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SEMINÁRIO DE FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA

1. Comunismo e sentido da História: Camus, Sartre, Merleau-Ponty

“Não é verdade que as boas intenções justificam tudo, nem que se tenha o direito
de fazer o contrário do que se deseja”.
Em 1946, Merleau Ponty era um desses intelectuais da [revista] Temps modernes
(Raymond Aron, Jean Paulhan, Jean-Paul Sartre) que entraram na política sem renunciar
à exigência da verdade e da liberdade.
Essa política separou os que ela devia reunir: Aron, Malraux e Koestler afastados
pela crítica dos Estados Unidos e pela oposição à de Gaulle; Camus pelo anticolonialismo
virulento... Mas o debate principal opôs Sartre a Merleau-Ponty, controvérsia
entrecruzada sobre comunismo e o sentido da História, na qual defendia a União Soviética
sem apoio do marxismo e o outro a rejeitava sem renunciar à dialética histórica.

Albert Camus foi o protagonista do primeiro conflito. Ele recusou-se a tomar


partido entre o capitalismo e o comunismo stalinista e transpôs para o domínio político o
pessimismo do Mito de Sísifo. O homem revoltado está perdido nos Tempos Modernos:
 Nos tempos ingênuos em que o tirano arrasava as cidadãs para a sua maior
glória; em que o escravo acorrentado ao carro de combate do vencedor
desfilava pelas cidades em festa; em que o inimigo era atirado às feras diante
do povo reunido, a consciência conseguir ser clara, e o julgamento, claro.
 Mas os campos de escravos sob a flâmula da liberdade, os massacres
justificados pelo amor ao homem ou pelo gosto de super-humanidades
anuviam, em certo sentido, o julgamento. No momento em que o crime se
enfeita com os despojos da inocência, por uma inversão peculiar ao nosso
tempo, é a inocência que é intimida a apresentar suas justificações.

Será que Alvert Camus merece o qualificativo de “bela alma” lançado


ironicamente por Francis Jeanson? Sua crítica do marxismo testemunha a dupla rejeição
do historicismo e do totalitarismo. Ele recusa uma filosofia que se entrega ao julgamento
da História.
O marxismo seria um messianismo científico, vítima das “ilusões do progresso”
e do “imperativo da produção”. Marx, além disto, queria fazer do proletariado “um Cristo
humano e vingador” (O homem revoltado, 1951). Ora o proletariado não deixou de
contradizer sua missão: ele combateu para a nação e “são as barreiras nacionais que
fizeram cair o ideal proletário”. Ele se submeteu a novos senhores e chefes
revolucionários lhe confiscaram sua espontaneidade e, finalmente, sua liberdade. Marx
foi o primeiro responsável por isso que, esquecendo as advertências de Bakunin, teorizou
a ditadura do proletariado: “Nessa Jerusalém rumorejante de máquinas maravilhosas,
quem ainda se lembrará do grito do degolado?
A força de querer predizer o futuro, o marxismo substituiu a razão científica pela
razão histórica. Não existe outro recurso além da fé, as previsões se desmoronam, mas “a
derrota pode superexcitar a fé vencida até o transe religioso”. Em O homem revoltado,
Camus descreve as etapas desse fracasso: no século XIX, o marxismo encarrega-se da
luta da justiça contra a graça, prometendo, em lugar do reino de Deus, o reino do homem,
mas nesse movimento ele se encarrega da luta da justiça contra a verdade. No século XX,
é preciso que ele responda à questão: como se pode viver sem graça nem justiça? Lenin
inventa o que se tornará a única resposta: pelo poder.
Camus persegue essa vontade de poder no próprio coração da ideologia e reúne
a Alemanha nazista e a União Soviética stalinista sob designação de ‘teocracia totalitária”.
Em ópio dos intelectuais, Raymund Aron escreve que: “[...] a linha divisória passa entre
os intelectuais que não negam a existência dos campos e os que denunciam os campos”:
inegavelmente Albert Camus se coloca, desde o fim da guerra, do lado dos segundos.
Camus considera que a era do totalitarismo começa quando, separada de suas
origens individuais, a revolta reivindica a História e opõe, portanto, ao grito do homem
só, revoltado, que morrendo afirma e cria valores, o discurso historicista do
revolucionário: “Duas raças de homens. Uma mata uma só vez e paga com sua vida, a
outra justifica os milhares de crimes e aceita contentar-se com honras”. Quando a
revolução abarca a História, o presente é submetido às exigência de um futuro longínquo
e a vida do homem não tem mais preço. O terro do Estado caracteriza, então, as “teorias
totalitárias”.
Dessa analise, Alvert Camus extrai o princípio de suas intervenções políticas:
tenta pensar conjuntamente a moral e a política, definido “[...] as condições de um
pensamento político modesto, ou seja, libertado de qualquer messianismo e
desemparaçado da nostalgia do paraíso terrestre”. Mas sem por isso abandona o projeto
de revolta que pressupõe no homem a recusa de ser tratado como coisa: “A História,
certamente, é um dos limites do homem; nesse sentido, o revolucionário tem razão. Mas
o homem, em sua revolta, impõe, por sua vez, um limite na História. Nesse limite nasce
a promessa de um valor”.
As conclusões estão à altura do propósito? Mesmo se constatação de Camus for
jus, ele não oferece nenhuma solução política. Exceto combater, em si, ao redor de si, o
descomedimento; deve-se escutar René Char: “A obsessão da colheita e a indiferença pela
História são as duas extremidades do meu arco”. Mas é Sartre que será ouvido.
Entre Sartre e Merleau-Ponty, o confronto é mais complexo, paradoxal. Sartre
toma posição a favor do Partido Comunista Francês, mas em nome dos princípios do
existencialismo e sem recorrer ao marxismo teórico. Merleau-Ponty ataca tanto o
comunismo stalinista quanto o “ultrabolchevismo” sartriano, mas em nome da dialética,
do sentido da História.

- SARTRE:
- PC = classe operária = Nação, Liberdade e Paz.
- A partir de 1950, compreendeu-se que não se tratava de escolher o que se pode
amar... Era preciso colocar-se do lado dos que arriscavam, daqueles cujo interesse levava
a querer a paz, portanto, dos Soviéticos.
O PC é a expressão necessária exata da classe operária. O partido é aquilo que
sem o que não há unidade da massa operária, ele é a medição constitutiva da classe
operária.
Na França de hoje, a classe operária é a única a dispor de uma doutrina, é a única
cujo particularismo está em plena harmonia com os interesses da nação.
O partido que a representa e a constitui deve ser monolítico, o organismo de
ligação deve ser ato puro; se ele comportar o mínimo germe de divisão, se ele conserva
em si qualquer passividade, um peso, interesses, opiniões divergentes, quem, então,
unificará o aparelho unificador?
Então é preciso lutar “ao lado da classe operária e de seu partido, no campos da
URSS.

- MERLEAU-PONTY:
- COMUNISMO STALINISTA SARTRIANO – ANTIDIALÉTICOS
- Stalin é o deposta sangrento de um novo imperialismo. Ele não encarna nem a
liberdade e nem a paz.
O comunismo stalinista desenvolve uma concepção não-dialética da História. A
eficácia torna-se o único critério. O sentido virá mais tarde, Deus sabe como... No
momento, trata-se somente de um colocar-se as bases

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