiras 24 horas ou institucionalizadas, nas quais faltam periodontal, radiografia, mobilidade
após a confecção da restauração. recursos técnicos e humanos para um dental e dor espontânea, sendo essas
As demais lesões cariosas foram tratamento especializado, assim como condições primordiais para a utilização
restauradas durante o período de dois em crianças de baixa idade, nas quais do TRA18. No caso clínico apresentado,
meses de tratamento, associadas ao existe dificuldade de controle de com- todas estas alterações foram avaliadas,
emprego das medidas preventivas. Res- portamento13. à exceção do exame radiográfico, uma

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vez que procurou-se simular na clíni- permite atuar como reservatório cons- sidade do aperfeiçoamento de um ma-
ca uma situação de atendimento em tante de flúor na cavidade bucal e, con- terial específico para o TRA, surgindo
campo, onde não haveria disponibi- sequentemente, auxiliar no processo na década de 1990 os CIV de alta vis-
lidade de aparelho de Raio X. Além de remineralização por meio da expo- cosidade. Estes constituíram em im-
disso, existem fatores que contrain- sição a várias fontes, como dentifrícios portante contribuição ao TRA, graças à
dicam esta técnica, como lesões de fluoretados, soluções para bochecho e melhoria em suas propriedades quando
cárie em estágios avançados com flúor tópico de aplicação profissional, comparados aos dos cimentos conven-
comprometimento pulpar, presen- dentre outros. Em relação ao controle cionais2. Outro aspecto que deve rece-
ça de abscessos, fístulas, e cavidades bacteriano, Davidovich et al. 3 (2007) ber cuidados especiais para se alcançar
sem acesso proximal ou oclusal5. comprovaram em seu estudo testando bom desempenho clínico deste mate-
Nascimento e Rego12 (2004) res- várias marcas comerciais de CIV que o rial refere-se à sua manipulação, pois
saltam que este tratamento minimiza mesmo tem grande potencial de con- alguns autores6 relatam que a experi-
o uso de anestésico local, por limitar trolar as bactérias cariogênicas, o que ência do operador exerce grande influ-
o aparecimento da dor, facilita a lim- resulta em prevenção de lesões secun- ência sobre o resultado do tratamento
peza e desinfecção do instrumental dárias. Destaca-se ainda que o flúor li- e sucesso da técnica.
utilizado e a restauração danificada é berado pelo material restaurador pro- De acordo com Bresciani et al.1
facilmente reparável. Este contexto move uma ação tópica contínua sobre a (2002), o principal aspecto para a lon-
permite o atendimento de pacientes estrutura dental adjacente, diminuindo gevidade de restaurações com CIV se-
que não conseguem assimilar o em- a sua solubilidade e, consequentemen- ria a manutenção de um campo livre de
prego da anestesia previamente ao te, também atua na redução da incidên- contaminação salivar, pois quando isto
procedimento operatório. cia ou severidade de eventuais lesões acontece durante as etapas restaurado-
Por outro lado, são encontradas con- recorrentes de cárie21. ras leva ao padrão de condicionamento
dições de limitação técnica, como di- Entretanto, o material pode ser deficiente, à interferência negativa no
ficuldade de preenchimento adequado considerado uma das limitações da processo de adesão do material às pa-
de cavidades extensas; possibilidade técnica restauradora atraumática, pois redes cavitárias e à diminuição da re-
de cansaço manual, devido ao empre- os CIV restauradores convencionais sistência da restauração final. Isto pode
go de instrumentos manuais por longo apresentam problemas de solubilidade justificar o insucesso da técnica, assim
período de tempo e manipulação do e degradação, devido aos fenômenos como a insatisfatória remoção de teci-
material que pode sofrer interferên- de sinérese e embebição, além de pro- do cariado.
cias relativas ao operador e às situações priedades mecânicas desfavoráveis, No que se refere à proteção super-
climáticas. Considera-se que esta téc- como baixa resistência coesiva e des- ficial imediata dessas restaurações,
nica exige atenção constante em cada gaste. Tal fato pôde ser comprovado esta se faz necessária, pois nas pri-
passo da fase a ser executada e nota-se no presente estudo, uma vez que ao meiras 24 horas ocorre a reação de
relativa resistência por parte de alguns se reavaliar a restauração após 5 me- presa do material e nesse período o
pacientes em aceitar que a restauração ses de sua confecção, verificou-se que CIV torna-se suscetível à perda e ga-
com CIV tenha caráter permanente12. a mesma se apresentava com desgaste nho de água, fatores que podem levar
No que se refere ao material restau- superficial e exposição das margens da à falha do tratamento9.
rador utilizado na técnica do TRA, des- cavidade. Ainda neste contexto, res- Em relação ao desgaste sofrido
taca-se o CIV, caracterizado pelas suas salta-se o relato de Lo et al. 10 (2006) pela restauração após cinco meses
propriedades de adesão química ao es- quando avaliaram a permanência de de sua confecção, pode-se conside-
malte, dentina e cemento, biocompa- restaurações atraumáticas e conven- rar que o tipo de CIV utilizado no
tibilidade, durabilidade, liberação con- cionais nas cavidades após período de presente caso (quimicamente ativado
tínua de flúor, atuando positivamente 12 meses e observaram que houve se- de baixa viscosidade) tem indicação
sobre a microbiota bucal e a dentina melhança no padrão de retenção das limitada para cavidades atípicas e pa-
remanescente19. De acordo com Mo- restaurações, embora algumas realiza- cientes que apresentem dieta rica em
nico e Tostes11 (1998), uma das pro- das em CIV tenham apresentado des- alimentos cítricos.
priedades mais relevantes do CIV seria gaste excessivo (20,3%). Deve-se ponderar que os primeiros
sua contínua liberação de fluoreto e a Sendo assim, com a ampla utilização CIV usados na técnica apresentavam
possibilidade de sofrer recargas, que e aceitação da técnica, houve a neces- baixa viscosidade, o que permitia so-

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mente seu emprego em áreas de pe- como fator motivador para reversão de tratamento, pois se obteve boa acei-
queno estresse, como as cavidades cer- de risco à cárie em pacientes com alta tação do paciente e, principalmente,
vicais. Com o desenvolvimento de CIV atividade cariogênica, controlando os preservação do elemento dental de-
com características físicas mais apro- fatores que promovem a doença2. Por- cíduo na cavidade bucal, buscando-se
priadas para áreas de maior estresse tanto, observa-se que a paralisação do atender às necessidades de tratamento
mastigatório, como as cavidades oclu- processo carioso não requer tratamen- em associação com as características
sais e atípicas, nota-se crescente avanço to sofisticado com alta tecnologia, e peculiares ao paciente frente ao atendi-
no sucesso da técnica7. sim a remoção da biomassa microbia- mento odontológico.
Pelegrinetti et al.15 (2005) avaliaram na cariogênica a partir da curetagem
superficial das lesões, retirando-se a
a retenção do CIV em restaurações CONCLUSÃO
maior parte do tecido amolecido, ne-
atípicas inseridas no programa de tra- - Para o caso clínico apresentado, ob-
crótico, desorganizado, mantendo-se,
tamento restaurador atraumático du- servou-se que a técnica, por estar bem
ainda, o tecido desmineralizado18. Tal
rante 24 meses e observaram ausência indicada, foi capaz de induzir maior
procedimento deve estar sempre asso-
de 29,4% das restaurações, o que pode ciado às instruções de higiene bucal e colaboração do paciente, diminuição
ser considerado uma porcentagem dieta adequadas, considerando-se que da ansiedade e resultar no sucesso da
relativamente baixa de falha do mate- o frequente consumo de alimentos ca- terapia restauradora.
rial. Isto os fez acreditar que a técnica riogênicos pode estar relacionado à alta - O CIV se mostrou um bom mate-
de tratamento restaurador atraumáti- severidade da cárie, como relatado por rial na promoção da paralisação da do-
co em restaurações atípicas apresenta Peres et al.16 (2000). Isto mostra que, ença cárie por apresentar propriedades
condições de sucesso a longo prazo. para a condição clínica apresentada biológicas adequadas, entretanto, suas
A utilização da Técnica Restaurado- neste estudo, a técnica empregada se propriedades mecânicas ainda necessi-
ra Atraumática pode ser considerada mostrou como importante alternativa tam ser melhoradas.

Figura 1 – Cimento de ionômero de vidro. Manipulação do material


Figura 2 – Lesão de cárie dente 85

Figura 4 – Aplicação do verniz cavitário para Figura 3 – Foto da remoção Figura 5 – Acompanhamento clínico após 5
proteção superficial do CIV de dentina cariad meses da confecção da restauração

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16 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Apicificação pós-traumatismo dentário:


relato de caso

Apexification after dental trauma: a case report

Palavras-chave: traumatismos dentários; terapia endodôntica; apicificação; dentes humanos imaturos.


Keywords:Tooth injuries; root canal therapy; apexification; immature human teeth.

Renata Laís Xavier Santos1 RESUMO


Sílvio Emanuel Acioly Conrado Menezes² O tratamento de apicificação através do desbridamento químico-mecânico e da
Glauco dos Santos Ferreira³ manutenção de curativos à base de hidróxido de cálcio, regularmente renovados,
Rosana Maria Coelho Travassos³ é uma alternativa para estimular o selamento biológico de uma extensa abertura
foraminal, com reparo concomitante de lesões periapicais e continuação do de-
senvolvimento apical em dentes com rizogênese incompleta que sofreram trau-
matismos. Neste artigo, relata-se o tratamento endodôntico bem-sucedido, com
medicação intracanal à base de hidróxido de cálcio, realizado em um período de
apenas cinco meses, de um incisivo central e lateral superior direitos com forma-
ção radicular incompleta. Ao exame clínico e radiográfico, dois anos após o trau-
ma, constatou-se ausência de vitalidade pulpar, de mobilidade e de dor à percus-
são vertical e horizontal dos elementos dentários, observou-se radiograficamente
rarefação óssea difusa ao ápice sugestiva de abscesso dento-alveolar crônico, além
de rizogênese incompleta. Removeu-se os curativos temporários presentes e os
acessos coronários dos elementos dentários foram readequados. Foi realizado o
preparo dos canais radiculares através da técnica de Oregon Modificada e tro-
cas da medicação intracanal (Callen com PMCC) foram realizadas mensalmente.
Após cinco meses foi constatada a formação de barreira mineralizada com um
plug de dentina na região apical do elemento 11. A obturação dos dois elementos
dentários realizou-se pela técnica do cone rolado com condensação lateral ativa.

ABSTRACT
The apexification treatment by chemo-mechanical debridement and maintenance of curatives based calcium
hydroxide regularly renovated, is an alternative to stimulate the biological sealing of extensive foraminal ope-
1 Especialista em Endodontia. E-mail: renata_lais@hotmail.com ning, with concomitant repair of periapical lesions and further development of apical in teeth with incomplete
root formation have suffered trauma. In this article, reports the successful endodontic treatment, the intracanal
² Mestre e especialista em Endodontia. E-mail: drsilviomenezes@ medication with calcium hydroxide base, held in a period of just five months, a right central and lateral incisor
yahoo.com.br with incomplete root formation. In clinical and radiographic examination, two years after the trauma, it was
³Doutores e especialistas em Endodontia. E-mail: glauco_sf@hotmail. found absence of pulp vitality, mobility and pain to percussion in dental elements, observed radiographically di-
com; e-mail: travassos.rosana@gmail.com ffuse bone rarefaction to the apex suggestive of chronic dentoalveolar abscess , and incomplete root formation.Was
removed the temporary curatives and the coronary access were reconfigured.Was performed root canal preparation
using the technique of Oregon Modified exchanges of intracanal medication (Callen with PMCC) were performed
monthly. After five months was observed the formation of a mineralized barrier with a plug of dentin in the api-
cal region of the element 11.The filling of two teeth held by the rolled cone technique with lateral condensation.

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INTRODUÇÃO sição de dentina radicular apical cessa RELATO DO CASO


O principal objetivo da terapia e a terapia endodôntica convencional Paciente J.C.S.F., 11 anos, sexo mas-
pulpar é man¬ter a integridade e a faz-se necessária, no intuito de assegu- culino, acompanhado do responsável,
saúde dos dentes e de seus te¬cidos rar a permanência do elemento dentá- procurou a Clínica de Especialização
de suporte, inclusive em dentes rio na cavidade oral e, se conseguir, a em Endodontia da Faculdade de Tecno-
perma¬nentes jovens, aqueles cujo apicificação5. logia de Sete Lagoas relatando história
ápice radicular histolo¬gicamente A raiz imatura com uma polpa necró- de trauma na região dos incisivos supe-
não apresenta dentina apical revesti- tica apresenta múltiplos desafios para o riores direitos há dois anos. A paciente
da por cemento, e radiograficamente sucesso do tratamento. Há dificuldade relatou ter sido atendida de urgência
o extremo apical da raiz não atingiu em limpar as paredes do canal bem no mesmo dia realizando a sutura nos
o estágio dez de Nolla1. como preencher o canal com material tecidos moles da região labial afetada
Durante seu desenvolvimento os obturador, porque o ápice aberto não e a abertura coronária dos dentes 11 e
dentes permanentes podem ser aco- 22 dois dias após o trauma. Ao exame
fornece nenhuma barreira para conter
metidos por traumatismos e têm o de- clínico e radiográfico, constatou-se au-
a obturação endodôntica antes de coli-
senvolvimento radicular prejudicado. sência de mobilidade e dor à percussão
dir com os tecidos periodontais6.
Diante da importância da manutenção vertical e horizontal dos incisivos late-
O tratamento endodôntico tradi- ral e central superior direito, os quais
de um dente permanente na arcada, o cional de tais casos geralmente inclui
tratamento endodôntico dos dentes jo- responderam negativamente aos testes
desbridamento do canal radicular, a térmicos de sensibilidade. Ao exame
vens tem especial interesse na tentativa
desinfecção do espaço e obturação fi- radiográfico observou-se rarefação
de recuperação do dente comprometi-
nal ou precedida por um processo de óssea difusa ao ápice sugestiva de abs-
do. Os procedimentos mais usados no
apicificação ou confecção de uma bar- cesso dento-alveolar crônico, além de
tratamento destes dentes são a apicigê-
reira apical usando materiais como o rizogênese incompleta (Figuras 1 e 2).
nese e a apicificação2 .
agregado de trióxido mineral (MTA). Removeu-se os curativos e as abertu-
Até 40% das crianças com idade pré- O procedimento clínico de apicificação ras coronárias dos elementos dentários
-escolar sofrem traumatismos em sua consiste na aplicação de hidróxido de foram readequadas. Após isolamento
dentição decídua, período em que as cálcio como medicamento intracanal absoluto, foi realizado o preparo dos
crianças estão desenvolvendo suas habi-
para induzir o fechamento apical ao canais radiculares através da técnica
lidades motoras. As quedas são as mais
longo do tempo, com real previsibili- de Oregon Modificada, obtendo como
freqüentes causas do trauma dental em instrumento memória (IM) do elemen-
dade de sucesso7.
pré-escolares e escolares. Os incisivos to 12 a lima K # 80, porém o elemen-
centrais superiores são os mais comu- A morfologia do reparo da região
apical tem sido estudada e caracte- to 11 apresentou intenso sangramento
mente injuriados, seguidos pelos inci- próximo à região apical passando a ser
sivos laterais superiores e os incisivos rizada de duas formas: pelo apareci-
irrigado com água de cal. Decorrente
inferiores. A capacidade do lábio supe- mento de substância radiopaca, que
do exposto fato, foi solicitado exames
rior de proteger os dentes superiores é obstrui a abertura apical simples-
laboratoriais ao paciente, os quais apre-
afetada pelo grau de proeminência dos mente, ou pela complementação do
sentaram resultados dentro dos pa-
dentes anteriores3. desenvolvimento radicular com de- drões de normalidade, para averiguar
Os traumatismos em dentes perma- posição de tecido duro apical, po- possível discrasia sanguínea. O Callen
nentes constituem um problema grave, dendo a raiz do elemento dentário com PMCC foi a opção de medicação
podendo ser considerado, verdadeira- apresentar diversas configurações8. intracanal e ionômero de vidro usado
mente, uma situação de urgência espe- O estudo descreve um caso bem como selador provisório (Figura 3).
cial, não só pelos problemas dentários sucedido de tratamento endodôntico Após um mês, concluiu-se a ins-
e suas repercussões futuras, mas tam- com rizogênese incompleta utilizando trumentação do elemento 11, irriga-
bém pelo envolvimento emocional da o hidróxido de cálcio para favorecer da com solução de hidróxido de cál-
criança e de seus acompanhantes4. a apicificação de elementos dentários cio (água de cal), com Lima K #120
Quando ocorre comprometimento traumatizados há dois anos com obtu- (IM), IAI – Lima K # 100 de 3ª série
pulpar irreversível ou necrose, o qua- ração através da técnica do cone rolado devido amplitude do canal radicular
dro torna-se complicado, pois a depo- e condensação lateral ativa. (Figura 4). Trocas da medicação intra-

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canal e radiografias foram realizadas gramento pela trombopenia. da um procedimento aceitável para
mensalmente para acompanhamento. O tratamento endodôntico de den- tratar traumatizado imaturos incisi-
Na quinta sessão, ao exame clínico e tes permanentes imaturos com necrose vos permanentes.
radiográfico foi constatada a presença pulpar, com ou sem patologia apical, Al Ansary et al.(2009)17 afirmaram
da apicificação com um plug de dentina coloca vários desafios clínicos11. não haver evidências confiáveis sobre
na região apical do elemento 11. A ob- eventos adversos ou efeitos a longo
Desvantagens, citadas na literatura,
turação dos dois elementos dentários prazo após a utilização de hidróxido
da terapia tradicional com hidróxi-
realizou-se pela técnica do cone rolado do de cálcio a longo prazo incluem de cálcio justificando cuidado na sua
com condensação lateral ativa (Figuras variabilidade do tempo de tratamen- utilização em técnicas de formação de
5 e 6), selamento provisório com io- to, imprevisibilidade de formação de barreira apical.
nômero de vidro e encaminhamento uma vedação apical, dificuldade em
para posterior restauração. Acompa- O hidróxido de cálcio continua
acompanhamento de pacientes e tra- sendo o material mais requisitado
nhamento de proservação foi realizado tamento tardio12.
apenas com quatro meses por falta de nesse tipo de tratamento, mesmo que
colaboração do paciente (Figura 7). Contudo, a formação do tampão api- alguns pesquisadores sustentem que
cal de dentina ocorreu em cinco meses o fechamento apical ocorra quando
com o vedamento apical e diminuição controlada a infecção e sem a utiliza-
DISCUSSÃO da imagem radiolúcida na região pe- ção de um material indutor de tecido
Estudos têm mostrado que o trata- riapical. Como cita Gründling et al. mineralizado8.
mento do trauma dental em serviços (2010)13 a apicificação por meio de um Embora o mecanismo histológico do
de atendimento de emergência é mui- debridamento químico-mecânico do reparo ainda permaneça relativamente
tas vezes inadequado e que a ansieda- canal, seguida de uma reno¬vação re- obscuro e sua explicação encontre con-
de e angústia dos pacientes podem ser gular de curativos de hidróxido de cál- trovérsia na literatura, há o consenso
exacerbadas se o tratamento prestado cio, é uma alternativa justificada pelo de que a barreira de tecido duro api-
não atender as expectativas 9. Situação selamento biológi¬co de uma extensa cal pode ser formada por dentina ou
semelhante à descrita no presente tra- abertura foraminal, com o concomi- cemento, em dependência das células
balho e que ratifica a importância de tante reparo de lesões periapicais e que estiverem presentes no momento
cirurgiões-dentistas aptos em serviços continuação da formação apical. da intervenção8.
de urgência. Embora existam divergências entre
As opções terapêuticas para o dente
Considerando os fatores gerais que alguns autores quanto a fatores como
imaturo com uma necrose pulpar in-
influenciam no sucesso do tratamento intervalos de trocas, tempo médio para
cluem apicificação e regeneração, re-
endodôntico, a história médica e odon- ocorrer a apicificação, é sabido que o
vascularização, ou revitalização. Essas
tológica do paciente é fundamental. A hidróxido de cálcio é uma substância
novas técnicas, diferente da tradicional
idade do indivíduo e seu estado nutri- altamente eficiente e tem se mostrado
ao longo dos anos ser efetivo em casos apicificação, vêm sendo expostas na li-
cional estão relacionados à capacida- teratura como futuras alternativas de
de de defesa do organismo. Pacientes de tratamento de dentes com rizogê-
nese incompleta14. tratamento aos dentes com rizogêne-
com discrasias sanguíneas também têm se incompleta com polpa infectada ou
seu metabolismo alterado e requerem Em revisão sistemática e meta-análise necrótica. Os casos publicados a esse
atenção especial nos procedimentos sobre apicificação em dentes com rizogê- respeito apresentam procedimentos
endodônticos10. Diante do exposto, a nese incompleta, chegou-se a conclusão endodônticos regenerativos in vivo cli-
conduta de solicitação de exames labo- que o hidróxido de cálcio e o MTA po- nicamente bem sucedidos6, 11, 18, 19.
ratoriais, após o intenso sangramento dem ser materiais adequados para o tra-
no elemento 11, foi de extrema rele- tamento dos dentes imaturos15.
vância para descartar a possibilidade Estudo realizado por Yassen et al. CONSIDERAÇÕES FINAIS
de anemia ou leucemia, que devido ao (2012)16 confirma novamente que a O hidróxido de cálcio utilizado como
menor aporte de oxigênio seria mais apicificação com hidróxido de cálcio medicação intracanal e renovado deter-
susceptível a infecções e o maior san- é previsível, de grande sucesso e ain- mina o fechamento do ápice radicular.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 19

Figura 1- Aspecto clínico inicial

Figura 2- Aspecto radiográfico inicial Figura 3 – Elementos dentários com


medicação intracanal

Figura 4- Odontometria Figura 5- Conemetria Figura 6- Obturação dos canais radiculares

Figura 7- Radiografia de proservação

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Artigo Original

Prevalência de alterações de língua em pacientes


atendidos na Faculdade de Odontologia - UFAM
Prevalence of tongue alterations in patients assisted of the Dentistry College - UFAM
Palavras-chave: Alterações da Língua, Língua Geográfica, Língua Fissurada, Língua Saburrosa.
Keywords: Alterations Tongue, Geographic Tongue, Fissured Tongue, Coated Tongue.

Katiana Bendaham de Souza RESUMO


Juliana Vianna Pereira O Objetivos: Avaliar as alterações linguais e verificar possível associação entre
Raquel de Oliveira Marreiro tipo de lesão de maior ocorrência e idade, gênero, nível de estresse e condição
Nikeila Chacon de Oliveira Conde socioeconômica em pacientes atendidos na disciplina de Diagnóstico Bucal da
Faculdade de Odontologia/UFAM.
Metodologia: Foram incluídos na amostra 105 pacientes de ambos os sexos e
maiores de idade que aceitaram participar da pesquisa, os quais foram avaliados
quanto a condição socioeconômica, nível de estresse e presença de alterações
linguais. Para avaliação da condição socioeconômica, foi aplicado questionário es-
pecífico com informações quanto à escolaridade, moradia e renda familiar. Após,
foi realizado exame de acordo com o protocolo Institucional com exame clínico
extra e intra-bucal. Os dados foram analisados através de frequência percentual,
teste exato de Fisher e teste do x2 para verificação da hipótese de associação.
Resultados: Em 48 (45,7%) indivíduos foi observado algum tipo de alteração
na língua, no entanto não foram verificadas associações estatisticamente signi-
ficantes entre a presença de alterações linguais e o gênero (p=0,848), a idade
(p=0,158), a escolaridade (p=0,073), a raça (p=0,133) e o tipo de moradia
(p=0,793). Quanto à renda, os resultados indicaram essa associação ao nível de
5% (p=0,023). Quanto ao nível de estresse, 57,9% dos pacientes encontravam-
-se em fase de Alerta, sendo que destes, apenas 29 indivíduos apresentaram alte-
rações linguais.
Conclusão: Pode-se concluir que a alteração mais comum em língua, na popula-
ção estudada, foi a língua saburrosa (37,5%), seguida da língua fissurada (25%)
sendo observada a associação entre renda familiar e alteração lingual.

ABSTRACT
The apexification treatment by chemo-mechanical debridement and maintenance of curatives based calcium
1 Especialista em Endodontia. E-mail: renata_lais@hotmail.com
hydroxide regularly renovated, is an alternative to stimulate the biological sealing of extensive foraminal ope-
ning, with concomitant repair of periapical lesions and further development of apical in teeth with incomplete
² Mestre e especialista em Endodontia. E-mail: drsilviomenezes@ root formation have suffered trauma. In this article, reports the successful endodontic treatment, the intracanal
yahoo.com.br medication with calcium hydroxide base, held in a period of just five months, a right central and lateral incisor
³Doutores e especialistas em Endodontia. E-mail: glauco_sf@hotmail.
with incomplete root formation. In clinical and radiographic examination, two years after the trauma, it was
com; e-mail: travassos.rosana@gmail.com
found absence of pulp vitality, mobility and pain to percussion in dental elements, observed radiographically di-
ffuse bone rarefaction to the apex suggestive of chronic dentoalveolar abscess , and incomplete root formation.Was
removed the temporary curatives and the coronary access were reconfigured.Was performed root canal preparation
using the technique of Oregon Modified exchanges of intracanal medication (Callen with PMCC) were performed
monthly. After five months was observed the formation of a mineralized barrier with a plug of dentin in the api-
cal region of the element 11.The filling of two teeth held by the rolled cone technique with lateral condensation.

Souza, Katiana Bendaham de at al. Prevalência de alterações de língua em pacientes atendidos na Faculdade de Odontologia - UFAM

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22 Anuário de Artigos Científicos 2014

INTRODUÇÃO o uso de medicações para o controle de o número de alterações linguais, du-


A língua é um órgão muscular situ- determinadas doenças sistêmicas podem rante o período compreendido entre
ado na cavidade bucal, cuja parede in- favorecer o aparecimento ou exacerba- agosto/2007 e abril/2008, em pacien-
ferior está fixada no soalho da boca e ção de alterações linguais como a língua tes atendidos na disciplina de Diagnós-
auxilia na mastigação, deglutição, gus- saburrosa, língua fissurada, varicosidades tico Bucal da Faculdade de Odontolo-
tação e fonação1. É um sítio bastante linguais, glossite romboidal mediana, gia da UFAM.
comum de localização de alterações, dentre outras8. Foram obedecidas as exigências éti-
cuja importância clínica se destaca à Uma forte associação tem sido en- cas contempladas na Resolução 196/96
medida que as lesões assumem um contrada entre a língua fissurada e a do Conselho Nacional de Saúde, ten-
aspecto que caracteriza uma condição língua geográfica, com muitos pacien- do como Protocolo de Aprovação no
de anormalidade da mesma ou de evo- tes apresentando as mesmas situações. Comitê de Ética/UFAM, o CAAE no.
lução clínica incerta, como lesões de A hereditariedade também tem sido 0031.0.115.000-07. Foram incluídos
líquen plano2. Dentre as várias altera- sugerida como causa da língua geo- no estudo, pacientes de ambos os sexos
ções encontradas na língua de acordo gráfica e possivelmente o(s) mesmo(s) e maiores de idade.
com as características que podem estar gene(s) pode(m) estar relacionado(s) Para a coleta de dados, foi aplicado
ou não associadas a distúrbios do seu com as duas condições9. aos sujeitos da pesquisa questionário
desenvolvimento, são destacadas nesse A língua saburrosa é caracterizada com informações quanto a dados pes-
estudo: a Língua Geográfica, a Língua pela hipertrofia das papilas filiformes soais e condição socioeconômica12 para
Fissurada e a Língua Saburrosa. do dorso da língua, associada às fissuras avaliar idade, sexo, escolaridade, raça,
A Língua Geográfica, referida por longitudinais, transversais ou oblíquas moradia e renda familiar. Quanto ao
uma variedade de termos, tais como, em parte ou toda sua superfície dor- nível de estresse13 foi utilizado o ins-
Glossite Migratória Benigna, Glossite sal. Depósitos entre as papilas filifor- trumento proposto por Lipp (2002),
Migratória Ectópica, Eritema Migrató- mes de células epiteliais descamadas, onde são questionados a presença de
rio, Língua Migratória ou Eritema Are- leucócitos, microrganismos (fungos e sintomas psicológicos, físicos e entre
ata Migratório, é uma condição benig- bactérias) e resíduos alimentares dão outros, e através de escores obtidos o
na comum que ocorre no ápice, bordas à língua uma coloração esbranquiça- paciente pôde ser classificado em três
laterais e no dorso da língua3. Apresen- da, causando ou contribuindo para a estados (níveis): estado de Alerta (ní-
ta-se com um aspecto de mapa, ocasio- inflamação e sensação de desconforto. vel leve), Resistência (estresse modera-
nado por partes irregulares desnudas A saburra lingual está relacionada a do) e Exaustão (estresse intenso).
em sua superfície de erosão avermelha- 85% das causas de halitose e têm fato- A fase alerta (leve) totaliza 6 pontos
da e contorno esbranquiçado bem de- res associados como a redução do fluxo (2 sintomas psicológicos, 2 sintomas
finido. As áreas despapiladas persistem salivar, o desequilíbrio da microbiota físicos e outros 2 sintomas). A fase de
desta forma por um período variável, oral, a descamação de células epiteliais resistência (moderado) está entre 9-20
normalizam espontaneamente e apa- da mucosa e a deposição de restos ali- pontos (3-7 sintomas psicológicos, 3-7
recem em outro lugar, configurando mentares que se acumulam no dorso sintomas físicos, 3-6 outros sintomas).
o aspecto migratório da lesão4. Por se posterior da língua10,11. E a fase de exaustão (intenso) corres-
tratar de uma patologia benigna não há Desta forma, o presente trabalho ponde a 16-20 pontos (8-11 sintomas
necessidade de tratamento específico, teve como objetivo determinar a pre- psicológicos, 8-9 sintomas físicos).
apenas controle clínico ou tratamento valência dos tipos de alterações en- Após o preenchimento do questio-
sintomático5. contradas na língua e sua possível as- nário, os pacientes foram submetidos
A língua fissurada ou língua escrotal sociação com gênero, idade, condição ao exame clínico intra-bucal de tecidos
é relativamente comum. Após a língua sócio-econômica e/ou nível de estres- moles, realizado por um único exa-
geográfica, é a segunda mais freqüente se, em pacientes atendidos na disciplina minador de acordo com Semiotécnica
alteração da língua observada em vários de Diagnóstico Bucal da Faculdade de utilizada na Disciplina de Diagnós-
estudos. Essa prevalência sobe de 0,6% Odontologia da UFAM. tico Bucal da Faculdade de Odonto-
na África do Sul para 27,7% no Brasil e logia (UFAM), sendo a identificação
tem sido associada a pessoas com idades METODOLOGIA das alterações de língua realizada de
mais avançadas6,7. Pesquisas demons- Trata-se de um estudo de prevalên- acordo com descrição da literatura11.
tram que o próprio envelhecimento e cia, do tipo transversal, para investigar Utilizaram-se os recursos de ilumina-

Souza, Katiana Bendaham de at al. Prevalência de alterações de língua em pacientes atendidos na Faculdade de Odontologia - UFAM

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ção e secagem disponíveis no equipa- ração de língua foi 35 a 45 anos, to- Considerando aspectos socioeconô-
mento odontológico, além de material talizando 11 indivíduos (22,9%) não micos, um estudo realizado em 1997,
descartável específico, como luvas de havendo diferença estatisticamente verificou que dos pacientes atendidos
procedimentos, espátulas de madeira significante quanto idade e alteração nas clínicas da Faculdade de Odontolo-
e compressas de gaze de acordo com lingual (p=0,158). Quanto à raça, os gia de Ribeirão Preto-USP em 1994, a
os princípios de biossegurança. Foi resultados mostraram que 91,7% dos maioria da amostra pertencia a famílias
utilizada uma seqüência de exame pa- que possuíam alteração lingual decla- de tamanho médio (quatro pessoas) e
dronizada; região dorsal, depois bordas ram-se brancos ou pardos (p=0,133). de baixa renda familiar mensal, embora
laterais e, por último, o ventre da lín- Em relação à condição socioeconô- a maioria morasse em casa própria19.
gua. As anotações foram feitas em fi- mica, não foram observadas diferenças Em relação ao nível socioeconômico,
chas específicas com dados referentes à estatisticamente significantes quando verificou-se que a maioria possui en-
localização, aspecto clínico e extensão. sino médio completo, casa própria e
testada a associação entre alteração de
Os dados coletados foram analisados língua e escolaridade, raça e moradia.renda familiar menor que três salários
pela estatística descritiva através das Apenas a renda familiar demonstrou mínimos, sendo que a relação escola-
frequências absolutas e relativas sim- ridade e presença de alteração lingual
diferença estatisticamente significante
ples para os dados categóricos; e média, com a presença de alterações linguais mostraram diferenças estatisticamente
mediana e desvio-padrão para os dados (p=0,023). significante (p=0,023).
quantitativos. Na estimativa de pacien- A língua saburrosa foi a alteração No estudo, realizado com 719 pa-
tes com alterações na língua, utilizou- mais prevalente com 37,5%, seguido cientes na Faculdade de Odontologia
-se o Intervalo de Confiança de 95% da língua fissurada com 25% (Gráfi- da Universidade de São Paulo, foram
(IC95%). Na comparação das variáveis co 1 e Figura 1). Quanto ao nível de identificadas 31,4% de lesões da mu-
demográficas e socioeconômicas em estresse, os resultados demonstraram cosa bucal, sendo variações da norma-
relação aos achados no exame bucal, que 60,4% dos pacientes com altera- lidade e anomalias de desenvolvimento
utilizaram-se o teste do qui-quadrado (pigmentação racial, leucoderma, lín-
ções linguais estavam na fase de alerta,
de Pearson (para os dados categóricos), gua fissurada, língua geográfica, entre
no entanto não foi possível testar a as-
o teste de Fisher (para as variáveis raça sociação entre variáveis. outros) encontrado em 315 pacientes
e renda) e o teste t de Student (para os (43,8%). Pôde-se avaliar um aumento
dados quantitativos)14. na ocorrência das lesões com o avançar
DISCUSSÃO da idade, principalmente entre a faixa
O software utilizado na análise foi
o programa Epi-Info versão 3.4.3 for De acordo com o resultado do es- etária de 21 a 30 anos, com o gêne-
Windows desenvolvido e distribuído tudo, a Tabela 1 demonstra que do ro feminino apresentando 151 (21%)
pelo CDC (Centers for Disease Con- total de pessoas com alterações de das lesões em relação ao masculino 81
trol and Prevention) e o nível de sig- língua (n=48), 66,7% eram mulheres (11,26%). Não houve diferença signi-
nificância utilizado no teste foi de 5%. e 33,3% homens. Relatos da literatu- ficativa na freqüência de lesões entre
ra6,10,15 demonstram maior predileção o gênero nem entre as classes sociais
pelo gênero feminino, o que está de identificadas (p>0,05)18.
RESULTADOS acordo com o achado desta pesquisa. A maior porcentagem de ocorrência
De um total de 198 pacientes aten- Dos pacientes que apresentaram de alteração lingual encontrada neste
didos, 156 obedeceram aos critérios alterações linguais, 91,7% relataram estudo foi a língua saburrosa (37,5%),
de inclusão sendo que apenas 105 acei- ser da raça parda/branca e 8,3% da seguida da língua fissurada (25%). Es-
taram fazer parte do estudo. Dos 105 raça negra, o que pode estar relacio- tes resultados diferem com os achados
pacientes, 48 apresentaram algum tipo nado com a maior predominância de da literatura5,6,7,15, nos quais a língua
de alteração na língua corresponden- indivíduos da raça parda na região do fissurada apresenta-se como a segunda
do a 45,7%, sendo o sexo feminino o estudo16. Da mesma forma, no estu- alteração mais frequente, antecedida
mais acometido (66,7%) em relação ao do realizado em São Paulo17, foi ob- pela língua geográfica. O baixo índice
masculino, porém sem diferença esta- servada uma prevalência aumentada de ocorrência de casos de língua geo-
tisticamente significante (p=0,848). da raça branca (91,2%) em relação às gráfica observado neste estudo (2,1%)
Quanto à idade, a faixa etária que raças negra e amarela; 4,8% e 4%, justifica-se pela composição da amostra
apresentou o maior número de alte- respectivamente. com indivíduos maiores de 18 anos.

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Outro fator importante destacado Nesse estudo, esteve associada à pre- relação importante no aparecimento
nos estudos4,20,21,22 é a associação da lín- sença de língua fissurada, relacionando das alterações linguais, especialmente a
gua geográfica com a psoríase, doença ao fato dessa tal alteração ser um acha- língua geográfica com o estresse emo-
dermatológica crônica com diversas do semiológico também freqüente nos cional (69,6%). Com o resultado desse
variantes clínicas e graus de severidade. pacientes senis6,7,23. trabalho, avaliando o nível de estresse
Nesse estudo não foi constatado casos Foi verificada ainda a presença de dos pacientes que possuíam algum tipo
de pacientes psoriáticos que pudessem alteração volumétrica da língua, sen- de alteração lingual, verificou-se que a
relacionar esse tipo de associação com do 4,2% dos casos associados à língua fase mais frequente encontrada foi a de
as alterações linguais. saburrosa e 2,1% presente em línguas alerta 29 (60,4%), seguida da fase de
Fortes relatos de associação entre a com saburra e fissuras. De acordo com resistência 5 (10,4%). Não se pôde re-
língua fissurada e geográfica são descri- a literatura, a macroglossia pode ser lacionar o nível de estresse com o tipo
tos9,15. Nesse estudo, predominaram-se uma condição relacionada síndromes de alteração lingual.
os casos encontrando a língua saburro- ou malformações, no entanto, neste
sa associada com à fissurada (10,4%). estudo não foi observado qualquer as-
A associação língua geográfica/fissura- sociação destas características com os CONCLUSÕES
da foi o quarto tipo de alteração lingual casos de macroglossia11,24. Com base nos resultados encontrados,
encontrada alcançando uma porcenta- Sabe-se que o desequilíbrio entre o podemos concluir que: a alteração mais
gem de 4,2 %. corpo e a mente pode estar relacionado comum em língua foi a língua saburrosa,
As varicosidades ou varizes caracte- ao estresse25. Em um determinado es- seguida da língua fissurada. A popula-
rizadas por veias anormalmente dila- tudo15, o estresse emocional foi obser- ção estudada apresentou uma associação
tadas e tortuosas foram diagnosticadas vado em 40% dos pacientes, sendo que entre renda familiar e presença de alte-
em 8,3% dos pacientes. É um achado a língua geográfica foi frequentemente rações linguais. O nível de estresse não
clínico muito comum acima dos 55-60 associada a doenças psicossomáticas. demonstrou estar relacionado com a
anos de idade e em ambos os sexo10. Em outro trabalho16 verificou-se uma ocorrência de alterações de língua.

Alteração na língua
Variáveis (n = 105) Sim (n= 48) Não (n=57) =57 57)
fi % fi % Total p*
Sexo 0,848
Masculino 16 33,3 18 31,6 34
Feminino 32 66,7 39 68,4 71
Idade (anos)
Média ± DP 39,1±13,9 35,7±10,5 0,158**
Escolaridade 0,073
Fundamental Incompleto 16 33,3 8 14,0 24
Fundamental Completo 12 25,0 11 19,3 23
Médio Completo/Superior 20 41,7 4 66,7 58
Raça 0,133***
Branca/Parda 44 91,7 56 98,2 100
Negra 4 8,3 1 1,8 5
Moradia 0,793
Própria 36 75,0 44 77,2 80
Alugada/Cedida 12 25,0 13 22,8 25
Renda familiar em salários mínimos (n = 93)
Total 41 52 0,023
<3 30 73,2 26 50,0 56
≥3 11 26,8 26 50,0 37
Valor de p em negrito itálico indica associação estatisticamente significante ao nível de 5%.
* Teste do qui-quadrado de Pearson; ** Teste t de Studen para comparação entre as médias. *** Teste exato de Fisher

Tabela 1. Distribuição segundo as frequências das variáveis demográficas e socioeconômicas, segundo o resultado do exame para analisar alterações
de língua de pacientes atendidos na Faculdade de Odontologia da UFAM, Manaus - AM.

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Alteração na língua
Estresse Sim Não
fi % fi % Total
Fase alerta 29 60,4 33 57,9 62
Fase de resistência 5 10,4 4 7,0 9
Sem sintomas 14 29,2 20 35,1 34
Total 48 45,7 57 54,3 105
Não foi possível aplicar a estatística de teste devido às restrições do qui-quadrado (VIEIRA, 2004).

Tabela 2. Distribuição segundo o nível de estresse e o resultado do exame para analisar alterações de língua de pacientes atendidos
na Faculdade de Odontologia da UFAM, Manaus - AM.

Gráfico 1. Distribuição segundo a prevalência de alteração na língua de pacientes atendidos


na Faculdade de Odontologia da UFAM, Manaus - AM.

Figura 1: a – Língua Saburrosa; b- Língua Fissurada; c- Língua Geográfica e Fissurada

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26 Anuário de Artigos Científicos 2014

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Artigo Original

Avaliação da percepção dos pais/responsáveis


quanto aos fatores etiológicos da cárie dentária
Evaluation of the of parents/guardians perception about the etiologic
factors of the tooth decay
Palavras-chave: Cárie Dentária, Dieta Cariogênica, Higiene Bucal.
Keywords: Dental Caries, Diet Cariogenic, Oral Hygiene.

Bruna de Castro1 RESUMO


Anderson Matos2 Introdução - O conhecimento dos pais/responsáveis a respeito dos fatores etiológicos
Gislaine Ribeiro de Oliveira Margon da Rocha3 da cárie dentária e de suas práticas preventivas é essencial para a manutenção bucal
Laudimar Alves de Oliveira4 infantil. O presente trabalho objetivou avaliar a percepção dos pais/responsáveis da
Clínica de Odontopediatria da Universidade Paulista – Brasília DF, no período de
março a maio de 2011, a respeito dos fatores etiológicos da cárie na infância.
Material e Método - Foram realizadas 144 entrevistas semiestruturadas com pais/
responsáveis. Os dados foram tratados estatisticamente, teste Anova com nível de sig-
nificância de 95%.
Resultados - Os pais/responsáveis possuem conhecimento e preocupação com os cui-
dados necessários para manutenção da saúde bucal de seus filhos. Houve preocupação
em relação à amamentação, especialmente no primeiro ano de idade. Setenta e dois
por cento relataram não fornecerem chupeta aos seus filhos. O consumo de leite,
derivados como pães, massas, além de gorduras foram considerados satisfatórios para
os parâmetros nutricionais vigentes. Entretanto, muitos ainda permitem o elevado
consumo de açúcar. Ao analisar a higiene dentária verificou-se que a maioria das crian-
ças, 48,61%, escova os dentes duas vezes por dia e 35,41%, três vezes, e que 61% das
crianças faz uso de fio dental.
Conclusão - A maioria dos participantes demonstrou conscientização em relação à
saúde bucal de suas crianças. Neste sentido, verificou-se alto índice de práticas que
contribuem para manutenção da saúde bucal evitando, no cotidiano, condutas que im-
pliquem em maior suscetibilidade à doença cárie. Entretanto, destaca-se a necessidade
em intensificar a orientação quanto ao consumo de sacarose.

ABSTRACT
Introduction - The knowledge of parents/guardians about the etiological factors of dental caries and its pre-
ventive practices is essential for maintaining childhood’s oral health. This study aimed evaluate to assess the
perceptions of parents/guardians of Clinical Pediatric Dentistry of Paulista University - Brasilia DF, in the
1 Cirurgiã-Dentista, Clínica Privada, Brasília – DF, bancastro@yahoo.com.br ; period from March to May 2011, about the etiological factors of caries in children.
Material and Methods - 144 semi-structured interviews were conducted with parents/guardians.The data were
2 Cirurgião-Dentista, Clínica Particular, Brasília – DF,. andersonrmatos@ statistically analyzed using Anova with a significance level of 95%.
yahoo.com.br ;
Results - Parents/guardians have knowledge and concern about the care necessary to maintain oral health of
3 Professora Adjunta, Universidade Paulista UNIP – DF, gislainer@gmail.com ; their children.There was concern about breastfeeding, especially in the first year of age. Seventy-two percent re-
ported not provide pacifiers to their children.The consumption of milk derivatives such as breads, pastas, and fats
4 Professor Adjunto, Universidade de Brasília – UnB – DF, laudimar@unb.br were satisfactory for the current nutritional parameters. However, many still allow the high sugar consumption.
By analyzing the dental hygiene found that most children, 48.61%, brush their teeth twice a day and three
times, 35.41%, and 61% of children makes flossing.
Conclusion - The majority of participants demonstrated awareness of the oral health of their children. In this
sense, there was a high rate of practices that contribute to maintaining oral health by avoiding, in daily life,
conduct that involves increased susceptibility to dental caries. However, there is a need to intensify the guidance
regarding the consumption of sucrose.

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INTRODUÇÃO será o controle dessa doença7. A visita ao cirurgião-dentista foi obser-


A cárie precoce na infância ainda é uma O período pré-escolar consiste no mo- vada em diversas faixas etárias, 63 entre-
realidade que atinge grande parte da popu- mento mais oportuno para o aprendizado vistados levaram seus filhos ao consultó-
lação infantil, levando ao comprometimen- da saúde bucal promovido pelas equipes rio entre 4 e 6 anos de idade, 29 entre 0
to de vários elementos dentários. Trata-se de saúde bucal8. e 1 ano de idade, e, tardiamente, crianças
de uma doença multifatorial com etiologia Com isso, o presente trabalho teve por que só foram ao dentista aos 10 e 11 anos
ligada à microbiota bucal, à capacidade de objetivo avaliar a percepção dos pais/res- de idade, 08 entrevistados (Figura 1).
defesa do hospedeiro e à dieta1. ponsáveis da Clínica de Odontopediatria da 131 entrevistados relataram que seus
Pela dificuldade no tratamento infantil, o Universidade Paulista – Brasília DF, no pe- filhos foram amamentados pelo menos
primeiro passo deve ser a conscientização ríodo de março a maio de 2011, a respeito por seis meses, dos quais 44 por dois
dos pais, visando seu entendimento sobre a dos fatores etiológicos da cárie na infância. anos. Apenas 13 relataram que seus filhos
importância da higienização bucal após cada não foram amamentados (Figura 2).
mamada ou refeição. Além da higiene oral, METODOLOGIA 64 disseram que seus filhos nunca usaram
outros fatores devem ser apontados como a Foram selecionados aleatoriamente mamadeira (Figura 3). A chupeta também
redução no consumo de carboidratos2. 144 pais/responsáveis por crianças aten- foi pouco utilizada, somente 34 entrevista-
Dentre os fatores etiológicos da cá- didas, na faixa etária de 01 a 12 anos de dos reconheceram seu uso (Figura 4).
rie, o controle da dieta é fundamental, idade, na Clínica de Odontopediatria da Com relação aos hábitos de higiene, 70
principalmente em crianças, época ideal Universidade Paulista - Campus Brasí- crianças escovavam os dentes duas vezes
para o aprendizado de hábitos saudáveis. lia. O critério de inclusão consistiu na e 51, três vezes ao dia (Figura 5). A pasta
As dietas ricas em cariogênicos, princi- seleção de todos os voluntários, pais/ dental foi utilizada por 100% dos entre-
palmente sacarose, levam na infância, à responsáveis legais, que acompanharam vistados, e desses, 61% fizeram uso do fio
chamada cárie precoce, de mamadeira, suas crianças no período compreendido dental (Figura 6).
do pré-escolar, síndrome da mamadeira entre março e maio de 2011 e desejaram Com relação à nutrição, a dieta rica em
noturna, entre outras denominações3. participar espontaneamente da pesquisa. carboidratos durante o dia, como a saca-
Na fase precoce de alimentação, perío- O projeto de pesquisa foi submetido e rose presente em doces e guloseimas, foi
do que precede ao surgimento dos den- aprovado pelo Comitê de Ética em Pes- encontrada em 88% das entrevistas (Fi-
tes, indica-se a higienização com gazes quisas Humanas do Hospital das Forças gura 7). Desse consumo verificou-se que
esterilizadas umedecidas. Isso é impor- Armadas de Brasília/DF sob o CAAE nº 37% faziam uso pelo menos três vezes ao
tante para a criança se acostumar com a 0020.0.376.000-10. dia (Figura 8). Por outro lado, no que se
sensação de limpeza4. A pesquisa foi realizada por meio de refere ao consumo de pães, arroz, mas-
Havendo na criança algum em erup- entrevista semiestruturada com 31 ques- sas, batatas e mandioca, observou-se que
ção, a higienização passa a ser necessária tões abordando a temática relacionada à mais da metade, 56%, consumiam cinco
e frequente, pois provoca o início da co- prevenção da saúde bucal, hábitos de hi- porções diárias, que corresponde ao pre-
lonização por bactérias cariogênicas5. giene como escovação e uso do fio den- conizado por nutricionistas (Figura 9).
Com o aparecimento dos primeiros tal, frequência de higienização, hábitos
molares decíduos, a limpeza deve ser in- de amamentação, uso de chupetas e ma- DISCUSSÃO
tensificada com uso de escovas infantis e madeiras, tipos de dieta e frequência de A cárie dentária é a doença infecciosa
fio dental com frequência de pelo menos visitas aos serviços odontológicos. mais prevalente em crianças. A preven-
duas a três vezes ao dia5. Todos os participantes assinaram oTermo ção ainda figura como seu melhor meio
A principal conduta na prevenção da de Consentimento Livre e Esclarecido. Os de controle3.
cárie é a conscientização dos pais para os resultados foram tratados estatisticamente A participação ativa dos pais/responsáveis
fatores de risco da mesma6. pelo método de análise de variância (Ano- no controle da saúde bucal de suas crianças atua
Crianças levadas para atendimento odon- va), com nível de significância de 95% e como fator preponderante tanto na prevenção
tológico de maneira periódica tiveram me- apresentados na forma de figuras. quanto no desenvolvimento da doença cárie7,8,9.
nor índice de cárie. Todavia, isso depende Na presente pesquisa pode-se consta-
do nível social e de escolaridade dos pais. RESULTADOS tar o elevado grau de preocupação dos
Quanto maior o nível de orientação e cons- Os resultados encontram-se distribuí- pesquisados quanto à saúde infantil. Tan-
cientização das crianças e dos pais, melhor dos nos Figuras de 01 a 10. to da demonstração de conhecimento a

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respeito do tema quanto das práticas diá- os dentes duas vezes ao dia. Galindo12 O análise feita porAkpaqbio et al.16 (2008)
rias verificadas. Nesse sentido, apesar da (2003) observou que a maioria das crian- orienta em relação à qualidade das informa-
procura ao cirurgião-dentista ser maior ças não costumava escovar os dentes três ções obtidas por pais/ responsáveis. Embora
entre 4 e 6 anos de idade, na presente vezes ao dia, o que correspondeu a ape- as orientações realizadas de maneira coletiva
pesquisa observou-se que alguns pais/ nas 39,1% de sua amostra. Esses dados ofereçam uma contribuição importante, os
responsáveis levaram seus filhos ainda são corroborados pelo presente trabalho autores alertam para necessidade de uma
durante o primeiro ano de vida, o que re- onde a maioria das crianças, 48,61% orientação individual quanto ao domínio
força o crescimento da preocupação com escova os dentes duas vezes por dia e efetivo das condutas a serem adotadas. Neste
a saúde bucal de seus bebês (figura 1). 35,41%, três vezes. (Figura 5). Neste as- aspecto, a avaliação individual realizada pelo
No entanto, deve-se destacar que, mes- pecto associada à frequência da escovação odontopediatra é essencial para uma conduta
mo com maiores informações a respeito deve-se acentuar a importância da higie- correta dos responsáveis a respeito da saúde
da necessidade de consulta periódica ao nização noturna. Como afirmam Siquera de suas crianças.
dentista, semelhantes aos dados obtidos et al. 14 (2011) a presença de manchas Para uma dieta equilibrada, deve-se
na literatura neste trabalho foram encon- brancas ocorre com maior frequência em fazer uso de todos os grupos de alimen-
trados casos de crianças que só fizeram a crianças que possuem o hábito da mama- tos como: leite e seus derivados; óleos e
primeira visita aos 10 e 11 anos de idade deira noturna associado à não higieniza- gordura; carnes; grãos; frutas, legumes e
(Figura 1), o que é relativamente tarde, ção noturna. verduras; pães, arroz, massas, batatas e
visto que a cárie pode se manifestar des- A pasta de dentes, utilizada por todos mandioca; e açucares17.
de o início da dentição8,9. os entrevistados possuía flúor. No meio Entretanto, alimentos como açucares,
O tratamento odontológico, tanto pre- profissional e científico, o domínio do óleos e gorduras devem ser melhor con-
ventivo quanto curativo, pode ser conside- importante papel exercido por essa subs-
trolados, sendo ideal apenas uma porção
rado como suporte de grande relevância tância já se encontra sedimentado. Pois,
diária. Em relação a pães, arroz, massas,
para a sensibilização dos pais ou responsá- além de contribuir para a mineralização
batatas e mandioca, as porções ideais
veis em relação à necessidade de acompa- da dentição, auxilia também na remoção
gravitam ao redor de cinco. Já o conta-
nhamento da saúde bucal de seus menores, do biofilme13.
to com frutas, verduras e legumes deve
porém ressalta-se a dificuldade de acesso Porém, a pesquisa apontou que os ocorrer entre cinco e seis vezes por dia.
aos serviços de assistência especializada10,11. pais, ao afirmarem positivamente o seu Leite e seus derivados, carne e grãos, são
A maioria das mães amamentou seus uso, demonstraram conhecer sua influ- considerados de consumo ideal quando
filhos até 1 ano de idade (Figura 2). Além ência no processo de formação da cárie. restritos a uma vez ao dia17.
disso, o estudo evidencia que a mamadei- Dos vários componentes presentes nos
ra está caindo em desuso (Figura 3). Ao dentifrícios, percebeu-se a preocupação Concordando com esses autores, vê-se
comparar a presente análise com o estudo dos entrevistados com o flúor. Ressalta- neste trabalho o nível ideal indicado pe-
de Galindo12 (2003), após uma década, -se que a supervisão dos pais durante o los nutricionistas com relação ao grupo
houve incremento de quase dez por cento processo de escovação é essencial para de pães, arroz, massas, batatas e mandio-
(de 56,5% para 64%) na quantidade de utilizar corretamente o dentifrício, di- ca. Mais de 56% das crianças consumi-
crianças que não utilizaram mamadeiras e minuindo assim seu risco de ingestão e, ram cinco porções diárias (Figura 8).
das que fizeram esse uso, houve suspensão como consequência, a fluorose15.
pela maioria até os 12 meses. O mesmo foi Outro dado relevante nesta pesquisa CONCLUSÃO
observado em relação à chupeta onde gran- foi o conhecimento sobre a importância A maioria dos participantes demons-
de parte dos entrevistados, 72,2%, relatou da higiene bucal. Inclusive, 61% afirma- trou conscientização em relação à saúde
seu desuso. (Figura 4). ram usar regularmente o fio dental, evi- bucal de suas crianças. Neste sentido, ve-
A escovação continua sendo a maneira denciando sua maior participação nesse rificou-se que a maioria preferiu adotar
mais eficaz de controle da placa dentária. procedimento. práticas que contribuem para manuten-
A higienização, além de manter a saúde Uma variável que neste trabalho apon- ção da saúde bucal evitando, no cotidia-
bucal, previne de maneira direta a ocor- ta para a necessidade de maior orienta- no, condutas que impliquem em maior
rência das doenças bucais mais comuns - ção refere-se à ingestão de sacarose pelas suscetibilidade das crianças à doença cá-
cárie e doença periodontal5. crianças. Percebeu-se um alto índice, rie. Entretanto, destaca-se a necessidade
Dowel13 (1981) relatou que aproxi- 88%, que se alimenta com doces ao lon- de intensificar a orientação quanto ao
madamente 50% das crianças escovavam go do dia. (Figura 7). consumo de sacarose.

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30 Anuário de Artigos Científicos 2014

Figura 1 – Idade em que as crianças fizeram a primeira visita ao dentista. Figura 2 – Período em que as crianças foram ama-
Teste Anova. m= 4,5 anos. P≤ 0,05. mentadas. Teste Anova. m= 14,52 meses. P≤ 0,05

Figura 3 – Período em que as crianças utilizaram mamadeira. Teste Anova. Figura 4 – Período em que as crianças fizeram uso de chupeta.
m= 1,48 anos. P≤ 0,05. Teste Anova. m= 0,61 anos. P≤ 0,05.

Figura 5 – Frequência de escovação diária pelas crianças.


Teste Anova. m= 2,3 vezes. P≤ 0,05. Figura 6 – Percentual de crianças que fazem uso do fio dental

Castro, Bruna de et al. Avaliação da percepção dos pais/responsáveis quanto aos fatores etiológicos da cárie dentária

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Figura 7 – Percentual de crianças que Figura 8 – Distribuição da quantidade Figura 9 – Distribuição da quantidade de cri-
costumam comer doces durante o dia de crianças em relação ao número de anças em relação ao número de porções diárias
porções diárias ingeridas do grupo dos ingeridas do grupo dos pães, arroz, massas,
açúcares e doces batata e mandioca

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32 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Efeito da técnica de reembasamento com resina


composta na retenção de pinos de fibra de vidro em
canais radiculares amplos
Effect of composite relining technique on glass fiber post retention to flared root canals
Palavras-chave:Técnica para Retentor Intra-Radicular. Cimentos de Resina. Cimentação. Retenção em prótese dentária.
Keywords: Post and Core Technique. Resin cements. Cementation. Material Testing. Dental Prosthesis Retention.

Celso de Freitas Pedrosa Filho1 RESUMO


Daniele Machado da Silveira Pedrosa2 Introdução: O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência de união de pinos de fi-
Sérgio de Freitas Pedrosa3 bra de vidro reembasados (RFP) e não reembasados (NFP) com resina composta nos
terços cervical, médio e apical de canais radiculares amplos. Material e Métodos: 20
incisivos bovinos foram seccionados transversalmente a 16 mm do ápice radicular e
posteriormente incluídos em cilindros de resina acrílica. Após o tratamento endo-
dôntico, os canais radiculares foram ampliados utilizando pontas diamantadas. Os es-
pécimes foram divididos em dois grupos (n=10) de acordo com o tipo de retentor
utilizado: Grupo 1: RFP; Grupo 2: NFP. Seguindo, foi realizada a cimentação adesiva
dos pinos e as amostras foram armazenadas por 24 horas a 37ºC em 100% de umidade
relativa. Dois discos com 1 mm de espessura foram obtidos para cada terço radicular
e o teste push-out foi realizado em cada amostra (velocidade de 0,5 mm/min) até o
rompimento da união. Os dados (MPa) analisados por meio da análise de variância de
dois fatores e teste de Tukey e os padrões de falha foram verificados por microscopia
eletrônica de varredura. Resultados: RFP apresentaram significativamente os maiores
valores de retenção em todos terços radiculares avaliados. Já entre os terços radicula-
res, o terço cervical e o médio foram estatisticamente semelhantes e o terço apical foi
significativamente inferior para ambos os grupos.Todas as falhas ocorreram na interfa-
ce entre cimento resinoso e a dentina radicular. Conclusões: O uso de RFP melhorou
efetivamente a retenção em canais amplos. O terço apical do preparo foi a região com
pior resistência de união independentemente da técnica utilizada.

ABSTRACT
Introduction: The aim of this study was to assess the bond strength of composite relined glass fiber posts (RFP)
and non-relined glass fiber posts (NFP) in the cervical, middle, and apical thirds of flared root canals. Methods:
20 bovine incisors teeth were transversally sectioned 16 mm from the radicular apex, and the roots were embe-
1 Cirurgiã-Dentista, Clínica Privada, Brasília – DF, bancastro@yahoo.com.br ;
dded in acrylic resin blocks. After endodontic treatment, canals were flared with diamonds burs. Samples were
divided into two groups (n=10) according to fiber post type used: Group 1: RFP; Group 2: NFP. After adhesive
2 Cirurgião-Dentista, Clínica Particular, Brasília – DF,. andersonrmatos@ cementation process, samples were stored for 24hs (100% relative humidity; 37ºC).Two 1-mm-thick slices were
yahoo.com.br ; obtained from each root third and the push-out test was applied in each sample (0.5 mm/min cross-head speed).
3 Professora Adjunta, Universidade Paulista UNIP – DF, gislainer@gmail.com ;
All samples were loaded until fracture and failure modes were evaluated under scanning electron microscopy.
Data (MPa) were analyzed using two-way Anova and Tukey test. Results: RFP posts presented higher retention
4 Professor Adjunto, Universidade de Brasília – UnB – DF, laudimar@unb.br values than NFP in all thirds. Among root thirds, the apical region presented the lowest retention for both groups
and cervical and middle thirds presented no statistically significant differences. All failures occurred at the in-
terface between resin cement and root dentin. Conclusions:The use of relined fiber posts effectively improved post
retention to flared root canals. The apical third was the region of radicular dentin where lowest bond strength
values were observed.

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INTRODUÇÃO te na porção coronária, a linha de cimen- aço inoxidável. Seguindo a técnica do


O uso de pinos de fibra de vidro para tação será excessivamente espessa, ge- preparo biomecânico do canal radicu-
restauração de dentes tratados endodon- rando uma alta tensão de polimerização6 lar, foi utilizada uma sequência de limas
ticamente tem sido extensamente inves- e tornando a área predisposta à formação manuais tipo K #30 a #70 (Dentsply-
tigado e é embasado por diversos estudos de bolhas de ar e à perda da adesão10. -Maillefer, Tulsa, OK, USA), aplicando-
tanto in vitro quanto in vivo1 e, apesar Uma das soluções para diminuir esta -se cinemática de alargamento e limagem
dos recentes avanços para este tipo de limitação é o reembasamento de pinos no comprimento de trabalho. Durante a
tratamento, ainda existem grandes de- de fibra de vidro com resina compos- fase do preparo biomecânico, os canais
safios a serem superados, especialmente ta, criando os denominados pinos ana- radiculares foram irrigados com solução
quando a raiz está fragilizada2. tômicos6. Estes pinos individualizados de hipoclorito de sódio a 2,5% (Formula
Por muito tempo os núcleos metálicos possuem uma maior adaptação ao canal & Ação, São Paulo, SP, Brasil). A irriga-
fundidos foram o principal meio de re- radicular, reduzindo a espessura da linha ção final foi realizada com água destila-
tenção para restauração final de dentes de cimentação10. O aumento do contato da e deionizada. As raízes foram, então,
tratados endodonticamente. Apesar da entre o retentor e as paredes dentinárias obturadas com guta-percha (Tanari, Ma-
alta retenção e a pequena linha de cimen- radiculares pode também reduzir a de- naus, AM, Brasil) e cimento à base de re-
tação, estes pinos convencionais apresen- pendência da retenção a adesão3, uma sina epóxica livre de eugenol, Sealer-26
tam um alto módulo de elasticidade e vez que já foi demonstrado que cimentos (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.,
podem levar à fratura da raiz3. Por outro com menor potencial de união, mas com Petrópolis, RJ, Brasil). Após o tratamen-
lado, o módulo de elasticidade dos pinos propriedades mecânicas favoráveis, po- to endodôntico, as raízes foram armaze-
de fibra, resinas compostas e cimentos dem também ser úteis para cimentação nadas em água destilada a 37oC por 72
resinosos são semelhantes ao da dentina de pinos anatômicos11. horas para presa final do cimento.
o que é considerada uma vantagem para Portanto, o objetivo deste estudo foi Após o período de armazenagem, a
melhorar o desempenho biomecânico da avaliar o efeito do reembasamento com guta-percha foi parcialmente removida,
restauração4. Quando aderido à dentina, resina composta na resistência de união, utilizando brocas Gates-Glidden #5 e
os pinos de fibra de vidro podem pro- por meio do teste micro push-out, de Largo #5, deixando um selamento api-
mover uma adequada distribuição das retentores intrarradiculares cimentados cal de 6 mm. Em seguida, com objeti-
tensões ao longo do dente, diminuindo a adesivamente em canais radiculares am- vo de promover um alargamento maior
incidência de fraturas catastróficas2. plos. A hipótese nula foi que o reemba- dos condutos, foram utilizadas pontas
A quantidade de dentina remanescen- samento com resina composta não seria diamantadas em alta-rotação, #4138 e
te após o tratamento endodôntico e o capaz de melhorar a retenção de pinos de #4137 (KG Sorensen, São Paulo, SP,
preparo do espaço para o pino desem- fibra de vidro. Brasil), sob abundante irrigação, obtendo
penham um papel importante para lon- um preparo final do espaço para o pino
gevidade da restauração, especialmente de 9 mm.
em relação à fratura e retenção5, sendo MATERIAL E MÉTODOS
Buscando manter um correto posi-
esta última a principal causa de falhas dos Vinte incisivos bovinos, recém-extraí- cionamento, facilitar a manipulação dos
pinos de fibra de vidro6. A retenção dos dos, com raízes de dimensões semelhan- espécimes e promover um corte perpen-
pinos pode ser afetada por contaminan- tes foram selecionados para este estudo. dicular dos segmentos a serem testados,
tes7, pelo tipo de cimento e sua interação Em seguida, foi removida a porção coro- as raízes foram incluídas em cilindros de
com os sistemas adesivos8, pela limitação nária dos dentes, abaixo da junção ame- resina acrílica incolor Vipi Flash (Vipi
da intensidade de luz ao longo do canal locementária, padronizando o compri- Indústria Comércio Exportação Impor-
radicular9 e pelo desenho e adaptação do mento das raízes em 16 mm. tação de Produtos Odontológicos Ltda.,
retentor intraradicular8. Foi realizado o tratamento endodôn- Pirassununga, SP, Brazil) com auxílio de
Neste contexto, canais amplos devi- tico, com preparo biomecânico do ca- um delineador protético (BioArt, São
do a lesões de cárie, trauma, patologias nal utilizando uma sequência de brocas Carlos, SP, Brasil). Para isso, as raízes
pulpares e/ou iatrogenias podem com- de Gates-Glidden (Dentsply-Maillefer, eram fixadas à haste do delineador por
prometer a adaptação do pino de fibra às Tulsa, OK, USA) números 4, 3 e 2, nos meio da ponta diamantada #4137 intro-
paredes do canal radicular6. Nestes casos, terços cervical e médio, e o término do duzida no interior do canal preparado de
se os retentores de fibra de vidro não se preparo foi realizado por meio da técni- modo que este ficasse perpendicular à
adaptam ao canal radicular, especialmen- ca crown-down, com limas manuais de platina do delineador onde era posiciona-

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34 Anuário de Artigos Científicos 2014

do o cilindro de resina acrílica. zando micropincéis descartáveis Micro- (p<0,001), mas para interação dos fa-
As amostras foram, então, dividi- brush (Microbrush Inc, Grafton, USA). tores não foi verificada diferenças sig-
das em dois grupos experimentais O excesso de adesivo foi removido com nificativas (p<0,637). Foi conduzido,
(n=10), de acordo com o tipo de re- cones de papel absorvente e o remanes- então, o teste de Tukey com nível de
tentor a ser utilizado: cente fotoativado por 40 segundos. Na significância de 5%. Os resultados estão
Retentores não reembasados: Foi rea- sequência, o cimento resinoso dual Re- descrito na tabela 1.
lizado o condicionamento da superfície lyX ARC (3M ESPE, St. Paul, MN, USA) Os resultados mostraram que os pinos
dos pinos de fibra de vidro Fibrekor #2 foi manipulado e inserido no preparo uti- reembasados apresentaram os maiores va-
(Pentron Corp., Wallingford, CT, USA) lizando uma broca lentulo #40 (Dents- lores de retenção em todos terços radicula-
com ácido fosfórico a 35% (3M-ESPE, ply-Maillefer, Tulsa, OK, USA). O pino res avaliados. Já entre os terços dos preparos
St. Paul, USA) por um minuto, seguindo foi, então, inserido no canal realizando radiculares, o terço cervical e o médio fo-
com a aplicação do agente silano RelyX uma pequena pressão, o excesso de ci- ram estatisticamente semelhantes e o terço
Ceramic Primer (3M-ESPE, St. Paul, mento removido e o conjunto fotoativa- apical foi significativamente inferior para
MN, USA) e posteriormente o sistema do por um total de tempo de 80 segun- ambas as técnicas de cimentação.
adesivo Adper Single Bond 2 (3M-ESPE, dos, sendo 40 segundos na face vestibular A análise da MEV apontou que as falhas
St. Paul, MN, USA) foi aplicado e fotoati- e 40 segundos na face lingual. Ao final, os em todas as amostras foram na interface
vado por 20 segundos. espécimes foram armazenados em água entre cimento resinoso e a dentina radi-
Retentores reembasados: A superfície destilada a 37ºC por uma semana. cular. A Figura 1 ilustra estas falhas tanto
dos pinos a serem reembasados foi trata- Após o período de armazenamento, para os pinos reembasados quanto para os
da da mesma maneira que para o grupo os espécimes foram seccionados trans- pinos apenas cimentados.
de Retentores não-reembasados. Para a versalmente obtendo dois discos com 1
realização do reembasamento com resina mm de espessura para cada terço do pre-
paro radicular (cervical, médio e apical). DISCUSSÃO
composta, as paredes do canal radicular
foram lubrificadas com gel hidrossolúvel As fatias foram, então, posicionadas em Os resultados apresentados demons-
K-Y Gel (Johnson & Johnson, São José um dispositivo para teste micro push-out traram um efetivo aumento na capaci-
dos Campos, SP, Brasil) e a superfície tra- em máquina de ensaios universal Instron dade de retenção dos pinos de fibra de
tada do pino foi envolta com compósito 4411 (Instron Corporation, Norwood, vidro reembasados com resina com-
de baixo escoamento Filtek P60 (3M- MA, USA). Foi aplicada uma carga cons- posta em todos os terços radiculares.
-ESPE, St. Paul, MN, USA). O conjunto tante a uma velocidade de 0,5 mm/ Desta maneira, a hipótese nula estabe-
foi inserido no interior do canal radicular min até o registro da primeira falha. Os lecida foi rejeitada.
e a resina foi polimerizada por 20 segun- dados foram avaliados estatisticamente A proposta inicial da técnica de reem-
dos. em seguida, o retentor foi removido pela Análise de Variância de dois fatores basamento com resina composta era de
e polimerizado por mais 20 segundos. O (p<0,05) e teste de Tukey (α=0,05). diminuir a linha de cimentação10 e, con-
pino reembasado foi, então, recolocado Terminado o ensaio mecânico, as sequentemente, diminuir os efeitos nega-
no interior do canal para verificar sua amostras foram preparadas e analisa- tivos de um grande volume de cimento
adaptação e após, tanto o retentor quan- das por meio de microscopia eletrônica resinoso6,12. Linhas de cimentação mais
to o pino, foram lavados abundantemente de varredura (MEV) para determinar o delgadas apresentam menos bolhas e ou-
com água para remoção do lubrificante. modo de falha, que foi classificado em tros defeitos que podem atuar como pro-
Para cimentação dos retentores de quatro categorias: adesiva entre cimento pagadores de falhas, reduzindo a resistên-
ambos os grupos, foi realizado o condi- resinoso e pino, entre cimento resinoso e cia coesiva do cimento13, bem como a alta
cionamento do conduto radicular com resina composta, entre cimento resinoso contração de polimerização pode levar a
ácido fosfórico a 35% por 15 segundos, e dentina, ou mista. perda da adesão14. Quando observado os
lavando o ácido com água abundante pelo tipos de falhas ocorridos após os testes
mesmo tempo de condicionamento. O micro push-out, foi verificado que todas
excesso de água foi removido do interior RESULTADOS ocorreram entre o cimento resinoso e
do conduto utilizando cones de papel ab- A análise de variância mostrou di- a dentina radicular, o que demonstrou
sorvente. Foram aplicadas duas camadas ferenças estatisticamente significantes que o elo fraco do conjunto retentor está
consecutivas do sistema adesivo sobre a para o fator reembasamento do pino localizado na interface adesiva15,16, inde-
superfície dentinária dos condutos utili- de fibra (P<0,001) e região radicular pendentemente da técnica utilizada.

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Frente a estas observações, pode ser interferência negativa na polimerização rios nos diferentes níveis radiculares16.
constatado que mesmo quando houve o adequada do cimento resinoso20,21. Tam- Além disso, a acessibilidade às porções
reembasamento com resina composta, bém foi relatado que a presa mais lenta média e cervical do canal radicular com
ocorreu o mesmo tipo de falha que para dos cimentos duais e auto-polimerizáveis preparos amplos facilita a execução dos
aqueles retentores não-reembasados, podem permitir uma movimentação su- procedimentos adesivos nestas regiões,
apesar dos valores significativamente ficiente dos fluidos dentinários a ponto podendo gerar diferenças na resistência
maiores de resistência de união. Uma de promover a formação de bolhas de de união em relação ao terço apical do
possível explicação seria a melhora da água na interface adesivo-cimento; isto preparo21. Ainda, a diminuição da efetivi-
adaptação dos pinos, que gera uma maior pode resultar em uma falha de união já dade de penetração da luz fotoativadora
retenção friccional6,17, sendo que já foi que estas bolhas atuam como pontos de nas porções mais profundas6,16 gera uma
demonstrado que este fator é o princi- propagação de falhas3,4. Considerando a maior dependência do ativador quími-
pal responsável pela retenção do pino evidência de que a retenção friccional é co do cimento resinoso dual, sendo que
ao conduto radicular. Faria e Silva et al.3 o principal fator de retenção dos pinos este não tem capacidade de promover
(2009) enfatizaram que, pelo fato da de fibra, estas bolhas de água localizadas um alto grau de conversão do cimento
fricção ocorrer pelo contato, é razoável na interface adesiva reduziram a área de na ausência de luz22, o que proporciona
presumir que uma maior justaposição do contato entre o cimento resinoso e as propriedades mecânicas inferiores4,6.
retentor intraradicular com as paredes do paredes do canal radicular20 resultando Outro ponto que ainda deve ser levado
canal radicular promove maior contato em uma menor retenção ao teste push- em consideração é o fato de que existe
do cimento com a superfície dentinária -out, especialmente para os pinos apenas uma maior predisposição à formação de
radicular, melhorando a retenção do pino cimentados. bolhas no terço apical do preparo21, bem
pelo aumento de retenção friccional. Estudos prévios relataram a incompa- como restos de guta-percha, de cimento
Outro aspecto que pode ter influen- tibilidade de sistemas adesivos simplifica- endodôntico e excesso de umidade po-
ciado a melhora nos valores de retenção dos e cimentos resinosos duais que pode dem permanecer nesta região após o
para os pinos reembasados foi o aumento ser resultado, em parte, da reação adversa preparo devido à dificuldade de acesso a
da pressão contínua durante a cimenta- entre os monômeros ácidos, que perma- esta região25.
ção3 proporcionada pela melhor adap- necem não polimerizados na camada su- Os resultados apresentados apontam
tação do retentor ao preparo do canal perficial do adesivo3,20, devido à inibição que o principal fator que contribui para
radicular, fator este que pode melhorar a pelo oxigênio, e as aminas terciárias co- resistência ao deslocamento de retento-
interação entre cimento resinoso e ade- mumente utilizadas como catalisadores res de fibra de vidro aderidos ao canal
sivo4. A aplicação desta pressão contínua químicos dos cimentos duais21. Esta in- radicular parece ser a retenção friccio-
durante a cimentação reduz a absorção e teração não permite uma adequada poli- nal, devido a uma melhora significativa
a formação de glóbulos de água na inter- merização do cimento resinoso e reduz a na retenção dos pinos reembasados, evi-
face adesiva, resultando em uma união resistência de união ao sistema adesivo23. denciando que esta técnica teve grande
com qualidade superior18. Desta manei- Em regiões mais profundas, a quantidade influência sobre a retenção de pinos de
ra, uma das consequências na redução de monômeros ácidos aumenta devido a fibra de vidro em elementos uniradicu-
da infiltração de água oriunda da dentina pouca ou nenhuma luz que chega a esta lares, seja nos terços radiculares individu-
subjacente à interface adesiva pode ser o região, desta maneira, este fato pode ser almente, seja na somatória final de forças
aumento da resistência de união, gerando considerado um dos fatores que influen- necessárias para deslocar estes pinos.
uma melhora na retenção. ciaram a menor resistência de união re- É importante salientar que este es-
O sistema adesivo utilizado nesta pes- gistrada no terço apical para técnicas de tudo avaliou apenas a capacidade de
quisa foi o Adper Single Bond 2, que é um cimentação adesiva no canal radicular24. retenção ao teste micro push-out da
adesivo simplificado de condicionamento No presente estudo, independente- técnica de reembasamento com resina
ácido prévio. Estes tipos de sistemas ade- mente do tipo de pino utilizado, a re- composta. Os resultados são favorá-
sivos comportam-se como membranas tenção no terço apical do preparo foi veis, mas trabalhos futuros ainda pre-
semipermeáveis devido à ausência de significativamente inferior aos demais. cisam ser conduzidos para assegurar a
uma camada mais hidrofóbica de resina19. Estas diferenças encontradas estão de validade clínica da técnica sendo, por-
Assim, a transudação de fluido dentiná- acordo com outros estudos prévios16,21,23 tanto, necessários estudos clínicos e
rio através destes adesivos simplificados e podem ser atribuídas à quantidade, vo- laboratoriais para consolidar este pro-
tem sido observada, e pode gerar uma lume e orientação dos túbulos dentiná- cedimento na prática clínica diária.

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CONCLUSÃO de reembasamento com resina compos- verificar também que o terço apical dos
Dentro das limitações deste estudo, os ta foi significativamente mais efetiva em preparos radiculares para ambas as técni-
resultados mostraram que, em todos os melhorar a retenção de pinos intra-ra- cas foram os que apresentaram significa-
segmentos do preparo radicular, a técnica diculares de fibras de vidro. Foi possível tivamente os piores resultados.

Figura 1. Aspectos morfológicos de espécimes ilustrando falhas adesivas entre cimento resinoso e a dentina
radicular de retentores reembasados (A e B) e não reembasados (C e D) após os testes de micro push out.
Setas indicam a região onde houve falhas; D, dentina; CR, cimento resinoso; RC, resina composta.

Terço do Preparo do Canal Radicular


Tipo de pino Cervical Médio Apical
Pinos reembasados 8,98 ± 1,77 Aa 8,87 ± 1,84 Aa 6,85 ± 2,03 Ba
Pinos não reembasados 5,32 ± 1,92 Ab 5,77 ± 1,67 Ab 4,98 ± 2,29 Bb

Médias dos valores ± desvio padrão. Médias (± desvio padrão) seguidas de letras distintas (maiúsculas,
na horizontal, e minúsculas na vertical) diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Tabela 1. Resultados da resistência de união por meio do teste micro push-out, em MPa.

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38 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Atestado odontológico e declaração de


acompanhamento de paciente a atendimento
odontológico
Oral health certificate and patient accompaniment declaration for oral health care

Palavras-chave: Ética Odontológica. Atestado de Saúde. Odontologia


Keywords: Dental Ethics. Health Certificate. Dentistry.

Prof. Dr. Eduardo Hebling* RESUMO


(e-mail: hebling@fop.unicamp.br) O atestado odontológico é um documento que descreve um fato odontológico e suas
Prof. Dr. Eduardo Daruge** consequências. Em processos judiciais, este pode ser utilizado como meio de prova.
(e-mail: daruge@fop.unicamp.br) O objetivo desse trabalho foi apresentar um modelo de atestado odontológico e de
Prof. Dr. Eduardo Daruge Jr.* declaração de acompanhamento de paciente a atendimento odontológico para ser uti-
(e-mail: darugejr@fop.unicamp.br) lizado na prática clínica do cirurgião-dentista. O desenvolvimento dos modelos dos
documentos foi realizado de acordo com preceitos clínicos, administrativos e legais.
O uso de modelos pré-estabelecidos de documentos odontológicos possibilita a rápida
emissão destes, de acordo com preceitos legais, facilitando a gestão clínica.

ABSTRACT
Oral health certificate is a document that describes a dental fact and its consequences. In legal proceedings, this
might be used as a means of evidence.The aim of this paper was to present models for oral health certificate and
patient accompaniment declaration for oral health care to be used in dental clinical practice.The development of
models of these documents was performed in accordance with clinical, management and legal precepts.The use of
dental documents preestablished models enables a rapid issuance of these, in accordance with legal requirements,
making easy the dental clinical management.

* Professor Associado da FOP/UNICAMP

** ProfessorTitular da FOP/UNICAMP

Departamento de Odontologia Social, Faculdade de Odontologia de Piracicaba


(FOP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 39

INTRODUÇÃO cias, como por exemplo, o cumprimento tológico na data específica11.


Um atestado é uma declaração escrita de um repouso pós-operatório; e, e) Data Na elaboração do atestado odontológi-
e assinada, que uma pessoa faz da verdade e assinatura do profissional. co, a simplificação do trabalho, para que
de um fato, para servir de documento a O cirurgião dentista não pode estar haja a perda mínima de tempo da equipe
outra pessoa1. O atestado odontológico alheio à legislação que rege sua ativida- de atendimento ou do próprio profissio-
pode ser definido como a simples des- de. Contudo, na prática clínica diária, nal cirurgião-dentista, deve ser um pre-
crição de um fato odontológico e suas não é de costume, para a maioria dos ceito a ser seguido para a melhor gestão
conseqüências2. Todo cirurgião-dentista profissionais, seguir tais preceitos legais, do atendimento do paciente7.
habilitado para exercer sua profissão sobretudo no tocante à elaboração e O objetivo desse trabalho foi apresen-
pode emitir atestado odontológico a seus emissão de atestados odontológicos. Em tar um modelo de atestado odontológi-
pacientes, segundo as leis 5.081 de 24 de um estudo que avaliou o conhecimento co e de declaração de acompanhamento
agosto de 1966, Artigo 6o, Parágrafo III, de 163 cirurgiões dentistas formados de paciente a atendimento odontológico
e 6.215 de 30 de junho de 19753,4. sobre a emissão de atestados odontoló- para ser utilizado na prática clínica do
Os atestados odontológicos devem apre- gicos, 49,1% dos entrevistados não co- cirurgião-dentista.
sentar uma forma definida, constituída de nheciam as leis que os amparam no ato
cinco partes distintas2,5,6,7: a) Identifica- de atestar. Destes, 12,3% relataram que
ção do cirurgião-dentista ou da entidade não achavam importante a necessidade MATERIAIS E MÉTODOS
prestadora da assistência odontológica: para de especificar a finalidade do atestado, A elaboração dos modelos dos documen-
os profissionais autônomos, são registrados e 64,4% descreveram no atestado o ato tos foi realizada de acordo com preceitos
o nome e sobrenome do cirurgião dentista praticado no paciente na elaboração do clínicos, administrativos e legais2,3,4,6,7. A
responsável pelo paciente, bem como seu mesmo. Os resultados desse estudo ainda emissão desses documentos é feita em duas
endereço, títulos e qualificações devida- demonstraram que 54% dos entrevista- vias, sendo a primeira para ser entregue ao
mente registrados no Conselho Federal de dos não tinham conhecimento das penali- paciente e a outra para ser arquivada no
Odontologia (CRO), sendo que o nome dades sobre a emissão de atestados falsos prontuário clínico do mesmo.
completo do profissional e seu número de e 8% emitiram atestados por amizade1. O modelo de Atestado Odontológico
inscrição no CRO devem obrigatoriamen- De acordo com o Código de Ética Odon- foi desenvolvido de acordo com a seguin-
te estar contidos. Para as entidades pres- tológica, em seu Artigo 39o, e o Código te estrutura:
tadoras de assistência odontológica, deve Penal do Brasil, em seu Artigo 21o, a falta
de conhecimento sobre a legislação que a) Identificação do Profissional:
constar o nome da entidade, inscrição no o nome completo do cirurgião-dentista e
conselho, número de identificação na agên- rege a emissão do atestado odontológico
não exime o profissional de sua responsa- seu número de inscrição no CRO. No caso
cia nacional de saúde, nome completo do das clínicas odontológicas, devem obriga-
responsável técnico e respectivo número de bilidade e consequências do ato9,10.
toriamente estar contidos a denominação
inscrição no conselho8; b) Identificação do Outro fato comum na prática clínica, de clínica, o nome do cirurgião-dentista
paciente: são registrados nome, sobrenome realizado por alguns profissionais, é o for- responsável e os números de inscrição
e toda qualificação que identifica o paciente; necimento de atestado aos acompanhantes no CRO de ambos. Se constarem outros
c) Finalidade do atestado: definição da uti- do paciente, principalmente quando este é nomes de cirurgiões dentistas da mesma
lização específica do atestado, seja para fins menor de idade, incapacitado ou idoso. O organização, seus números de inscrição no
trabalhistas, escolares, esportistas, judiciais atestado, como já definido, é a afirmação
CRO-SP também devem estar presentes8.
e militares, devendo constar um registro de um fato odontológico e as suas conse-
que o documento foi emitido a pedido do quências. Para o acompanhante não houve b) Título do atestado e leis que re-
interessado ou de seu representante legal, um fato odontológico realizado pelo pro- gulamentam sua emissão: inserção da
para que não haja dúvidas no tocante às fissional e, portanto, nenhuma consequ- frase “Regulamentado pelas Leis no.: 5.081
normas do segredo profissional, segundo o ência. Dessa forma, para o acompanhante de 24/08/66 e 6.215 de 30/06/75”. Para
Artigo 6o do Código de Ética Odontológi- o que o profissional deve fornecer é uma maior controle do profissional ou da entida-
ca9; d) Consequências do tratamento: o ci- declaração de que este esteve em seu con- de emissora do atestado, o número sequen-
rurgião declarará que o paciente esteve sob sultório (clínica ou serviço de assistência cial do atestado e da série da impressão do
seus cuidados profissionais, sem especificar odontológica) no período de tempo de- atestado pode ser acrescentado.
a natureza do atendimento, seguido de uma terminado, acompanhando o paciente c) Determinação da justificativa
breve conclusão relativa às suas consequên- (menor ou não) para atendimento odon- da emissão do atestado: designando

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40 Anuário de Artigos Científicos 2014

o fim específico a que se destina a emis- g) Declaração do período de tra- CRO e assinatura, de acordo com a Deci-
são do atestado como a justificativa de tamento: especificando o local (consul- são CRO-SP 29/83, Artigo 1o 8. No caso
falta ao trabalho, dispensa de atividades tório, clínica, faculdade, serviço de assis- das clínicas odontológicas ou entidades
escolares, dispensa de atividades des- tência odontológica), a data e o período prestadoras de assistência odontológica, a
portivas, dispensa de atividades judiciais de horário de atendimento. identificação do profissional responsável
(comparecimento a audiências judiciais, h) Espaço para complemento: es- pelo paciente, sua assinatura e número de
intimações policiais ou judiciais, eleições, paço destinado para destacar as possíveis inscrição no CRO devem obrigatoriamen-
etc.), dispensa de atividades militares e, consequências do atendimento, como, te estar presentes, de acordo com a Deci-
sanidade bucal, quando atesta a normali- por exemplo, em casos de emergências são CRO-SP 29/83, Artigos 1o, 5o e 6o8.
dade física e funcional do sistema estoma- ou cirurgias odontológicas, podemos l) Autorização do paciente: assi-
tognático do paciente. prescrever ao paciente repouso absolu- natura do interessado, no caso de pacien-
d) Designação do pedido do ates- to, quando indicado, por 12, 24 ou 48 tes maiores de 16 anos (assistidos pelos
tado: pelo próprio interessado; no caso de horas: devendo permanecer em repou- pais ou tutor, de acordo com o Código
pacientes maiores de 16 anos e assistidos so absoluto por 12 horas. Para períodos Civil, Artigos 6o, 384o e 426o)12, me-
pelos pais ou tutor (conforme o Código maiores, é de boa norma ética acompa- nores de 21 anos emancipados e maiores
Civil, Artigos 6o, 384o e 426o)12, meno- nhar o paciente e emitir novo atestado, de 21 anos (de acordo com o Código
res de 21 anos emancipados (por concessão se necessário, segundo o Artigo 5o do Civil, Artigo 9o)12, ou de seu represen-
judicial, casamento, exercício de emprego Código de Ética Odontológica, que re- tante legal, no caso de pacientes conside-
público, com curso de ensino superior ou fere ao exagero, pelo cirurgião-dentista, rados absolutamente incapazes (de acor-
com economia própria, de acordo com o no diagnóstico, prognóstico ou terapêu- do com o Código Civil, Artigo 5o)12. No
Código Civil,Artigo 9o)12 e maiores de 21 tica no tratamento do paciente9. Se não caso do interessado, ou seu representante
anos, ou de seu representante legal, no caso forem destacadas outras informações ou legal, não poder ou não souber assinar,
de pacientes considerados absolutamente orientações complementares, o profis- outra pessoa capaz assinará por este, a seu
incapazes como os menores de 16 anos, os sional deverá inutilizar esse espaço com rogo, de acordo com o Código Civil, Ar-
loucos de todo o gênero, os surdos-mudos um traço à caneta de forma oblíqua, não tigo 134o12. A assinatura poderá também
que não puderem exprimir a sua vontade, permitindo qualquer tipo de inserção de ser substituída pela impressão digital do
os psicopatas, toxicômanos e viciados em informações falsas no documento por dedo polegar direito. Para tanto, o pro-
substâncias capazes de determinar depen- outra pessoa. fissional deve manter no serviço uma al-
dência física ou psíquica (de acordo com o i) Identificação da alteração, do- mofada de carimbo, para a impressão do
Código Civil, Artigo 5o)12. A autorização ença ou situação odontológica: polegar, e outros acessórios, como álcool
para a elaboração do atestado respeita o Ar- descrição do número do código da alte- em gel e toalhas de papel, para a limpe-
tigo 6o do Código de Ética Odontológica ração, doença ou situação odontológica za da tinta do dedo polegar do paciente.
em relação ao sigilo profissional9. constante na Classificação Internacional de Com a autorização do paciente ou de
e) Identificação do paciente: Doenças (CID)13. No caso de emissão do seu representante legal não há caracteri-
registro de seu nome, sobrenome e do- atestado para sanidade bucal, o código da zação de quebra de sigilo profissional5 e
cumento de identificação, evitando-se CID a ser utilizado é o do exame dentário tipifica esse documento como uma prova
assim confusões com homônimos. O (Z01.2), que não consta na Classificação absoluta, ou seja, aquela que não aceita
documento de identificação deve descre- Internacional de Doenças em Odontolo- contestação por parte das autoridades
ver o número e o tipo, sendo que, para gia e Estomatologia (CID-OE), mas sim judiciais7,15.
os brasileiros, pode ser o Registro Geral na CID-10 em seu Capítulo XXI (“Fato- O modelo de Declaração de Acom-
(RG), civil ou militar, e para os estran- res que Influenciam o Estado de Saúde e o panhamento de Paciente a Atendimento
geiros, o passaporte. Quando o paciente Contato com os Serviços de Saúde”), onde Odontológico apresentou as seguintes di-
for menor de 21 anos e não emancipado estão os códigos para os encontros e cir- ferenças em relação à emissão do atestado:
(de acordo com o Código Civil, Artigo cunstâncias que não são doenças, traumas, 1) Título do documento odontológico:
9o) 12 deve ser destacado sua condição ou consequências de causa externa14. Declaração de Acompanhamento de Pa-
de menor antes de seu primeiro nome. j) Local e data da expedição do ciente a Atendimento Odontológico.
f) Endereço completo do paciente: atestado. 2) O código da CID a ser utilizado é
registrando seu domicílio, complementos (nú- k) Identificação do profissional: o Z76.3 (Pessoa em boa saúde acompa-
mero, apartamento, bairro), cidade e estado. nome completo, número de registro no nhando pessoa doente), que não consta

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 41

na Classificação Internacional de Do- ou rubrica) ou pela impressão digital do tagem indevida, como por exemplo, a
enças em Odontologia e Estomatologia dedo polegar direito. Dessa maneira, esse cobrança de honorários pelo atestado, o
(CID-OE), mas sim na CID-10, em seu documento também fica tipificado como delito passa a ser enquadrado em Cor-
Capítulo XXI (“Fatores que Influenciam uma prova absoluta7,15. rupção Passiva, tipificada no Artigo 317o
o Estado de Saúde e o Contato com os do Código Penal, com pena de reclusão
Serviços de Saúde”), onde estão os có- variando de um a oito anos e multa10.
RESULTADOS
digos para os encontros e circunstâncias Outro fato que merece destaque con-
que não são doenças, traumas, ou conse- As Figuras 1 e 2, respectivamente,
siste na tipificação da emissão do atestado
quências de causa externa. ilustram os modelos desenvolvidos de
odontológico falso em Falsidade Ideoló-
Atestado Odontológico e de Declaração
3) A inserção de informações comple- gica nos termos do Artigo 299o e não nos
de Acompanhamento de Paciente a Aten-
mentares que são utilizadas nos atesta- termos do Artigo 302o do Código Penal
dimento Odontológico.
dos, tais como “devendo permanecer em do Brasil10. Esse enquadramento justifica-
repouso absoluto...”, não se aplica nesse -se pelo fato de que o Artigo 302o, que
tipo de declaração. Mesmo que o acom- DISCUSSÃO trata da falsidade de atestado médico, é
panhante necessite cuidar do paciente, Os atestados odontológicos devem específico somente para o médico. Por
em casos de convalescência, a declaração afirmar um fato verídico, estando sujei- esse motivo, o atestado emitido pelo ci-
não tem força de aplicação para justificar to o profissional que o emitiu, caso seja rurgião dentista enquadra-se na regra
a ausência do acompanhante às suas ativi- inteiro ou parcialmente falso, em crime geral, que é a falsidade ideológica. Esse
dades imprescindíveis. tipificado no Artigo 299o do Código Pe- artigo citado não trata do documento (o
4) A justificativa de sanidade bucal não nal, que trata da Falsidade Ideológica com atestado odontológico falso), sendo rele-
se enquadra nesse documento. penas de reclusão de um a cinco anos e vante apenas o seu conteúdo2,7.
5) Não há a necessidade de identificar o multa, quando se tratar de documento A elaboração do atestado odontológi-
endereço do acompanhante. público, ou seja, emitido por cirurgião- co em duas vias assegura ao cirurgião-
-dentista exercendo serviço público, e -dentista o resguardo legal do ônus da
6) O nome completo do paciente deve
reclusão de um a três anos e multa quan- prova. Ambas as vias devem ser assinadas
constar nesse documento, para estabele-
do se tratar de documento particular10. pelo paciente ou seu representante legal,
cer o vínculo com este. Nesse caso, não
O Código Penal do Brasil destaca três bem como pelo profissional. A primeira
se configura quebra de sigilo profissional,
modalidades de conduta do autor do de- via deve ser entregue ao paciente e a se-
pois a falta de inserção do nome do pa-
lito10: 1) Omitir: quando o profissional gunda via deve ser anexada ao prontuário
ciente deixa de estabelecer a justificativa
omitir fato que obrigatoriamente deveria clínico do mesmo7,11.
da emissão da declaração.
constar. Ex.: a finalidade do atestado; 2) A inserção do número do documen-
7) A tipificação do paciente menor de
Inserir: quando o profissional inserir di- to de identificação do paciente (registro
idade é facultativa (“acompanhando o(a)
retamente fatos falsos ou diversos do que geral, civil ou militar, ou passaporte) nos
paciente menor...”) e apenas reforça a
deveria constar. Ex.: inserção de horas modelos dos documentos apresentados
necessidade de acompanhamento deste
além do período de consulta, descrição nesse trabalho resguarda o profissional da
pelo interessado da declaração.
incorreta da CID; 3) Fazer inserir: quan- emissão de falsos dados. Não é difícil al-
8) Outras formas de tipificação do pa- do o autor agir indiretamente, fazendo gum indivíduo verdadeiramente doente
ciente devem ser evitadas para não haver com que outrem insira fatos falsos ou se passar por outro para adquirir atestado
caracterização discriminatória, tais como diversos do que deveria constar. Ex.: utilizando o nome de um indivíduo sadio,
“idoso”, “incapacitado”, “com deficiên- um cirurgião-dentista em cargo de che- na tentativa de fraudar as empresas, por
cia”, entre outras. fia obrigando a outro, seu subordinado, exemplo. É necessário que o cirurgião-
9) A inserção do grau de relacionamen- a emitir atestado com informações falsas. -dentista tenha o cuidado de solicitar um
to do acompanhante com o paciente é fa- O Parágrafo Único do Artigo 299o do documento de identificação com foto
cultativa e, de igual forma já citado, apenas Código Penal refere-se ao funcionário (RG ou carteira de motorista) antes da
reforça a necessidade de acompanhamen- público que, ao cometer crime prevale- emissão do atestado.
to deste pelo interessado da declaração. cendo-se do cargo, tem sua pena aumen- O Artigo 6o do Código de Ética Odon-
10) A autorização do interessado, no tada de sexta parte10. É importante res- tológica9 e o Artigo 154o do Código
caso o acompanhante, deve constar no saltar que se o funcionário público pratica Penal10 regulamentam o segredo pro-
final da declaração por escrito (assinatura o crime visando qualquer espécie de van- fissional do tratamento odontológico.

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42 Anuário de Artigos Científicos 2014

Entretanto, para fins previdenciários e de toriedade das empresas em aceitar a de- comprovado por atestado odontológico.
justificativa de falta ao trabalho, o órgão claração de acompanhamento. Contudo, Outro exemplo seria a impossibilidade
previdenciário e o empregador podem o bom senso, bem como convenção co- de comparecimento a intimações judi-
rejeitar o atestado por falta de diagnósti- letiva de certas categorias, faz com que ciais e a eleições. Sobre esse último as-
co5. Invocar o segredo profissional nesse muitas empresas e entidades solicitem ao sunto, o Código de Processo Penal, em
caso não tem sentido, visto que podemos funcionário esse documento e abonem a seu Artigo 218o, e o Código Eleitoral,
utilizar a Classificação Internacional de falta ao trabalho deste. em seu Artigo 7o, destacam que “o elei-
Doenças (CID) estabelecida pela Organi- A justificativa de falta às atividades es- tor que deixar de votar e não se justificar
zação Mundial da Saúde (OMS)13. colares também pode ser atestada pelo perante o juiz eleitoral até 30 dias após a
Em caso do paciente ou de seu repre- cirurgião dentista quando o paciente é realização da eleição incorrerá na multa
sentante legal, solicitantes da emissão do submetido a tratamento odontológico no de 3 a 10% sobre o salário mínimo”17,18.
atestado, desejar não permitir que outra período de aulas ou necessita de repouso. Em relação à dispensa das atividades
pessoa tome conhecimento do fato odon- Contudo, esse atestado não exime o alu- militares como justificativa da emissão
tológico ocorrido (o tratamento odonto- no da falta, mas apenas a justifica16. do atestado odontológico, a acatação des-
lógico), o profissional deve resguardar A dispensa de atividades desportivas te não exime o soldado da falta às ativi-
o seu segredo, deixando de colocar o é outro fim específico para a emissão do dades e depende da aceitação do oficial
código da CID no atestado. O dono do atestado odontológico, sobretudo para superior, visto que não existe legislação
segredo do atendimento é o paciente (ou justificar a ausência de esportistas ama- militar sobre o tema7.
seu representante legal), sendo assim, so- dores junto aos clubes e agremiações A avaliação da sanidade bucal é outra
mente este pode permitir que outros to- esportivas. A acatação do atestado, nesse justificativa da emissão do atestado odon-
mem conhecimento dos fatos ocorridos caso, depende dos regimentos internos tológico. Essa avaliação, usualmente, é
em seu atendimento11. de cada clube ou agremiação, não apre- solicitada em casos de viagens de inter-
Os atestados odontológicos podem ser sentando lei específica7. câmbio cultural em outro país, contrata-
redigidos em papel usual de receituários, Outra justificativa da emissão do ates- ção ou dispensa de alguns tipos de profis-
timbrado. Embora não obrigatório, o tado odontológico é aquela a que se des- são, entre outros2,5,6. Se o empregador
profissional também pode utilizar papel tina para fins judiciais. Atestados para fins ou a entidade que exige a apresentação
especial e apropriado, elaborado e emi- judiciários são aqueles requisitados pelo do atestado odontológico de sanidade
tido por uma associação odontológica. poder judiciário5. Como exemplo, po- bucal solicitar mais detalhes da condição
Todavia, os atestados emitidos pelas asso- demos citar aqueles com os quais os ju- de saúde bucal do paciente, o profissional
ciações de classe, até então, não apresen- rados justificam suas faltas às sessões do poderá emitir para esse fim outro tipo de
tam os requisitos básicos para o seu pre- tribunal de Júri. O serviço de júri é obri- documento odontológico, o Relatório
enchimento, devendo ser preenchidos e gatório, segundo o Código de Processo Técnico de Diagnóstico e Tratamento,
elaborados pelo próprio profissional7. Penal, em seu Artigo 434o. O parágrafo com a devida autorização do paciente ou
A maioria das empresas de médio e II do Artigo 443o do mesmo código des- de seu representante legal.
grande porte tem como norma em seu taca que “somente serão aceitas as escusas O não cumprimento das leis que regem
departamento de pessoal a exigência de apresentadas até o momento da chamada a elaboração do atestado odontológico
atestados médicos, emitidos por uma dos jurados e fundadas em motivo re- pode ocasionar em punições regidas pelo
associação médica, para justificativa de levante, devidamente comprovado”. O Artigo 299o do Código Penal10 e pelo
falta ao trabalho, seguindo a portaria do parágrafo IV do mesmo artigo esclare- Artigo 2o do Código de Ética Odonto-
Ministério do Trabalho no.: 3.214 de ce que “sob pena de responsabilidade, o lógica9, que estipulam penas variáveis de
197815. No âmbito odontológico, algu- presidente (do júri) só relevará as multas acordo com a natureza do delito.
mas empresas já exigem de seus funcio- em que incorrerem os jurados faltosos, se A correta emissão e guarda dos docu-
nários semelhantes obrigações, sobretu- estes, dentro de 48 horas, após o encer- mentos odontológicos, como é o caso
do na identificação da CID7. ramento da sessão periódica, oferecerem do Atestado Odontológico e da Decla-
A legislação trabalhista não discipli- prova de justificado impedimento”17. O ração de Acompanhamento de Paciente
na quanto ao abono de faltas em virtu- justificado impedimento, no caso, poderá a Atendimento Odontológico, assegura
de de acompanhamento de paciente a ser a impossibilidade de comparecimen- ao profissional cirurgião-dentista a defesa
atendimento médico ou odontológico, to por motivo de doença ou tratamento em eventuais processos judiciais de seus
tampouco se manifesta quanto à obriga- odontológico, sobretudo emergencial, pacientes2,6,19.

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Nunca é demais destacar, para não ha- odontológicos, como o Atestado Odon- de informações de formas de contato
ver dúvidas entre esses dois documentos tológico e a Declaração de Acompanha- com o profissional (telefones fixos ou
apresentados, que o atestado inicia com a mento de Paciente a Atendimento Odon- móveis, endereço e e-mail) que possibi-
palavra “atesto” e a declaração, com a pa- tológico, com redação pré-estabelecida litem a aferição junto a este, em casos de
lavra “declaro”. É comum observar o uso permite o preenchimento rápido e cor- suspeita da autenticidade dos dados, por
das duas palavras no mesmo documento, reto destes, facilitando a prática clínica e parte da empresa ou entidade que recebe
o que é errado. Não se deve esquecer permitindo ganho de tempo no horário
também de nomear os dois documentos, esses documentos.
de atendimento. Por apresentar a autori-
se atestado ou declaração. Atestado e de- zação e assinatura do paciente, esses do-
claração são dois documentos formais e cumentos podem ser considerados como CONCLUSÕES
não devem apresentar cumprimentos ou meio de prova absoluta, a qual não aceita
outras mensagens de cunho pessoal, tais A emissão de Atestado Odontológico
contestação por parte das autoridades
como “atenciosamente”, “lembranças”, ou de Declaração de Acompanhamento
judiciais, resguardando, assim, o profis-
“um abraço”, “certo de contar com sua sional em caso de eventuais contestações de Paciente a Atendimento Odontológi-
compreensão”, entre outras11. por parte do paciente7,15. O uso de re- co com uso de modelos pré-estabeleci-
Por vezes, não é incomum, o paciente cursos da informática pode facilitar ainda dos, elaborados de acordo com preceitos
esquecer de solicitar a emissão do atestado mais essa prática. administrativos, éticos e legais, garante
no dia em que esteve em tratamento e o faz Para não haver dúvidas quanto à legi- uma correta redação desses documentos,
dias após. Nesse caso, ao redigir o atestado, timidade da emissão desses documentos de forma rápida e ágil, demandando o
o profissional deve ter o cuidado de fazer odontológicos por parte do profissional, mínimo de tempo possível, e demonstra
constar, de forma correta, o dia e a hora do mesmo tendo sido impresso seu nome no a postura profissional que o cirurgião-
atendimento, bem como o local e a data em documento, o uso do carimbo personali- -dentista deve apresentar para o seu pa-
que o documento foi redigido11. zado com os dados do nome do profissio- ciente e perante a sociedade.
Nos modelos de documentos apre- nal, sua habilitação (cirurgião-dentista ou A presença da autorização por escri-
sentados nesse trabalho, o uso da palavra especialista) e respectivo número de ins-
“atendimento” foi preterido em relação a to (assinatura, rubrica ou impressão do
crição no CRO deve constar junto com
“tratamento” para que fosse mais resguar- polegar direito) do interessado (pacien-
a assinatura deste no documento7,11,19.
dado o sigilo profissional do ato realizado O uso de rubricas ao invés da assinatura te, seu representante legal ou a pessoa
e para que abrangesse situações em que por parte do profissional deve ser evitado acompanhante) tipifica esses documentos
nenhum procedimento clínico é realiza- quando da emissão desses documentos odontológicos como prova absoluta, ou
do no paciente, embora tenha havido a para dificultar possíveis falsificações. Ou- seja, aquela que não aceita contestação
consulta ao profissional. tra observação positiva nos modelos dos por parte das autoridades judiciais, em
O uso de modelos de documentos documentos apresentados é a presença caso de litígio entre as partes envolvidas.

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Figura 2: Modelo de declaração de acompanhamento Figura 1: Modelo de atestado odontológico


de paciente a atendimento odontológico

REFERÊNCIAS 6. Silva M. Compêndio de odontolo- bro de 1940. In: Código Penal. 27a Ed.
1. Garbin CAS, Moimaz SAS, Saliba gia legal. Rio de Janeiro: Médica e Cien- São Paulo: Saraiva. 1989 (Artigos 21o;
TA, Garbin AJI. O cirurgião-dentista tífica; 1997, p.340-344. 154o, 299o, 302o e 317o)
e a emissão de atestados odontológi- 7. Hebling E, Daruge E, Daruge Jr. 11. França B.H.S. Atestados odontoló-
cos. Odontologia e Sociedade 2000; E. Atestado odontológico: aspectos éti- gicos: cuidados na redação. Ver Clin Or-
2(1):89-92. cos e legais. J Bras Odontol Clin 1998; todont Dental Press 2007; 6(3): 44-45.
2. Daruge E, Massini N. Direitos Pro- 2(10): 51-55. 12. Brasil. Leis, decretos, etc. De-
fissionais na Odontologia. São Paulo: 8. São Paulo. Conselho Regional de creto-lei no. 24.559, de 03 de julho de
Saraiva; 1978, p.175-179. Odontologia. Decisão 29/83. Regula- 1934. In: Código Civil. 37a Ed. São Pau-
3. Brasil. Leis, decretos, etc. Lei no. mentação de publicidade odontológica lo: Saraiva. 1987 (Artigos 5o, 6o, 9o,
5.081, de 24 de agosto de 1966. Regula no estado de São Paulo. Artigos 1o, 2o, 26o, 134o, 384o, 426o).
o exercício de Odontologia. Diário Ofi- 5o e 6o. São Paulo: Conselho Regional 13. Organização Mundial de Saúde.
cial. Brasília, 26 de Agosto de 1966. de Odontologia. 1983. CID-10. Classificação Estatística Inter-
4. Brasil. Leis, decretos, etc. Lei no. 9. Brasil. Conselho Federal de Odon- nacional de Doenças. Volume 3. 6 ed.
6.215, de 30 de junho de 1975. Altera a tologia. Resolução CFO 179/91, de 19 São Paulo: Edusp, 2002, 1008 p.
redação do item III do Artigo 6º da Lei nº de dezembro de 1991. In: Conselho Fe- 14. Silva OMP, Lebrão ML. Docu-
5.081, de 24 de agosto de 1966, que “Re- deral de Odontologia. Código de Ética mentos da clínica odontológica. Com-
gula o exercício da Odontologia”. Diário Odontológica. Rio de Janeiro: Conselho parando a Classificação Internacional
Oficial. Brasília, 01 de Julho de 1975. Federal de Odontologia, 1992 (Artigos de Doenças em Odontologia e Estoma-
5. Arbenz GO. Medicina legal e antro- 5o, 6o e 39o). tologia (CIDOE) com a Classificação
pologia forense. Rio de Janeiro: Athe- 10. Brasil. Leis, decretos, etc. De- Estatística Internacional de Doenças e
neu; 1988, p.27-36. creto-lei no. 2.848, de 07 de dezem- Problemas Relacionados à Saúde (CID-

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10). Ver Bras Epidemiol 2001; 4(2): de 1978. de 1941. In: Código de Processo Penal.
114-119. 16. Brasil. Leis, decretos, etc. Decre- 2a Ed. São Paulo: Atlas. 1979 [Artigos
15. Brasil. Ministério do Trabalho. to-lei no. 1.044, de 21 de outubro de 218o; 433o (Parágrafos II e IV) e 434o].
Portaria no. 3.214, de 08 de junho de 1969. Dispõe sobre tratamento excep- 18. Brasil. Leis, decretos, etc. Código Elei-
1.978: Aprova as Normas Regulamenta- cional para alunos portadores de afec- toral. São Paulo:Atlas, 1978 (Artigo 7o).
doras – NR – do Capítulo V,Título II, da ções que indica. Diário Oficial. Brasília, 19. SILVA, AA; MALACARNE, GB.
Consolidação das Leis do Trabalho, rela- 21 de outubro de 1969. Documentos da clínica odontológica.
tivas à Segurança e Medicina do Traba- 17. BRASIL. Leis, decretos, etc. De- J Bras Ortodon Ortop Facial 1999;
lho. Diário Oficial. Brasília, 08 de junho creto-lei no. 3.689, de 03 de outubro 4(22): 311-316.

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Artigo Original

Toxina Onabotulinica A (Botox®) como alternativa


aos pacientes reabilitados com próteses
implantossuportadas portadores de bruxismo

Palavras-chave: Bruxismo. Toxina Botulínica. Tratamento. Toxina Onabotulínica A. Implantes Orais.

Stephanie A. Feres Teixeira1 RESUMO


Tarley Pessoa de Barros2 O tratamento reabilitador oral tem crescido significativamente nos últimos anos e,
Gabriel Denser Campolongo3 junto aos avanços, complicações também podem ocorrer e devem estar sob o controle
Fabio Moschetto Sevilha4 do profissional para que sejam diagnosticadas e tratadas corretamente. Um tema que
merece especial atenção são as cargas oclusais aplicadas ao implante. A principal causa
de perda de implantes eh resultado da parafunção, principalmente o bruxismo. Este
trabalho eh uma revisão de literatura para avaliar a eficácia da Toxina Onabotulínica A
(BOTOX®) no bruxismo em pacientes reabilitados por próteses implantossuporta-
das. Concluem que aplicações de toxina botulínica em pacientes reabilitados com pró-
teses implantossuportadas podem diminuir os níveis de dor, frequência dos eventos
de bruxismo e satisfazer os pacientes no que diz respeito à eficácia da toxina botulínica
nesta patologia, protegendo o implante de cargas e diminuindo a probabilidade de
perda do mesmo.Também não provoca efeitos adversos importantes.

1- Especialista em Implantodontia. Professora da Faculdade de Ciência


de Guarulhos (FACIG)

2- Mestre , Doutor pela Faculdade de Medicina da USP, Especialista


em CTBMF, Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG)

3- Doutorando em CTBMF-USP, Mestre pela Faculdade de Medicina


da USP. Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG)

4- Mestre pela Faculdade de Medicina da USP, Especialista em


CTBMF. Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG)

Teixeira, Stephanie A. Feres et al.Toxina Onabotulinica A (Botox®) como alternativa aos pacientes reabilitados com próteses implantossuportadas portadores de bruxismo

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INTRODUÇÃO Atualmente, não existe nenhuma es- resiliência das fibras que desenvolvem
A qualidade de vida constitui uma das tratégia específica, tratamento único ou o importante papel de amortecer fisi-
grandes preocupações da população e, cura para o bruxismo (Macedo, 2008). camente as cargas oclusais. Outra alte-
geralmente, a principal meta das pesso- Com o intuito de se apresentar mais ração importante é a significativa perda
as e os profissionais de saúde procuram uma alternativa para este problema, a da capacidade proprioceptiva protetora:
cada vez mais se preparar para ajudar a toxina botulínica tipo A (BTX-A) está as terminações nervosas que modulam a
mantê-la (Maciel et al. , 2010). sendo estudada como método terapêu- intensidade das forças são perdidas jun-
tico para pacientes que sofrem desta tamente com os tecidos dentoperiodon-
Os avanços da tecnológia e ciência tais. Associa-se a esses fatores o aumento
patologia. Esse trabalho é uma revisão
em odontologia propiciam à popula- da incidência de parafunção (bruxismo)
de literatura sobre a utilização da Toxi-
ção tratamentos que permitam melhor em grande parte da população (Maciel
na Onabotulinica A (BOTOX®) como
conforto, estética e, consequentemente, et al. , 2010).
alternativa ao tratamento de pacientes
qualidade de vida aos pacientes. O tra-
reabilitados com próteses implantossu- Com a evolução dos estudos, verifi-
tamento reabilitador oral tem crescido
portadas portadores de bruxismo. cou-se que em muitos casos os implan-
significativamente nos últimos anos.
tes poderiam perfeitamente ser aplica-
A odontologia procurou alternativas
MATERIAIS E MÉTODOS dos em pacientes com bruxismo, desde
para as diversas sequelas relacionadas a
que suportados por estratégias especifi-
perdas dentárias. Os implantes dentais Foi realizada uma pesquisa nas bases cas de proteção (Maciel et al. , 2010).
revolucionaram a odontologia e a vida de dados PubMed Central Journals e Al-
da população, abriu oportunidade para lergan Product Literature – botulinum O paciente deve estar perfeitamente
milhares de pessoas com perdas parciais toxin (APL), compreendendo o perí- esclarecido sobre os mecanismo do bru-
ou totais em todas as partes do mundo. xismo e as possibilidades do controle de
odo dos últimos dez anos, através das
Porém, junto a esses avanços, podemos seus efeitos lesivos (Maciel et al. , 2010).
palavras-chaves: “bruxism”, “botulinum
observar complicações que devem estar O tratamento odontológico mais utili-
toxin in bruxism”, “butulinum toxin and
sob o controle do profissional, sendo zado atualmente é a placa oclusal, po-
bruxism”, “tratament” and “bruxism”,
diagnosticadas e tratadas pelos mesmos. rém as evidências são insuficientes para
“implant”, “implant” and “bruxism”. Fo-
afirmar que a placa oclusal é efetiva para
Dos vários fatores relacionados aos ram selecionados nove trabalhos clínicos
o tratamento do bruximo, embora haja
resultados das reabilitações sobre im- relevantes e a partir destes, outras refe-
benefício para o desgaste dentário (Ma-
plantes, as cargas oclusais provavelmen- rências foram localizadas.
cedo, 2008). Sener et al. (2007) sugerem
te são o tema que merece ainda especial que a toxina botulínica é uma alternati-
atenção e, no entanto, grande número REVISÃO DE LITERATURA va de tratamento igualmente eficaz para
de profissionais, na maioria dos países,
O bruxismo, desde o princípio da pacientes com bruxismo em relação à
não completou um programa de quali-
era Branemark, foi considerado um placa e mais confortável especialmente
ficação apropriado no que se refere ao
fator de contraindicação ou com sig- para os pacientes que se sentem descon-
planejamento de estratégias biomecâ-
nificativas restrições aos implantes. O fortáveis com os dispositivos.
nicas e controle das forcas parafuncio- Aplicações intramusculares de BTX-
planejamento de uma reabilitação im-
nais ˜especificadamente˜ aplicadas às
plantossuportada envolve a analise de -A é um tratamento efetivo para uma
próteses sobre implantes (Maciel et al.
cerda de 60 itens – o fator “carga” pode variedade de desordens de movimento
, 2010).
influenciar os resultados mais do que to- (Murshed et al. , 2012). Ela inibe a libe-
Segundo Misch CE (2002), a dos os outros combinados (Maciel et al. ração exocitótica da acetilcolina nos ter-
falha de implante após uma fixação ci- , 2010). A força derivada do bruxismo minais nervosos motores levando a uma
rúrgica bem sucedida, ou perda precoce é potencialmente mais danosa aos im- diminuição da contração muscular. Esta
durante o primeiro ano de carregamen- plantes – numa escala de risco de 1 a 10, propriedade a torna útil, clínica e tera-
to, é resultado da parafunção. recebe 10 (Misch CE, 2002). É preciso peuticamente, em uma série de condi-
O bruxismo é considerado por Lob- considerar que elementos essenciais do ções onde existe excesso de contração
bezooet al (2006) como possível fator sistema foram modificados, por exem- muscular (Aoki KR, 2005).
etiológico das desordens temporoman- plo, a ausência de ligamento periodon- Recentes avanços mostram que o bru-
dibulares dos desgastes dentários e das tal – o implante é “anquilosado” ao osso xismo é causado por altos níveis de ativi-
falhas de implantes. com perda total da viscoelasticidade ou dade motora na musculatura da mandí-

Teixeira, Stephanie A. Feres et al.Toxina Onabotulinica A (Botox®) como alternativa aos pacientes reabilitados com próteses implantossuportadas portadores de bruxismo

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bula centralmente mediados, indicando eventos de bruxismo, pela diminuição do profissional para que sejam diagnos-
que a redução da atividade muscular in- da atividade muscular, concluindo que ticadas e tratadas corretamente.
duzida pelo uso da BTX-A pode ser be- é um tratamento efetivo para bruxismo As cargas oclusais aplicadas ao im-
néfica nestes casos (Long et al. , 2012). noturno. plante provavelmente é o tema que me-
O efeito da BTX-A está relacionado No estudo retrospectivo de Alon- rece ainda especial atenção (Maciel et al.
com a localização da aplicação e dose so-Navarro at al (2011) não foram , 2010). A falha de implante após uma fi-
utilizada (Kurtoglu C, 2008). Bolayir et observados efeitos secundários. Os xação cirúrgica bem sucedida, ou perda
al. (2005) relataram que a aplicação de autores concluem que a aplicação de precoce durante o primeiro ano de car-
BTX-A é um método eficiente em casos toxina botulínica tipo A é um trata- regamento, é resultado da parafunção
de bruxismo. Os autores abservaram que mento seguro e eficaz para pacientes (Misch CE, 2002; Maciel et al. , 2010),
os indivíduos deixaram seus hábitos de com bruxismo grave. principalmente o bruxismo (Lobbezoo
bruxismo, não relatando efeitos adversos. et al. , 2006; Maciel et al. , 2010; Misch
A análise e a avaliação dos benefícios,
Segundo Long et al. (2012), a BTX- CE, 2002).
resultados, e efeitos colaterais do uso de
-A, em dosagem menores 100UI (BO- BTX-A foram realizadas por Redaelli O aumento da incidência de bruxis-
TOX®, Allergan) podem ser utilizadas (2011) no tratamento do bruxismo, que mo em grande parte da população fez
clinicamente em pacientes saudáveis relata que os pacientes foram avaliados com que os profissionais procurassem
com bruxismo. através de questionários, onde a maioriasoluções em relação à realização de im-
apresentou resultados satisfatórios. Os plantes em pacientes com bruxismo,
A toxina botulínica tipo A é injetada
autores concluem que a toxina botulíni- desde que suportados por estratégias
nos principais músculos mastigatórios
ca é um método simples de tratamento especificas de proteção. Para tanto, é
responsáveis pelas alterações temporo- necessário o total esclarecimento do
mandibulares, que são os músculos mas- para o bruxismo, sem efeitos adversos e
apreciado pelos pacientes. A técnica paciente em relação ao mecanismo do
seter e o temporal (Sevilha FM et al. , bruxismo e as possibilidades de controle
2013). Ainda não há doses e pontos de necessita de maior estudo para avaliar os
resultados a longo prazo nas estruturas-do mesmo (Maciel et al. , 2010).
aplicação definidos para utilização de to-
xina botulínica em bruxismo. Trabalhos -alvo, especialmente nos dentes. A placa oclusal é o tratamento mais
clínicos publicados com Toxina Onabo- utilizado atualmente (Macedo, 2008),
Na aplicação de toxina botulínica tipo
tulinica A (BOTOX®) apresentam os A, a ação máxima da toxina é observada porém precisamos analisar o fato de que
protocolos da tabela1. entre o 7° e 14° dia e a duração dos a colaboração do paciente em utilizar o
efeitos pode chegar a seis meses (média dispositivo é de total importância para o
Gardana-Nardini et al. (2008), em sucesso da proteção dos implantes atra-
seu estudo placebo controlado, analisou de 3 a 4 meses) (Balbinot LF, 2010).
Problemas podem ser encontrados re- vés de placas oclusal. Sener et al. (2007)
pacientes apresentando bruxismo e dor afirmam que tanto a placa oclusal como
miofacial nos músculos mastigatórios. lacionados à falta de eficácia no relaxa-
mento muscular devido a utilização de a BTX-A foram tratamentos igualmente
Relatam redução nos níveis de dor à eficazes para o bruxismo. Porém a BTX-
mastigação após seis meses da aplicação dose inadequada, erro técnico na aplica-
ção do produto, resistência a BTX-A e -A pode ser uma alternativa mais eficaz
de BTX-A, mostrando melhora signifi- para pacientes com bruxismo e, muitas
cativa no grupo que recebeu a aplicação alterações do produto, ou condições de
vezes, mais efetivas, já que não há neces-
de toxina botulínica em relação ao gru- armazenamento inadequadas de BTX-A
sidade da colaboração do paciente para
po placebo (solução salina). (Kurtoglu C, 2008).
utilização da mesma diariamente, como
Lee et al. (2010) notaram que pa- acontece com a placa oclusal.
cientes tratados com toxina botulínica DISCUSSÃO Sugere-se que a aplicação de toxina bo-
apresentaram diminuição significativa Os avanços em odontologia estão tulínica tipo A reduz o número de eventos
da atividade eletromiografa do músculo melhorando cada vez mais a qualidade de bruxismo, provavelmente pela dimi-
masseter e melhora clínica de bruxismo, de vida dos pacientes. O tratamento nuição da atividade muscular periférica
enquanto que a atividade no músculo reabilitador oral tem crescido signifi- (Bolayir et al. , 2005; Lee et al. , 2010; Re-
temporal ficou inalterada. Não foram cativamente nos últimos anos e pode daelli A, 2011), sem apresentar uma ação
relatados efeitos adversos locais ou sis- ser observado que, junto aos avanços, sobre o sistema nervoso central (Lee et al. ,
têmicos. Seus resultados sugerem que complicações também podem ser ob- 2010). Os efeitos adversos deste tratamen-
a toxina botulínica reduz o número de servadas e devem estar sob o controle to são irrelevantes ou inexistentes (Bolayir

Teixeira, Stephanie A. Feres et al.Toxina Onabotulinica A (Botox®) como alternativa aos pacientes reabilitados com próteses implantossuportadas portadores de bruxismo

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et al. , 2005; Lee et al. , 2010; Redaelli A, 2010; Redaelli A, 2011). Observamos, Os autores relatam bons resultados
2011; Alonso-Navarro at al, 2011). através da literatura, eficácia na aplica- com a utilização de toxina botulínica
Segundo Sevilha FM et al. (2013), a ção de BTX-A em aplicação apenas em para o bruxismo (Bolayir et al. , 2005;
utilização da toxina botulínica em pa- masseter, podendo sugerir que talvez Garda-Nardini et al. , 2008; Sener et al. ,
tologias acompanhadas de distúrbios não seja necessário aplicações no mús- 2007; Lee et al. , 2010; Alonso-Navarro
do movimento mostrou benefícios em culo temporal para o bruxismo. at al, 2011; Redaelli A, 2011), mostran-
outros aspectos clínicos, como o alívio Dosagens inferiores a 100UI (BO- do-se uma alternativa de tratamento ao
das condições dolorosas concomitantes. TOX®, Allergan) podem ser utilizadas paciente portador desta patologia com
Os estudos realizados por Bolayir et al. clinicamente em pacientes saudáveis implantes orais.
(2005), Guarda-Nardini et al. (2008) e com bruxismo (Long et al. , 2012).
Sener et al. (2007) relataram a eficácia Observamos através da literatura cita-
da toxina botulínica na melhora da dor da uma variação de doses entre 25UI- CONCLUSÃO
nos pacientes participantes. -40UI por músculo masseter e tempo- Os estudos clínicos mostram que as
O efeito da BTX-A está relacionado ral (Alonso-Navarro at al, 2011), 30 aplicações de toxina botulínica podem
com a localização da aplicação e dosa- UI para masseter e 20UI para temporal diminuir os níveis de dor, frequência dos
gem (Kurtoglu C, 2008). (Garda-Nardini et al. , 2008), 14UI- eventos de bruxismo e satisfazer os pa-
A toxina botulínica do tipo A é inje- -20UI para masseter , 60UI para mas- cientes no que diz respeito à eficácia da
tada nos principais músculos mastigató- seter (Sener et al. , 2007). toxina botulínica no bruxismo e, conse-
rios (Sevilha FM et al. , 2013). Os traba- Em relação aos pontos de aplicação, quentemente, diminuir a perda de im-
lhos realizados demonstram a eficácia da a BTX-A foi aplicada em um ponto plantes por carga excessiva, além de não
toxina botulínica para o tratamento do (Garda-Nardini et al. , 2008), dois (Re- provocar efeitos adversos importantes.
bruxismo, os músculos aplicados foram daelli A, 2011) ou três pontos distintos Assim, o tratamento com Toxina Ona-
masseter e temporal (Garda-Nardini et no masseter (Bolayir et al. , 2005; Lee botulínica A parece ser um tratamento
al. , 2008; Alonso-Navarro at al, 2011), et al. , 2010; Redaelli A, 2011), e dois seguro e eficaz para pacientes reabilita-
ou apenas o masseter (Bolayir et al. , pontos no ventre anterior do temporal dos com próteses implantossuportadas
2005; Sener et al. , 2007; Lee et al. , (Garda-Nardini et al. , 2008) . que apresentam bruxismo.

Autor n Músculos aplicados Doses Pontos


Sener et al. (2007) 13 Masseter 60UI -------
Gardana-Nardini et al. 20 Masseter e Temporal 30UI (Masseter) 1 ponto masseter
(2008) 20UI (Temporal) 3 pontos no ventre anterior do temporal
Alonso-Navarro at al (2011) 19 Masseter e Temporal 25UI-40UI --------
Redaelli (2011) 120 Masseter 14UI-20UI 3 pontos Masseter

Tabela1: trabalhos clínicos, utilizando a Toxina Onabotulinica A (BOTOX®), relatam número de participantes(n), músculos aplicados e doses
A redução da dor devido ao relaxamento muscular provocado é uma importante vantagem da aplicacao de toxina botulinica do tipo A e mostra-se
mais eficiente quando comparado com injecões com lidocaina associada a corticoide ou acupuntura (Sevilha FM et al. , 2013).

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50 Anuário de Artigos Científicos 2014

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Espíndola, Laís Christina Pontes et al.Prevalência de cárie em dentes decíduos e permanentes de escolares com 6 a 12 anos de idade em uma escola pública em Maceió,Alagoas

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Artigo Original

Prevalência de cárie em dentes decíduos e


permanentes de escolares com 6 a 12 anos de idade
em uma escola pública em Maceió, Alagoas
Prevalence of caries in deciduous and permanent teeth of schoolchildren 6-12 years
old in a public school of Maceió, Alagoas

Palavras-chave: Cárie dentária. Prevalência. Epidemiologia. Saúde bucal.


Keywords: Dental caries. Prevalence. Epidemiology. Oral health.

Laís Christina Pontes ESPÍNDOLAI; RESUMO


Ana Marlúsia Alves BOMFIMII; Objetivo: Avaliar a prevalência de cárie dentária em escolares de 6 a 12 anos de idade
Ariana de Oliveira Ramos LOPESIII; no bairro do Prado, no município de Maceió - AL, Brasil. Método: A amostra foi
Almira Alves SANTOSIV; constituída de 180 escolares de ambos os sexos de 6 a 12 anos de idade matriculados na
Andréa Marques Vanderlei FERREIRAV; Escola Municipal de Ensino Fundamental Tereza de Jesus. Utilizaram-se os critérios de
Ewerton Amorim dos SANTOSVI diagnóstico misto da Organização Mundial de Saúde, sendo a cárie dentária registrada
utilizando os índices ceo-d e CPO-D. Resultados: O índice CPO-D variou de 0,14
aos 6 anos a 3,5 aos 12 anos de idade. Já o índice ceo-d na mesma faixa etária variou de
2,16 a 0,38. A porcentagem de escolares livres de cárie na dentição decídua e perma-
nente foi baixa, sendo aos 12 anos de idade 7,7% dos escolares livres de cárie. Con-
clusão: A prevalência de cárie dentária em escolares foi maior aos 12 anos de idade,
estando o CPO-D acima do obtido no último levantamento de saúde bucal. Também
pode-se verificar que o índice CPO-D apresenta aumento proporcional à idade.

ABSTRACT
Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Alagoas
I Objective:To evaluate the prevalence of dental caries in schoolchildren 6-12 years old in the Prado neighborhood, in the city of
(UFAL), Residente em Saúde da Família da Universidade de Ciências Maceió - AL,Brazil.Method:The sample consisted of 180 students of both sexes 6-12 years old enrolled in the School Hall Ele-
da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Correio eletrônico: laisespindola@ mentary School Teresa of Jesus. Used the diagnostic criteria of the jointWorld Health Organization, tooth decay being recorded
hotmail.com using the indices dmf-t and DMFT. Results:The DMFT index ranged from 0.14 to 3.5 to 6 years to 12 years of age.Already
dmt-f in the same age group ranged from 2.16 to 0.38.The percentage of children free of caries in deciduous and permanent
Mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe,
II
dentition was low, being 12 years old 7.7% of school children free of caries. Conclusion:The prevalence of dental caries in
Tutora da Residência Multiprofissional em Saúde da Família da schoolchildren was higher at 12 years old, standing DMFT higher than in the last survey of oral health.You can also verify that
Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Correio
eletrônico: anamarlusia@yahoo.com.br
the DMFT index has increased proportional to age.
Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
III

Residente em Saúde da Família da Universidade de Ciências da Saúde de


Alagoas (UNCISAL). Correio eletrônico: ari.ramos.21@hotmail.com

Doutora em Ciências Odontológicas pela Universidade Estadual


IV

Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Tutora da Residência


Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade de Ciências da
Saúde de Alagoas (UNCISAL). Correio eletrônico: Homepage: http://
www.uncisal.edu.br.
V
Mestra em Modelagem Computacional pela Universidade Federal de
Alagoas (UFAL), Doutoranda em Química e Biotecnologia, Professora
de Informática na Saúde e Tutora da Faculdade de Medicina – FAMED
da UFAL. Correio eletrônico: deadoutorado@hotmail.com

Mestre em Epidemiologia dos Agravos Nutricionais pela Faculdade


VI

de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Professor da


disciplina de Bioestatística da Universidade de Ciências da Saúde de
Alagoas (UNCISAL). Correio eletrônico: ewertonamorim@hotmail.com

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52 Anuário de Artigos Científicos 2014

INTRODUÇÃO mento de saúde bucal de base nacional, A equipe de pesquisadores que parti-
A cárie dentária é uma doença global realizado em 2010, na mesma faixa etá- cipou da coleta de dados foi constituída
bastante comum, que resulta na perda ria foi de 2,63, sendo este índice con- de duas cirurgiãs-dentistas e dois ano-
precoce dos dentes. O levantamento siderado maior que a média CPO-D no tadores que participaram previamente
epidemiológico permite avaliar a pre- Brasil de 2,078. da calibração. O processo de calibra-
valência de cárie dentária, por isso é O objetivo deste estudo foi de ava- ção foi divido em duas etapas, sendo
utilizado em todo o mundo1. Sendo liar a prevalência de cárie dentária em a primeira etapa teórica, que consistiu
recomendado pela Organização Mun- alunos, com idades entre 6 a 12 anos, na apresentação dos critérios do índi-
dial da Saúde (OMS) para medir e da Escola Municipal de Ensino Funda- ce CPO-D2 e a segunda, voltada para
comparar a experiência de cárie dentá- mental Tereza de Jesus localizada em o exercício clínico, em que crianças
ria em populações. Seu valor expressa a Maceió - AL. foram examinadas e reexaminadas em
média entre dentes cariados, perdidos um intervalo de 15 dias. Durante este
e obturados em um grupo de indivídu- processo, aferiu-se a concordância da
MATERIAL E MÉTODOS equipe de examinadores através do ín-
os, sendo os índices CPO-D utilizados
na dentição permanente e ceo-d na O presente estudo foi realizado em dice Kappa9, variando de 0,71 a 0,98
dentição decídua 2. março e abril de 2013 na Escola Muni- para a cárie, denotando assim alta re-
cipal de Ensino Fundamental Tereza de produtibilidade diagnóstica.
Os padrões de cárie dentária de-
Jesus, localizada no bairro do Prado, no De acordo com as considerações
monstram-se variados em diversas re-
município de Maceió - AL, sendo apro- éticas é pertinente que os pais ou res-
giões. Nos países desenvolvidos, o de-
vado pelo Comitê de Ética e Pesquisa ponsáveis pelos escolares selecionados
clínio na prevalência de cárie deve-se
(CEP) da Faculdade Estácio de Alago- na pesquisa autorizem sua participação.
ao aumento à exposição de fluoretos,
as (ESTÁCIO-FAL) sob protocolo de Portanto, previamente a coleta de da-
modificações no consumo de açúcar
no110413/172, caracterizando-se em dos, foram enviadas correspondências
e ampliação das ações de promoção e
um estudo com delineamento do tipo para os mesmos, contendo o Termo
educação em saúde bucal3.
transversal, observacional analítico por de Consentimento Livre e Esclarecido
Em países considerados subde- meio de exames bucais para identificar (TCLE). Nesse constava os objetivos da
senvolvidos, como dos continentes a prevalência de cárie dentária na po- pesquisa e as características dos exames.
africano e asiático, um aumento na pulação de 6 aos 12 anos de idade.
prevalência de cárie dentária foi evi- Os dados foram processados e
A prevalência de cárie foi verificada analisados utilizando-se os progra-
denciado a partir da década de 60,
através do método combinado da Or- mas Epi Info versão 6.04 (Centers
provavelmente devido à indisponibi-
ganização Mundial de Saúde (OMS) for Disease Controland Prevention,
lidade de produtos fluoretados e au-
referente às condições de saúde bucal Atlanta, Estados Unidos) e SPSS for
mento no consumo de açúcares3.
na dentição decídua e permanente, sen- Windows versão 18.0 (SPSS Inc.,
O primeiro levantamento nacional do os índices de prevalência de cárie Chicago, Estados Unidos).
realizado em 1986 no Brasil revelou classificados segundo os parâmetros da
uma alta prevalência de cárie dentária OMS2, conforme demonstrado na Fi-
em todas as faixas etárias 4,5. No en- gura 4. Para realização dos exames, foi RESULTADOS
tanto, nos últimos anos ocorreu uma confeccionada uma ficha clínica, com O presente estudo foi realizado com
redução no índice CPO-D em nível informações referentes à identificação e 180 escolares (49,5% do sexo femini-
nacional. Para ocorrer tal mudança, odontograma dos escolares examinados no e 50,5% do sexo masculino) entre
fatores como a fluoretação das águas, para avaliar os índices ceo-d e CPO-D 6 e 12 anos de idade, estudantes da Es-
disponibilidade de produtos fluoreta- de cada estudante. Os exames foram cola Municipal de Ensino Fundamental
dos e a descentralização do Sistema realizados no pátio da escola, sob luz na- Tereza de Jesus, localizada no bairro do
Único de Saúde brasileiro foram fun- tural indireta, utilizando-se um espelho Prado, no município de Maceió - AL.
damentais na redução da prevalência bucal plano, afastador de língua e sonda Os resultados em relação à prevalência
de cárie dentária 6. exploradora número 5, sendo esta últi- de cárie na dentição decídua e perma-
Na região Nordeste, o índice CPO- ma utilizada apenas com a finalidade de nente são apresentados nas Tabelas 1 e
-D aos 12 anos, em 1986, foi de 6,97. remover os detritos alimentares deposi- 2, respectivamente. Na dentição decídua
No entanto, em um último levanta- tados na superfície dentária. verifica-se, de maneira geral, que o índice

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 53

ceo-d9, que é obtido pela soma de dentes bucal de base nacional, denominado SB demonstrado em muitos estudos13,15.
decíduos cariados, extraídos e obtura- Brasil 20108, observa-se que o resulta- Em um estudo realizado em Goiânia,
dos, apresenta-se decrescente em rela- do encontrado em relação à idade de em 1993, foi analisado a prevalência de
ção à idade. Já na dentição permanente, 12 anos foi de 2,46. cárie em pré-escolares de creches pú-
verifica-se que o CPO-D9 ocorre de for- No presente estudo, a prevalência de blicas e privadas16. Verificou-se uma
ma crescente dos 6 aos 12 anos de idade, cárie aos 12 anos (CPO-D =3,5) de- prevalência maior de cárie dentária em
possibilitando desta forma comparações monstra ser mais alta que a verificada crianças de menor condição socioeco-
com outros estudos já realizados. no último levantamento SB Brasil 2010 nômica que frequentavam instituições
Na dentição decídua, com exceção para o município de Maceió. Nessa ida- públicas e filantrópicas17.
dos 7 anos de idade, o índice ceo-d de, apenas 7,7% dos escolares encon- Através dos dados analisados e dis-
diminui proporcionalmente à idade, travam-se livres de cárie se comparada cutidos, verifica-se a relevância des-
apresentando médias que variam de à observada na região Nordeste (CPO- te estudo visto que a cárie dentária é
2,16 aos 6 anos de idade a 0,38 aos 12 -D= 2,63)8. De acordo com a escala considerada uma desordem da saúde
anos de idade, conforme demonstra- de valores preconizada pela OMS9, pública que atinge todo o contingente,
do na Tabela 1. É observado em todas valores de 2,7 a 4,4 são considerados podendo o mesmo ser utilizado como
as idades o predomínio de dentes ca- moderados (Figura 2). uma referência para pesquisas futuras
riados, em relação aos dentes extraí- Comparando-se com outras loca- no município de Maceió, assim como
dos e restaurados. lidades brasileiras, observa-se que a em todo o território brasileiro.
Na dentição permanente, o índice prevalência de cárie em escolares aos
CPO-D aumenta proporcionalmente 12 anos de idade apresentou-se maior
na região Norte (CPO-D=3,16) e si- CONCLUSÃO
à idade, apresentando médias que va-
riam de 0,14 aos 6 anos a 3,5 aos 12 milar a região Centro-Oeste (CPO-D Os resultados do presente estudo
anos de idade (Tabela 2). Verifica-se, = 2,63). Porém, estudos realizados permitem concluir que a prevalência
também, o predomínio de dentes ca- em outras regiões brasileiras revelaram de cárie em escolares foi maior aos 12
riados em relação às demais variáveis. CPO-D menores que os municípios anos de idade, estando o índice CPO-
de Maceió nesta idade, como no mu- -D acima do obtido no último levanta-
Pode-se ainda analisar através das
nicípio de Salvador (CPO-D = 1,07), mento de saúde bucal SB Brasil 2010.
Tabelas 1 e 2 que o número de den-
Aracaju (CPO-D = 1,13) e Fortaleza Pode-se verificar, também, que o índi-
tes restaurados (incluindo recidivas) e
(CPO-D = 1,44)8. ce CPO-D apresenta aumento propor-
extraídos foi baixo e mais frequente na
Com relação à média CPO-D nas cional à idade.
dentição permanente.
diversas idades estudadas, foi demons- Novos estudos epidemiológicos, in-
Em relação aos escolares livres de
trado que os valores médios de nú- cluindo os principais fatores relaciona-
cárie na dentição decídua e permanen-
mero de dentes restaurados e CPO-D dos com a cárie dentária, como dieta,
te, o índice foi de 38,88% aos 6 anos;
aumentaram progressivamente com higiene e outros são recomendados a
25,80% aos 7; 20% aos 8; 22,5% aos
a elevação da idade, assim como em fim de obter o perfil da cárie dentária
9; 25,6% aos 10; 29,4% aos 11 e 7,7%
outros estudos esta realidade também no grupo de escolares estudados.
aos 12 anos de idade, conforme visuali-
é encontrada10,12. Isso merece atenção Recomenda-se ainda que a atual ges-
zado na Figura 1. Demonstrando, dessa
especial, pois ocorre o aumento tanto tão de saúde bucal do município de
forma, que aos 6 anos idade foi a que
na média de dentes cariados, quanto Maceió inclua em seu atividades me-
apresentou maior número de escola-
obturados, demonstrando a necessida- didas para o monitoramento, controle
res livres de cárie e que aos 12 anos de
de de desenvolvimento de programas e tratamento da cárie dentária, pois o
idade foi a faixa etária mais acometida
preventivos bucais para a adolescência. acesso aos serviços de saúde deve ser
por cárie dentária, 92,3% apresenta-se
com cárie dentária. A população incluída neste estudo realizado como um serviço humaniza-
constituiu-se de escolares da rede pú- do, desenvolvidos por uma equipe de
blica, que provavelmente representa saúde bucal vinculada aos interesses
DISCUSSÃO um grupo de baixa condição socioeco- da população, proporcionando, junto
Monitorando-se a situação encontra- nômica e de ausência de uma política com os gestores dos serviços públicos
da no município de Maceió - AL atra- de saúde bucal direcionada a essa po- de saúde, condições adequadas para a
vés do último levantamento de saúde pulação, sendo a influência deste fator melhoria da saúde bucal.

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54 Anuário de Artigos Científicos 2014

Idade Escolares Livres de Cárie (%) CPO-D Classificação


6 38,88
0,1 a 1,1 Muito baixa
7 25,8
8 20 1,2 a 2,6 Baixa

9 22,5 2,7 a 4,4 Moderada


10 25,6
4,5 a 6,5 Alta
11 29,4
12 7,7 Maior que 6,6 Muito Alta

Figura 1. Prevalência de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fun- Figura 2. Classificação da prevalência de cárie segundo a Orga-
damental Tereza de Jesus por idade livres de cárie dentária no bairro do nização Mundial da Saúde (OMS).
Prado, Maceió-Alagoas.

Idade Cariados Extraídos Obturados ceo-d


Mín-máx Mín-máx Mín-máx Mín-máx Média
6 0-8 - 0-2 0-8 2,16
7 0-7 - 0-3 0-7 2,25
8 0-5 - 0-4 0-5 1,8
9 0-7 0-1 0-2 0-6 1,77
10 0-2 0-2 0-3 0-8 0,74
11 0-2 - - 0-1 0,35
12 0-2 - - 0-1 0,38

Legenda:
Mín-máx = Valores mínimos e máximos
ceo-d = Índice de dentes cariados, extraídos e obturados na dentição decídua.

Tabela 1. Experiência de cárie dentária na dentição decídua por idade em estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tereza de Jesus no
bairro do Prado, Maceió-AL.

Idade Cariados Extraídos Obturados ceo-d


Mín-máx Mín-máx Mín-máx Mín-máx Média
6 0-2 - 0-1 0-2 0,14
7 0-5 - 0-1 0-5 0,46
8 0-2 0-1 0-1 0-3 0,56
9 0-3 0-3 0-2 0-4 0,87
10 0-3 0-3 0-3 0-8 1,22
11 0-4 0-3 0-3 0-9 1,88
12 0-5 0-2 0-2 0-8 3,5

Legenda:
Mín-máx = Valores mínimos e máximos
CPO-D = Índice de dentes cariados, extraídos e obturados na dentição permanente.

Tabela 2. Experiência de cárie dentária na dentição permanente por idade em estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tereza de Jesus
no bairro do Prado, Maceió-AL.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 55

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56 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Desinfecção de escovas dentais: uma técnica simples


que pode auxiliar na prevenção de muitas doenças

Lewgoy, HR; de Mendonça S; Amore R; RESUMO


Anauate-Neto C. A desinfecção das escovas dentais é um tema pouco abordado e um assunto muito
pouco discutido pelos profissionais da odontologia. De forma geral as pessoas não
têm nenhum conhecimento sobre a necessidade da realização desta tarefa e, quando
a realizam, geralmente a executam de forma incorreta e sem uma padronização. A
escova dental é essencial para remoção mecânica da placa bacteriana, contudo, muitos
estudos comprovam que a escova pode ser contaminada após o uso, devido ao contato
com a cavidade oral, principalmente com o biofilme, mucosas, saliva e/ou sangue.
A microbiota natural boca quando em equilíbrio não trás qualquer perigo ou risco
de doença, porém, quando estes microrganismos estão presentes na escova dental
podem proliferar-se, tornando-se uma fonte para autoinfecções e infecções cruzadas
pelo contato com outras escovas. Estas infecções podem se restringir a cavidade oral
provocando a cárie e as doenças gengivais ou provocarem doenças sistêmicas mais
graves. Uma alternativa de desinfecção das escovas é apresentada a seguir: 1) antes da
higiene oral as mãos e unhas devem ser lavadas com água e sabão; 2) bochechar com
água para eliminar resíduos de alimentos; 3) todas as superfícies da escova devem
ser lavadas com água corrente; 4) remoção do excesso de água com uma batida da
escova sobre a palma da mão ou sobre a borda limpa da pia do banheiro; 5) aplicação
do desinfetante à base de clorexidina entre 0,12% a 0,2%; 6) utilização do protetor
acrílico das cerdas ou armazenagem dentro do armário fechado do banheiro; 7) antes
da próxima escovação, lavagem para a remoção dos resíduos da solução. A Clorexidina
0,12% ou 0,2% é um agente eficaz para eliminação de microrganismos como fungos e
bactérias gram-positivas e gram-negativas, presentes nas escovas dentais contaminadas
após o uso, devido ao seu comprovado amplo espectro de ação e alto poder antimicro-
biano. É fundamental a padronização de um procedimento de desinfecções de escovas
dentais e inserção deste método no dia-a-dia das pessoas como auxiliar na prevenção
de inúmeras doenças orais e sistêmicas. A desinfecção da escova deve ser realizada pelo
borrifamento do desinfetante à base de clorexidina entre 0,12% a 0,2% e utilização
do protetor de cabeça acrílico entre as escovações.

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INTRODUÇÃO planeta Terra. nidade passou por uma epidemia com


Desde a antiguidade o hábito de hi- Em março de 2013, o mesmo FDI pu- a chamada gripe “suína” ou influenza,
giene oral está incluído nos costumes blicou que cerca de 90% das pessoas vão transmitida pelo vírus H1N1.
dos indivíduos. Entretanto, apesar da ter algum tipo de doença oral ao longo Uma das medidas adotadas para pre-
técnica de higienização ser bastante de suas vidas, ou seja, a desinfecção das venir a transmissão da doença foi justa-
conhecida e difundida, a desinfecção da escovas dentais pode se constituir em mente a desinfecção rotineira das mãos
escova dental ainda não se tornou um um importante passo para auxiliar no com um gel alcoólico desinfetante.
hábito rotineiro e incluído no dia a dia combate deste quadro desastroso. Não existe nenhuma justificativa para
das pessoas. É fato que a microbiota da boca pre- não tornar a desinfecção das escovas
As escovas dentais normalmente são sente no biofilme oral que se deposita dentais um procedimento rotineiro e
embaladas e comercializadas após um constantemente sobre os dentes, mu- habitual que, seguramente, poderia au-
processo de esterilização por radiação cosas, gengivas e língua possui diversos xiliar na prevenção de muitas doenças
gama que é capaz de eliminar os mi- microrganismos potencialmente pató- infecciosas orais.
crorganismos de sua superfície, porém, genos. Porém, não se pode esquecer Porém, infelizmente, o hábito desta
após uma única utilização as escovas se que esta microbiota também desempe- desinfecção ainda não se tornou par-
tornam contaminadas por bactérias, ví- nha um papel importante na manuten- te das condutas regulares e indicada
rus e/ou fungos que podem estar pre- ção da saúde da boca e do organismo de uma forma massiva pelos profissio-
sentes tanto na cavidade oral quanto no como um todo desde que não ocorram nais da área odontológica à população.
meio ambiente. perturbações na homeostase corpórea Este trabalho apresenta uma sequência
Estes microrganismos podem per- no ecossistema desta microbiota. clínica estabelecendo um protocolo de
manecer viáveis na superfície da escova A medicina chinesa, por exemplo, desinfecção das escovas dentais e se pro-
por um período que varia entre um e considera que os microrganismos orais põe a discutir alguns pontos importan-
sete dias, contribuindo para a autocon- fazem parte do sistema imunológico tes relacionados a esta desinfecção que
poderiam auxiliara a prevenir a trans-
taminação e/ou contaminação cruzada, dos indivíduos, devendo ser tratada com
missão das doenças orais e de muitas ou-
ou seja, a contaminação entre indivídu- muito cuidado. Porém, estes microrga-
tras potenciais doenças sistêmicas.
os através do compartilhamento das nismos precisam ser controlados para
escovas, ou mesmo através do contato que não provoquem ou agravem além
entre as escovas, principalmente pelo da cárie e as doenças gengivais, outras PROTOCOLO DE DESINFEC-
contato entre as cerdas de diferentes doenças sistêmicas, como por exemplo, ÇÃO DA ESCOVA DENTAL
escovas que dividem um mesmo local cardiopatias, acidente vascular cerebral A escovação dental é o meio mecâ-
de armazenamento. (AVC), problemas gastrointestinais, nico individual de mais ampla utiliza-
Comprovadamente, os microrganis- pulmonares, nas articulações, diabetes ção para o controle do biofilme oral. A
mos presentes na boca estão associados e, até mesmo, o parto pré-termo. desorganização da chamada placa bac-
às principais doenças orais, ou seja, Com certeza a prevenção das doen- teriana através das cerdas das escovas
causam cárie, gengivite e periodontite. ças orais com a utilização de escovas é fundamental e a forma mais simples
No congresso realizado pela FDI eficazes e atraumáticas, escovas inter- para a prevenção das doenças orais,
(Fédération Dentaire Internationale / dentais, fio dental e higienizadores de pois, a placa desorganizada e oxidada
World Dental Federation) em Salva- língua continua sendo a melhor forma não é capaz de provocar qualquer ma-
dor, Brasil, em 2010, o tema principal de prevenção das doenças orais. lefício (Fig.1).
foi justamente a discussão dos motivos Entretanto, a desinfecção das escovas Porém, após a escovação, as cerdas
pelos quais as doenças orais, especial- utilizadas para a higienização oral po- das escovas tornam-se contaminadas
mente a cárie dental, ainda permane- deria desempenhar um papel coadju- sendo importante a realização da de-
cem nos dias de hoje como uma ver- vante muito importante na prevenção sinfecção antes da próxima escovação
dadeira epidemia, incidindo em cerca destas e de outras doenças que pode- justamente para evitar a autoinfecção
de 88% da população mundial, ou seja, riam ser transmitidas através dos mi- e/ou a infecção cruzada. Uma sequ-
cerca de cinco bilhões de pessoas estão crorganismos presentes na boca, prin- ência de desinfecção da escova dental é
acometidas com esta doença crônica, cipalmente no biofilme oral, secreções, apresentada a seguir:
considerada a doença mais comum do sangue e saliva. Recentemente a huma- 1) Antes de se iniciar a higiene oral

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as mãos e unhas devem ser muito bem DISCUSSÃO doenças orais, além, de contribuir para
lavadas e esfregadas com água e sabão; Vários estudos mostram que as esco- manutenção da estética e para as rela-
2) Também um bochecho com água vas dentais higienizadas e acondiciona- ções sociais do indivíduo.
para eliminar resíduos de alimentos das de forma incorreta, podem causar Sem dúvida, a escova dental é um ins-
deve ser realizado, pois, isto diminui contaminação pelos mais diferentes trumento mundialmente utilizado e de
a chance da comida ficar presa entre tipos de microrganismos. Entre eles, fundamental importância na manuten-
as cerdas e sofrer uma decomposição bactérias, fungos, vírus e parasitas que ção da higiene e saúde oral. Entretanto,
posterior. Se houver restos de alimento servem como veículo de transmissão as escovas merecem receber cuidados
presos entre os dentes, estes também de doenças com diferentes graus de especiais de desinfecção entre as escova-
devem ser removidos antes da escova- patogenicidade. Devido a este fato, a ções diárias, pois, podem ser contami-
ção com o auxílio do fio dental e de escova dental pode se tornar uma vilã nadas e servirem como meio de repro-
escovas interdentais do tipo Prime que da saúde oral, já que a partir da con- dução para os microrganismos presentes
se adaptam perfeitamente aos espaços taminação assume um papel de veicu- na cavidade oral ou no ambiente que as
interproximais; ladora e/ou inoculadora de microrga- cercam, normalmente banheiros úmi-
3) Após o término da escovação, nismos potencialmente patógenos aos dos que, por exemplo, não impedem a
preferencialmente com uma escova ul- seres humanos. circulação de insetos e/ou do spray mi-
tramacia, com mais de 5 mil cerdas e É mais do que comprovado que a es- crobiano proveniente do vaso sanitário
de acordo com a técnica recomendada, cova dental é a maior aliada no com- durante a descarga sanitária.
todas as superfícies da escova devem bate da cárie e das doenças gengivais. A grande maioria dos autores con-
ser lavadas com água corrente; Assim, este tema deve ser abordado corda que os microrganismos transfe-
4) Segue-se o procedimento pela sempre com muita responsabilidade ridos da escova dental para a boca e/ou
remoção do excesso de água com uma para não causar preocupações desne- da escova para outras escovas é com-
pequena batida da escova sobre a palma cessárias e que poderiam desestimular posta de uma microbiota oral nativa e
da mão e/ou sobre a borda limpa da a utilização das escovas. inofensiva, porém, se houverem de-
pia do banheiro; De acordo com Van Gemert-Schriks sequilíbrios nesta microbiota, podem
5) Faz-se, então, a aplicação do de- et al. (2009), apesar das grandes me- ocorrer infecções orais muitas vezes,
sinfetante através do borrifamento do lhorias na economia global, tecnologia inclusive, que se estendem para a gar-
antisséptico oral à base de clorexidina sempre em ascendência e significante ganta e orofaringe, provocando proble-
entre 0,12% a 0,2% especialmente na desenvolvimento, as condições de saú- mas de maior gravidade (Glass e Lare,
parte das cerdas; de oral continuam precárias e causando 1986; Caudry et al. , 1995).
a cárie dental, uma das doenças mais
6) Coloca-se o protetor de cabeça que Então, a escova pode ser uma fonte de
prevalentes no mundo, sendo necessá-
deve ter a sua parte interna também contaminação microbiana intra e inter-
rio um maior enfoque para prevenção.
embebida pela solução antisséptica; -indivíduos e, sendo fonte e/ou veícu-
Segundo o autor, a cárie e as doenças
7) Em seguida a escova pode ser lo para transmissão e/ou reintrodução
periodontais estão entre as doenças
guardada sobre a pia ou dentro do ar- mais prevalentes que atingem a socie- de microrganismos, a sua desinfecção
mário fechado do banheiro. O antis- dade industrializada e, apesar de toda como meio auxiliar na prevenção de vá-
séptico ficará agindo durante todo o discussão e avanços tecnológicos, estas rias enfermidades é muito importante.
intervalo entre as escovações promo- doenças permanecem praticamente O conceito de contaminação das es-
vendo assim uma desinfecção eficiente; inevitáveis e atingindo a maior parte da covas dentais após seu uso foi proposto
8) Um ponto fundamental é que antes população mundial. por Cobb (1920), que indagou se a es-
da próxima escovação a escova deve ser Assim, o controle do acúmulo do cova dental seria a causa de sucessivas
novamente muito bem lavada e enxa- biofilme é um fator fundamental para infecções na cavidade oral.
guada em água corrente, da mesma for- a manutenção da saúde oral, devendo Atualmente, sabe-se que o habitat da
ma descrita inicialmente, para a remo- ser realizada principalmente pela ação cavidade oral é formado por todo epi-
ção dos resíduos do produto utilizado. mecânica das escovas dentais. Para télio oral, mucosas, dorso e ventre da
Na figura 2 pode-se observar uma Moreira e Cavalcante (2008), a escova língua, superfície dental supragengival,
sequencia do procedimento de desin- dental é o instrumento de higiene mais superfície dental subgengival e sulco
fecção e armazenagem da escova. utilizado e eficiente na prevenção das gengival, sendo que este ecossistema

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abriga entre 400 a 500 diferentes es- cus salivarius, Streptococcus pneumoniae, ou benéficas ao hospedeiro, por inibir
pécies de microrganismos (Moore e Streptococcus pyogenes, Treponema denti- o crescimento de bactérias periodon-
Moore, 1994; Socransky e Haffajee, cola, Treponema refringens, Neisseria sp, topatogênicas como o Actinobacillus ac-
1994; Wilson, Weightmen e Wade, Neisseria meningitidis, Veilonella parvula, tinomycetemcomitans (Socransky e Haffa-
1997). Algumas descobertas recentes Capnocytophaga ochracea, Actinobacillus jee, 1992; Tanner, 1996).
apontam para números ainda maiores, actinomycetemcomitans, Porfiromonas gin- Vários estudos comprovam que nas
algo em torno de 600 a 800 espécies givalis, Peptostreptococcus, Enterobacteria- escovas de dente podem ser encontra-
diferentes e uma enorme variedade de ceae e o novíssimo Prevotella histicola sp, dos microrganismos dos gêneros Strep-
microrganismos, como vírus, fungos, pode-se citar também outros possíveis tococcus, Staphylococcus, Corynebacterium e
protozoários e bactérias. patógenos que podem habitar a boca Pseudomonas, além da presença de co-
As bactérias, por exemplo, são as como Candida albicans, Staphylococcus liformes fecais como Escherichia coli.
mais numerosas na cavidade oral estan- aureus, Escherichia coli, Mycobacterium tu- Existem também outros trabalhos que
do presente em um número em torno berculosis e também os microrganismos evidenciam que as escovas dentais po-
de 100 milhões em cada mililitro de transmissores das hepatites e inúmeros dem ser responsáveis pela transmissão
saliva (Downes, 2008). tipos de vírus relacionados com as gri- de doenças infecciosas, como sífilis,
Porém, isto não significa que esta pes, Haemophilus influenzae, Parainfluen- difteria, tuberculose, hepatite e Aids.
flora seja prejudicial e sempre pato- zae e até mesmo o vírus da imunodefi- Além disso, seria também possível
gênica. Muito pelo contrário, de for- ciência humana (HIV), entre outros. uma lesão pela escovação ou utiliza-
ma controlada ela é fundamental para Inúmeros autores afirmaram que ção do fio dental que ocasionaria uma
o equilíbrio e proteção do organismo uma das doenças orais que reflete a bacteremia e uma possível endocardite
como um todo, sendo um importante falta de equilíbrio da microbiota é a cá- bacteriana (Warren et al. , 2001; Silva
fator que contribui para a saúde geral rie dental que, como se sabe, provoca et al. , 2003; Sato et al. , 2004; Brasil et
do indivíduo. Segundo Kolenbrander a destruição dos tecidos mineralizados al. , 2007).
(2000), a microbiota oral desempenha dos dentes durante a sua progressão. De acordo com Bahna et al. , 2007,
um papel relevante na manutenção da O principal agente etiológico da cárie também as leveduras do gênero Candi-
saúde e também na ocorrência de do- é a bactéria Streptococcus mutans, que é da estão presentes de 25 a 50% de pa-
enças resultantes da perturbação do capaz de aderir às superfícies dentais cientes saudáveis de maneira comensal
ecossistema existente. Os organismos e ao biofilme oral ou placa bacteriana e assintomática, não gerando doenças.
que compõem a flora oral contribuem (Carlsson, 1968; Edwardsson, 1968; Já os pacientes HIV positivos, diabé-
para o desenvolvimento do sistema Shklair e Keene, 1976; Loesche, 1986; ticos, oncológicos ou transplantados
imunológico do hospedeiro e permi- Thylstrup e Fejerskov, 1995; Kreulen estão mais propensos a desenvolver
tem a colonização balanceada de uma et al. , 1997; Grönroos, 2000; Paiva et infecções por esses microrganismos,
grande variedade de microrganismos. al. , 2006). Os Streptococcus, principal- devido à deficiência do sistema imuno-
Entretanto, eles também se consti- mente as espécies mutans e sobrinus, lógico. Para diversos autores, a Candida
tuem em um reservatório de micror- são os microrganismos gram-positivos albicans pode ser encontrada em vários
ganismos que potencialmente podem intimamente relacionados com lesões locais do corpo humano devido à sua
invadir outros tecidos do seu hospedei- de cárie de superfície lisa e lesões natureza oportunista. Invadindo teci-
ro. A complexidade desse ecossistema de cárie oclusal (Loesche e Straffon, dos poderia causar candidose em as-
depende da faixa etária do indivíduo, 1979; Hardie, 1986; Lindquist et al. , sociação com outros fatores predispo-
imunocompetência do hospedeiro, dis- 1989; Lindquist e Emilson, 1990; Van nentes (Cannon et al. , 1995; Radford
ponibilidade de novos nichos de colo- Houte, 1994; Jorge, 1998). et al. , 1999; Akdeniz et al. , 2002;
nização, tipos de dietas, exposição ao Também as espécies gram-positivas Tamura et al. , 2003; Sanches et al. ,
flúor e, principalmente, da qualidade e relacionadas com a saúde periodontal 2005). Jorge et al. (1997) e El Azizi et
frequência da higiene oral. são principalmente dos gêneros Strep- al. (2004) concordam que Candida albi-
Além dos microrganismos tradi- tococcus e Actinomyces. Algumas espé- cans pode ser encontrado no biofilme
cionais presentes na cavidade oral cies bacterianas encontradas na saúde, oral em relevantes quantidades e, em
como, Streptococcus mutans, Lactobacillus como o Streptococcus sanguis, Veilonella alguns casos poderia transformar-se na
sp, Streptococcus sobrinus, Streptococcus parvula e Capnocytophaga ochracea, fo- forma parasitária, produzindo candidí-
sanguis, Streptococcus mitis, Streptococ- ram propostas como sendo protetoras ase ou candidoses orais.

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A importância da cavidade oral como dade oral de microrganismos como as docardite bacteriana é muito impor-
armazenadora e disseminadora de es- bactérias presentes na mucosa intesti- tante e também deve ser considerada.
tafilococos patogênicos, foi ressaltada nal, há um indício claro do débito no A endocardite é causada por Streptoc-
por Knighton, 1962; Zelante e Piochi, nível de saúde e higiene pessoal do cocus viridans, Staphyloccocus aureus e
1975; e Zelante et al. , 1983 que com- individuo tanto microbiologicamente por fungos e, sabidamente, pode estar
provaram que o Staphylococcus aureus quanto nas ações em odontologia pre- relacionada à prática odontológica que
se comporta na cavidade oral de forma ventiva e social. cause uma possível bacteremia. Bacté-
semelhante à das fossas nasais e pele, Alguns estudos comprovam que as rias circulando no sangue podem ser
ou seja, a boca tem condições que pro- escovas dentais que permanecem fora aprisionadas e se fixar nas válvulas do
porcionam o desenvolvimento do mi- do armário do banheiro e/ou sem um coração e no endotélio cardíaco cau-
crorganismo. O Staphylococcus aureus protetor de cerdas, podem ser conta- sando a endocardite bacteriana. Segun-
é um importante patógeno humano, minadas por coliformes fecais presen- do Brasil et al. (2007), bacteremias po-
responsável por um grande número de tes no aerossol ou névoa que se for- dem ocorrer em situações do dia a dia
infecções hospitalares e coloniza vários ma após a descarga do vaso sanitário. do indivíduo como, por exemplo, pelo
locais no corpo humano, mas a boca e Estes microrganismos presentes no uso do fio dental, escovação e até pela
as mãos são os principais reservatórios ambiente podem se depositar e proli- simples mastigação.
para a propagação deste microrganis- ferar nas cerdas das escovas desprote- Tudo que for realizado para auxiliar
mo. Como afirma Suziki et al. , 1997 gidas deixadas sobre a pia. Deve-se dar a prevenção destas doenças orais pro-
o Staphylococcus aureus é um impor- preferência às escovas que possuem porciona um ganho muito grande para
tante patógeno humano responsável um protetor acrílico da cabeça, pois, a saúde geral dos indivíduos. Neste con-
por várias doenças, inclusive doenças pela proteção das cerdas temos uma texto a desinfecção das escovas pode ser
infecciosas sistêmicas fatais que podem maior conservação, maior dificuldade um item de contribuição para a preven-
se iniciar no trato urinário. Segundo de contaminação cruzada e um maior ção das doenças orais e consequente-
Zelant et al. (1983), Staphylococcus au- grau de higienização. Além das cerdas mente para as doenças sistêmicas.
reus, também conhecido como “esta- não se tocarem, a desinfecção é mais De acordo com Nelson et al. (2008),
filococo dourado”, é uma espécie de eficiente pelo maior contato do produ- em vários estudos foi comprovado que
estafilococo coagulase-positivo e uma to desinfetante com as cerdas. Deve-se a maioria dos indivíduos guarda a sua
das espécies patogênicas mais comuns enfatizar que estas proteções devem escova de dente em ambientes úmidos
e virulentas do seu gênero, sendo sua sempre estar limpas e não podem con- que proporcionam o desenvolvimento
multiplicação muito boa em ambientes ter nichos de retenção e proliferação bacteriano e a ocorrência de conta-
salinos como a cavidade oral. de microrganismos, principalmente minação cruzada de microrganismos
Escherichia coli é um coco-bacilo fungos. Enfim, as escovas devem ficar entre as escovas. Também o armazena-
gram-negativo que pertence à família longe dos insetos que podem circular mento das escovas em suas caixas ou
Enterobacteriaceae e o seu habitat natural pelo banheiro e, consequentemente, nas embalagens que as acompanham,
é o lúmen intestinal dos seres humanos dos microrganismos. Uma boa dica é favorece a proliferação de microrga-
e de outros animais de sangue quente. sempre fechar a tampa do vaso sanitá- nismos devido às características de
Vários estudos comprovam que o grau rio antes de dar a descarga para evitar a temperatura e umidade destes locais. A
de contaminação da cavidade oral por formação do spray de microrganismos partir dessas constatações o autor su-
Escherichia coli em populações humil- proveniente do vaso. Gebran e Gebert gere a utilização de produtos como a
des é enorme e que providencias sócio- (2002), afirmam que há contaminação clorexidina para realizar a desinfecção
profissionais devem ser incrementadas pelo ambiente, como por exemplo, a após o uso das escovas.
para prevenir o seu aparecimento. A provocada pelas descargas de vasos sa- Muitos procedimentos podem ser
falta de saneamento básico, a contami- nitários que suspendem os microrga- feitos com o intuito de minimizar o nú-
nação dos alimentos e uma higiene pes- nismos ao ar e provocam a sua deposi- mero de microrganismos nas escovas
soal deficiente são as principais formas ção nas escovas dentais. dentais, como, por exemplo, a lavagem
de transmissão deste microrganismo A prevenção de doenças orais como em água corrente e o armazenamento
orofecal (Doyle e Cliver, 1990; Reed, a cárie, gengivite e periodontite que conservando a escova seca e protegida
1994, Murray, 2004). podem ocasionar doenças sistêmicas por um invólucro próprio e em local
Quando existe a presença na cavi- mais graves como, por exemplo, a en- sem umidade. Porém, segundo Moss

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(1996) e Nelson et al. (2000), a lava- individuais descartáveis, porém, uma da para bochechos e que não provoca
gem em água corrente apenas dilui a metodologia que tenha um custo mui- irritações na pele e mucosas, com a
concentração dos microrganismos pre- to elevado sugere, muitas vezes, que finalidade de desinfecção das escovas
sentes, não desinfetando a escova de poderia ser mais conveniente trocar de dentais. Estes produtos são eficazes na
dente totalmente, sendo necessário o escova a cada utilização ao invés de re- eliminação dos micro-organismos mais
uso de antimicrobianos. alizar a sua desinfecção. comumente encontrados nas cerdas
Sem dúvida um objetivo a ser perse- Um método de desinfecção muito das escovas, porém, as soluções não
guido é manter as escovas limpas e se- simples consiste na diluição de uma podem ser reaproveitadas ou utilizadas
cas, pois, a umidade facilita a formação colher de água sanitária em um copo para a desinfecção de várias escovas ao
e a proliferação dos microrganismos. de água, deixando a cabeça da escova mesmo tempo.
Porém, a umidade nas escovas é um imersa por um tempo de dez a quin- Um desinfetante ideal deve ser ca-
mito da odontologia que pode e deve ze minutos. Mesmo sabendo que a paz de destruir a forma vegetativa de
ser derrubado, pois realizar a secagem água sanitária é eficaz, a maioria dos todos os microrganismos patogênicos,
de um objeto que é utilizado pelo me- pesquisadores não indica esse proce- deve necessitar de um tempo limitado
nos três vezes ao dia com água e que dimento como rotina, pois o resíduo de exposição, deve ser eficaz em tem-
é guardado em um ambiente úmido do produto pode causar irritação na peratura ambiente, não pode ter ação
como o banheiro é, na realidade, uma mucosa oral e até problemas gástricos corrosiva, deve ser atóxico para os se-
utopia. Além disso, os métodos de se- se a escova não for muito bem lavada res humanos e preferencialmente de
cagem possíveis não são recomendá- e o resíduo da água sanitária perfeita- baixo custo.
veis. Por exemplo, nunca se deve secar mente removido antes da próxima uti- É muito difícil a existência de um
a escova com uma toalha de banho ou lização. Também o hipoclorito de sódio produto que preencha todos os re-
de rosto, pois isto pode aumentar ain- a 1%, ácido acético a 0,05%, cloreto quisitos sendo que, na prática, o uso
da mais o grau de contaminação. Tam- de cetilpiridínio, óleos essenciais e o correto dos desinfetantes químicos
bém a secagem através de um jato de álcool a 70% já foram recomendados deve pelo menos reduzir o número de
ar quente de um secador de cabelo im- para a limpeza das escovas de dente em micro-organismos patogênicos viáveis
plicaria numa grande falta de pratici- métodos de imersão total por tempos presentes nas superfícies desifetadas
dade, além de um tempo de execução que variam de dez minutos a 24 ho- para níveis que permitiram a preven-
prolongado, o que torna esta metodo- ras, porém, alguns têm ação duvidosa ção das doenças pelos mecanismos na-
logia difícil de ser executada de forma e outros podem danificar as cerdas das turais de defesa do indivíduo sadio. Ou
rotineira. Na realidade, a presença de escovas (Sanches, 2001). seja, deve-se reduzir a sua quantidade
umidade, quando a desinfecção pelo É sempre bom relembrar que uma para níveis que possibilitem uma auto-
método químico proposto através da solução antisséptica indica uma subs- defesa imunológica.
clorexidina é realizada, é totalmente tância que tem por objetivo degradar A clorexidina pertence ao grupo far-
desnecessária, pois a escova fica úmida, ou inibir a proliferação de microrganis- macológico das biguanidas e amidines,
porém embebida no produto desinfe- mos presentes na superfície da pele e/ tendo sido aprovada para o uso em esco-
tante entre uma escovação e outra. ou mucosas. Já a solução desinfetante vas cirúrgicas em meados da década de
Muitos métodos já foram sugeridos indica uma substância que tem por ob- 70, e como colutório ou enxaguatório
para promover a desinfecção das esco- jetivo destruir os microrganismos de oral a 0,12%, no final da década de 80
vas dentais, entre eles a utilização de uma superfície ou instrumento sem, (Torres et al. , 2000; Souza, 2007). A
um forno de micro-ondas em diferen- no entanto, eliminar as formas espo- clorexidina é eficaz contra os microrga-
tes tempos de exposição e a imersão ruladas que só podem ser destruídas nismos gram-positivos, gram-negativos,
em vinagre em diferentes concentra- através da esterilização. Então, uma HIV e certos tipos de fungos. Na Europa
ções e por diferentes tempos, porém, mesma substância química, quando são utilizadas soluções de clorexidina a
tais procedimentos são complicados e utilizada em tecidos vivos, será chama- 0,12% ou 0,20% como enxaguatórios
de difícil realização. Métodos mais so- da de antisséptico e, quando utilizada orais desde a década de 80, e a efecácia
fisticados e, também muito caros, con- em objetos, será chamada de desinfec- da clorexidina nos enxaguatórios resul-
sistem na utilização de aparelhos este- tante. Na realidade, para a desinfecção ta principalmente de sua substantivida-
rilizadores domésticos que funcionam das escovas dentais proposta, utiliza- de. A natureza catiônica da clorexidina
com calor seco ou estojos químicos -se uma solução antisséptica utiliza- permite a sua ligação a tecidos duros e

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62 Anuário de Artigos Científicos 2014

moles na cavidade oral sendo lentamen- 0,20% borrifada sobre as cerdas das es- preço não pode ser o único fator a ser
te liberada com o decorrer do tempo, covas seguida de seu acondicionamento avaliado. Deve-se orientar sobre a me-
o que produz um efeito bacteriostático com capa protetora no intervalo entre lhor opção e a importância de uma es-
contínuo (Cury et al. , 2000). Muitos as escovações. Neste tempo as cerdas cova de qualidade para prevenção das
estudos demonstraram a eficácia dessas das escovas ficam úmidas, porém, em doenças orais, e sobre a necessidade
soluções quando utilizadas duas vezes ao contato com a solução desinfetante, o da realização de uma desinfecção diá-
dia na redução da formação do biofilme que vai promover a desinfecção de for- ria. Um item importante e que merece
oral e gengivite (Bastos et al. , 2004; Re- ma segura. Atualmente, também sabe- ser abordado é o fato das escovas mais
che, 2005). mos que a eficiência do borrifamento higiênicas e que favorecem a desinfec-
Apesar de outros produtos também da solução antisséptica através de um ção não serem, na grande maioria das
terem mostrado eficácia in vitro (Koni- spray é tão eficiente quanto a imersão vezes, aquelas que têm um apelo visu-
dala et al. , 2011), a justificativa princi- completa da escova para obtenção da al mais chamativo ou uma superfície
pal quanto à utilização da clorexidina é desinfecção. Além disso, ela evita des- emborracha. A escova ideal pode ser
justamente o fato de o principal agente perdícios da solução para realização da bonita e colorida, porém, o mais im-
causador das doenças orais ser o Strep- desinfecção das escovas. portante é ter uma superfície que di-
tococcus mutans. A clorexidina é o agen- Também a vida útil das escovas está ficulte a contaminação e proliferação
te químico mais eficaz da atualidade no relacionada com o processo de limpeza de micro-organismos, ou seja, ela deve
controle das doenças orais, pois, tem e desinfecção, pois, as escovas dentais ter design clean, limpo, uma forma sim-
uma ação bactericida ou bacteriostática devem ser substituídas com frequência. ples, lisa, sem irregularidades ou re-
sobre microorganismo gram-positivos Em alguns países como, por exemplo, a entrâncias e produzida com materiais
e gram-negativos. Se for utilizado com Suíça e os Escandinavos, o consumo de não porosos. Além disso, ela deve ser
desinfetante de escovas dentais, a clo- escovas anual chega aproximadamente desenvolvida com uma tecnologia que
rexidina entre 0,12% e 0,20% além a doze unidades por habitante, ou seja, elimine os espaços existentes entre os
de auxiliar a prevenção destas doenças tufos das cerdas da cabeça, impedindo
uma escova por mês. No Brasil, infe-
orais pode contribuir para a diminui- desta forma o acúmulo de sujidades e
lizmente, este número é bem inferior
ção das infecções cruzadas causadas por consequentemente o acúmulo e proli-
e inversamente proporcional, ou seja,
outros microorganismos patogênicos. feração de micro-organismos.
uma grande parte da população utiliza
Assim sendo, a utilização de um an- o ano todo apenas uma escova e, em É fato que um grande número de
tisséptico à base de Clorexidina 0,12% alguns casos, todos os membros da fa- micro-organismos pode ser transmi-
como desinfetante de escovas dentais mília utilizam a mesma escova. Assim, tido pelas escovas dentais. Muitos já
para prevenção de doenças que podem a alta frequência de troca de escovas, foram objetos de pesquisas científicas
ser transmitidas pela boca pode con- muitas vezes, é inviável, sendo satis- e outros não, porém, por analogia,
tribuir além da prevenção da cárie e fatório para indivíduos saudáveis um pode-se concluir como sendo poten-
doença gengival, serve para prevenção tempo de aproximadamente dois me- ciais causadores de doenças transmiti-
de infecções cruzadas de doenças como ses para a troca, desde que as escovas das pelo vetor chamado escova dental.
hepatite, HIV, gripe, doenças parasitá- sejam submetidas a uma desinfecção Atualmente a desinfecção das escovas
rias e outras doenças cujos microrga- diária. Em alguns casos especiais como, dentais é um importante fator para a
nismos sejam susceptíveis à ação do por exemplo, presença de gripes ou prevenção de várias doenças. Estas do-
fármaco em questão. outras doenças infecciosas, recomen- enças podem estar restritas à cavidade
da-se que as escovas sejam trocadas oral ou se manifestarem sistemicamen-
A técnica preconizada é uma for- te, devendo a desinfecção ser realizada
ma prática, simples e econômica para no início e após a cura dos processos
infecciosos. No caso de indivíduos que de uma forma rotineira e padronizada.
realização da desinfecção das escovas
dentais e permite que as mesmas se- sofreram grandes cirurgias e/ou trans-
jam armazenadas úmidas em um mes- plantes, e também no caso de pessoas CONCLUSÕES
mo recipiente por todos os membros imunossuprimidas e tratamentos de ra- • Atualmente a prevenção das au-
da família e de acordo com os hábitos dioterapia ou quimioterapia, as escovas toinfecções e das infecções cruzadas
rotineiros das pessoas. Deve-se utilizar devem ser trocadas diariamente. deve ser um objetivo a ser perseguido
uma solução de gluconato ou diglu- É importante frisar aos pacientes que quando se deseja preservar a saúde das
conato de clorexidina entre 0,12% e na hora da compra da escova dental o populaçãoes;

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• O hábito da desinfecção roti- térias gram-positivas e gram-negativas do no dia a dia das pessoas como auxi-
neira das escovas dentais após a sua presentes em escovas dentais contami- liar na prevenção de inúmeras doenças
utilização pode contribuir para a nadas após o uso, devido ao seu com- orais e sistêmicas;
prevenção de muitas doenças trans- provado amplo espectro e alto poder • A desinfecção da escova deve ser
mitidas pela boca; antimicrobiano; realizada pelo borrifamento do de-
• A Clorexidina 0,12% e 0,2% são • É fundamental a padronização de sinfetante à base de clorexidina entre
agentes eficazes para eliminação de um procedimento de desinfecções de 0,12% a 0,2% e utilização do protetor
microrganismos como fungos e bac- escovas dentais e inserção deste méto- de cabeça acrílico entre as escovações.

Figura 1 - Cerdas de escova desorganizando o biofilme oral Figura 2 - Sequência de desinfecção da escova iniciando pela lavagem; remoção do
excesso de água; aplicação do agente desinfetante à base de clorexidina entre 0,12
a 0,2% e armazenagem da escova com a tampa protetora de acrílico.

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66 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Como docentes do curso de Odontologia


escolhem seus dentistas?

Palavras-chave: Comportamento de escolha. Ética odontológica. Odontologia e sociedade.


Keywords: Choice behavior. Ethics Dental. Odontology and society.

José Guilherme Férrer Pompeu1 RESUMO


Claudio Heliomar Vicente da Silva2 Introdução: A grande oferta de profissionais da odontologia associada com aumento
Gustavo Pina Godoy3 galopante de ações judiciais movidas contra cirurgiões-dentistas (CDs) torna imperativo
Belisse Brandão da Cunha4 sistematizar critérios para a escolha desse profissional. Nesse sentido, este estudo obje-
Maysa Amorim Pereira5 tivou conhecer os critérios adotados por docentes do curso de Odontologia na escolha
Benício Barros Brandão5 de seu próprio CD. Material e Métodos: Foi elaborado questionário fundamentado
no Código de Ética Odontológico e em literatura odontológica pertinente, abrangendo
68 alternativas, distribuídas em três eixos: 1 – a busca inicial por um cirurgião-dentista,
com 17 alternativas distribuídas em duas questões; 2 – a(s) primeira(s) consulta(s), com
33 alternativas distribuídas em cinco questões; 3 – o tratamento, com 18 alternativas
distribuídas em três questões. A cada alternativa foi associada pontuação relativa ao seu
grau de importância: 0: nenhuma; 1: pouca; 2: relativa; 3: muita. Esse questionário foi
enviado aos docentes dos cursos de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), da Novafapi e da Universidade Federal de Pernambuco (UFP), que deveriam
preenchê-lo individualmente e devolvê-lo em prazo estipulado. Todos os 96 docentes
que devolveram os questionários devidamente preenchidos e no prazo estipulado foram
incluídos na amostra deste estudo, sem diferenças nas frequências de homens e mulhe-
res, cuja média de idade foi de 44,6+9,1 anos. Resultados: Os resultados apontam a
importância atribuída por docentes de Odontologia às 68 alternativas apresentadas, em
algumas das quais houve diferenças significativas nas pontuações atribuídas em relação ao
gênero do profissional, ao tipo de prática clínica e/ou à instituição de ensino superior em
que lecionavam. Exceto por raras alternativas, não foram estabelecidas correlações entre
as pontuações anotadas e a idade ou o tempo de docência dos entrevistados. Conclu-
sões: Este estudo trouxe contribuições importantes quanto a critérios éticos e clínicos
que, segundo docentes de Odontologia, devem ser considerados na escolha de um CD.

ABSTRACT
Introduction: Both the great number of Dental Surgeons (DS) and the increasing lawsuits against these professionals impose
the need for systematic criteria for choosing a DS.The knowledge of such criteria adopted by professors of Odontology School
when choosing their own DS was the main objective of this study. Material e Methods: A questionnaire based on the
Brazilian Ethics Code for Odontology and on pertinent literature was developed with 68 alternatives divided into three head
1- Professor Associado do Curso de Odontologia da topics: 1 – the initial search for a DS, with 17 alternatives distributed into two questions; 2 – the first consultation(s), with 33
Universidade Federal do Piauí. gpompeu8@gmail.com. alternatives distributed into five questions; 3 – the dental management, with 18 alternatives distributed into three questions.To
each alternative were associated scores regarding its importance level: 0: none; 1: low; 2: relative; 3: high.The questionnaire was
2- Professor Associado do Curso de Odontologia da posted to the professors of the Odontology School of the Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Novafapi e Universidade
Universidade Federal de Pernambuco. claudio_rec@hotmail.com.
Federal de Pernambuco (UFP), who should fulfill them individually and post them back in a predetermined term. All the 96
3- Professor Doutor do Curso de Odontologia da professors who returned the questionnaires duly fulfilled in the asked term were included in the study, with similar numbers of
Universidade Estadual da Paraíba. gruiga@hotmail.com. males and females with mean age 44.6+9.1 years. Results: The results point at the importance attributed by the professors
to the 68 alternatives. Significant differences regarding gender, practice and institution were observed in the scores attributed
4- Acadêmica do Curso de Graduação de Odontologia da for only some of these alternatives. Except for few alternatives, no correlations were established between scores and the age or the
Universidade Estadual da Paraíba.
teaching time of the interviewers. Conclusions: This study concerns to important contributions regarding ethical and clinical
5- Acadêmicos do Curso de Graduação de Odontologia da criteria to be considered for choosing a DS, according to the opinion of professors of Odontology School.
Faculdade Novafapi.

Pompeu, José Guilherme Férrer et al. Como docentes do Curso de Odontologia escolhem seus dentistas?

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 67

INTRODUÇÃO grande parcela da população e, apesar MÉTODO


O Brasil responde por 19% dos ci- de amplamente disponibilizados em Para conhecer os critérios utilizados
rurgiões dentistas (CDs) devidamen- sites e portais virtuais de conselhos e por docentes do Curso de Odontolo-
te cadastrados em todo o mundo, ou associações da classe, nem sempre au- gia tanto na escolha do próprio CD
seja, em 2008 havia 219.575 profis- xiliam objetivamente o usuário dos quanto nas considerações relevantes
sionais brasileiros ativos atuando pre- serviços odontológicos na escolha do ao longo do tratamento odontológico,
dominantemente em clínicas privadas profissional que os atenderá nem no desenvolveu-se questionário funda-
(66,7%) e com maiores concentra- monitoramento de sua atuação. mentado no Código de Ética Odon-
ções em São Paulo (33%), Rio de Ja- Por outro lado, tal como ocorre tológico de 20067 e em literatura
neiro (12%) e Minas Gerais (12%)1. com diversas outras profissões da área odontológica pertinente, abrangendo
Some-se a isso que, a cada ano, os da saúde, vem crescendo assustadora- 68 alternativas, distribuídas em três
188 cursos de graduação em Odon- mente em todo o mundo o número de eixos principais: o Eixo 1 – a busca
tologia existentes no país inserem no denúncias e ações judiciais contra con- inicial por um cirurgião-dentista in-
mercado cerca de 15.500 novos pro- dutas ilegais e antiéticas de CDs, o que cluiu duas questões, totalizando 17 al-
fissionais, conforme dados publicados vem aumentando gradualmente a ne- ternativas a serem pontuadas. O Eixo
pelo Conselho Federal de Odontolo- cessidade de esses profissionais estarem 2 – a(s) primeira(s) consulta(s) englo-
gia em 20072, o que pode acarretar conscientes dos aspectos tanto éticos bou cinco questões, totalizando 33 al-
a massificação do ensino superior da quanto legais que envolvem o exercício ternativas a serem pontuadas. Por fim,
Odontologia, a má formação do novo da profissão6, assim como a procura dos o Eixo 3 – o tratamento foi composto
cirurgião dentista (CD) e o seu distan- clientes por orientações mais precisas de 18 alternativas distribuídas em três
ciamento da realidade social3. para a escolha do profissional que os questões (Quadro 1).
Enquanto a Organização Mundial da atenderá e para a avaliação dos serviços Os sujeitos do estudo deveriam
Saúde (OMS) recomenda a proporção que estará recebendo. pontuar cada uma das alternativas as-
de um CD para cada 1.500 habitantes Este estudo, portanto, foi desenvolvi- sinalando com um “x” o grau de im-
como ideal para a manutenção da saúde do no sentido de contribuir com a iden- portância que lhe atribuíam, a saber:
bucal de uma população e para a quali- tificação de diretrizes que norteiem 0: nenhuma importância; 1: pouca im-
dade da formação profissional, o Brasil os usuários de serviços odontológicos portância; 2: importância relativa; 3:
possui um profissional para cada 800 na escolha de seu CD, no caso dos que muita importância.
habitantes2, contingente que faz emer- podem pagar por esses serviços, ou na
gir questões sobre a qualidade tanto No mesmo questionário havia espaço
avaliação do atendimento oferecido, para a indicação das iniciais do nome
de formação quanto de atuação pro- nos caso dos usuários de serviços pú-
fissional. Deve-se ressaltar, ainda nesse do docente (de modo a preservar suas
blicos, sobretudo agora, com a inclusão identidades), seu gênero, idade, ano de
contexto, outro fato que permeia de relativamente recente da odontologia
forma preocupante o exercício da pro- graduação, tempo de docência univer-
nos programas públicos de prevenção sitária, grau acadêmico máximo e tipo
fissão em nosso país. Estima-se que haja e promoção de saúde, e que subsidiem
cerca de 27.000 dentistas práticos, ou de prática clínica (privada, pública, por
o profissional a estabelecer uma relação
seja, aqueles que atuam como CDs sem convênio, mista) caso a exercitasse.
com o seu paciente que atenda otima-
qualquer habilitação técnica e acadêmi- mente às suas necessidades, conside- Esse questionário foi enviado aos
ca para exercer a odontologia4. rando critérios éticos de conduta. Para docentes dos cursos de Odontologia
Embora a odontologia tenha sido tanto, determinamos como sujeitos da Universidade Estadual da Paraíba
trazida para o Brasil pelos portugueses desta investigação justamente docentes (UEPB), da Novafapi e da Universidade
já em 1500, não tem ainda meio sécu- de Odontologia, já que constituem o Federal de Pernambuco (UFP), que o
lo o início da elaboração dos critérios grupo comunitário que deve agregar e preencheram individualmente, sem a
básicos da boa conduta profissional que multiplicar os conhecimentos técnicos, presença do pesquisador, e o devolve-
permitem aos conselhos federal e re- científicos e éticos para a formação de ram em prazo estipulado para fazê-lo.
gionais fiscalizar o exercício eficiente e seu alunado, e que certamente utiliza Todos os docentes que devolveram os
ético da profissão5. Além disso, os có- desses conhecimentos no momento de questionários devidamente preenchi-
digos de ética que hoje regulamentam escolher o seu CD ou de avaliar o seu dos e no prazo estipulado foram incluí-
a profissão não são acessíveis para uma desempenho profissional. dos na amostra deste estudo.

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Desse modo, a amostra deste estu- man para verificação da relação entre mente inscrito no CRO” (2,4 + 0,9
do foi composta por 96 docentes ca- as pontuações e a idade ou o tempo de pontos), e “o tempo de atuação clínica”
racterizados na Tabela 1. Não houve docência dos participantes do estudo. (2,3 + 0,8 pontos); importância relati-
diferenças nas frequências de homens va das alternativas “se está ligado à vida
e mulheres, cuja média de idade foi de acadêmica” (1,8 + 0,9 pontos), “se par-
RESULTADOS
44,6+9,1 anos. A distribuição desses ticipa de investigações científicas” (1,8
docentes de acordo com a Instituição EIXO 1. A BUSCA INICIAL + 0,9 pontos), “se possui grau acadê-
de Ensino Superior (IES) em que le- PELO CIRURGIÃO-DENTISTA mico” (1,8 + 1,0 pontos), “a faculdade
cionavam não evidenciou diferenças Na questão COMO VOCÊ BUSCA em que se formou” (1,8 + 1,1 pontos),
significativas entre as médias de idades, UM CIRURGIÃO DENTISTA (alter- “se é autor de livros / artigos cientí-
embora essa média tenha sido maior no nativas 1 a 5), as pontuações médias ficos” (1,5 + 1,0 pontos) e “se cobra
grupo de docentes da UFPE. Os docen- revelaram grande importância das honorários pela consulta inicial” (1,1
tes da Novafapi tinham tempo de do- alternativas “indicação de colegas de + 1,1 pontos); e pouca importância
cência significativamente menor do que profissão” (2,8+0,6 pontos); impor- da alternativa “o valor dos honorários
os docentes das demais instituições de tância relativa da alternativa “indicação pela consulta inicial” (0,9 + 1,0 pon-
Ensino Superior (IES). A prática clínica de outros pacientes” (1,5+1,1 pontos); tos). A comparação das frequências de
dos docentes da UEPB foi predominan- e pouca importância das alternativas concordância nas pontuações atribuídas
temente do tipo misto; a prática priva- “placa em consultório” (0,3+0,7 pon- a cada alternativa (Tabela 2) ratificou
da foi significativamente mais frequen- tos), “anúncios em mídia” (0,4+0,7 esses achados, exceção feita à alternati-
te no grupo de docentes da Novafapi; pontos) e “consulta ao guia de convê- va “a faculdade em que se formou” e “se
e a maior frequência de docentes sem nio” (0,0+0,8 pontos). A comparação é autor de livros / artigos científicos”,
prática clínica se concentrou no grupo das frequências de concordância nas cujas distribuições dos percentuais de
de docentes da UFPE, que também de- pontuações atribuídas a cada alternativa concordância se mostraram homogêne-
clararam a menor frequência de prática ratificou esses achados, exceção feita à as (respectivamente, p = 0,059 e p =
clínica privada. alternativa “indicação de outros pacien- 0,090). Ou seja, trata-se de alternativas
tes”, cuja distribuição dos percentuais cuja importância dividiu opiniões. Com
As pontuações atribuídas a cada al-
de concordância para cada pontuação relação à IES em que lecionavam, embo-
ternativa foram transformadas em mé-
se mostrou homogênea (p = 0,478), ra de importância relativa de modo ge-
dias e desvios-padrão, considerando
ou seja, trata-se de alternativa cuja im- ral, as alternativas “a faculdade em que
o gênero dos docentes, o tipo de prá-
portância dividiu opiniões, sendo que se formou” e “se possui grau acadêmico”
tica clínica e a IES a que pertenciam.
25% dos docentes atribuíram, inclusi- se mostraram significativamente menos
Considerou-se que médias entre 0 e
ve, pouca importância a essa alternativa importantes para os docentes da UFPE
1 representaram a pouca importância
(Tabela 2). Na alternativa “consulta ao em relação aos docentes da UEPB (res-
da alternativa; médias entre 1,1 e 2 pectivamente, p = 0,022 e p = 0,030),
representaram importância relativa da guia de convênio”, embora de pouca
importância de modo geral, mostrou- enquanto a alternativa “se participa de
alternativa; médias maiores que 2,1 investigações científicas” se mostrou sig-
representaram a grande importância -se significativamente menos importan-
te para os docentes da UFPE (0,4+0,7 nificativamente menos importante para
da alternativa. Também foram conside- os docentes da Novafapi em relação aos
radas frequências percentuais ajustadas pontos) em relação aos docentes da
UEPB (0,9+0,9 pontos). docentes da UEPB (p = 0,031).
para cada pontuação possível em cada
alternativa. Dados expressos em mé- Na questão QUAIS OUTRAS IN-
dias e desvios-padrão foram compara- FORMAÇÕES VOCÊ PROCURA EIXO 2. A(S) PRIMEIRA(S)
dos com a aplicação do Teste t de Stu- CONHECER DO CIRURGIÃO DEN- CONSULTA(S)
dent (para duas amostras) ou da Análise TISTA INICIALMENTE SELECIONA- Na questão O QUE VOCÊ CON-
de Variância – Anova (para três ou mais DO? (alternativas 6 a 17), as pontuações SIDERA NAS INSTALAÇÕES DE
amostras). Dados expressos em frequ- médias revelaram: grande importância TRABALHO NA PRIMEIRA VISITA
ências foram comparados com a aplica- das alternativas “se frequenta cursos de AO CIRURGIÃO-DENTISTA ES-
ção da Prova do Qui-quadrado. Foram atualização” (2,6 + 0,7 pontos), “se está COLHIDO? (alternativas 18 a 27) as
aplicadas as fórmulas para cálculo do habilitado para o exercício da profissão” pontuações médias revelaram grande
Coeficiente de Correlação de Spear- (2,6 + 0,9 pontos), “se está regular- importância das alternativas “se o lo-

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cal é limpo” (2,9 + 0,3 pontos), “se o blica (0,6 + 1,0 pontos) foram signifi- “exame apenas da queixa que o levou
profissional tem postura simpática e cativamente menores (p = 0,048) do a procurá-lo” (0,8 + 1,0 pontos). A
acolhedora” (2,8 + 0,4 pontos), “se o que as dos docentes com prática clínica comparação das frequências de concor-
local é arejado e claro” (2,6 + 0,8 pon- mista (1,2 + 0,9 pontos). Na alterna- dância nas pontuações atribuídas a cada
tos), “se os pacientes são atendidos na tiva “se os atendentes são cordiais”, as alternativa (Tabela 3) ratificou esses
hora marcada” (2,4 + 0,4 pontos) e “se pontuações atribuídas pelos docentes achados. Na alternativa “exame bucal
os atendentes são cordiais” (2,3 + 0,9 que não clinicavam (2,0 + 1,0 pontos) completo (preventivo)”, as pontuações
pontos); importância relativa das al- foram significativamente menores (p = médias foram significativamente maio-
ternativas “a decoração do consultório” 0,034) do que as pontuações atribuídas res (p = 0,003) para os docentes do
(1,3 + 0,9 pontos), “se há muita gente pelos docentes com prática clínica pri- gênero feminino (3,0 + 0,1 pontos)
na sala de espera” (1,3 + 1,1 pontos) vada (2,2 + 0,9 pontos). em comparação aos do masculino (2,8
e “se o profissional trabalha de roupa Com relação à IES em que lecio- + 0,4 pontos). Na alternativa “anam-
branca” (1,2 + 1,2 pontos); e pouca navam, a alternativa “se há mais pro- nese completa para conhecer sua saúde
importância da alternativa “se há mais fissionais da área no mesmo local” se geral”, as pontuações atribuídas pelos
profissionais da área no mesmo local” mostrou significativamente menos docentes da Novafapi (2,6 + 0,9 pon-
(0,9 + 0,9 pontos), e “se há diplomas importante para os docentes da UFPE tos) foram significativamente menores
pendurados nas paredes” (0,3 + 0,6 (0,2 + 0,6 pontos) em relação aos do- (p = 0,028) do que as pontuações atri-
pontos). A comparação das frequên- centes da UEPB (1,3 + 0,9 pontos; buídas pelos docentes da UFPE (3,0 +
cias de concordância nas pontuações p = 0,000) e da Novafapi (1,1 + 0,9 0,0 pontos).
atribuídas a cada alternativa (Tabela 3) pontos; p = 0,000), enquanto a alter- Na questão O QUE VOCÊ ESPERA
ratificou esses achados, exceção feita à nativa “se há diplomas pendurados nas DO CIRURGIÃO-DENTISTA APÓS
alternativa “se há muita gente na sala de paredes” se mostrou significativamente O EXAME INICIAL? (alternativas 33
espera”, cuja distribuição dos percen- menos importante (p = 0,044) para os a 39), as pontuações médias revela-
tuais de concordância se mostrou ho- docentes da UFPE (0,2 + 0,4 pontos) ram grande importância das alternati-
mogênea (p = 0,084), ou seja, trata-se em relação aos docentes da UEPB (0,5 vas “indique o diagnóstico” (2,8 + 0,5
de alternativa cuja importância dividiu + 0,7 pontos). pontos), “detalhe o tratamento a ser
opiniões, sendo que 35% dos docentes Na alternativa “se o profissional tra- realizado” (2,8 + 0,5 pontos), “indique
atribuíram pouca importância a essa balha com roupa branca” (importância o prognóstico” (2,7 + 0,6 pontos), “ex-
alternativa. Na alternativa “se há mais relativa de modo geral), foi estabelecida plique detalhadamente a necessidade de
profissionais no mesmo local”, as pon- correlação positiva significativa das pon- exames complementares” (2,7 + 0,7
tuações médias foram significativamen- tuações com a idade (r = 0,21) e, prin- pontos), “forneça orçamento comple-
te maiores (p = 0,037) nos docentes do cipalmente, com o tempo de docência to pelo trabalho a ser realizado” (2,5 +
gênero feminino (1,1 + 1,0 pontos) em (r = 0,42), ou seja, quanto maior a ida- 0,8 pontos) e “apresente contrato de-
relação aos do gênero masculino (0,7 + de e o tempo de docência, maiores as talhado da prestação de serviços” (2,1
0,8 pontos). pontuações atribuídas a essa alternativa. + 1,0 pontos). Importância relativa foi
Com relação ao tipo de prática clínica Na questão O QUE VOCÊ ESPERA atribuída à alternativa “comece a tratá-
dos docentes, observou-se que na alter- DO CIRURGIÃO-DENTISTA NA -lo imediatamente” (1,6 + 1,0 pontos).
nativa “a decoração do consultório” as PRIMEIRA CONSULTA? (alternativas A nenhuma alternativa dessa questão foi
pontuações atribuídas pelos docentes 28 a 32) as pontuações médias revela- atribuída pouca importância. A compa-
que não clinicavam (0,7 + 0,6 pontos) ram grande importância das alternati- ração das frequências de concordância
foram significativamente menores do vas “exame bucal completo (preventi- nas pontuações atribuídas a cada alter-
que as pontuações atribuídas pelos do- vo)” (2,9 + 0,3 pontos) e “anamnese nativa (Tabela 3) ratificou esses acha-
centes com prática clínica privada (1,3 completa para conhecer a saúde geral” dos, à exceção da alternativa “comece a
+ 0,9 pontos; p = 0,017), pública (1,3 (2,8 + 0,6 pontos); importância rela- tratá-lo imediatamente”, cuja distribui-
+ 1,2 pontos; p = 0,012) e mista (1,5 tiva das alternativas “resolução breve da ção dos percentuais de concordância se
+ 0,8 pontos; p = 0,01). Na alternati- queixa que o levou a procurá-lo” (1,9 mostrou homogênea (p = 0,228), ou
va “se há mais profissionais da área no + 0,9 pontos) e “que converse também seja, trata-se de alternativa cuja impor-
mesmo local” as pontuações atribuídas sobre outros assuntos” (1,4 + 1,0 pon- tância dividiu opiniões. Na alternativa
pelos docentes com prática clínica pú- tos); pouca importância da alternativa “explique detalhadamente a necessidade

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de exames complementares”, as pontu- revelaram grande importância para as em ficha clínica”, cuja distribuição das
ações médias foram significativamente alternativas “confia no valor que o pro- pontuações se mostrou homogênea (p
maiores (p = 0,032) para os docentes fissional atribui ao próprio trabalho” e = 0,228), ou seja, trata-se de alternati-
do gênero feminino (2,8 + 0,4 pontos) “procura conhecer valores-referência va que dividiu opiniões.
do que para os do masculino (2,5 + 0,8 para procedimentos odontológicos”. Na questão NO CASO DE O CI-
pontos). Na alternativa “indique o prog- Importância relativa foi atribuída à al- RURGIÃO-DENTISTA ENCAMI-
nóstico”, as pontuações atribuídas pelos ternativa “pede desconto de modo a NHÁ-LO A ESPECIALISTA, O QUE
docentes com prática clínica pública checar se os valores são altos”. A compa- VOCÊ CONSIDERA NA INDICA-
(2,4 + 0,9 pontos) foram significativa- ração das frequências de concordância ÇÃO? (alternativas 55 a 58) as pontu-
mente menores (p = 0,044) do que as nas pontuações atribuídas a cada alter- ações médias revelaram grande impor-
pontuações atribuídas pelos docentes nativa (Tabela 3) ratificou esses achados, tância para as alternativas “os motivos e
sem prática clínica (2,9 + 0,3 pontos). à exceção da alternativa “pede desconto a necessidade da indicação”, “se haverá
Na questão O QUE VOCÊ CON- de modo a checar se os valores são al- comunicação efetiva entre o cirurgião
SIDERA PARA VOLTAR À(S) tos”, cuja distribuição das pontuações se dentista e o especialista” e “se o pro-
CONSULTA(S) SEGUINTE(S)? (alter- mostrou homogênea (p = 0,168), ou fissional indicado possui inscrição da
nativas 40 a 47), as pontuações médias seja, trata-se de alternativa que dividiu especialidade no CRO”. Importância
revelaram grande importância para opiniões. Na alternativa “confia no va- relativa foi atribuída à alternativa “se
todas as alternativas, pontuadas na se- lor que o profissional atribui ao próprio o especialista atua no mesmo local”. A
guinte ordem: “a competência demons- trabalho” as pontuações médias foram comparação das frequências de concor-
trada pelo profissional”, “as instalações significativamente maiores no grupo dância nas pontuações atribuídas a cada
de trabalho (higiene e limpeza)”, “o uso de docentes com prática clínica privada alternativa (Tabela 4) ratificou esses
de máscara e luvas pelo profissional”, em relação àqueles com prática clínica achados, à exceção da alternativa “se o
“o tipo de exame realizado”, “a simpa- pública (p = 0,025) e sem prática clí- especialista atua no mesmo local”, cuja
tia com que o profissional lhe atendeu”, nica (p = 0,010). Na alternativa “pede distribuição das pontuações se mostrou
“a modernidade dos equipamentos”, “a desconto de modo a checar se os valo- homogênea (p = 0,063), ou seja, trata-
forma como orçamento foi apresenta- res são altos” as pontuações médias atri- -se de alternativa que dividiu opiniões.
do” e “as condições de pagamento pro- buídas pelos docentes da UEPB foram Na alternativa “se haverá comunicação
postas”. A comparação das frequências significativamente maiores (p = 0,009) efetiva entre o cirurgião dentista e o es-
de concordância nas pontuações atribu- do que as pontuações atribuídas pelos pecialista” as pontuações médias foram
ídas a cada alternativa (Tabela 3) ratifi- docentes da UFPE. significativamente maiores no grupo de
cou todos esses achados. Com relação docentes da UEPB em relação àqueles
ao tipo de prática clínica, as pontuações EIXO 3. O TRATAMENTO da UFPE (p = 0,014).
atribuídas à alternativa “a simpatia com Na questão O QUE VOCÊ ESPERA Na questão QUAIS AS RESTRI-
que o profissional lhe atendeu” foram DO CIRURGIÃO-DENTISTA AO ÇÕES A SEREM OBSERVADAS AO
significativamente maiores no grupo de LONGO DO TRATAMENTO? (alter- LONGO DO TRATAMENTO? (alter-
docentes que não clinicavam em rela- nativas 51 a 54) as pontuações médias nativas 59 a 68) as pontuações médias
ção àqueles com prática clínica pública revelaram grande importância para revelaram grande importância para to-
(p = 0,019) e mista (p = 0,028). Os as alternativas “que cada procedimen- das as alternativas na seguinte ordem
docentes sem prática clínica também to seja explicado e esclarecido”, “que de pontuação: “consultas desmarcadas
atribuíram pontuações significativa- mantenha o seu prontuário odontológi- frequentemente por outros compro-
mente maiores do que os profissionais co completo” e “que disponibilize o seu missos”, “recusa a atendimentos de
com prática clínica mista (p = 0,031) prontuário odontológico”. Importância urgência”, “prescrições medicamento-
no que se refere à alternativa “as insta- relativa foi atribuída à alternativa “que sas excessivas ou pouco claras”, “falta
lações de trabalho (higiene e limpeza)”. mostre os registros realizados em ficha de instruções preventivas”, “indicação
Na questão COMO VOCÊ AVALIA clínica”. A comparação das frequências de procedimentos não comprovados
SE O ORÇAMENTO APRESENTA- de concordância nas pontuações atribu- cientificamente”, “críticas constantes
DO É JUSTO E COMPATÍVEL COM ídas a cada alternativa (Tabela 4) ratifi- do cirurgião-dentista a colegas de pro-
A PROPOSTA TERAPÊUTICA? (alter- cou esses achados, à exceção da alterna- fissão”, “recusa em mostrar os registros
nativas 48 a 50) as pontuações médias tiva “que mostre os registros realizados em ficha clínica”, “realização de proce-

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 71

dimentos não previstos e detalhados”, DISCUSSÃO o aumento de carga horária à ela des-
“cobrança de honorários não previstos A odontologia brasileira reúne nú- tinada e alteração da fase do curso em
ou discutidos anteriormente” e “exces- meros extremamente altos: são mais de que ela é ministrada3. E essa parece ser
so de pedidos de exames complemen- 217 mil cirurgiões-dentistas, especia- uma questão mundial, já que estudo re-
tares”. A comparação das frequências listas ou não, em proporção de um pro- cente publicado na Holanda evidenciou
de concordância nas pontuações atri- fissional para cada 800 habitantes, ou que os conhecimentos sobre ética di-
buídas a cada alternativa (Tabela 4) ra- seja, o dobro do máximo recomendado minuem consideravelmente do primei-
tificou todos esses achados. Nas alter- pela OMS para um mercado com pro- ro ao quinto ano da faculdade e, pior,
nativas “realização de procedimentos fissionais bem formados em número que é grande o número de estudantes
não previstos e detalhados”, “recusa a suficiente para manter a saúde bucal de inconsistentes com o que retêm desse
mostrar os registros em ficha clínica”, uma população2. Some-se a isso que, aprendizado, ou seja, a forma como
“excesso de pedidos de exames com- em média, são colocados no mercado planejam seu exercício profissional é
plementares” e “falta de instruções pre- mais de 15 mil novos cirurgiões-den- incompatível com o que declaram co-
ventivas” as pontuações atribuídas pelos tistas pelos 188 cursos superiores nhecer sobre condutas éticas6.
docentes do gênero feminino foram existentes no país1. Nesse contin- Finkler8 observou em amplo estudo
significativamente maiores em relação gente, ainda se computam quase 90 que o comprometimento dos cursos de
aos docentes do gênero masculino. As mil profissionais entre técnicos em Odontologia com a dimensão ética de
pontuações atribuídas às alternativas prótese dentária, técnicos em higiene seus estudantes é pontual, ou seja, que
dessa questão foram sempre maiores dental, auxiliares de consultório den- existem ações que ocorrem em favor
no grupo de docentes que não clini- tário e auxiliares de prótese dentária, do desenvolvimento moral dos alunos,
cavam. Nas alternativas “cobrança de sem contar o número estimado de 27 mas “são ações isoladas e limitadas, al-
honorários não previstos ou discutidos mil dentistas práticos em exercício gumas intencionais, outras não cons-
anteriormente” (p = 0,026), “realiza- não habilitados na profissão4. cientes, apenas baseadas no bom senso
ção de procedimentos não previstos Esse panorama exige que algumas dos docentes, e quase sempre derivadas
e detalhados” (p = 0,049), “recusa a questões sejam suscitadas, especial- da compreensão e do comportamento
mostrar os registros em ficha clínica” (p mente se considerarmos o aumento de apenas alguns deles, e não de uma
= 0,026), “consultas desmarcadas fre- progressivo em todo o mundo de re- ação coletiva planejada”.
quentemente por outros compromissos clamações e ações judiciais ou extra- Considerando, então, que a pesquisa
do profissional” (p = 0,032) e “recusa a judiciais promovidas basicamente por só se efetiva quando seus resultados se
atendimentos de urgência” (p = 0,045), condutas ilegais e antiéticas de CDs6, aproximam beneficamente da popu-
docentes sem prática clínica atribuíram o que provavelmente decorre da falta lação, propusemo-nos a conhecer os
pontuações significativamente maiores de critérios do usuário da odontologia critérios utilizados por docentes de
do que os docentes com prática clíni- para a escolha do profissional que aten- três cursos de Odontologia na escolha
ca mista. Nas alternativas “cobrança de da suas necessidades e seus interesses. de seu próprio CD. Ninguém melhor
honorários não previstos ou discutidos O esclarecimento e a disseminação do que os docentes da matéria pode-
anteriormente” (p = 0,043) e “recu- desses critérios são fundamentais tanto ria permitir a identificação de critérios
sa a atendimentos de urgência” (p = para a população quanto, também, para para a escolha de um CD com conheci-
0,019), docentes sem prática clínica o próprio profissional, que passa a pau- mentos tanto técnicos quanto éticos se-
atribuíram pontuações significativa- tar a sua atuação também em condutas guros. Baseamos as temáticas desenvol-
mente maiores do que os docentes com que favoreçam a sua relação com o pa- vidas nesta investigação sobre normas
prática clínica privada. Quanto à IES ciente bem como a solidificação de sua de boa conduta prescritas no Código de
em que os docentes lecionavam, a única posição no mercado em que atua. Ética Odontológica7, especificamente
diferença entre opiniões foi observada A preocupação com o ensino da ética sobre aquelas previstas no Capítulo III
na alternativa “cobrança de honorários nos cursos de Odontologia já vem de (Dos deveres fundamentais), no Capí-
não previstos ou discutidos anterior- alguns anos. Em estudo conduzido em tulo V, Seção I (Do relacionamento com
mente”, para o qual as pontuações atri- faculdades públicas e privadas do estado o pacientes), no Capítulo VII (Dos ho-
buídas pelos docentes da UFPE foram de São Paulo, foi observada a necessi- norários profissionais), do Capítulo VIII
significativamente maiores em relação dade de mudanças cabais na forma de (Das especialidades) e do Capítulo IX,
aos docentes da UFPE (p = 0,043). ministração dessa matéria, incluindo Seção I (Da comunicação / Do anúncio,

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72 Anuário de Artigos Científicos 2014

da propaganda e da publicidade). mídias eletrônicas (rádio, televisão e docentes da UFPE, as pontuações para
Com relação à busca inicial pelo ci- internet) foram mais repudiadas do que essa categoria foram as mais baixas, in-
rurgião dentista, independentemente as mídias impressas (jornais e revistas). clusive significativamente mais baixas
de gênero e idade, do tipo de prática O marketing tem grande relevância do que as pontuações atribuídas pelos
clínica que exercem, da faculdade em na competitividade da classe odonto- docentes da UEPB. O primeiro ponto
que lecionam e do tempo de profissão, lógica, mas muitas vezes o uso inade- a destacar em relação a esse achado é
docentes de Odontologia escolhem quado desses meios de divulgação por que, embora 34,5% os docentes da
seus próprios CDs a partir de indi- CDs gera preocupações. Embora bem UFPE possuam apenas prática acadêmi-
cações de seus colegas de profissão e, estabelecidas as regras éticas para anún- ca e não cliniquem, essa diferença não
eventualmente, pela indicação de ou- cios, propaganda e publicidade nos art. foi observada na comparação das pon-
tros pacientes, e nem consideram a 32 a 36 e parágrafos do Código de Ética tuações entre os tipos de prática clínica,
hipótese de essa escolha se basear em Odontológica7, dentre usos inadequa- o que leva a crer que pontuações mais
placas de consultório, em anúncios em dos desse tipo de divulgação, tanto por baixas foram atribuídas exatamente pe-
diferentes mídias e, mesmo, em consul- profissionais autônomos quanto pelas los que clinicam.
tas ao guia de convênio. clínicas odontológicas, se destacam o Tendo em vista o aumento gradual
Segundo Farran9, a escolha de um anúncio de formas de comercialização e constante do número de convênios
dentista, sobretudo em cidades meno- (como preços, gratuidades e modali- odontológicos, até para a absorção do
res, é uma decisão baseada em emoção, dades de pagamento) que representem contingente de novos dentistas que são
e o profissional envolvido com a sua co- competição desleal; divulgação men- colocados no mercado a cada ano, e
munidade e que interage com as pesso- tirosa de títulos, qualificações e espe- considerando que a inclusão da odonto-
as de forma educada e simpática certa- cialidades; anúncios em que constem logia nos programas públicos mais am-
mente terá a sua firmação no mercado técnicas, terapias, áreas de atuação, plos de saúde é fenômeno relativamente
de trabalho, já que, historicamente, o instalações e equipamentos sem com- recente, a pouca importância atribuída à
ser humano é fortemente influenciado provação científica de seus benefícios consulta aos guias de convênios parece
por recomendações pessoais. Em cida- ou sem registros legais; divulgação de refletir uma cultura na área da odonto-
des maiores, já está bem documentado serviços prestados em veículos de co- logia que merece ser repensada.
na literatura que a indicação de familia- municação de massa, hoje se inserindo Conforme Vilar14, “um dos grandes
res, de amigos, de outros profissionais e nessa categoria consultas, diagnósticos obstáculos para o crescimento da odon-
de outros pacientes é fator determinan- e prescrições feitos pela internet; e a tologia de grupo é ampliar e fidelizar
te na escolha inicial de um CD10,12. Em divulgação de trabalho gratuito com in- sua rede credenciada e, ao mesmo tem-
cidades muito grandes, porém, anún- tuito de autopromoção ou decorrente po, aumentar a qualidade dos atendi-
cios, malas diretas e guias profissionais de atuação político-partidária. mentos prestados aos beneficiários”.
(como as antigas páginas amarelas, ago- Em ampla revisão realizada por Para- Esse autor realizou ampla pesquisa de
ra substituídas pelos guias de convênio) nhos et al..13, ficou clara a concordância opinião junto a dentistas credenciados
são meios considerados eficientes pela da maioria dos autores de que o marke- e não credenciados para identificar os
população no momento de buscar um ting interno (ou seja, aquele que decor- principais pontos de tensão no rela-
CD10, provavelmente porque muitas re de práticas e ações habituais dentro cionamento entre operadoras, profis-
pessoas que habitam grandes metró- das instalações de trabalho do profissio- sionais e clientes, e observou-se que
poles se encontram fora de sua cidade nal) é o meio mais eficiente e de mais cerca de 90% dos CDs se declararam
natal, longe de familiares e de amigos. baixo custo para a divulgação bem su- insatisfeitos com a parceria com os pla-
Por outro lado, estudo em que foram cedida dos profissionais da odontologia, nos e que, dentre os diversos motivos
entrevistados pacientes de oito clíni- porque, fechando o círculo virtuoso da de insatisfação, os principais foram os
cas ortodônticas diferentes situadas na busca de um CD, é o que vai gerar boas baixos honorários e os longos prazos
Virginia, EUA, 24% deles associaram e constantes indicações. para o pagamento. Nesse estudo, que
esses meios de divulgação com baixa Docentes de odontologia coloca- vale a pena ser lido, são demonstradas
qualidade dos serviços prestados, e esse ram categoricamente a consulta feita estratégias que fomentam o interesse
reflexo negativo de marketing midiáti- aos guias de convênios na busca de um por parte dos CDs em se credenciarem
co foi maior no grupo de pacientes com CD na mesma categoria dos meios de e permanecerem integrantes da rede
renda e nível de instrução maiores. As marketing. Fato curioso é que, para os das operadoras, fornecendo um serviço

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de excelência aos beneficiários, e levan- no que concerne à faculdade de gradua- consulta e o valor desses honorários.
tando aspectos a serem profundamente ção e possível grau acadêmico (alterna- Sabendo-se que cerca de 60% dos CDs
refletidos no que concerne à mudança tivas que receberam pontuações signifi- brasileiros atuam em clínica privada1,
dessa cultura, sobretudo considerando cativamente inferiores dos docentes da fica mais fácil compreender a pouca im-
a enorme população que necessita desse UFPE, justamente onde cerca de 35% portância atribuída a essa informação, o
tipo de atendimento, uma vez que não deles eram só acadêmicos) e à parti- que deve de fato decorrer de uma cul-
pode pagar pelos serviços odontológi- cipação do CD em investigações cien- tura em que há a elitização dos serviços
cos, mas tampouco podem ou querem tíficas (alternativa significativamente odontológicos. Esse enredo cultural,
ser inseridos em programas públicos de menos importante para os docentes da inclusive, não é prerrogativa nacional,
atenção à saúde bucal. Novafapi, que é uma instituição parti- mas parece ser um fenômeno interna-
Independentemente de gênero e ida- cular relativamente nova em relação às cional. Em estudo publicado na Finlân-
de, do tipo de prática clínica que exer- outras, onde a “cultura científica” ainda dia em 201016, constatou-se que 60%
cem, da faculdade em que lecionam está em desenvolvimento). dos adultos com média de idade de 35
e do tempo de profissão, docentes de De fato, a despeito da qualidade in- anos optam pela prática odontológica
odontologia buscam conhecer outras ferior de alguns cursos superiores de privada, mesmo que tenham direitos
informações que julgam muito impor- Odontologia, entendemos que o CD previdenciários aos serviços odontoló-
tantes acerca do CD indicado antes devidamente habilitado e registrado gicos públicos que, naquele país, são de
de finalizar a sua escolha. Em ordem para o exercício de sua profissão pode excelente qualidade. Os autores desse
de importância, essas informações in- ser um clínico de excelência, indepen- estudo elencaram como motivos para
cluem a habilitação do CD para o exer- dentemente de atuação acadêmica e de essa opção aspectos interpessoais (re-
cício profissional, a regularidade de produção científica, desde que atenda lação profissional – paciente), aspec-
sua inscrição no CRO e o tempo de sua aos termos do item IV do art. 5º do Có- tos técnicos (métodos e equipamentos
atuação clínica. Nenhuma importância digo de Ética Odontológica, segundo os mais modernos nas clínicas privadas) e
foi atribuída por esses docentes ao va- quais é dever fundamental do CD que aspectos de acesso (ou seja, prioriza-se
lor dos honorários cobrados pelo pro- mantenha atualizados os conhecimen- que o local de atendimento seja o mais
fissional na primeira consulta. Também tos profissionais, técnico-científicos e próximo possível da residência).
foi unânime a posição desses docentes culturais necessários ao pleno desem- Em suma, na opinião de docentes de
em atribuir importância relativa a in- penho do exercício profissional. Some- Odontologia, a escolha de um novo CD
formações sobre eventual participação -se a isso que a carga horária de cursos deve se pautar na indicação feita pre-
do CD em vida acadêmica e em pes- de atualização frequentados pelo CD ferencialmente por um profissional da
quisas científicas e, consequentemente, se mostrou, recentemente, excelente mesma área ou, secundariamente, por
sobre o seu grau acadêmico (mestre, indicador de atendimento de qualidade outros pacientes, devendo-se conhecer,
doutor ou docente livre), e sobre os nos serviços públicos de odontologia15. obrigatoriamente, se o profissional está
honorários cobrados na primeira con- Nesse sentido, sem dúvida o tempo de habilitado para o exercício da profissão,
sulta. Neste grupo de informações re- atuação clínica sempre adiciona pontos se está devidamente registrado no con-
lativamente importantes sobre o CD a na escolha de um novo CD. selho de Odontologia de sua região e o
ser escolhido, também foram incluídas Por outro lado, o mesmo código de- tempo de sua atuação clínica.
informações sobre a faculdade de gra- termina infrações éticas pertinentes a Depois da escolha de um novo CD,
duação e o fato de o CD ser autor de pesquisas científicas em seres humanos algumas condições e situações na(s)
livros ou artigos científicos, só que fo- (Item VI, Capítulo XV). Em nosso ver, primeira(s) consulta(s) serão determi-
ram alternativas cujas pontuações não o paciente deveria, sim, ter informa- nantes para que o paciente ratifique a
foram concordantes, ou seja, 37% e ções sobre práticas científicas do CD sua escolha. Desse modo, independen-
47% dos docentes atribuíram, respec- indicado, de modo que possa estar temente de gênero e idade, do tipo de
tivamente, a essas questões de nenhu- atento à adequação de condutas poste- prática clínica que exercem, da facul-
ma a pouca importância. riores do profissional. dade em que lecionam e do tempo de
De acordo com a instituição de en- Dado que surpreendeu foi a pouca profissão, docentes de Odontologia
sino em que lecionavam, houve diver- importância atribuída pelos docentes atribuíram grande importância para
gências significativas sobre as informa- a conhecer antecipadamente eventu- a limpeza, claridade e arejamento do
ções adicionais de importância relativa al cobrança de honorários na primeira local, para a postura simpática e aco-

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lhedora, para o atendimento na hora cialmente pelos médicos e, depois, tam- serem trocadas informações entre os
agendada (sem atrasos) e para a cordia- bém por outros profissionais da saúde, profissionais com mais probabilidade.
lidade dos atendentes. Ressalte-se, que, incluindo os dentistas, seja um costume Quanto aos diplomas nas paredes, são
embora importante, a cordialidade dos hoje associado com limpeza e higiene esses diplomas que confirmarão para
atendentes foi alternativa que recebeu que vem desde a antiga Grécia, as ne- o paciente a habilitação do profissional
pontuação significativamente menor cessidades e a correria da vida moderna para o exercício clínico, item ao qual
pelos docentes sem atuação clínica, o vêm, pouco a pouco, derrubando essa foi atribuída muita importância pelos
que é de certa forma compreensível, já tradição. O fato é que, docentes mais próprios docentes quando se discutia a
que, como não atuam em clínica priva- velhos, com mais tempo de docência, busca inicial de um novo CD.
da, dificilmente agregariam à cordiali- já se encontram em fase mais tranquila Quanto ao que se espera do CD na
dade dos atendentes o valor de marke- da vida, e se permitem a preservar esse primeira consulta, os docentes foram
ting interno que essa alternativa tem13. antigo costume, enquanto os mais jo- unânimes ao atribuir grande importân-
Foi atribuída importância relativa à vens vão se distanciando dessa tradição cia para o exame bucal completo de or-
decoração do consultório, à quantidade por questões fundamentalmente prag- dem preventiva e à anamnese completa
de pessoas em sala de espera, e ao uso máticas da vida moderna. Ainda assim, para conhecimento da saúde geral do
de roupa branca pelo CD. Novamente, cerca de 80% dos usuários de serviços paciente. Ressalte-se que as pontuações
profissionais que não clinicavam atri- odontológicos privados consideram para exame bucal completo foram sig-
buíram importância significativamente importante ou muito importante o uso nificativamente maiores entre os do-
menor para a decoração do consul- do branco pelos CDs17. centes do gênero feminino. Docentes
tório. No que concerne à quantidade Ainda com relação às características da Novafapi, por sua vez, atribuíram
de pessoas em sala de espera, embora das instalações de trabalho a serem ob- pontuações significativamente menores
considerada relativamente importante servadas na(s) primeira(s) consulta(s), à anamnese completa.
de modo geral, houve divergências na os docentes entrevistados atribuíram Independentemente de gênero e ida-
pontuação dessa alternativa, sendo que pouca importância tanto ao fato de de, do tipo de prática clínica que exer-
35% dos docentes não lhe atribuíram haver mais profissionais da área traba- cem, da faculdade em que lecionam e
qualquer importância. Por fim, as pon- lhando no mesmo local, quanto ao fato do tempo de profissão, os docentes en-
tuações ao uso de roupa branca pelo de haver diplomas pendurados nas pa- trevistados consideraram relativamente
CD foram significativamente correla- redes. Mesmo com pouca importância, importantes a resolução breve da quei-
cionadas com a idade do docente e com a presença de mais profissionais da área xa inicial e que o CD converse também
o tempo de docência, ou seja, quanto no mesmo local foi significativamente sobre outros assuntos. Da mesma for-
mais velhos os docentes e quanto mais mais importante para os docentes do ma, pouca importância foi atribuída ao
longo o tempo de docência, maior a gênero feminino e para os docentes exame apenas da queixa que leva o pa-
importância atribuída a esse item. com prática clínica mista, e significa- ciente a procurar pelo CD.
Como os docentes desta pesquisa, a tivamente menos importante para os Embora os docentes tenham atribuí-
maioria dos usuários de serviços odon- docentes da UFPE que, por sua vez, do pouca importância ao fato de o CD
tológicos entrevistados em estudo re- também atribuíram pontuações signi- conversar sobre outros assuntos duran-
alizado por Garbin et al.17 considerou ficativamente menores para diplomas te a(s) primeira(s) consulta(s), estudos
importante os aspectos ambientais do pendurados nas paredes. Merece re- realizados diretamente com usuários
consultório, incluindo a decoração, flexão essa pouca importância atribuí- dos serviços odontológicos16,17 eviden-
a limpeza e higiene, o arejamento, e da por docentes a ambas as condições. ciaram que a capacidade de comunica-
também a facilidade de acesso e de es- Para o usuário de odontologia privada, ção e diálogo é uma característica inter-
tacionamento. Todavia, mais importan- com certeza13,16,17, e talvez principal- pessoal considerada muito importante,
tes do que esses aspectos foram as ca- mente para os usuários dos serviços e mesmo mais importante do que as ca-
racterísticas gerencias do consultório, públicos, um local em que mais profis- racterísticas físicas do profissional, para
que incluem agendamento, atendimen- sionais atuam na mesma área permite mais de 50% deles.
to agendado sem atrasos e a presença que os pacientes possam observar ou- Os docentes concordaram significati-
de pessoal auxiliar com boas qualida- tras condutas, e, se forem pacientes de vamente em que, após o exame inicial,
des interpessoais. especialidades distintas, garante ao pa- é muito importante que o CD indique
Embora o uso da roupa branca, ini- ciente a facilidade de, se for o seu caso, o diagnóstico, detalhe o tratamento a

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ser realizado, indique o prognóstico, presentação subjetiva feita pelo docente essas características prevalecem na opi-
explique detalhadamente a necessidade ao pontuar essa alternativa; se ele repre- nião dos usuários dos serviços odonto-
de exames complementares, apresente sentou mentalmente um atendimento lógicos, associadas com a competência,
orçamento completo e contrato deta- inicial de urgência, faz sentido que a humanidade, presteza, pontualidade, o
lhado dos serviços a serem prestados. conduta seja de extrema importância; grau de atualização de conhecimentos
Novamente, docentes do gênero femi- por outro lado, se a queixa inicial per- técnicos e a organização do ambiente
nino atribuíram importância significati- mite planejar um tratamento eletivo, de trabalho10, 11, 17.
vamente maior ao detalhamento da ne- essa conduta perde a sua razão de ser. Embora a forma como o orçamento
cessidade de exames complementares. Ao serem analisadas as alternativas foi apresentado e as condições de paga-
A indicação do prognóstico, por sua vez, que levam o paciente a voltar para a(s) mento tenham sido consideradas muito
foi significativamente mais importante consultas(s) seguinte(s), todas foram importantes pelos docentes, foram as
para os docentes sem prática clínica em consideradas de grande importância, alternativas menos pontuadas. A gradu-
relação aos docentes com prática clínica na seguinte sequência: a competência al expansão dos serviços odontológicos
na rede pública. Certamente, docentes demonstrada pelo profissional, as insta- públicos com bons indicadores de qua-
sem prática pública emitem suas opi- lações de trabalho (higiene e limpeza), lidade15 e das ações que aprimorem
niões mais calcados em condutas éticas o uso de máscara e luvas pelo profissio- os serviços prestados pelos convênios
do que propriamente em condições nal, o tipo de exame inicial realizado, odontológicos14 parece justificar essas
de trabalho clínico. O Código de Ética a simpatia com que o profissional lhe pontuações mais baixas atribuídas por
Odontológica2 reza que constituem in- atendeu, a modernidade dos equipa- docentes de Odontologia. Todavia, o
fração ética tanto o exagero em diagnós- mentos, a forma como o orçamento foi maior contingente de serviços odonto-
tico, prognóstico e terapêutica quanto apresentado e as condições de pagamen- lógicos ainda é prestado na rede priva-
o início de qualquer procedimento ou to. Ressalte-se que docentes sem prática da, e indivíduos com média de idade de
tratamento sem o consentimento pré- clínica atribuíram pontuações significa- 35 anos ainda declaram escolher pro-
vio do paciente ou de seu responsável, tivamente maiores à simpatia do profis- fissionais que, depois de características
ressalvados os casos de urgência ou sional e às instalações de trabalho. pessoais satisfatórias, apresentem ho-
emergência (Capítulo V, Seção I, itens Já em meados da década de 1980, a norários menores ou bastante razoáveis
III e XII). Nessa perspectiva, torna-se alta rotatividade de pacientes nos con- pelos seus serviços16.
óbvia a grande importância da indicação sultórios dentários levaram pesquisado- Nesse sentido, na questão sobre
do prognóstico mais preciso possível, res a se preocupar com os motivos que como avaliam o orçamento apresenta-
de modo que o paciente possa concor- levavam esses pacientes a procurar ou- do, os docentes entrevistados neste es-
dar com o tratamento proposto. Por tro dentista, e esses estudiosos encon- tudo deram maior importância à con-
outro lado, estudo recente evidenciou traram que, segundo os próprios den- fiança que se deve ter no valor que o
que, por um lado, os serviços públicos tistas (e não os pacientes), a insatisfação profissional atribui ao próprio trabalho,
de odontologia têm mostrado resulta- com a maneira como foram tratados e e essa alternativa, por óbvio, recebeu
dos benéficos no que tange a condutas com a qualidade dos cuidados presta- pontuações significativamente maiores
preventivas, mas, por outro, que está dos inicialmente foi a principal causa pelos docentes que exercem prática
havendo excesso de condutas terapêu- da mudança19. Outro estudo posterior, clínica privada. Com certeza, a relação
ticas desnecessárias (como obturações agora conduzido com pacientes de clí- de confiança é fundamental no esta-
e extrações)18 e, consequentemente, nicas privadas, revelou que os fatores belecimento da relação profissional-
prognósticos adulterados em relação ao que influenciavam a permanência do -paciente17. Mas vale lembrar que, ao
diagnóstico correto do paciente. paciente incluíam o acolhimento cuida- fixar honorários profissionais, algumas
De modo geral, o início imediato do doso e atencioso do profissional (90%), normas éticas2 devem ser respeitadas
tratamento foi considerado de impor- a segurança por ele transmitida ao pa- pelo CD, as quais incluem considera-
tância relativa pelos docentes entre- ciente (79%) e a explicação detalhada ções sobre a condição socioeconômica
vistados, mas não houve concordância do tratamento a ser instituído (73%), do paciente e da comunidade em que
significativa para as pontuações atribuí- ou seja, o comportamento e as carac- atua, a reputação do profissional, os
das a essa conduta, sendo que quase um terísticas pessoais do CD foram fatores costumes locais, a complexidade do
quarto dos docentes lhe atribuiu grande determinantes para o retorno e per- caso, o tempo utilizado no atendimen-
importância. É necessário observar a re- manência dos pacientes20. E ainda hoje to, o caráter temporal dos serviços, as

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circunstâncias em que o tratamento é mação inerente à saúde bucal e à saúde deveres fundamentais de cuidado ao
prestado, a cooperação do paciente e o geral do paciente. Esses documentos paciente. Nesse sentido, Beaini et al.25
custo operacional. são obrigatórios para que se dê prova ressaltam que é fundamental que os
Para a fixação de honorários nos ter- de atendimento às exigência éticas da CDs passem a conhecer e se familiari-
mos dos preceitos éticos e legais, Grec profissão. No entanto, em estudo reali- zar com as técnicas digitais disponíveis
e Daruge21 estabeleceram orientações zado por Brito22 ficou evidenciado que que otimizam a produção e atualização
em dez passos distribuídos em quatro a maioria dos 124 CDs de sua amostra constante do prontuário odontológico.
vertentes principais, a saber: (1) como atribuía principalmente importância Com relação às considerações dos
conhecer os custos (fixos e variáveis, clínica a esses prontuários, e que 60% docentes entrevistados sobre o enca-
diretos e indiretos) e calculá-los em deles não distinguiam a ficha clínica do minhamento para um especialista, eles
fórmula predeterminada; (2) como prontuário odontológico. Além disso, atribuíram grande importância para os
avaliar o peso de cada item que com- apenas 13% desses profissionais manti- motivos e necessidades da indicação,
pões a tabela de preços em odontolo- nham contratos devidamente assinados seguidos da garantia de comunicação
gia; (3) como aumentar a margem de pelas partes como parte desse conjunto efetiva entre o CD e o especialista e
ganho real, mesmo mantendo os valo- de documentos. Silva et al.23, por sua do conhecimento da inscrição do pro-
res finais inalteráveis; e (4) como avaliar vez, verificaram que, dentre 400 CDs, fissional indicado na especialidade jun-
os itens que devem ser alterados para se 33,6% declararam que não mantinham to ao conselho da classe de sua região.
chegar a preços predeterminados. os prontuários de seus pacientes atua- A atuação do especialista indicado no
Para os pacientes, procurar conhecer lizados, e que 42,6% produziam ape- mesmo local foi considerada, de modo
valores de referência para procedimentos nas o odontograma, ou seja, a grande geral, de importância relativa, mas não
odontológicos é fundamental para que a maioria dos prontuários era produzida houve concordância significativa nas
relação de confiança possa ser solidificada. inadequadamente, com valor clínico re- pontuações atribuídas a essa alternati-
Houve unanimidade dos docentes en- duzido, e sem qualquer valor de prova va: 25% dos entrevistados assinalarem a
trevistados no que concerne ao que é de de conduta ética adequada. Esse estudo, alternativa com importância nenhuma.
grande importância com relação ao que na verdade, buscava analisar o conheci- Uma vez que o Código de Ética
esperam ao longo do tratamento. Ex- mento dos profissionais acerca da im- Odontológica2 institui como infração
plicações e esclarecimentos sobre cada portância do prontuário odontológico ética a falta de esclarecimentos adequa-
procedimento realizado, a manutenção para fins de identificação humana, e, se- dos sobre os propósitos, riscos, cus-
do prontuário odontológico completo gundo as declarações dos próprios pro- tos e alternativas do tratamento, bem
e a sua disponibilização foram avaliadas fissionais, poucos poderiam contribuir como a realização de procedimentos
como condutas muito importantes. Por para essa finalidade com a documenta- terapêuticos para os quais o CD não
outro lado, de modo geral, os docentes ção que produziam e atualizavam. esteja capacitado, faz sentido que o en-
atribuíram importância relativa ao acesso Vale citar que a falta da correta docu- caminhamento a um especialista seja
do paciente aos registros realizados em mentação odontológica é responsável necessário e fundamentado em motivos
ficha clínica, mas esse posicionamento pelas 41 ações processuais para indeni- amplamente discutidos com o pacien-
não foi significativo, já que 16% dos en- zações materiais e morais movidas con- te. Aliás, esse tipo de encaminhamen-
trevistados assinalaram nenhuma impor- tra CDs e analisadas por Melani et al.24. to tende a ser cada vez mais frequente
tância para este item, enquanto 28% o Nessas ações, as queixas se referiam à em todo o mundo, tendo em vista que
consideraram de muita importância. insatisfação pelos relatórios fornecidos mais de 50% dos novos profissionais
A atualização constante dos prontuá- pelos CDs após questionamento de da área almejam seus títulos de espe-
rios do paciente e a sua disponibilização condutas terapêuticas em 46% dos ca- cialista em alguma das modalidades
ao paciente ou ao seu responsável legal sos, e à atribuição de falhas em diagnós- odontológicas existentes26.
sempre que solicitada estão entre os tico, planejamento e acompanhamento No Brasil, é vedado o uso do título de
deveres fundamentais da conduta ética terapêutico (44%). Segundo os auto- especialista ao profissional que não te-
do profissional2. Deve-se lembrar que o res desse estudo, apenas o prontuário nha esse título devidamente registrado
prontuário odontológico é um conjunto odontológico adequadamente produzi- no Conselho Regional competente e,
de documentos que devem ser produ- do e atualizado pode ser efetivamente com certeza, essa é uma informação de
zidos pelo profissional, nos quais deve usado para defender o profissional des- extrema importância. Deve-se ressaltar
estar registrada toda e qualquer infor- sas alegações e para comprovar os seus que não basta o diploma de especialista

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conferido por instituição competente, alternativas avaliadas são infrações éti- e que não substituíram as recomenda-
geralmente pendurado nas paredes dos cas claramente declaradas no Códi- ções puramente clínicas passadas pelo
consultórios. Esse título deve estar de- go de Ética Odontológica2. Por outro profissional sem a indicação das evidên-
vidamente registrado para que a espe- lado, a restrição a que os docentes atri- cias científicas que as fundamentam. O
cialidade possa ser assim exercida. Já a buíram maior grau de importância foi fato é que a informação verbal ou escrita
comunicação entre CD e especialista é, justamente as consultas desmarcadas sobre diagnósticos, tratamentos e pro-
de fato, recomendável, mas não consta com frequência, e a falta de instruções cedimentos aos pacientes ou aos seus
como conduta ética nas normas nacio- preventivas foi a quarta restrição mais responsáveis, bem como a forma como
nais. Na verdade, essas normas apenas bem pontuada pelos entrevistados. Na
explicá-la de modo compreensível, seja
“permitem” que o especialista confe- quinta posição das restrições a serem
consideradas ao longo do tratamento por simples recomendações clínicas ou
rencie com outros profissionais para por meio de evidências científicas, é um
fins de diagnóstico e tratamento (art. está a indicação de procedimentos não
comprovados cientificamente, infração desafio para a classe odontológica, e a
17, Capítulo VIII).
ética gravíssima na normatização nacio- inadequação dessas informações é a cau-
Finalmente, em relação às restrições nal de boa conduta do CD. sa primeira de demandas judiciais con-
a serem observadas ao longo do trata- tra CDs28, ainda que atuem sob os mais
mento, houve concordância significa- A esse respeito, Gilmore et al.27 de-
senvolveram estudo bastante interes- rigorosos critérios éticos. Essa realidade
tiva na atribuição unânime de grande se torna ainda mais preocupante quan-
importância a todas as alternativas ava- sante no qual analisaram o impacto de
informações puramente clínicas e o de do consideramos usuários dos serviços
liadas pelos docentes de Odontologia.
informações baseadas em evidências odontológicos públicos brasileiros, cujo
O achado curioso foi que, para todas
científicas na decisão dos pacientes pelo conhecimento sobre cuidados de saúde
essas alternativas, as maiores pontua-
tratamento indicado. Esse estudo partiu bucal, cáries, doença gengival e, princi-
ções foram atribuídas pelos docentes
do princípio de que o envolvimento do palmente, sobre a etiologia multifatorial
sem prática clínica, e essas pontuações
paciente na decisão do tratamento é fator das doenças bucais é extremamente de-
foram, inclusive, significativamente cada vez mais crucial na prática odonto-
maiores para algumas alternativas. Cer- ficitário29.
lógica, principalmente considerando o
tamente, docentes sem prática clínica aumento crescente de ações judiciais Em suma, este estudo trouxe contri-
pautaram suas avaliações nas normas contra CDs em todo o mundo motiva- buições importantes quanto aos fatores
éticas vigentes e no que fariam na con- das por inadequação dos tratamentos éticos e clínicos que, segundo docentes
dição de pacientes. propostos. Os resultados desse estudo de Odontologia, devem ser considera-
De fato, à exceção das alternativas realizado em Londres evidenciaram que dos ou não quando se busca um CD e
“falta de instruções preventivas” e “con- as informações baseadas em evidências quando se avalia tanto a(s) primeira(s)
sultas desmarcadas frequentemente por científicas só foram valorizadas median- consulta(s) para eventual retorno quan-
outros compromissos”, todas as demais te o julgamento clínico do profissional, to o período de tratamento.

Eixo 1. A busca inicial por um cirurgião-dentista


1.1 Como você busca um cirurgião-dentista? 1. Indicação de colegas de profissão
2. Indicação de outros pacientes
3. Placa em consultório
1.2 Quais outras informações você procura conhecer do cirurgião-dentista 4. Anúncios em mídia
inicialmente selecionado? 5. Consulta ao guia de convênio
6. A faculdade em que se formou
7. Se está habilitado para o exercício da profissão
8. Se está regularmente inscrito no CRO
9. O tempo de sua atuação clínica
10. Se está ligado à vida acadêmica
11. Se possui grau acadêmico (Mestre, Doutor)
12. Se participa de investigações científicas
13. Se é autor de livros e/ou artigos científicos
14. Por ter sido excelente aluno
15. Se frequenta cursos de atualização
16. Se cobra honorários pela consulta inicial
17. O valor dos honorários pela consulta inicial

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Eixo 2. A(s) primeira(s) consulta(s)


2.1 O que você considera nas instalações de trabalho na primeira visita ao 18. A decoração do consultório
cirurgião-dentista escolhido? 19. Se há mais profissionais da área no mesmo local
20. Se o local é limpo
21. Se o local é arejado e claro
2.2 O que você espera do cirurgião-dentista na primeira consulta? 22. Se o profissional trabalha com roupa branca
23. Se os atendentes são cordiais
24. Se o profissional tem postura simpática e acolhedora
2.3 O que você espera do cirurgião-dentista após a consulta inicial? 25. Se os pacientes são atendidos na hora marcada
26. Se há muita gente na sala de espera
27. Se há diplomas pendurados nas paredes
2.4 O que você considera para voltar à(s) consultas seguinte(s)? 28. Anamnese completa para conhecer sua saúde geral
29. Exame bucal completo (preventivo)
30. Exame apenas da queixa que o levou a procurá-lo
2.5 Como você avalia se o orçamento apresentado é justo e compatível 31. Resolução breve da queixa que o levou a procurá-lo
com a proposta terapêutica? 32. Que converse também sobre outros assuntos
33. Comece a tratá-lo imediatamente
34. Indique o(s) diagnóstico(s)
35. Detalhe o tratamento a ser realizado
36. Indique o prognóstico
37. Forneça orçamento completo pelo trabalho a ser realizado
38. Apresente contrato detalhado da prestação de serviços
39. Explique detalhadamente a necessidade de exames complementares
40. A simpatia com que o profissional lhe atendeu
41. A competência demonstrada pelo profissional
42. As instalações de trabalho (higiene e limpeza)
43. A modernidade dos equipamentos
44. O uso de máscara e luvas pelo profissional
45. O tipo de exame realizado
46. A forma como o orçamento foi apresentado
47. As condições de pagamentos propostas
48. Procura conhecer valores-referência para procedimentos odontológicos
49. Confia no valor que o profissional atribui ao próprio trabalho
50. Pede desconto de modo a checar se os valores são altos

Eixo 3. O tratamento
3.1 O que você espera do cirurgião-dentista ao 51. Que cada procedimento seja explicado e esclarecido
longo do tratamento? 52. Que lhe mostre os registros realizados em ficha clínica
53. Que mantenha o seu prontuário odontológico completo
54. Que disponibilize o seu prontuário odontológico
3.2 No caso de o cirurgiãodentista encaminhá-lo a 55. Se o especialista atua no mesmo local
especialista, o que você considera na indicação? 56. Os motivos e a necessidade da indicação
57. Se o profissional indicado possui inscrição da especialidade no CRO
58. Se haverá comunicação efetiva entre o cirurgião dentista e o especialista
3.3 Quais as restrições a serem observadas ao 59. Indicação de procedimentos não comprovados cientificamente
longo do tratamento? 60. Críticas constantes do cirurgião dentista a colegas de profissão
61. Cobrança de honorários não previstos ou discutidos anteriormente
62. Realização de procedimentos não previstos e detalhados
63. Recusa a mostrar os registros em ficha clínica
64. Excesso de pedidos de exames complementares
65. Prescrições medicamentosas excessivas ou pouco claras
66. Falta de instruções preventivas
67. Consultas desmarcadas frequentemente por outros compromissos
68. Recusa a atendimentos de urgência

Quadro 1. Composição de questionário desenvolvido para identificar como docentes


de Odontologia escolhem um cirurgião dentista e avaliam o atendimento recebido.

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Tabela 1. Caracterização da amostra.

Pontuações Estatísticas
Alternativas
0 1 2 3 x2 p
1 Indicação de colegas de profissão 4% 1% 10% 85% 193,68
2 Indicação de outros pacientes 25% 24% 31% 20% 2,48
3 Placa em consultório 76% 17% 4% 3% 143,60
4 Anúncios em mídia 73% 21% 3% 3% 131,52
5 Consulta ao guia de convênio 53% 22% 19% 2% 54,32
6 A faculdade em que se formou 20% 17% 34% 29% 7,44
7 Se está habilitado para o exercício da profissão 8% 4% 9% 79% 156,08
8 Se está regularmente inscrito no CRO 9% 7% 15% 69% 104,64
9 O tempo de sua atuação clínica 3% 13% 35% 49% 52,16
10 Se está ligado à vida acadêmica 11% 22% 41% 26% 18,48
11 Se possui grau acadêmico (Mestre, Doutor) 10% 28% 31% 41% 21,04
12 Se participa de investigações científicas 9% 24% 39% 27% 18,28
13 Se é autor de livros e/ou artigos científicos 19% 28% 34% 19% 6,48
14 Por ter sido excelente aluno 10% 14% 32% 44% 30,24
15 Se frequenta cursos de atualização 2% 7% 17% 74% 132,72
16 Se cobra honorários pela consulta inicial 45% 17% 25% 13% 22,32
17 O valor dos honorários pela consulta inicial 47% 23% 20% 10% 29,52

Tabela 2. Distribuição das frequências percentuais relativas a cada possibilidade de pontuação


(grau de importância) atribuída às questões do Eixo 1: A busca inicial pelo cirurgião-dentista.

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Pontuações Estatísticas
Alternativas
0 1 2 3 x2 p
18. A decoração do consultório 23% 37% 33% 7% 21,44
19. Se há mais profissionais da área no mesmo local 42% 35% 17% 6% 32,56
20. Se o local é limpo 0 1% 4% 95% 245,24
21. Se o local é arejado e claro 5% 5% 21% 69% 109,76
22. Se o profissional trabalha com roupa branca 43% 16% 22% 19% 18,00
23. Se os atendentes são cordiais 7% 12% 34% 47% 42,32
24. Se o profissional tem postura simpática e acolhedora 0 0 20% 80% 172,25
25. Se os pacientes são atendidos na hora marcada 4% 9% 30% 57% 69,84
26. Se há muita gente na sala de espera 35% 24% 24% 17% 6,64
27. Se há diplomas pendurados nas paredes 77% 20% 2% 1% 153,40
28. Anamnese completa para conhecer sua saúde geral 2% 1% 5% 92% 239,76
29. Exame bucal completo (preventivo) 0 0 11% 89% 221,68
30. Exame apenas da queixa que o levou a procurá-lo 48% 25% 14% 12% 32,76
31. Resolução breve da queixa que o levou a procurá-lo 11% 18% 37% 34% 18,80
32. Que converse também sobre outros assuntos 18% 40% 23% 19% 12,56
33. Comece a tratá-lo imediatamente 18% 30% 30% 22% 4,32
34. Indique o(s) diagnóstico(s) 0 3% 15% 82% 178,32
35. Detalhe o tratamento a ser realizado 0 3% 11% 86% 201,04
36. Indique o prognóstico 1% 4% 19% 76% 146,16
37. Forneça orçamento completo pelo trabalho a ser realizado 5% 7% 18% 70% 111,92
38. Apresente contrato detalhado da prestação de serviços 11% 13% 32% 44% 31,00
39. Explique detalhadamente a necessidade de exames complementares 3% 1% 20% 76% 147,44
40. A simpatia com que o profissional lhe atendeu 0 10% 48% 42% 66,72
41. A competência demonstrada pelo profissional 0 1% 5% 94% 254,48
42. As instalações de trabalho (higiene e limpeza) 0 0 10% 90% 228,00
43. A modernidade dos equipamentos 2% 9% 47% 42% 62,32
44. O uso de máscara e luvas pelo profissional 0 2% 2% 96% 268,96
45. O tipo de exame realizado 2% 6% 11% 81% 168,88
46. A forma como o orçamento foi apresentado 7% 8% 38% 47% 50,64
47. As condições de pagamentos propostas 10% 10% 38% 42% 36,32
48. Procura conhecer valores-referência para procedimentos odontológicos 13% 10% 30% 47% 35,12
49. Confia no valor que o profissional atribui ao próprio trabalho 5% 7% 39% 49% 59,84
50. Pede desconto de modo a checar se os valores são altos 30% 21% 31% 18% 5,04

Tabela 3. Distribuição das frequências percentuais relativas a cada possibilidade de pontuação


(grau de importância) atribuída às questões do Eixo 2. A(s) primeira(s) consulta(s).

REFERÊNCIAS ros, grande número de profissionais e profissao1 .php. Acesso em 21 de ja-


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82 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Saúde Bucal e o Programa Saúde da Família:


impactos na saúde da população
usuária e comunidade, revisão de literatura.
The Oral Health and Family Health Program: health impacts of the user population
and community, literature review.
Palavras-chave: CSaúde da família. Odontologia. Prevenção e promoção da saúde.
Keywords: Family health. Odontology. Prevention and health promotion.

Franklin Regazzone Pereira LOPES¹; RESUMO


Ana Marlusia Alves BOMFIM². Apesar da odontologia estar inserida como profissão regulamentada desde o século
passado, foi somente a partir da década de 60 que ela veio a ser consagrada como agen-
te modificador social. Com a inserção das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia
de Saúde da Família em 2001, a odontologia começa a fazer parte da agenda da saúde
pública no Ministério da Saúde (MS). Existe um grande caminho percorrido e uma
melhora nos serviços e no atendimento ao usuário, embora ainda existam falhas e uma
boa gama da população sem atendimento ou com serviços ineficazes. Neste trabalho
tem-se o objetivo de fazer uma revisão de literatura comentada sobre essa população
e as mudanças que ocorreram e vêm ocorrendo nesse percurso, assim como discorrer
sobre o processo de prevenção e promoção da saúde bucal da população em uma pers-
pectiva de atuação multidisciplinar. Hoje, falar em saúde bucal não é mais algo só para
consultórios, públicos ou privados, mas faz parte do cotidiano do cirurgião-dentista,
principalmente o que pertence à Estratégia de Saúde da Família, daí a ESF desmistifi-
cando o serviço. É de suma importância uma maior participação da população, assim
como, empenho por parte de quem faz o serviço, isto é, a equipe, principalmente no
que concerne à tomada de decisões, seja por meio de representatividade legal através
da pactuação de políticas, o que promove o exercício pleno de seus direitos de cidadão.

ABSTRACT
Although dentistry is inserted as a regulated profession since the last century, it was not until the 60s that it
became enshrined as social modifier.With the insertion of Oral Health Teams in Family Health Strategy in
2001, dentistry becomes part of the public health agenda in the Ministry of Health (MOH). There is a great
path and an improvement in services and user support, although there are still flaws and a good range of people
without care or ineffective services.This work has the objective of making a literature review commented on this
population and the changes that have occurred and are occurring in this route, as well as discuss the process
of prevention and promotion of oral health in a multidisciplinary perspective.Today, speaking in oral health is
no longer something just for offices, public or private, but part of everyday life of the dentist mainly belonging
to the Family Health Strategy, hence the FHS demystifying the service. It is of paramount importance greater
participation of the population as well as commitment from whoever gets the job, it is the staff, especially with
regard to decision-making, either through statutory representation based on negotiation policy which promotes
full exercise of their rights as citizens.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 83

INTRODUÇÃO Ministério da Saúde com dados epide- sobre essa população e as mudanças que
Em 1994 foi instituído no Brasil o miológicos de 1983, 1996 e 2003. Esta ocorreram e vêm ocorrendo nesse per-
Programa Saúde da Família (PSF), pos- política se propõe a desenvolver ações de curso, assim como discorrer sobre o pro-
teriormente incorporado como Estraté- promoção de saúde, prevenção e manejo cesso de prevenção e promoção da saúde
gia Saúde da Família (ESF), propondo a de doenças com resolutividade e qualida- bucal da população em uma perspectiva
reorganização da atenção básica dentro de, que permitam mudanças no nível de de atuação multidisciplinar.
da compreensão integral do processo saúde bucal da população, com reflexos
saúde-doença, atuando na dimensão indi- positivos em sua saúde geral.² Junto com
a Estratégia de Saúde da Família são dois REVISÃO DA LITERATURA CO-
vidual, familiar e coletiva, com uma nova MENTADA
dinâmica para a organização dos serviços vieses do Departamento de Atenção Bá-
básicos, assumindo os compromissos do sica do Ministério da Saúde e se dispõem A Constituição Federal de 1988 con-
Sistema Único de Saúde (SUS). Busca re- atualmente em trabalho conjunto. sagrou o direito à saúde como direito de
orientar o modelo assistencial, mediante A Política Nacional de Saúde Bucal, todos e dever do Estado. Em 1990, com
a implantação de equipes multiprofis- lançada em março de 2004, em Sobral/ a Lei nº 8.880, o Sistema Único de Saúde
sionais que acompanham um número CE, está em consonância com os princí- (SUS) foi regulamentado, tendo como
definido de famílias, em áreas geográ- pios e diretrizes do SUS. princípios a universalidade, equidade,
ficas delimitadas. Pretende a assistên- integralidade, descentralização e par-
A reorganização da atenção básica
cia integral e contínua, em cada fase do ticipação popular. Com os vetos presi-
está centrada na ESF com a implantação
ciclo de vida, considerando o contexto denciais, essa Lei foi profundamente
da estratégia de saúde bucal através de
familiar e social devendo estar atenta ao mutilada, principalmente nos itens re-
incentivos federais, que visam a am-
envelhecimento populacional.¹ pliação e qualificação da mesma, sen- ferentes ao financiamento e ao controle
Apesar da odontologia estar inserida do prioridades nesse nível de atenção: social. Alguns desses vetos foram recupe-
como profissão regulamentada desde o prevenção e controle do câncer bucal, rados através de negociações, com a apro-
século passado, foi somente a partir da implantação e aumento da resolutividade vação de uma nova Lei, a de nº 8.142, de
década de 60 que ela veio a ser consa- do pronto-atendimento, inclusão de pro- dezembro do mesmo ano, e juntas essas
grada como agente modificador social. cedimentos mais complexos na atenção duas leis formam a Lei Orgânica da Saú-
Iniciando com a publicação do Manual de básica, inclusão da reabilitação protética de (LOS). As lutas do movimento sani-
Odontologia Sanitária por Mário Chaves, na atenção básica e ampliação do acesso a tário brasileiro tiveram como resultado
em 1960, e sendo regulamentada no ano serviços de saúde bucal.² a criação do SUS, estas se intensificaram
de 2000 como integrante do Programa nas décadas de 1970 e 1980, em con-
Segundo o Ministério da Saúde, o Bra-
de Saúde da Família(PSF). Esse panora- sonância com as lutas pelo processo de
sil avançou muito na prevenção e no con-
ma vem sendo inserido ao longo dos anos redemocratização da sociedade brasileira
trole da cárie em crianças na última
acompanhado pelas mudanças sociais e década. Entretanto, a saúde bucal de Entre os anos de 1950 e 1980 a as-
comportamentos, e vem mostrando um adolescentes, adultos e idosos está entre sistência odontológica pública no Brasil
aumento do número de casos tratados as piores do mundo. Até março de 2004, ficou exemplificada pelo modelo assis-
sempre tomando como pressuposto as somente 3,3% dos atendimentos odon- tencial escolar. Para o restante da popu-
diferentes formas de atendimento. tológicos realizados pelo SUS correspon- lação, a assistência ocorria pontualmen-
Com a inserção das Equipes de Saú- diam a tratamentos especializados.³ te entre diversas instituições, dentre
de Bucal na Estratégia de Saúde da Levando-se em consideração a atual elas as conveniadas com o sistema pre-
Família em 2001, a odontologia começa a política de Saúde e dados do Ministério videnciário (Instituto Nacional de As-
fazer parte da agenda da saúde pública no da Saúde que, todo o percurso da Saúde sistência Médica da Previdência Social-
Ministério da Saúde (MS). Somado a este Bucal desde sua implantação até os dias -INAMPS), as secretarias estaduais de
fato, em 2004, o MS lança a Política Na- de hoje, existe um grande caminho per- saúde e entidades filantrópicas.
cional de Saúde Bucal (PNSB), que fi- corrido e uma melhora nos serviços e no Esse modelo era tido como simplista
cou conhecida como Brasil Sorridente.² atendimento ao usuário, embora ainda e incremental, método de trabalho que
A atual política Nacional de Saúde Bu- existam falhas e uma boa gama da popu- visa o completo atendimento dental de
cal, intitulada Brasil Sorridente, foi fruto lação sem atendimento ou com serviços uma população dada eliminando suas ne-
de um apanhado da epidemiologia em ineficazes. Neste trabalho tem-se o cui- cessidades acumuladas e, posteriormen-
Saúde Bucal no Brasil, de acordo com o dado de fazer um panorama na literatura te, mantendo-a sob controle, segundo

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84 Anuário de Artigos Científicos 2014

critérios de prioridades quanto a idades gentes e comentados, vem se estruturar Secretaria de Atenção à Saúde existe
e problemas. Esse “controle” não era o PSF (Programa de Saúde da Família), um departamento chamado Departa-
conseguido e o tratamento nem sempre instituído em 1994, este não se constitui- mento de Atenção Básica (DAB), res-
levava à uma boca saudável. Existiam ria propriamente um “programa”, mas ponsável por desenvolver mecanismos
muitas falhas. Esse modelo, oriundo do uma estratégia para consolidação do SUS. de controle e avaliação dos Serviços de
Sistema Incremental, é um modelo ex- A inclusão das equipes de Saúde Bu- Atenção Básica, e dentre esses serviços
cludente, tendo em vista que, quando se cal (ESB) às equipes de Saúde da Família estão a Saúde Bucal e o Programa de
estabelece uma população alvo para aten- (ESF), já existentes, ocorreu em outubro Saúde da Família, os quais já mencio-
ção, neste caso os escolares, excluem-se de 2000, tendo como objetivos princi- nados trabalham em conjunto.
da possibilidade de atenção as demais pais a melhoria dos índices epidemioló- Um ponto interessante desse percurso
parcelas da população exposta ao risco gicos de Saúde Bucal e a ampliação do é saber o que mudou na saúde bucal da
de adoecer. acesso da população brasileira às ações a população usuária e uma pesquisa realiza-
Era necessário a criação de um “mo- ela relacionadas. Esse sistema veio para da pelo Ministério da Saúde. A chamada
delo assistencial” que atendesse às ex- desmistificar o atendimento e a univer- SB BRASIL 2003 começa essa série de
pectativas da população usuária e fosse salização do acesso e integralidade da as- estudo da situação bucal da população
ao mesmo tempo curativo e preventivo, sistência aos serviços de saúde. Não res- assistida. Analisada em seu contexto em
ou seja, levasse “cura”, mas mantivesse ta dúvida que foi um avanço ao contato 2010, a SB BRASIL já pode demonstrar
a saúde bucal. Os modelos assistenciais mais próximo do cliente aos serviços de resultados positivos acerca da população
em saúde bucal que ora se estruturam saúde públicos, embora fosse um sistema usuária. De acordo com o Ministério
no país devem começar a trabalhar exa- ainda em formação. da Saúde, é um estudo de base nacio-
tamente a partir desse novo ponto: um O documento que define as bases do nal, representativo para as 26 capitais,
reordenamento da prática odontológica, PSF destaca que, em oposição ao mode- Distrito Federal e para as cinco regiões.
com mudanças sensíveis na abordagem lo tradicional, centrado na doença e no Semelhante ao SB BRASIL 2003 – pos-
do processo saúde-doença bucal. O SUS hospital, prioriza as ações de proteção e sibilitando o início da série histórica de
proporciona uma base filosófica e pro- promoção de saúde dos indivíduos e da indicadores da saúde bucal do brasileiro,
gramática que aponta para essa mudança família, tanto adultos quanto crianças, sa- cujo CPO (dentes cariados perdidos e
de concepção. dios ou doentes, de forma integral e con- obturados) é o principal indicador.
A ideia de se estruturar modelos de tínua. Pode-se incluir ainda, às bases des- Ainda de acordo com a SB BRASIL
assistência à saúde a partir da família, se modelo assistencial, aspectos relativos 2010, os resultados obtidos constatam
teve seu primeiro exemplo no Brasil, no à área de abrangência com adscrição da uma melhora no CPO em 26% nas
município de Curitiba/PR, onde, desde clientela, equipe multiprofissional com crianças aos 12 anos, ou seja, cerca de
sua implantação, o programa de Saúde da ações intersetoriais, ações programadas 1,6 milhão de dentes deixaram de ser
Família (PSF) desenvolve atividades em a partir de prioridades epidemiológicas e afetados pela cárie nesse intervalo. Todas
saúde bucal. intensa participação comunitária. as regiões melhoraram o índice entre
É interessante notar que na década O envolvimento governamental em 2003 e 2010 – exceto a região norte,
de 50 e 60 a população tinha um acesso áreas prioritárias como educação, sane- que teve ligeiro aumento. Com isso, o
restrito e de livre demanda aos serviços amento, alimentação, renda, moradia e Brasil entra no grupo de países com bai-
públicos de saúde, o que perfazia uma segurança, torna-se fundamental para a xa prevalência de cárie, onde a referência
pequena parcela do atendimento e o construção do novo processo assistencial, seria um CPO entre 1,2 e 2,6 – segun-
usuário não tinha direitos garantidos, o possibilitando a adesão e mobilização das do classificação da Organização Mundial
que veio a modificar com a constituição forças sociais e políticas em torno de suas da Saúde. O do Brasil é 2,1 atualmente.
de 1988 em seu artigo 196 – A saúde é diretrizes. Configura também, uma nova Ainda segundo a pesquisa, ocorreu redu-
direito de todos e dever do Estado. Nessa concepção de trabalho, com capacidade ção do CPO entre adolescentes de 15 a
carta é oficializado o SUS e seu mante- de formar vínculos e propor alianças, 19 anos e entre adultos de 35 a 44 anos.
nedor que seriam os recursos do Orça- permitindo maior diversidade das ações Um ponto importante a considerar é o
mento, da seguridade social, da União, e busca permanente do fortalecimento acesso da população aos serviços, que a
dos Estados, do Distrito Federal e dos sistema-usuário. pesquisa mostrou aumentar entre a po-
Municípios, além de outras fontes. Na perspectiva de criação de alian- pulação adulta, também perfazendo uma
Após os modelos anteriormente vi- ças observa-se que dentro da atual menor quantidade de dentes extraídos

Lopes, Franklin Regazzone Pereira et al. Saúde Bucal e o Programa Saúde da Família: Impactos na saúde da população usuária e comunidade, revisão de literatura.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 85

por conta da doença. A política de humanização do Ministério A reorganização da atenção básica está
Se for levado em consideração o histó- da Saúde refere que vínculo não é sinôni- centrada na ESF, com a implantação de
rico da odontologia e as falhas ocorridas mo de dependência, pois se constrói com ESB através de incentivos federais, que
nas políticas públicas voltadas à saúde, em trocas solidárias construídas com os usu- visam a ampliação e qualificação da
especial à saúde bucal, até então, ocorre- ários, o serviço de saúde e a comunidade mesma. Algumas prioridades elencadas
ram e estão ocorrendo mudanças positi- Em função da práxis acumulada pela para atenção básica são:
vas em contexto nacional. O balanço do experiência dos agentes comunitários Prevenção e controle do câncer bucal;
Ministério da Saúde entre 2002 e 2010 com a comunidade mediante, o Progra- implantação e aumento da resolutividade
mostra um aumento em quase cinco ve- ma dos Agentes Comunitários de Saú- do pronto atendimento; inclusão de pro-
zes no número de equipes, perfazendo de (PACS), eles foram absorvidos pelas cedimentos mais complexos na atenção
85% dos municípios brasileiros, em 2002 equipes da saúde da família, constituin- básica; inclusão da reabilitação protética
estavam em 41%. do um grupo diversificado de trabalho. na atenção básica; ampliação do acesso.
De acordo com o MS, em sua portaria Como o processo de seleção dos Agen- A ampliação e qualificação da atenção
Nº 3.840, de 7 de dezembro de 2010, tes Comunitários de Saúde (ACSs) esta- secundária e terciária também fazem
esta inclui a saúde bucal no âmbito do va vinculado à comunidade, favoreceu o parte da PNSB com a implantação
monitoramento e avaliação do pacto pela elo e a possibilidade de materialização de de Centros de Referência de Espe-
saúde e estabelece diretrizes, orientações uma rede social, cultural e política, com cialidades Odontológicas (CREO ou
e prazos do processo de ajustes de metas atributos de solidariedade, liderança e CEOs), que têm o intuito de ampliar
para o ano de 2011, tendo como um de conhecimento da realidade social. e qualificar os serviços de especiali-
seus objetivos aumentar a prevenção das A adequação do processo de traba- dades odontológicas. Essas unidades
principais doenças bucais, a cárie dentá- lho em saúde bucal através da política devem realizar os procedimentos pe-
ria e a doença periodontal, desta forma nacional de saúde bucal se propõe a es- riodontais, endodonticos, dentística de
se observa a importância de estratégias tar centrado na interdisciplinaridade e maior complexidade e procedimentos
voltadas à prevenção e promoção da saú- multiprofissionalismo, integralidade da de cirurgia oral menor compatíveis com
de bucal. atenção, intersetorialidade das ações, esse nível de atenção. Os Laboratórios
ampliação e qualificação da assistência, de Prótese Dentária (LRPD) são labo-
AÇÕES DA SAÚDE BUCAL EM condições de trabalho e parâmetros pac- ratórios destinados à confecção de próte-
ÂMBITO COMUNITÁRIO tuados entre os três níveis de governo. A ses totais e próteses parciais removíveis.
mudança progressiva dos serviços deve Também há previsão do fortalecimento
O conceito de senso psicológico de co- da atenção terciária no âmbito hospitalar.
munidade como sentimento de perten- ser norteada em busca de um modelo de
atenção integral à saúde, com incor- A PNSB também se propõe a assegu-
cer e compartilhar interesses, de influen-
poração de ações de promoção e pro- rar treinamentos para atualização cien-
ciar e de ser influenciado e reconhecer
teção juntamente com ações de recupe- tifica e tecnológica de profissionais de
que as necessidades individuais também
ração. Algumas ações são elencadas pela saúde bucal, como cirurgiões-dentistas,
são compartilhadas por outros membros
Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) auxiliares e técnicos. Adota uma es-
de uma comunidade. Para esses autores,
e devem ser planejadas pela equipe e tratégia de educação permanente em
o sentimento psicológico de comunidade
estar numa inter-relação com as outras saúde, através de cursos e atividades pe-
possibilita o desenvolvimento de redes
ações da unidade de saúde. dagógicas que contemplem os princípios
de apoio social, que proporcionam o au-
Podemos citar como ações pretendidas do SUS e as mais modernas técnicas de
mento do empoderamento de uma co-
pela PNSB: assistência odontológica.
munidade, por favorecer melhores for-
mas de enfrentamento das adversidades. Ações de promoção e proteção da
O PSF trouxe a reorientação do mo- saúde; fluoretação das águas; educação CONCLUSÃO
delo assistencial, organizando a atenção em saúde; higiene bucal supervisionada; A odontologia , assim como toda a
básica em saúde, investindo na estrutura- aplicação tópica de flúor; ações de recu- saúde bucal, passou e passa por muitas
ção de uma rede de laços e vínculos por peração com diagnóstico e tratamento mudanças, tanto pelos conceitos já ul-
meio da co-responsabilização entre pro- das doenças; ações de reabilitação com a trapassados e superados, um exemplo
fissionais de saúde e a comunidade, além recuperação parcial ou total das capacida- disso são as políticas de saúde, como
do trabalho em equipe multiprofissional. des perdidas como resultado da doença. pela conscientização do exercício da

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86 Anuário de Artigos Científicos 2014

cidadania. Hoje, falar em saúde bucal acesso e disponibilidade aos serviços interessante uma maior participação
não é mais algo restrito ao consultório outrora restritos a parcelas da popula- da população no que concerne à to-
odontológico, mas extrapola e se ex- ção e lugares específicos, assim como, mada de decisões, sendo esta a mais
pande para a comunidade representada observa-se uma grande parcela da interessada na prestação dos serviços,
pelas unidades básicas, escolas, repre- população que necessita de ações de é de suma importância que faça par-
sentações religiosas entre outros atores prevenção e promoção da saúde como te, não só no usufruto, mas também
comunitários, desta forma atingindo a educação em saúde. Existem falhas, como senhora detentora de voz ativa,
o maior número de pessoas através da é verdade, mas é um processo, e como seja por meio de representatividade
ESF. Por tudo que foi exposto, a po- todo processo, necessita de etapas a legal ou do exercício pleno de seus
pulação está com mais facilidade de serem vencidas. Percebemos que seria direitos de cidadão.

REFERÊNCIAS 37, edição da primeira quinzena de maio taria de Políticas de Saúde. Departamen-
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de Saúde Bucal da População Brasileira logia em Saúde Coletiva, Departamento www.in.gov.br/autenticidade.html, pelo
2002 -2003 – Resultados Principais. de Odontologia, Faculdade de Ciências código 00012010121000072
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cidade satélite do Paranoá-DF.Trabalho de momento atual: percepções de cirurgi- 17. Brasil. Ministério da Saúde, Departa-
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Lopes, Franklin Regazzone Pereira et al. Saúde Bucal e o Programa Saúde da Família: Impactos na saúde da população usuária e comunidade, revisão de literatura.

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Tratamento de fraturas de sínfise e


parassínfise com a técnica de lag screw

Treatment of fracture symphysis and parasymphysis technique whit lag screw

Palavras-chave: Lag screw. Parafuso. Parafuso de fixação.


Keywords: Lag screw. Bolt. Screw.
Vinícius Corrêa Gimenes* RESUMO
Badyr Naddi** A incidência de fraturas da face aumentou na década de 1970 com a chegada de auto-
Fabio Sevilha*** motivos e o baixo índice de níveis de segurança. Fizeram o primeiro trabalho publicado
Gabriel Campolongo**** a respeito da técnica de lag screw, já que houve o aumento de acidentes e o custo do
Tarley Pessoa de Barros***** tratamento das fraturas da face era alto, foi necessário uma alternativa que fosse barata
e tivesse eficiência no tratamento.
Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura, reunindo artigos
relacionados ao tratamento de fraturas de sínfise e parassínfise de mandíbula, no qual
foi utilizado a técnica do lag screw com o próprio parafuso e com o parafuso de fixação,
mostrando sua eficiência com um estudo comparativo e qualitativo em comparação há
outras técnicas de materiais de fixação em uma região na qual há uma grande quantida-
de de forças musculares agindo nessa região.1
Devido às forças musculares de tensão, tração, torsão, compressão e cisalhamento na
região entre parassínfise, o sentido de compressão e tração da fratura ser de vestibular
para lingual, a técnica de lag screw é bem aceita, pois na ancoragem do parafuso faz-se
compressão e o sistema consegue fixar de lingual para vestibular e manter a anatomia
da mandíbula.

ABSTRACT
The incidence of facial fractures has increased in the 1970s with the arrival of automotive and low-level secu-
rity made the first published work about the lag screw technique, as there was an increase of accidents and the
cost of treatment of facial fractures wash ugh, it was necessary hat an alternative had to be cheap and afficient.
This study aimed to conduct a literature review, gathering articles related to the treatment of fractures of the
mandibular symphysis and parasynphysis, which was used in the technique of lag screw the screw itself and screw,
showing its efficiency, a qualitative, comparative study in comparasion there are other techniques of fixation
materials in a region where there is a lot muscle forces acting in this region.2
Because muscle forces of tension, traction, torsion, compression and shear in the region between parasymphysis
the of compression and traction of the fractures is buccal to the lingual, the lag screw technique is well accepted
because the anchoring of the screw compression is done and the system can be fixed in vestibular and lingual to
* especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial, professor do curso de
odontologia da Facig
keep the anatomy of the jaw.
** especialista em Implantodontia, professor do curso de odontologia
da Facig

*** Mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial, professor do


curso de odontologia da Facig e Unian

**** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da Facig e Unian

***** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da Facig e Unian

Gimenes, Vinícius Corrêa et al. Tratamento de Fraturas de Sínfise e Parassínfise com a Técnica de Lag Screw

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INTRODUÇÃO divíduos possuíam outras lesões fora da técnica pode ser usada nas fraturas bem
Certamente desde a era do homem região maxilofacial. oblíquas e que permitam a colocação
das cavernas, e provavelmente desde Padrões de lesão dependem em de pelo menos dois parafusos3.
a Antiga Idade da Pedra, homens ten- grande parte do mecanismo da lesão, O aperto do parafuso cria uma força
taram tratar as fraturas da face. Os com os pacientes envolvidos em aci- de tensão que comprime as corticais ós-
primeiros escritos que conhecemos dentes com veículos motorizados sus- seas entre si, reduzindo a fratura de for-
encontram-se no Papiro de Smith, e tentando uma grande porcentagem de ma compressiva, assim fornecendo uma
acredita-se que seu autor o tenha redi- outras fraturas. fixação rígida absoluta. Portanto os lag
gido há vinte e cinco ou trinta séculos screw somente devem ser selecionados
antes de Cristo. quando existe osso disponível suficiente
TÉCNICA DE TRATAMENTO para a colocação de pelo menos dois pa-
O tratamento das fraturas de sínfise COM LAG SCREW
e parassínfise na cirurgia bucomaxi- rafusos em osso sadio, que possam criar
A anatomia da mandíbula e os veto- rigidez através da fratura (MILORO
lofacial é considerada umas das mais
res de força exercidos pelos músculos 2009)7. Champy e Terry8 provaram que
complicadas1 para estabilizar, devido a
masseter, temporal, ventre anterior do a redução das fraturas anterior tem uma
ação dos músculos da mastigação que
digástrico e genio-hioideo, fazem da redução mais satisfatória com o uso do
ocorre nessa região e a mais necessária,
região de sínfise e parassínfise particu- lag screw, porque provoca uma redu-
pois na fratura entre de biparassínfise
pode ocorrer o deslocamento da língua larmente um problema, pois os veto- ção anatômica da cortical vestibular e da
para farínge obstruindo a passagem de res de força muscular separam o bordo cortical lingual em conjunto, assim não
ar para os pulmões. inferior da mandíbula do lado fratu- altera a posição dos condilos mandibu-
rado. Portanto em 1970, a AO/ASIF lares, em comparação às placas e para-
O uso da técnica de lag screw ocor- (Association Study of Fixation) mudou fusos das FIR convencionais que podem
reu em 19702, década em que houve o conceito de sustentabilidade e insus- provocar redução anatômica somente da
um aumento no número de fraturas tentabilidade das fraturas, na qual há cortical vestibular e, assim, alterar a po-
da face devido o aumento do número técnica de redução fechada para o con- sição condilar.
de automóveis, no qual foi compara- ceito de região de tensão e compressão
do com outros materiais de fixação a Manganello3 considerou outra van-
para tratamento de redução aberta2. tagem da técnica de lag screw, pe-
sua eficiência2,3 no tratamento e o seu
baixo custo. Brons e Boering6 foram os primeiros rante outras técnicas de FIR como as
a introduzir a técnica de que dois lag mini placas e parafusos na estabilida-
screw são necessários para prevenir o de, já que pode-se conseguir de 2.000
ETIOLOGIA E INCIDÊNCIA NA movimento rotacional dos fragmentos a 4.000 N de força compressiva em
REGIÃO DE FRATURA DE SÍNFI- oblíquos das fraturas de mandíbula, comparação com os 600N conseguidos
SE E PARASSÍNFISE Schmoker e Spiessl12, por volta da mes- com as miniplacas, o que nos dá uma
A etiologia das fraturas faciais envol- ma época desenvolveram a dinâmica da reparação de primeira intenção com
ve ao meio social acidentes automobi- placa de compressão para mandíbula, mais qualidade.
lísticos, agressão física e armas de fogo4 usando a excentricidade do screw para Em 2008, Richard and Klotch9 fize-
.Relataram que 55,8% das fraturas gerar compressão. ram um estudo comparativo em uma
foram causadas por acidentes automo- A técnica se baseia no fato de que as réplica de mandíbula sintética na qual
bilístico, 17% por soco (brigas) e 14% roscas do parafuso estão firmemente foram feitas as linhas de fratura na ho-
por infortúnios diversos. Rowe e Kel- ancoradas em um só fragmento (o coto rizontal em parassínfise e usado cinco
ley5, em 1955 na Inglaterra, demons- lingual), pois no fragmento vestibular métodos de tratamento para comparar
traram que 11,6% das fraturas foram realiza-se a perfuração de diâmetro a biomecânica de cada material. Foram
acidentes automobilísticos, 18,6% por maior (feito com essa finalidade). No usadas 50 placas, 260 screws, 20 screws
brigas, 15,8%,por choque de motoci- instante em que as superfícies do osso cortical, 10 barras Erich e 10 splint lin-
cleta, 14,8% por acidentes de moto- fraturado se encontram, a cabeça do gual. Foi avaliada a resistência de rotação
cicleta e 12% por quedas, esportes e parafuso está apoiada na cortical óssea e as forças eram provocadas na região de
infortúnios2. lateral (que é preparada). Nesse mo- ramo e coronóide da mandíbula.
Ellis et al.1 avaliou 2.137 pacientes mento, as superfícies ósseas fraturadas Na técnica do estudo foi usada uma
com fraturas mandibulares, 10,5% in- são pressionadas uma contra a outra. A força servo-hidráulica com frequência

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 89

de 10Hz e pressionada a 0.5mm/min, tro, já que apresenta espira somente na gem na sua redução de fixar tanto a
na qual a pressão é de 13.34kN, e o li- porção terminal, permitindo assim a cortical vestibular óssea como a lin-
mite chegou a 50 mm e força de pres- compressão dos cotos fraturados. gual, sem correr o risco de tirar os
são de 900N. Segundo Tiwana e colaboradores10, o côndilos de posição. Caso parafuso não
Como visto no gráfico, para compa- uso de dois parafusos com a técnica de seja instalado corretamente, ocorrerá
rar cada técnica foi criado um terceiro lag screw é indicada na região de sín- deslocamento dos fragmentos ósseos
polinômio para ajustar melhor as cur- fise e parassínfise prevenindo, assim, podendo causar sobreposição dos frag-
vas e continuar avaliando e comparan- a rotação e fazendo a compressão da mentos e/ou encurtamento da linha de
do o comportamento biomecânico de fratura, o que não ocorre se usado um fratura, causando problemas de oclu-
cada fixação, e o polinômio de primei- único parafuso, o que ocorreria esse são, mobilidade dos cotos podendo
ra ordem tomaria a forma de x=y+z. fenômeno clínico. Assim, toda a fratu- ocasionar infecções.7
Como avaliado no gráfico, a técnica ra de mandíbula necessita de oclusão e • Neutraliza as forças musculares;
de screw mostrou-se com uma certa redução da fratura.
• Sua força de estabilidade em relação
resistência para perder a compressão Como visto, a técnica de lag screw a outros tratamentos mostrou-se eficaz;
durante a força aplicada, e durante ao na cortical vestibular é feito um diâ-
mesmo tempo ocorreu o fracasso de • A técnica cirúrgica é mais simples,
metro maior para o deslizamento do
outros métodos. rápida e mais barata em relação às pla-
parafuso e na lingual o diâmetro é igual
Na técnica cirúrgica do lag screw ao tamanho do parafuso, ocorrendo a cas e parafusos;
deve-se formar um ângulo de 90 graus ancoragem da rosca e, já no parafuso • A indicação é somente quando o
com a bissetriz da linha de fratura, por- de lag screw, o diâmetro é o mesmo, já traço de fratura for oblíquo e biselado
tanto indicadas quando a fratura for que o parafuso tem espiras somente na para haver fixação e compressão;
oblíqua e biseladas3,6,7,10. Deve-se usar região de compressão7,8,11. • Devem-se colocar os parafusos em
dois parafusos, um apresentando espiras perpendicular com a linha de fratura
no corpo todo, no qual é realizado per- para não haver movimentação;
furações de diâmetros diferentes, sendo CONCLUSÃO
mais larga no deslizamento e mais es- Segundo os autores pesquisados, o • Região anatômica favorece a estética,
treita na tração6, já no parafuso de lag tratamento com a técnica do lag screw já que o acesso cirúrgico é intra-oral;
screw tanto o orifício de tração quanto vem sendo defendido desde 1970 com • Menor custo, pois é usado somente
de deslizamento tem o mesmo diâme- Bros e Boering6, no qual tem a vanta- dois parafusos.

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Fonte: (Miloro 2009) Método inadequado (A), Fonte (Miloro 2009): Dois parafusos tipo lag screw inseridos
método adequado (B), colocação do lag screw através de fratura de sínfise (fixação de dois pontos).

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 91

Fonte:Madsen,McDaniel,Haug,,Biomechanical symphysis.J oral maxillofacial surgeon,2008

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2009, cap. 18,301-309. Atlas of craniomaxillofacial oste- perimental study os contribuition to
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Gimenes, Vinícius Corrêa et al. Tratamento de Fraturas de Sínfise e Parassínfise com a Técnica de Lag Screw

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92 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Aplicação de Toxina Botulínica Tipo A no


tratamento de sorriso gengival - caso clínico

Palavras-chave: Sorriso gengival. Hiperatividade muscular. Toxina otulínica tipo A. Tratamento.


Keywords: Gummy smile. Muscle hyperactivity. Botulinum toxin type A.Treatment.

Stephanie A. Feres Teixeira1 RESUMO


Tarley Pessoa de Barros2 A obtenção de excelência estético-funcional de qualquer sorriso requer um planeja-
Gabriel Denser Campolongo3 mento criterioso que envolva a avaliação detalhada de todos os fatores que interfiram
Fabio Moschetto Sevilha4 na harmonia e simetria dos elementos da região perioral e oral que compõem o sorri-
so. O sorriso gengival é definido pela exposição excessiva de gengiva maxilar durante
o sorriso. Recentemente a aplicação de toxina botulínica tem sido sugerida para tra-
tamento do sorriso gengival, porém é fundamental um reconhecimento diagnóstico
da etiologia do sorriso gengival, para um correto tratamento. Este trabalho tem por
objetivo abordar a aplicação de toxina botulínica do tipo A em sorriso gengival.

ABSTRACT
Obtaining aesthetic-functional excellence of any smile requires careful planning involving detailed assessment of
all the factors that interfere with the harmony and symmetry of the elements of oral and perioral region that com-
poses the smile.The gummy smile is defined by excessive exposure of the maxillary gum during the smile. Recently,
botulinum toxin has suggested to the treatment of gummy smile, but a diagnosis is fundamental recognition of the
etiology of gummy smile, for a correct treatment.This work objective the application of botulinum toxin type A in
gummy smile on his correct indication.

1- Especialista em Implantodontia. Professora da Faculdade de Ciência


de Guarulhos (FACIG).

2- Mestre, Doutor pela Faculdade de Medicina da USP, Especialista em


CTBMF, Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG).

3- Doutorando em CTBMF-USP, Mestre pela Faculdade de Medicina


da USP. Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG).

4- Mestre pela Faculdade de Medicina da USP, Especialista em CTBMF.


Professor da Faculdade de Ciência de Guarulhos (FACIG).

Teixeira, Stephanie A. Feres et al. Aplicação de Toxina Botulínica Tipo A no Tratamento de Sorriso Gengival - Caso Clínico

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 93

RELEVÂNCIA CLÍNICA tem sido estudada desde o final de 1970 cação. A exposição gengival foi visivel-
Equilibrar as proporções estético-funcio- para o tratamento de várias condições mente reduzida e a paciente se mostrou
nais entre dentes, gengivas e lábios para a associadas com a contração excessiva do satisfeita com o tratamento (Figura 1).
construção de sorrisos harmoniosos, saudá- músculo. Aplicações com BTX-A em
vel e satisfatório ao paciente e ao profissio- locais pré-selecionados é uma eficaz al-
DISCUSSÃO
nal é um desafio constante na odontologia. ternativa minimamente invasiva para a
melhoria temporária do sorriso gengival O cirurgião-dentista busca hoje, em
O sucesso de um tratamento odontológico
causado pela hiperfunção músculos ele- seus tratamentos, a harmonia estética
depende, na maioria das vezes, da sensibili-
vadores do lábio superior. juntamente com oclusão funcional, efi-
dade em indicar e executar a melhor técnica
no âmbito interdisciplinar. ciente e equilibrada. A boa estética do
Este trabalho relata um caso clínico
sorriso precisa ser observada também
sobre a aplicação de toxina botulínica uti-
através da movimentação das estruturas
INTRODUÇÃO lizada para solucionar temporariamente
que o compõem. O belo sorriso dinâmico
o sorriso gengival em uma paciente com
A avaliação estético-funcional do pa- tornou-se um dos objetivos do tratamen-
hiperatividade muscular envolvida, que
ciente deve ser composta por uma análise to do ortodôntico4 e demais profissionais
optou por realizar um procedimento não
extra-oral, labial, periodontal e dental. O empenhados em realizar um tratamento
permanente para esta condição.
sorriso é uma das expressões faciais mais hamônico para seus pacientes.
importantes do rosto. A composição de O sorriso gengival tem sido considera-
um sorriso considerado belo, atraente e RELATO DE CASO do como a exposição excessiva anterior
saudável envolve o equilíbrio entre for- A paciente J.C, de 27 anos, com queixa da gengiva4. A etiologia do sorriso gengi-
ma e simetria dos dentes, lábios e gen- de “excesso exposição gengival ao sorriso” val é variada e sua correta identificação é
giva, além da maneira que se relacionam procurou o consultório odontológico com fundamental para confecção de um pla-
e harmonizam com a face dos pacientes. o objetivo de melhorar a estética gengival no de tratamento eficaz5,6,7,4,8. Pesquisas
Apesar de não haver um padrão de be- de seu sorriso. Ao sorrir, a paciente apre- apontam que 10% da população entre 20
leza absoluto, o excesso gengival pode sentava 10 mm de exposição gengival (Fi- e 30 anos apresentam exposição exces-
comprometer a harmonia do sorriso de gura 1 a). Foi avaliada para diagnosticar a siva de gengival7, mais frequentemente
acordo com os padrões de simetria facial. etiologia de seu sorriso gengival. Assim, entre mulheres 6,7,8.
A ampla exposição gengival enaltece tra- foi diagnosticado que seu sorriso gengival A variabilidade na exposição gengival
ços que ressaltam ou afastam um sorriso era devido a hiperatividade do músculo do pode ser correlacionada com a muscular,
considerado belo. O chamado sorriso elevador do lábio superior. Opções para gengival ou fatores esqueléticos, ou uma
gengival é caracterizado quando os indi- solucionar o caso foram apresentadas à combinação6,8. Muitas vezes o profissio-
víduos com sorriso alto, apresentam uma paciente e, reconhecendo as limitações do nal fica em dúvida em qual o tratamento
exposição gengival maior que 3 mm1,2. tratamento com toxina botulínica tipo A, a mais indicado para cada situação7. Um
Apesar de aparecer com certa frequência paciente optou por se submeter a esse tra- sorriso gengival pode ser causado por um
nos consultórios, a literatura dedicada a esse tamento, a fim de reduzir a força contrátil lábio superior curto, coroas pouco expos-
assunto como tema central, abordando o do lábio superior. tas nos dentes superiores, verticalização
seu diagnóstico e tratamento, é escassa. Para localização do ponto de aplicação, excessiva da maxila, hipertrofia gengival
É importante que o profissional esteja foi utilizada a técnica de ‘‘Yonsei point’’3, ou hiperatividade de músculos elevado-
atento à causa do problema, que poderá descrita na figura 2. res do lábio superior6,1. Para diagnosticar
ser o resultado de fatores básicos como Foi utilizada a toxina Onabotulínica A precisamente o fator causador preponde-
uma erupção passiva alterada, displasia (Botox - Allergan) de 100U como medi- rante em cada caso, alguns aspectos clíni-
esquelética ou crescimento excessivo da cação de escolha. A diluição do material cos devem ser avaliados. São esses: saúde
maxila, uma combinação destes fatores ou foi realizada como descrita em bula. A periodontal, exposição dentária durante
ainda o lábio superior curto ou hiperativo TBX-A foi diluída com 2 mls de solução repouso, análise dimensional e funcional
ao sorrir. Apenas após a um correto diag- salina a 0,9% estéreo e sem conservan- do lábio superior, mensuração da coroa
nóstico acerca de qual fator etiológico está tes, para produzir 5U por 0,1 ml. Foram clínica dos incisivos e caninos e harmo-
presente em cada caso é que se pode pro- injetadas 2,5U no músculo levantador do nia entre os planos oclusais anteriores e
por um plano de tratamento adequado. lábio superior, bilateralmente. A paciente posteriores7.
A toxina botulínica tipo A (BTX-A) foi examinada duas semanas após a apli- Em exposições excessivas da gengiva

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devido à hiperatividade muscular, todos os erro técnico na aplicação do produto, da exposição dos incisivos inferiores7,8.
músculos funcionalmente envolvidos em resistência a BTX-A e alterações do pro- Os profissionais devem estar cientes dos
levantar o lábio superior (músculo eleva- duto, ou condições de armazenamento mecanismos de compensação secundá-
dor do lábio superior, elevador do lábio inadequadas de BTX-A10. Apesar da rios que podem ocorrer quando se tenta
superior e asa do nariz, elevador do ângu- BTX-A só fornece uma solução tempo- paralisar ou diminuir a atividade de um
lo da boca, zigomático maior e menor, e rária, os benefícios de tal intervenção nos determinado músculo ou grupo de mús-
o depressor do septo nasal) têm um papel pacientes que apresentam sorriso gengi- culos9. Desta forma, toda a musculatura
importante durante a exibição sorriso6,1,4, val são muito consideráveis, satisfazendo envolvida no ato de sorrir do paciente
mesmo a maioria dos autores consideran- o paciente. O mesmo deve ser informa- deve ser avaliada para garantir melhor
do o músculo levantador do lábio superior do sobre a duração do efeito da toxina resultado do procedimento.
como principal responsável4. botulínica sobre os tecidos, a necessidade Casos que envolvem assimetria causada
A literatura relata que procedimentos potencial de repetir o procedimento, e as por contração muscular, a aplicação bila-
cirúrgicos como gengivoplastia, ortodon- possíveis complicações que podem surgir teral de toxina botulínica é recomendada
tia, cirurgia ortognática e ressecção óssea depois da aplicação de TBX-A na muscu- com uma dose mais elevada do lado hiper-
têm sido realizados para corrigir sorriso latura perioral. É importante o profissio- cinético para evitar assimetria inversa com
gengival causado por hiperatividade mus- nal ter um termo de consentimento para desequilíbrio, como resultado da contra-
cular3,6,7. No entanto, procedimentos ci- o paciente assinar e reavaliar o paciente ção excessiva de um dos lados. O mesmo
rúrgicos, além de serem procedimentos após a aplicação. não ocorre no caso de paralisia facial, em
complexos, de alto custo e tempo consi- Em um número significativo de pa- que é recomendado que aTBX-A seja apli-
derável7, podem levar à recidiva frequen- cientes observa-se a redução da expo- cada apenas no lado hipercinético1.
te e indesejáveis efeitos secundários, tais sição gengival após várias aplicações de
como cicatrizes3. Assim, uma modalidade toxina botulínica, mesmo depois de o
CONCLUSÃO
de tratamento minimamente invasiva que efeito do fármaco tenha diminuído1.
pode servir como um substituto para o Este fato pode ser explicado pela dimi- O sorriso gengival apresenta etiologia
procedimento cirúrgico é o uso de toxina nuição na força muscular que ocorre ampla, portanto deve ser muito bem ava-
botulínica tipo A (BTX-A)9,3,6,1,4, Mazzuco após várias aplicações de TBX-A por um liado pelo profissional. O tratamento com
& Hansel (2010)1 citaram outros fatores longo período de tempo, por esse moti- toxina botulínica tipo A pode apresenta-se
que consideram a toxina como terapia vo, é importante reavaliar o paciente para como um tratamento possível para pa-
de primeira linha, são a facilidade e segu- adequação da dose utilizada. cientes com sorriso gengival, desde que
rança durante a aplicação, o uso de dosa- realizado por um profissional capacitado.
Em relação a dose utilizada, a literatu-
gem reduzida e a rápida ação, baixo risco O paciente deve ser avaliado após 15 dias
ra discute doses entre 2U a 7U de toxina
e efeito reversível. da aplicação, devendo retornar ao consul-
onabotulínica A por lado nos músculos
tório para controle após três ou quatro
A toxina botulínica do tipo A mostrou- levantador do lábio superior e levantador
meses da aplicação para nova avaliação e
-se eficaz e segura para uso em correção do lábio superior e asa do nariz3,12,13,8, e
aplicação, caso necessite. Portanto, todas
de exposição gengival9, 3,6,1,4 . Seu efeito também aplicações que vão de 3U a 5U
as informações em relação ao tratamento
está relacionado com a localização da nos músculos depressor septo nasal, zi-
com toxina botulínica devem ser passadas
aplicação e dose utilizada10,6. Portanto, gomático menor, ou orbicular da boca8,
ao paciente e documentadas.
uma técnica de aplicação bem sucedi- de acordo com a necessidade individual
da requer um minucioso conhecimento do paciente. Importante destacar que
da anatomia facial e interações entre os estas doses são referentes à toxina ona- APLICAÇÃO CLÍNICA
músculos9,6, além dos conhecimentos botulínica A e que não há equivalência A toxina botulínica do tipo A, para a
sobre BTX-A. A ação terapêutica máxi- de doses entre as diferentes formulações indicação citada acima, pode ser utilizada
ma da toxina botulínica tipo A é observa- presentes no mercado. para a correção da exposição gengival ex-
da entre o 7° e 14° dia, e a duração dos O sorriso gengival também regride cessiva após tratamento ortodôntico ou
efeitos pode chegar a seis meses (média gradualmente com a idade como con- não, correções na diminuição na exposi-
de três a quatro meses)11. Problemas po- sequência do aparecimento de flacidez ção de falhas em tecido duro ou mole de
dem ser encontrados relacionados à fal- dos lábios superiores e inferiores, que áreas estéticas para reabilitação protética,
ta de eficácia no relaxamento muscular também vão levar à diminuição da expo- auxílio no processo de correção do veda-
devido à utilização de dose inadequada, sição dos incisivos superiores e aumento mento labial do paciente.

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Figura 1: Foto extraoral do caso. (a) Sorriso inicial mostrando a exposição significante de gengiva. (b) Sorriso duas semanas após a aplicação de TBX-A.

Figura 2: Técnica de “Yonsei point” para a localização do ponto de aplicação em hiperatividade do músculo elevador do lábio superior.

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Artigo Original

Percepção de gestantes sobre conhecimentos de


saúde bucal em uma unidade de saúde da família
Perception of Pregnant About Oral Health Knowledge in a Health of Family’s Unit
Palavras-chave: Gravidez. Percepção. Saúde bucal.
Keywords: Pregnancy. Perception. Oral health.

Marcus Vinicius Canela1 RESUMO


mvcanela@bol.com.br A maternidade é um momento importante no ciclo vital feminino, caracterizada
por várias mudanças fisiológicas no organismo da mulher, algumas delas obser-
Jozinete Vieira Pereira2 vadas na cavidade bucal. O objetivo desse trabalho foi descrever o grau de per-
Jozinetevieira@hotmail.com cepção de gestantes atendidas no programa de pré-natal em relação às alterações
bucais relacionadas a este estado, assim como a possível existência de crenças
Daliana Queiroga de Castro Gomes2 relacionada ao atendimento odontológico durante a gravidez. O desenho do es-
dqcgomes@hotmail.com tudo foi do tipo transversal, descritivo com abordagem quanti-qualitativa e foi
realizado em uma Unidade de Saúde da Família (USF), no município de Campina
Robéria Lúcia de Queiroz Figueiredo2 Grande, Paraíba. Os resultados mostraram que as gestantes desconheciam to-
roberiaqueirozfig@gmail.com talmente o processo multifatorial que leva à doença cárie e doença periodontal,
50% das participantes acreditam que a gestação prejudica os dentes, 80% acham
Danúbia Roberta de Medeiros Nóbrega3 que grávidas não podem se submeter a todos os tipos de tratamento odontológico
damnobrega@yahoo.com.br e 70% afirmam que a anestesia pode prejudicar o feto. Assim, é necessário que
haja uma maior interação entre a equipe de Saúde Bucal e Equipe de Saúde da
Francisco Jadson Lima3 Família que realiza o pré-natal, para que essas informações sejam transmitidas de
odonto2006.1jadson@gmail.com forma mais clara e incisiva às gestantes.

ABSTRACT
The motherhood is an important moment in female life cycle, characterized by various physiological changes in a
woman’s organism, some of them observed in the oral cavity.The aim of this paper is describe the degree of perception
of the pregnant treated in the program of prenatal in related the oral aterations, as well as the possible existence
of beliefs related to dental care during pregnancy. The design study was cross-sectional and descritive transversal
with quantitative and qualitative approach and it was realized in a Health of Family’s Unit, in Campina Grande
city, Paraíba state.The results showed that pregnant unknown fully the multifactorial process that leads to dental
caries and periodontal disease, 50% of participants believe that pregnancy prejudice the teeth, 80% believed that
pregnant cannot refer to all types of dental treatment and 70% say that anesthesia can prejudice the fetus.Thus, it
is necessary that had a greater interaction between the staffs of Oral Health and Family Health that realize prenatal
care, so that these informations are conveyed more clearly and sharply to pregnant.

1- Especialista em Saúde da Família pela Universidade Estadual da


Paraíba (UEPB), Campina Grande, Paraíba, Brasil.

2- Professora Dra. da Disciplina de Estomatologia da Universidade


Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, Paraíba, Brasil.

3- Mestrando (a) em Clínica Odontológica pela Universidade Estadual


da Paraíba (UEPB), Campina Grande, Paraíba, Brasil.

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INTRODUÇÃO popular tem muitos atributos negativos relacionados à saúde bucal e saúde do
A maternidade é um momento mui- em relação ao tratamento odontológico bebê em uma Unidade de Saúde da Fa-
to importante no ciclo vital feminino, como a perda de um dente a cada gravi- mília localizada na cidade de Campina
no qual a mulher tem oportunidade dez; o enfraquecimento dos dentes pela Grande,Paraíba.
de alcançar novos níveis de integração retirada de cálcio pelo feto; a perda do
e desenvolvimento da personalidade. feto devido ao uso de anestésicos; he-
morragia; danos à formação do feto, o METODOLOGIA
Considerando a grávida como um ser
dotado de necessidades afetivas que que afasta as gestantes do consultório Esse estudo foi caracterizado como
devem ser compreendidas e atendidas, odontológico6,1. Dessa forma, é impor- transversal de caráter exploratório,
alguns conhecimentos, como os rela- tante que o cirurgião-dentista desenvol- descritivo, com abordagem quanti-
cionados à saúde bucal, devem ser re- va atividades de educação em saúde para -qualitativa e observação direta in-
passados durante o pré-natal para pre- desmistificar essas crenças, melhorar a tensiva durante os meses de agosto e
pará-la para o nascimento do seu filho1. adesão e confiança deste grupo em rela- setembro de 2009. O instrumento uti-
ção ao pré-natal odontológico7. lizado para a coleta das informações foi
Durante a gravidez, algumas mulhe-
res têm o risco à cárie dentária aumen- O documento que define as bases do o questionário.
tado. Segundo Reis et al. (2010)2, esse Programa de Saúde da Família aponta A Unidade de Saúde da Família foi
agravo provavelmente está relacionado para a priorização das ações de promo- escolhida através de método não pro-
com possíveis negligências com a higie- ção e proteção à saúde dos indivíduos e babilístico e está localizada no bairro
ne bucal, maior exposição do esmalte da família, de forma integral e contínua, Novo Horizonte na cidade de Campina
dentário ao ácido gástrico (vômito) e abrangendo adultos e crianças sadias e Grande. Este município está localizado
aumento da frequência de refeições, doentes. Trata-se de uma estratégia para no interior do estado da Paraíba, na
muitas vezes, rica em alimentos cario- consolidar os princípios do SUS: univer- região do agreste, na parte oriental do
gênicos. Esses eventos podem provocar salidade, descentralização, integralidade Planalto da Borborem,a a 125 km da
alterações da microbiota bucal carac- e participação da comunidade8. capital João Pessoa12.
terizada pelo aumento do número de A inserção da odontologia no Pro- Esse estudo foi aprovado pelo Comitê
alguns microrganismos como Strepto- grama de Saúde da Família ocorreu de Ética e Pesquisa da Universidade Esta-
coccus mutans, Lactobacilos e Prevotella através das Portarias Ministeriais 1.444 dual da Paraíba e atendeu aos requisitos
intermédia, assim como uma diminui- de 28/12/2000 e 267 de 29/09/2001 estabelecidos pela Resolução nº196/96
ção das concentrações de cálcio e fos- com o objetivo de ampliar e reorientar a
do Ministério da Saúde, que regulamenta
fato na saliva, afetando a capacidade atenção odontológica no Brasil, alteran-
pesquisas com seres humanos13.
tampão salivar3. do o perfil de uma prática odontológica
meramente assistencialista, inserindo a O universo da pesquisa foi constitu-
Os hormônios sexuais femininos es-
trógeno e progesterona têm sido im- odontologia integralmente na saúde9. ído por todas as gestantes atendidas no
plicados na exacerbação da resposta Durante a gestação, a mulher está Programa de Pré-natal dessa USF. A co-
inflamatória à agressão do biofilme aos mais receptiva a adquirir novos co- leta de dados foi realizada por um único
dentes das pacientes gestantes, cujas nhecimentos, bem como a modificar pesquisador, na recepção da unidade,
ações e efeitos ocorrem sobre os tecidos certos hábitos que possam beneficiar a durante o período de espera da consulta
gengivais e sobre o sistema imunológi- saúde e o desenvolvimento do bebê2,10, do pré-natal com médico e enfermeira.
co, favorecendo a formação de substân- o que torna primordial o papel do A participação das gestantes foi voluntá-
cias mediadoras da inflamação, e sobre a cirurgião-dentista como promotor da ria, e o convite realizado no momento
composição da microbiota subgengival4, saúde, participando do programa de da aplicação do questionário.
contribuindo para uma maior intensida- pré-natal11, e assim atender as reco- A amostra foi composta por dez ges-
de nas respostas inflamatórias5. mendações das atuais Políticas Públicas tantes que responderam a um questio-
Além dessas mudanças físicas que de Saúde que objetivam a integração nário com 23 perguntas, entre objetivas
ocorrem nesse período, existem cren- do trabalho das equipes de Saúde Bucal e/ou subjetivas, para identificar o seu
ças e mitos envolvendo a saúde do bi- junto ao da Estratégia da Família7. perfil socioeconômico, avaliar o conhe-
nômio mãe-filho. Entre elas, encontra- Assim, esse estudo teve como obje- cimento sobre saúde bucal, assim como
-se a atenção odontológica tida como tivo analisar a percepção de gestantes a percepção em relação ao atendimento
prejudicial e contra-indicada. O folclore em relação a alguns aspectos e mitos odontológico por elas recebido.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO multifatorial que leva à doença cárie, gistas e pediatras têm um papel funda-
O perfil jovem caracterizou as ges- doença periodontal e a relação en- mental no estímulo das gestantes para
tantes entrevistadas para este estudo tre essas doenças e outros problemas manutenção ou tratamento da saúde
com idade variando entre 14 e 35 anos, odontológicos que possam repercu- bucal durante a gravidez.
como se observa na Tabela 1 que ca- tir sobre a saúde do feto. Este achado Em pesquisa realizada com 17 mé-
racteriza o perfil socioeconômico das sugere que as atividades de educação dicos obstetras, Feldens et al. 19 (2005)
participantes. A amostra foi composta em saúde recomendadas pelo Minis- avaliaram o grau de conhecimentos
por 40% de adolescentes (entre 14 e tério da Saúde17 (BRASIL, 2004) para desses profissionais em relação à saúde
17 anos). Essa precocidade pode estar fortalecer a autonomia dos usuários bucal de gestantes. Constataram que,
associada com a tendência de queda na no controle do processo saúde-doença cinco profissionais orientam as pacien-
idade média da menarca e da iniciação e na condução de seus hábitos, com o tes a procurarem orientação odon-
sexual, a falta de informação sobre mé- objetivo de melhorar a qualidade de tológica apenas quando apresentam
todos contraceptivos e a dificuldade de vida, precisam ser reavaliadas pelos queixa, dor ou sangramento gengival,
acesso a estes14,15. profissionais da unidade. e três nunca encaminham. Os autores
A renda familiar da maioria das par- Em relação ao entendimento das observaram que algumas orientações e
ticipantes (70%) não ultrapassava um participantes sobre o processo biológi- condutas médicas, como a prescrição
salário mínimo, o que corrobora o co da cárie dentária: de suplementos de flúor para as ges-
perfil socioeconômico da área onde se “É uns bichinhos que comem os restos tantes, não apresentam base científica,
situa a USF Novo Cruzeiro, que apre- de comida do dente e furam os dentes”. mas constituem-se em práticas comuns
senta famílias de baixa e média classe realizadas por esses profissionais.
“Um descuido da pessoa.”
social. O grau de escolaridade da maio- Os dados da Tabela 2 mostram que a
ria foi considerado baixo, refletindo o Quando indagadas sobre o que en- maioria das gestantes não tem o hábito
pouco conhecimento sobre saúde bu- tendiam sobre doença periodontal, a de utilizar o fio dental e que ainda exis-
cal que apresentavam. Para Sartório maioria afirmou que nada sabia. Uma tem pessoas que não escovam os den-
Machado16 (2001), tanto o nível edu- relatou que está relacionada à má hi- tes diariamente. Silva, Stuani e Quei-
cacional quanto o nível socioeconômi- giene bucal: roz5 (2006) reforçam a importância
co influenciam significativamente nos “São as doenças causadas por falta de de se conscientizar as gestantes sobre
níveis de conhecimentos e cooperação cuidado com a boca”. as mudanças fisiológicas que ocorrem
dos pacientes. A falta de conhecimentos sobre esses durante a gestação e a necessidade do
A maioria das grávidas afirmou que agravos pode ser justificada pelo baixo controle do biofilme dental.
estava na primeira gestação, e não hou- nível de escolaridade das participan- Embora o acesso à saúde bucal te-
ve confirmação da existência de há- tes. Porém, é necessário acentuar que nha melhorado significativamente no
bitos deletérios que pudessem trazer os dados sugerem que tanto a Equipe Brasil desde a inserção de Saúde Bucal
prejuízos a elas e/ou aos seus bebês. de Saúde da Família quanto a Equipe no Programa de Saúde da Família, um
Nove gestantes disseram estar fazendo de Saúde Bucal não estavam sendo efi- dado importante e preocupante desse
o acompanhamento pré-natal, o que cientes em relação à transmissão dessas estudo (Tabela 2) foi o relato da maio-
pressupõe ser uma garantia de que se- informações para as gestantes durante ria das gestantes que declararam só ir
rão bem assistidas e orientadas. o programa pré-natal. ao cirurgião-dentista quando sente
Quanto aos cuidados sobre saúde Silva, Stuani e Queiroz5 (2006) afir- algum desconforto bucal. Reis et al..2
bucal (Tabela 2), 70% da amostra de- mam que as orientações e conheci- (2010) ressaltam a importância de in-
clarou tê-los recebido durante o acom- mentos direcionados às gestantes com formar a população que a prevenção
panhamento do pré-natal. Esse resulta- relação à saúde bucal são importantes primária constitui uma estratégia es-
do está em desacordo com os achados para o estabelecimento de hábitos favo- sencial para o controle e prevenção dos
de Bastiani et al.10 (2010), que obser- ráveis que permitam a manutenção da agravos a saúde bucal.
varam, em seu estudo, que 33% das saúde bucal e impeçam ou posterguem Observa-se claramente que as ges-
gestantes não haviam recebido esses a transmissão de microrganismos para tantes entrevistadas desconheciam a
esclarecimentos. Contudo, a maioria seus filhos. Nesse sentido, Konishi, relação existente entre sua saúde bu-
das entrevistadas demonstra desconhe- Abreu e Lima18 (2002) afirmam, em cal e a gravidez, quando indagadas se
cimento total do processo biológico e seu trabalho, que os médicos ginecolo- sabiam da existência entre problemas

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odontológicos e a saúde do feto: -dentistas, associada ao autoritarismo, Segundo Silva e Martelli7 (2009),
“Não há problema. Pois eu sei que gera descrédito no diagnóstico e nos é necessário que os profissionais da
anestesia não faz mal para o bebê em procedimentos realizados. odontologia e da estratégia de saúde
nenhum momento da gravidez.” Segundo Codato, Nakama e Mel- da família construam uma nova forma
chior6 (2008), a procura por atenção de pensar e atuar de acordo com a re-
“Só que puxa o cálcio dos dentes da mãe.” alidade da área na qual estão inseridos,
odontológica durante a gestação é per-
Segundo Bastiani et al.10 (2010), para estabelecer as prioridades em re-
cebida entre as usuárias do SUS como
muitas gestantes acreditam nessa hi- lação aos problemas encontrados em
continuidade da atenção prestada des-
pótese de doação de cálcio dos dentes parceria com a comunidade rumo ao
de a infância, ou em função do atendi-
da mãe para os ossos do feto. Porém, fortalecimento da Atenção Primária à
mento odontológico recebido durante
esse mineral advém da dieta ingerida Saúde, à Saúde Bucal Coletiva e à con-
a gestação. As gestantes participantes
pela mãe que deve ser rica naquele e solidação do SUS. Segundo Bastiani et.
dessa pesquisa relataram que ficaram
em outros nutrientes essenciais para o al.10 (2010), é necessário a instalação
satisfeita com o atendimento odonto-
desenvolvimento do feto. de medidas educativas e preventivas
lógico recebido:
Os resultados do estudo de Vieira e frequentes às gestantes e, uma maior
“Sim, porque se preocupa e integração entre classe médica e odon-
Zocrato3 (2007) apresentam concor-
sabe trabalhar”. tológica, visando um melhor esclare-
dância com os resultados desta pes-
quisa quando observam que a maioria “Fiquei, achei muito bom por ser um cimento sobre a seguridade do trata-
das gestantes não busca atendimento homem, isso me traz segurança, sem fa- mento odontológico curativo.
odontológico por acreditar que não lar da sua simpatia, ele é muito alegre”.
pode receber esse atendimento, por “Sim, ele é uma pessoa muito legal e CONSIDERAÇÕES FINAIS
fobia ao cirurgião-dentista e ao trata- carinhosa com as pessoas”. O estudo realizado mostrou que a
mento odontológico e, principalmen- Nenhuma das participantes relatou população pesquisada, independente
te, por achar que a anestesia pode tra- dificuldades em relação ao acesso aos da idade, grau de escolaridade ou nível
zer consequências para o feto. A falta serviços odontológicos na atenção pri- socioeconômico, ainda apresenta es-
de informação por parte das gestantes mária daquela unidade de saúde. Esses cassos conhecimentos sobre o processo
pode ser a justificativa para não pro- resultados contrastam com os obtidos saúde/doença, e os cuidados sobre a
curarem o atendimento odontológico em pesquisa realizada por Albuquer- vigilância em saúde bucal não são reali-
nesse período. que, Abegg e Rodrigues20 (2004), na zados de forma eficiente.
Estudo de Albuquerque, Abegg e qual as gestantes apontam a existência Percebe-se que as gestantes desco-
Rodrigues20 (2004) avaliou a percep- de dificuldades para o agendamento nhecem a relação que existe entre a sua
ção de gestantes de um Programa de porque o cirurgião-dentista desacon- saúde bucal e a saúde do bebê e estão
Saúde da Família em relação a barreiras selha o tratamento durante a gravidez; presas ao mito de que os procedimentos
enfrentadas para atendimento odonto- falta de tempo; pouca credibilidade nos odontológicos podem prejudicar o feto.
lógico. Os autores observaram que as procedimentos efetuados e no diagnós- Assim, é necessário que haja uma maior
crenças populares afastam as gestan- tico do dentista; localização do con- interação entre a equipe de Saúde Bucal
tes dos profissionais de odontologia sultório; absenteísmo do profissional; e Equipe de Saúde da Família que realiza
durante a gestação. Muitas associam desconhecimento por parte das gestan- o pré-natal para que essas informações
a dor de dente à gravidez e, segundo tes da existência do serviço gratuito e sejam transmitidas de forma mais clara
os autores, a imagem dos cirurgiões- falta de informação. e incisiva para as gestantes.

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100 Anuário de Artigos Científicos 2014

VARIÁVEIS CLASSE n %
14 2 20
16 1 10
17 1 10
23 1 10
Idade
24 1 10
26 1 10
28 1 10
35 2 20
Casado(a) 6 60
Estado Civil Solteiro(a) 3 30
União estável 1 10
Até 1 salário mínimo 7 70
Renda Familiar
Mais de 1 até 5 salários mínimos 3 30
Ensino fundamental incompleto 6 60
Ensino médio incompleto 1 10
Escolaridade
Ensino médio completo 2 20
Ensino superior completo 1 10
Do lar 7 70
Ocupação Estudante 1 10
Não informada 2 20
Tabela 1 – Caracterização da amostra de acordo com o perfil sócio-demográfico da população estudada.

VARIÁVEIS CLASSE n %
SIM 9 90
Escova os dentes diariamente?
NÃO 1 10
Duas 3 33,3
Quantas vezes?
Três 6 66,7
SIM 2 20
Usa o fio dental diariamente?
NÃO 8 80
Uma 1 50
Quantas vezes?
Três 1 50
Anualmente 1 10
Com qual frequência vai ao Dentista?
Só quando têm problemas bucais 9 90
Você acha que a gravidez SIM 5 50
prejudica os dentes? NÂO 5 50
A gestante pode se submeter ao trata- SIM 2 20
mento odontológico? NÃO 8 80
SIM 7 70
A anestesia pode prejudicar o feto?
NÃO 3 30
Tabela 2 – Caracterização da amostra em relação aos conhecimentos sobre saúde bucal.

Canela, Marcus Vinicius et al. Percepção de Gestantes Sobre Conhecimentos de Saúde Bucal em Uma Unidade de Saúde da Família

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 101

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102 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Uso do ácido hialuronico como


tratamenta dos desarranjos internos da
articulação temporomandibular
Use hyaluronic acid as a treatment for internal
derangement of the temporomandibular joint
Palavras-Chaves: Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular/complicações, Ácido Hialurônico
Key-words:Temporomandibular Joint Dysfunction Syndrome,Viscosupplements, Hyaluronic Acid

Fabio Sevilha*
RESUMO
As desordens têmporo-mandibulares (DTMs) são definidas como um termo am-
Gabriel Campolongo**
plo e coletivo que designa uma quantidade de problemas clínicos que envolvem a
Tarley Pessoa de Barros***
musculatura mastigatória, a articulação têmporo-mandibular (ATM), bem como
Milagros Del Valle Abras Ankha****
a associação de ambas. Os desarranjos internos da ATM (DIATM), geralmente vão
Stephanie Teixeira*****
acompanhados pela mudança da composição bioquímica do liquido sinovial, um
dos componentes dessa articulação encarregado de lubrificar, fagocitar os indutos
particulados e nutrir a cartilagem articular. O acido hialurônico, é um consti-
tuinte importante da matriz extracelular que está presente em concentrações
particularmente elevadas nas cartilagens e no líquido sinovial, proporcionando
propriedades analgésicas, antiinflamatórias e regenerativas. Poucos estudos têm
sido publicados do uso do ácido hialurônico em disfunções articulares, embora a
maioria obtivesse bons resultados particularmente em alterações degenerativas
de joelho. Este trabalho tem como objetivo apresentar um caso clínico de pacien-
te com DIATM que não respondeu satisfatoriamente ao tratamento conservador.
A qual foi tratada com viscossuplementação.

ABSTRACT
The temporomandibular disorders (TMD) are defined as a broad term that refers to a collective and quantity
of clinical problems that involve the masticatory musculature, the temporomandibular joint (TMJ), as well as
a combination of both.The internal derangements of the TMJ (DIATM) usually are accompanied by changes in
biochemical composition of the synovial fluid, a component of this joint charge of grease, inducts phagocytose
particulates and nourish the articular cartilage. Hyaluronic acid is a major constituent of the extracellular
matrix is present in particularly high concentrations in cartilage and in synovial fluid, providing analgesic,
anti-inflammatory and regenerative. Few studies have been published the use of hyaluronic acid for joint disorder,
although most obtain particularly good results in degenerative changes of the knee. This paper aims to present
a case of a patient with DIATM not responded satisfactorily to conservative treatment.Which was treated with
viscosupplementation.

* Mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial, professor do


curso de odontologia da FACIG e UNIAN

** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da FACIG e UNIAN

*** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da FACIG e UNIAN

**** Cirurgiã Bucomaxilo Facial – Mestranda do Programa de


Biopatologia Bucal com área de concentração em Patologia Bucal da
UNESP, SJ dos Campos-SP

***** Cirurgiã Dentista, Especilista em Implante, Professora do curso


de odontologia da FACIG

Sevilha, Fabio et al. Uso do Ácido Hialuronico como Tratamento dos Desarranjos Internos da Articulação Temporomadibular.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 103

INTRODUÇÃO constituinte importante da matriz ex- trocentese com solução irrigadora de


As desordens têmporo-mandibulares tracelular; e que está presente em con- Ringer Lactato junto com a aplicação
(DTMs) são definidas como um ter- centrações particularmente elevadas de Acido Hialurônico.
mo amplo e coletivo que designa uma nas cartilagens e no líquido sinovial. O procedimento foi realizado sub-
quantidade de problemas clínicos que Essa substância apresenta propriedades -sedação consciente e anestesia local da
envolvem a musculatura mastigató- analgésicas, anti-inflamatórias e rege- região pré-auricular e intra-articular
ria, a articulação têmporo-mandibular nerativas. (Schiavinato, 2002) bilateral com o bloqueio do nervo au-
(ATM), bem como a associação de am- O HA tem sido usado em diversas riculotemporal, após antissepsia e iso-
bas. (Nitzan DW, 2003) especialidades médicas, dentre as quais lamento da área com campo estéril.
A disfunção interna da ATM dermatologia, ortopedia, otorrinola- Dois pontos são marcados sobre a fossa
(DIATM) é uma condição complica- ringologia e oftalmologia. Na derma- e a eminência articulares, determinados
da e freqüentemente acompanhada de tologia, o HA tem sido empregado no por duas agulhas calibre 40x12mm na
dor facial, diminuição da mobilidade tratamento de úlceras crônicas de pele, região da ATM, tomando-se como re-
articular, alteração da forma, mudança acelerando a cicatrização dessas lesões ferência uma linha imaginária, unindo o
na composição bioquímica do líquido e no preenchimento de rugas faciais. tragus ao canto externo do olho. Uma
sinovial, um dos componentes dessa Em ortopedia, no preenchimento de agulha é colocada a 2 mm abaixo da li-
articulação, que tem a função de lubri- articulações acometidas por osteoar- nha e 10mm a frente do tragus auricular
ficar a articulação, fagocitar os indutos trose e por artrite. Em otorrinolarin- e a segunda, a 10 mm abaixo da linha
particulados e nutrir a cartilagem arti- gologia, como adjuvante na cicatriza- e 20 mm à frente do tragus auricular.
cular. (Quinn JN et al. , 1990; Kaplan et ção de perfurações timpânicas. (Goa Dessa forma, permite-se a lavagem da
al. , 1991; Alstegren P e Koop S, 2000) KL, 1994; Belkin M, 1996) articulação com solução de 100ml de
Recentemente tem sido utilizado o Ringer Lactato através de uma das agu-
Recentes avanços da cirurgia artros- lhas, enquanto a outra permitirá um
cópica, artrocentese e análises molecu- HA na odontologia para desarranjos in-
ternos das ATMs, preenchimento labial fluxo livre da solução através do espaço
lares do líquido sinovial (LS) indicam articular e extravasamento do líquido
e na periodontia para aumento estéti-
que processos inflamatórios, incluindo para fora da cavidade bilateral. Posterior
co das papilas gengivais. (Swan 1974;
desordens degenerativas e sinovites, à lavagem da ATM foi infiltrado 1,5ml
Koop, 1981; Berker, W et al. 2010)
estão correlacionados com alterações de acido hialurônico no compartimen-
bioquímicas desse fluido, fornecendo, O objetivo deste trabalho é de estu-
dar e compreender o efeito do acido to superior da articulação. No pós-
assim, uma tentativa de compreensão -operatório imediato foi indicado o uso
da fisiopatologia das DTMs. hialurônico nas disfunções articulares
assim como de apresentar de um caso de placa miorelaxante e fisioterapia de
A viscossuplementação com injeção abertura e fechamento bucal.
clínico de disfunção interna da ATM.
intra-articular de hialuronato de sódio No pós-operatório de 15 dias a pa-
ou sal de sódio do ácido hialurônico, ciente relatou melhora da dor (3 na
foi primeiramente utilizado para trata- PACIENTES E MÉTODO
EVA) diminuição dos estalos e abertura
mento de artrite traumática em cavalos Paciente feminina 37 anos de idade, bucal de 3,00 cm. Aos 30 dias melhora
de corrida Butler (1970), passando a que compadeceu no serviço de CTBMF da dor (1 na EVA), abertura bucal de
ser usada em humanos para osteoartri- do Hospital Santa Casa de Misericórdia 3,90 cm, diminuição dos estalos e fun-
te das grandes articulações como joe- de Santo Amaro, relatando dor severa ção mastigatória assintomática.
lho, quadril e ombro. A partir de 1979, (9 na EVA) na região de ATM bilate-
o HA começou a ser indicado nas alte- A aplicação do acido hialurônico para
ralmente sendo o lado esquerdo o mais
rações internas das ATM Koop (1981). tratamento da DIATM demonstrou em
afetado, estalos e limitação da função há
Desde então alguns estudos têm pro- pouco tempo obter uma evolução satis-
1 ano, tratada inicialmente com terapia
curado avaliar a efetividade da técnica, fatória em comparação com experiências
medicamentosa e placa mio-relaxante
bem como estabelecer um protocolo anteriores a onde só foi utilizado o ringer
por 6 meses exacerbando a dor por um
para sua utilização lactato para artrocentese da articulação.
período de tempo, recidivando com
O ácido hialurônico (HA) é um po- uma dor moderada (7 na EVA), estalos e
límero natural da família dos glicosa- limitação eventual da função. DISCUSSÃO
minoglicanos (mucopolissacarídeo), A proposta do tratamento foi a ar- As articulações temporomandibula-

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104 Anuário de Artigos Científicos 2014

res são diartroses revestidas interna- desarranjos internos da articulação são injeções intra-articulares pode poten-
mente por uma membrana que pro- algumas das indicações para a realização cializar os efeitos regenerativos do HA
duz o líquido sinovial, que preenche de tal procedimento. (Nitzan, et. Al., endógeno sobre a cartilagem articular,
o espaço articular superior e inferior. 1991; Frost DE, et al. , 1999; Barkin and restituindo a viscoelasticidade do lí-
O líquido sinovial é responsável pela Weinberg, 2000;Yoda T, et al. , 2002) quido sinovial, inibindo a degradação
nutrição e lubrificação dos tecidos arti- Baseado nos resultados das lavagens condral e as respostas inflamatórias
culares, estando sua quantidade e qua- e lise dentro da articulação considera- articulares. Atribui-se a estes efeitos
lidade diretamente relacionadas à saú- dos satisfatórios, uma teoria alternativa da terapia com HA não só a sua capa-
de e à função articular. É formado por para o tratamento da restrição de mo- cidade em amenizar os sintomas rela-
um ultrafiltrado do plasma através da vimentos da ATM foi proposta inicial- cionados à osteoartrose, mas também
membrana sinovial, cujas células secre- mente por Nitzan, et al. (1991). Dimi- sua interferência na progressão da de-
tam um mucopolissacarídeo contendo troulis G, et al. (2006) comenta que a generação articular. (Yoshimi T, 1994;
ácido hialurônico e pequena quantida- teoria supõe que a severa limitação de Listrat V, 1997; Schiavinato A, et. al.,
de de proteínas de alto peso molecu- abertura bucal não é causada pela for- 2002; Hulmes DJ, 2004)
lar. (Bertolami CN, 1991; Strasinger, ma ou pela posição anormal do disco, A maioria dos trabalhos demonstra
1991; Sato S, 2001) mas pode ser resultante da restrição do a melhora dos resultados clínicos com
Estudos onde analisaram ATMs com deslizamento ou do deslocamento para o uso de HA na articulação. Para que a
disfunções, encontraram uma diminui- diante do côndilo causado pela aderên- ATM execute os diversos movimentos
ção do peso molecular do ácido hia- cia do disco à fossa. Isso pode ser cau- mandibulares, deve prevalecer a asso-
lurônico. Isso foi observado, principal- sado por um efeito de vácuo criado ou ciação do bom funcionamento das es-
mente, nos casos de disfunção interna também pela mudança de viscosidade truturas que compõem a articulação,
do disco com clique e em portadores do líquido sinovial. Tais eventos podem superfícies articulares, disco e líquido
de osteoartrite. Os autores justifica- ocorrer em conseqüência da pressão sinovial. Além disso, o LS deve pos-
ram que isso ocorre provavelmente, existente na articulação, como nos ca- suir bastante elasticidade e viscosida-
pela despolimerização dos radicais li- sos de pacientes com bruxismo. de para proteger as superfícies articu-
vres da cadeia de HA ou por uma anor- Apesar de não existirem estudos lares tanto do osso quanto do disco.
mal biossíntese do LS. Contudo, essa longitudinais e a comparação entre Como o HA é uma substância natural
alteração pode esclarecer o mecanis- os sucessos e insucessos em relação à produzida no fluido sinovial, e está
mo para as mudanças na lubrificação artrocentese, a literatura mostra a ne- em quantidade abundante na cartila-
da ATM e na fisiopatologia das DTMs. cessidade de mais trabalhos que tragam gem e no líquido articular, acredita-
(Listrat,1995; Takahashi et al. , 2004). comprovação científica quanto a sua in- -se que a substituição do HA dentro
Em quanto ao tratamento das DTMs, dicação e previsibilidade de resultados. do espaço articular pode favorecer a
as terapias clínicas conservadoras de- Murakami (1995) obteve eficácia de estrutura sinovial e diminuir a doença
vem sempre prevalecer antes das cirúr- 70%; Dimitroulis (1995) com 98%; articular. (Balazs EA,1993; Goa KL,
gicas, exceto obviamente, em casos de Hosaka (1996) com 79%; Fridrich 1994; Alpaslan e Sato, 2001; Alpas-
traumas, lesões congênitas e alterações (1996) com 75%; Nitzan (1997) com lan, Chris FR e Sato S, 2003; kummer
de desenvolvimento. Dessa forma, 95% credenciam a artrocentese como MP, Bjornland, Gjaerum e Moystad,
considera-se que a falha no tratamento um procedimento eficaz devido às ta- 2007; Oliveiras-Moreno et. al., 2008;
conservador prévio é a principal indi- xas relativamente altas de sucesso. Uchoa M, 2009; Guards-Nardini e
cação de tratamento cirúrgico na ATM O HA, é um polissacarídeo da família Long, 2009; Negreiros MC, 2010; Al-
e a primeira escolha é a artrocentese. dos glicosaminoglicanos, contribui para bano MB et al. , 2010; Bonotto D, et
A artrocentese da articulação tem- a homeostase da articulação normal e al. , 2011)
poromandibular é comumente definida apresenta-se em menor concentração Baseado no paciente acima, o ácido
como a lavagem da articulação, sendo e com peso molecular diminuído no lí- hialuronico como viscossuplementa-
tradicionalmente realizada sem visuali- quido sinovial, nas articulações com os- dor no tratamento das alteração inter-
zação direta desta. O deslocamento de teoartrose. (Butler J, et. al. 1970; Koop nas da ATM, tem sido uma boa alter-
o disco articular com ou sem redução, S, et al. 1981;Yoshimi T, 1994; Listrat V, nativa para diminuição da dor, melhora
a limitação da abertura bucal com ori- et. al., 1997; Shiavinato A, 2002) do estalido e da crepitação, assim como
gem articular, a dor articular e outros O HA administrado na forma de da função mastigatória.

Sevilha, Fabio et al. Uso do Ácido Hialuronico como Tratamento dos Desarranjos Internos da Articulação Temporomadibular.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 105

CONCLUSÃO de acelerar a reparação tecidual, me- não de substâncias nas alterações articu-
O HA é usado para tratamento de lhorando os sintomas da dor articular lares, portanto mais estudos devem ser
disfunções das articulações sinoviais, já e a função mandibular a curto e longo feitos com provas e resultados objetivos
que aumenta a viscosidade do liquido prazo. Poucos estudos não encontraram para demonstrar realmente a eficácia e o
sinovial proporcionando analgesia além diferença significativa quanto ao uso ou efeito regenerativo do HA.

Fig. 1 Artrocentese com Rl 100ml Fig. 2 Infiltração da ATM com Acido Hialurônico 1,5ml

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108 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Estudo de prevalência das lesões da região


bucomaxilofacial em um Centro de Referência
na região Nordeste do Brasil
Prevalence study of oral and maxillofacial lesions in
a Referral Center in northeastern region of Brazil
Palavras-chave: patologia oral, prevalência, fatores de risco.
Keywords: oral pathology, prevalence, risk factors.

Claudia Leal Sampaio SUZUKI1,


RESUMO
A proposta deste artigo foi verificar a prevalência das lesões da região buco-maxi-
Deyvid da Silva REBOUÇAS2,
lo-facial, bem como explorar os seus fatores de risco em indivíduos atendidos no
Fabrício dos Santos MENEZES3,
Centro de Referência de Lesões Bucais (CRLB) da Universidade Estadual de Feira
Márcio Campos OLIVEIRA4,
de Santana (UEFS). Foram verificados 391 prontuários de pacientes atendidos no
Michelle Miranda Lopes FALCÃO5,
CRLB que possuíam resultado do exame histopatológico entre os anos de 2000
Valéria Souza FREITAS6,
a 2007. Os dados foram analisados utilizando o programa Statistical Package for
Nilton César Nogueira dos SANTOS7,
Social Science - SPSS, versão 10.0. Para testar a associação entre as variáveis foi
Tarsila de Carvalho Freitas RAMOS8
utilizado o Teste Qui-Quadrado de Homogeneidade e Independência, com nível
de significância de 0,05. Observou-se que 69,1% dos indivíduos eram do sexo
feminino, 61,8% encontravam-se na faixa etária acima dos 40 anos e 82,7% eram
não brancos. A localização mais acometida por lesões foi a mucosa jugal (17,5%)
e a lesão mais prevalente foi a hiperplasia (18,2%). Observou-se associação signi-
ficativa entre o uso de prótese com hiperplasia; e consumo concomitante de be-
bidas alcoólicas e uso do tabaco com carcinoma de células escamosas. Os achados
revelaram maior prevalência das lesões não neoplásicas, sendo que a hiperplasia e
o mucocele foram as mais frequentes.

ABSTRACT
OBJECTIVE: To determine the prevalence of oral and maxillofacial lesions in patients treated at the Oral Lesion
Referral Center of Universidade Estadual de Feira de Santana (Bahia, Brazil) and to identify risk factors associated
with these lesions. METHODS:The records from 391 patients submitted to histopathological examination between
1- Mestra em Clínica Odontológica Área de Endodontia Faculdade 2000 and 2007 were evaluated.The Statistical Package for Social Sciences (SPSS, version 10.0) was used for sta-
de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas,
claudinhasuzuki@yahoo.com.br ;
tistical analysis. Chi-square tests for homogeneity and independence were used to test associations between variables,
with the level of significance set 0.05. RESULTS: Among the patients, 69.1% were females, 61.8% were over 40
2- Residente do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo- years of age, and 82.7% were non-Caucasian.The oral mucosa was the site most affected by the lesions (17.5%)
facial do Hospital Geral da Bahia, deyvided@yahoo.com.br; and hyperplasia was the most prevalent lesion (18.2%). A significant association was observed between denture use
and hyperplasia, and between squamous cell carcinoma and the simultaneous consumption of alcohol and tobacco.
3- Professor da Universidade Federal de Sergipe, CONCLUSION:The results showed a higher prevalence of non-neoplastic lesions. Hyperplasia and mucocele were
fabriciomenezes@msn.com ;
the most frequent lesions. A significant association was observed between denture use and hyperplasia, and between
4- Professor Adjunto da Disciplina de Patologia Bucal da Universidade simultaneous consumption of alcohol and tobacco and squamous cell carcinoma.
Estadual de Feira de Santana (UEFS), marcio@patologiaoral.com.br ;

5- Professora Assistente da Disciplina de Patologia Bucal da UEFS,


michellefalcao@gmail.com ;

6- Professora Adjunta da Disciplina de Patologia Bucal da UEFS,


valeria.souza.freitas@gmail.com ;

7- Professor Assistente da Disciplina de Odontopediatria da


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, santosncn@gmail.com ;

8- Professora Assistente da Disciplina de Patologia Geral da UEFS,


tarsilafreitas@yahoo.com.br

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 109

INTRODUCTION logical report, the lesions were classified


facial lesions were more frequent among
In the case of Brazil, a country of conti- into non-neoplastic alterations, benign
women (69.1%), in agreement with the
nental dimensions, it is fundamental that neoplasms and malignant neoplasms ac-
findings of Torreão et al. (1999), and
studies on this subject are conducted in cording to the classification proposed by
disagreeing with Mumeu et al. (2005).
the different regions of the country since Almeida et al. (1987) and adapted on the
With respect to age, there was a pre-
socioeconomic, culture and climatic dif- WHO classification (2005). dominance of oral lesions among pa-
ferences may result in distinct prevalence tients older than 40 years (61.8%), in
For analysis of the data, age was divided
rates of these types of lesions and may contrast to the findings of Cruz et al.
into two groups: 0 to 40 years and older
identify different factors associated with (2005). In the present study, 82.7% of
than 40 years (Ariyawardana et al. , 2007).
these conditions (Torreão et al. , 1999). the patients were non-Caucasian. Di-
With respect to race, the patients were
vergent results have been reported by
divided into Caucasian and non-Caucasian
Within this context, the Oral Lesion
Corrêa et al. (2006), who observed a
(black and mulatto).The results were ana-
Referral Center (CRLB) of Universidade
predominance of these lesions among
lysed using the Statistical Package for So-
Estadual de Feira de Santana (UEFS), Ba-
Caucasian patients. The site most af-
cial Sciences (SPSS), version 10.0, and are
hia, Brazil, is one of the main services that
fected by oral lesions was the jugal
reported as absolute and percent frequen-
offers comprehensive dental care to pa-
mucosa (17.5%). Similar finding have
cies. The chi-square test for homogeneity
tients with oral and maxillofacial lesions
been reported by García-PolaVallejo et
and independence was used to test the
from the interior of Bahia, a state locat-
al. (2002), whereas in the study of Nas-
association between the variables studied
ed in the northeastern region of Brazil.
cimento et al. (2005) most lesions were
and the most frequent lesions and their
Therefore, the objective of the present
observed in the mandibular region.
classification, with the level of significance
study was to determine the prevalence of
oral and maxillofacial lesions in patients set at 0.05. Epidemiological measures,
A predominance (80.3%) of non-neo-
seen at CRLB/UEFS and to identify risk prevalence risk and 95% confidence inter-
plastic alterations was observed in the
factors associated with these lesions. val (95% CI) were also calculated.present study, with hyperplasia being the
most frequent. Among benign neoplasms
RESULTS (14.8%), lipoma was the most frequent,
METHODS and squamous cell carcinoma was the most
The study population consisted of Among the subjects studied, 69.1% frequent malignant neoplasm (4.9%).
subjects from the municipality of Feira (n = 270) were females and 30.9% (n Non-neoplastic alterations were also the
de Santana/Bahia and other towns in = 121) were males; 38.2% (n = 147) most prevalent oral lesions in the study
the interior of Bahia seen at CRLB/ were in the 0-40 year age group, where- of Almeida et al. (1987) but, in contrast
UEFS. Only patients with a histopath- as 61.8% (n = 238) were older than 40 to the present findings, were followed by
ological report of lesions biopsied at years. With respect to race, 82.7% (n = malignant (29.4%) and benign neoplasms
CRLB between 2000 and 2007 were 292) were non-Caucasian and 17.3% (n (14.6%). In that study, the most frequent-
included in the study since biopsy and = 61) were Caucasian. These variables, ly diagnosed alterations in each group
subsequent histopathological. race and age, it was lost the informa- were nonspecific inflammation, squamous
tions because there didn’t appear in the
The study was conducted according records. The sites most affected by the cell carcinoma and papilloma, respec-
to Resolution 196/96 (Chapter IX.2) oral lesions were reported as shown in tively. Hyperplasia was the most prevalent
regarding research involving humans Table 1 and sixty-five different types of non-neoplastic alteration, as also reported
(Brasil, 1997) and was approved by the lesions were identified in the 391 histo- in the studies of Farah et al. (2008). A sig-
Ethics Committee of UEFS (protocol pathological reports as shown in Table 3. nificant association between hyperplasia
015/2008, CAAE 0015.0.059.000-08). In relation to the classification of lesions, and denture use has been reported in the
One of the researchers collected the fol- the following significant associations literature, showing that denture users are
lowing data from the charts of the par- were observed in Table 4. Regarding the more susceptible to acquiring these lesions
ticipants and recorded them on a specific different types of lesions, a significant (Espinoza et al. , 2003).
form: gender, age, race, use of dentures, association was observed in Table 5. Similar to the results reported by Nas-
consumption of alcoholic beverages, con- cimento et al. (2005), mucocele was the
sumption of different tobacco products, second most prevalent lesion and was
and simultaneous consumption of to- DISCUSSION significantly associated with age below
bacco and alcohol. Using the histopatho- In the present study, oral and maxillo- 40 years. The significant associations ob-

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110 Anuário de Artigos Científicos 2014

served between squamous cell carcinoma higher association being observed with the prevalence of non-neoplastic alterations,
and age above 40 years, tobacco consump- simultaneous consumption of these two with hyperplasia and mucocele being the
tion alone and simultaneous consumption substances compared to the use of either most frequent lesions. A significant as-
of alcohol and tobacco agree with the substance alone. sociation was observed between denture
findings of Amorim et al. (2002). Accord-
ing to the literature (Ariyawardana et al. , use and hyperplasia, and between simul-
2007), these findings support the syner- CONCLUSION taneous consumption of alcohol and to-
gistic effect of alcohol and tobacco, with a The present findings showed a higher bacco and squamous cell carcinoma.

Site n %
Jugal mucosa 68 17.5
Palate 58 14.9
Alveolar ridge 55 14.1
Lip 54 13.9
Tongue 48 12.3
Alveolar mucosa 30 7.7
Mandible 16 4.1
Floor of mouth 11 2.8
Others** 49 12.7
Total 389 100
Table 1 Sites* most affected by oral and maxillofacial lesions in patients seen at CRLB between 2000 and 2007
* Two results were lost for this variable, because it wasn’t included in the records. ** Maxilla, retromolar region, submandibular region, maxilla and mandible,
genian region of the face, mucocutaneous junction, neck, periapical region, oropharynx, and nose.

Site n %
Non-neoplastic alterations 314 80.3
Benign neoplasms 58 14.8
Malignant neoplasms 19 4.9
Total 391 100
Table 2 Frequency of oral and maxillofacial lesions classified into non-neoplastic alterations and benign and malignant neoplasms in patients seen at
CRLB between 2000 and 2007

Lesion n %
Hyperplasia 71 18.2
Mucocele 32 8.2
Hyperkeratosis 30 7.7
Fibroma 29 7.4
Peripheral ossifying fibroma 18 4.6
Pyogenic granuloma 17 4.3
Giant cell fibroma 14 3.6
Squamous cell carcinoma 14 3.6
Others* 166 42.4
Total 391 100
Table 3 Frequency of oral and maxillofacial lesions in patients seen at CRLB between 2000 and 2007
* Basaloid squamous carcinoma, chronic sialoadenitis, papilloma, melanotic macule, exogenous pigmentation, radicular cyst, peripheral giant cell lesion,
oral lichen planus, fibrous dysplasia, lipoma, hemangioma, periapical granuloma, verruca vulgaris, angiofibrolipomatous hamartoma, nevus, dentiger-
ous cyst, central giant cell lesion, verrucous carcinoma, polycystic adenosis, glandular odontogenic cyst, cemento-osseous dysplasia, ossifying fibroma,
lymphoid hyperplasia, salivary gland tumor, osteochondromatous nodule, atypical eosinophilic ulcer, lichenoid dysplasia, granular cell tumor, adenoma-
toid hyperplasia, moderate dysplasia, mild dysplasia, odontogenic keratocyst, pemphigoid, benign fibro-osseous lesion, bone sequestration, osteomy-
elitis, simple bone cyst, exostosis, severe dysplasia, neurofibroma, pleomorphic adenoma, mucositis, epidermoid cyst, nasolabial cyst, neurilemoma,
cystadenoma, sialolith, actinic cheilitis, calcifying cystic odontogenic tumor, pemphigus, inflammatory process suggestive of tuberculosis, odontogenic
cyst, white sponge nevus, clear cell adenocarcinoma, paracoccidioidomycosis, eruption cyst, and benign migratory glossitis.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 111

Table 4 Frequency of oral and maxillofacial lesions in patients seen at CRLB between 2000 and 2007 according to risk factor

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 113

Artigo Original

Utilização de resina de baixa viscosidade como


camada intermediária em restauração com
compósito resinoso
Flowable composite used as intermediate layer restored with dental composite

Palavras-chave: resina de baixa viscosidade, infiltração marginal, técnica restauradora.


Keywords: flowable composite, microleakage, restorative technique.

Natalia Maria Aparecida Pinto HERNANDESA, RESUMO


Diogo de Azevedo MIRANDA , A
Com uma incidência relativamente alta de cáries recorrentes devido à formação de
Conrado Reinoldes CAETANOB, espaços microscópicos na interface dente-restauração, possivelmente causados pela
Flávio Henrique Baggio AGUIARC alta contração de polimerização que ocorre nos compósitos resinosos, muitas pes-
quisas são realizadas no intuito de aprimorar a técnica restauradora empregada. Uma
das soluções encontrada na tentativa de minimizar o índice de infiltração marginal é a
utilização de resina de baixa viscosidade como camada intermediária entre o sistema
adesivo e a restauração com compósito convencional. As resinas de baixa viscosidade
apresentam baixas concentrações de matriz inorgânica e altas concentrações de mo-
nômeros diluentes, o que proporciona a esse material um baixo módulo de elasticida-
de que, segundo autores, é capaz de absorver a tensão de contração gerada no compó-
sito convencional, minimizando a formação de espaços microscópicos e aumentando,
assim, a longevidade do procedimento restaurador. O presente trabalho relata um
caso em que a resina de baixa viscosidade foi inserida como primeiro incremento da
restauração, seguindo a técnica restauradora “Centripetal open-sandwich”, tendo em
vista algumas vantagens desta técnica quando comparada às demais.

A
Alunos do curso de Doutorado em Clínica Odontológica, área
de concentração em Dentística, Programa de Pós-Graduação
em Odontologia da Faculdade de Odontologia, UNICAMP –
Universidade Estadual de Campinas,13414-903 Piracicaba - SP, Brasil
B
Aluno do curso de Graduação em Odontologia da Faculdade
de Odontologia, UNICAMP – Universidade Estadual de
Campinas,13414-903 Piracicaba - SP, Brasil
C
Professor titular da área de Dentística da Faculdade de
Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas
Faculdade de Odontologia, UNICAMP – Universidade Estadual de
Campinas,13414-903 Piracicaba - SP, Brasil

Hernandes, Natalia Maria Aparecida Pinto et al.Utilização de resina de baica viscosidade como camada intermediária em restauração com compósito resinoso

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114 Anuário de Artigos Científicos 2014

INTRODUÇÃO Estudos mostram menores índices de bilizado através de grampo e auxílio de fio
A odontologia restauradora tem infiltração marginal quando essa técni- dental, para que não houvesse contamina-
como objetivo restabelecer a forma ca é utilizada11-19 quando comparado à ção por fluídos bucais (Figura 3).
anatômica do elemento dental. Forma técnica em que não ocorre a aplicação Realizou-se a remoção da restauração
esta que pode ter sido perdida devido da resina de baixa viscosidade como em amálgama com pontas diamantadas
ao acometimento de uma lesão cario- primeiro incremento. esféricas com tamanho compatível com
sa, trauma do elemento dental ou até Assim, Fabianelli et al..19 (2010) o tamanho da cavidade e remoção de
mesmo elementos dentais que apre- avaliaram a qualidade do selamen- tecido cariado com brocas esféricas em
sentaram alguma alteração durante seu to marginal ao redor de restaurações, baixa rotação (Figura 4).
desenvolvimento. Por mais de um sécu- comparando as técnicas “Centripetal Sistema unimatrix (TVD Dental Ltda,
lo o amálgama de pra foi o material de Open-Sandwich” (aplicação da resina de Pomerode, SC, Brasil) foi posicionado
escolha para as restaurações em dentes baixa viscosidade antes da inserção do (Figura 5) para restauração do ponto de
posteriores, porém, devido às desvan- compósito convencional) e “Centripetal contato com o dente adjacente.
tagens desse material, como exemplo, Closed-Sandwich” (aplicação da resina Foi realizado o condicionamen-
a ausência de união ao elemento dental, de baixa viscosidade após a construção to ácido com ácido fosfórico a 37%,
fazendo com que haja a necessidade de da parede proximal com compósito iniciando a aplicação nas margens de
um preparo geométrico específico, bem convencional) e puderam concluir que esmalte (Figura 6) e, após 15 segundos,
como o material apresentar caracte- a técnica “Centripetal Open-Sandwich” aplicação do ácido dentro da cavidade
rísticas que não saciam as necessidades resultou em selamento mais eficaz nas (Figura 7) por mais 15 segundos, tota-
estéticas dos pacientes, novos materiais margens cervicais, apresentando melhor lizando 30 segundos em esmalte e 15
odontológicos e novas técnicas restaura- adaptação marginal comparada à técnica segundos em dentina.
doras foram desenvolvidos. “Centripetal Closed-Sandwich”. O condicionamento ácido foi removi-
Atualmente, a resina composta é o Diante do exposto, o objetivo deste do com jato de águas durante 30 segun-
material mais utilizado em restaura- artigo é apresentar o caso clínico de dos (Figura 8).
ções diretas, porém, mesmo diante uma paciente que procurou atendimen-
das melhorias em sua formulação, a Utilizou-se uma bolinha de algodão
to na clínica de graduação da Faculda- umedecida pra remoção do excesso de
contração de polimerização ainda é um de de Odontologia de Piracicaba por
problema1. Essa contração pode resultar água por meio de capilaridade (Figura 9).
apresentar sensibilidade no elemento
numa diminuição volumétrica que pode O sistema adesivo utilizado foi
15 quando exposto a alimentos gelados
originar espaços microscópicos2 entre o o Adper single Bond 2 (3M ESPE
e que, durante o exame radiográfico,
elemento dental e a restauração, espaços Products, St Paul, MN, USA) aplicado
apresentou recidiva de cárie no mesmo.
onde pode haver a passagem de fluídos com pincel descartável Microbrush,
bucais, íons, bactérias que podem levar Relato do caso: Paciente A. C. S., segundo as norma instruções do fabri-
a formação de uma nova lesão cariosa. de 41 anos de idade, sexo feminino, cante, aplicação de duas camadas inter-
cor parda procurou atendimento na caladas por leve jato de ar para que
Cáries recorrentes, fratura da restau- clínica de graduação da Faculdade de
ração, deterioração das margens e houvesse a evaporação do solvente
Odontologia de Piracicaba queixando- (Figura 10). Seguido da fotoativação do
descoloração são as principais causas -se de sentir sensibilidade no elemento
de falha e limitam a longevidade da mesmo durante 10 segundos.
15 quando ingeria alimentos e bebidas A resina de baixa viscosidade utilizada
restauração com resina composta3-9. De geladas. Durante o exame visual, foi
acordo com Hannig e Friedrichs10, o foi a resina Filtek Z350 Flow (3M ESPE
possível observar falhas nas margens da Products, St Paul, MN, USA), cor A2,
espaço microscópico ocupa entre 14% restauração (Figura 1).
e 54% de toda interface, dependendo aplicada através da ponta dispensadora
do material e da técnica restauradora No exame radiográfico, por meio fornecida pelo fabricante, até a ângulo
empregada. Na tentativa de diminuir da técnica radiográfica interproximal cavo-superficial na espessura de 0,5 mm
esse problema, autores pesquisam o uso (Figura 2), verificou-se a lesão cariosa (Figura 11).
de resina de baixa viscosidade entre o subjacente a restauração do elemento O incremento foi fotoativado duran-
sistema adesivo e a restauração, o que dental 15. te 20 segundos, seguindo as recomen-
possibilita uma adesividade com menor A arcada foi isolada com isolamento dações do fabricante, com o aparelho
formação de espaços. absoluto através de dique de borracha esta- de luz Bluephase 16i (Vivadent - Bürs-

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-Austria A-6706), com a ponta do apare- o ponto de contato não fosse removido sidade na espessura de 0,5 mm é capaz
lho apoiada na face oclusal do elemento (Figura 18). de diminuir valores de infiltração margi-
dental (figura 12). Foi realizada uma nova consulta clínica, na24. Pois, apesar da resina de baixa
Após a fotoativação da resina de baixa na qual a paciente relatou não sentir mais viscosidade apresentar um baixo módu-
viscosidade (Figura 13), iniciou a cons- lo de elasticidade, quando utilizada em
sensibilidade e estar satisfeita com o aspec-
trução da parede interproximal, por to final da restauração (Figura 19). grande quantidade, ou seja, numa maior
meio da técnica incremental oblíqua, espessura, o módulo de elasticidade não
com compósito resinoso convencional é capaz de compensar a alta contração
Filtek Z250 (3M ESPE Products, St DISCUSÃO desse material. Assim, quanto menor a
Paul, MN, USA) na cor A2 (Figura 14). A inserção da resina de baixa viscosi- espessura do incremento, melhor será
Após o término da restauração (Figu- dade é facilitada para esse material esco- a polimerização de todo incremento25
ra 15) isolamento absoluto foi removido ar pela cavidade apresentando, assim, fazendo com que ocorra uma melhor
para que fosse feito o ajuste oclusal, o uma melhor adaptação à parede interna tensão de contração por toda a cavida-
acabamento e polimento da restauração. da cavidade11. Esse escoamento facili- de, diminuindo a formação de fendas na
Para o acabamento foi utilizado pontas tado também proporciona uma menor interface dente-restauração.
para acabamento de resina composta e taxa de formação de bolhas durante a Assim, a técnica “Centripetal open-
ponta abrasiva de silicone (Kg Sorensen, aplicação, o que também favorece uma -sandwich” pode ser facilmente empre-
Cotia, SP, Brasil) (Figuras 16 e 17). menor infiltração ao redor das margens gada, porém, o operador deve ser
O acabamento da face interproximal da restauração. Segundo alguns auto- empregado de maneira correta numa
foi realizado com tira de lixa para resina res, esse material é capaz de absorver fina espessura, com pressão contínua
composta (3M ESPE Products, St Paul, a tensão de contração do compósito para evitar a incorporação de ar, respei-
MN, USA) utilizando, inicialmente, a convencional20,21 servindo de base para tando as limitações desse material, para
maior granulação seguindo para menor restaurações em resina composta22,23. que ocorra sucesso do procedimento
granulação, tomando cuidado para que A aplicação da resina de baixa visco- restaurador.

Figura 1. Aspecto clínico da restauração Figura 2. Aspecto radiográfico do Figura 3. Isolamento absoluto do campo
do elemento dental. elemento dental. operatório.

Figura 4. Aspecto da cavidade após Figura 5. Posicionamento do sistema de Figura 6. Aplicação do condicionamento
remoção da restauração deficiente e matriz unimatrix. ácido nas margens de esmalte.
após remoção de tecido cariado.

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Figura 7. Aplicação do condicionamento Figura 8. Aplicação do condicionamento Figura 9. Remoção do excesso de água.
ácido nas margens de dentina. ácido nas margens de dentina.

Figura 10. Aplicação do sistema adesivo. Figura 11. Aplicação da resina de baixa Figura 12. Posição da ponta do aparelho
viscosidade. de luz.

Figura 13. Aspecto da camada de Figura 14. Restauração da parede Figura 15. Aspecto final da restauração.
resina de baixa viscosidade após a foto interproximal por meio da técnica
ativação.’ incremental oblíqua.

Figuras 16. Acabamento da restauração. 17. Acabamento da restauração. Figura 18. Acabamento da face
interproximal da restauração.

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Figura 19. Aspecto final da restauração.

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Artigo Original

Resistência à torção de instrumentos rotatórios de


uso repetitivo: K3 Endo x ProTaper

Torsional resistance of rotary instruments repetitive use: K3 Endo x ProTaper

Palavras-chave: Instrumentação; Endodontia; Torção mecânica.


Keywords: flowable composite, microleakage, restorative technique.

Rodrigo Casasanta França* RESUMO


Marcelo dos Santos** A fratura do instrumento de níquel-titânio, cujas conseqüências podem variar desde
João Marcelo Ferreira de Medeiros ***
a dificuldade de sua remoção até a inacessibilidade absoluta à porção apical do canal,
Miguel Simão Haddad Filho**** continua sendo uma situação a ser evitada da maneira mais segura possível. Quando se
Adriano Albano Forghieri***** utiliza os instrumentos rotatórios de NiTi, cortando ou raspando as paredes do conduto
radicular, este também sofre desgaste em sua lâmina de corte.Tal ocorrência determina
atritos cada vez maiores, proporcionais à perda do corte de suas lâminas, diminuindo a
eficiência do instrumento, exigindo maiores torques e força de penetração, aumentando
ainda mais o atrito e o esforço que este sofre ao rotacionar desgastando a dentina. Di-
ferentes velocidades de rotação ao longo eixo da parte ativa do instrumento são assim
provocadas pelas áreas de maior atrito, favorecendo as fraturas. O presente estudo ava-
liou a resistência à torção, em graus, de instrumentos dos sistemas K3 endo e Pro Taper
após sucessivas instrumentações em canais simulados curvos. O objetivo deste trabalho
foi avaliar a resistência à torção, em graus, nos instrumentos dos sistemas K3 endo e
Pro Taper após sucessivas instrumentações em canais simulados curvos. Os ensaios e a
avaliação foram realizados empregando o troptrômetro modificado segundo França*e
Santos**. Os resultados mostraram que, em ambos os sistemas, não houve diferenças
estatisticamente significativas na média da resistência à torção após sucessivas instrumen-
tações, entretanto, a resistência à torção no sistema K3-endo, apresentou-se maior que à
do sistema Pro Taper independente do número de utilizações.

ABSTRACT
The fracturing of a nickel-titanium tool, whose consequences might vary from the difficulty of its removal until
the absolute inaccessibility to the apical portion of the channel, keeps being a situation to be avoided the safest
*Rodrigo Casasanta França – Doutor em Endodontia USP/SP
possible way.When one uses NiTi rotation tools, cutting or scratching the walls of the racidular conduct, this
rodrigofranca@usp.br
last also suffers erosion on its cutting edge. Such fact determines higher and higher atrict forces, proportional to
the cutting-power loss, diminishing therefore the efficacy of the tool, demanding stronger torch and penetration
**Marcelo dos Santos – Livre Docente em Endodontia USP/SP forces, increasing even more the atrict and the erosion-forces actuating on the tool as it abrases the dentine.
msantos@usp.br Different rotation speeds along the axle of the actuating part of the tool are then caused by the atrict-intense
***João Marcelo Ferreira de Medeiros – Doutor em Endodontia
areas, favoring fractures.The present study had as a goal evaluated the resistance to torsion in degrees of K3-endo
USP/SP
and Pro Taper rotation tools. After successive instrumentation in simulated channels, a complete non-used-before
joaomarcelo.medeiros@unitau.com.br set went through to a torsion resistance test measured in degrees through the use of a modified troptrometro.
Following that, a set of each system was employed, to tool two simulated and standardized channels built on a
****Miguel Simão Haddad Filho – Doutorando em Endodontia epoxi resin block and torsion-tested afterwards. Another set of tools of each brand was used to tool four channels
UNICSUL plus another set to prepare six channels and a last set to work on eight channels. At the end of each tooling
haddadf@usp.br sequence the tools went through the troptrometro torsion test. Results have shown that, in both systems, there
*****Adriano Albano Forghieri – Doutorando em Periodontia were no statistically significant differences on the average torsion resistance. After successive tooling although,
UNICSUL the torsion resistance on the K3-endo system was higher than that in the Pro Taper system regardless of tooling
presidencia.apcd@apcdcentral.com.br usage quantity.

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INTRODUÇÃO tipo K, Kerr e Maillefer. A eficiência do corte foi devidamente


A fratura do instrumento de níquel- Lim e Webber (1985) demonstraram monitorada. Os resultados mostraram a
-titânio sofre variações que inclui difi- se em canais simulados em resina acrí- distribuições detalhadas da composição
culdade de sua remoção até a inacessibi- lica é conveniente a avaliação da limpe- química, diferentes daquelas vistas no
lidade absoluta à porção apical do canal za e modelagem dos canais radiculares. grupo controle. Concluíram que tanto
e, portanto, deve ser evitada. Deste Compararam instrumentação de canais o processo térmico quanto o tratamen-
modo, distintas velocidades de rotação simulados com canais de dentes huma- to de implantação de íons de nitrogê-
ao longo eixo da parte ativa do instru- nos, o que resultou em nenhuma dife- nio nos instrumentos de níquel-titânio
mento provoca áreas de maior fricção rença estatística, concluindo que canais produziram um maior valor em relação
favorecendo fraturas. simulados em blocos de resina são váli- à resistência e uma maior capacidade
dos como modelos de estudo quanto à cortante do que os valores apresentados
Schneider (1971) determinou, por pelo grupo de controle.
meio de microscopia, a frequência com modelagem e forma de instrumentação.
que durante as instrumentações pode-se Mc Spaddem (1996) afirma que o Kuhn et al. (2001) pesquisaram as
arredondar o conduto radicular, tanto sistema Quantec 2000 emprega limas razões das fraturas de instrumentos de
em canais retos, quanto diretamente de NiTi acionados a motor em baixa níquel-titânio buscando nas microes-
em canais curvos demonstrando que as velocidade (340 rpm). Seu formato truturas das ligas por meio de Raios-X,
preparações arredondadas podem ser helicoidal e também o ângulo de corte microscópio de varredura e testes resul-
repetidamente produzidas em incisivos das espirais de suas limas proporciona tando provável defeitos na sua estrutu-
centrais com raízes retas a um nível de 1 rápida e não empurra detritos para o ra fato este confirmado pelo teste de
milímetro o forame apical ou se haviam periápice. microduresa Vickers. As radiografias
Berger (1997) ressaltou a importância sugerem a existência de linhas alonga-
feitos preparações tinham sido irregula-
do uso dos instrumentos com conicida- das típicas de uma torção e o estado da
res. Nos canais mais retos foi observa-
de progressiva ou gradual, projetados superfície do instrumento no micros-
da forma mais arredondada do que nos
em padronização diferente do incre- cópio eletrônico de varredura aponta
canais curvos.
mento de 0,2 milímetros e aqueles com defeitos de fabricação e também na
Todas as etapas da terapia endodôn- iniciação de fratura.
tica são de importância no alcance do conicidade 0,4, 0,6 e 0,8 objetiva de
instrumentar o conduto, sem a neces- Quanto ao torque, Leonardo e
sucesso buscando limpeza, desinfecção
sidade do uso da lima memória. Além Leonardo (2001a) afirmam que o siste-
e modelagem dos canais radiculares que
do mais, Berger e Silva Junior (1998) ma de acionamento fornece torque
se faz pela ação mecânica dos instru- padrão mantendo velocidade constante
apontam a necessidade do uso de limas
mentos nas paredes do canal juntamente pertinente com o uso.
de níquel-titânio por serem as limas que
com substâncias químicas auxiliares de
proporcionam menos desvios apicais do Leonardo e Leonardo (2001b) rela-
acordo com Schilder (1974).
que as limas de aço inoxidável. tam que a fratura da lima rotatória de
As limas de níquel-titânio usadas no niquel-titânio ocorre sob duas formas:
Rapisarda et al. (2000) verificaram
preparo do canal radicular foram intro- fratura torsional e fadiga flexural. A
se o tratamento das superfícies dos
duzidas pela primeira vez por Walia et instrumentos cortantes influenciava na primeira ocorre quando a ponta da lima
al.19 (1988) com a finalidade de superar resistência dos instrumentos de níquel- ou qualquer parte dela prende-se no
a rigidez de instrumentos de aço inoxi- -titânio (NiTi). Algumas amostras expe- canal radicular e seu eixo continua em
dável, melhorando a instrumentação de rimentais foram expostas a implanta- rotação ultrapassando o limite de elas-
canais curvos. ção iônica usando 150 keV de íons de ticidade do metal levando-o a deforma-
Santos (1994) realizou tratamen- nitrogênio e doses de 1 x 1017 íons por ção plástica e posteriormente à fratura.
to térmico recristalizador em 1 hora a centímetro quadrado. Outras amos- A segunda forma de fratura é causada
6000C de limas manuais com vistas a tras foram submetidas em processos pela fadiga ciclica do metal, chamada
aumentar a resistência à fratura verifi- térmicos, expostos por 480 minutos a de flexural e ocorre quando as ligas são
cando que as ligas estudadas da série 300 especifica temperatura. As amostras de submetidas a esforços repetitivos devido
A.I.S.I de todas as marcas e numerações controle não foram expostas. A compo- aos movimentos de flexão e deflexão. Se
nas condições estudadas apresentaram sição química das camadas da superfície um elevado torque for utilizado, ultra-
considerável aumento da resistência à de cada amostra foi determinada por passando o limite máximo de resistên-
torção sendo mais evidente nas limas meio de alta tecnologia radiográfica. cia do instrumento, a probabilidade de

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ocorrência de acidentes operatórios é instrumentos Profile de número 25 e tagem de limas Profile fraturadas foi de
elevada. Os instrumentos endodônticos 35, não havendo diferença estatística 1,7%, de 6,0% para o grupo ProTaper,
rotatórios descrevem uma cinemática para os números 15 e 45, de ambos os e 2,1% para o grupo K3 Endo, sem
completamente diferente dos instru- grupos. significado estatístico, inclusive no que
mentos manuais. As limas manuais apre- Costa (2002) que o processo após diz respeito a fraturas. Havia significa-
sentam uma cinemática de movimento implantação de íons de nitrogênio de tivamente mais distorções na Profile
vertical denominada limagem, já os instrumentos rotatórios de níquel titâ- quando comparados ao grupo ProTa-
instrumentos rotatórios descrevem um nio melhora as propriedades físicas dos per não ocorrendo diferença significa-
movimento rotacional contínuo em instrumentos rotatórios aumentando à tiva entre o ProTaper e K3 Endo e o
torno do seu próprio eixo (360 graus). resistência a fratura por torção em 56% Profile e o grupo K3 Endo.
Em canais curvos, quando a lima rota- e a corrosão em 47%. Berutti et al. (2004) sugerem que a
tória ao completar 180 graus, ou meia Sidney (2002) comenta que para ação do instrumento rotatório de NiTi
volta, as moléculas da superfície sofrem reduzir esse atrito o sistema K3 apresen- no canal radicular é essencial, haja vista
uma inversão e passam a expandir-se. ta duas guias radiais com relevo e uma que as particularidades da anatomia do
Quando se utiliza os instrumentos rota- canal representam fatores importantes
guia radial normal, cuja função é manter
tórios de NiTi, cortando ou raspando que afetam a vida do instrumento não se
o instrumento centrado no conduto
as paredes do conduto radicular, este esquecendo da capacidade do operador
radicular. O diâmetro varia na sua zona
sofre desgaste de sua lâmina de corte. em empregar esse conhecimento que é
de corte sendo que a proporção entre o
Há ocorrência de atritos cada vez maio- um fator determinante para o sucesso.
diâmetro do núcleo e o diâmetro exter-
res, proporcionais à perda do corte de O presente estudo avaliou a resistên-
suas lâminas, diminuindo a eficiência do no é maior na ponta proporcionando
uma maior resistência. O instrumento cia à torção, em graus, de instrumentos
instrumento, exigindo maiores torques dos sistemas K3 Endo e ProTaper após
e força de penetração, aumentando K3 Endo apresenta guias radiais, ângulo
de corte positivo e diâmetro variável na sucessivas instrumentações em canais
ainda mais o atrito e o esforço que este simulados curvos.
sofre ao rotacionar desgastando a denti- zona de corte que possibilita ao instru-
na. Diferentes velocidades de rotação mento cortes mais eficientes e facilida-
ao longo eixo da parte ativa do instru- de de remoção das raspas resultantes do MATERIAL E MÉTODOS
mento são assim provocadas pelas áreas ato da instrumentação por meio do seu Inicialmente, uma sequência comple-
de maior atrito, favorecendo as fraturas ângulo helicoidal. ta de cada um dos tipos de instrumentos,
(LEONARDO e LEONARDO, 2001c). Santos (2003), pesquisou o trata- dos sistemas K3 Endo e ProTaper. Sem
Lopes et al. (2001) compararam os mento de implantação de íons de qualquer uso, foi submetido ao teste de
desempenhos das limas Flexofile e Flex- nitrogênio em limas com vistas a resistência à torção. A seguir, uma sequ-
-R de aço inoxidável quanto a torção analisar a flexibilidade de instrumen- ência de cada sistema foi empregada,
a direita e esquerda comparadas com tos rotatórios de NiTi e tal fato não para instrumentar dois canais simula-
limas fabricadas por usinagem do tipo mostrou diferença estatisticamente dos e padronizados em bloco de resina
NiTi (Nitiflex). O ângulo de torção significante a carga necessária a flexão epóxica, e submetidas ao teste de torção
máxima até a fratura foi maior à direi- de 30 graus entre as limas implantadas com a finalidade de se medir a resistên-
ta do que à esquerda. Os instrumentos ou não, e, portanto, não interferiu no cia à fratura do instrumento após duas
de aço inoxidáveis fabricados por torção processo de flexão das limas. utilizações. Outra sequência de instru-
sofreram maior rotação à direita e os de Ankrum et al. (2004) investigaram mentos de cada uma das marcas foi
NiTi à esquerda sendo o torque máxi- a incidência de fraturas e distorção de usada para instrumentar quatro canais,
mo até a fratura não apresentou diferen- limas ProTaper, e K3 Endo e Profi- mais uma nova seqüência para preparar
ça entre os instrumentos. le utilizados em 45 raízes com curvas seis canais e uma última seqüência para
Carmo et al. (2002) analisaram fratu- acentuadas entre 40 e 75 graus de trabalhar oito canais. Ao final de cada
ra por torção em instrumentos rotató- molares extraídos inferiores e superio- grupo de instrumentação os instrumen-
rios de níquel-titânio e concluíram que res. A proporção de limas com distor- tos eram submetidos ao teste de torção.
o ângulo de torção máximo de fratura ção foi de 15,3% para o grupo Profi- Os blocos de resina foram fixados em
para instrumentos de número idênti- le, de 2,4% para o grupo ProTaper, e um torno para facilitar a imobilização
co foi significativamente maior para os 8,3% para o grupo K3 Endo. A percen- durante a realização dos experimentos,

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 121

os condutos foram lubrificados com marca com uma caneta de tinta significantes entre os sistemas K3-Endo
glicerina. Ao final da utilização de cada permanente na altura do seu diâmetro e Protaper quando se compara o mesmo
instrumento, irrigou-se com hipoclori- D³. A seguir, posicionamos o instru- número de utilizações em todas as
to de sódio a 0,5% para remover restos mento no mandril de modo a coinci- situações experimentais, confirmando
de resina, utilizou-se também uma gaze dir a marca com o plano determina- uma maior resistência à fratura para os
umedecida com hipoclorito na mesma do pelo limite superior das garras de instrumentos K3 Endo.
concentração, a fim de remover os apreensão (Figura 2). Interagiu-se as médias de cada grupo
resíduos de resinas presentes naqueles Estando o instrumento conveniente- comparando o resultado com o valor
instrumentos. mente posicionado, a escala do aparelho critico significante (Tabela 3);
Os blocos foram lubrificados nova- foi calibrada em zero grau. Girou-se, Comparação entre as médias confron-
mente com glicerina, a cada troca de então, o parafuso movimentador das tadas entre si, em ambos os sistemas, K3
instrumento. A velocidade utilizada para garras de apreensão até se obter pres- Endo e Protaper. (Tabela 3)
ambos os sistemas foi de 300 rpm. são suficiente para que as lâminas de Compararam-se as diferenças entre
A sequência utilizada para os instru- cobre ficassem estampadas no formato as médias dos valores obtidos em graus
mentos do sistema K3-Endo foi a dos instrumentos. Esse procedimento, da resistência à fratura, considerando-
seguinte; a um só tempo, impedia o movimento -se os diversos números de utilizações
rotacional livre da extremidade ativa, e os dois sistemas avaliados, observa-se
1. Alargador cervical (orifício
bem como reduzia a possibilidade de haver diferenças estatisticamente signi-
opener)- 25/.10;
indução de zonas de fragilidade deri- ficantes entre os sistemas K3-Endo e
2. Alargador cervical (orifício vadas de deformações provocadas pela
opener)- 25/.08; Protaper ao interagirem-se o mesmo
compressão das partes. A cada ensaio, número de utilizações em todos os
3. Instrumento K3-Endo-30/.06; foram substituídas as lâminas de cobre. grupos experimentais.
4. Instrumento K3-Endo-30/.04; Ao se executar o teste, a manivela
5. Instrumento K3-Endo-25/.06; acionadora das engrenagens foi vagaro-
DISCUSSÃO
6. Instrumento K3-Endo-25/.04; samente movimentada fazendo com que
o mandril gire no sentido anti-horário. Muitos trabalhos avaliando a mode-
7. Instrumento K3-Endo-20/.06; Procurou-se acionar a manivela de lagem dos canais radiculares utilizaram
8. Instrumento K3-Endo-20/.04. modo a permitir a progressão de apro- dentes naturais1,11,17,18 como também
ximadamente um grau a cada segundo, canais simulados em blocos de resina
com a finalidade de se produzir o ruído epóxica2. Dentre as vantagens destes
Para o sistema Pro-Taper, a sequência canais simulados é que tanto as formas,
utilizada foi a seguinte: característico da fratura do instrumen-
to, instante em que foi anotado o valor os tamanhos e as curvaturas são padro-
1. Instrumento SX até o terço médio nizados. Além de permitirem visualiza-
em graus, percorrido desde o grau zero.
do bloco de resina rem-se suas formas e dimensões antes e
2. Instrumento S1 até o terço médio após o preparo.
do bloco de resina RESULTADOS A precisão da utilização de canais
3. Lima manual tipo k número 10 até o Os resultados foram submetidos à simulados em resina foi comprovada por
CRT, com o intuito de explorar o canal; análise de Variância e ao teste de Tukey Lim e Webber10 (1985) que mostraram
com grau de exigência de 5%. Pela não haver diferença estatística signifi-
4. Instrumentos S2, F1, F2 e F3
análise de Variância, detectou-se dife- cante entre as deformações existentes
até o CRT.
rença significante nas interações entre entre canais de dentes naturais e canais
Após cada etapa pré-determinada de os tipos de instrumentos e o número simulados em resina. Durante a reali-
2, 4, 6 e 8 utilizações, os instrumentos de utilizações. No entanto, ao compara- zação das instrumentações utilizou-se
respectivos foram levados ao teste de rem-se as diferenças entre as médias dos blocos de resina epóxica padronizados,
torção para avaliação de sua resistência valores obtidos em graus da resistência cuja curvatura foi de 35 graus e seu
em graus à fratura, utilizando o Troptrô- à fratura, considerando-se os diversos comprimento final de 18 mm, tendo
metro, modificado, segundo SANTOS e números de utilizações, confrontando- esse ponto sido alcançado ao final da
FRANÇA (1994). (Figura 1). -se os dois sistemas avaliados, observa- instrumentação, em ambos os sistemas
Cada instrumento recebeu uma -se haver diferenças estatisticamente empregados.

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122 Anuário de Artigos Científicos 2014

Por ter sido utilizado um aparelho A fratura do instrumento de niquel- microdureza Vickers. As radiografias
elétrico que possui uma peça de mão -titânio, cujas conseqüências podem sugerem a existência de linhas alonga-
acoplada a uma base carregadora (Endo- variar desde a dificuldade de sua remo- das típicas de uma torção e o estado da
-Mate-2), vale ressaltar a importância ção até a inacessibilidade absoluta à superfície do instrumento no micros-
do fator humano, do qual resulta a força porção apical do conduto radicular, cópio eletrônico de varredura apon-
aplicada durante o ato da instrumenta- continua sendo uma situação que deve ta defeitos de fabricação e também
ção. Esse fator envolve habilidades indi- ser evitada. na iniciação de fratura. Fabricação de
viduais, por isso foi utilizado somente No entanto, um tratamento térmico limas endodônticas, com ligas de NiTi
por um operador. recristalizador em 1 hora a 6000C de por usinagem, promove endurecimen-
O aumento do atrito entre o instru- limas manuais aumenta a resistência a to, contribui com defeitos para a defor-
mento e a parede do canal faz com que torção e à fratura a exemplo das ligas da mação das propriedades mecânicas6.
o instrumento apresente velocidades série 300 A.I.S.I de todas as marcas, ou O sistema de acionamento fornece
rotacionais diferentes em seu longo seja, tipo K, Kerr e Maillefer14. torque padrão mantendo velocidade
eixo, potencializando os efeitos da Mc Spaddem12 (1996) afirma que constante pertinente com o uso, e se
fadiga por torção e consequentemen- o formato helicoidal, como também um elevado torque for empregado, indo
te à fratura. Vários autores pesquisam o ângulo de corte das espirais de suas além do limite máximo de resistência do
formas de diminuir a fadiga do instru- limas, proporciona rápido preparo e não instrumento, a probabilidade de ocor-
mento, como exemplo, RAPISARDA et empurra detritos para o periápice.
al.13 (2000) que constataram que tanto o rência de acidentes operatórios é eleva-
Carmo et al.5 (2002) apontam que na da, sobretudo, em canais curvos, onde
processo térmico recristalizador, quan-
verdade o ângulo de torção máximo de o instrumento rotatório, ao completar
to o tratamento de implantação de íons
fratura não foi influenciado pelo aumen- 180 graus ou meia volta, as moléculas da
de nitrogênio produzem maior resis-
to do diâmetro nominal do instrumento. superfície começam a sofrer uma inver-
tência à torção e também uma maior
O torque máximo de fratura aumentou são e passam a expandir-se desgastando
resistência ao desgaste do instrumento.
com a elevação do diâmetro nominal sua lâmina de corte, com isto, sofrendo
Já SANTOS15 (2002), avaliou o efeito
(número) do instrumento. a perda de corte de suas lâminas, dimi-
da implantação de íons nitrogênio na
flexão de limas rotatórias de niquel-titâ- Foi observado não haver diferen- nui a eficiência do instrumento, o que
nio e verificou não haver interferência ça estatística entre os diferentes faz exigir maiores torques e força de
estatisticamente significante na flexão a números de utilizações no mesmo penetração, aumentando ainda mais o
30 graus dos instrumentos implantados grupo experimental, dado este que atrito e o esforço. Diferentes velocida-
em comparação a instrumentos idênti- demonstra não haver desgaste sufi- des de rotação ao longo eixo da parte
cos não implantados. COSTA4 (2002) ciente na lâmina de corte dos instru- ativa do instrumento são assim provoca-
empregou o processo de implantação mentos proporcionados pelo atrito das pelas áreas de maior atrito, favore-
iônica de nitrogênio na dosagem de entre os instrumentos com a parede cendo as fraturas7, 8,9.
2,5x1017 íons/cm2 valendo-se de um dos condutos em até oito utilizações
a ponto de provocar fragilidades que Aliás, os instrumentos de aço inoxi-
acelerador com energia de 200 Kev por dáveis produzidos por torção suportam
6 horas com uma intensidade de corren- predisponham a fratura. Entretanto,
observou-se diferença entre os dois maior rotação à direita, enquanto de
te de 10µA/cm2, a uma temperatura NiTi à esquerda, sendo o torque máxi-
de 130 ºC em vácuo de 1,0x10-7 Torr, sistemas no mesmo número de utiliza-
ções, provavelmente porque o sistema mo até a fratura não apresentar diferen-
em instrumentos rotatórios de níquel-
ProTaper apresenta conicidade vari- ça entre eles11.
-titânio número 40 da marca Quan-
tec®. Suas conclusões afirmaram que os ável, e assim, sua ponta apresenta-se Frente a essas considerações, é
instrumentos implantados tiveram um mais delgada, portanto, menos resis- importante salientar a necessidade
incremento na resistência à torção da tente à torção. de pesquisas complementares que
ordem de 57% e à corrosão em 46%, Na verdade existem razões das fratu- avaliem a resistência à torção em
quando comparados com instrumen- ras de instrumentos de níquel-titânio diferentes pontos da lâmina ativa do
tos submetidos às mesmas condições nas microestruturas das ligas do que instrumento, para maior conhecimen-
experimentais, sem terem passado pelo resultam prováveis defeitos na estrutu- to das propriedades dos instrumentos
processo de implantação. ra, fato este confirmado pelo teste de rotatórios de níquel-titânio.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 123

CONCLUSÕES significantes quando se avaliou a resistência foi maior que à do sistema Pro Taper e as
De acordo com a metodologia empre- à torção do mesmo sistema variando-se o diferenças foram estatisticamente signifi-
gada parece-nos lícito afirmar que não número de utilizações em até oito vezes. cantes para o mesmo número de utiliza-
foram observadas diferenças estatísticas A resistência à torção no sistema K3-endo ções em todas as situações experimentais.

Figura 1: Fotografia do aparelho Figura 2: Fotografia demonstrando o Gráfico 1 - Valores médios da resistência
Troptrômetro modificado segundo posicionamento do instrumento no à fratura em graus, de cada sequência
Santos e França**. mandril. de instrumento em razão do número de
utilizações.

Resultados do teste de Tukey


Resíduo na análise de variância: 2400.16
Nível de probabilidade indicado: 5
Número de dados da amostra: 60
Número de médias comparadas: 10
Número de dados para cada média: 6
Graus de liberdade do resíduo: 50
Valor de q tabelado, (ao nível de 5%) para 10 médias e 50 graus de liberdade: 2.120.
Valor crítico de Tukey calculado: 42.40146
Interagiu-se as médias de cada grupo comparando o
resultado com o valor critico significante (Tabela 3);

K3xPT PT-0 PT-2 PT-4 PT-6 PT-8


K3-0 *79.34 *55.84 *89.00 *72.17 *92.67
K3-2 *74.00 *50.50 *83.66 *66.83 *87.33
K3-4 *50.50 27.00 *50.16 *43.33 *63.83
K3-6 *56.17 32.67 *65.83 *49.00 *69.50
K3-8 *87.17 *63.67 *96.83 *80.00 *48.50
Interagiu-se as médias de cada grupo comparando o resultado com o
valor critico significante (Tabela 3);

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Artigo Original

Disfunção temporomandibular: Toxina Botulínica


uma alternativa de tratamento
Temporomandibular dysfunction: botulinum toxin an alternative treatment

Palavras-chave: Disfunção temporomandibular, terapia alternativa, toxina botulínica.


Keywords:Temporomandibular disorders, alternative therapy, botulinum toxin.

Bruna Loíse Meassi1, RESUMO


Najib Khaled Hamaoui , 2 Introdução e objetivo: O termo Disfunção temporomandibular (DTM) abrange um
Maristela Galina Pezzini3, número de problemas clínicos que afetam a musculatura mastigatória, a articulação
Rolando Plümer Pezzini4, temporomandibular (ATM) e suas estruturas, além da associação entre ambas.Vários
João César Meassi5 estudos têm mostrado formas alternativas para tratamento desta desordem. O obje-
tivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre o uso de toxina botulí-
nica tipo A como terapia alternativa no tratamento das DTM´s. Revisão de literatura:
Pelo fato de não ter-se um conhecimento exato sobre a fisiopatologia desta doença,
existe certa dificuldade em estabelecer um tratamento definitivo. Com o intuito de
solucionar este problema, a toxina botulínica tipo A foi introduzida no mercado da
odontologia. Por ser um miorrelaxante potente, promove relaxamento nos músculos
mastigatórios, diminuindo a dor e possibilita uma função mandibular apropriada. Os
efeitos colaterais são raros e, mesmo que existam, são transitórios, não acarretando
maiores problemas aos pacientes. Conclusão: De acordo com a literatura pesquisada
concluímos que o tratamento das Disfunções temporomandibulares é um tanto quan-
to complexo, uma vez que envolve fatores emocionais do paciente. Porém, o advento
da toxina botulínica na odontologia com uso terapêutico têm se mostrado uma exce-
lente alternativa no tratamento de pacientes com estas desordens.

ABSTRACT
Introduction and objective:The term temporomandibular dysfunction ( TMD ) covers a number of clinical proble-
ms that affect the masticatory muscles, the temporomandibular joint (TMJ ) and their structures, and the associa-
tion between them. Several studies have shown alternative ways to treat this disorder.The aim of this study was to
review the literature on the use of botulinum toxin type A as an alternative therapy in the treatment of TMD’s.
1- Cirurgiã dentista graduada pela Universidade Estadual do Paraná
Literature review: Because there have been an accurate knowledge on the pathophysiology of this disease, there
2- Especialista e Mestre em Prótese Dentária e Especialista em is some difficulty in establishing a definitive treatment. In order to solve this problem, botulinum toxin type A,
Disfunção Têmporomandibular e Dor Orofacial. Professor de Prótese was introduced in the market of dentistry.To be a potent muscle relaxant, promotes relaxation in the masticatory
Dentária e Oclusão, UNIOESTE, Cascavel-PR. muscles, reducing pain and enables a mandibular function properly. Side effects are rare, and even if they exist,
are transient, not causing major problems for patients. Conclusion: According to the literature concluded that the
3- Doutora em Materiais dentários, Mestre em Disfunção treatment of temporomandibular disorders is somewhat complex since it involves emotional factors of the patient.
Têmporomandibular e Dor Orofacial, Especialista em Ortodontia e
Ortopedia funcional dos maxilares .Professora de Prótese Dentária e
But the advent of botulinum toxin in dentistry with therapeutic use, have become an excellent alternative in the
Oclusão, UNIOESTE, Cascavel-PR. treatment of patients with these disorders.
4- Rolando Plümer Pezzini- Doutor, Mestre e Especialista em Prótese
Dentária. Professor de Prótese Dentária e Oclusão, UNIOESTE,
Cascavel-PR.

5- João César Meassi- Especialista e Mestre em Ortodontia e


Distúrbio do sono. Ex-presidente ABO- Cascavel-PR e atual membro
do conselho fiscal ABO - Cascavel-PR.

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INTRODUÇÃO toxina botulínica, porém, a sorotipo A é tes de DTM. Estas estratégias incluem
Disfunção Temporomandibular a mais utilizada6. desde aconselhamentos sobre hábitos
(DTM) pode ser definida como um Existem protocolos para a aplicação, de vida, psicoterapia, terapia comporta-
conjunto de manifestações clínicas porém, a aplicação é um procedimen- mental cognitiva, contenção da mandí-
de má função mandibular, associa- to relativamente simples que consis- bula, manobras musculares, ultrassom,
das ou não à dor, que são geradas te na injeção diretamente no músculo TENs, placas miorrelaxantes, terapias
por agentes agressores à integridade em questão. Os músculos em questão medicamentosas, até cirurgia da articu-
morfológica ou funcional do sistema seriam os principais músculos masti- lação temporomandibular (ATM), em
temporomandibular 28. gatórios responsáveis pelas alterações casos extremos35.
Segundo pesquisas, as disfunções na temporomandibulares3. Uma droga que começou a ser utiliza-
articulação temporomandibular (DTM) As aplicações devem ser realizadas da para o tratamento da DTM é a toxina
afetam um grande número de pessoas. bilateralmente36 e o período de ação da botulínica tipo A16. Uma terapia alter-
Cerca de 20% da população em um toxina é de, em média, seis semanas15, 16.nativa conservadora, a Toxina Botulínica
ou outro momento exibe ou já exibiu Os efeitos da toxina no organismo estão tipo A (TBA) é uma neurotoxina deri-
sintomas relacionados à ATM17. relacionados com a frequência e quanti- vada de uma bactéria anaeróbica Gram
dade da dose administrada. Tais efeitos positivo, o Clostridium botulinum23, 24.
Pacientes com DTM podem apresen-
tar, como principal sintoma, dor miofas- são possíveis, embora raros24. Segundo a literatura, há sete sorotipos
cial associada com função mandibular de neurotoxina botulínica, denomina-
alterada. A dor normalmente localiza-se das, A, B, C, D, E, F, e G, que inibem
REVISÃO DE LITERATURA a liberação da acetilcolina aos terminais
na área pré-auricular, irradiando-se para Disfunção temporomandibular é um nervosos. Dentre esses, a soro tipo A é
a região temporal, frontal ou occipital. termo utilizado para reunir um grupo o reconhecido cientificamente como o
Pode apresentar-se como cefaléia, otal- de doenças que acometem os músculos mais potente e o que proporciona maior
gia, zumbido nos ouvidos ou mesmo mastigatórios e estruturas adjacentes37. duração de efeito terapêutico. Ela foi
dor de dente 30. Um desequilíbrio entre a ATM, a introduzida como método terapêutico
Um tratamento definitivo para a articulação alveolodentária e a oclusão, para disfunção temporomandibular por
DTM está sendo procurado, mas há juntamente com a ação desequilibra- ser um relaxante muscular específico
dificuldades, já que não se tem o conhe- da dos músculos mastigatórios, levam para os músculos mastigatórios, sem
cimento exato de sua fisiopatologia25. a disfunção miofascial37. As DTM´s se causar efeitos colaterais15,16.
A toxina botulínica tem sido indicada devem a fatores diversos podendo ser
como método terapêutico para pacien- de caráter muscular e/ou articular, O primeiro emprego da toxi-
tes com esta disfunção16. ambas com possibilidade de ter origem na botulínica como agente terapêutico
emocional, inflamatória, autoimune foi, em 1977, no estrabismo humano18.
A toxina tem sido usada desde 1977
para o tratamento de várias doenças ou até mesmo infecciosa. A literatura Nos últimos vinte anos, este fármaco se
neuromusculares6. Ela foi introduzida mostra que as DTM´s do tipo muscu- mostrou útil para o controle e tratamen-
lar são as mais prevalentes em pacientes to de muitas doenças 2,3,12,32,33
. De acordo
como método terapêutico para disfun-
com esse tipo de disfunção35. com o Conselho Federal de Odontolo-
ção temporomandibular por ser um
gia Resolução CFO 112/2011, Art. 2º,
relaxante muscular específico para os Devido à grande complexidade e varie- “... o uso da Toxina Botulínica é permi-
músculos mastigatórios15, 16. dade de sinais etiológicos e sintomas de tido para o uso terapêutico em procedi-
Esta toxina promove bloqueio da DTM, que em geral pode também repre- mentos odontológicos”. É utilizado em
transmissão neuromuscular e, portanto sentar outras doenças, o diagnóstico nem casos de blefaroespasmo19,20, movimen-
“fraqueza” da musculatura, simplesmen- sempre é claro para os profissionais, que tos involuntários dos músculos masti-
te por inibir a liberação de acetilcolina2. requerem precisos critérios de diagnósti- gatórios5,19, 20, espasmo hemifacial19,
Com o relaxamento muscular, poderá cos e, quando necessário, avaliações dos síndrome da dor miofascial10, além de
ocorrer diminuição da dor24. exames de imagem, como tomografia outras disfunções temporomandibula-
Esta neurotoxina é uma proteína cata- computadorizada, ressonância magnética res. Alguns estudos demonstram que
lisadora derivada de uma bactéria anae- e raios- X11. pacientes que sofrem de deslocamento
róbica Gram positivo, o Clostridium Há um grande número de estratégias da ATM12,27, e bruxismo15,16,24 apresen-
botulinum13. Existem sete sorotipos de utilizadas para o tratamento de pacien- taram grande melhora após serem trata-

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dos com injeção de toxina botulínica Em alguns pacientes, a injeção da a droga ideal para promover a melhora
tipo A nos músculos correspondentes. toxina é realizada com sedação intrave- da dor. Suas propriedades analgésicas e
A toxina se liga aos terminais nervo- nosa, em outros, apenas analgesia com antinociceptiva são muito discutidas na
sos colinérgicos pré-sinápticos e inibe pomada anestésica nas regiões da face2. literatura. Por ser um potente miorre-
a liberação de acetilcolina, causando a A toxina botulínica do tipo A deve ser laxante, tal fármaco irá relaxar a muscu-
paralisia e a subsequente atrofia funcio- armazenada a temperatura abaixo de latura, melhorando a dor e equilibrando
nal do músculo [1, 36]. Sabe-se que seus 5°C até o momento de sua utilização. as funções mandibulares15, 6,24.
efeitos surgem entre 2 a 6 dias após a O material necessário para a aplicação A toxina botulínica é uma alternativa
sua aplicação, perdurando o relaxamen- consiste de cloreto de sódio a 0,9%, no tratamento das DTM´s, apresentan-
to muscular durante 3 a 6 meses4, 12, 14, 29. agulha e seringa de aspiração e de insuli-do bons resultados e sendo menos inva-
A toxina botulínica é contraindicada na. A droga deverá ser diluída em apro- siva comparada a outros tratamentos2,12.
para mulheres grávidas ou em períodos ximadamente 1 ml de cloreto de sódio Alguns autores pesquisaram o potencial
de lactação, indivíduos com sensibili- a 0,9% e então aplicada no paciente terapêutico da toxina botulínica tipo A
dade a toxina (histórico de botulismo) em posição semi sentado nas regiões na melhora da dor muscular por hipera-
e albumina8, pacientes que sofrem de já previamente marcadas dos músculos tividade muscular dos músculos masti-
miastenia gravis7, distúrbio de trans- masseter e temporal. O raio de ação da gatórios, concluindo a eficácia da droga
missão neuromuscular associado com droga é de aproximadamente 0,5 a 1,0 [38]. Em um estudo para avaliar a eficá-
fraqueza e fadiga anormais ao exercício, cm, devendo ser injetado cerca de 5,0 U cia da toxina botulínica tipo A, pesquisa-
síndrome de Lambert Eaton7,13, doença por ponto. Após a aplicação podem ser dores encontraram uma diminuição na
autoimune adquirida, muitas vezes asso- realizados curativos com finalidade de força muscular e melhora da dor e do
ciada ao adenocarcinoma de pulmão. proteção do ponto e o paciente deve ser estado psicológico dos pacientes trata-
Há relatos de interação medicamentosa orientado a evitar acionar a musculatura dos com essa droga22.
com aminoglicosídeos, bloqueadores de por pelo menos 15 minutos, devendo Estudos comprovam que pacientes
canais de cálcio, quinina e penicilamina, permanecer em repouso absoluto por que receberam aplicações de toxina
que potencializam a toxina8,34. duas horas3. botulínica, sem saber o que estavam
A toxina botulínica deve ser diluída Os efeitos colaterais da injeção intra-recebendo, consequentemente a dor
em solução salina normal, sem conser- muscular da toxina são raros, no entan- diminuía em no mínimo 30%, o que não
vantes3,9,26,32,36, e injetada imediata- to, podem estar presentes em alguns ocorria quando os mesmos pacientes
mente nos músculos mastigatórios casos. Mesmo ocorrendo, tais efeitos recebiam injeções de solução salina10.
responsáveis pelas alterações tempo- são transitórios, desaparecendo algumas Porém, há autores que não acredi-
romandibulares. São selecionadas as semanas após as aplicações16,24. São cita-tam na relação entre toxina botulínica
áreas musculares que possuírem maior dos na literatura sintomas como pseu- e a melhora do quadro álgico11,39. Ao
volume visualmente e por palpação ou dogripais (náusea, cansaço e erupções comparar as ações da toxina e da solução
nos pontos que mostrarem ao exame à distância), eritema, equimose, hipe- salina, injetadas nos músculos esquelé-
eletromiográfico, maior hiperativida- restesia de curta duração32, dor local ticos, não se observou diferença signifi-
de em repouso3,33 não necessariamente 48 horas após a aplicação, diminuição cativa nos resultados quanto à melhora
correspondendo ás áreas de ponto-gati- da força de mastigação, alteração do da dor39. Esses resultados podem ser
lho miofascial3. As aplicações devem paladar21, dificuldade na articulação das questionados já que um número peque-
ser realizadas bilateralmente, pois um no de pacientes foi acompanhado para
palavras e falta do controle da salivação3.
estado compensatório de espasmo e realização desta pesquisa e o próprio
dor pode ser desenvolvido nos múscu- autor refere-se à necessidade de maio-
los mastigatórios contralaterais que não DISCUSSÃO res estudos.
receberam a droga36. As disfunções temporomandibulares O uso da toxina botulínica na tera-
A potência da toxina é medida em (DTM) são consideradas um subgrupo pia do músculo masseter hipertrófico
unidades (U) e encontra-se na forma de lesões músculo-esquelético e reuma- mostra-se na literatura como um méto-
de frascos, possuindo duas concentra- tológicas e representam a principal do de tratamento eficaz e seguro. Este
ções diferentes. O produto americano causa de dor não dental na região orofa- procedimento para controle de ativida-
encontra-se na concentração de 100U e cial31. Embasado nesta teoria, estudiosos des parafuncionais envolvendo músculos
o inglês está na concentração de 500 U16. encontraram na toxina botulínica tipo A, mastigatórios surge como uma alterna-

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128 Anuário de Artigos Científicos 2014

tiva proveitosa e não invasiva para trata- de intensidade e duração da doença gy: treatment of neurological condi-
mento de pacientes que sofrem desta antes do tratamento inicial. Observou- tions with local injection of botulinum
desordem1,36. Porém, existem autores -se que não há mudanças significativas toxin. Arch Neurobiol. 1991 Jan/Feb;
que defendem que a terapia mais inva- na média da duração do efeito da toxina 54(1):7-23.
siva do tipo cirúrgica é mais confiável botulínica9. 8-Carruthers A, Carruthers J.
que a terapia farmacológica com toxina Cosmetic uses of botulinum A exotin.
botulínica39. CONCLUSÃO In: Klein AW, ed. Tissue augmentation
Apesar de ser mínimo o uso deste A partir da literatura pesquisada, in clinical practice: procedures and
fármaco no tratamento da Disfunção observou-se que a toxina botulínica tipo techniques. New York: Marcel Dekker,
temporomandibular, em que seu uso é A apresenta-se como uma excelente 1998:207-36.
de aproximadamente 1%17, esta técni- alternativa de tratamento em pacien- 9-Castro WH, et al. Botulinum toxin
ca aparece como proveitosa e eficiente, tes com disfunção temporomandibu- type A in the management of masseter
mesmo sendo por tempo limitado. lar, devido a sua eficácia na diminuição muscle hypertrophy. Journal of Oral
Na maioria dos pacientes com DTM do processo álgico e no relaxamento and Maxillofacial Surgery. 2005; 63:
houve considerável melhora do quadro muscular. O uso desta droga vem cres- 20-24.
de disfunção15,16,24, o que nos leva a crer cendo no mercado da odontologia e 10-Cheshire WP, Abashian SW, Mann
na eficácia da toxina botulínica tipo A apresentando bons resultados compara- JD. Botulinum toxin in the treatment
utilizada nestas doenças da articulação. dos a outras alternativas de tratamento. of myofascial pain syndrome. Pain.
Segundo alguns autores, a droga é inje- 1994;59:65-69.
tada nos principais músculos mastigató- REFERÊNCIAS 11-Clark GT. The use of botulinum
rios responsáveis pelas alterações tempo- 1-Al-Ahmad HT; Al-Qudad MA. The toxin for the teatment of temporoman-
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preconizam que a toxina pode também Journal. 2006; 27: 397-400. 57(8):920-921.
ser injetada no músculo pterigóideo late- 12-Dressler D, Saberi FA, Barbosa
ral e medial. Existem alguns estudos na 2-Amantéa DV, et al. A utilização da
toxina botulínica tipo A na dor e disfun- ER. Botulinum toxin: mechanisms of
literatura que relatam que a toxina pode action. Arquive Neuropsiquiatric. 2005;
ser utilizada em indivíduos com luxação ção temporomandibular. Jornal Brasi-
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prevenindo novas luxações12,27. ca: um novo tratamento para a disfunção spasms: short and long-term, local and
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cada um e os temporais 25 U cada um15.
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A posologia total não deve exceder 100 U,
a cada 12 meses. Para tratamento de 4-Barberá MA, Fortuny IB, et al. Guia linum toxin and spasticity. J Neurol
estalidos e dor na região da ATM deve- terapéutica de la espasticidad del adult Neurosurg Psychiatry. 2000; 69:
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góideo sob controle eletromiográfico32. Feb; 110(2):93-97. Aug; 57(8):916-920.
As aplicações podem ser extraorais15, 16 6-Blitzer A, Sulica L. A toxina botu- 16-Freund B, Schwartz M. The use
ou intraorais24. línica: ciência básica e usos clínicos em of botulinum toxin for the treatment
Estudos demonstram que não há rela- otorrinolaringologia. Laringoscópio. of temporomandibular disorder. Oral
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130 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Efetividade dos selantes na


prevenção de lesões cariosas

Effectiveness of sealants in caries prevention

Palavras-chave: selante, efetividade, prevenção, cárie


Keywords: sealant, effectiveness, prevention, caries

Fernando Carneiro Santiago¹ RESUMO


Raquel Limia Duarte de Barros² Através de uma revisão bibliográfica foi analisada criticamente a efetividade dos selan-
Fernanda Ignácio Fernandes³ tes na clínica odontológica. Atualmente, os selantes são utilizados de forma preventiva
Ana Claudia Coutinho Silva4 ou terapêutica, em regiões de cicatrículas e fissuras e áreas interproximais, em dentes
Sonia Groisman5 hígidos ou com lesões cariosas incipientes, não tendo sido evidenciada uma real efe-
tividade no uso dos selantes na prevenção de lesões cariosas, necessitando-se de mais
estudos cientificamente comprovados a fim de se obter maior segurança na utilização
dos mesmos.

ABSTRACT
The effectiveness of pit and fissure sealants in dental clinic was critically analyzed through a literature review.
Nowadays, sealants are used preventive or therapeutically in pit and fissures as well as in interproximal areas,
either in healthy or incipient carious teeth, although no evidence of a truly effectiveness in the use of sealants for
the prevention of carious lesions has been shown, being necessary further studies scientifically proven to ensure
more security in its use.

1- Mestrando em Clínica Odontológica pela UFRJ

2- Mestranda em Clínica Odontológica pela UFRJ

3- Pós-graduanda em Saúde Coletiva e da Família pela UFRJ

4- Mestre em Odontopediatria pela UFRJ

5- Profª. Associada do Departamento de Odontologia Social e


Preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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INTRODUÇÃO bibliográfica, a efetividade dos selantes camente à superfície dental após o seu
O processo carioso tem inicio quan- na prevenção de lesões cariosas. condicionamento ácido13. A resina tem
do existe uma interação, por um dado a vantagem de promover uma melhor
período de tempo, entre o biofilme e a retenção ao dente, em comparação ao
REVISÃO DE LITERATURA
superfície do esmalte. Bactérias presen- ionômero de vidro. Isso se deve pelo
As fossas e fissuras de molares perma- maior embricamento mecânico causado
tes no biofilme tornam-se ativas meta-
bolicamente causando perda mineral da nentes são consideradas sítios vulnerá- por sua maior fluidez15. O selante iono-
estrutura dentária quando o pH diminui veis à formação de lesões cariosas devi- mérico possui adesão química ao esmal-
e ganho mineral quando este aumenta. do a sua morfologia e a facilidade para te e à dentina tendo uma liberação de
Dessa forma, o processo carioso pode o acúmulo de placa bacteriana, sendo fluoretos significativa16.
ser paralisado em estágios precoces, o uso de selantes recomendado até A técnica empregada para a utilização
podendo ser prevenido e controlado meados dos anos 1980 de forma preven- do selante resinoso deve seguir o proto-
de diversas formas, através da preven- tiva8,9. Na década seguinte, houve uma colo, onde: a superfície dentária deve ser
ção primária – antes que a lesão cariosa significativa mudança na utilização dos limpa e livre de umidade; após a profi-
se instale – ou prevenção secundária, selantes. Em molares permanentes com laxia com escova de Robinson e pedra-
através de intervenções que alteram a suspeita de lesões cariosas ou lesões -pomes, a superfície deve ser condicio-
progressão de cáries incipientes para incipientes, a intervenção de escolha era nada com ácido fosfórico a 37%, lavada,
lesões com cavitação1,2. ampliar a fissura ao nível de esmalte e seca e aplicado o selante. Este, então, é
aplicar o selante. Um estudo de meta- fotopolimerizado17. A técnica de aplica-
A qualidade da higiene bucal, a expo-
-análise comparou dentes que foram ção é um dos fatores que determinam
sição ao flúor, os hábitos alimentares, o
histórico individual e familiar da doença selados a dentes controles não tratados o sucesso da intervenção18. Quanto à
cárie, a idade e a morfologia dentária evidenciando-se uma redução de 87% utilização do selante ionomérico, não há
do paciente são critérios que devem ser na incidência de lesões de cáries após 12 necessidade de condicionamento ácido
levados em consideração pelo profissio- meses e 60% entre 48-54 meses10. do esmalte. Além disso, há o benefício
nal na identificação dos pacientes de alto Atualmente, os selantes são indicados inerente ao material de uma menor
risco à doença3. para dentes posteriores em irrupção, sensibilidade de contaminação pela
sem função mastigatória, indivíduos umidade, sendo possível o uso do isola-
Os selantes surgiram na década de 50
com alto risco à doença cárie11, adul- mento relativo com roletes de algodão
com a finalidade de preservar a saúde
tos com baixo fluxo salivar e pacientes e sugador19.
dental através de uma barreira física nas
regiões de fossas e fissuras4. Estas regi- com dificuldades motoras12. A utilização Enquanto o material selador perma-
ões são altamente susceptíveis ao desen- de selantes pode ser empregada como nece aderido ao dente, sem a perda de
volvimento de lesões cariosas devido à uma medida preventiva ou terapêutica. sua estrutura, o selamento de fossas
facilidade de retenção de restos alimen- O selante terapêutico tem como base e fissuras se mostra eficaz. A lesão de
tares e microorganismos1,5. Na cavidade critérios radiográficos e está indicado cárie obliterada com selantes intac-
bucal, as fossas e fissuras dos molares de para lesões de cárie ativas incipientes tos tende a se estagnar enquanto que a
crianças e adultos são o principal alvo em superfícies oclusais ou proximais perda parcial ou total do material levará
de cáries6. No Brasil, a cárie dental é envolvendo somente esmalte, esmal- à uma progressão da lesão em 78% dos
desigual em sua distribuição na popula- te e junção amelo-dentinária ou lesão casos20,21.
ção e está intimamente ligada à privação restrita ao terço externo da dentina13. Nazar et al.(2013) concluíram que
social e econômica. Segundo dados do Recomendações para selamento de o uso de selantes de forma isolada não
SB Brasil 2010, o CPO aos 12 anos ficou lesões cariosas não-cavitadas dependem é um método preventivo adequado
em 2,07 dentes e o ceo-d aos 5 anos foi de múltiplos fatores. O primeiro deles é para uma população de alto risco. Em
de 2,43 dentes, estando ambos os índi- uma cuidadosa avaliação e preciso diag- contrapartida, outro método preventi-
ces acima da média mundial7. A utiliza- nóstico das condições do paciente14. vo, o verniz com flúor, poderia ser um
ção de tecnologias para prevenir a cárie Dentre os diversos materiais utiliza- método preventivo efetivo para este
na população brasileira se torna, portan- dos como selantes, destacam-se o ionô- caso específico22.
to, imperiosa. mero de vidro e os selantes resinosos. Azarpazhooh e Main (2008) realiza-
O presente trabalho teve como obje- Os selantes resinosos são polímeros ram uma revisão sistemática acerca do
tivo analisar, através de uma revisão sintéticos que se aderem micro mecani- uso de selantes em crianças e adolescen-

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132 Anuário de Artigos Científicos 2014

tes concluindo que os selantes devem ros molares permanentes, completa ou tica, gerando resultados confiáveis para
fazer parte de uma estratégia preventiva parcialmente irrupcionados24. a tomada de decisões23.
baseada na avaliação do risco de cárie. Além da higiene oral deficiente e dos
Outras medidas preventivas incluem a hábitos alimentares deletérios, outra
DISCUSSÃO
aplicação do verniz com flúor, educa- razão para o aumento de cáries pode
ção, aconselhamento nutricional e O selante não deve ser utilizado de
ser a perda de selantes após sua apli-
revisões clínicas regulares (se possível, forma generalizada onde todas as fossas
cação22. Após a perda parcial ou total
semestralmente)6. e fissuras são consideradas como poten-
do selante, as fossas e fissuras ficam
ciais sítios de lesões cariosas. O risco em
Após meta-análise, tanto o selan- desprotegidas, expondo o elemento
relação à doença cárie deve ser analisado
te à base de ionômero de vidro como dentário à agressão cariogênica25. Um
individualmente, levando-se em conta
o selante resinoso exibem significan- estudo qualitativo abordando a prática
todos os fatores envolvidos no proces-
tes efeitos na prevenção de cáries. Não odontológica na clínica privada cons-
so de adoecimento como dieta, higie-
há evidências de que um material seja tatou que a maioria dos cirurgiões-
ne oral, aspectos comportamentais e
melhor do que o outro5. -dentistas afirma que os selantes não
sócio-econômicos. Segundo Beauchamp
Em um estudo in vivo com a fina- possuem durabilidade e não previnem
(2008), selantes de fossas e fissuras
lidade de verificar a efetividade dos a progressão da cárie14. Em crianças de
podem ser efetivamente usados como
selantes na progressão de lesões cariosas cinco a oito anos de idade, nos primei-
parte de uma abordagem completa para
oclusais em molares decíduos, a reten- ros molares permanentes, o tempo
a prevenção de lesões cariosas . Entre-
1

ção completa do selante na superfície médio de permanência dos selantes


tanto, diversos autores resaltam a neces-
oclusal foi encontrada em 90% molares é de dois anos, sendo necessária sua
sidade da avaliação do risco de cárie para
decíduos e em 100% não foram eviden- reaplicação26. O acompanhamento dos
realizar ou não o selamento dentário. O
ciados sinais radiográficos de progressão indivíduos com elementos dentários
selante é preconizado como um coadju-
da lesão cariosa selada após 24 meses13. selados é indiscutivelmente necessário,
vante no controle da doença cárie pois,
devendo ser realizado com periodici-
Baseado em uma revisão sistemática se os fatores de risco relacionados à
dade anual constante, de forma mais
com a finalidade de avaliar a qualida- mesma estiverem administrados, não há
rigorosa do que se não houvesse sela-
de metodológica dos ensaios clínicos a necessidade de sua aplicação 3,15,24
.
mento dentário.
controlados que utilizam selantes de Chioca et al. (2013) descreveram
fossas e fissuras, realizou-se uma busca que a utilização dos selantes é cientí-
dos ensaios realizados entre 1990 e fica, metodológica e estatisticamente CONCLUSÃO
2007. Concluiu-se que a evidência deficiente. Este achado deve estimular O selante, isoladamente, não é uma
que fornece a garantia deste tipo de os profissionais a orientar seus esfor- medida preventiva eficaz na redução
intervenção é metodologicamente ços em esclarecer a verdade referente de lesões de cáries. As necessidades
muito pobre23. à efetividade dos selantes como medi- particulares de cada paciente devem
Após uma revisão de literatura, Pavi- da preventiva antes de recomendar ser levadas em conta dentro de um
nato e Imparato (2012) concluíram indiscriminadamente sua utilização ou programa preventivo, onde o selamen-
que as evidências do efeito de proteção ao menos difundir a não-existência de to é apenas uma parte do tratamento.
à cárie com a utilização de selantes de evidência consistente que demonstre De acordo com a literatura revista, não
fossas e fissuras são duvidosas, apesar das o verdadeiro impacto dos selantes na foi evidenciada uma real efetividade no
diversas pesquisas realizadas no Brasil redução da incidência de lesões cariosas uso dos selantes na prevenção de lesões
e no mundo. Não há, ainda, demons- na população, especialmente em longo cariosas. Tornam-se necessários mais
tração clara em relação à efetividade prazo. São necessários novos ensaios estudos cientificamente delineados a
entre cimentos ionoméricos e resinosos clínicos executados com apropriado fim de se obter confiabilidade na utili-
quanto à prevenção de cárie em primei- desenho metodológico e análise estatís- zação dos selantes.

Santiago, Fernando Carneiro et al. Efetividade dos selantes na prevenção de lesões cariosas

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134 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Comportamento de consumo e características do uso


de produtos de higiene bucal: um estudo exploratório
com alunos de graduação da cidade de Maceió
Consumer behavior and characteristics of use of oral hygiene products: an
exploratory study with undergraduate students of the city of Maceió

Palavras-chave: comportamento de consumo, higiene bucal, processo decisório.


Keywords: consumer behavior, oral hygiene, decision-making process.

Edivaldo Pereira da Silva Filho 1 RESUMO


O objetivo do estudo é verificar o comportamento do consumo de produtos de hi-
giene bucal e quais as dimensões que estes itens se enquadram no processo decisório
da população estudada. O estudo verificou, nas pesquisas qualitativas e exploratórias,
quais as relações entre o que os alunos de graduação relatam e como as imagens ve-
rificadas em “loco” confirmam ou negam suas afirmações. Para tanto, foram realiza-
das quatorze entrevistas em diversos cursos de graduação da cidade de Maceió. Este
grupo foi submetido a um questionário com questões abertas e fechadas e ainda o
entrevistador tirou fotos dos locais onde estas pessoas armazenavam seus utensílios de
higiene bucal. Para a análise dos dados colhidos foi utilizado dois métodos: o etnográ-
fico e a análise de conteúdo e para auxílio na formatação o Atlas ti 6.2 foi de grande
utilidade. O artigo concluiu observando que a marca, facilidade de encontrar os pro-
dutos e a aparência dos produtos é um diferencial para o consumo. Ainda apurou-se
que os principais resultados de se tratar os dentes, com uso de produtos de higiene
bucal são a prevenção das cáries e um bom hálito.

ABSTRACT
The objective of the study is to assess the behavior of consumption and oral hygiene products which sizes these
items fit in the decision process of the study population.The study found, in qualitative research and exploration,
which the relationships between undergraduate students and reported as the images recorded on “loco” confirm
or deny his claims. Therefore, fourteen interviews were conducted in various undergraduate courses in the city
of Maceió.This group underwent a questionnaire with open and closed questions and even the interviewer took
pictures of the places where these people stored their oral hygiene utensils. For the analysis of the data collected
was used two methods to ethnographic and content analysis and to aid in formatting the Atlas ti 6.2 was very
useful.We conclude by noting that the brand, ease of finding products and appearance of products is a plus for
consumption. Although we found that the main results of treating teeth with use of oral hygiene products are
prevention of caries and good breath.

1
Administrador (CRA/AL 1-2673); Mestre em Administração pela
Unifacs – Salvador/BA
edivaldosucesso@hotmail.com

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INTRODUÇÃO o estudo realizou uma pesquisa quali- necessidades a todas as classes econômi-
Nos últimos anos, a indústria brasi- tativa e exploratória com o uso de um cas (DE SÁ & VASCONCELOS, 2009).
leira tem investido consideravelmen- questionário semiestruturado. Para a Segundo Abihpec (2010), o expres-
te em beleza, saúde e bem-estar. Isto análise dos dados, este artigo utilizou sivo crescimento do setor de higie-
tem acontecido em razão do equilíbrio os métodos etnográficos e análise de ne pessoal subiu de R$ 11,5 (bilhões)
econômico, melhor distribuição de conteúdo para discutir os resultados em 2003 para R$ 21,7 (bilhões) em
renda e aumento do poder de compra colhidos nas pesquisas de campo e usou 2008, um crescimento de 88,69%.
da população. A ABIHPEC (Associação software Atlas ti. 6.2 como auxiliar no Este aumento deve-se a alguns fatores
Brasileira da Indústria de Higiene Pesso- tratamento destes dados. como: crescente participação da mulher
al, Perfumaria e Cosméticos) destacou, no mercado de trabalho, melhoria da
em seu relatório anual, que os itens de REFERENCIAL TEÓRICO tecnologia de ponta aumentando a
higiene oral representaram para a indús- O referencial teórico foi dividido produtividade, lançamento de novos
tria, 172.540 milhões de dólares no em cinco partes complementares. A produtos com regularidade e aumen-
consumo do Brasil em 2009, represen- primeira discorre sobre o tema central to da expectativa de vida da população
tando 37,2% de todo o gasto com higie-
do trabalho, ou seja, a higiene bucal. (SAMPAIO, 2009).
ne pessoal, perfumaria e cosméticos.
A segunda e terceira parte tratam do Quando estratificamos o segmento de
O mercado brasileiro está constituído comportamento do consumidor e como cosméticos na categoria higiene bucal,
de grandes empresas internacionais do acontece a decisão de compra. A quar- percebe-se que as vendas são lideradas
segmento de higiene pessoal. Seus prin- ta raciocina sobre o valor da marca dos pela linha de creme dental com 60%
cipais canais de distribuição são realiza- produtos para a decisão de compra e a do volume total, seguido por escova de
dos por meio do varejo tradicional que quinta parte aborda o atendimento do dente com 25%, antisséptico bucal com
incluem supermercados e hipermercados. cliente objetivando a satisfação. 10% e o fio dental com 5% do total de
Por serem de dimensões globais possuem vendas (BENTO, 2011).
estratégias mundiais, normalmente com
aderência com atividades farmacêuticas e HIGIENE BUCAL Ainda de acordo com a ABIHPEC
de alimentos. Portanto, possuem marcas Segundo Pereira (2010) a higiene (2010) o principal responsável pelo
consolidadas no mercado o que determina bucal, isto é, dentes limpos, livres de faturamento do mercado de higie-
uma participação mais consistente dificul- resíduo e bom hálito, são importantes ne bucal são os cremes e géis dentais.
tando a concorrência. para a conquista da autoestima, empre- Dados colhidos do relatório anual, em
gabilidade, diferencial social e aceitação 2010, esses itens foram responsáveis por
Aliado a isso, observa-se uma grande
em grupos de referência. Sendo assim, 58,4% do faturamento total da catego-
mudança no perfil dos consumidores e
os consumidores de produtos para ria. Em segundo lugar do ranking estão
nas empresas que buscam atendê-los.
higiene bucal são vistos, pelas empresas as escovas de dente, que respondem por
O foco das organizações passou a ser
do ramo, como objetivo de desenvolvi- 24%. Ambos representam o mais básico
o bom atendimento ao cliente buscan-
do superar suas expectativas, para que, mento de ações estratégicas de vendas, degrau da higiene bucal e estão localiza-
deste modo, possam alcançar os resul- promoção, propaganda e distribuição. dos na área de cuidados pessoais.
tados desejados. Para conseguir isto, Para que estas empresas possam
as empresas têm se adaptado conti- estabelecer estratégias comerciais e de COMPORTAMENTO DO
nuamente as exigências da demanda, distribuição de seus produtos é preciso CONSUMIDOR
além de pesquisar novas necessidades perceber que ainda existe um desconhe- Conhecer o comportamento do
e conhecer os fatores de decisão de cimento, pela população, sobre os cuida- consumidor não é uma tarefa fácil.
compra de seu público. dos necessários para a higiene bucal. Primeiro porque estes consumidores
O presente artigo busca o entendi- Os meios de comunicação passam uma podem falar sobre suas necessidades e
mento do comportamento do consu- visão linear dos principais cuidados, mas desejos, mas agir de forma diferente.
midor de produtos de higiene bucal, as classes sociais são diferentes e por isso Sendo assim, pesquisas qualitativas e
as características destes produtos e precisam de atenção diferenciada. Por exploratórias é uma boa estratégia para
como acontece a decisão de compra estes motivos, existe uma necessidade esclarecer situações distintas entre o
dos alunos de graduação da cidade de latente de programas educativos odon- que se diz e o que foi percebido em
Maceió. Para o alcance destes objetivos, tológicos que levantem e interpretem as loco. Portanto, por meio das pesqui-

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sas de campo será possível identificar obusca de informações, avalia- Este comportamento acontece logo após
perfil ideal do consumidor de produtos ção das alternativas, decisão de a compra e consumo do produto. Nesta
ou serviços de higiene bucal e assim compra e comportamento pós- fase é necessário que haja satisfação após a
poder atraí-los e atingi-los, fidelizando
-venda (BENTO, 2011). avaliação, ou seja, o sentimento de que o
aqueles já existentes e conquistando Segundo Corrêa (2006) o proces- julgamento ao decidir pela compra este-
novos clientes (ORTIZ et al. , 2012). so de decisão de compra acontece em ve equivocado, até que ponto a empresa
Segundo Schroeder (2009) o tema etapas que vão desde o reconhecimento que vendeu o produto encantou e satis-
comportamento do consumidor é da necessidade, a busca de informação, fez todas as necessidades do consumidor.
um dos mais complexos da teoria de a avaliação de alternativas até a compra. Esta satisfação do consumidor esta direta-
marketing. Sendo assim, nos concen- O reconhecimento da necessidade é mente ligada ao desempenho do produ-
tramos nos aspectos dos fatores reconhecido quando os consumido- to em comparação com as expectativas
internos e pessoais como: necessida- res visualizam meios para satisfazê-la e que o consumidor possuía ao adquiri-lo
des, motivos, percepções, atitudes que esses meios estejam dentro de suas (OLIVEIRA, 2007).
e nas etapas do processo decisório possibilidades financeiras e temporais.
que consiste em: reconhecimento da Na fase seguinte a busca de informações VALOR DA MARCA
necessidade, busca de informações, acontece de forma interna e externa. No Brasil, as empresas tentam deixar
avaliação de alternativas, consumo e Interna quando o consumidor procura a imagem de produtos baratos, sem
avaliação pós-consumo. em sua memória os produtos ou serviços qualidade, para uma imagem de produ-
O entendimento do comportamen- que possam resolver seus problemas. Na tos de qualidade a um preço não tão
to do consumidor para as empresas é busca externa, ou pré-compra, os consu- alto, quando comparado ao preço das
importante porque permite que elas midores obtêm informações do ambien- marcas líderes. Neste sentido, os consu-
possam prever as atitudes de seus te que vivem. Isto acontece de forma midores passam a decidir a compra de
clientes no mercado. Neste contexto, sistemática com o auxílio da mídia e o um produto de marca por meio do esta-
os gestores precisam estar preparados processo de comunicação boca a boca. belecimento de uma associação entre
para avaliar a formação das expectati- Após o cliente possuir todas as infor- benefício e custo (PRATO, 2008).
vas dos clientes no âmbito do compor- mações necessárias ele avalia as alter- Atualmente o ciclo natural dos produ-
tamento de consumo. Para que isto nativas de compra e dentre estas qual tos é muito mais curto do que décadas
seja conseguido é necessário entender será a mais conveniente, comparan- atrás, levando as empresas a um processo
as influências que estimulam o consu- do as opções encontradas com as que de inovação contínuo através de novos
mo, que são divididos em três grupos estão em sua memória. Normalmente, produtos, novas versões, novas marcas
básicos: influências externas, influên- os consumidores, em decorrência da e novas estratégias. Assim sendo, as
cias internas e processo de decisão de grande quantidade de opções oferecidas organizações estabelecem estímulos por
compra (ASSAD & ARRUDA, 2006). pelo mercado, monitoram os seguin- meio de anúncios estimulantes, embala-
tes atributos do produto ou serviço na gens interessantes e preços atraentes, e
DECISÃO DE COMPRA avaliação das alternativas: quantidade, recebem respostas dos clientes o reco-
tamanho, qualidade, preço e marca. nhecimento da marca, preferência pelo
Para que as empresas sejam bem
(PRADO, 2008). consumo e o processo de compra. Desta
sucedidas nos mercados competitivos
é necessário entender como os consu- Segundo Prado (2008) e Blackwell et al. forma, acredita-se que a fidelidade à
midores realizam suas decisões de esco- l (2009) a fase decisão de compra é divi- marca ocorra após o consumo e a satisfa-
lha de produtos ou serviços objetivan- da em duas etapas: compra e consumo. ção dele gerada (SCHROEDER, 2009).
do manter e estimular o surgimento Na compra o indivíduo decidirá: realizar Segundo FRANCISCHELLI (2009)
de novos clientes (BLACKWELL et al. a compra ou não, quando comprar, o que os consumidores preferem gastar seu
2009). Embora existam diversas litera- comprar, onde comprar e como pagar. O dinheiro com produtos de marcas conhe-
turas que apresentam etapas distintas consumo acontece imediatamente após cidas, porque não desejam ariscar ou
sobre o processo decisório, apresenta- a compra do produto ou utilização do perder dinheiro com uma marca desco-
mos um modelo sintetizado com aten- serviço ou algum tempo depois do ato de nhecida. O autor afirma ainda que uma
de todos os modelos existentes. Este comprar. marca forte permite a prática de preços
modelo é composto por cinco estágios: A última dimensão do processo deci- superiores devido ao seu reconhecimen-
reconhecimento do problema, sório é o comportamento pós-consumo. to, permitindo maior rentabilidade para

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a organização. Esta relação do produto das pesquisas adicionais não contribuía tas com alunos de graduação da cidade
de marca conhecida estabelece um elo substancialmente para a formulação de Maceió durante os meses de janeiro
tão forte com seus consumidores que das respostas de pesquisa (NAGLE & e fevereiro de 2013. Estes foram esco-
influenciam sua decisão de compra. BARKI, 2012; FONTES, 2010). lhidos por conveniência do autor e tota-
Dois métodos foram utilizados para lizados por saturação, isto é, quando
ATENDIMENTO analisar os dados das pesquisas de campo. as questões relacionadas chegam a um
limite que não aparecem respostas novas
Segundo Ribeiro et al. (2012) nos últi- O primeiro foi à análise de conteú-
sobre o tema.
mos anos, as empresas reconheceram do. Segundo ROCHA & DEUSDARÁ
que precisam se aproximar cada vez mais (2005) o método análise de conteúdo Para analisar os dados, foram utiliza-
de seus consumidores para entender suas proporciona ao pesquisador vislumbrar das duas ferramentas, primeira a análi-
necessidades e desejos. Uma das formas o resultado por meio de técnicas preci- se de conteúdo onde, por meio das
encontradas por elas foi o desenvolvi- sas e objetivas que serão suficientes para etapas do processo decisório, as infor-
mento da qualidade do relacionamento garantir da descoberta de um verda- mações foram tratadas qualitativamen-
que têm com estes consumidores. deiro significado até então não conhe- te com o auxilio do software Atlas ti.
cido dos fatos. A leitura minuciosa das 6.2 a segunda ferramenta utilizada foi
Ainda segundo o autor o atendimento o método etnográfico com o uso das
transcrições feitas pelos entrevistados,
precisa ser personalizado, isto é indivi- fotos retiradas nos ambientes onde os
quer de forma escrita ou oral, constarão
dualizado. Esta constatação confere com entrevistados guardam seus produtos de
verdades, muitas vezes obscuras pelo
as afirmações de que os clientes tornam- higiene bucal. Segundo SEGABINAZZI
ouvido não apurado do pesquisador.
-se comprometidos com a empresa & LUMERTZ (2011) as gravações em
quando percebem mais valor nela do Ainda segundo BARDIN (2011) o
áudio, assim como outras imagens são
que em outra, ou seja, quando o sacrifí- método análise de conteúdo é baseado componentes importantes na pesqui-
cio realizado pelo consumidor é perce- em categorias que são criadas durante a sa qualitativa porque após a análise dos
bido como menor do que os benefícios confecção do roteiro de entrevistas para dados o pesquisador fará suas avaliações
recebidos (RIBEIRO et al. l, 2012). que no processo de pesquisa exista uma
linha única para todos os participantes baseadas em dados confiáveis que foram
Segundo Furtado e Franco (2011), registrados de forma idônea.
e para tanto surgirão subcategorias que
embora a marca seja decisiva no processo De acordo com o Critério Brasil
serão classificadas apenas na análise dos
de compra, outro fator preponderante é (2012) das pessoas pesquisadas duas são
resultados, isto é, final do projeto.
o atendimento, isto é, o relacionamento da classe “A”, dez pertencem à classe
que a empresa tem com seus consumi- O segundo método empregado foi
econômica “B” e duas da classe “C”. A
dores. Logo, a confiança atua como fator o etnográfico. Segundo PEREIRA E tabela 1 complementa dados dos entre-
redutor do risco e da vulnerabilidade dos CAVEDON (2009) etnografia consis- vistados quando apresenta outras cate-
relacionamentos, contribuindo para o te em um estudo descritivo sobre uma gorias baseadas nas questões objetivas
sentimento de formação de lealdade. determinada comunidade, ou grupo de
pessoas, de modo particular a observa- do questionário de pesquisa.
ção participante. Seguem as etapas do Analisando ainda a tabela 1 ficou
METODOLOGIA evidente que os entrevistados valori-
processo etnográfico. A primeira etapa
A fim de compreender o compor- consiste na delimitação do objeto a ser zam a marca do produto, distribuição
tamento de consumo de produtos de investigado, a localização e o tempo ou a facilidade de encontrar o produ-
higiene bucal dos alunos de graduação de permanência prevista para a coleta to que utiliza e as características físicas
foi escolhida a pesquisa qualitativa por dos dados. A segunda etapa o pesquisa- dos itens de higiene bucal. Este resul-
possibilitar uma análise aprofundada dor deve inserir-se no campo e manter tado concorda com FRANCISCHELLI
do fenômeno (ORTIZ et al. l, 2012; registros, por meio de notas de campo, (2009) quando menciona que os consu-
FRANCISCHELLI, 2009; MALHO- entrevistas, fotos ou filmagens do conví- midores gastam seus recursos geralmen-
TA, 2005). A pesquisa foi realizada na vio comum dos entrevistados (DA te com produtos de marcas conhecidas.
cidade de Maceió com alunos esco- SILVA et al. , 2010; FLICK, 2009). Para MAGALHÃES (2009) os produtos
lhidos por conveniência do autor e o de higiene pessoal, que incluem os de
total foi determinado por saturação, higiene bucal, têm seu ponto forte na
ou seja, as entrevistas foram conduzi- ANÁLISE DOS RESULTADOS distribuição em três principais canais:
das até o momento em que a realização Foram realizadas quatorze entrevis- distribuição tradicional, incluindo

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o atacado e as lojas de varejo, venda das informações citadas nas pesquisas e Tais relatos vão à mesma direção
direta, franquias, lojas especializadas e comparadas com o que apareciam nas dos achados de ISSA JUNIOR (2004)
personalizadas. fotos. Haja visto que, o espaço a ser e AGUIAR et al. (2008) que destacam
Nas entrevistas com o uso das ques- analisado foi construído por meio do a importância das relações próximas
tões fechadas, encontramos algumas referencial teórico, porque o objetivo de parentes e vizinhos como fontes de
características dos entrevistados. Do é a contextualização do fenômeno (DA informação. Na verdade apontam não
total de entrevistados nove tem plano SILVA et al. , 2010). apenas se tratar de uma rede de infor-
odontológico e seis tem medo de dentis- Um exemplo foi o entrevistado mações, mas também de um espírito de
ta. No item planejamento no consu- Pesq_02 quando disse que utilizava fio reciprocidade que funciona como prin-
mo dez pessoas disseram que plane- dental e geralmente usa três tipos de cípio estruturante da vida social local.
jam suas compras e quatro planejam creme dental. Entretanto, nas fotos tira- Percebemos nas entrevistas que os
parcialmente. Portanto, conclui-se que das do local onde armazena estes itens alunos de graduação fazem a seleção e
o planejamento para compra de produ- ficou claro que ou não usa fio dental escolha dos produtos geralmente pela
tos de higiene bucal é uma característica ou está guardado em outro local e o marca, avaliam o resultado pela satis-
importante dos alunos de graduação e creme dental utilizado foi apenas um, fação pessoal e aparência dos dentes.
que existe um interesse real para ter um o de marca Colgate (Figura 02 e 03). Quanto ao consumo seguem padrões
plano odontológico porque até os cinco Estas observações assemelham-se com o naturais adquiridos e o pós-consumo
que não tem gostariam de adquirir para método etnográfico na dimensão obser- acontece de forma regular, haja vista
manter a boa aparência. vação participante aonde o pesquisador que necessitam da troca dos utensílios
Os entrevistados citaram alguns bene- vai ao campo e registra imagens ou fatos para tratamento bucal em razão dos
fícios, em seu entendimento, que são da realidade com base no objeto de desgastes naturais, validade e substitui-
muito importantes na sua decisão de pesquisa (FLICK, 2009). ção (PEREIRA, 2010; BENTO, 2011).
compra de produtos para higiene bucal Nas transcrições das pesquisas quali-
(Gráfico 1 Anexos). De uma lista de tativas e exploratórias ficou claro que os
treze benefícios, o público escolheu os CONSIDERAÇÕES FINAIS
consumidores de produtos de higiene
seguintes: prevenção à cárie (14 cita- bucal buscam informações com pessoas O presente artigo se propôs a enten-
ções), evitar mau hálito (13 citações), conhecidas, pela internet e principal- der o comportamento de consumo
combate às bactérias e prevenção contra mente pelo seu dentista. Estas consta- quanto a produtos de higiene bucal e
as bactérias da língua (12) como sendo os tações estão de acordo com Gomes et como acontece a decisão de compra e
de maior importância para sua decisão al. (2007) quanto retrata que um dos utilização destes produtos. Os objetivos
de compra de produtos de higiene bucal. fatores do processo de tomada decisão foram alcançados através de pesquisa de
Com o auxílio do Atlas ti. 6.2 foi possível é a busca de informações de dois grupos campo com quatorze alunos de gradua-
fazer as ligações diretas entre eles confor- primários e secundários, do primeiro ção da cidade de Maceió.
me demonstrado na figura 1 a seguir. fazem parte a família, os amigos e cole- De acordo com as informações levan-
Portanto, foram citados treze possí- gas de trabalho ou escola e o segundo, tadas com os consumidores, pode-se
veis benefícios para o uso de produtos de são grupos mais formais como profissio- perceber que os atributos marca, facilida-
higiene bucal e os entrevistados apenas nais especializados, sindicatos e religi- de de encontrar (distribuição) e aparên-
citaram quatro como os mais importan- ões. Os trechos extraídos das entrevistas cia dos produtos (características físicas)
tes. Este fato justifica a falta de conhe- seguem para confirmar este fato. foram as mais citadas quando questio-
cimento dos alunos quanto aos reais “Internet e pessoas conhecidas” nadas em razão do grau de importân-
benefícios para tratamento bucal e ainda (Pesq_01); cia. Estes achados se assemelham com o
um grande potencial para investimento referencial teórico onde Prado (2008)
na promoção e divulgação, por parte da “Dentista e de indicação de pessoas apresenta que os consumidores passam
indústria, do consumo de produtos rela- próximas” (Pesq_02); a decidir a compra de um produto de
cionados ao ambiente interno da boca. “Sim, geralmente procuro na inter- marca por meio da relação entre o custo
Em seguida o trabalho seguiu avalian- net, procuro informações sobre a credi- e benefício.Também com os conceitos de
do as fotos tiradas dos ambientes onde bilidade do produto” (Pesq_07); Gomes et al. (2007) quando relata que
se encontravam os produtos de higiene “Minha dentista sempre me orienta” os consumidores de produtos de higiene
bucal. Destas imagens foram analisa- (Pesq_09); bucal preferem produtos de fácil localiza-

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ção e com boa aparência. cionadas ao tamanho da amostra, haja dos produtos de higiene bucal, ficou
Outro fator característico nas entre- vista que com a possível utilização da evidente nas entrevistas que os usuá-
vistas foi que os usuários de produtos de pesquisa quantitativa fosse demonstrar rios não sabem exatamente detalhes
higiene bucal não têm um padrão único outras relações de consumo para este sobre a frequência de uso, conservação,
quanto à quantidade de vezes em que tipo de público. Também não foram validade e benefícios reais de cada item
fazem sua higiene bucal e acreditam que realizadas entrevistas focando em uma de higiene bucal. Outra sugestão está
apenas a limpeza após as três refeições proporção por classe econômica. relacionada à divulgação, que pode ser
são satisfatórias para uma boa limpeza. Como sugestão para pesquisas futuras direcionada por classe social, univer-
Sua frequência de troca dos produtos sugere-se um destaque direcionado para sidades, escolas e por classe social.
está relacionada ao uso, mas o fato de produtos de marcar pré-determinadas Sugere-se ainda que o setor de logística
trocar as escovas acontece pela aparên- e uma amostra maior com quantidades e distribuição, das empresas de produ-
cia do produto e não pelo tempo em iguais de cada classe econômica. Outra tos de higiene bucal, realize um plane-
que seria necessário de acordo com os sugestão é o uso do método laddering jamento para que seus itens estejam
fabricantes (PEREIRA, 2010). onde poderão ser observadas carac- próximos dos clientes e com um preço
As contribuições acadêmicas fica- terísticas dos atributos, consequên- relativamente igual aos dos supermer-
ram evidentes no entendimento, pelos cias e valores e suas interações com o cados e farmácias, citados como princi-
entrevistados, das necessidades do trata- comportamento de consumo. Sugere-se pais pontos de compra.
mento bucal, das estratégias comerciais também uma pesquisa direcionada aos Portanto, os produtos de higiene
que as empresas poderão estabele- profissionais do ramo de higiene bucal bucal, por fazerem parte do nosso dia
cer para alavancar vendas e instruir os como os fabricantes destes produtos e a dia, fazem necessário um entendi-
consumidores da melhor forma de utili- dentistas para estabelecer comparações mento real das suas características e
zar produtos de higiene bucal. Outra ou distorções nos conceitos empíricos e benefícios. Para que a saúde e a quali-
contribuição foi à necessidade de maio- técnicos. dade de vida sejam alcançadas pela
res estudos com populações de ambien- Sugere-se para os gerentes, tanto do imagem positiva que percebemos em
tes distintos para avaliar possíveis distor- varejo como do atacado, profissionais nosso sorriso e que outras pessoas, de
ções na forma de comportamento. capacitados para atender os clientes nosso interesse, possam perceber uma
As limitações deste artigo estão rela- e informar detalhes sobre o consumo aparência saudável e feliz.

Pessoas Pesquisadas Marca Distribuição (facilidade de Características físicas do Classe social (critério brasil)
encontrar) produto
Pesq_01 10 7 7 B2
Pesq_02 7 7 5 B1
Pesq_03 7 6 3 B1
Pesq_04 5 9 2 A2
Pesq_05 10 1 4 A2
Pesq_06 1 5 5 B1
Pesq_07 9 2 6 B2
Pesq_08 9 1 7 C1
Pesq_09 5 8 5 B2
Pesq_10 3 10 8 C1
Pesq_11 10 6 9 B2
Pesq_12 10 6 9 B2
Pesq_13 8 8 5 B2
Pesq_14 7 5 5 B1
Média por Categoria 7,21 5,79 5,71

Tabela 1 – Grau de Importância por Categoria. Fonte: Autor baseado na pesquisa de campo.

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Figura 1 – Benefícios do tratamento bucal mais citados pelos entrevistados

Figura 02 – Pesq_02 Figura 03 – Pesq_02

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Filho, Edivaldo Pereira da Silva Comportamento de consumo e características do uso de produtos de


higiene bucal: um estudo exploratório com alunos de graduação da cidade de Maceió

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142 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Atendimento ao paciente politraumatizado


Assistance to the patients with polytrauma

Palavras-chave: Politrauma. Face. ATLS.


Keywords: consumer behavior, oral hygiene, decision-making process.

Dayane Duarte* RESUMO


Fabio Sevilha **
O trauma facial assume um papel importante nos pacientes politraumatizados, pois
Gabriel Campolongo*** causam um impacto social e físico significativo, muitas vezes dificultando a integração
Tarley Pessoa de Barros**** desses pacientes novamente na sociedade. Este trabalho tem como objetivo destacar
a importância do atendimento multidisciplinar desses pacientes e a conduta correta a
ser realizada pelos profissionais de saúde, entre eles, os bucomaxilofaciais.

ABSTRACT
Facial trauma plays an important role in multiple trauma patients, because they have a significant impact on
social and physical, often hindering the integration of these patients back into society. This paper aims to hi-
ghlight the importance of multidisciplinary care of these patients and right conduct to be performed by health
professionals, among them, maxillofacial.

* Especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial, professor do curso de


odontologia da FACIG

** Mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial, professor do


curso de odontologia da FACIG e UNIAN

*** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da FACIG e UNIAN

**** Doutor, mestre e especialista em Cirurgia BucoMaxiloFacial,


professor do curso de odontologia da FACIG e UNIAN

Duarte, Dayane et al. Atendimento ao paciente politraumatizado

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 143

INTRODUÇÃO ma de face destaca-se pela sua Do ponto de vista fisiopatológico, o


As lesões bucomaxilofaciais assu- importância, uma vez que apresen- traumatismo se estabelece quando há
mem um papel importante no atendi- ta repercussões emocionais, funcio- ruptura da integridade tecidual anatô-
mento de pacientes politraumatizados, nais e possibilidade de deformidades mica. A intensidade do agente agressor
uma vez que podem ocasionar mudan- permanentes (BISSON, SHEPHERD, associada à resistência tecidual deter-
ças estéticas e morfofuncionais, com DHUTIA, 1997). minarão a extensão da lesão (COSTA,
variado grau de morbidade, interferin- A grande quantidade de lesões na 1998).
do diretamente nas relações interpes- face deve-se à enorme exposição e No tratamento inicial de um poli-
soais. Quando deixam seqüelas, podem a pouca proteção desta região o que traumatizado, a atenção está voltada
marginalizar o indivíduo do convívio acarreta freqüentemente lesões graves. às lesões graves, buscando seu rápido
social, gerando incapacidade de traba- As lesões da cabeça e da face podem diagnóstico e tratamento imediato.
lho (RAMPOSO et al. , 2009). representar 50% de todas as mortes Muitas vezes, erros grosseiros resul-
traumáticas (MACKENZIE, 2000). tam em seqüelas graves ou mesmo em
Traumas acidentais e intencionais,
principalmente acidentes automo- MACEDO et al. , 2008, realizou um óbito. (AGUIAR et al. , 2004).
tivos e agressões, são preocupações estudo que compreendeu 711 pacien- O atendimento ao paciente politrau-
de grandes proporções na sociedade tes, destacando-se o sexo masculino, matizado, segundo o Americann Colle-
contemporânea. Dados da Organiza- representando 72,8% dos pacientes. A ge of Surgeons, pode ser resumido em
ção Mundial da Saúde indicam que o faixa etária de maior incidência de trau- quatro fases: exame primário e ressus-
trauma está entre as principais causas ma facial foi de 21 a 30 anos, compre- citação; exame secundário; reavaliação;
de morte e de invalidez no mundo, endendo 35,3% de toda a população tratamento definitivo.
afetando todos os povos sem distinguir estudada.
idade, sexo, renda ou região geográfica O estresse do dia a dia leva os EXAME PRIMÁRIO
(KRUG et al. , 2000). indivíduos a se locomoverem com
maior velocidade, desta maneira, até A – Airway (vias aéreas permeáveis
O paciente politraumatizado é diferente com controle da coluna cervical);
de qualquer outro tipo de doente, pelas mesmo a prática esportiva mostra-
-se mais violenta e a cabeça torna-se B – Breathing (respiração e ventila-
próprias circunstâncias que originaram
alvo do impacto e o primeiro ponto ção);
o seu estado; de um modo geral, era
uma pessoa hígida e com saúde, até de choque frente às adversidades C – Circulation (circulação com
que, subitamente, devido a algum tipo (MENEZES, 2007). controle das hemorragias);
de acidente, passou a se encontrar em PACIENTE POLITRAUMATIZADO D – Disability (incapacidade neuro-
estado grave, necessitando de assistên- Segundo o Conselho Federal de lógica); e
cia médica imediata, sem que se encon- Medicina, em 11 de novembro de E – Exposure/Enviromental Control
trasse preparado de maneira alguma 1998. Art. 4º. Nos procedimentos em (despir o paciente, mas protegendo-o
para tal situação. pacientes politraumatizados, o cirur- da hipotermia).
Para que o sucesso no socorro seja gião-dentista membro das equipes de (SANTOS e Salim, 2008)
obtido, é fundamental que o paciente e atendimento de urgência deve obede-
suas lesões sejam manuseados correta- cer a um protocolo de prioridade de
mente desde o local do acidente, a fim de atendimento do paciente, devendo sua EXAME SECUNDÁRIO
se evitar o agravamento ainda maior de atuação ser definida pela prioridade Somente iniciado após o fim do
seu estado. Este trabalho tem o objetivo das lesões do paciente (VANUTTI e exame primário e quando necessário a
de destacar a importância do atendimen- NETO, 2010). ressuscitação iniciada, podemos iniciar
to correto nesses pacientes que são uma O termo politraumatismo é defi- o exame secundário, que é uma avalia-
realidade na nossa especialidade. nido como lesões concomitantes que ção completa do paciente, no qual
atingem mais de uma região do corpo, procedimentos específicos e exames
podendo ter caráter intencional ou mais detalhados são realizados (PRATI
REVISÃO DE LITERATURA
acidental, e que causam danos morfo- E PASTORI, 2010). Deverão ser veri-
Trauma de face lógicos, fisiológicos e/ou bioquímicos ficadas: a freqüência cardíaca, a pressão
Dentre os diversos tipos, o trau- (COSTA, 1998). arterial, a freqüência respiratória e a

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144 Anuário de Artigos Científicos 2014

temperatura corpórea (VALENTE, TRATAMENTO DEFINITIVO belecer um diagnóstico.


1999). Inspeção, palpação, percussão Período que visa o tratamento defi- Os tecidos moles podem apresentar
e ausculta são realizadas cuidadosa- nitivo de todas as lesões, que foram contusões ou feridas que devem ser
mente, incluindo cabeça, face, pesco- identificadas durante o exame secun- tratadas de maneira adequada. As contu-
ço, tórax, abdome e membros. E a dário, do paciente politraumatizado sões são lesões onde não há solução de
partir daí é avaliada a necessidade da (PRATI e PASTORI, 2010). continuidade, tratadas com aplicação
participação de especialistas é avaliada O paciente portador de trauma- de gelo sobre a região acometida nas
nesta etapa. tismo facial pode apresentar lesões primeiras 24 horas. Caso evolua rapida-
de tecidos moles e/ou duros. Muitas mente, deve-se fazer uso de um curativo
vezes esses traumas podem atingir compressivo (AGUIAR, 2004).
REAVALIAÇÃO regiões como o nariz e maxila e ou Já as feridas apresentam solução de
A reavaliação deve ser realizada perio- mandíbula, impossibilitando a intu- continuidade do tecido e seu trata-
dicamente, e o método mais eficaz a bação nasotraqueal e orotraqueal mento depende do tipo de ferimen-
mediante a avaliação neurológica. (BRINHOLE et al. , 2005). Antiga- to, do tempo decorrido, do grau de
mente a única alternativa disponível contaminação, da idade do paciente
O exame neurológico rápido é seria a realização da traqueostomia,
realizado mediante a utilização da mas esta pode apresentar complica- e do seu estado geral. A seqüência
deve ser: limpeza da ferida; anestesia;
Escala de Coma de Glasgow (ECG), ções e é reservada somente nos casos
remoção de corpos estranhos; debri-
que confere ao neurocirurgião um onde é realmente necessária. A intu-
damento; hemostasia; sutura; curati-
diagnóstico preciso sobre o grau bação submental é uma alternativa vos (PETERSON, 2000).
de comprometimento neurológico interessante à traqueostomia e reali-
zada de maneira segura e eficaz. Nos tecidos duros, pode haver a
(PRATI e PASTORI, 2010).
ocorrência de fraturas que devem ser
1- Abertura ocular Em pacientes com trauma de face, a tratadas pelos princípios consagra-
• espontânea = 4 profilaxia antimicrobiana e antitetâni- dos por Bohler: redução, contenção e
• ordem verbal = 3 ca é indicada para toda ferida poten-
imobilização. (VALENTE, 1999).
• dor = 2 cialmente contaminada (COSTA,
• nenhuma = 1 1998). Considera-se contaminado
2- Melhor resposta verbal todo ferimento com mais de seis horas, CONCLUSÃO
devido ao crescimento bacteriano que O correto atendimento ao pacien-
•orientado = 5
se instala na ferida, que é potenciali- te politraumatizado assume um papel
• confuso = 4 zado após um período de latência de
• palavras = 3 importante na nossa especialidade.
duas a três horas (BARROS, 1993). Traumas em face tornam-se de gran-
• sons = 2
A administração de analgésicos via de impacto na sociedade, muitas vezes
• nenhuma = 1 parenteral promove alívio da dor e “mascarando” outras lesões meno-
3- Melhor resposta motora maior conforto ao paciente, conco- res, que podem ser mais complexas.
•obedece a comando = 6 mitantemente gera condições de Portanto, há a necessidade do conhe-
• localiza dor = 5 uma melhor abordagem terapêutica cimento dos profissionais no ATLS e
• flexão normal = 4 (AGUIAR, 2004). na estabilização desses pacientes antes
• flexão anormal = 3 Exames complementares como de determinar a conduta a ser realiza-
• extensão à dor = 2 radiografias e exames de sangue da, evitando assim erros que podem
• nenhuma = 1 podem ser solicitados a fim de se esta- ser fatais para o paciente.

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 145

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Duarte, Dayane et al. Atendimento ao paciente politraumatizado

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146 Anuário de Artigos Científicos 2014

Artigo Original

Osteoporose e as fraturas bucomaxilofaciais

Dayane Duarte RESUMO


Fabio Moschetto Sevilha O perfil epidemiológico da população mundial e brasileira vem mudando nos últi-
Gabriel Campolongo mos anos. O aumento do atendimento aos pacientes idosos mostrou a necessidade do
Tarley Pessoa de Barros conhecimento das alterações fisiológicas deste grupo, principalmente a osteoporose,
que apresenta particularidades e se tornou uma realidade na nossa especialidade.

ABSTRACT
The epidemiological profile of Brazilian and world population has been changing in recent years.The increase in
assistance to elderly patients showed the need for knowledge of the physiological changes of this group, especially
osteoporosis, which has special features and became a reality in our specialty.

Duarte, Dayane et al. Osteoporose e as fraturas bucomaxilofaciais

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ABO - Associação Brasileira de Odontologia 147

INTRODUÇÃO oporose, a qual prejudica a cura das terão um prolongado tempo de elimina-
O aumento na expectativa de vida da fraturas devido à formação inadequada ção. (HUPP e DUDDLESTON, 2008)
população mundial devido à evolução da matriz óssea. Os idosos apresentam Os bifosfonatos são drogas de eficácia
significativa da medicina com o surgi- alterações anatômicas que podem modi- comprovada na prevenção e tratamen-
mento de novos medicamentos e novos ficar a modalidade de tratamento para to de diversas patologias ósseas. Esses
tratamentos vem mudando o perfil as injúrias, dentre elas: a incidência de medicamentos, em geral, atuam na
epidemiológico da população brasileira. edentulismo e a atrofia dos maxilares. A remodelação óssea por meio da dimi-
reabsorção óssea alveolar é quatro vezes nuição da reabsorção óssea, via diferen-
Segundo dados da Organização
maior na mandíbula do que na maxila e tes mecanismos, agindo principalmente
Mundial de Saúde (OMS), no ano de
compromete a vascularização da mesma sobre os osteoclastos, inibindo e redu-
2000 o número de idosos no mundo
(DIAS, 2001). zindo sua atividade. (WESSEL, 2008).
era em média de 600 milhões, e que
em 2025 esse número atingirá mais de A osteoporose é uma patologia carac- O uso de determinadas formulações
1.100 milhões, colocando o envelheci- terizada pela diminuição de massa óssea dessas drogas tem sido relacionado com
mento da população como a transfor- e pela deterioração estrutural do teci- o desenvolvimento de necrose óssea
mação demográfica mais importante da do ósseo, causando fragilidade óssea tanto em maxila quanto em mandíbula,
sociedade atual. (DUNKERSON, 1997) e suscetibilidade acentuada a fraturas, sendo esta, geralmente, mais afetada.
especialmente da coluna, quadril e Por outro lado, sua ação sobre a ativi-
O envelhecimento populacional é punho, embora qualquer osso possa ser
um fator extremamente positivo para dade dos osteoclastos vem sendo estu-
afetado. (NATIONAL OSTEOPORO- dada com o intuito de proporcionar.
a sociedade por significar um maior SIS FOUNDATION, 2009).
emprego do conhecimento e da expe- melhores resultados em procedimentos
riência dentro de uma comunidade. Por O método mundialmente emprega- cirúrgicos como a instalação de implan-
outro lado, há uma progressão na expo- do para o diagnóstico dessa alteração é tes osseointegráveis, distração osteogê-
sição dos mesmos aos agentes agresso- o uso do densitômetro duo-energético nica ou reconstruções ósseas por meio
res da vida moderna, transformando-os por raios X, também denominado DXA de enxertos (CARVALHO et al. , 2010).
progressivamente, em alvos de inúme- (Dual Energy X-Ray Absorptiometry),
Mulheres brancas idosas são predis-
ros tipos de traumatismos, inclusive o qual pode ser empregado para avalia-
postas à perda de resistência óssea pela
dos traumatismos buco-maxilo-faciais. ções de densidades ósseas em qualquer
osteoporose; cuidado extremo deve ser
(DIAS et al. , 2001). área do esqueleto (SOUZA,1996).
tomado quando se realiza o transporte
Apesar da grande disponibilidade Um dos principais aspectos a ser desses pacientes para a sala de opera-
de tratamentos médicos, medicações levado em consideração no atendimen- ções. A fina espessura da pele os faz mais
e informação que a população recebe, to desses pacientes em questão é que, suscetíveis a danos por pressão, aumen-
ainda temos que lidar com algumas normalmente, os mesmos fazem uso, tando a necessidade de uma apropriada
doenças fisiológicas como diabetes, em média, de 3 a 4 medicamentos dife- proteção intra-operatória. (HUPP e
pressão alta e principalmente a osteo- rentes, muitas vezes sem controle médi- DUDDLESTON, 2008)
porose que atinge a população idosa e co. Existindo, portanto, a possibilidade
de ocorrer às interações medicamen- Os principais agentes etiológicos das
se faz necessário o conhecimento para fraturas de mandíbula apresentados por
tosas com as drogas administradas para
tratar deste grupo especial, mas não esta população são os acidentes auto-
o seu tratamento odontológico, neste
incomum, de pacientes que se tornaram mobilísticos, seguidos dos episódios de
caso, cirúrgico. (ANDRADE, 1998)
uma realidade na nossa especialidade. quedas e as agressões, sendo as mulheres
Modificações nas dosagens de drogas mais afetadas que os homens (TORRIA-
para os idosos incluem redução das dosa- NI E OLIVEIRA, 2000).
REVISÃO DE LITERATURA gens de benzodiazepínicos em até 50%,
O cirurgião bucomaxilofacial deve identificação do potencial disrítmico da Pode ser causada por traumatismos
preparar-se para tratar dos idosos, pois atropina e a ciência de que narcóticos diretos ou indiretos, e várias condições
os mesmos têm condições sistêmicas como morfina e meperidina têm prolon- predispõem à fratura, tais como a atrofia
peculiares que devem, quando presen- gada duração de ação e de que drogas mandibular, osteoporose e a presença de
tes, serem identificadas. Uma condição hidrossolúveis terão seu efeito farmaco- processos patológicos bucomaxilofaciais
freqüentemente encontrada nos idosos, cinético aumentado, enquanto drogas associados. (FONSECA, 2000).
principalmente nas mulheres, é a oste- lipossolúveis, como os barbitúricos, O tratamento das fraturas mandibu-

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148 Anuário de Artigos Científicos 2014

lares em idosos tem gerado discussões, melhores condições de vida da popula- DUDDLESTON, 2008; TORRIANI E
principalmente quando abordam fratu- ção, aumentaram a expectativa de vida OLIVEIRA, 2000; FONSECA, 2000).
ras em mandíbulas edêntulas e atrófi- e tornaram o atendimento aos pacientes Essas discussões levam a uma série
cas. A divergência gira em torno das idosos uma realidade e uma necessida- de dúvidas sobre a melhor opção de
vantagens e desvantagens da redução de dentro da nossa especialidade. Esse tratamento e diminuição da morbidade.
cruenta e incruenta, da fixação intra- grupo, apesar de muitas vezes serem Dependendo da condição sistêmica dos
-óssea e da externa em relação à neces- indivíduos saudáveis e estarem aptos pacientes e quando não há deslocamen-
sidade de bloqueio maxilomandibular. para realização de procedimentos cirúr-
(VALIATI et al. , 1998). to significativo das fraturas, estas podem
gicos, apresentam alterações fisiológicas ser tratadas de forma fechada, utilizando
Uma fratura de mandíbula atrófica, e uso de medicações que podem inter-
a própria prótese total como contenção,
por exemplo, na qual a altura verti- ferir no planejamento e prognóstico das
evitando assim, riscos cirúrgicos. Quan-
cal seja de apenas 15 mm, não obteria cirurgias. (DIAS, 2001; ANDRADE,
do temos deslocamentos, Há a necessi-
vantagem mecânica na colocação de 1998; HUPP e DUDDLESTON, 2008).
duas placas na superfície lateral. Em tais dade de redução aberta e o uso de placas
Pacientes idosos, em especial mulhe- que agüentem a forte ação muscular
casos, uma placa única e mais forte deve res da raça branca apresentam maior
ser aplicada abaixo do canal mandibular, e das forças mastigatórias, já que deve
propensão a Osteoporose, patologia ser evitada a necessidade de uma nova
como nos casos de placas de reconstru- caracterizada pela diminuição de massa
ção (Ellis, 2008). intervenção. Para estes casos a melhor
óssea e pela deterioração estrutural opção esta no uso de placas de Recons-
Imagens radiográficas mostram não do tecido ósseo, causando fragilida-
apenas a localização das fraturas, mas trução. (VALIATI et al. , 1998; Ellis,
de óssea e suscetibilidade acentuada
também o grau de deslocamento e altura 2008; LASKIN e ABUBAKER, 2007).
a fraturas. Lembrando também que
da atrofia mandibular, que são importan- muitos fazem uso de medicações como
tes para determinar o tratamento. Deslo- os Bifosfonatos, tão discutidos atual- CONCLUSÃO
camentos das fraturas em mandíbulas mente. (NATIONAL OSTEOPORO- - O perfil epidemiológico da população
com mais de 10mm de altura devem ser SIS FOUNDATION, 2009; (WESSEL,
tratadas com fixação externa ou redução mundial vem mudando nos últimos anos.
2008; CARVALHO et al. , 2010).
aberta e fixação rígida. Mandíbulas com - A população idosa apresenta mais
Ao mesmo tempo, o aumento alterações fisiológicas, entre elas a Oste-
menos de 10mm de altura poderiam ser
tratadas com Redução fechada e quando significativo dos acidentes automobilís- oporose.
muito deslocadas, com redução aberta e ticos e o risco de queda da própria altura
que esta faixa etária apresenta, propor- - São suscetíveis a fraturas mandibula-
placas ósseas de Reconstrução (LASKIN res devido a acidentes automobilísticos
e ABUBAKER, 2007). ciona um alto índice de fraturas mandi-
bulares. Estas mandíbulas na sua maioria e quedas da própria altura.
são edêntulas, portanto apresentando - No tratamento muitas vezes pode
DISCUSSÃO um grau considerável de reabsorção ser necessário o uso de placas de recons-
Fica claro que o avanço da Medicina e óssea e atrofia mandibular. (HUPP e trução, pois as mandíbulas são atróficas.

Duarte, Dayane et al. Osteoporose e as fraturas bucomaxilofaciais

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