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Celso Benedito1
Cristiane Delecrode2
1 Celso José Rodrigues Benedito, Professor doutor adjunto (Trompa) da Escola de Música da
UFBA. E-mail: benedito.celso@gmail.com
2 Voluntária da Filarmônica UFBA. E-mail: cristianedelecrode@gmail.com
e projetos de extensão universitária como a Filarmônica da UFBA. Essa confluência
entre ensino, pesquisa e extensão se dá através de suas ações musicais, didáticas,
acadêmicas e sociais no sentido principal de valorizar e preservar uma cultura popular.
Este trabalho apresenta as implicações desta arte musical e das ações da universidade na
documentação e fortalecimento de práticas musicais tradicionais pela educação
patrimonial.
Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho
educacional centrado no patrimônio cultural como fonte
primária de conhecimento e enriquecimento individual e
coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as
evidências e manifestações da cultura em todos os seus
múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da
educação patrimonial busca levar as crianças e adultos a um
processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de
sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto
destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos
conhecimentos num processo contínuo de criação cultural
(HORTA, GRUNBERG, MONTEIRO, 1999, p.6).
Já fazem 12 anos desde minha chegada em solo baiano no ano de 2007 com o
intuito de investigar a pratica musical das Filarmônicas da Bahia. Do primeiro artigo
apresentado no I EBECULT sobre o aprendizado musical das bandas de música dos
mestres até o presente momento muito já se fez e continua sendo feito em termos de
pesquisa, ensino e extensão sobre esse patrimônio cultural de grande importância e
capilaridade musical e cultural no Brasil.
Com a criação da Filarmônica UFBA, hoje Núcleo de Bandas da EMUS,
iniciou-se uma jornada “Espaço-Tempo” neste universo pleno de camadas
interpretativas - no sentido de explorar e situar a influência desta tradição musical
sesquicentenária e sua atuação ao redor da órbita que a circunda. Sua presença e seus
efeitos tem um poder de atração capaz de penetrar em todas as esferas de atividades que
giram em seu entorno.
3 http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0291803CL4GAC2
organização de eventos científicos, publicações de artigos e produções de dissertações e
teses. Quanto à extensão, a programação de concertos públicos, realizados pela
Filarmônica UFBA, são divulgados através de vídeos e publicações em redes sociais e
mídias eletrônicas como um canal do Youtube4. Compreende-se que é de vital
importância para a preservação dessa prática musical a conscientização da população
para a relevância social dessa manifestação musical presente em várias cidades da Bahia
e do Brasil.
Uma das ações de integração entre a universidade e a sociedade é o Fórum para
bandas filarmônicas: pedagogia gestão e pesquisa5, realizado desde 2013, que segue
para a sua quinta edição em 2019. O Fórum é responsável pela divulgação científica
vinculada a pesquisas sobre bandas musicais e alcança repercussão nacional. Mas, para
além da apreciação de trabalhos acadêmicos e do prestígio alcançado com a presença de
diversas universidades e corporações musicais o fórum também é palco de projeções
concretas de interação social entre a universidade e a comunidade com ações como: (a)
a criação da FEBAF - Federação das bandas filarmônicas do estado da Bahia6 no I
Fórum, em 2013), e (b) parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia no
Programa de apoio para bandas filarmônicas7, na realização das Jornadas de
qualificação musical (2013) em cidades do interior e o I Encontro de Filarmônicas de
Salvador.
Avançando na busca da preservação de acervos e das tradições dos saberes e dos
fazeres de uma manifestação de cultura popular, reunimos esforços junto à Fundação
Cultural do Estado da Bahia para construir um Convênio de cooperação técnica. Esse
Consórcio conduziria a gestão de um Site para as bandas filarmônicas da Bahia8 lançado
em setembro de 2017, em evento público junto, com a entrega das chaves da casa
cedida por comodato, para brigar a Central das Bandas Filarmônicas à FEBAF. A
missão da Filarmônica UFBA seria conduzir Grupos de Trabalho e fortalecer elos de
uma rede de articulação, com cento e oitenta e sete bandas de música, dos vinte e sete
territórios de identidade, para criar conteúdo e alimentar uma plataforma virtual de
4 https://www.youtube.com/channel/UCZJD2iGM497HnO8HipVf66Q
5 https://forumparabandasfilarmonicas.webnode.com/
6 https://febaf.wordpress.com/
7http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/2016/04/12328/Portaria-da-FUNCEB-define-apoio-para-mais-filarmonicas-da-
Bahia.html
8http://www.escolademusica.ufba.br/noticia/164/187-Filarmonicas-da-Bahia-ganharao-portal-digital-e-
sede-para-a-Federacao
trocas e intercâmbios com vistas a promover resgate, recuperação, manutenção,
preservação da memória e da diversidade das filarmônicas baianas.
O site “www.filarmônicasdabahia.org” tinha a capacidade de ser um portal
multiplataforma com tecnologia para integrar as bandas de todos os 417 municípios do
estado, essa era a intenção da política a ser implementada. Haveria site institucional,
fóruns de discussão, uma rede social particular entre outras funcionalidades
disponibilizadas por meio do Programa de apoio a filarmônicas conduzida pela
FUNCEB.
O plano inicial era criar uma rede de colaboração para a transmissão da
tecnologia do site, com ações de inclusão digital, onde os integrantes da Filarmônica
UFBA seriam os facilitadores. Em efeito cascata (ou bola de neve) cada um dos mais de
doze universitários (composição da banda em 2017) instruiria membros das suas
agremiações de origem formando núcleos regionais de representantes para compor o
Grupo de Trabalho, com até cento e oitenta e sete gestores, para alimentar e manter os
sites institucionais das filarmônicas atendidas pelo programa.
As pesquisas realizadas na graduação e pós-graduação da EMUS documentam
que a transmissão de conhecimento entre membros é uma prática cotidiana entre as
bandas. Essa metodologia, aplicada nas corporações filarmônicas, é realizada quando
um músico mais experiente transmite seu saber generosamente ao integrante mais novo
das escolinhas. O compositor Pedro Amorim (2009) revela sua impressão sobre este
aprendizado:
Nossa intenção era replicar o que é naturalmente vivido no convívio dos músicos
para que se apropriassem das novas tecnologias da comunicação e da informação,
projetando seu contexto social no ambiente da internet ocupando o ciberespaço9. O
efeito bola de neve ocorreria quando um instrumentista integrante da Filarmônica
UFBA transmitisse o aprendizado a no mínimo uma banda, e esta replicasse o processo
a uma agremiação vizinha. Assim, nesse feito de tecer, como um pescador, de nó em nó,
formaríamos uma grande rede de pescar sonhos. Pois, para além de administrar o um
site particular, o que poderia ser feito por apenas um integrante, essas instituições
seriam capacitas com habilidades para documentar a historiografia da manifestação e
produzir conteúdo sobre processos de educação musical e práticas de conjunto, por
exemplo.
O termo ciberespaço foi criado em 1984 por William Gibson,
um escritor norte-americano que mudou-se para o canadá, que
usou o termo em seu livro de ficção científica, Neuromancer.
Este livro trata de uma realidade que se constitui através da
produção de um conjunto de tecnologias, enraizadas na
sociedade, e que acaba por modificar estruturas e princípios
desta e dos indivíduos que nela estão inseridos. O ciberespaço é
definido como “o espaço de comunicação aberto pela
interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores” (LÉVY, 1999, pág. 92).