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República Federativa do Brasil

Ministério da Educação – MEC

Secretaria Executiva do MEC

Instituto Nacional de Estudos e


Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP
Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências

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História e Geografia
Ciências Humanas
e suas Tecnologias
Livro do Professor
Ensino Fundamental e Médio

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História e Geografia
Ciências Humanas
e suas Tecnologias
Livro do Professor
Ensino Fundamental e Médio

Brasília
MEC/INEP
2003

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© O MEC/INEP cede os direitos de reprodução deste material às Secretarias de Educação, que poderão reproduzi-lo respeitando a
integridade da obra.

Coordenação Geral do Projeto Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências (DACC)


Maria Inês Fini Equipe Técnica
Maria Inês Fini – Diretora
Coordenação de Articulação de Textos do Ensino Fundamental Alessandra Regina Ferreira Abadio
Maria Cecília Guedes Condeixa Andréia Correcher Pitta
André Ricardo de Almeida da Silva
Coordenação de Articulação de Textos do Ensino Médio Augustus Rodrigues Gomes
Zuleika de Felice Murrie Célia Maria Rey de Carvalho
David de Lima Simões
Coordenação de Texto de Área
Denise Pereira Fraguas
Ensino Fundamental
Dorivan Ferreira Gomes
História e Geografia
Érika Márcia Baptista Caramori
Antonia Terra de Calazans Fernandes
Fernanda Guirra do Amaral
Ensino Médio
Frank Ney Souza Lima
Ciências Humanas e suas Tecnologias
Ildete Furukawa
Circe Maria Fernandes Bittencourt
Irene Terezinha Nunes de Souza Inacio
Jane Hudson Abranches
Leitores Críticos
Kelly Cristina Naves Paixão
Área de Psicologia do Desenvolvimento Marcio Andrade Monteiro
Márcia Zampieri Torres Marco Antonio Raichtaler do Valle
Maria da Graça Bompastor Borges Dias Maria Cândida Muniz Trigo
Leny Rodrigues Martins Teixeira Maria Vilma Valente de Aguiar
Lino de Macedo Mariana Ribeiro Bastos Migliari
Área de Historia e Geografia Nelson Figueiredo Filho
Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias Suely Alves Wanderley
Paulo Celso Miceli Teresa Maria Abath Pereira
Raul Borges Guimarães Valéria de Sperandyo Rangel
Nidia Nacib Pontusschka
Modesto Florenzano Capa
Milton José de Almeida (a partir de desenhos de
Leonardo da Vinci)

Coordenação Editorial
Zuleika de Felice Murrie

H673 História e geografia, ciências humanas e suas tecnologias : livro do professor :


ensino fundamental e médio / Coordenação Zuleika de Felice Murrie .
- Brasília : MEC : INEP, 2002.
150p. ; 28cm.

ISBN 85-296-0026-6.

1. História (Ensino médio). 2. Geografia (Ensino médio). I. Murrie, Zuleika de


Felice.

CDD 981

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SUMÁRIO
I. AS BASES EDUCACIONAIS DO ENCCEJA .................................................................... 9
A. A PROPOSTA DO ENCCEJA PARA A CERTIFICAÇÃO

DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................................................... 14


B. A PROPOSTA DO ENCCEJA PARA A CERTIFICAÇÃO
DO ENSINO MÉDIO ....................................................................................................... 18
II. EIXOS CONCEITUAIS QUE ESTRUTURAM O ENCCEJA ................................... 23
A. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ..................................................................................... 24
B. AS ORIGENS DO TERMO COMPETÊNCIA .................................................................. 27
C. AS COMPETÊNCIAS DO ENEM NA PERSPECTIVA DAS

AÇÕES OU OPERAÇÕES DO SUJEITO ......................................................................... 31


III. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO CONTEMPLADAS NO ENCCEJA .............. 39
HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Ensino Fundamental ..................................................... 39
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS - Ensino Médio ............................. 49
IV. AS MATRIZES QUE ESTRUTURAM AS AVALIAÇÕES ................................... 59
HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Ensino Fundamental ..................................................... 61
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS - Ensino Médio ............................. 67
V. ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO DO PROFESSOR

HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Ensino Fundamental ..................................................... 73


CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS - Ensino Médio ........................ 115

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Livro do Professor

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

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Livro do Professor

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

Os brasileiros têm ampliado sua envolveram-se, de alguma forma, em


escolaridade. É o que demonstra o Censo práticas sociais da língua. É desse modo
2000, em recente divulgação feita pelo que se pode entender que o analfabeto
Instituto Brasileiro de Geografia e possui um certo conhecimento das
Estatística (IBGE). O principal fato a linguagens, ao assistir a um telejornal
comemorar é a ampla freqüência às (que usa, em geral, a linguagem escrita,
escolas do nível fundamental que, no oralizada pelos locutores), ao ditar uma
ano 2000, acolhiam 94,9% das crianças carta, ao apoiar-se numa lista mental de
entre 7 e 14 anos. Pode-se afirmar, produtos a serem comprados ou ao
portanto, que o Ensino Fundamental, no reconhecer placas e outros sinais urbanos.
Brasil, é quase universal para a faixa Evidencia-se, assim, importância de
etária prevista e correspondente. Além reconhecer, como ponto de partida, que o
disso, comparando-se dados de 1991 e estilo de vida nas sociedades urbanas
2000, há crescimento na freqüência modernas não permite grau zero de
escolar em todos os grupos de idade. letramento.
Persiste, entretanto, um contingente Há uma possibilidade de “leitura do
populacional jovem e adulto que carece da mundo” em todas as pessoas, até para
formação fundamental. Segundo o referido aquelas sem nenhuma escolarização.
Censo, 31,2% da população brasileira com O Censo Escolar realizado pelo Inep
mais de 10 anos de idade tem apenas até 3 indica um total de 3.410.830 matrículas
anos de estudo; logo, cerca de um terço em cursos de Educação de Jovens e
dos brasileiros (mais de 50 milhões de Adultos (EJA) em 1999. Desse total, mais
pessoas) não concluíram nem a primeira ou menos 1.430.000 freqüentam cursos
parte do Ensino Fundamental. Esses correspondentes ao segundo segmento do
cidadãos que não tiveram possibilidades ensino fundamental, de 5ª a 8ª série.
de completar seu processo regular de Nesses cursos, encontra-se um público
escolarização, em sua maioria, já são variado e heterogêneo, uma importante
adultos, inseridos ou não no mundo do característica da EJA. Entre eles, há uma
trabalho, e têm constituído diferentes parcela dos jovens de 15 a 17 anos de
saberes, por esforço próprio, em resposta idade freqüentando a escola e que,
às necessidades da vida. Nesse sentido, segundo o IBGE, representa quase 79%
assinala-se, nos termos da Lei, o direito a da população dessa faixa. Os demais
cursos com identidade pedagógica própria 21%, por diversos motivos, mas
àqueles que não puderam completar a principalmente por pressões ou
alfabetização, mas, que, ao pertencerem a contingências socioeconômicas,
um mundo impregnado de escrita, deixaram precocemente o ambiente
escolar.

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Livro do Professor

Sendo dever dos poderes públicos e da físicas interessadas em colaborar.


sociedade em geral oferecer condições Os objetivos desses programas ou
para a retomada dos estudos em salas projetos são oferecer vagas e subsidiar
de aula, destinadas especificamente a professores que trabalham com os
jovens e adultos, diversos projetos têm cidadãos que não puderam iniciar ou
sido desenvolvidos no âmbito do concluir seus estudos em idade própria
governo federal. Para atender os ou não tiveram acesso à escola. Em
municípios do Norte e Nordeste com conjunto com diversas outras iniciativas
1
baixo IDH, o Ministério da Educação de organizações não-governamentais
2
(MEC) é parceiro no Projeto Alvorada, (ONGs), universidades ou outras formas
organizando o repasse de verbas a de associação civil respondem ao enorme
Estados e Municípios. Em apoio ao desafio de minimizar os efeitos da
projeto, a Coordenadoria de Educação exclusão do Ensino Fundamental,
de Jovens e Adultos (COEJA), da fenômeno histórico em nosso país que
Secretaria do Ensino Fundamental (SEF– hoje está sendo superado na faixa etária
MEC), tendo como parceira a Ação correspondente. Contudo, mais do que
Educativa, organização não em razão do número de alunos em salas
governamental de reconhecida de aula (ainda pequeno, considerando-se
experiência no campo de formação de o enorme contingente de jovens e
jovens e adultos, apresentou Proposta adultos não-escolarizados), tais ações do
Curricular para Educação de Jovens e governo e da sociedade civil têm
Adultos, 1º Segmento, que visa ao oferecido educação aos cidadãos mais
programa Recomeço – Supletivo de afastados da cultura letrada, por viverem
Qualidade. Além disso, em resposta às em lugares quase isolados do nosso país-
demandas dos sistemas públicos continente ou por estarem desenraizados
(estaduais e municipais) que aderiram de sua cultura de origem, habitando as
aos Parâmetros Curriculares Nacionais periferias das grandes cidades.
(PCN) em ação, a mesma COEJA
Já nos primeiros artigos da Lei de
promoveu a formulação e vem
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
divulgando uma Proposta Curricular
(LDB) de 1996, valorizam-se a
para a EJA de 5ª a 8ª série,
experiência extra-escolar e o vínculo
fundamentada nos Parâmetros
entre a educação escolar, o mundo do
Curriculares Nacionais desse segmento.
trabalho e a prática social.
O Programa Alfabetização Solidária, por
sua vez, foi lançado em 1997 e relata a Esse fato sinaliza o rumo que a
alfabetização de 2,4 milhões de jovens educação brasileira já vem tomando e
em 2001. Em 2002, encontra-se em marca posição quanto ao valor do
2.010 municípios. Caracteriza-se por ser conhecimento escolar, voltado para o
um trabalho de ação conjunta entre
pleno desenvolvimento do educando, seu
diferentes parceiros, coordenados por
preparo para o exercício da cidadania, e
organização não-governamental, e que
sua qualificação para o trabalho (Artigo
2). Essas orientações são reiteradas em
inclui universidades, estados,
muitas outras partes da mesma Lei,
municípios, empresas e até pessoas
como nas diretrizes para os conteúdos

1 Índice de Desenvolvimento Humano, indicador estabelecido pelo Programa de Desenvolvimento Humano da


UNESCO, que considera a esperança de vida ao nascer, o nível educacional e o PIB per capita.
2 Programa do governo federal de gerenciamento intensivo de ações e programas federais de infra-estrutura

10 social, de combate à exclusão social e à pobreza e de redução das desigualdades regionais pela melhoria das
condições de vida nas áreas mais carentes do Brasil.

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

curriculares da educação básica, propósitos e conceitos centrais: a


anunciadas no seu Artigo 27, difusão dos valores de justiça social e
destacando-se a primeira delas, que dos pressupostos da democracia, o
preconiza a difusão de valores respeito à pluralidade, o crédito à
fundamentais ao interesse social, aos capacidade de cada cidadão ler e
direitos e deveres dos cidadãos, de interpretar a realidade, conforme sua
respeito ao bem comum e à ordem própria experiência.
democrática. Respondem por um paradigma com
Ainda outros documentos do Ministério lastro nos legados de Jean Piaget e
da Educação, como os Parâmetros Paulo Freire, verificando-se, com eles,
Curriculares Nacionais, para os níveis que é necessário disseminar as
Fundamental e Médio, a Proposta pedagogias que buscam promover o
Curricular da EJA (5ª a 8ª série) e a desenvolvimento da inteligência e a
Matriz de Competências e Habilidades do consciência crítica de todos os
Exame Nacional do Ensino Médio envolvidos no processo educativo,
(ENEM), abordam o currículo escolar, tendo, na interação social e no diálogo
integrado por competências e autêntico, o mais importante
habilidades dos estudantes, ou norteado instrumento de construção do
por objetivos de ensino/aprendizagem, conhecimento. Um paradigma com
em que os conteúdos escolares são denominações variadas, pois usufrui de
plurais e só têm sentido e significado se diferentes vertentes teóricas, mas com
mobilizados pelo sujeito do algo em comum: a crítica à tradição do
conhecimento: o estudante. Pode-se currículo enciclopédico, centrado em
reconhecer, no conjunto desses conhecimentos sem vínculo com a
documentos e em cada um deles, experiência de vida da comunidade
esforços coletivos por um melhor e escolar e na crença de que a aquisição
maior comprometimento da do conhecimento dispensa o exercício da
comunidade escolar brasileira com um crítica e da criação por parte de quem
novo paradigma pedagógico. Um aprende. Mas é essa tendência que ainda
paradigma multifacetado, como orienta a maioria dos currículos
costuma acontecer com as tendências praticados e, conseqüentemente, os
sociais em construção, diverso em suas exames de acesso a um nível escolar ou
nomenclaturas e que se vale de para certificação.
numerosas pesquisas, em diferentes Os exames de certificação para os
campos científicos, muitas ainda em jovens e adultos não constituem
fase de produção e consolidação. exceção, uma vez que, na sua maioria,
Esse rico cenário acadêmico precisa submetem os alunos a provas massivas,
ainda ser mais eficazmente disseminado sem o correspondente cuidado com a
no ambiente complexo e plural da qualidade do ensino e o respeito com o
educação brasileira. Mesmo assim, o educando, como se encontra assinalado
conjunto dos documentos que nas Diretrizes Curriculares Nacionais da
estruturam e orientam a Educação Educação de Jovens e Adultos
Básica no Brasil é coeso em seus (DCNEJA). Por outro lado, recomenda-

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Livro do Professor

se que o estudante da EJA, com a Embora que não seja possível, em âmbito
maturidade correspondente, deva nacional, prever a enorme gama de
encontrar, nos cursos e nos exames conhecimentos específicos estruturados
dessa modalidade, oportunidades para em meio à vivência de situações
reconhecer e validar conhecimentos e cotidianas, procurou levar em
competências que já possui. A mesma consideração que o processo de
Diretriz prevê a importância da estruturação das vivências possibilita
avaliação na universalização da aquisições lógicas de pensamento que são
qualidade de ensino e certificação de universais para os jovens e adultos e que
aprendizagem, ao apontar que os se, de um lado, devem ser tomadas como
exames da EJA devem primar pela ponto de partida nas diversas
qualidade, pelo rigor e pela adequação. modalidades de ofertas de ensino para
A proposta do Exame Nacional de essa população, de outro, devem
Certificação de Competências de Jovens participar do processo de avaliação para
e Adultos (ENCCEJA) busca satisfazer certificação.
esses fundamentos político- Desse modo, objetivou-se superar a
pedagógicos, expressos de forma mais concepção de estruturação de provas
abrangente na Lei maior da educação fundamentadas no ensino enciclopedista,
brasileira, e, de modo mais detalhado ou centradas em conteúdos fragmentados e
com ênfases especiais, nas Diretrizes, descontextualizados, quase sempre
Parâmetros e outros referenciais que a associados ao privilégio da memória sobre
contemplam, inclusive, o Documento o estabelecimento de relações entre
Base do Exame Nacional do Ensino idéias. Ainda que se reconheça o
Médio (ENEM). inequívoco papel da memória para o
Baseados na experiência dos conhecimento de fenômenos, das etapas
especialistas e nesses documentos, dos processos, ou mesmo, de teorias, é
buscou-se identificar conteúdos e preciso considerar, nas referências de
métodos para a construção de um provas, bem como na oferta de ensino, as
quadro de referências atualizado e múltiplas capacidades de operar com
adequado ao Encceja. Um dos informações dadas. Ou seja, está-se
resultados do processo são as Matrizes valorizando a autonomia do estudante em
de Competências e Habilidades, em ler informações e estabelecer relações a
nível de Ensino Fundamental e em nível partir de certos contextos e situações. E,
de Ensino Médio. assim, o exame sinaliza e valoriza um
cidadão mais apto a viver num mundo em
As Matrizes de Competências e
constantes transformações, onde é
Habilidades constituem referencial de
importante possuir estratégias pessoais e
exames mais significativos para o
coletivas para a solução de problemas,
participante jovem ou adulto, mais
fundamentadas em conhecimentos
adequados às suas possibilidades de ler e
básicos de todas as disciplinas ou áreas da
de interagir com os problemas
educação básica.
cotidianos, com o apoio do
conhecimento escolar. O processo de elaboração das Matrizes
de Competências e Habilidades do

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

ENCCEJA, Fundamental e Médio teve submetidas ao tratamento cognitivo das


como meta principal garantir uma competências do sujeito do
proposta de continuidade e coerência conhecimento e permitiram a definição
entre o que se estabeleceria para os de habilidades específicas que
exames em nível de Ensino Médio ou estabelecem as ações ou operações que
Fundamental. Dessas etapas resultaram descrevem desempenhos a serem
a definição das quatro áreas dos exames avaliados nas provas. Nessa concepção,
e um conjunto de proposições para cada as referências de cada área descrevem
uma delas, que foram também as interações mais abrangentes ou
reconsideradas à luz das Diretrizes complexas (nas competências) e as mais
Curriculares Nacionais da EJA específicas (nas habilidades) entre as
(DCNEJA), das políticas educacionais ações dos participantes, que são os
vigentes em âmbito federal e nas sujeitos do conhecimento, com os
propostas estaduais, a fim de organizar conteúdos disciplinares, selecionados e
os quadros de referência dos exames. organizados a partir dos referenciais
As Matrizes de referência para a prova de adotados.
cada área ou disciplina foram organizadas Para a elaboração das competências do
em torno de nove competências amplas, Ensino Médio, foram consideradas as
por sua vez, desdobradas em habilidades competências por área, definida pelas
mais específicas, resultantes da Diretrizes do Ensino Médio. Constituiu-
associação desses conteúdos gerais às se um importante desafio à elaboração
cinco competências do ENEM. As das matrizes do ENCCEJA para o Ensino
competências já definidas para o ENEM Fundamental, especificamente no que
correspondem aos eixos cognitivos diz respeito à definição das competências
básicos, a ações e operações mentais que gerais das áreas. Isso porque, para o
todos os jovens e adultos devem Ensino Fundamental, os Parâmetros
desenvolver como recursos mínimos que Curriculares Nacionais (PCN) e as
os habilitam a enfrentar melhor o mundo Diretrizes Curriculares Nacionais trazem
que os cerca, com todas as suas outra abordagem, não tendo incorporado
responsabilidades e desafios. a discussão mais recente, que visa à
Nas Matrizes do ENCCEJA, os determinação de competências e
conteúdos tradicionais das ciências, da habilidades de aprendizagem como
arte e da filosofia são denominados produto da escolarização, ainda que
competências de área, à semelhança dos preservem e ampliem consideravelmente
conceitos já consagrados na reforma do outros elementos didático-pedagógicos
ensino médio, porque já demonstram do mesmo paradigma.
aglutinar articulações de sentido e Os documentos legais permitiram
significação, superando o mero elenco construir matrizes semelhantes para o
de conceitos e teorias. Essas ENCCEJA - Ensino Fundamental, apesar
competências, em cada área, foram de oferecerem contribuições distintas
para a configuração das competências e
habilidades a serem avaliadas.

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Livro do Professor

A. A PROPOSTA DO ENCCEJA pertence um número maior de


PARA A CERTIFICAÇÃO DO brasileiros. Esses jovens e adultos, já
ENSINO FUNDAMENTAL trabalhadores com experiência
profissional, leitores, participantes de
Considerando-se a população que não vias informais da educação, com
completou seus estudos do nível expectativa de melhor posicionamento
fundamental, é possível aventar a no mercado de trabalho e/ou da
existência de significativo número de retomada dos estudos em nível médio,
pessoas desejosas de recuperar o precisam ter reconhecidos e validados
reconhecimento social da condição os seus conhecimentos. Para eles, foi
letrada, obtendo certificação de elaborado o ENCCEJA, correspondente
conhecimentos por meio de Exame ao nível fundamental.
Supletivo do Ensino Fundamental. Tendo a LDB diminuído a idade mínima
Essas pessoas, tendo-se afastado da para a certificação por meio de exames
escola há bastante tempo ou mesmo supletivos, instalou-se uma questão
tendo retomado estudos parciais de contraditória na educação nacional, pois
forma esporádica, continuaram é supostamente desejável a
aprendendo pela prática de leitura e permanência dos jovens de 15 anos na
análise de textos escritos, de cálculos e escola, a fim de desenvolver suas
outros estudos em situações específicas capacidades e compartilhar
de seu interesse. Participam de meios conhecimentos, com o apoio e a
informais, eventuais, ou mesmo, mediação da comunidade escolar.
incidentais de educação com diferentes Entretanto, alguns precisaram
propósitos. Por exemplo, em cursos interromper os estudos por motivos
oferecidos por empresas para capacitação contingenciais e financeiros, por
de pessoal, em grupos de estudo mudança de domicílio ou para ajudar a
comunitários, ou mesmo, através de família, entre outros motivos. Além
programas educativos na TV, no rádio disso, como já apontado nas Diretrizes
ou outras mídias. Assim, são capazes de Curriculares Nacionais para Educação de
leitura autônoma para efeito de lazer, Jovens e Adultos (DCNEJA), há aqueles
demandas do exercício da cidadania ou que, mesmo tendo condições
do trabalho. Desse modo, lêem revistas financeiras, não lograram êxito nos
esportivas e folhetos de instrução estudos, por razões de caráter
técnica, programas de candidatos a sociocultural. Para esses jovens, a
cargos eletivos e publicações vendidas certificação do Ensino Fundamental por
em banca de jornal que dão instruções meio do ENCCEJA significa a
para a realização de muitas atividades. possibilidade de retomar os estudos no
Além disso, calculam para fins de mesmo nível que seus coetâneos, não
compra e venda, analisam situações de sofrendo outras penalidades além
qualidade de vida (ou sua carência). daquelas já impostas por suas condições
de vida até então.
Logo, já são leitores do mundo,
superaram um estágio de decifração de As Diretrizes do Ensino Fundamental
códigos da língua materna, ao qual contribuem diretamente para a seleção de

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

conteúdos a serem avaliados pelo Encceja linguagens. Ressalte-se que esses


de, pelo menos, duas maneiras. aspectos guardam evidente proximidade
Primeiramente, ao esclarecer a natureza com os Temas Transversais,
dos conteúdos mínimos referentes às desenvolvidos no PCN do Ensino
noções e conceitos essenciais sobre Fundamental: Ética, Meio Ambiente,
fenômenos, processos, sistemas e Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e
operações que contribuem para a Consumo, e Pluralidade Cultural.
constituição de saberes, conhecimentos, Com os mesmos propósitos, estudaram-se
valores e práticas sociais indispensáveis também os textos da V Conferência
ao exercício de uma vida de cidadania Internacional sobre Educação de
plena, e, depois, ao recomendar: ao Adultos, com uma orientação temática
utilizar os conteúdos mínimos, já de mesma natureza que os PCN e DCN
divulgados inicialmente pelos Parâmetros do Ensino Fundamental. Isso pode ser
Curriculares Nacionais, a serem ensinados exemplificado pela menção especial dos
em cada área de conhecimento, é temas I, IV e VI.
indispensável considerar, para cada I- Educação de adultos e democracia: o
segmento (Educação Infantil, 1ª a 4ª e 5ª a desafio do século XXI. Alguns
8ª séries), ou ciclo, que aspectos serão compromissos desse tema: desenvolver
contemplados na intercessão entre as participação comunitária, favorecendo
áreas e aspectos relevantes da cidadania, cidadania ativa; sensibilizar com relação
tomando-se em conta a identidade da aos preconceitos e à discriminação no
escola e de seus alunos, professores e seio da sociedade; promover uma cultura
outros profissionais que aí trabalham. da paz, o diálogo intercultural e os
Decorre que também a EJA do direitos humanos;
Fundamental deve considerar os aspectos
IV- A educação de adultos, igualdade e
próprios da identidade do jovem e adulto
eqüidade nas relações entre homem e
que retoma a escolarização, tanto para
mulher e a maior autonomia da
efeito de cursos, como para exames. Por
mulher. Esse tema tem como um dos
outro lado, corrobora a referência aos
compromissos: promover a capacitação e
conteúdos (conceitos, procedimentos,
autonomia das mulheres e a igualdade
valores e atitudes) debatidos nos PCN de
dos gêneros pela educação de adultos,
5ª a 8ª série (subsidiários à Proposta
entre outros.
Curricular da EJA), na escolha dos
conteúdos do Encceja do Ensino VI- A educação de adultos em relação
ao meio ambiente, à saúde e à
Fundamental.
população. Esse tema tem como
A segunda linha de contribuições reside
compromissos: promover a capacidade e
no levantamento do rol de aspectos da
a participação da sociedade civil em
vida cidadã que devem estar articulados
responder e buscar soluções para os
à base nacional comum, quais sejam: a
problemas de meio ambiente e de
saúde, a sexualidade, a vida familiar e
desenvolvimento, estimular o
social, o meio ambiente, o trabalho, a
aprendizado dos adultos em matéria de
ciência e a tecnologia, a cultura e as
população e de vida familiar, reconhecer

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Livro do Professor

o papel decisivo da educação sanitária na considerando valores e direitos humanos.


preservação e melhoria da saúde pública e Tais ações ou operações do participante
individual, assegurar a oferta de programas estão representadas na matriz do
de educação adaptados à cultura local e às ENCCEJA, nas diferentes habilidades.
necessidades específicas, no que se refere à Não se deve supor, contudo, que uma
atividade sexual. prova organizada a partir de habilidades
Todas essas recomendações foram (articulações entre operações lógicas com
consideradas para a seleção de valores e conteúdos relevantes) negligencie as
conceitos integrados às competências e exigências básicas de conteúdos mínimos e
habilidades organizadoras do ENCCEJA do a capacidade de ler e escrever.
Ensino Fundamental. Já para a definição do Para o participante da prova, é
escopo e redação das competências das imprescindível a prática autônoma da
áreas e disciplinas, consideraram-se leitura, que possibilita a percepção de
especialmente os objetivos gerais para possíveis significados e a construção de
ensino e aprendizagem delineados na opiniões e conhecimentos ao ler um texto,
Proposta Curricular da EJA (5ª a 8ª série) de um esquema ou outro tipo de figura.
Matemática, Língua Portuguesa, Ciências
Espera-se, de fato, que o jovem e o adulto,
Naturais, História e Geografia, e os
ao certificarem-se com a escolaridade
objetivos gerais de todo o Ensino
fundamental pelo ENCCEJA, já estejam
Fundamental dos PCN e dos Temas
lendo autonomamente, com certa fluência,
Transversais.
a partir de sua experiência com textos
Assim, foram constituídas as referências diversos, em situações em que faça sentido
para as provas de: ler e escrever. Cabe a eles construir os
1- Língua Portuguesa, Artes, Língua sentidos de um texto, ao colocar em
Estrangeira e Educação Física, sendo as diálogo seus próprios conhecimentos de
três últimas áreas de conhecimento mundo e de língua, como usuários dela, e
consideradas sob a ótica da constituição as pistas do texto, oferecidas pelo gênero,
das linguagens e códigos, não como pela situação de comunicação e pelas
conteúdos conceituais isolados para escolhas do autor:
avaliação;
Nessa perspectiva, entende-se que ler não é
2- Matemática;
extrair informação, decodificando letra por letra,
3- História e Geografia;
palavra por palavra. Trata-se de uma atividade
4- Ciências Naturais. que implica estratégias de seleção, antecipação,
A Matriz para o ENCCEJA concorre para a inferência e verificação, sem as quais não é
promoção de provas que dêem possível proficiência. É o uso desses
oportunidade para jovens e adultos procedimentos que possibilita controlar o que
aproveitarem o que aprenderam na vida vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante
prática, trabalhando com aspectos básicos de dificuldades de compreensão, avançar na
da vida cidadã, como a tomada de decisões busca de esclarecimentos, validar no texto
e a identificação e resolução de problemas, suposições feitas.
a descrição de propostas e a comparação (Brasil, c2000, v.2, p.69, 7º parágrafo)
entre idéias expressas por escrito,

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

Devem-se considerar, entretanto, problematizando-os para que, por meio


diferentes níveis de proficiência na leitura da reflexão própria, ele reconheça o que
dos códigos e linguagens que já sabe e estabeleça conexões com o
constituem as informações da realidade. conhecimento novo apresentado. Assim,
A meio termo da formação básica, na para enfrentar situações-problema, são
conclusão do Ensino Fundamental, os mobilizados elementos lógicos
textos lidos ou formulados pelo pertinentes ao raciocínio científico e
estudante da EJA já evidenciam uma também ao cotidiano, podendo explorar
visão de mundo um tanto complexa, interações entre fatos e/ou idéias, para
ainda que expressa em discurso mais entre eles estabelecer relações causais,
sintético, mais direto, com muitos espaço-temporais, de forma e função, ou
nomes do cotidiano preservados e seqüenciando grandezas.
elementos do senso comum, se Não se pode perder de vista, tampouco, o
comparados com produções do estudante exercício simplificado da metacognição
em nível de Ensino Médio. por parte daqueles que pouco
É a partir dessas concepções de leitura freqüentaram a escola. Não é de se esperar
que as provas são elaboradas, como que possam raciocinar com desenvoltura
possibilidades de abordagem pedagógica sobre a estrutura do conhecimento em si,
das competências e habilidades do uma qualidade intelectual daqueles que
Encceja na avaliação para certificação. freqüentaram a escola (Oliveira, 1999).
Para tanto, os textos oferecidos em Respeitar essa característica representa
questões de prova são rigorosos do ponto uma exigência para a formulação de uma
de vista conceitual, ao observarem os prova em que se reconhecem as
marcos teóricos de referência em cada possibilidades intelectuais dos cidadãos
área de conhecimento. Contudo, procura- que não tiveram oportunidade de exercitar
se delimitar cuidadosamente a diversidade a compreensão dos objetos de
do vocabulário utilizado, além da conhecimento descontextualizada de suas
magnitude da rede conceitual empregada ligações com a vida imediata.
e das operações lógicas exigidas. Isso Portanto, sem perder de vista a pluralidade
porque o participante precisa de situações das realidades brasileiras e a diversidade
adequadas para estabelecer relações mais daqueles que buscam a certificação nesse
abrangentes e mais próximas das teorias nível de ensino, propõe-se uma prova que
científicas. Não se pode perder de vista apresenta uma temática atualizada, em
que, em nível fundamental, ele necessita nível pertinente aos jovens e adultos que,
de orientação clara e concisa, além de um para realizá-la, se inscrevem. Deve
tempo maior para a observação das representar um desafio consistente mas
representações de fenômenos, para as possível, exeqüível e motivador, para que
comparações, as análises, a produção de os participantes exercitem suas
sínteses ou outros procedimentos. potencialidades lógicas e sua capacidade
crítica em questões de cidadania,
Com esses cuidados, é desejável propor reconhecendo e formulando valores
aos jovens e adultos uma variedade de essenciais à cultura brasileira, ao convívio
questões, envolvendo temas das áreas de democrático e ao desenvolvimento
conhecimento, sempre explicitando pessoal.
conceitos mais complexos e

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Livro do Professor

B. A PROPOSTA DO ENCCEJA Desse modo, a função reparadora da EJA,


PARA CERTIFICAÇÃO no limite, significa não só a entrada no
circuito dos direitos civis pela restauração
DO ENSINO MÉDIO
de um direito negado: o direito a uma
Pode-se afirmar que são múltiplos e escola de qualidade, mas também o
diversos os fatores que estimulam a reconhecimento daquela igualdade
busca de certificação do ensino médio na ontológica de todo e qualquer ser humano.
Educação de Jovens e Adultos. Desta negação, evidente na história
brasileira, resulta uma perda: o acesso a
Dentre eles, destaca-se a exigência do
um bem real, social e simbolicamente
mundo do trabalho, pois, atualmente, a
importante. Logo, não se deve confundir a
necessidade da certificação no ensino
noção de reparação com a de suprimento.
médio se faz presente em diferentes
atividades e setores profissionais.
Ressaltam-se, também, os fatores É muito provável que, com as elevadas
pessoais da busca do cidadão pela taxas de repetência e evasão nas últimas
certificação: a vontade de continuar os décadas do século XX, muitos alunos
estudos e a vontade política de obter o que não tiveram sucesso no sistema
direito da cidadania plena. Esses educacional regular optem por essa
aspectos são mais significativos do modalidade de ensino. Soma-se a esse
ponto de vista daqueles que discutem a fato o difícil acesso à escola básica por
Educação de Jovens e Adultos para motivos socioeconômicos diversos.
certificação no ensino médio. Ela é Segundo o IBGE, em 1999, havia cerca
direcionada para jovens e adultos com de 13,3% de analfabetos acima de 15
mais de dezenove anos que, por motivos anos. Em 2000, a distorção idade/série,
diversos, não puderam freqüentar a no ensino médio, de acordo com dados
escola no seu tempo regular. do MEC/INEP, é da ordem de 50,4%. No
Tal fato é previsto na LDB 9.394/96 mesmo ano, os dados registram,
quando considera o ensino médio como aproximadamente, 3 milhões de alunos
etapa final da educação básica e a EJA matriculados em cursos da EJA. A oferta
como uma das modalidades de da Educação de Jovens e Adultos para o
escolarização. O direito político ensino médio (EM) está principalmente
subjetivo do cidadão de completar essa a cargo dos sistemas estaduais, em
etapa e, por sua vez, o dever de oferta parceria, muitas vezes, com redes
educacional pública que permita superar privadas.
as diferenças e aponte para uma Nesse sentido, as Secretarias de
eqüidade possível são princípios que Educação têm-se mobilizado para criar
não podem ser relegados, como afirma uma rede de atendimento e uma
o Parecer da Câmara de Educação proposta de escola média coerente com
Básica do Conselho Nacional de as necessidades previstas para essa
Educação - Parecer CNE/CEB 11/2000, população, diversificando o
Diretrizes Curriculares Nacionais para a atendimento no País.
Educação de Jovens e Adultos:

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

Deve ser também ressaltada a Por sua vez, o Art. 4º da Resolução


importância da avaliação e certificação CNE/CEB 1/2000 diz que as Diretrizes
nessa modalidade de ensino. De acordo Curriculares Nacionais (DCN),
com o Art. 10 da Resolução CNE/CEB 1/ estabelecidas na Resolução CNE/CEB 3/98
2000, que estabelece as diretrizes e vigentes a partir da sua publicação, se
curriculares nacionais para a Educação estendem para a modalidade da
de Jovens e Adultos: no caso de cursos Educação de Jovens e Adultos no
semi-presenciais e a distância, os alunos ensino médio, sua organização e
só poderão ser avaliados, para fins de processos de avaliação.
certificados de conclusão, em exames A direção curricular proposta pelas
supletivos presenciais oferecidos por DCN-EM destaca o desenvolvimento de
instituições especificamente autorizadas, competências e habilidades distribuídas
credenciadas e avaliadas pelo poder em áreas de conhecimento: Linguagens,
público, dentro das competências dos Códigos e suas Tecnologias, Ciências
respectivos sistemas... Humanas e suas Tecnologias, Ciências da
O Exame Nacional de Certificação de Natureza e Matemática e suas
Competências de Jovens e Adultos do Tecnologias. O caráter interdisciplinar
Ensino Médio (ENCCEJA/EM) está das áreas está relacionado ao contexto
articulado tanto para atender a essa de vida social e de ação solidária,
prerrogativa quanto para responder à visando à cidadania e ao trabalho.
demanda, em sintonia com a lógica da Vale a pena lembrar que a LDB é a base
avaliação nacional. Nesse sentido, o das DCNEM. No Art. 36, a LDB destaca
ENCCEJA/EM constitui uma que o currículo do ensino médio deve
possibilidade de avaliação que, ao observar as seguintes diretrizes: a
mesmo tempo, respeita a diversidade e educação tecnológica básica; a
estabelece uma unidade nacional, ao compreensão do significado da ciência,
apontar o que é basicamente requerido das letras e das artes; o processo
para a certificação no ensino médio que histórico de transformação da sociedade
faz parte atualmente da educação básica. e da cultura; a língua portuguesa como
A Constituição de 1988, no Inciso II do instrumento de comunicação, acesso ao
Art. 208, já apontava para a garantia da conhecimento e exercício da cidadania.
institucionalização dessa etapa de Além disso, dois aspectos merecem
escolarização como direito de todo menção especial, pois marcam a
cidadão. A LDB estabeleceu, por sua vez, diferença em relação à organização
a condição em norma legal, quando curricular do ensino médio: o eixo da
atribuiu ao EM o estatuto de educação tecnologia e dos processos cognitivos
básica (Art. 21), definindo suas de compreensão do conhecimento.
finalidades, ou seja, desenvolver o
Assim, a caracterização das áreas procura
educando, assegurar-lhe a formação
ser uma forma de estabelecer relações
comum para o exercício da cidadania e
internas e externas entre os
fornecer-lhe meios para progredir no
conhecimentos, de abordá-los sob o
trabalho e em estudos posteriores. (Art.
ângulo das correspondências próprias à
22)
sua divulgação para o público que

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Livro do Professor

necessita dos saberes escolares para a como ator no contexto de preservação e


vida social, o trabalho, a continuidade transformação social.
dos estudos e o desenvolvimento pessoal. A noção de desenvolvimento e
A definição na LDB do que é próprio aos avaliação de competências pode
ensinos fundamental e médio não é permitir alguma compreensão desse
colocada como forma de ruptura, mas sim processo de diversidade e unidade.
de aprofundamento (compreensão) e O foco sobre a noção de competência,
contexto (produção e tecnologia). Se, no nos documentos oficiais referentes à
ensino fundamental, o caráter básico dos educação básica e no discurso acadêmico
saberes sociais públicos foi desenvolvido, educacional, principalmente a partir de
cabe, no ensino médio, aprofundá-los ou, 1990, instaura um eixo para
então, desenvolvê-los. Essa consideração, reestruturação dos conteúdos escolares e
para EJA/EM, se deve ao fato de que a de suas formas de transmissão e
certificação no ensino médio não está, por avaliação, ou seja, é uma proposta de
lei, atrelada à certificação no ensino mudança que procura aproximar a
fundamental, havendo, no entanto, uma educação escolar da vida social
continuidade entre as duas etapas da contemporânea. Nessa proposta,
educação básica. De qualquer forma, ao destaca-se a perspectiva da
término do EM, espera-se que o cidadão flexibilização da organização da
tenha desenvolvido competências educação escolar, em respeito à
cognitivas e sociais inseridas em um diversidade e identidade dos sujeitos da
determinado sistema de valores e juízos, aprendizagem. Quais são as
ou seja, aquele referente à ética e ao competências comuns que devem ser
mundo do trabalho. socializadas para todos? A resposta a
No caso do público participante da EJA/ essa pergunta fundamenta a educação
EM, isso se torna mais evidente. A básica. Em seqüência, há outra questão
idade, a participação no mundo do não menos relevante: como avaliá-las?
trabalho, as responsabilidades sociais e O respeito à diversidade não deve ser
civis são outras, diferentes daquelas dos identificado com o caos. Daí, a
alunos da escola regular que se necessidade da responsabilização política
preparam para a vida. O público da EJA/ e institucional em traçar um fio
EM está na vida atuando como condutor que delimite os saberes e as
trabalhador, pai de família, provedor. competências gerais com os quais todo
Entretanto, se o ponto de partida é e qualquer processo deve comprometer-
diferente, o ponto de chegada não o é. se, principalmente o de avaliação.
Ao final do EM, espera-se que esse
As diretrizes legais para a organização
público possa dar continuidade aos
da educação básica estão expressas em
estudos com qualificação, disputar uma
um conjunto de princípios que indica a
posição no mercado de trabalho e
transição de um ensino centrado em
participar plenamente da cidadania,
conteúdos disciplinares (didáticos)
compartilhando os princípios éticos,
seriados e sem contexto para um ensino
políticos e estéticos da unidade e da
voltado ao desenvolvimento de
diversidade nacionais, colocando-se

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I. As bases educacionais do ENCCEJA

competências verificáveis em situações Educação básica e avaliação, portanto,


específicas. A avaliação assume um têm por objetivo promover a eqüidade na
papel fundamental nessa perspectiva, participação social.
definindo o sentido da escolarização. A proposta do ENCCEJA para certificação
A ação prevista pelos sujeitos envolvidos do Ensino Médio assume parte desse
na educação básica extrapola papel institucional, procurando, por meio
determinados padrões de pensamento até de uma prova escrita, aferir, em condições
então valorizados pela escolarização observáveis e com exigências definidas,
acrítica (identificar, reproduzir, as competências previstas para a
memorizar, repetir) e aponta para a educação básica.
necessidade de a escola sistematicamente O foco do ENCCEJA é a situação-
realizar, em situações de aprendizagem, o problema para cuja resolução o
desenvolvimento de movimentos de participante deve mobilizar saberes
pensamento mais complexos (analisar, cognitivos e conceituais (competências).
comparar, confrontar, sintetizar). Tal
A aprendizagem é destacada como
proposição, amparada pelos estudos da
referência à autonomia intelectual do
Psicologia Cognitiva, Sociologia,
sujeito ao final da educação básica,
Lingüística, Antropologia, exerce um
mediada pelos princípios da cidadania e
efeito de reestruturação na Didática. O
do trabalho, na atualidade. As
saber, que por si só já é ação do sujeito,
competências para a participação social
ganha o status de uma intenção racional e
incluem a criatividade, a capacidade de
intelectual situada socialmente. O sujeito
solucionar problemas, o senso crítico, a
desse saber é compreendido como um ser
informação, ou seja, o aprender a
único no contexto social. O saber fazer
conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
envolve o conhecimento do contexto, das
ideologias e de sua superação, em prol de A Matriz de Competências indicada para
uma democracia desejada, para que o a avaliação do ENCCEJA/EM é um
homem possa conquistar de fato seus produto de discussão coletiva de
direitos. inúmeros profissionais da educação,
buscando contemplar os princípios
O poder público e a administração
legais que regem a educação básica
central assumem a responsabilidade de
(Brasil,1999a; Brasil,1996; CNE, 1998;
indicar a formação requerida para os
CNE, 2000).
sujeitos na educação básica, na
modalidade de EJA/EM, e mais, propõem O ENCCEJA/EM está estruturado com
formas de avaliação das aprendizagens. base em Matrizes de referência que
consideram a associação de cinco
A avaliação é assumida como diálogo
competências do sujeito com nove
com a sociedade, garantindo o direito
competências previstas na Base
democrático da população interessada em
Nacional Comum para as áreas de
saber o que de fato deve ser aprendido (e
conhecimento (Linguagens, Códigos e
aquilo que deveria ter sido aprendido),
suas Tecnologias; Ciências Humanas e
para que possa compreender a função do
suas Tecnologias; Ciências da Natureza
processo educativo e exigir os direitos de
e Matemática e suas Tecnologias), cujos
uma educação de qualidade para todos.

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Livro do Professor

cruzamentos definem as habilidades a da aprendizagem que se apropriam dos


serem avaliadas. As competências conhecimentos e os transpõem para a
cognitivas básicas a serem avaliadas vida pessoal e social. No elenco das
são: o domínio das linguagens, a habilidades de cada área, estão
compreensão dos fenômenos, a seleção valorizadas as experiências extra-
e organização de fatos, dados e escolares e os vínculos entre a educação,
conceitos para resolver problemas, a o mundo do trabalho e outras práticas
argumentação e a proposição. sociais, de tal maneira que o exame,
Essas competências cognitivas são estruturado a partir das matrizes, não
articuladas com os conhecimentos e perca de vista a pluralidade de realidades
competências sociais construídos e brasileiras e não deixe de considerar a
requeridos nas diferentes áreas, tendo diversidade de experiências dos jovens e
por referência os sujeitos/interlocutores adultos que a ele se submetem.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional nº 20,
de 15/12/1988. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1999a.
______. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.. Poder
Executivo, Brasília, DF, v. 134, n. 248, p. 27.833-27.841, 23 dez. 1996. Seção 1. Lei
Darcy Ribeiro.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. 2. ed. Brasília, DF, c2000. 10 v.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais:: Língua Portuguesa. 2.ed. Brasília, DF,
2000. v. 2.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Educação de
Jovens e Adultos: salto para o futuro. Brasília, DF, 1999c. (Estudos. Educação a
distância; v. 10)
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília, DF, 1999d. 4v.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Brasil). Câmara de Educação Básica. Parecer nº
11, de 10 de maio de 2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens
e Adultos. Documenta
Documenta, Brasília, DF, n. 464, p. 3-83, maio 2000.
______. Parecer n° 15, de junho de 1998. Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio. Documenta
Documenta, Brasília, DF, n. 441, p. 3-71, jun. 1998.
OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-
histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1999. 111p. (Pensamento e ação no magistério).

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II. Eixos conceituais que
estruturam o ENCCEJA

O ENCCEJA se vincula a um conceito constata é que alguns pressupostos


mais estrutural e abrangente do aceitos no passado tornaram-se
desenvolvimento da inteligência e gradativamente questionáveis e, até
construção do conhecimento. Essa mesmo, abandonados diante de
concepção, de inspiração fortemente investigações mais cuidadosas.
construtivista, acha-se já amplamente Em que pese os processos avaliativos
contemplada nos textos legais que escolares no Brasil caracterizarem-se,
estruturam a educação básica no Brasil. ainda, por uma excessiva valorização da
Tais concepção privilegia a noção de que memória e dos conteúdos em si, aos
há um processo dinâmico de poucos essas práticas sustentadas pela
desenvolvimento cognitivo mediado pela psicometria clássica vêm sendo
interação do sujeito com o mundo que o substituídas por concepções mais
cerca. A inteligência é encarada não como dinâmicas que, de um modo geral, levam
uma faculdade mental ou como expressão em consideração os processos de
de capacidades inatas, mas como uma construção do conhecimento, o
estrutura de possibilidades crescentes de processamento de informações, as
construção de estratégias básicas de ações experiências e os contextos socioculturais
e operações mentais com as quais se nos quais o indivíduo se encontra.
constroem os conhecimentos. A teoria de desenvolvimento cognitivo,
Nesse contexto, o foco da avaliação proposta e desenvolvida por Jean Piaget
recai sobre a aferição de competências e com cuidadosa fundamentação em dados
habilidades com as quais transformamos empíricos, empresta contribuições das
informações, produzimos novos mais relevantes para a compreensão da
conhecimentos, reorganizando-os em avaliação que se estrutura com o Encceja.
arranjos cognitivamente inéditos que Para Piaget (1936), a inteligência é um
permitem enfrentar e resolver novos “termo genérico designando as formas
problemas. superiores de organização ou de equilíbrio
Estudos mais avançados sobre a avaliação das estruturas cognitivas (…) a inteligência
da inteligência, no sentido da estrutura é essencialmente um sistema de
que permite aprender, ainda são pouco operações vivas e atuantes”. Envolve uma
praticados na educação brasileira. construção permanente do sujeito em sua
Ressalte-se, também, que a própria interação com o meio físico e social. Sua
definição de inteligência e a maneira avaliação consiste na investigação das
como tem sido investigada constituem estruturas do conhecimento que são as
pontos dos mais controvertidos nas áreas competências cognitivas.
da Psicologia e da Educação. O que se Para Piaget, as operações cognitivas
possuem continuidade do ponto de

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Livro do Professor

vista biológico e podem ser divididas combinação que os levará a um


em estágios ou períodos que possuem resultado desejado.
características estruturais próprias, as Em muitos dos seus trabalhos, Piaget
quais condicionam e qualificam as enfatizou o caráter de generalidade das
interações com o meio físico e social. operações formais. Enquanto as
Deve-se ressaltar que o estágio de operações concretas se aplicavam a
desenvolvimento cognitivo que contextos específicos, as operações
corresponde ao término da escolaridade formais, uma vez atingidas, seriam gerais
básica no Brasil denomina-se período das e utilizadas na compreensão de qualquer
operações formais, marcado pelo fenômeno, em qualquer contexto.
advento do raciocínio hipotético- As competências gerais que são
dedutivo. avaliadas no ENCCEJA estão
É nesse período que o pensamento estruturadas com base nas
científico torna-se possível, competências descritas nas operações
manifestando-se pelo controle de formais da Teoria de Piaget, tais como a
variáveis, teste de hipóteses, verificação capacidade de considerar todas as
sistemática e consideração de todas as possibilidades para resolver um
possibilidades na análise de um problema; a capacidade de formular
fenômeno. hipóteses; de combinar todas as
Para Piaget, ao atingir esse período, os possibilidades e separar variáveis para
jovens passam a considerar o real como testar a influência de diferentes fatores;
uma ocorrência entre múltiplas e o uso do raciocínio hipotético-dedutivo,
exaustivas possibilidades. O raciocínio da interpretação, análise, comparação e
pode agora ser exercido sobre enunciados argumentação, e a generalização dessas
puramente verbais ou sobre proposições. operações a diversos conteúdos.
Outra característica desse período de O ENCCEJA foi desenvolvido com base
desenvolvimento, segundo Piaget, nessas concepções, e procura avaliar para
consiste no fato de as operações formais certificar competências que expressam um
serem operações à segunda potência, ou saber constituinte, ou seja, as
seja, enquanto a criança precisa operar possibilidades e habilidades cognitivas por
diretamente sobre os objetos, meio das quais as pessoas conseguem se
estabelecendo relações entre elementos expressar simbolicamente, compreender
visíveis, no período das operações fenômenos, enfrentar e resolver
formais, o jovem torna-se capaz de problemas, argumentar e elaborar
estabelecer relações entre relações. propostas em favor de sua luta por uma
sobrevivência mais justa e digna.
As operações formais constituem,
também, uma combinatória que permite
que os jovens considerem todas as A. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
possibilidades de combinação de
Desde o princípio de sua existência o
elementos de uma dada operação
homem enfrentou situações-problema
mental e sistematicamente testem cada
para poder sobreviver e, ainda, em seu
uma delas para determinar qual é a
estado mais primitivo, desprovido de

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

qualquer recurso tecnológico, já buscava construídos e adquiridos no passado, à


conhecer a natureza e compreender seus medida que ele podia contar com a
fenômenos para dominá-la e assim tradição ditada pelos hábitos e
garantir sua sobrevivência como espécie. costumes da sociedade de sua época,
No entanto, à medida que, em seu com aquilo que sua cultura já
processo histórico, foi alcançando formas determinava como certo. As
mais evoluídas de organização social, características culturais, sociais, morais
seus problemas de sobrevivência imediata e religiosas, entre outras, serviam-lhe
foram sendo substituídos por outros. A como referências, indicando-lhe
cada novo passo de evolução, o homem caminhos ou respostas.
superou certos problemas abrindo novas Dessa maneira, ele orientava seu
possibilidades de melhor qualidade de presente pelo passado, tendo no
vida, mas, ao mesmo tempo, abriu as passado o organizador de suas novas
portas para novos desafios, importantes ações. Como resultado, ele podia
para sua continuidade e sobrevivência. planejar seu futuro como se este já
A história do homem registra o estivesse escrito e determinado em
enfrentamento de contínuos desafios e função de suas ações presentes.
situações-problema, sempre superados O avanço tecnológico dos dias atuais
em nome de novas formas de desencadeou uma nova ordem de
organização social, política, econômica transformações sociais, culturais, políticas
e científica, cada vez mais evoluídas e e econômicas, imprimindo ao mundo
complexas. Pode-se dizer que o novas relações numa velocidade tal, que
enfrentamento de situações-problema traz para o homem, neste século, uma
constitui uma condição que acompanha outra necessidade: a de se pautar não só
a vida humana desde sempre. nas referências que o passado oferece
Cada vez mais tecnológica e globalizada, como garantias ou tradições, mas,
a sociedade que atravessou os portais do também, naquilo que diz respeito ao
século XXI convida o homem à resolução futuro.
de grandes problemas em virtude das Quanto mais as sociedades
contínuas transformações em todas as contemporâneas avançam em seus
áreas do conhecimento. Exige, ainda, conhecimentos tecnológicos e
constantes atualizações, seja no mundo científicos, mais distanciado parece estar
do trabalho ou da escola, seja no ritmo e o homem de sua humanidade. Quanto
nas atribuições de enfrentamento do mais conforto e comodidade a vida
cotidiano da vida, como, também, uma moderna pode oferecer, mais se
outra qualidade de respostas, à proporção acentuam as diferenças sociais, culturais
que assume características bem e econômicas, criando verdadeiros
diferenciadas daquelas que anteriormente abismos entre os povos e entre as
percorreram a história. populações de um mesmo país. Quanto
Durante muitos séculos, o homem, para mais se conhece e se aprende, mais fica
resolver problemas, contou com a distanciada uma boa parte da população
possibilidade de se orientar a partir dos mundial do acesso à escolaridade, de
conhecimentos que haviam sido modo que, muito antes de se erradicar o

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Livro do Professor

analfabetismo da face da Terra, já há a sociedade que, em termos de


preocupação com a exclusão digital. conhecimento, está aberta para todos os
Quanto mais se vivencia a globalização, possíveis, para todas as possibilidades.
mais complicadas ficam as possibilidades O homem do século XXI, portanto, está
de entendimento e comunicação, pois os diante de quatro grandes situações-
ideais e valores – que preconizam a problema que implicam necessidades de
liberdade do homem, a solidariedade resolução: aprender a conhecer,
entre os povos, a convivência entre as aprender a ser, aprender a fazer e
pessoas e o exercício de uma verdadeira aprender a conviver. Como conhecer ou
cidadania – não correspondem a ações adquirir novos conhecimentos? Como
concretas e efetivas. Dessa forma, o aprender a interpretar a realidade em
mundo se debate entre guerras, um contexto de contínuas
terrorismo, drogas, doenças, ignorância e transformações científicas, culturais,
miséria. Essa é a natureza das situações- políticas, sociais e econômicas? Como
problema que o homem contemporâneo aprender a ser, resgatando a sua
enfrenta. Então, como preparar as humanidade e construindo-se como
crianças e jovens com condições para pessoa? Como realizar ações em uma
que possam aprender a enfrentar e prática que seja orientada
solucionar tais problemas, superando-os simultaneamente pelas tradições do
em nome de um futuro melhor? passado e pelo futuro que ainda não é?
Pensando na educação dessas crianças e Como conviver em um contexto de
jovens, tal realidade traz sérias tantas diversidades, singularidades e
implicações e a necessidade de diferenças e em que o respeito e o amor
profundas modificações no âmbito estejam presentes?
escolar. Cada vez mais é preciso que os Em uma perspectiva psicológica, e,
alunos saibam como aprender, como portanto, do desenvolvimento, conhecer
compreender fatos e fenômenos, como e ser são duas formas de compreensão, à
estabelecer suas relações interpessoais, medida que se expressam como maneiras
como analisar, refletir e agir sobre essa de interpretar ou atribuir significados a
nova ordem de coisas. Hoje, por algo, de saber as razões de algo, do
exemplo, um conhecimento científico, ponto de vista do raciocínio e do
uma tecnologia ensinada na escola é pensamento, exigindo do ser humano a
rapidamente substituída por outra mais construção de ferramentas adequadas a
moderna, mais sofisticada e atualizada, uma leitura compreensiva da realidade.
às vezes, antes mesmo que os alunos Fazer e conviver são formas de
tenham percorrido um único ciclo de realizaçâo, pois se expressam como
escolaridade. Dessa maneira, vivem-se procedimentos, como ações que visam a
tempos nos quais os mais diferentes um certo objetivo. Por sua vez, realizar
países revisam seus modelos e conviver implicam que o ser humano
educacionais, discutem e implementam saiba escrever o mundo, construindo
reformas curriculares que sejam mais modos adequados de proceder em suas
apropriadas para atender às demandas ações. Por isso, é preciso que preparemos
da sociedade contemporânea, uma as crianças e jovens para um mundo

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

profissional e social que os coloque Recentemente, competência tornou-se


continuamente em situações de desafio, uma palavra difundida, com freqüência,
as quais requerem cada vez mais nos discursos sociais e científicos.
saberes de valor universal que os Entretanto, Isambert-Jamati (1997)
preparem para serem leitores de um afirma que não se trata simplesmente de
mundo em permanente transformação. modismo porque o caráter
É preciso, ainda, que os preparemos relativamente duradouro do uso dessa
como escritores de um mundo que pede noção e a existência de uma certa
a participação efetiva de todos os seus congruência em relação ao seu
cidadãos na construção de novos significado, em esferas como as da
projetos sociais, políticos e econômicos. educação e do trabalho, podem ser
Portanto, do ponto de vista reveladores de mudanças na sociedade e
educacional, tais necessidades implicam na forma como um grupo social partilha
o compromisso com uma revisão certos significados. Nesse sentido, o
curricular e pedagógica que supere o termo competência não é só revelador
modelo da simples memorização de de certas mudanças como também pode
conteúdos escolares que hoje se mostra contribuir para modelá-las, ou seja,
insuficiente para o enfrentamento da comparece no lugar de certas noções,
realidade contemporânea. Os novos ao mesmo tempo em que modifica seus
tempos exigem um outro modelo significados. Pode-se dizer que, no
educacional, voltado para o geral, o termo competência vem
desenvolvimento de um conjunto de substituindo a idéia de qualificação no
competências e de habilidades essenciais, domínio do trabalho, e as idéias de
a fim de que crianças e jovens possam saberes e conhecimento no campo da
efetivamente compreender e refletir educação.
sobre a realidade, participando e agindo As razões da invasão do termo
no contexto de uma sociedade competência, segundo Tanguy (1997),
comprometida com o futuro. nas diferentes esferas da atividade social,
são difíceis de precisar, embora, no caso
B. AS ORIGENS DO TERMO da educação e do trabalho, possam estar
COMPETÊNCIA associadas a uma série de movimentos
geradores de concepções nesses dois
O sentido original da palavra campos, bem como das inter-relações
competência é de natureza jurídica, ou entre eles. Dentre tais concepções ou
seja, diz respeito ao poder que tem uma crenças, podemos destacar: necessidade
certa jurisdição de conhecer e decidir de superar o aspecto da instrução pelo
sobre uma causa. Gradativamente, o da educação; reconhecimento da
significado estendeu-se, passando o importância do poder do conhecimento
termo a designar a capacidade de por todos os meios sociais e de que a
alguém para se pronunciar sobre transmissão do conhecimento não é
determinado assunto, fazer determinada tarefa exclusiva da escola;
coisa ou ter capacidade, habilidade, institucionalização e sistematização de
aptidão, idoneidade. princípios sobre formação contínua fora

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Livro do Professor

do âmbito escolar; exigência de superar automóvel. Mesmo tendo consciência


a qualificação profissional precária e dessa série, não conseguiremos encontrar
mecânica; necessidade de rever o ensino algo que possa traduzir a totalidade
disciplinar e o saber academicista ou desses atos.
descontextualizado; preocupação de Por outro lado, do ponto de vista
colocar o aluno no centro do processo externo, quando observamos os outros,
educativo, como sujeito ativo. conseguimos, com relativa facilidade,
A intervenção desses elementos sobre a concluir sobre a existência desta ou
problemática da formação e daquela competência. Ao fazê-lo, no
aprendizagens profissionais, além da entanto, ultrapassamos a mera descrição
necessidade de novas adaptações ao dos atos, significando que aquela série
mundo do trabalho e da escola, de ações é interpretada na sua totalidade
acabaram por proporcionar uma ou no conjunto que a traduz. Supõe-se,
apropriação geral da noção de portanto, que há algo interno que
competência em vários países, articula e rege as ações, possibilitando
provavelmente na expectativa de que sejam eficazes e adequadas à
atribuir novos significados às noções situação, conforme descreve Rey (1998).
que ela pretende substituir nas Ao observarmos um bom patinador no
atividades pedagógicas. Mais gelo, diz o autor, bastam alguns minutos
especificamente, no entanto, esse para concluirmos se ele sabe patinar, ou
referencial sobre a noção de seja, se ele é competente. Em outras
competência tem-se imposto nas palavras, interpretamos que a sucessão
escolas, inicialmente, por meio da de seus movimentos não é meramente
avaliação. Essas inter-relações uma série qualquer, mas que ela é
produziram uma contaminação de coordenada por um princípio dominado
significados, e o termo competência pelo sujeito, residindo aí sua
passou a ser usado com freqüência no competência. Ao atribuirmos esse poder
sistema educativo, no qual ganhou ao patinador, assumimos a idéia de que
outras conotações. seus futuros movimentos serão
Dado esse caráter polissêmico da noção previsíveis, no sentido de que serão
de competência, trata-se de precisar em adequados e eficazes.
que sentido pretendemos utilizá-la. O que o autor quer mostrar é que a
A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA: A QUE SE APLICA? competência revela um poder interno e se
define pela anterioridade, ou seja, a
Embora o uso do termo competência seja
possibilidade de enfrentar uma situação
comum, é difícil precisar o seu
problema está, de certa forma, dada pelas
significado. Se tentarmos descrever uma
condições anteriores do sujeito. Ao
das nossas competências,
mesmo tempo, essa previsibilidade dá-nos
conseguiremos, no máximo, elencar uma
a impressão de continuidade. A
série de ações que realizamos para
competência não é algo passageiro, é algo
enfrentar uma situação-problema, tais
que parece decorrer natural e
como uma análise de fenômeno, um ato
espontaneamente.
de leitura, ou a condução de um

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

Em síntese, a idéia de competência mais restrito, competência é tida como


retrata dois aspectos antagônicos mas comportamento objetivo e observável e
solidários, que podem ser traduzidos de que se realiza como resposta a uma
várias maneiras: interno e externo, situação. Essa forma de entender
implícito e explícito, o da visibilidade competência se manifesta no campo da
social e o da organização interna, o que formação profissional quando pressupõe
na ação é observável e mais que a cada posto de trabalho
estandardizado e o que é mais ligado ao corresponda uma lista de tarefas
sujeito, portanto, singular e obscuro. específicas. No campo da educação, essa
Esses aspectos podem ser encontrados noção de competência comparece
nas teorias que fundamentam a noção associada à pedagogia por objetivos
de competência, as quais abordam essa (Bloom,1972 e Mager, 1975), cuja idéia
questão em dois pólos opostos. No central é a de que, para ensinar, é preciso
primeiro pólo, estão as teorias que usam traçar objetivos claros e específicos, sem
o termo competência como referência a ambigüidades, de tal forma que o
atos observáveis ou comportamentos professor possa prever que seus alunos
específicos, empregados, sobretudo, na serão capazes de alcançá-los. Para tanto,
formação profissional e na concepção da as competências devem-se confundir
aprendizagem por objetivos. No segundo com o comportamento observável. Tal
pólo encontram-se, autores que concepção está, portanto, diretamente
analisam as capacidades do sujeito associada às idéias de performance e
resultantes de organização interna e eficácia (Ropé e Tanguy, 1997), bem
não-observáveis diretamente: como acaba por fomentar a elaboração
de listagens de comportamentos
exigíveis em diferentes níveis dos
Assim, tanto a competência é concebida
programas de ensino. Na medida em que
como uma potencialidade invisível,
a competência se reduz ao
interna, pessoal, susceptível de engendrar
comportamento observável, elimina-se
uma infinidade de “performances”, tanto
do mesmo o seu caráter implícito.
ela se define por componentes
observáveis, exteriores, impessoais. Esse mesmo modelo, no sentido mais
(Rey, 1998, p.26) amplo, toma uma outra forma: a da ação
funcional, ou seja, ser competente não é
apenas responder a um estímulo e realizar
Esses dois sentidos do termo
uma série de comportamentos, mas,
competência são usados e convivem
sobretudo, ser capaz de, voluntariamente,
alternadamente, tanto no mundo do
selecionar as informações necessárias para
trabalho como no mundo da escola.
regular sua ação ou mesmo inibir as
A concepção de competência como reações inadequadas. Na realidade, essa
comportamento é a manifestação de um concepção pretende superar a falta de
modelo teórico que guarda parentesco sentido produzida na consecução de
com o behaviorismo, o qual tem objetivos. Ao introduzir a idéia de
embasado o uso da noção de finalidade ao comportamento, fato que a
competência de duas formas. No sentido pedagogia por objetivos desconsiderou,

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Livro do Professor

acentua-se que, subjacente a um conhecimento é possível sem haver uma


comportamento observável, consciente ou organização interna.
automaticamente, existe uma organização Para Chomsky (1983), a competência
realizada pelo sujeito, da qual se depreende lingüística não se confunde com
a existência de um equipamento cognitivo comportamento. Ela deriva de um poder
que organiza, seleciona e hierarquiza seus interno (núcleo fixo inato), expresso por
movimentos em função dos objetivos a um conjunto de regras do qual o sujeito
alcançar. Em outras palavras, a não tem consciência, que possibilita a
competência não é redutível aos produção de comportamentos lingüísticos.
comportamentos estritamente objetivos,
Na abordagem piagetiana, a idéia de
mas está vinculada sempre a uma atividade
competência está atrelada à organização
humana que, ligada à escola ou ao
interna e complexa das ações humanas,
trabalho, caracteriza-se por sua relação
mas, diferentemente de Chomsky,
funcional a tais atividades definidas
Piaget (1983) discorda do caráter inato
socialmente.
dessa organização e enfatiza a sua
Em síntese, embora existam essas dimensão adaptativa. Sustenta que a
variações no sentido de competência progressividade do desenvolvimento
como comportamento, em ambos ela é mental se apóia em um processo de
vista no seu caráter específico e construção, no qual interferem o
determinado: no primeiro caso, é limitada mínimo de “pré-formações” e o máximo
pelos estímulos que a provocam; no de auto-organização. A competência,
segundo, pela função que apresenta na nesse sentido, diz respeito à construção
situação ou contexto que a exige. endógena das estruturas lógicas do
Como já dissemos, um outro pólo da pensamento que, à medida que se
análise teórica sobre competência não a estabelecem, modificam o padrão da
identifica com comportamento; ela é ação ou adaptação ao meio e que
considerada como uma capacidade geral Malglaive (1995) denomina de estrutura
que torna o indivíduo apto a das capacidades.
desenvolver uma variedade de ações A abordagem piagetiana, como
que respondem a diferentes situações. sabemos, teve como preocupação
Competência, nesse caso, refere-se ao mostrar as estruturas lógicas como
funcionamento cognitivo interno do universais. Mesmo afirmando que todo
sujeito. Essa concepção de competência conhecimento se dá em um contexto
foi formulada em contraposição à idéia social e descrevendo o papel da
de competências como comportamentos interação entre os pares como
específicos, a partir das teorias de fundamental para o desenvolvimento do
competência lingüística, proposta por raciocínio lógico, essa investigação não
Chomsky (1983) e da auto-regulação do privilegiou a forma de atuação do
desenvolvimento cognitivo, proposta contexto social ou das situações no
por Piaget (1976). Embora divergindo a desenvolvimento das competências
respeito da origem das competências cognitivas. A partir de contribuições da
cognitivas, esses autores têm em sociologia e da antropologia, vários
comum a crença de que nenhum estudos têm sido realizados no sentido

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

de mostrar as relações entre contextos mentais permite colocar a aprendizagem


culturais e cognição, conforme descrito no contexto das operações e não apenas
por Dias (2002). Nesse sentido, vale no do conhecimento ou do
ressaltar as reflexões de Bordieu (1994), comportamento.
quando afirma que a compreensão não é
só o reconhecimento de um sentido C. AS COMPETÊNCIAS DO ENEM
invariante, mas a apreensão da NA PERSPECTIVA DAS AÇÕES OU
singularidade de uma forma que só OPERAÇÕES DO SUJEITO
existe em um contexto particular.
COMPETÊNCIAS COMO MODALIDADES Considerando as características do
ESTRUTURAIS DA INTELIGÊNCIA mundo de hoje, quais os recursos
cognitivos que um jovem, concluinte da
A ressignificação da noção competência
educação básica, deve ter construído ao
– nos meios educacionais e acadêmicos –
longo desse período? A matriz de
está muito provavelmente atrelada à
competências do ENEM expressa uma
necessidade de encontrar um termo que hipótese sobre isso, ou seja, assume o
substituísse os conceitos usados para pressuposto de que os conhecimentos
descrever a inteligência, os quais se adquiridos ao longo da escolarização
mostraram inadequados, quer pela deveriam possibilitar ao jovem domínio
abrangência, quer pela limitação. No de linguagens, compreensão de
primeiro caso, sabemos das dificuldades fenômenos, enfrentamento de situações-
de trabalhar com termos como problema, construção de argumentações
capacidade para expressar aquilo que e elaboração de propostas. De fato, tais
deve ser objeto de desenvolvimento, até competências parecem sintetizar os
mesmo porque essa idéia carrega principais aspectos que habilitariam um
conotações de aptidão, difíceis de jovem a enfrentar melhor o mundo, com
precisar. No segundo caso, a vinculação todas as suas responsabilidades e
da inteligência à aquisição de desafios. Quais são as ações e operações
comportamentos produziu uma visão valorizadas na proposição das
pontual e molecular que reduz o competências da matriz? Como analisar
desenvolvimento a uma listagem de esses instrumentos cognitivos em sua
saberes a serem adquiridos. Como função estruturante, ou seja,
contraponto, a noção de competência organizadora e sistematizadora de um
surgiu no discurso dos profissionais da pensar ou um agir com sentido
educação como uma forma de individual e coletivo? Em outras
circunscrever o termo capacidade e palavras, o que significam dominar e
alargar a idéia de saber específico. fazer uso (competência I); construir,
aplicar e compreender (competência II);
Nesse sentido, o construtivismo selecionar, organizar, relacionar,
contribuiu, de forma significativa, para interpretar, tomar decisões, enfrentar
pensar a inteligência humana como (competência III); relacionar, construir
resultado de um processo de adaptações argumentações (competência IV);
progressivas, portanto não polarizado recorrer, elaborar, respeitar e considerar
no meio ou nas estruturas genéticas. Por (competência V)?
outro lado, o conceito de operações

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Livro do Professor

DOMINAR E FAZER USO domínio lingüístico para outro. Assim,


A competência I tem como propósito tal competência requer do sujeito, por
avaliar se o estudante demonstra exemplo, a capacidade de transitar da
dominar a norma culta da Língua
“dominar linguagem matemática para a linguagem
Portuguesa e fazer uso da linguagem da história ou da geografia, e dessas,
matemática, artística e científica”. para a linguagem artística ou para a
linguagem científica. Significa ainda ser
Dominar, segundo o dicionário, significa
competente para reconhecer diferentes
“exercer domínio sobre; ter autoridade
tipos de discurso, sabendo usá-los de
ou poder em ou sobre; ter autoridade,
acordo com cada contexto.
ascendência ou influência total sobre;
prevalecer; ocupar inteiramente”. Fazer O domínio de linguagens implica um
uso, pois, é sinônimo de dominar, já que sujeito competente como leitor do
expressa ou confirma seu exercício na mundo, ou seja, capaz de realizar
prática. leituras compreensivas de textos que se
expressam por diferentes estilos de
Dominar a norma culta tem significados
comunicação, ou que combinem
diferentes nas tarefas de escrita ou
conteúdos escritos com imagens,
leitura avaliadas. No primeiro caso, o
charges, figuras, desenhos, gráficos, etc.
domínio da norma culta pode ser
Da mesma forma, essa leitura
inferido, por exemplo, pela correção da
compreensiva implica atribuir
escrita, coerência e consistência textual,
significados às formas de linguagem que
manejo dos argumentos em favor das
são apropriadas a cada domínio de
idéias que o aluno quer defender ou
conhecimento, interpretando seus
criticar. Quanto às tarefas de leitura, tal
conteúdos. Ler e interpretar significa
domínio pode ser inferido pela
atribuir significado a algo, apropriar-se
compreensão do problema e
de um texto, estabelecendo relações
aproveitamento das informações
entre suas partes e tratando-as como
presentes nos enunciados das questões.
elementos de um mesmo sistema.
Além disso, sabemos hoje que o mundo
Dominar linguagens implica ainda um
contemporâneo se caracteriza por uma
sujeito competente como escritor da
pluralidade de linguagens que se
realidade que o cerca, um sujeito que
entrelaçam cada vez mais. Vivemos na
saiba fazer uso dessa multiplicidade de
era da informação, da comunicação, da
linguagens para produzir diferentes
informática. Basicamente, todas as
textos que comuniquem uma proposta,
nossas interações com o mundo social,
uma reflexão, uma linha de
com o mundo do trabalho, com as
argumentação clara e coerente.
outras pessoas, enfim, dependem dessa
multiplicidade de linguagens para que Por isso, dominar linguagens implica
possamos nos beneficiar das tecnologias trabalhar com seus conteúdos na
modernas e dos progressos científicos, dimensão de conjecturas, proposições e
realizar coisas, aprender a conviver, etc. símbolos. Nesse sentido, a linguagem
constitui o instrumento mais poderoso
Dominar linguagens significa, portanto,
de nosso pensamento, à medida que ela
saber atravessar as fronteiras de um
lhe serve de suporte.

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

Por exemplo, pensar a realidade como Hoje, a compreensão de fenômenos,


um possível, como é próprio do naturais ou não, tornou-se
raciocínio formal (Inhelder e Piaget, imprescindível ao ser humano que se
1955), seria impraticável sem a quer participante ativo de um mundo
linguagem, pois é ela que nos permite complexo, onde coabitam diferentes
transitar do presente para o futuro, povos e nações, marcados por uma
antecipando situações, formulando enorme diversidade cultural, científica,
proposições. Não seria possível também política e econômica e, ao mesmo tempo,
fazer o contrário, transitar do presente desafiados para uma vida em comum,
para o passado, que só existe como uma interdependente ou globalizada.
lembrança ou como uma imagem. Da Compreender fenômenos significa ser
mesma maneira, raciocinar de uma competente para formular hipóteses ou
forma hipotético-dedutiva também idéias sobre as relações causais que os
depende da linguagem, pois sem ela não determinam. Ou seja, é preciso saber que
teríamos como elaborar hipóteses, idéias um dado procedimento ou ação provoca
e suposições que existem apenas em um uma certa conseqüência. Assim, se o
plano puramente representacional e desmatamento desenfreado ocorre em
virtual. todo o planeta, é possível supor que esse
CONSTRUIR, APLICAR E COMPREENDER evento, em pouco tempo, causará
desastres climáticos e ecológicos, por
O objetivo da competência II é avaliar se o
construir e aplicar exemplo.
estudante sabe “construir
conceitos das várias áreas do Além disso, a compreensão de
conhecimento para a compreensão de fenômenos requer competência para
fenômenos naturais, de processos formular idéias sobre a explicação causal
histórico-geográficos, da produção de um certo fenômeno, atribuindo
tecnológica e das manifestações sentido às suas conseqüências. Voltando
artísticas”. ao exemplo anterior, não basta ao sujeito
construir e aplicar seus conhecimentos
Construir é uma forma de domínio que,
para saber que as conseqüências do
no caso das questões das provas, pode
desmatamento serão os desastres
implicar o exercício ou uso de muitas
climáticos ou ecológicos, mas é preciso
habilidades: estimar, calcular,
também que ele compreenda as razões
relacionar, interpretar, comparar, medir,
que esse fato implica, ou seja, que
observar etc. Em quaisquer delas, o
estabeleça significados para ele.
desafio é realizar operações que
possibilitem ultrapassar uma dada Para isso, é necessário determinar
situação ou problema, alcançando relações entre as coisas, inferir sobre
aquilo que significa ou indica sua elementos que não estão presentes em
conclusão. Construir, portanto, é uma situação, mas que podem ser
articular um tema com o que qualifica deduzidos por aquelas que ali estão,
sua melhor resposta ou solução, tendo trabalhar com fórmulas e conceitos.
que, para isso, realizar procedimentos Nesse sentido, também fazemos uso da
ou dominar os meios requeridos, linguagem, à medida que formulamos
considerando as informações hipóteses para compreender um
disponíveis na questão. fenômeno ou fato, ou elaboramos

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Livro do Professor

conjecturas, idéias e suposições em um problema ou questão, seja encontrar


relação a ele. Nesse jogo de elaborações ou produzir sua solução, a ação ou
e suposições, trabalhamos, do ponto de operação que se quer destacar é a de
vista operatório, com a lógica da saber enfrentar, sendo o resolver, por
combinatória (Inhelder e Piaget, 1955), a certo, seu melhor desfecho, mas não o
partir da qual é preciso considerar, ao único. Ou seja, o enfrentamento de
mesmo tempo, todos os elementos situações-problema relaciona-se à
presentes em uma dada situação. capacidade de o sujeito aceitar desafios
que lhe são colocados, percorrendo um
SELECIONAR, ORGANIZAR, RELACIONAR,
processo no qual ele terá que vencer
INTERPRETAR, TOMAR DECISÕES E ENFRENTAR
obstáculos, tendo em vista um certo
SITUAÇÕES-PROBLEMA
objetivo. Quando bem sucedido nesse
O objetivo da Competência III é avaliar
enfrentamento, pode-se afirmar que o
selecionar
selecionar, organizar
se o aluno sabe “selecionar organizar,
sujeito chegou à resolução de uma
relacionar
relacionar, interpretar dados e
situação-problema. Produzir resultados
informações representados de diferentes
com êxito no contexto de uma situação-
formas, para tomar decisões e enfrentar
problema pressupõe o enfrentamento da
situações-problema
situações-problema”.
mesma. Pressupõe encarar dificuldades e
Talvez a melhor forma de analisarmos as obstáculos, operando nosso raciocínio
ações ou operações avaliadas nessa dentro dos limites que a situação nos
competência seja fazermos a leitura em coloca. Tal como em um jogo de
sua ordem oposta: enfrentar uma tabuleiro, enfrentar uma partida
situação-problema implica selecionar, pressupõe o jogar dentro das regras − o
organizar, relacionar e interpretar dados jogar certo −, sendo as regras aquilo que
para tomar uma decisão. De fato, assim nos fornecem as coordenadas e os
é. Tomar uma decisão implica fazer um limites para nossas ações, a fim de
recorte significativo de uma realidade, às percorrermos um certo caminho durante
vezes, complexa, ou seja, que pode ser a realização da partida. No entanto, nem
analisada de muitos modos e que pode sempre o jogar certo é o suficiente para
conter fatores concorrentes, no sentido que joguemos bem, isto é, para que
de que nem sempre é possível dar vençamos a partida, seja porque nosso
prioridade a todos eles ao mesmo adversário é mais forte, seja porque não
tempo. Selecionar é, pois, recortar algo soubemos, ao longo do caminho,
destacando o que se considera colocar em prática as melhores
significativo, tendo em vista um certo estratégias para vencer. (Macedo, Petty
critério, objetivo ou valor. Além disso, e Passos, 2000)
tomar decisão significa organizar ou
Da mesma maneira, uma situação-
reorganizar os aspectos destacados,
problema traz um conjunto de
relacionando-os e interpretando-os em
informações que, por analogia, funcionam
favor do problema enfrentado.
como as regras de um jogo, as quais, de
Reparem que enfrentar uma situação- maneira explícita, impõem certos limites
problema não é o mesmo que resolvê- ao jogador. É a partir desse dado real − as
la. Ainda que nossa intenção, diante de regras − que o jogador enfrentará o jogo,

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II. Eixos conceituais que estruturam ENCCEJA

mobilizando seus recursos, selecionando Consideremos que convencer significa


certos procedimentos, organizando suas vencer junto, ou seja, implica aceitar
ações e interpretando informações para que o melhor argumento pode vir de
tomar decisões que considere as melhores muitas fontes e que nossas idéias de
naquele momento. partida podem ser confirmadas ou
Tendo em vista esses aspectos, o que a reformuladas total ou parcialmente no
competência III busca valorizar é a jogo das argumentações. Assim, saber
possibilidade de o sujeito, ao enfrentar argumentar é convencer o outro ou a si
situações-problema, considerar o real mesmo sobre uma determinada idéia.
como parte do possível (Inhelder e Convencer o outro porque, quando
Piaget, 1955). Se, para ele, as adotamos diferentes pontos de vista
informações contidas no problema forem sobre algo, é preciso elaborar a melhor
consideradas como um real dado que justificativa para que o outro apóie
delimita a situação, pode transformá-lo nossa proposição. Convencer a si
em uma abertura para todos os possíveis. mesmo porque, ao tentarmos resolver
um determinado problema,
RELACIONAR E ARGUMENTAR
necessitamos relacionar informações,
O objetivo da competência IV é verificar conjugar diversos elementos presentes
relacionar informações,
se o aluno sabe “relacionar em uma determinada situação,
representadas em diferentes formas, e estabelecendo uma linha de
conhecimentos disponíveis em situações argumentação mental sem a qual se
concretas, para construir torna impossível uma solução
argumentação consistente”. satisfatória. Nesse sentido, construir
Relacionar refere-se às ações ou argumentação significa utilizar a melhor
operações por intermédio das quais estratégia para apresentar e defender
pensamos ou realizamos uma coisa em uma idéia; significa coordenar meios e
função de outra. Ou seja, trata-se de fins, ou seja, utilizar procedimentos que
coordenar pontos de vista em favor de apresentem os aspectos positivos da
uma meta, por exemplo, defender ou idéia defendida.
criticar uma hipótese ou afirmação. Para Por isso, a competência IV é muito
isso, é importante sabermos descentrar, valorizada no mundo atual, tendo em
ou seja, considerar uma mesma coisa vista que vivemos tempos nos quais as
segundo suas diferentes perspectivas ou sociedades humanas, cada vez mais
focos. Dessa forma, a conclusão ou abertas, perseguem ideais de democracia
solução resultante da prática relacional e de igualdade. Em certo sentido, a vida
expressa a qualidade do que foi analisado. pede o exercício dessa competência, pois
Saber construir uma argumentação hoje a maioria das situações que
consistente significa, pois, saber mobilizar enfrentamos requerem que saibamos
conhecimentos, informações, experiências considerar diversos ângulos de uma
de vida, cálculos, etc. que possibilitem mesma questão, compartilhando
defender uma idéia que convence alguém diferentes pontos de vista, respeitando as
(a própria pessoa ou outra com quem diferenças presentes no raciocínio de
sediscute) sobre alguma coisa. cada pessoa. De certa forma, essa

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Livro do Professor

competência implica o exercício da articular meios e fins, pensar e atuar


cidadania, pois argumentar hoje se refere coletivamente.
a uma prática social cada vez mais A sociedade contemporânea diferencia-
necessária, à medida que temos que se de outras épocas por suas
estabelecer diálogos constantes, transformações contínuas em todos os
defender idéias, respeitar e compartilhar setores. Dessa maneira, as mudanças
diferenças. sociais, políticas, econômicas, científicas
RECORRER, ELABORAR, RESPEITAR E CONSIDERAR e tecnológicas de hoje se fazem com
uma rapidez enorme, exigindo do
O objetivo da competência V é valorizar a
recorrer aos homem atualizações constantes. Não
possibilidade de o aluno “recorrer
mais é possível que solucionemos os
conhecimentos desenvolvidos na escola
problemas apenas recorrendo aos
para elaboração de propostas de
conhecimentos e à sabedoria que a
intervenção solidária na realidade,
respeitando os valores humanos e humanidade acumulou ao longo dos
considerando a diversidade tempos, pois estes muitas vezes se
mostram obsoletos. A realidade nos
sociocultural”.
impõe hoje a necessidade de criar novas
Recorrer significa levar em conta as
soluções a cada situação que
situações anteriores para definir ou
enfrentamos, sem que nos pautemos
calcular as seguintes até chegar a algo
apenas por esses saberes tradicionais.
que tem valor de ordem geral. Uma das
Por essas razões, elaborar propostas é
conseqüências, portanto, da recorrência é
uma competência essencial, à medida
sua extrapolação, ou seja, podermos
que ela implica criar o novo, o atual.
aplicá-la a outras situações ou encontrar
Mas, para criar o novo, é preciso que o
uma fórmula ou procedimento que
sujeito saiba criticar a realidade,
sintetiza todo o processo. Elaborar
compreender seus fenômenos,
propostas, nesse sentido, é uma forma de
comprometer e envolver-se ativamente
extrapolação de uma recorrência. Propor
com projetos de natureza coletiva. Vale
supõe tomar uma posição, traduzir uma
dizer que tal competência exige a
crítica em uma sugestão, arriscar-se a
capacidade do sujeito exercer
sair de um papel passivo. Por extensão,
verdadeiramente sua cidadania, agindo
acarreta a mobilização de novas
sobre a realidade de maneira solidária,
recorrências, tornando-se solidário, isso
envolvendo-se criticamente com os
é, agindo em comum com outras pessoas
problemas da sua comunidade, propondo
ou instituições. Este agir em comum
novos projetos e participando das
implica aprender a respeitar, ou seja,
decisões comuns.
considerar o ponto de vista do outro,

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HistÛria e Geografia 9-38.pmd 37 11/7/2003, 09:14


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empresa. Campinas: Papirus, 1997. p. 25-67. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos e
equipe ILA da PUC/RS.

HistÛria e Geografia 9-38.pmd 38 11/7/2003, 09:14


História e Geografia - Ensino Fundamental
Antonia Terra de Calazans Fernandes

Este texto tem a finalidade de contribuir exemplos de seus desdobramentos no


para reflexões de professores e domínio e análise de conteúdos de
especialistas da área de Ciências Humanas abrangências diversas que incluem, por
do Ensino Fundamental envolvidos com o exemplo, informações, conceitos,
trabalho de avaliação de jovens e adultos. valores, atitudes e procedimentos.
Inicialmente, o texto apresenta História e As Ciências Humanas - que abrangem a
Geografia como disciplinas escolares do Filosofia, a História, a Geografia, a
Ensino Fundamental que aglutinam Política, a Economia, a Sociologia e a
conhecimentos das diferentes Ciências Antropologia - estão presentes no
Humanas, pontuando suas especificidades Ensino Fundamental por meio de duas
na formação escolar humanística, disciplinas escolares específicas :
voltada para a cidadania. Na seqüência, História e Geografia. Assim, além de
trata das características dos alunos da contemplarem conteúdos e métodos
EJA e do que se espera que dominem e específicos de suas ciências de origem e
articulem de acordo com o conhecimento de manterem seus compromissos
da área, especificando tanto educacionais com a formação para a
competências e domínios conceituais, cidadania, a História e a Geografia
como também metodologias de análise também incluem a responsabilidade do
das produções humanas presentes na desenvolvimento de estudos
realidade e expressas na diversidade de interdisciplinares que favoreçam a
linguagens. Por fim, reflete sobre as análise e compreensão da complexidade
competências que são apresentadas da vida em sociedade.
como referência para avaliação do aluno No campo do conhecimento científico,
da EJA no Ensino Fundamental em a tarefa de captar a totalidade da vida
Ciências Humanas, apresentando alguns social ou dar conta da realidade

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

complexa tem sido realizada pelas A presença da História e da Geografia


pesquisas das Ciências Humanas, seja no espaço escolar sempre agregou
por meio de uma única área de estudo reflexões e debates nas Ciências
que procura abarcá-la em perspectiva Humanas; tais debates seguem,
ampla, seja por meio de propostas tradicionalmente, a tendência de abarcar
interdisciplinares envolvendo duas ou conteúdos - temas e domínios -
mais áreas de conhecimento. Por interdisciplinares. Os Parâmetros
exemplo, durante décadas a História e a Curriculares Nacionais para a História
Geografia mantiveram proximidades (Brasil, 1998) refletem atualmente essas
com a Economia e nos últimos vinte reflexões, pontuando a necessidade desse
anos fortaleceram por sua vez, seus campo estabelecer diálogos com outras
diálogos com a Antropologia. áreas de conhecimento para dar conta de
Mais recentemente, tem prevalecido nas diferentes problemáticas contemporâneas
Ciências Humanas um esforço em suas dimensões temporais. Segundo
interdisciplinar fundamentado por esses parâmetros, novos conteúdos
variados debates e intercâmbios entre podem ser considerados em uma
diferentes áreas. O historiador Hobsbawm perspectiva histórica por meio de
(1998) pontua que os estudos ligados à trabalhos interdisciplinares.
história social implicam necessariamente A História e a Geografia, dentre as
em análises interdisciplinares, porque a Ciências Humanas, contemplam hoje
compreensão das sociedades requer perspectivas mais totalizantes de análise
perspectivas abrangentes da vivência das sociedades, tendo como objeto de
social, incluindo as diferentes relações estudo tanto questões intrínsecas às
que os grupos estabelecem entre si e com relações e organizações humanas,
a natureza. A forma como as sociedades quanto sua relação com a natureza.
garantem seu sustento, por exemplo, Além disso, possibilitam o estudo do
estabelece vínculos com as relações mundo contemporâneo de modo
construídas entre as pessoas e os grupos, abrangente e também fornecem os
com a organização do espaço de convívio fundamentos para que as questões sejam
e trabalho, com as manifestações analisadas na perspectiva do passado e
culturais vivenciadas e expressas etc.: das transformações realizadas pelas
sociedades no espaço.
A história social nunca pode ser mais Por outro lado, o compromisso do
uma especialização, como a história Ensino Fundamental com a cidadania
econômica ou outras hifenizadas, porque também tem instigado essas áreas a
seu tema não pode ser isolado. (...) O reverem conteúdos estritamente escolares
historiador das idéias pode (por sua conta ou puramente disciplinares para
e risco) não dar a mínima para a favorecerem uma formação mais
economia, e o historiador econômico não humanista ao estudante, permitindo-lhe
dar a mínima para Shakespeare, mas o compreender, analisar criticamente e
historiador social que negligencia um dos atuar socialmente. Nos Parâmetros
dois não irá muito longe.
(Hobsbawm, 1998, p. 87)

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

Curriculares Nacionais para a Geografia determinadas competências,


(Brasil, 1998), isto fica explícito na envolvendo estudos de uma diversidade
proposta de que cada cidadão, ao de conteúdos - informações, conceitos,
conhecer as características sociais, procedimentos, valores e atitudes.
culturais e naturais do lugar onde vive, Nessa linha, as disciplinas de História e
bem como as de outros lugares, pode Geografia no Ensino Fundamental
comparar, explicar, compreender e pretendem imprimir à formação do
espacializar as múltiplas relações que aluno uma tendência que priorize o
diferentes sociedades (...) estabelecem desenvolvimento de competências, tais
com a natureza na construção de seu como:
espaço geográfico, adquirindo assim • compreender processos sociais,
conhecimentos que lhe permitem maior
utilizando conhecimentos históricos e
consciência dos limites e
geográficos;
responsabilidades da ação individual e
• compreender o papel das sociedades
coletiva com relação ao seu lugar e a
no processo de produção do espaço, do
contextos mais amplos, da escala
território, da paisagem e do lugar;
nacional a mundial. (ibid., 1998, p. 33)
• compreender a importância do
AS CIÊNCIAS HUMANAS E
patrimônio cultural e respeitar a
A FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA
diversidade étnica;
Da perspectiva da formação para a
• compreender e valorizar os fundamentos
cidadania, a Proposta Curricular de
da cidadania e da democracia, de forma a
Jovens e Adultos (Brasil, 2002) também
favorecer uma atuação consciente do
contempla a preocupação de formar para indivíduo na sociedade;
a participação política, entendendo-a
• compreender o processo histórico de
não unicamente como escolha de
ocupação do território e a formação da
representantes políticos, mas também
sociedade brasileira;
como participação em movimentos
sociais e envolvimento com os temas e • interpretar a formação e organização
questões da nação e em todos os níveis do espaço geográfico brasileiro,
da vida cotidiana. Defende a idéia de considerando diferentes escalas;
que as mudanças no mundo atual • perceber-se integrante, dependente e
exigem uma compreensão melhor o agente transformador do ambiente;
mundo em que vivemos para nele • compreender a organização política e
atuarmos de maneira crítica, responsável econômica das sociedades contemporâneas;
e transformadora. (ibid., 2002, p. 114 - 115)
• compreender os processos de
Perseguindo essa meta, a área de formação das instituições sociais e
Ciências Humanas no Ensino políticas, a partir de diferentes formas
Fundamental favorece ao aluno a de regulamentação das sociedades e do
análise de sua inserção no mundo espaço geográfico.
humano, dimensionando suas
Essas competências estão fundadas em
temporalidades e suas relações com o
princípios que inter-relacionam o
espaço a partir do desenvolvimento de
domínio de linguagens, os conceitos das

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

3
Ciências Humanas e a formação para a braçais, entre outros . Impedidos da
cidadania, ou seja, revelam a intenção e plena cidadania, os descendentes destes
o propósito de que os estudantes devam grupos ainda hoje sofrem as
ter a capacidade de articular conseqüências desta realidade histórica.
determinados saberes de ordem Disto nos dão prova as inúmeras
intelectual que favoreçam a reflexão estatísticas oficiais. A rigor, esses
sobre diferentes dimensões da realidade segmentos sociais, com especial razão
social e a construção de julgamentos e negros e índios, não eram considerados
atuações em prol de atitudes sociais de como titulares do registro maior da
respeito e solidariedade. modernidade: uma igualdade que não
O desdobramento dessas competências reconhece qualquer forma de
nos conteúdos intrínsecos às Ciências discriminação e de preconceito com base
Humanas solicita que os estudantes em origem, raça, sexo, cor, idade,
tenham acesso a saberes diversos que religião e sangue, entre outros. Fazer a
incluam informações e conceitos sociais, reparação desta realidade, dívida inscrita
políticos, culturais, históricos e em nossa história social e na vida de
geográficos; conhecimentos de como tantos indivíduos, é um imperativo e um
proceder para colher informações e dos fins da EJA, porque reconhece o
realizar análises a partir de variadas advento para todos deste princípio de
linguagens (mapas, imagens, diferentes igualdade (Diretrizes curriculares
tipos de texto...). Também envolve nacionais para a educação de jovens e
conhecimentos de como julgar e atuar adultos, 2000).
em favor da preservação de patrimônios, Como fruto dessa história, por
do respeito à diversidade cultural, da ingressarem ou regressarem à escola
realização plena da democracia e do como jovens e adultos, os alunos de EJA
reconhecimento da participação efetiva possuem uma história pessoal marcada
dos indivíduos, grupos, classes, povos e pelo trabalho e por vivências sociais que
Estados na construção e transformação os diferenciam dos estudantes de idade
da realidade vivida. regular. Ao mesmo tempo, ao longo da
história da educação brasileira, essa
OS ALUNOS DE EJA E AS CIÊNCIAS HUMANAS
modalidade de ensino tem considerado
As Diretrizes Curriculares Nacionais para essa formação específica (desenhada pela
a Educação de Jovens e Adultos variação de idade e de cultura) nos seus
identificam os alunos de EJA como instrumentos didáticos e de avaliação.
sendo herdeiros de um processo
As experiências com EJA têm sido ainda
histórico cruel e moldado pela
um aprendizado quanto à intervenção
segregação.
pedagógica e às relações do saber formal
Suas raízes são de ordem histórico- com o conhecimento prévio no processo
social. No Brasil, esta realidade resulta de aprendizagem do aluno, de modo a
do caráter subalterno atribuído pelas valorizar seu saber e, simultaneamente,
elites dirigentes à educação escolar de favorecer-lhe a apropriação também de
negros escravizados, índios reduzidos, uma cultura exigida por determinados
caboclos migrantes e trabalhadores setores sociais. Essa conciliação é

3 Também opor obstáculos ao acesso de mulheres à cultura letrada faz parte da tradição patriarcal e machista
que, por longo tempo, preponderou entre muitas famílias no Brasil.

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

fundamental no sentido de permitir o estudante para os limites do que


acesso do indivíduo a melhores aprendeu unicamente na esfera da vida
oportunidades de trabalho, melhoria na social, por estarem inclusas nestas
sua qualidade de vida e domínio político vivências dimensões de subjetividade,
para intervir em prol de sociedades mais determinados valores culturais, ou
justas e igualitárias. Como afirma a mesmo ideologias difundidas no senso
Proposta Curricular para Jovens e comum.
Adultos, um dos maiores desafios dos A interação dos alunos da EJA com
cursos de educação de jovens e adultos novos conhecimentos tem solicitado
consiste em articular o conhecimento cuidados didáticos específicos e
vivido por esses alunos aos instrumentos de avaliação diferenciados,
conhecimentos da ciência formal, da principalmente nas circunstâncias em
cultura letrada, das artes clássicas, isto é, que se realiza por meio de estudos
à produção cultural, intelectual e política individuais — leitura de textos e
das sociedades. (op.cit., 2002) programas de televisão e rádio — e
Nesse complexo processo de diálogos aquisição de certificados por processos
culturais, intencionalidades educativas e de avaliação em grande escala, como é o
indicadores de aprendizagem, a área de caso dos exames estaduais. De qualquer
Ciências Humanas assume um papel modo, seja em situações de sala de aula
importante por favorecer o debate sobre a com a presença do professor, seja na
identidade social, cultural, geográfica e situação de estudos solitários, o ritmo de
histórica e por conter as categorias aprendizagem, a maneira como as
teóricas e os métodos para “evidenciar” a informações e conceitos são
pluralidade das culturas internas às apresentados e os mecanismos de avaliar
sociedades, sua segmentação, seus os domínios adquiridos têm sido objeto
conflitos e seus acordos. Um outro papel de atenção por parte de educadores.
é o de refletir sobre a diversidade de Existem outras recomendações para o
modos de vida, crenças e concepções uso de estratégias didáticas e questões de
políticas construída historicamente nas avaliação nas quais o aluno possa se
variedades de convivências e nas relações questionar primeiro sobre o que sabe e
plurais com o espaço geográfico. levantar hipóteses, confrontar suas
A área de Ciências Humanas enfrenta opiniões com outras, extrair informações
ainda o desafio de criar situações de textos, gráficos, imagens, e organizar
didáticas e instrumentos de avaliação as informações coletadas antes de
para que o estudante se confronte com o concluir idéias.
seu próprio universo cultural e social, Dessa perspectiva didática e de
com sua própria formação, com sua avaliação, as Ciências Humanas
história, avaliando e ponderando seus assumem a responsabilidade de valorizar
conhecimentos e reconhecendo o valor a pluralidade de idéias, pontos de vista e
intrínseco desse saber para condução e valores diferentes e concepções de
compreensão da realidade. mundo variadas. Pautam-se por
Simultaneamente, tem a premissas postas pelo mundo
responsabilidade de sensibilizar o contemporâneo que solicitam de todos

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

atitudes de alteridade, ou seja, a desvalorização da moeda afeta o custo


construção de uma sensibilidade ou a das mercadorias que consome, ele
consolidação de uma vontade de precisa saber identificar diferentes
acolher a produção interna das estilos de textos, colher informações de
diferenças e de moldar valores de tabelas, interpretar fotos, questionar,
respeito por elas. (Brasil, 1998, p. 35) organizar dados, estabelecer relações
entre informações da atualidade e de
LINGUAGENS, METODOLOGIAS
outras épocas e entre acontecimentos
E CONCEITOS NO DOMÍNIO DE
de locais diferentes, bem como saber
CONTEÚDOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
lidar com conceitos que interpretam e
Por ter como objeto de estudo a vida em dão significado a esses acontecimentos.
sociedade e suas relações com a
Os alunos da EJA necessitam, então, de
natureza, as Ciências Humanas são as
saberes específicos para analisarem e
ciências que fornecem ao estudante os
compreenderem diferentes linguagens
conhecimentos necessários para
nas suas potencialidades comunicativas.
interpretar as relações humanas e como,
Precisam saber usar, colher dados e
a partir delas, se constituem as
interpretar mapas, linhas de tempo,
realidades sociais, históricas e
cronologias, tabelas, gráficos, fotos de
geográficas. Por isso, são próprios de sua
satélite, fotografias, gravuras e obras de
esfera de conhecimento os instrumentos
arte, caricaturas, charges e diferentes
e as metodologias para identificar,
estilos de textos, como jornalísticos,
caracterizar e analisar as convivências
literários, científicos, legislativos.
entre indivíduos, grupos, classes sociais,
povos, nações e Estados, moldadas nas Ainda, para organizar e relacionar as
relações com o mundo natural e com o informações que colhem nas suas
espaço geográfico, entrelaçadas ao longo vivências sociais, nos meios de
de processos históricos e representadas comunicação e em estudos escolares, os
em variadas linguagens. estudantes da EJA precisam dominar
alguns conceitos construídos e debatidos
O estudo das Ciências Humanas inclui,
pelas Ciências Humanas, principalmente
assim, domínios de metodologias para o
aqueles que estruturam noções de tempo,
indivíduo saber interpretar diferentes
espaço e sociedade e aqueles que
linguagens presentes no seu cotidiano,
contribuem para a compreensão e
as quais expressam modelos, valores e
análise do mundo contemporâneo.
significados construídos para as relações
históricas e geograficamente Os alunos da EJA devem, então, saber
constituídas. Este é o caso, por observar e colher informações de variadas
exemplo, da leitura e análise de linguagens e utilizá-las, organizar
informações de um jornal de circulação acontecimentos no tempo em linhas
diária. Para um cidadão brasileiro saber cronológicas, analisar textos
depreender opiniões dos autores dos constitucionais, identificar técnicas
textos e do próprio jornal, conflitos construtivas, comparar padrões culturais
entre grupos sociais presentes nos de sociedades. Devem ainda dominar
acontecimentos relatados, ou como a diferentes conceitos para dimensionar

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

perspectivas mais globais e analíticas das no processo de constituição do território


sociedades contemporâneas e suas brasileiro.
relações com sociedades de outros 2. Compreender o papel das sociedades
tempos, refletindo e escolhendo atitudes no processo de produção do espaço, do
que contribuam para atuações conscientes território, da paisagem e do lugar.
em prol de sociedades melhores.
Nesse caso, espera-se que o estudante
REFERÊNCIAS PARA AVALIAÇÃO compreenda o papel das sociedades no
Como foi visto, são inúmeras e processo de constituição do espaço ao
fundamentais as considerações para a longo de sua história, transformando
definição do que e como avaliar os territórios e paisagens e organizando os
conhecimentos do estudante da EJA em modos de vida dos lugares. Um exemplo
um processo de certificação nacional. A disso é o estudante analisar as mudanças
diversidade cultural das pessoas e as ocorridas na organização de espaços e
modalidades formais e informais de nos costumes das populações em função
acesso ao saber permitem estabelecer dos deslocamentos populacionais.
algumas referências abrangentes quanto 3. Compreender a importância do
às expectativas de seus domínios e seus patrimônio cultural e respeitar a
saberes, pautados em competências diversidade étnica.
específicas das Ciências Humanas no Trata-se nesse caso de o estudante
Ensino Fundamental. dominar saberes diversos, relativos a
As competências abaixo procuram dar diferentes campos das Ciências
conta de domínios amplos e específicos Humanas, que ressaltem a questão do
pertinentes aos conhecimentos esperados respeito à diversidade de manifestações
de estudantes da EJA do Ensino culturais pertencentes aos mais variados
Fundamental. grupos étnicos e que, simultaneamente,
1. Compreender processos sociais o despertem para a valorização e o
utilizando conhecimentos históricos e respeito por seus patrimônios. Por
geográficos. exemplo, espera-se que o estudante seja
capaz de reconhecer a presença de
Trabalhar com essa competência implica
comunidades quilombolas no Brasil e a
a apreensão da noção de processo social,
necessidade premente de respeitar o
a partir do domínio de diferentes
território e a cultura das mesmas como
conceitos históricos e geográficos e de
premissas intrínsecas à sobrevivência
relações entre acontecimentos sociais no
dessas comunidades.
tempo. Tal apreensão requer do
estudante a percepção de encadeamentos 4. Compreender e valorizar os
e relações históricas entre fundamentos da cidadania e da
acontecimentos intrínsecos a democracia, de forma a favorecer uma
determinados espaços, que se constituem atuação consciente do indivíduo na
e se modelam pela ação humana. Por sociedade.
exemplo, pretende-se que o estudante Essa competência implica o estudante
saiba relacionar os diferentes conflitos e saber discernir os conceitos de
lutas entre povos indígenas e europeus cidadania e de democracia,

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

reconhecendo-os como conceitos percebendo que o espaço possui


históricos e, portanto, mutáveis e intervenções históricas humanas, idades e
dependentes dos contextos políticos e tempos diferenciados. Um exemplo dessa
sociais das sociedades. Ao mesmo competência é o estudante compreender
tempo, solicita que o estudante que os espaços são constituídos de
reconheça a importância das lutas maneiras diferentes por conta de variados
empreendidas por diferentes grupos fatores naturais e intervenções humanas.
sociais e seus embates na constituição e 7. Perceber-se integrante, dependente e
implantação efetiva de sociedades agente transformador do ambiente.
democráticas. Um exemplo dessa
É necessário que o estudante seja capaz
competência é o estudante compreender
de relacionar e integrar diferentes
a história dos direitos trabalhistas no
informações oriundas desse ambiente
Brasil e a participação ativa das
para, a partir dessas relações, elaborar
organizações de trabalhadores neste
propostas que possam contribuir para a
processo.
sua transformação social, política e
5. Compreender o processo histórico de econômica. Espera-se, por exemplo, que
ocupação do território e a formação da ele saiba analisar e se posicionar diante
sociedade brasileira. das mudanças ocorridas nos ambientes
Nesse caso, a competência explicitada em função da expansão da indústria e
requer que o estudante domine e do modo de vida urbano, podendo ainda
compreenda os acontecimentos e contribuir para novas transformações.
conceitos históricos referentes ao processo 8. Compreender a organização política e
de ocupação do território e da formação da econômica das sociedades
sociedade brasileira. Compreender a contemporâneas.
história das populações indígenas no Brasil
Trata-se aqui de esperar que o estudante
em diferentes épocas, sua inserção na
seja capaz de identificar, nas organizações
sociedade nacional e suas lutas em prol da
políticas e econômicas das sociedades
integridade de seu território, de sua
contemporâneas, as múltiplas relações
sobrevivência e do reconhecimento de
construídas historicamente por diferentes
suas particularidades culturais, constitui
instâncias da sociedade - indivíduos,
um exemplo dessa competência.
grupos sociais, instituições e o próprio
6. Interpretar a formação e organização Estado - que modelam e remodelam
do espaço geográfico brasileiro, modos de vida e espaços geográficos. Um
considerando diferentes escalas. exemplo dessa competência é o estudante
Do estudante da EJA é esperado que identificar e analisar as transformações
tenha a capacidade de interpretar a nos costumes dos brasileiros a partir da
formação e a organização do espaço expansão da indústria no país e da
geográfico brasileiro, considerando integração das diferentes localidades por
diferentes escalas geográficas (local, meio da implantação da infra-estrutura de
regional, nacional e mundial) e transporte.

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

9. Compreender os processos de recuperando o que sabe e pensa; que


formação das instituições sociais e formule hipóteses e conjecturas,
políticas, a partir de diferentes formas confrontando e coordenando diferentes
de regulamentação das sociedades e do perspectivas a partir da análise de grupos
espaço geográfico. sociais ou sociedades; que considere
Nesse caso, pretende-se que o estudante fatores históricos e geográficos e reveja
identifique as instituições sociais e valores e idéias, priorizando princípios
políticas brasileiras, compreendendo seu éticos, julgando conflitos e pensando em
processo de constituição e analisando as soluções.
diferentes formas de regulamentação das As situações-problema possibilitam
sociedades e do espaço geográfico. Espera- avaliar a capacidade de análise e
se, por exemplo, que o estudante conheça entendimento de linguagens, criando
e se posicione diante da legislação que condições para se verificar, por exemplo,
regulamenta a representatividade política se o estudante da EJA sabe identificar
do povo brasileiro, inserindo-a em opiniões de diferentes autores nos textos
perspectivas históricas. que lê e organizar acontecimentos
Considerando a especificidade da área de históricos em uma linha do tempo.
Ciências Humanas, que engloba Nesse sentido, portanto, essa proposta
múltiplos conhecimentos, e de avaliação parte da idéia de que o
considerando as diversas competências estudante é um sujeito ativo, pensante,
que são requeridas do estudante da EJA que sempre está colocando em jogo
para ser capaz de analisar as aquilo que sabe, estabelecendo relações,
organizações sociais e as relações dos chegando a conclusões ou tomando
seres humanos com a natureza, elegeu- decisões.
se como estratégia pedagógica de A concepção de aprendizagem proposta
avaliação o uso de situações-problema como referência para essa forma de
(Macedo, 2002). Desse modo, por meio avaliação inclui, assim, procedimentos
de situações-problema, os saberes do importantes ligados às Ciências
estudante são avaliados tendo-se em Humanas, verificando se os alunos
vista sua capacidade para analisar dominam conteúdos vinculados à
problemáticas contemporâneas, as dimensão do saber fazer (saber pesquisar,
quais, para serem compreendidas, questionar, analisar, confrontar...),
requerem domínios históricos e relacionados à sua competência para
geográficos que envolvem a realidade saber aprender com autonomia.
brasileira e a conjuntura mundial.
Construir questões de avaliação na forma
de situações-problema implica que o
estudante se defronte com a realidade
social, histórica e geográfica na sua
complexidade e que mobilize recursos,

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

Ciências Humanas e suas


Tecnologias - Ensino Médio
Circe Maria Fernandes Bittencourt

A área de Ciências Humanas para o a área tem como pressuposto superar a


Ensino Médio do Encceja abrange os concepção tradicional das disciplinas
conhecimentos de Geografia, História, denominadas “humanidades” e do papel
Antropologia, Política, Economia, que desempenharam no passado
Filosofia, Direito e Sociologia que se educacional, com o objetivo de fornecer
articulam, visando fornecer aos jovens e a base de uma cultura geral,
adultos uma compreensão maior da enciclopédica e destinada a
sociedade contemporânea e o “lugar” determinados setores “iluministas” da
que ocupam no processo de sua sociedade brasileira, criadora de valores
constituição e nos projetos de “elitistas”, justificadores das
transformações. desigualdades sociais e de direitos.
A área, constituída pelo conjunto de Uma concepção atual de formação
conhecimentos oriundos das diferentes humanística fundamenta-se em
ciências humanas, pressupõe a princípios articulados em torno de três
constituição de saberes dos diferentes eixos básicos.
campos e das pesquisas sociais que, O primeiro deles é o de considerar a
articulados, possibilitam uma visão formação humanística como significativa
humanística no processo de apreensão para a compreensão dos problemas
dos problemas vividos e enfrentados sociais e para seu enfrentamento por
pela sociedade. A concepção parte de todos os setores sociais. Nessa
humanística permeia a integração dos perspectiva, visa identificar os problemas
diferentes campos disciplinares das mais contundentes das sociedades
ciências sociais e ainda busca estabelecer contemporâneas, notadamente aqueles
a relação entre o conhecimento da relacionados à permanência de conflitos
sociedade e o das ciências da natureza. geradores de violências de diferentes
O princípio humanista que fundamenta níveis e em diferentes locais, dentro das

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

casas, nas favelas, nos grandes centros para a constituição de uma formação
urbanos, nas áreas rurais ou em campos humanística. É, portanto, uma área que
de batalha. Permeia, assim, a concepção pensa o conhecimento acumulado das
de humanismo da área, a necessidade de ciências sociais articulado ao
apreender o papel do indivíduo em uma conhecimento pragmático adquirido
sociedade de consumo assentada em pelos diferentes indivíduos a partir de
valores de competitividade que práticas cotidianas, dos conflitos
exacerbam o individualismo e pessoais e coletivos, das relações de
desenvolvem desejos incontroláveis em poder em seus diferentes níveis, desde a
torno de objetos-mercadoria. Procura-se família, passando pelo poder
identificar ações possíveis e formas de institucional do Estado, ao poder
convivência que possam alterar a econômico local e internacional.
submissão a valores que desumanizam as Pretende uma formação humanística
pessoas. Considerando que a maior parte moderna, que abrange reflexões e
das pessoas vive em função de aquisição estudos sobre as atuais condições
de bens, de satisfações pessoais humanas, mas que se fundamenta nas
imediatas, imersas em um presenteísmo, singularidades e no respeito pelas
torna-se fundamental a reflexão sobre o diferenças étnicas, religiosas, sexuais
significado do consumismo na vida das diversas sociedades.
pessoal, nas relações afetivas, assim Esta reflexão sobre o presente das
como nas lutas diárias pela sobrevivência. condições de vida das diversas
O sociólogo Boaventura dos Santos sociedades contemporâneas não exclui a
apontou algumas das características da compreensão histórica desse processo. A
sociedade gestada por tais valores e perspectiva histórica permite uma visão
acentuou a necessidade de não apenas abrangente ao estabelecer as
identificarmos as características do modo relações entre passado-presente na busca
de vida de uma cultura consumista: de explicações do atual estágio da
humanidade, como permite também,
A cultura consumista (articulada ao identificar as semelhanças e diferenças
individualismo possessivo) induz o desvio que têm marcado a trajetória dos homens
das energias sociais da interação com no planeta Terra.
pessoas humanas para a interação com Nesta perspectiva, um segundo eixo
objetos porque são mais facilmente norteia a concepção de humanismo da
apropriáveis que as pessoas humanas. área: a necessidade de se rever as
(Santos, 1995, p. 321). relações entre homem e natureza. Isso
significa aproximar as ciências humanas
A identificação e uma reflexão sobre as das ciências da natureza.
atuais formas de convívio humano A ciência moderna fundamentada no
tornam-se, assim, o ponto inicial e conhecimento dos fenômenos da natureza
fundamental para a organização da área e no princípio de subordinação dessa
de ciências humanas ao pretender que natureza pelo homem torna um outro
ela sirva como um dos instrumentos aspecto importante e significativo para o

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

repensar sobre uma nova concepção homem do restante dos seres vivos e
humanística. As relações dos homens com dos demais elementos naturais e que o
a natureza, ao longo da história, são transforma em centro de um processo
incorporadas como objeto de análise em de dominação. A natureza torna-se
uma perspectiva que pretende incorporar objeto e existe separada da humanidade
uma educação ambiental comprometida com a função apenas de servir aos
com o futuro das gerações e que supere interesses dos homens. A concepção
uma visão apenas utilitária e baseada em proposta de humanismo conduz à
interesses econômicos. compreensão de que o homem é parte
A natureza, concebida como fonte de da natureza. Essa dimensão possibilita e
recursos que necessita ser explorada torna necessário o comprometimento
cada vez mais para fomentar um mais abrangente de vários setores
crescimento econômico a qualquer sociais e órgãos institucionais, desde as
custo, é revista no contexto dos estudos políticas governamentais, passando
das diferentes sociedades. Também se pelos setores educacionais e culturais,
repensa o entendimento de que ao setor privado.
poluição e degradação ambientais são As ciências humanas, nesse sentido, se
inevitáveis por serem subprodutos de integram às ciências da natureza para
um significativo e vertiginoso que o homem se torne o objeto do
progresso. A constatação da degradação conhecimento integrado à natureza.
ambiental tem gerado preocupações O terceiro eixo, que norteia a reflexão
para setores econômicos e tem sido sobre o papel formativo das ciências
responsável por estudos humanas, refere-se ao significado da
preservacionistas que incluem novos tecnologia na vida social. É
projetos em relação à exploração dos fundamental, para uma apreensão de
recursos naturais. Mas a relação humanismo em seu sentido
homem-natureza apreendida em uma contemporâneo, compreender o mundo
abordagem humanística pretende tecnológico vivido pelas diversas
ampliar esta perspectiva limitada ao sociedades. O significado do papel da
plano econômico e situar com maior tecnologia no comportamento e no
precisão as decisões políticas, assim estabelecimento das atuais relações
como as ações individuais e da sociais é, sem dúvida, um dos aspectos
sociedade civil. centrais porque tem afetado a todos os
O compromisso do presente relaciona-se grupos sociais, mesmo que em
ao futuro das novas gerações e da diferentes graus e níveis.
própria sobrevivência do homem no O desenvolvimento tecnológico
planeta, situação que requer a promovido pelas ciências modernas
constituição de um conhecimento trouxe mudanças consideráveis nas mais
profundo sobre tais relações e envolve a diversas áreas de convívio social,
reformulação de concepções sobre a notadamente por intermédio de formas
natureza. A concepção de natureza tem revolucionárias nos meios de
sido, sobretudo a partir do século XVI, comunicação. O aparato tecnológico tem
mediada por valores que separam o sido incorporado de maneira intensa, tem

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

alterado hábitos e costumes e tem pelos mecanismos de desigualdades de


modificado as relações sociais, sobretudo oportunidade de qualificação para o
as relações de trabalho. A sociedade de trabalho. A redefinição do trabalhador
consumo se intensifica pelas necessidades emerge da vinculação entre tecnologia e
que se tornam imprescindíveis, criando-se produção, podendo explicar a crise
uma rede de produtos introduzidos no provocada pelo desemprego. O
cotidiano das pessoas, desde a casa aos trabalhador e sua produção podem ainda
lugares públicos e privados, ao trabalho, ser percebidos pela intrínseca relação
às escolas, aos espaços de lazer. A entre o homem e a máquina, temática que
tecnologia pode, assim, criar condições de muitos filmes têm ultimamente abordado,
dependência e facilmente ser e que conduz a novas formas de pensar a
transformada de instrumento para existência humana em toda a sua
melhoria de qualidade de vida em mito da complexidade. Retoma-se, dessa forma,
vida moderna e, portanto, portadora de em esferas diversas, tanto no campo
um poder que ultrapassa a dimensão de científico, como no artístico, o debate
mercadoria e de recurso econômico. significativo sobre a “condição humana”.
Esta dimensão da tecnologia necessita de O aparato tecnológico em suas diversas
reflexões visando a estabelecer seu “lugar” formas tem sido analisado com
na sociedade. Um número significativo de intensidade, sobretudo, entre pensadores
estudos sobre os problemas fundamentais que combatem a violência do século XX.
das sociedades tem identificado as Arendt (2001), em seus vários estudos
dificuldades em se perceber as diferenças sobre as experiências políticas
entre meio e fim criadas pelos contemporâneas, alerta com veemência
fundamentos do conhecimento técnico- para os vínculos entre a violência e a
científico que localizaram a tecnologia revolução tecnológica do século XX,
como base exclusiva para o manifestados nas guerras, na “bomba
desenvolvimento. Os problemas atômica”, nas armas químicas, enfim na
emergentes de uma sociedade tecnológica moderna técnica armamentista e suas
tornam-se evidentes e carecem de soluções trágicas conseqüências.
ao ampliar o fosso entre países pobres É exemplar como a autora identifica as
(subdesenvolvidos ou emergentes ou ainda contradições entre tecnologia e poder:
em vias de desenvolvimento), compradores
das tecnologias, e os países ricos, “donos
Há muitos outros exemplos para demonstrar a curiosa
das tecnologias”.
contradição inerente à impotência do poder. Por
As desigualdades entre os países e, causa da enorme eficácia do trabalho de equipe nas
internamente, entre a população e os ciências, o que talvez seja a mais evidente
diferentes grupos sociais, especialmente contribuição norte-americana para a ciência moderna,
em países como o nosso, merecem ser podemos controlar os processos mais complicados
enfrentadas, e o papel da tecnologia é um com uma precisão que faz com que viagens à Lua
ponto crucial que precisa ser debatido e sejam menos perigosas que simples excursões de fim

estar inserido no processo educativo, de semana.


(Arendt, 2001, p. 62)
considerando ainda que o público da área
do Encceja é, sem dúvida, o mais atingido

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

Assim, a área de ciências humanas, ao O novo herói da vida é o homem


centrar-se em um objetivo aparentemente comum imerso no cotidiano. É que no
genérico sobre a formação humanística, pequeno mundo de todos os dias estão
considera que sua abrangência pode ser também o tempo e o lugar da eficácia
traduzida por compreensões que das vontades individuais, daquilo que
possibilitem as constituições de faz a força da sociedade civil, dos
identidades maiores - de todo ser humano movimentos sociais.
que carrega um legado do passado e seus
compromissos com o futuro. Possibilita Nesse âmbito é que se propõe a questão
ainda o entendimento para a constituição do conhecimento do senso comum na
de identidade individual, no vivido das vida cotidiana.
pessoas em espaços públicos e privados, (Martins, 2000, p. 57)
com seus grupos de convivência, em sua
vida cotidiana.
A citação do sociólogo José de Souza
FUNDAMENTOS TEÓRICOS Martins serve como base para a
Considerando os desafios da fundamentação teórico-metodológica da
sistematização de conhecimentos para área do ensino e da aprendizagem das
jovens e adultos, baseados nos ciências humanas. O conhecimento desse
pressupostos anteriormente elencados, “herói”, expresso como senso comum, se
torna-se necessária uma fundamentação integra ao conhecimento acumulado das
teórica que possibilite a articulação em diferentes disciplinas que compõem a
dois níveis de diferentes saberes. área, articulando-se por intermédio de
É necessário partir do conhecimento do um diálogo capaz de reconhecer não só
vivido por este público específico tanto as diferenças epistemológicas entre tais
para situar as problemáticas enfrentadas formas de conhecimento, mas também a
na vida em sociedade, no mundo do impossibilidade de serem entendidas
trabalho e das relações de convívio, como excludentes.
como para efetivar aprendizagens O senso comum tem sido considerado
possíveis ao se articular com o como uma forma de conhecimento
conhecimento acumulado e impregnado de preconceitos,
sistematizado por métodos científicos. conservador, e, para muitos
Um outro nível de articulação de saberes especialistas, é um conhecimento falso
ocorre pela interdisciplinaridade, que precisa ser vencido pelo
integrando os vários campos das conhecimento científico racional e
ciências humanas. objetivo. Recentes debates
Temos, portanto, como pressuposto epistemológicos, no entanto, têm
inicial, a necessidade de identificar, do demonstrado que a oposição entre
ponto de vista epistemológico, o ciência/senso comum deve ser abolida,
conhecimento desse segmento social ao porque, dentre outras razões, mesmo a
qual se destina o sistema avaliativo ciência não está isenta de preconceitos.
proposto. As teorias racistas, de ‘raça superior’,
embasadas em princípios de

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

racionalidade científica, são exemplares conduz, assim, a uma relação diferenciada


da forma como o conhecimento com o processo de aprendizagem. A
científico não apenas está impregnado constituição de “conceitos científicos” se
de preconceitos como pode servir articula aos “conceitos espontâneos”, e o
igualmente para reforçá-los, domínio de leituras registradas em
transformando-os em ideologias de diferentes suportes não pode ter um
controle social e de poder político. tratamento mecânico, mas requer formas
Concebe-se como necessário o de diálogos para que informações e
reencontro da ciência com o senso técnicas possam ser sistematizadas e
comum para que se possa compreender sirvam para o desenvolvimento de novas
mais sobre o mundo e seus problemas capacidades de compreender e de se situar
étnicos, sexuais, religiosos, nas no mundo.
diferentes formas de relações desiguais. Os novos estudos das Ciências Sociais
Dessa forma, um dos princípios teóricos têm, por sua vez, se referenciado em
da área é o reconhecimento da muitas dessas concepções
importância dos saberes que os setores epistemológicas, visando a cumprir um
sociais, aos quais se destina o projeto papel que solidifique, de forma mais
Encceja, têm adquirido pela experiência abrangente, compreensões da vida em
de vida, pelas suas formas de “leitura do sociedade. Tal perspectiva tem
mundo”. Esse princípio tem conduzido a um movimento que busca
implicitamente uma concepção sobre o articular os diferentes campos de
ato de ensinar e o ato de aprender, como conhecimento da área.
tão bem analisa Paulo Freire: Além das formulações epistemológicas
da área das ciências humanas, tem
Na verdade, para que a afirmação ‘quem havido um intenso movimento nas
sabe, ensina a quem não sabe’ se recupere pesquisas sociais visando articular os
de seu caráter autoritário, é preciso que diferentes campos de conhecimento.
quem sabe saiba sobretudo que ninguém Nos PCN do Ensino Médio o percurso
sabe tudo e que ninguém tudo ignora. O das pesquisas das Ciências Humanas é
educador, como quem sabe, precisa apresentado tendo em vista situar as
reconhecer, primeiro, nos educandos em atuais tendências da área:
processo de saber mais, os sujeitos, com
ele, deste processo e não pacientes
A crise de confiança gerada pelo desastre da
acomodados; segundo, reconhecer que o
Primeira Guerra Mundial e pelas crises
conhecimento não é um dado aí, algo
econômicas que a ela se seguiram deu
imobilizado, concluído, terminado, a ser
origem, nos anos 30, a um esforço de
transferido por quem o adquiriu a quem
revisão dos pressupostos positivistas, como
ainda não o possui.
o da fragmentação dos estudos. Deu-se,
(Freire, 1985, p. 32)
então, importante experiência
interdisciplinar, unindo-se historiadores,
O reconhecimento da necessidade da economistas, geógrafos e sociólogos, no
aproximação do conhecimento do senso esforço de tentar entender as razões da crise
comum com o conhecimento científico (Brasil, 1999, p. 17)

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

A alternativa interdisciplinar no campo 5. Compreender e valorizar os


científico embasa o atual projeto da fundamentos da cidadania e da
área de ensino, tendo como pressuposto democracia, favorecendo uma atuação
que, ao se manter o rigor metodológico consciente do indivíduo na sociedade.
das disciplinas dentro das concepções 6. Perceber-se integrante e agente
epistemológicas assinaladas transformador do espaço geográfico,
anteriormente, pode-se enriquecer, de identificando seus elementos e
maneira mais eficaz, o conhecimento interações.
sobre a sociedade. Abordagens diversas
7. Entender o impacto das técnicas e
sobre temáticas comuns favorecem, ao se
tecnologias associadas aos processos de
utilizarem de ferramentas próprias do
produção, o desenvolvimento do
seu campo específico, o domínio mais
conhecimento e a vida social.
aprofundado sobre a sociedade em seus
múltiplos aspectos, do cotidiano às
8. Entender a importância das
sociedades nacionais, dos problemas tecnologias contemporâneas de
mais próximos aos mais distantes, da comunicação e informação e seu
vida pública e privada, das diferentes
impacto na organização do trabalho e
temporalidades, das continuidades e das da vida pessoal e social.
rupturas, das revoluções e dos ritmos 9. Confrontar proposições a partir de
lentos das “longas durações”. situações históricas diferenciadas no
tempo e no espaço e indagar sobre
SOBRE AS COMPETÊNCIAS DE ÁREA
processos de transformações políticas,
Considerando os aspectos já econômicas e sociais.
mencionados, propomos que o Encceja-
As propostas de competências têm,
Ensino Médio tenha como referência de
como princípio, evidentemente, atender
avaliação o domínio dos jovens e adultos
aos objetivos e aos pressupostos teórico-
nas seguintes competências de área:
metodológicos assinalados para a área.
1. Compreender os elementos culturais As propostas consideram ainda o nível
que constituem as identidades. de domínio do grupo ao qual se destina o
2. Compreender a gênese e a processo avaliativo, no caso Ensino
transformação das diferentes Médio, e fazem parte de um projeto mais
organizações territoriais e os múltiplos amplo sobre a educação de jovens e
fatores que neles intervêm, como adultos. Nesta perspectiva não existe
produto das relações de poder. uma preocupação de esgotar conteúdos
3. Compreender o desenvolvimento da organizados pelo conhecimento escolar
sociedade como processo de ocupação tradicional, mas entende-se que
de espaços físicos e as relações da vida conteúdos podem ser selecionados e
humana com a paisagem. articulados por intermédio de temas. Os
temas não visam explorar de maneira
4. Compreender a produção e o papel
exaustiva uma série de informações a
histórico das instituições sociais,
eles relacionadas, mas conduzir a formas
políticas e econômicas, associando-as
de reflexões desde o momento inicial,
às práticas dos diferentes grupos e
por intermédio de situações-problema
atores sociais.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

que mobilizem a atenção e o As relações entre o desenvolvimento


envolvimento com as formas de solução das tecnologias e o impacto na
das problemáticas colocadas. O propósito sociedade contemporânea são outras
é de que se possa estabelecer um diálogo temáticas que exemplificam a
com o leitor, por intermédio de preocupação com a relação do mais
situações–problema vividas no cotidiano próximo ao mais distante no tempo e no
e da ampliação do vivido individual para espaço. O problema da tecnologia e o
o da sociedade do presente e de outros impacto na vida das pessoas, por
momentos e lugares. exemplo, pode ser situado
Os temas constituem uma nova forma de historicamente, fornecendo condições
se entender o significado de conteúdo de se refletir sobre o significado das
escolar. Assim, os conteúdos escolares revoluções das técnicas e das ciências
devem ser compreendidos não como um na vida contemporânea. Pode-se ainda
produto a ser transmitido ou incorporado privilegiar o papel da tecnologia não
mecanicamente, mas como um processo, apenas nos meios de comunicação mas
por intermédio do qual se articulam também nas artes e, sobretudo, deve-se
conceitos e informações provenientes de destacar o impacto nas transformações
várias áreas das ciências humanas. do trabalho e na vida do trabalhador.
Considerando o nível do Ensino Médio, Tendo em vista ainda as experiências de
os critérios de seleção dos temas têm vida e os problemas enfrentados, a área
como princípio abordagens diversas de Ciências Humanas deve favorecer o
sobre problemas que afetam a vida desenvolvimento da formação política
cotidiana, situando-as em dimensões do cidadão. Uma formação política
mais amplas. Em outras palavras, entendida não no sentido partidário, mas
oferecem análises em escalas que de favorecimento na luta pela cidadania,
ultrapassam o local e o nacional ao no favorecimento de uma participação
mesmo tempo em que se articulam a efetiva no processo de transformação da
problemáticas internacionais e em escala sociedade. Assim, o tema referente às
mundial. Assim, por exemplo, as lutas pela cidadania e como este
temáticas sobre o ambiente e problemas conceito se foi transformando ao longo
ecológicos se articulam em relação às da história do mundo ocidental é
diferentes escalas que esta questão significativo para a ampliação de uma
abrange, procurando identificar as visão sobre o papel da política na
interferências na vida cotidiana e local e história da humanidade. Pode-se, nesta
na do planeta. Políticas, legislação, perspectiva, incluir o significado das
preservação, desenvolvimento relações entre Direito e Estado, do papel
econômico, e outros aspectos de caráter das leis e das instituições modernas e
mais geral, dentre outros tópicos, suas formas de representatividade. Nesse
buscam estabelecer as relações com o sentido, os temas apresentados devem
vivido das pessoas, como o problema do contribuir para a compreensão do papel
lixo, das águas e dos mananciais, da político do cidadão, como indivíduo e
poluição das áreas rurais e urbanas. como pertencente a uma coletividade, e,

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III. A área de ciências humanas no ENCCEJA

ainda, como se sedimentaram, na outros tempos e outros espaços. O


sociedade contemporânea, as lutas por tempo presente, ao se tornar objeto de
direitos sociais. reflexão, contribui para que se possa
A reflexão sobre a história de vida e a ultrapassar uma visão imediatista dos
história das sociedades, entre a diversos acontecimentos, e para que
produção do espaço do “lugar” e a jovens e adultos possam mergulhar na
formação de fronteiras, constituem busca de explicações que ultrapassem
outras temáticas significativas, os sentimentos de ceticismo, de
considerando as experiências de vida intolerância, de impotência ou de
desse público de estudantes. Migrações, fatalismo e possam vislumbrar
memória, tempos e espaços do “aqui” e possibilidades de mudanças.
do “agora” podem ser confrontados com

BIBLIOGRAFIA
ARENDT, H. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 114p. Tradução
de André Duarte.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros
Curriculares Nacionais para o ensino médio. Brasília, DF: MEC, 1999. 4 v.
FREIRE, P. A importância do ato de ler:: em três artigos que se completam. São Paulo:
Autores Associados, 1985. 96 p. (Polêmicas do nosso tempo, v. 4).
MARTINS, J. de S. A sociabilidade do homem simples:: cotidiano e História na
modernidade anômala. São Paulo: Hucitec, 2000. 210 p. (Ciências socias, v. 43).
SANTOS, B. de S. Pela mão de Alice:: o social e o político na pós-modernidade. São
Paulo: Cortez, 1995. 348 p.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

H1 - Identificar diferentes
F1 - Compreender
formas de representação de H2 – Reconhecer
processos sociais
fatos e fenômenos histórico- transformações temporais e
utilizando conhecimentos
geográficos expressos em espaciais na realidade.
históricos e geográficos.
diferentes linguagens.

F2 - Compreender o papel H6 – Identificar fenômenos e H7 – Analisar geograficamente


das sociedades no fatos histórico-geográficos e características e dinâmicas dos
processo de produção do suas dimensões espaciais e fluxos populacionais,
espaço, do território, da temporais, utilizando mapas e relacionando-os com a
paisagem e do lugar. gráficos. constituição do espaço.

F3 - Compreender a H12 – Reconhecer a


H11 – Identificar características
importância do patrimônio diversidade dos patrimônios
de diferentes patrimônios
cultural e respeitar a étnico-culturais e artísticos em
étnico-culturais e artísticos.
diversidade étnica. diferentes sociedades.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

HISTÓRIA E GEOGRAFIA

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H3 - Interpretar realidades H5 – Considerar o respeito aos


H4 - Comparar diferentes
históricas e geográficas valores humanos e à
explicações para fatos e
estabelecendo relações entre diversidade sócio-cultural, nas
processos históricos e/ou
diferentes fatos e processos análises de fatos e processos
geográficos.
sociais. históricos e geográficos.

H8 – Interpretar situações
H10 – Comparar propostas de
histórico-geográficas da H9 – Comparar os processos de
soluções para problemas de
sociedade brasileira referentes à formação socioeconômicos e
natureza socioambiental,
constituição do espaço, do geográficos da sociedade
respeitando valores humanos e
território, da paisagem e/ou do brasileira.
a diversidade sociocultural.
lugar.

H15 – Identificar propostas que


H13 - Interpretar os
reconheçam a importância do
significados de diferentes H14 - Comparar as diferentes
patrimônio étnico-cultural e
manifestações populares como representações étnico-culturais
artístico para a preservação das
representação do patrimônio e artísticas.
memórias e das identidades
regional e cultural.
nacionais.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

F4 - Compreender e
H16 – Identificar em diferentes
valorizar os fundamentos da H17 – Caracterizar as lutas
documentos históricos os
cidadania e da democracia, sociais, em prol da cidadania e
fundamentos da cidadania e da
de forma a favorecer uma da democracia, em diversos
democracia presentes na vida
atuação consciente do momentos históricos.
social.
indivíduo na sociedade.

H22 – Investigar criticamente o


H21 – Identificar em diferentes
F5 - Compreender o significado da construção e
documentos históricos e
processo histórico de divulgação dos marcos
geográficos vários movimentos
ocupação do território e a históricos relacionados à
sociais brasileiros e seu papel
formação da sociedade história da formação da
na transformação da realidade.
brasileira. sociedade brasileira.

H27 – Caracterizar formas


F6 – Interpretar a H26 – Identificar espaciais criadas pelas
formação e organização representações do espaço sociedades, no processo de
do espaço geográfico geográfico em textos formação e organização do
brasileiro, considerando científicos, imagens, fotos, espaço geográfico, que
diferentes escalas. gráficos, etc. contemplem a dinâmica entre a
cidade e o campo.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H18 – Relacionar os H19 – Discutir situações da H20 – Selecionar criticamente


fundamentos da cidadania e da vida cotidiana relacionadas a propostas de inclusão social,
democracia, do presente e do preconceitos étnicos, culturais, demonstrando respeito aos
passado, aos valores éticos e religiosos e de qualquer outra direitos humanos e à
morais na vida cotidiana. natureza. diversidade sociocultural.

H25 – Avaliar propostas para


H23 – Interpretar o processo de
H24 – Analisar relações entre superação dos desafios sociais,
ocupação e formação da
as sociedades e a natureza na políticos e econômicos
sociedade brasileira, a partir da
construção do espaço histórico enfrentados pela sociedade
análise de fatos e processos
e geográfico. brasileira na construção de sua
históricos.
identidade nacional.

H30 – A partir de
interpretações cartográficas do
H28 – Analisar interações entre H29 – Discutir diferentes
espaço geográfico brasileiro,
sociedade e natureza na formas de uso e apropriação
estabelecer propostas de
organização do espaço histórico dos espaços, envolvendo a
intervenção solidária para
e geográfico, envolvendo a cidade e o campo, e suas
consolidação dos valores
cidade e o campo. transformações no tempo.
humanos e de equilíbrio
ambiental.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

H32 – Identificar a presença


H31 – Associar as dos recursos naturais na
F7 - Perceber-se
características do ambiente organização do espaço
integrante, dependente e
(local ou regional) à vida geográfico, relacionando
agente transformador do
pessoal e social. transformações naturais e
ambiente.
intervenção humana.

H36 - Identificar aspectos da


F8 - Compreender a H37 – Caracterizar formas de
realidade econômico-social de
organização política e circulação de informação,
um país ou região, a partir de
econômica das sociedades capitais, mercadorias e serviços
indicadores socioeconômicos
contemporâneas. no tempo e no espaço.
graficamente representados.

F9 - Compreender os
processos de formação das H41 - Identificar os processos
H42 - Estabelecer relações
instituições sociais e políticas de formação das instituições
entre os processos de formação
a partir de diferentes formas sociais e políticas que
das instituições sociais e
de regulamentação das regulamentam a sociedade e o
políticas.
sociedades e do espaço espaço geográfico brasileiro.
geográfico.

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HistÛria e Geografia 39-71.pmd 64 11/7/2003, 09:15


IV. As matrizes que estruturam as avaliações

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H35 – Selecionar
H34 - Analisar criticamente as
procedimentos e uso de
H33 - Relacionar a diversidade implicações sociais e
diferentes tecnologias em
morfoclimática do território ambientais do uso das
contextos histórico-
brasileiro com a distribuição tecnologias em diferentes
geográficos específicos, tendo
dos recursos naturais. contextos histórico-
em vista a conservação do
geográficos.
ambiente.

H40 – Comparar organizações


H38 - Comparar os diferentes H39 – Discutir formas de políticas, econômicas e sociais
modos de vida das populações, propagação de hábitos de no mundo contemporâneo, na
utilizando dados sobre consumo que induzam a identificação de propostas que
produção, circulação e sistemas produtivos predatórios propiciem eqüidade na
consumo. do ambiente e da sociedade. qualidade de vida de sua
população.

H43 - Compreender o H44 – Discutir situações em H45 – Comparar propostas e


significado histórico das que os direitos dos cidadãos ações das instituições sociais e
instituições sociais considerando foram conquistados, mas não políticas, no enfrentamento de
as relações de poder, a partir de usufruídos por todos os problemas de ordem
situação dada. segmentos sociais. econômico-social.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

H2 - Analisar a produção da
M1 – Compreender os H1 - Interpretar historicamente
memória e do espaço
elementos culturais que fontes documentais de
geográfico pelas sociedades
constituem as identidades. naturezas diversas.
humanas.

M2 - Compreender a gênese
e a transformação das H6 - Interpretar diferentes
H7 - Identificar os significados
diferentes organizações representações do espaço
históricos das relações de poder
territoriais e os múltiplos geográfico e dos diferentes
entre as nações.
fatores que neles intervêm, aspectos da sociedade.
como produto das relações
de poder.

M3 - Compreender o H12 - Analisar o papel dos


desenvolvimento da H11 - Identificar diferentes recursos naturais na produção
sociedade como processo de representações cartográficas do espaço geográfico,
ocupação de espaços físicos de um mesmo espaço relacionando transformações
e as relações da vida geográfico. naturais e intervenção
humana com a paisagem. humana.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H5 - Valorizar a diversidade do
H4 - Comparar pontos de vista
H3 - Associar as manifestações patrimônio cultural e artístico,
expressos em diferentes
culturais do presente aos seus identificando suas
fontes, sobre um determinado
processos históricos. manifestações e representações
aspecto da cultura.
em diferentes sociedades.

H10 - Reconhecer a dinâmica


da organização dos
H8 - Analisar os processos de H9 - Comparar o significado movimentos sociais e a
transformação histórica e seus histórico da constituição dos importância da participação da
determinantes principais. diferentes espaços. coletividade na transformação
da realidade histórico-
geográfica.

H13 - Correlacionar a H15 – Confrontar formas de


H14 - Correlacionar textos
dinâmica dos fluxos interações culturais, sociais,
analíticos e interpretativos
populacionais e a organização econômicas, ambientais, em
sobre diferentes processos
do espaço geográfico. diferentes circunstâncias
histórico-geográficos.
históricas.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática, artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

M4 - Compreender a
produção e o papel
H16 - Identificar registros em H17 - Analisar o papel do
histórico das instituições
diferentes práticas dos direito (civil e internacional)
sociais, políticas e
diferentes grupos sociais no na estruturação e organização
econômicas, associando-as
tempo e no espaço. das sociedades.
às práticas dos diferentes
grupos e atores sociais.

M5 - Compreender e valorizar
H21 – Identificar o papel dos H22 - Analisar as conquistas
os fundamentos da cidadania e
diferentes meios de sociais e as transformações
da democracia, favorecendo
comunicação na construção da ocorridas nas legislações em
uma atuação consciente do
cidadania e da democracia. diferentes períodos históricos.
indivíduo na sociedade.

M6 - Perceber-se integrante H27 - Relacionar sociedade e


e agente transformador do H26 - Identificar em diferentes natureza, reconhecendo suas
espaço geográfico, fontes os elementos que interações na organização do
identificando seus compõem o espaço geográfico. espaço, em diferentes contextos
elementos e interações. histórico-geográficos.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H19 - Comparar diferentes


pontos de vista sobre situações H20 - Reconhecer alternativas
H18 - Analisar a ação das ou fatos de natureza histórico- de intervenção em conflitos
instituições no enfrentamento geográfica, identificando os sociais e crises institucionais
de problemas de ordem pressupostos de cada que respeitem os valores
econômico- social. interpretação e analisando a humanos e a diversidade
validade dos argumentos sociocultural.
utilizados.

H23 - Analisar o papel dos


H24 - Relacionar criticamente H25 – Identificar referenciais
valores éticos e morais na
formas de preservação da que possibilitem erradicar
estruturação política das
memória social. formas de exclusão social.
sociedades.

H28 - Relacionar as
H30 - Propor formas de
implicações socioambientais do H29 - Discutir ações sobre as
atuação para conservação do
uso das tecnologias em relações da sociedade com o
meio ambiente e
diferentes contextos histórico- ambiente.
desenvolvimento sustentável.
geográficos.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio

CI - Dominar a norma culta CII - Construir e aplicar


da Língua Portuguesa e fazer conceitos das várias áreas do
uso das linguagens conhecimento para a
matemática,artística e compreensão de fenômenos
científica. naturais, de processos
histórico-geográficos, da
produção tecnológica e das
manifestações artísticas.

M7 - Entender o impacto das H31 - Identificar e interpretar


H32 - Analisar as formas de
técnicas e tecnologias registros sobre as formas de
circulação da informação, da
associadas aos processos de trabalho em diferentes
riqueza e dos produtos em
produção, ao contextos histórico-
diferentes momentos da
desenvolvimento do geográficos, relacionando-os à
história.
conhecimento e à vida social. produção humana.

M8 - Entender a
H37 - Interpretar fatores que
importância das tecnologias H36 - Identificar e interpretar
permitam explicar o impacto
contemporâneas de formas de registro das novas
das novas tecnologias no
comunicação e informação tecnologias na organização do
processo de desterritorialização
e seu impacto na trabalho e da vida social e
da produção industrial e
organização do trabalho e pessoal.
agrícola.
da vida pessoal e social.

M9 - Confrontar proposições H41 – Identificar os


a partir de situações instrumentos para ordenar os H42 - Analisar as
históricas diferenciadas no eventos históricos, interferências ocorridas em
tempo e no espaço e indagar relacionando-os a fatores diferentes grupos sociais,
sobre processos de geográficos, sociais, considerando as permanências
transformações políticas, econômicos, políticos e ou transformações ocorridas.
econômicas e sociais. culturais.

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IV. As matrizes que estruturam as avaliações

CIII - Selecionar, organizar, CIV - Relacionar informações, CV - Recorrer aos


relacionar, interpretar dados e representadas em diferentes conhecimentos desenvolvidos
informações representados de formas, e conhecimentos para elaboração de propostas
diferentes formas, para tomar disponíveis em situações de intervenção solidária na
decisões e enfrentar concretas, para construir realidade, respeitando os
situações-problema. argumentação consistente. valores humanos e
considerando a diversidade
sociocultural.

H34 - Identificar vantagens e


H35 - Reconhecer as diferenças
desvantagens do conhecimento
H33 - Comparar diferentes e as transformações que
técnico e tecnológico
processos de produção e suas determinaram as várias formas
produzido pelas diversas
implicações sociais e espaciais. de uso e apropriação dos
sociedades em diferentes
espaços agrário e urbano.
circunstâncias históricas.

H40 - Relacionar alternativas


H38 - Analisar a para enfrentar situações
mundialização da economia e H39 - Comparar as novas decorrentes da introdução de
os processos de tecnologias e as modificações novas tecnologias no setor
interdependência acentuados nas relações da vida social e produtivo e na vida cotidiana,
pelo desenvolvimento de novas no mundo do trabalho. respeitando os valores
tecnologias. humanos e a diversidade
sociocultural.

H43 – Interpretar realidades


H44 - Confrontar as diferentes H45 - Posicionar-se
histórico-geográficas, a partir
escalas espaço/temporais a criticamente sobre os processos
de conhecimentos sobre
partir de realidades históricas e de transformações políticas,
economia, as práticas sociais e
geográficas. econômicas, culturais e sociais.
culturais.

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V. Orientação para o trabalho do professor

História e Geografia
Ensino Fundamental
Capítulos I ao IX

Neste bloco, são apresentadas sugestões de trabalho


para que o professor possa orientar-se no sentido de
favorecer aos seus alunos o desenvolvimento das
competências e habilidades que estruturam a avaliação
do ENCCEJA – História e Geografia – Ensino
Fundamental.
Estes textos complementam o material de orientação de
estudos dos estudantes e ambos podem ganhar seu real
significado se incorporados à experiência do professor e
à bibliografia didática já consagrada nesta área.

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COMPREENDER PROCESSOS SOCIAIS UTILIZANDO História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo I
CONHECIMENTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS.

Confrontos sociais
e território nacional
Dora Shellard Corrêa

O papel e o lugar das sociedades efetivamente ocupadas por colonizadores


indígenas no presente, passado e futuro europeus. Grande parte do território
do Brasil ainda é um tema de brasileiro encerrava terras não mapeadas,
especialistas. Pouco se estuda sobre as adjetivadas como desconhecidas e
populações indígenas nas escolas e o que dominadas por povos indígenas. As
se estuda acaba ficando restrito ao fronteiras políticas que demarcavam o
contato entre portugueses e índios território brasileiro incluíam território
no século XVI. indígena, sobre o qual Portugal e, depois,
A luta dos índios contra a invasão de suas o Estado brasileiro, não tinham domínio
terras pelos não-índios, iniciada em 1500 político, militar e intelectual.
com a chegada dos europeus, ainda está Essa situação ambígua subsiste hoje de
em processo. Essa luta é parte da história outra maneira. São reconhecidos,
da formação do território brasileiro. inclusive constitucionalmente
Todavia, a questão indígena tem sido (Constituição de 1988, Art. 231), os
esquecida por autores de livros didáticos direitos originários dos índios sobre
ao tratarem da constituição do território as terras que tradicionalmente ocupam,
nacional. Os livros, em geral, resumem o competindo à União demarcá-las,
processo de formação do território proteger e fazer respeitar todos os
brasileiro a uma série de tratados firmados seus bens. Entretanto, a morosidade
entre Portugal e Espanha e, após a na demarcação e o desleixo com a
Independência, entre o Brasil e os países questão indígena têm viabilizado a
vizinhos. Não discutem as representações contínua invasão das terras indígenas
de outras épocas, nas quais as fronteiras por fazendeiros e grileiros. Os índios,
brasileiras, durante séculos, foram apenas juntamente com várias entidades que os
teóricas. Ou seja, eram demarcadas nos apóiam, têm buscado divulgar essa
mapas. Porém, as terras não eram situação à sociedade brasileira.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

DESENVOLVENDO A Atendendo ao que propõe essa


COMPETÊNCIA habilidade, foram utilizadas diferentes
formas de representação de fenômenos
O capítulo Confrontos sociais e
histórico-geográficos: documentos e
território nacional discute o processo de
escritos de época, mapas, artigos de
formação do território brasileiro sobre
jornais, depoimentos, narrativa analítica.
terras de índios. Parte da questão
indígena como situação-problema. Reconhecer transformações temporais e
espaciais na realidade. Essa habilidade é
Abre o capítulo a declaração de 3.000
contemplada na discussão do processo de
chefes de 140 tribos indígenas,
expansão da colonização portuguesa e do
divulgada durante as comemorações dos
seu descompasso com o avanço das
500 anos do “descobrimento”, ocorrida
fronteiras definidas por acordos
em abril de 2000. Nesse documento, os
internacionais.
índios exigem que suas terras sejam
demarcadas até o final do ano e que, nas Interpretar realidades históricas e
escolas, seja ensinada a história do país, geográficas estabelecendo relações entre
levando em conta a existência milenar diferentes fatos e processos sociais. Essa
destas populações. Esse texto serve para habilidade é observada, fundamentalmente,
introduzir a questão indígena e, através da ligação das reivindicações
particularmente, o direito à posse de indígenas atuais com o processo de
suas terras tradicionais. Sugere-se, ainda, formação do território brasileiro.
a substituição da idéia de descobrimento Comparar diferentes explicações para
por conquista, a partir da carta de Pero fatos e processos históricos e/ou
Vaz de Caminha que descreve as terras, geográficos. Essa habilidade está sendo
os povos e povoações encontrados na considerada quando, através de diferentes
América pela esquadra de Cabral. Na documentos - declaração de chefes
seqüência, o aluno tem a oportunidade indígenas, carta de Pero Vaz de Caminha,
de estudar a expansão da colonização escrita em 1500, e diário de uma entrada
portuguesa e a fixação das fronteiras da no sertão de Guarapuava - discute-se a
Colônia englobando terras dos índios. idéia de descobrimento e de conquista.
O capítulo finaliza o tema retomando a
Considerar o respeito aos valores
situação das terras indígenas, hoje, com
humanos e a diversidade sociocultural
a exposição de um protesto pela
nas análises de fatos e processos
demarcação de suas terras.
históricos e geográficos. Essa habilidade
Cada uma das cinco habilidades foi, é conferida através da investigação do
particularmente, contemplada pelos processo de invasão das terras indígenas,
seguintes meios: da afirmação da importância da terra
Identificar diferentes formas de para a sobrevivência física e cultural do
representação de fatos e fenômenos índio e da apresentação de direitos
histórico-geográficos expressos em constitucionais dos índios.
diferentes linguagens.

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V. Orientação para o trabalho do professor

O capítulo está assim organizado a coletar e analisar informações contidas


partir de um roteiro lógico que persegue em diferentes linguagens (carta, relato
as cinco habilidades descritas. Primeiro, oral, mapa...). Os fatos apresentados têm
é apresentada ao aluno a situação- como propósito estimulá-lo a relacionar
problema: o território brasileiro e a acontecimentos no tempo, percebendo
reivindicação dos índios por suas terras. processos sociais e políticos que
Na seqüência, essa luta atual é modelaram as fronteiras nacionais, e a
apresentada como uma questão construir argumentos que incluem a
histórica envolvendo domínio de luta, a conquista e a resistência de
territórios e, portanto, como uma populações que, até hoje, têm a sua
questão que solicita deles reflexões sobrevivência ameaçada. Finalmente,
sobre transformações do território através de questões e do próprio texto,
brasileiro no tempo e no espaço
espaço. Na o aluno é orientado a levar em
perspectiva de diferentes épocas, o consideração a diversidade sócio-
aluno é instigado a analisar cultural existente no Brasil.
documentos históricos, escolhidos
especialmente para ter a experiência de

BIBLIOGRAFIA
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – CIMI. Outros 500: construindo uma nova
história. São Paulo: Salesiana, 2001.
CUNHA, M. C. da (Org.). História dos índios no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras: Fapesp, 1998. 611 p.
DONIZETE, L.; GRUPIONI, B. (Org.). Índios no Brasil. São Paulo: Global, 1993. 279 p.
PREZIA, B.; HOORNAERT, E. Brasil indígena: 500 anos de resistência.
São Paulo: FTD, 2000. 263 p.
RIBEIRO, D. Os índios e a civilização: o processo de integração dos índios no Brasil
moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. 495 p.
RIBEIRO, B. O índio na história do Brasil. 8. ed. São Paulo: Global, 1997. 125 p.
(História Popular, 12).
SILVA, A. L.; GUPIONI, L. D. A temática indígena na escola: novos subsídios para
professores de 1º e 2º graus. Brasília, DF: MEC, 1995. 575 p.
ZENUN, K. H.; ADISSI, V. M. A. Ser índio hoje. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1998. 152 p.
(História Temática Retrospectiva).

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78

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COMPREENDER O PAPEL DAS SOCIEDADES NO PROCESSO História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo II
DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO, DO TERRITÓRIO , DA PAISAGEM
E DO LUGAR .

Mudanças no espaço
Geográfico do Brasil
Gilberto Pamplona da Costa

A compreensão da maneira como o espaço A continuação dessa discussão se dá


se organiza é feita, também, através da com a migração interna no Brasil. O
observação de fotos, gráficos e tabelas. texto favorece a análise dos movimentos
A idéia é possibilitar ao aluno a migratórios da população, que só foram
compreensão de que o território possíveis em número elevado devido à
brasileiro mudou, rapidamente, nos expansão do sistema de transporte. Isso
últimos 50 anos. O transporte resultou em inúmeras mudanças no
rodoviário foi praticamente imposto espaço geográfico
geográfico.
com a industrialização. O Governo Como vimos na discussão sobre
Federal, principalmente, preparou o migração e transportes, o espaço
território com rodovias, comunicação e geográfico se altera devido à ampliação
energia, visando a incentivar a vinda de das atividades econômicas. Percebemos
novas indústrias, especialmente as do que para atender aos interesses do
setor automobilístico. Além da ênfase desenvolvimento capitalista no Brasil,
no transporte rodoviário, outros meios principalmente após os anos 1950, o
de transporte são discutidos de forma Estado atuou na preparação do território
mais reduzida, tais como as ferrovias e construindo uma infra-estrutura de
as hidrovias. transportes, energia e comunicação.
O objetivo central nessa discussão é Nota-se que a transformação do território
entender como a infra-estrutura não foi por igual. Muitas regiões tiveram
desenvolvida possibilitou a circulação de sua ocupação acentuada após os anos
pessoas e produtos pelo Brasil. Por isso, 1970. Isso também ocorreu na Amazônia
usamos como situação-problema a greve e deveu-se à expansão das atividades
dos caminhoneiros. agropecuárias, causando inúmeros
impactos sociais e ambientais à região.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

Em resumo, o capítulo apresenta: Ela está desdobrada nas seguintes


1. A importância dos transportes na habilidades:
organização do território brasileiro, que • Identificar fenômenos e fatos
é marcado pelas ações humanas ao histórico-geográficos e suas dimensões
longo da sua história. O texto trata mais espaciais e temporais, utilizando mapas
do transporte rodoviário e faz algumas e gráficos.
comparações com outros meios de • Analisar, geograficamente, as
transporte em outros países. características e dinâmicas dos fluxos
2. Os movimentos migratórios da populacionais, relacionando-as com a
população que aumentaram após a constituição do espaço.
construção do sistema de transportes no • Interpretar situações histórico-
Brasil, principalmente o rodoviário. As geográficas da sociedade brasileira
diferentes atividades econômicas que referentes à constituição do espaço, do
incentivaram o deslocamento de território, da paisagem e/ou do lugar.
milhares de pessoas.
• Comparar os processos de formação
3. Os danos que ocorreram ao meio socioeconômicos e geográficos da
ambiente devido ao crescimento das sociedade brasileira.
atividades econômicas, especialmente
aquelas vinculadas ao desenvolvimento • Comparar propostas de soluções para
da agropecuária na Amazônia. problemas de natureza
socioambiental, respeitando valores
O objetivo do capítulo é proporcionar ao
humanos e a diversidade
aluno, o entendimento da organização do
sociocultural..
espaço geográfico brasileiro por meio da
problematização sobre: Essas habilidades foram relacionadas
aos seguintes conteúdos:
• os transportes;
1. Os transportes no Brasil:
• a migração;
especialmente o rodoviário de cargas.
• os problemas socioambientais.
2. A ação do Estado na construção da
infra-estrutura do sistema de transporte.
DESENVOLVENDO
3. A migração interna no Brasil - causas
A COMPETÊNCIA e conseqüências.
A competência foco do capítulo é: 4. A expansão da fronteira agrícola
Compreender o papel da sociedade na Amazônia.
brasileira no processo de produção e
5. Os problemas ambientais e sociais
organização do Espaço Geográfico.
decorrentes da ocupação da Amazônia.
6. A formação de reservas extrativistas
como solução para os problemas
sociais e ambientais na Amazônia.

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V. Orientação para o trabalho do professor

Podemos destacar algumas sugestões • Investigar com parentes e amigos para


metológicas: saber por que as pessoas migraram da
• Leitura do texto do aluno. sua terra natal. O que atraiu a vinda de
milhares de pessoas para as grandes
• Identificar, no lugar onde mora, como
cidades? Por que milhares de pessoas
os transportes estão organizados. Qual
migraram para a Amazônia?
deles é prioritário? Como o poder
público atua para resolver os • Verificar se na comunidade há algum
problemas relativos ao deslocamento projeto de preservação ambiental e
de pessoas e produtos? como as pessoas participam dele.
• Observar os mapas para identificar a • Pesquisar como as cooperativas atuam
organização dos transportes no Brasil. na região.
Se possível, escolher um atlas para • Pesquisar como era a ocupação da
comparar o sistema de transporte do Amazônia antes da expansão da
Brasil com outros países. fronteira agrícola.
• Pesquisar em jornais e revistas notícias • Tentar atualizar os dados do capítulo,
relacionadas ao transporte de cargas e através do uso da internet.
entrevistar pessoas para confrontar com
as opiniões problematizadas no capítulo.
• Fazer mapas para identificar quais regiões
têm mais rodovias, hidrovias ou ferrovias.

BIBLIOGRAFIA
BECKER, B. Amazônia. 2. ed. São Paulo: Ática, 1991. 112 p. (Série Princípios, 192).
BIONDI, A. O Brasil privatizado: um balanço das privatizações. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 1999. 48 p.
CENTRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS. Migrações no Brasil: o peregrinar de um povo sem
terra. São Paulo: Paulinas, 1986. 82 p. (O povo quer viver, 17)
GIANSANTI, R. O desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Atual, 1998.
(Série Meio Ambiente).
PORTELA, F. Secas no Nordeste. São Paulo: Ática, 1987. 32 p. (Viagem pela Geografia).
______. A Amazônia. São Paulo: Ática, 1987. (Viagem pela Geografia).
ROSS, J. L. S. Os fundamentos da Geografia da natureza. In: ______ (Org.). Geografia
do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. 546 p. (Didática, 3).
VALIM, A. Migrações: da perda da terra à exclusão social. São Paulo: Atual, 1997. 56 p.
(Espaço & Debate).

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COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo III
E RESPEITAR A DIVERSIDADE ÉTNICA.

O valor
da memória
Denise Gonçalves de Freitas

O capítulo foi elaborado tendo por singularidade das manifestações de


objetivo o reconhecimento da um determinado grupo e comparação
importância do patrimônio cultural, da com outras manifestações, por vezes
preservação da memória e das identidades comuns ao nosso cotidiano.
nacionais, como uma maneira de • Importância da preservação – na
desenvolver o respeito à diversidade reconstrução do caminho de um
cultural, tão rica em nosso país. grupo, criação de sua identidade
Para atingirmos tal objetivo é necessário cultural, e como isso é alcançado com
proporcionar ao aluno competência para a retomada da memória.
desenvolver cinco principais habilidades:
• Identificação do que é patrimônio – DESENVOLVENDO A
através do trabalho com diferentes COMPETÊNCIA
elementos de nosso patrimônio, como A opção pelo desenvolvimento e
depoimentos, construções e costumes. compreensão da importância do
• Reconhecimento do patrimônio em patrimônio cultural passa, no capítulo,
diferentes sociedades - o patrimônio pela preocupação em utilizar situações
cultural de um determinado grupo (no didáticas com questionamentos que
caso, um grupo remanescente de estimulem o leitor a refletir sobre seu
quilombolas) e suas relações com conhecimento anterior e, através de
elementos culturais de outros grupos. novas informações, confrontar dados e
• Interpretação do significado das elaborar novo conhecimento.
manifestações populares – procura de Dessa forma, optamos pela criação de
possíveis explicações para as diferentes uma situação-problema mais ampla. No
manifestações citadas no capítulo. caso, o caminho a ser percorrido pelos
• Comparação entre as diferentes remanescentes de uma determinada área
manifestações – reconhecimento da de quilombo no Vale do Ribeira, para

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

adquirirem seu direito à posse da terra. – Quem o fez?


A partir dessa situação-problema mais – Para que finalidade?
ampla, foram sendo criados novos
– Como foi ou é usado?
questionamentos, ao mesmo tempo em
– O que a forma ou decoração indicam?
que foram sendo fornecidos aos leitores
dados e informações que lhes permitam O capítulo está dividido em alguns
construir a solução para o problema subtítulos que enfatizam determinado
levantado. tema, tendo, como objetivo maior,
responder à questão-problema principal:
Essa opção pelo questionamento e pelo
a posse da terra pelos remanescentes de
fornecimento de dados para sua resolução
quilombo do Vale do Ribeira.
procura atender a uma preocupação cada
vez maior no quadro da educação Destacamos os seguintes tópicos:
brasileira: desenvolver competências e 1. Terra de quilombolas - Utilizando
habilidades que, de algum modo, mapas, documentos e imagens, o texto
contribuam para os estudantes melhor trabalha com o aluno o significado da
analisarem, compreenderem, escravidão, o que são os quilombos e a
posicionarem-se e atuarem na sociedade. resistência negra. Pode ser feito um
Por isso, a escolha de situações-problema e aprofundamento do tema com a
questionamentos instigam soluções, por inclusão de imagens de Debret e
meio da mobilização de informações Rugendas (ver bibliografia) e
significativas. documentos que mostrem outras
É importante salientar que edificações, formas de resistência à escravidão (ver
objetos da cultura material, tecnologias e bibliografia – Documentos sobre a
saberes e manifestações populares servem escravidão).
como forma de investigação na coleta de 2. Os quilombos nos dias de hoje – O
informações a respeito do contexto texto apresenta a possibilidade de
histórico-temporal da sociedade que o legalização de áreas remanescentes de
criou e usou, transformando os gostos, quilombos e reflete sobre as
valores e hábitos de um grupo social. possibilidades de um grupo provar essa
Ao trabalhar objetos e edificações, descendência. Pode ser realizada uma
valorizar a observação e o pequena investigação com o aluno,
questionamento: com base em seu conhecimento, sobre
a sua história pessoal ou sobre a
– De que material é feito?
história de seu local de origem.
– Por que foi feito desse material?
3. Investigando a história do quilombo
– Está completo?
do Vale do Ribeira – Utilizando um
– Foi alterado, adaptado ou depoimento oral e uma construção, a
consertado? Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o
– Onde foi feito?

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V. Orientação para o trabalho do professor

texto propõe a reflexão sobre a conceitos, para que assuma uma


descendência dos moradores da postura de respeito à diversidade.
região. A Igreja existente no local 5. Identidade cultural: resgate através
permitiu um estudo sobre as da memória – Ressaltando os
manifestações religiosas. Pode ser principais conceitos trabalhados:
interessante, nesse momento, Memória, identidade cultural,
acrescentar outras formas de diversidade cultural, patrimônio
manifestações populares no Brasil. Por cultural, manifestações populares e
exemplo: Maracatu, Cateretê, Boi- culturais.
Bumbá etc.
6. Nosso patrimônio cultural -
4. No modo de vida, uma forma de Fechamento do capítulo. As atividades
investigação – O texto ressalta a propostas no capítulo têm o objetivo
particularidade do modo de vida da de desenvolver as habilidades já
comunidade quilombola, destacando apresentadas. No final do texto, estão
como esse modo de vida, esse saber e sendo propostas três atividades que
saber fazer possibilitam uma identidade acrescentam outras formas de
cultural. Pode ser interessante salientar manifestações culturais para o aluno e
a questão da identidade e diversidade ressaltam alguns conceitos estudados.
cultural e trabalhar exercícios para o
aluno refletir sobre esses dois

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, A. M.; VASCONCELLOS, Camilo de Mello. Por que visitar museus. In:
BITTENCOURT, C. et al. (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto,
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1998. 175p. (Repensando o ensino).
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Cultura, 2000.
HORTA, M. de L. P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A. Q. Guia básico de educação
patrimonial. Brasília, DF: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1999.
LEMOS, C. A. C. O que é patrimônio histórico. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.
115 p. (Coleção primeiros passos).

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO DE SÃO PAULO E ASSOCIAÇÃO DAS COMUNIDADES


REMANESCENTES DE QUILOMBOS DO MUNICÍPIO DE ORIXIMINÁ. Minha terra: meus
direitos, meu passado, meu futuro. [S.l.: s.n.: 199-?].
NEVES, M. de F. R. das. Documentos sobre a escravidão no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1996. (Textos e documentos, 6).
OLIVEIRA, L. A. (Org.). Quilombos: a hora e a vez dos sobreviventes. São Paulo:
Comissão Pró-índio de São Paulo, 2001.
ORIÁ, R. Memória e ensino de História. In: BITTENCOURT, Circe et al. (Org.). O saber
histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed,
1997. 90 p. Tradução de Bruno Charles Magne.
TERRA, A. História e memória. Bolando aula de História. São Paulo, v. 2, n. 3, maio
1999.

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COMPREENDER E VALORIZAR OS FUNDAMENTOS DA História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo IV
CIDADANIA E DA DEMOCRACIA, DE FORMA A FAVORECER
UMA ATUAÇÃO CONSCIENTE DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE.

Cidadania
e democracia
Antônio Aparecido Primo - Nico

Vivemos num país em que o povo mais a realidade. Outra finalidade é estimular
simples e pobre tem procurado se os alunos a refletir sobre as atitudes que
organizar para defender seus interesses, eles e outros cidadãos brasileiros têm
como cidadãos, para tornar nosso assumido na vida cotidiana. Algumas
regime político mais democrático. Hoje, atitudes foram questionadas e
por exemplo, existem mais referências históricas foram buscadas
organizações populares independentes para aprofundar a compreensão das
do Estado e de partidos políticos do que múltiplas possibilidades de ser um
na metade do século XX. cidadão ativo no presente.
Todavia, apesar desses avanços, a atitude
de não-participação ainda é forte entre os DESENVOLVENDO A
brasileiros. É comum vermos pessoas COMPETÊNCIA
aceitarem passivamente o desrespeito Destacamos as seguintes habilidades:
aos direitos do cidadão por esferas
• Identificar, em diferentes documentos
privadas e públicas.
históricos, os fundamentos da
Partindo dessas constatações, este cidadania e da democracia presentes
capítulo pretende construir com os na vida social.
jovens e adultos os conceitos de
• Caracterizar as lutas sociais, em prol
cidadania e democracia. Um dos
da cidadania e da democracia, em
principais objetivos é que os estudantes
diversos momentos históricos.
apreendam informações e procedimentos
que lhes possibilitem questionar a • Relacionar os fundamentos da
realidade, identificando problemas e cidadania e da democracia, do
possíveis soluções, conhecendo formas presente e do passado, aos valores
político-institucionais e organizações da éticos e morais na vida cotidiana.
sociedade civil que permitam atuar sobre

Para se aprofundar nesse tema, ver objetivos do ensino


nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História
para o 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental e na
Proposta Curricular para a educação de jovens e
adultos: segundo segmento do ensino fundamental : 5ª
a 8ª série, publicados pelo MEC em 1998 e 2002.
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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

• Discutir situações da vida cotidiana • Estabelecimento de uma relação entre


relacionadas a preconceitos étnicos, os fundamentos desenvolvidos
culturais, religiosos e de qualquer anteriormente e a recente discussão
outra natureza. sobre o Projeto de Flexibilização das
• Selecionar criticamente propostas de leis trabalhistas. Outros temas ligados
inclusão social, demonstrando à situação dos trabalhadores podem
respeito aos direitos humanos e à ser escolhidos, a fim de aprofundar e
diversidade sociocultural. ampliar estas relações. Nesse processo,
é importante que os alunos sejam
O capítulo procura relacionar o mundo
orientados a selecionar, organizar,
do trabalho com o da cidadania e da
relacionar e interpretar dados e
democracia e, também, explorar a
informações de diferentes formas,
natureza e o caráter das matérias
para tomar decisões e enfrentar
jornalísticas na imprensa escrita.
situações-problema.
Em síntese, o capítulo trata dos seguintes
• A partir da análise de diferentes tipos
itens:
de matérias jornalísticas, procurar
• Construção dos conceitos de leis relacionar conceitos, informações e
trabalhistas, cidadania e democracia. idéias para construir argumentação
• Cidadania e democracia através de consistente.
jornais: o projeto de flexibilização • Aprofundamento dos estudos sobre os
da CLT. conflitos sociais na Primeira República
• Tipos e características das matérias e comparação entre presente e passado,
jornalísticas. para que os alunos possam elaborar
• Conflitos sociais, cidadania e propostas de intervenção solidária na
democracia: relações presente e realidade.
passado. Podemos indicar algumas propostas
• Comentários finais e glossário. metodológicas:
Como os conteúdos são compostos de • Leitura, compreensão e interpretação
conceitos, informações, idéias, de matérias jornalísticas do presente e
procedimentos e atitudes, sugerimos: do passado, como reportagens, artigos
• Identificação dos principais direitos e de opinião, entrevistas, fotos etc.
deveres dos cidadãos e das condições • Leitura, compreensão e construção de
para existir um regime democrático tabelas e de linhas do tempo.
através de diferentes tipos de matérias • Escrita de textos relacionados
jornalísticas ligadas, principalmente, ao tema.
ao tema “Leis trabalhistas”. • Comparação entre diferentes matérias
• Análise das lutas dos trabalhadores jornalísticas sobre um mesmo assunto,
brasileiros para conquistar cidadania e a fim de concretizar o fato de que elas
democracia no presente e na Primeira e outros tipos de documentos
República, procurando construir históricos constituem versões
esses conceitos. sobre a realidade.

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V. Orientação para o trabalho do professor

• Comparação entre diferentes versões • Resolução de testes ligados ao tema.


históricas sobre o mesmo tema. • Identificação de problemas vividos
• Discussões em grupo e debates sobre pelos alunos, na busca de soluções e
temas polêmicos relacionados à formas de atuação cidadã na
cidadania e democracia, como o comunidade e na sociedade em geral.
Projeto de Flexibilização das leis
trabalhistas.

BIBLIOGRAFIA
BENEVIDES, M. V. de M. A cidadania ativa: referendo plebiscito e iniciativa popular.
3. ed. São Paulo: Ática, 1998. 208 p. (Ensaios, 136).
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Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: História. Brasília, DF: MEC, 1998. 108 p.
______. Proposta curricular para a educação de jovens e adultos: segundo
segmento do ensino fundamental: 5ª a 8ª série. Brasília, DF: MEC, 2002.
COLEÇÃO NOSSO SÉCULO. São Paulo: Abril Cultural, 1985. 10 v.
FARIA, M. A. O jornal na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1991. 128 p.
(Repensando a língua portuguesa).
FAUSTO, B. História do Brasil. 8. ed. São Paulo: Edusp, 2000. 660 p. (Didática, 1).
PETTA, N. L. de. A fábrica e a cidade até 1930. 7. ed. São Paulo: Atual, 1995. 39 p. (A
vida no tempo).

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COMPREENDER O PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DO História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo V
TERRITÓRIO E A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

Movimentos políticos
pelos direitos dos índios
Adriane Costa da Silva

A ocupação do território e formação da habitavam a América, muito diferentes


sociedade brasileira envolvem questões entre si. Pataxó, Xavante, Yanomami,
ligadas às disputas entre os primeiros Terena, Guarani, Tupinambá são nomes
habitantes do Brasil (índios) e os de grupos indígenas que falam línguas
conquistadores e seus descendentes, diferentes e têm modos de vida diferentes.
(europeus e brasileiros) pelas terras onde As identidades dos povos indígenas
vivemos hoje. Esse processo histórico também são definidas pelas semelhanças
abrange outros temas, além das lutas e diferenças entre esses grupos.
pelas terras e a resistência à Durante muitos anos, as pessoas
escravização, na história de contato pensaram que os índios desapareceriam
entre índios e não-índios. No capítulo, ou se transformariam em brasileiros. Por
destacamos esses dois aspectos da isso, não precisavam de terra, mas de
história de contato, porque são questões conviverem junto com os não-índios
importantes para refletirmos sobre a para aprender a viver igual a eles.
construção da sociedade brasileira, no Entretanto, os povos indígenas tinham
presente e no passado. outras expectativas para o futuro. Eles
As lutas dos povos indígenas para verem mesmos queriam dizer como
os seus direitos reconhecidos e imaginavam esse futuro e não apenas
respeitados continuam a acontecer no ouvir as explicações dos não-índios
presente. Tais lutas estão ligadas, sobre as mudanças em suas sociedades.
também, à construção das identidades dos Tinham suas próprias idéias e queriam
brasileiros e dos índios. Essas identidades contá-las para os não-índios. As
definem-se a partir das semelhanças e reivindicações desses povos foram
diferenças entre índios e não-índios. transformadas em lei federal e estão
“Índio” é um nome genérico que os garantidas na Constituição brasileira.
conquistadores deram aos povos que Para que isso acontecesse, os povos

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

indígenas tiveram e têm o apoio de marcos históricos relacionados à


alguns aliados não-índios. história da formação da sociedade
Embora mostrem muito interesse pela brasileira.
medicina, pela tecnologia, pela educação • Interpretar o processo de ocupação e
dos não-índios, os grupos indígenas formação da sociedade brasileira, a
querem manter o seu modo de viver e partir da análise de fatos e processos
pensar, que é muito diferente do nosso históricos.
modo de viver e pensar. Alguns não-índios • Analisar relações entre as sociedades e
mudaram o pensamento de que os índios a natureza na construção do espaço
iriam desaparecer. As transformações que histórico e geográfico.
aconteceram e acontecem com os grupos
• Avaliar propostas para superação dos
indígenas não são mais um sinal do seu
desafios sociais, políticos e econômicos
desaparecimento inevitável. Atualmente,
enfrentados pela sociedade brasileira
algumas pessoas pensam que o jeito de
na construção de sua identidade
viver desses povos é dinâmico, assim como
nacional.
o modo de vida dos outros povos do
mundo. É importante debater os conhecimentos
que os alunos já possuem sobre os
Nem todas as pessoas da nossa sociedade
grupos indígenas. O objetivo das
vêem os índios com os mesmos olhos.
imagens, textos e atividades é
Enquanto para algumas eles são os
possibilitar reflexões a partir de
homens mais próximos da natureza, para
diferentes pontos de vista sobre os
outras eles são considerados uma ameaça
contatos entre os povos indígenas e a
à preservação de plantas e bichos dos
sociedade brasileira. As histórias do
parques. Muitas pensam que eles não são
contato entre alguns povos indígenas e
mais índios. As atividades propostas no
os não-índios são contadas através de
capítulo procuram criar oportunidades
iconografia (fotos, gravuras, mapas),
para o estudante refletir sobre essas idéias.
documentos escritos de várias épocas
(leis, depoimentos, cartas, entrevistas
DESENVOLVENDO A etc), texto explicativo e atividades. A
COMPETÊNCIA análise das imagens mereceu grande
Destacamos as seguintes habilidades: destaque nas atividades, devido ao papel
• Identificar em diferentes documentos que elas desempenham nas sociedades
históricos e geográficos vários atuais. As atividades trazem várias
movimentos sociais brasileiros e seu orientações sobre interpretação de
papel na transformação da realidade. desenhos, fotografias e mapas.
• Investigar, criticamente, o significado
da construção e divulgação dos

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V. Orientação para o trabalho do professor

BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, H. R. (Org.). Tecnociência e cultura. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Ensino Fundamental. Índios
no Brasil. Brasília, DF: [19--?]. (Cadernos da TV Escola, 3).
CUNHA, M. C. (Org.). História dos índios no Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998. 611 p.
GRUPIONI, L. D. B. (Org.). Índios no Brasil. Brasília, DF: Global, 1993. 279 p.
GRUPIONI, L. D. B.; SILVA, A. L. A temática indígena na escola: novos subsídios para
professores de 1º e 2º graus. Brasília, DF: MEC, 1995. 575 p.
NOVAES, A. (Org.). Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 477 p.
SCHWARCZ, L. M.; QUEIROZ, R. S. (Org.). Raça e diversidade. São Paulo: Estação
Ciência: Edusp, 1996. 315 p.
SIMÕES, J. A.; MACIEL, L. A. (Coord.). Pátria amada esquartejada. São Paulo: Secretaria
Municipal de Cultura, 1992. 160 p. (Registro, v. 15).

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INTERPRETAR A FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo VI
DO ESPAÇO GEOGRÁFICO BRASILEIRO,
CONSIDERANDO DIFERENTES ESCALAS.

A cidade e o campo no
Brasil contemporâneo
Roberto Giansanti

O objetivo do capítulo é apresentar e 2. Cidades e campo no Brasil moderno:


discutir aspectos da formação e da distribuição regional, que busca
organização do espaço geográfico reconhecer e interpretar o papel do campo
brasileiro contemporâneo, em diferentes e da cidade em meio a desigualdades
escalas, destacando o campo e a cidade: regionais e sociais no país.
sua constituição histórica e geográfica, 3. O uso e a apropriação dos recursos
estrutura interna, relações sociais, naturais no campo e na cidade, que
problemas e desafios futuros. Este é o fio propõe a análise das interações entre
condutor para que o estudante sociedade e natureza e a avaliação
problematize, compreenda, explique e crítica de formas de uso e apropriação
proponha formas de intervenção do espaço geográfico.
solidária para o campo e a cidade. Neste
O desenvolvimento da competência
percurso, a idéia é que ele discuta
prevista organiza-se a partir das cinco
situações-problema, selecione e relacione
habilidades descritas a seguir:
informações, mobilize conhecimentos e
• Identificar representações do espaço
realize a leitura e interpretação de
textos, mapas, tabelas ou fotografias geográfico em textos científicos,
como modo de reflexão sobre a realidade imagens, fotos, gráficos, diagramas etc.
em que vive. O capítulo está organizado • Caracterizar formas espaciais criadas
em três partes: pelas sociedades, no processo de
1. Mudanças na distribuição da
formação e organização do espaço
população urbana e rural do Brasil,
geográfico, que contemplem a
que analisa questões sobre a dinâmica entre a cidade e o campo.
urbanização brasileira e as recentes • Analisar interações entre sociedade e
mudanças nas funções e atividades no natureza na organização do espaço
campo, à luz do processo da histórico e geográfico, envolvendo a
modernização brasileira. cidade e o campo.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

• Discutir diferentes formas de uso e espaço e suas implicações tanto para


apropriação dos espaços, envolvendo a dinâmicas sociais como para os sistemas
cidade e o campo e suas naturais, notadamente em elementos
transformações no tempo. como drenagem, cobertura vegetal, solos
• A partir de interpretações cartográficas e relevo.
do espaço geográfico brasileiro, Avaliando criticamente usos inadequados,
estabelecer propostas de intervenção a idéia é que os estudantes reflitam sobre
solidária para consolidação dos valores problemas desse tipo no lugar onde vivem
humanos e de equilíbrio ambiental. e formulem proposições mais equilibradas
e sustentáveis de uso dos recursos naturais,
DESENVOLVENDO A em favor do conjunto da sociedade.
COMPETÊNCIA Cada uma das partes do capítulo inicia-
O domínio de linguagens como texto se com a proposição de uma situação-
escrito, tabelas, mapas e fotografias – problema, um desafio novo que, para ser
com o objetivo de interpretar diferentes resolvido ou superado, necessita de
representações do espaço geográfico novos ingredientes e informações. Como
brasileiro – percorre o capítulo como um exemplo, na primeira parte do capítulo,
todo, com ênfase em tabelas na primeira a questão reside em resolver o dilema
parte, mapas, na segunda, e fotografias, entre a intensa urbanização do país e o
na última. Para a gradativa apropriação aumento da população rural, tendo em
destas linguagens pelo estudante, vista ações de planejamento. O aporte de
sugerimos etapas de identificação e novas informações, fundadas em
reconhecimento de seus elementos conceitos e processos históricos e
centrais (título/assunto, formas de dispor geográficos, deverá permitir que o
ou representar informações, códigos, estudante possa oferecer respostas à
sinais e convenções) e conexões com a situação-problema e resolva questões
interpretação de processos e dinâmicas correlatas. Observe-se que há atividades
relativos ao campo e à cidade. Entre os ao longo de cada uma das partes que
conceitos específicos desenvolvidos para solicitam que o estudante levante
caracterizar a formação do espaço hipóteses ou aplique os conhecimentos
geográfico, na perspectiva apontada, construídos. Por fim, solicita-se ao
estão os de campo, cidade, urbano, estudante que reflita sobre um conjunto
rural, migração, urbanização, de questões que sistematiza conceitos e
população urbana, população rural e processos desenvolvidos em cada parte
metrópole, tendo em vista processos do capítulo.
como o de modernização. As relações As formas de avaliação devem
sociedade-natureza nos quadros urbano considerar o desenvolvimento das
e rural, são discutidas a partir da análise habilidades previstas para o capítulo e as
de formas de uso e apropriação do progressões apresentadas pelo estudante

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V. Orientação para o trabalho do professor

ao longo de cada unidade de domínio progressivo das linguagens e as


aprendizagem. Desta forma, é importante capacidades de selecionar e relacionar
verificar, nesse processo, os modos de informações para construir argumentos
aplicação dos conceitos relativos às seguros e consistentes sobre as formas
dinâmicas do campo e das cidades diante de uso e apropriação dos espaços na
de novas situações, assim como o cidade e no campo.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: Geografia: 5ª a 8ª séries. Brasília, DF, 1998.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução: 5ª a 8ª séries. Brasília, DF,
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JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 510p.
JOLY, F. A cartografia. Campinas: Papirus, 1990. Tradução de Carlos S. de Mendes Rosa.
MARTINS, J. de S. Impasses sociais e políticos em relação ‘a reforma agrária e à agricultura
familiar no Brasil. SEMINÁRIO DILEMAS E PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL NO BRASIL, COM ÊNFASE NO AGRÍCOLA E NO RURAL NA PRIMEIRA DÉCADA DO
SÉCULO XXI. Anais... Santiago [Chile], 11-13 de dezembro de 2001.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

MELLONI, E. Agricultura familiar é a apontada como modelo. O Estado de S. Paulo,


São Paulo, 27 jul. 1998.
OLIVA, J. T. O espaço geográfico como componente social. Terra Livre, São Paulo, n. 17,
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PNUD/IPEA/FJP/IBGE. Desenvolvimento humano e condições de vida: indicadores
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REVISTA DO ASSENTAMENTO 1 DE SUMARÉ (SP). Piracicaba: Unimep, jun. 1999. Edição
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SANT’ANNA, L. Conceitos de rural e urbano imploram por revisão. O Estado de S.
Paulo, São Paulo, 9 dez. 2001.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo:
Hucitec, 1996. 308p.
______. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. 157 p.
SANTOS, Milon; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
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V. Orientação para o trabalho do professor

SITES NA INTERNET

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA:


Disponível em: <http://www.embrapa.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE:
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br
Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”:
Disponível em: <http://www.institutodeterras.sp.gov.br
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG:
Disponível em: <http://www.contag.org.br
Ministério do Desenvolvimento Agrário:
Disponível em: <http://www.mda.gov.br
Ministério do Meio Ambiente:
Disponível em: <http://www.mma.gov.br
Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra:
Disponível em: <http://www.mst.org.br

SUGESTÃO DE FILMES

CABRA marcado para morrer. Direção de Eduardo Coutinho, 1984.


O HOMEM que virou suco. Direção de João Batista de Andrade, 1980.
SÁBADO. Direção de Ugo Giorgetti, 1995.

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PERCEBER-SE INTEGRANTE, DEPENDENTE E AGENTE História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo VII
TRANSFORMADOR DO AMBIENTE.

As sociedades
e os ambientes
Hugo Luiz de Menezes Montenegro

Essa competência destaca a necessidade É importante que percebam que, mesmo


do estudante de ampliar sua percepção nas áreas intensamente modificadas pela
como cidadão que se relaciona, interage ação humana, como as grandes cidades,
e é co-responsável pela preservação dos existem elementos naturais, ainda que não
ambientes, estabelecendo a possibilidade sejam diretamente visíveis na paisagem
de avaliar a diversidade de usos e urbana ou que muitos recursos da natureza
intervenções humanas na escala local e tenham sido utilizados e transformados em
em escalas mais amplas (regional / grande escala para edificações de
nacional), de forma a desenvolver uma construções como praças, ruas etc. A idéia
atitude responsável e ética com relação à de que a paisagem rural é exclusivamente
preservação e à conservação do natural pode também ser desmitificada,
meio ambiente. verificando-se as interferências da ação
Os alunos conhecerão diferentes lugares/ humana nas áreas rurais, com o
regiões do país, verificando como se dão desmatamento, adubação química do solo,
as interações e arranjos específicos de a poluição e a degradação de nascentes ou
cada grupo social e o meio que cada um cursos de água, as queimadas e a poluição
deles habita. Poderão analisar e refletir do ar. Essas críticas devem apoiar o aluno
sobre como a sociedade interage em na percepção de que as interferências
diferentes ambientes, aproveitando os humanas devem ser feitas de forma
recursos existentes, e que tipos de planejada e racional, não colocando em
modificações realiza em seu ambiente. ameaça o ambiente, ou de que,
Nesse enfoque, são considerados os dependendo do tipo de ação, podem-se
aspectos econômicos, políticos, destruir esses ambientes e seus recursos,
tecnológicos e culturais, à medida em impossibilitando seu aproveitamento
que diferentes problemas de nossa futuro e acentuando os problemas
sociedade atual são analisados. vivenciados por diferentes grupos sociais.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

DESENVOLVENDO A nele existentes, a diversidade de usos


COMPETÊNCIA do solo (no meio urbano e rural), as
técnicas utilizadas e suas
Conhecendo a dinâmica existente na
conseqüências ambientais.
natureza e percebendo alguns ritmos e
processos diferenciados, os alunos Em relação aos conteúdos que envolvem
poderão problematizar e avaliar a questão ambiental, espera-se que os
situações de degradação dos recursos e alunos compreendam que os grupos
de desequilíbrio ecológico, sociais estabelecem entre si e com o meio
compreendendo suas causas, seus efeitos natural um conjunto complexo de
e conseqüências, podendo assim relações e interações. Espera-se que
ampliar os conhecimentos que possuem possam dimensionar o conjunto de
sobre os processos naturais e perceber a interferências humanas relacionadas
responsabilidade da sociedade na tanto à capacidade de modificar e
conservação do meio natural . degradar os recursos da natureza como de
conservá-los e utilizá-los de forma a
O capítulo se apresenta como um
garantir a sobrevivência do conjunto de
conjunto de textos e atividades, para que
seres vivos que fazem parte do ambiente.
os alunos tenham oportunidade de
Assim, foram selecionados conteúdos que
desenvolver as seguintes habilidades:
não são apenas conceitos isolados, mas
• Identificar, em textos, mudanças também procedimentos e atitudes a
históricas relacionadas com as serem trabalhados com os conceitos ou
dinâmicas e processos naturais teorias abordados, destacando-se:
e humanos.
1. Reconhecimento dos elementos
• Reconhecer, em fotografias, a naturais que formam o ambiente,
diversidade de ambientes e de observando como estão distribuídos
paisagens existentes, identificando na paisagem; as relações e interações
alguns fatores que determinem existentes entre eles, associando as
essas diferenças. características do ambiente (local ou
• Reconhecer, em mapas, os diferentes regional) à vida pessoal e social.
lugares e as questões ambientais. 2. Observação de relações entre as
• Avaliar os efeitos da intervenção formas de aproveitamento dos
humana em diferentes ambientes. recursos naturais com os tipos de
• Identificar, em artigo de jornal, as ocupação humana, considerando:
diferentes concepções e visões em - os fatores geográficos (diversidade
relação à utilização dos recursos regional, meio urbano e rural),
naturais e às interferências históricos (situação do ambiente
no ambiente. antes e depois da ocupação
• Identificar, em fotografias e textos, a humana), sociológicos (grupos
fragilidade do ambiente e dos recursos sociais e seus valores);

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V. Orientação para o trabalho do professor

- a diversidade de modificações • apresentem e exponham, oralmente, o


provocadas pela ação humana no que compreenderam sobre os
ambiente e sobre o conjunto de conteúdos analisados, com o uso de
interações existentes entre os diferentes recursos;
animais, as plantas, o solo, o ar e • relacionem as questões ambientais
as águas; tratadas no capítulo a outros lugares e
- os modos de vida das pessoas e situações vivenciadas ao longo do seu
seus vínculos com o ambiente e processo de vida e, mais
com o lugar; particularmente, ao ambiente de sua
- o conjunto variado de fatores e comunidade local;
fenômenos envolvidos: os culturais, • pesquisem e busquem novas
os econômicos, os políticos, os informações comparando os elementos
sociais e os ambientais; que permaneceram, os que se
- a fragilidade e a degradação dos modificaram, as causas dessas
ambientes e dos recursos neles modificações, os lugares atingidos,
existentes; podendo, também, realizar estimativas
de futuros acontecimentos e
- a exemplificação de propostas,
transformações;
tendo em vista a conservação
do ambiente. • realizem um levantamento de diferentes
modos de vida, concepções e visões em
Em sala de aula, as atividades do
relação à utilização dos recursos naturais
capítulo, sob orientação do professor,
e à transformação do ambiente;
poderão ser amplamente exploradas,
possibilitando-se que os alunos: • valorizem os recursos naturais dos
diferentes ambientes como bens
• extraiam e comparem as informações
pessoais e coletivos que devem ser
dos diferentes textos;
utilizados de forma sustentável e em
equilíbrio com a natureza.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

BIBLIOGRAFIA
AB’SABER, A. N. Geografia ambiental do Brasil. In: IBGE. Atlas Nacional do Brasil. 3. ed.
Rio de Janeiro, 2000.
_______. Litoral do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2001. p. 111. Título original:
Brazilian coast. Versão para o inglês Charles Holmquist.
CONTI, J. B.; FURLAN, S. A. Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In: ROSS, J. L. S.
(Org.). Geografia do Brasil. 4. ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2001.
EMBRATUR. Pontos turísticos: Brasil. São Paulo: EPPE, 2000.
GABEIRA, F. O mar não está mais para a Família Peixe. Folha de S. Paulo, São Paulo,
[200-?]. Caderno Turismo.
GIANSANTI, R. O desafio do desenvolvimento sustentável. São Paulo:
Atual, 1998.
GUIMARÃES, R. B. Tecendo redes e lançando-as ao mar: o livro didático de Geografia e
o processo de leitura e escrita. Em Aberto. Brasília, DF, v. 16, n. 69, jan./fev. 1996.
KOZEL, S.; FILIZOLA, R. Didática de geografia: memórias da terra, o espaço vivido. São
Paulo: FTD, 1996. 109 p. (Geografia. Conteúdo e Metodologia 1ª a 4ª série).
MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002. 207
p. (Coleção Quapá).
MENEGAT, R. (Coord.). Atlas ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. da UFRGS,
2001. 228 p.
ROSS, J. L. S. (Org.). A sociedade industrial e o ambiente In: ______. (Org.) Geografia
do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2001. (Didática, 3).
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio
de Janeiro: Record, 2001. 471 p.
SCHÄFFER, N.O. Ler a paisagem, o mapa, o livro... escrever nas linguagens da geografia.
In: NEVES, I. C. B. B. et al. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 3. ed. Porto
Alegre: Ed. Universidade do Rio Grande do Sul, 2000.
TEIXEIRA, W. (Org.). Decifrando a terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2001.

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V. Orientação para o trabalho do professor

SITES ELETRÔNICOS RELACIONADOS COM A QUESTÃO AMBIENTAL:

LITE (LABORATÓRIO INTERDISCIPLINAR DE TECNOLOGIA EDUCATIVA


Disponível em: <http://www.lite.fae.unicamp.br
REDE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Disponível em: <http://www.usp.br
PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Disponível em: <http://www.bdt.org.br
CANAL FUTURA
Disponível em: <http://www.futura.org.br
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Disponível em: <http://www.zeebrasil.com.br/index.asp
IBAMA (INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE)
Disponível em: <http://www.ibama.gov.br
Portal AMBIENTE BRASIL
Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Disponível em: <http://www.redeambiente.org.br
NOTÍCIAS E ACONTECIMENTOS ENVOLVENDO O AMBIENTE MUNDIAL
Disponível em: <http://www.iowcoffice.org/iwc.htm
DADOS E INFORMAÇÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE RELACIONADOS COM OS RECURSOS
NATURAIS E COM OS ESTUDOS AMBIENTAIS
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br

FILMES/VIDEOGRAFIA
APROVEITAMENTO do lixo. Direção de Gonzaga Mota. Brasília, DF: Ema Vídeo, 1988. (24 min.).
ILHA das flores. Direção de Jorge Furtado. Porto Alegre, RS: Casa do Cinema, 1989. 1
videocassete (12 min.).
TERRA azul nº 3. Direção de Roberto Werneck. Rio de Janeiro: RW Vídeo, 1989. (50 min.)
VIDA qualidade vida. Direção de Marcia Meirelles; Maria A. Lemos. Rio de Janeiro:
REDEH/CEMINA, 1993. (8 min.).

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COMPREENDER A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo VIII
ECONÔMICA DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS.

A organização econômica das


sociedades na atualidade
Sonia Maria Vanzella Castellar

O capítulo foi elaborado com o objetivo Discussão e análise das diferentes


de se analisar as mudanças que formas de propagação de hábitos de
ocorreram na organização e produção do consumo que induzem a sistemas
espaço geográfico contemporâneo, a produtivos do ambiente e da sociedade,
partir do desenvolvimento tecnológico. trabalhadas por meio de
Para atingirmos esse objetivo estamos problematizações sobre consumo e
nos fundamentando nas cinco principais propagandas.
habilidades que orientaram a elaboração Comparação entre as organizações
do capítulo: políticas, econômicas e sociais no mundo
Identificação dos aspectos da realidade contemporâneo, ressaltando a cidadania
econômica e social de um país ou e a maneira como as pessoas têm acesso
região. aos produtos industrializados.
Essa habilidade estará sendo discutida a Além dessas habilidades, priorizamos:
partir das transformações das técnicas na • A utilização de diferentes tipos de
produção dos alimentos, das construções linguagens, tais como, mapas,
e dos transportes. imagens e textos jornalísticos.
Caracterização das formas de circulação • A leitura de mapas, utilizando
de informação, capitais, mercadorias e símbolos e sinais como forma de
serviços. interpretação do espaço geográfico.
Nesse caso, estaremos trabalhando com • O reconhecimento no texto de
o sistema de circulação de mercadorias diferentes informações adequadas ao
e de informação. contexto social e econômico do
Comparação dos diferentes modos de leitor.
vida das populações, utilizando dados
sobre produção, circulação e consumo.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

DESENVOLVENDO A Em resumo, indicamos os seguintes


COMPETÊNCIA tópicos:
Em todas essas habilidades, esteve 1. Introdução: apresentação da situação-
presente o desenvolvimento das técnicas problema.
na organização do espaço geográfico e 2. O que mudou e o que permaneceu na
na mudança do modo de vida das organização das cidades ao longo do
pessoas em diferentes tempos, século XX.
destacando os séculos XIX, XX e XXI. A partir das mudanças que ocorreram
Iniciamos esse capítulo com a utilização de nos hábitos alimentares e nas técnicas de
uma situação-problema cujo objetivo era sua produção passando pelas alterações
estimular o leitor a analisar mudanças de que ocorreram no modo de vida.
hábitos e costumes a partir do cotidiano e Mudanças nas cidades, considerando
de ter, a partir disso, informações sobre os as alterações históricas e geográficas
modos de vida do passado. materializadas nas construções e no
ritmo da população.
Nesse sentido, optamos por uma
problematização que partisse dos hábitos 3. A circulação e os meios de
alimentares da população em duas transportes: a ferrovia e a hidrovia
épocas. O caminho que optamos esteve Mudanças nos meios de transporte,
sempre vinculado ao processo de sua principalmente ferroviário e
industrialização, aos meios de circulação hidroviário, considerando os aspectos
de mercadorias, de pessoas e de históricos na dinâmica da produção e
informações e, também, às circulação de mercadorias.
transformações na tecnologia. Como 4. As mudanças das técnicas no campo
conseqüência dessas questões, Mudanças no campo evidenciando as
acreditamos que o leitor terá condições transformações tecnológicas do
de construir um novo conhecimento e sistema produtivo capitalista,
terá, por sua vez, condições de refletir principalmente no que se refere ao uso
sobre a maneira como as pessoas de maquinarias e insumos agrícolas
consomem e como o mercado comercial, para a produção de alimentos.
atualmente, se organiza no mundo. 5. Produção e consumo
A partir dessa situação-problema, foram As mudanças nos alimentos
criados novos questionamentos. A estes caracterizadas pelos ritmos das
questionamentos, foram fornecidas ao pessoas e da produção na sociedade
leitor novas informações, que permitirão contemporânea, possibilitando ao
a construção de uma solução para o leitor uma reflexão sobre a qualidade
problema levantado. de vida da população brasileira e o
consumo.

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V. Orientação para o trabalho do professor

Produção e consumo onde retomamos As atividades propostas, no final do


a situação-problema, para que o leitor capítulo, têm como objetivo resgatar as
refletisse sobre os hábitos de habilidades e os conceitos trabalhados
consumo e a produção de lixo em nele. Como sugestão para outros
diferentes momentos históricos. procedimentos que podem ser
6. O consumo mundial e desenvolvidos com os alunos, propomos
os meios de comunicação relacionar as problematizações com o
A influência dos meios de cotidiano e o lugar de vivência. Por
comunicação no consumo, o papel das exemplo, explore com imagens do
propagandas e como estão passado e do presente lugares da cidade
relacionadas com os hábitos de onde vivem, trabalhando com os meios
consumo e o comércio mundial são de transporte, o ritmo do lugar, os
questões apresentadas nesse item do hábitos culturais. Enfim, o que
capítulo. Além deles, propomos uma permaneceu e o que mudou. Se for uma
reflexão sobre o desenvolvimento cidade portuária, inclua na discussão a
tecnológico, o papel da divisão modernização dos portos, dos navios, a
internacional do trabalho e a técnicas empregadas na navegação. Se
localização das áreas industriais no for histórica e turística, converse sobre a
mundo. importância econômica e o que
permaneceu para ser uma cidade de
referência histórica.

BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, R. (Org.). Neoliberalismo, trabalho e sindicatos: reestruturação produtiva
no Brasil e na Inglaterra. São Paulo: Bomtempo, 1997. 129 p. (Mundo do Trabalho).
BURKE, J.; ORNSTEIN, R. O presente do fazedor de machados: os dois gumes da
história da cultura humana. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. 348 p. Tradução de
Pedro Jorgensen Junior.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo, Edgard Blucher,
1980. 188 p.
CORREIA, R. L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. 302 p.
GIDDENS, A. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Rio de
Janeiro, Record, 2000. 108p. Tradução de Maria Luiza X. da A. Borges. Título Original:
Runaway world.
LEFF, E. et al. Ambiente & Sociedade. Campinas: Unicamp, v. 3, n. 6/7, 1. e 2.
semestres de 2000.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

LENCIONI, S. Região e Geografia. São Paulo Edusp, 1999. 214 p. (Acadêmica, 26).
MATTOS, O. N. de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o
desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Alfa-Omega, 1974.
OLIVEIRA, A. U. de. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991.
164 p. (Caminhos da Geografia).
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.
ZAMBONI, E. Representações e linguagem no ensino de História. Revista Brasileira de
História, [S.l.], v. 18, n. 36, p. 89-101, 1998.
WETTSTEIN, G. Subdenvolvimento e Geografia. São Paulo: Contexto, 1992. 254 p.
(Caminhos da Geografia).

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COMPREENDER OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DAS História e Geografia - Ensino Fundamental
Capítulo IX
INSTITUIÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS A PARTIR DE DIFERENTES
FORMAS DE REGULAMENTAÇÃO DAS SOCIEDADES E DO
ESPAÇO GEOGRÁFICO.

Estado e
democracia no Brasil
Jaime Tadeu Oliva

Para compreender os processos de produto e produtor das sociedades


formação e consolidação das instituições modernas;
sociais e políticas, a partir de diferentes • que não dá para compreender as
formas de regulamentação das sociedades modernas, sem considerar o
sociedades e ordenamento do espaço papel que o Estado possui na
geográfico, desenvolveu-se, no capítulo, estruturação das atividades
uma abordagem que teve os seguintes econômicas, na regulação dos
objetivos: conflitos, dos contratos de trabalho e
• mostrar que, no processo constitutivo no modo como a partir dele se
das sociedades atuais, entre as organiza e se distribui o poder
instituições que se vão forjando, as político;
mais importantes são aquelas que • que o princípio constitutivo-chave das
acabam por consolidar o Estado sociedades modernas se incorpora no
moderno; Estado por meio da democracia
• que os Estados modernos são representativa
representativa;
expressão de uma história de • que as falhas da democracia
mudanças profundas das sociedades, representativa não correspondem
que originaram os países apenas a desvios morais de políticos
contemporâneos com seus respectivos inescrupulosos e eleitores ingênuos e
territórios; desinformados. Que se trata de algo
• que o Estado moderno não é uma mera muito mais profundo do que isso, pois
estrutura operacional a serviço da corromper a democracia representativa
sociedade (ou, como querem muitos é atingir o centro da constituição e da
autores, de alguns setores da consolidação de uma sociedade
sociedade), mas sim um conjunto de moderna em constituição;
instituições que são, ao mesmo tempo,

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

• que a organização do Estado, em Identificou-se um mal corruptor da


vários poderes e em vários níveis democracia representativa que é o
geográficos de atuação, é uma clientelismo político
político, algo muito
necessidade para garantir que o Estado presente na sociedade brasileira. Foram
esteja presente na vida cotidiana das trabalhadas desde uma face mais
pessoas e para que elas, de fato, evidente, dura e cruel do clientelismo, isto
consigam expressar suas posições é, algumas modalidades ainda existentes
junto ao Estado. Para que haja, do chamado voto de cabresto,, até
realmente, uma situação na qual se aspectos mais sutis, por vezes
possa afirmar que o poder emana do imperceptíveis, dessa doença que atinge a
povo
povo, princípio fundante de democracia representativa. Como
sociedades como a nossa; derivações dessa situação-problema
• que o desrespeito às regras e ao papel central, trabalharam-se também algumas
dos poderes assim como o uso ilegal “sub-situações” problemáticas, referentes
do poder, nas mãos de poucos (que, a análises de posições antagônicas de
em geral, se expressam de modo candidatos a cargos parlamentares sobre a
violento), não é só condenável como pena de morte.
uma violação aos direitos humanos, A idéia foi procurar colaborar na
mas, principalmente, por ser algo que construção de um conhecimento
vai em direção ao autoritarismo e necessário para enfrentar a questão do
que nega a grande e difícil construção clientelismo e outras questões graves de
de um mundo civilizado com base na nossa sociedade, passos importantes na
democracia e na justiça; constituição da cidadania.
• que a negação do Estado moderno,
com ações autoritárias em seu seio, DESENVOLVENDO A COMPETÊNCIA
acaba por atingir, preferencialmente, Destacamos no capítulo os seguintes
algumas camadas da população, com tópicos:
menos possibilidades de se proteger da 1. Onde começa a organização da
violação dos direitos e com menos sociedade.
possibilidades de fazer valer sua
2. Todo poder emana do povo?
vontade política.
3. Qual a extensão do clientelismo político
Os conteúdos deste capítulo foram
no Brasil?
trabalhados a partir e em torno de uma
situação-problema referente às 4. A política: elemento organizador da
dificuldades da constituição plena das sociedade.
sociedades modernas, no que se refere a 5. As formas de se organizar a política nas
um dos seus princípios fundamentais, sociedades.
que é a democracia representativa.. 6. O Estado: consolidação das formas de
organização das sociedades.

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V. Orientação para o trabalho do professor

7. Por que surgiram os Estados modernos? O capítulo contém quatro figuras para as
8. Como se organiza o Estado quais se propõe uma série de observações.
brasileiro? Aliás, duas delas, praticamente iniciam dois
momentos capitais do texto (Figuras 1 e 2).
9. Voltando à questão da pena de
O estilo do texto é, na medida do possível, o
morte.
menos afirmativo possível. Na verdade, ele
As habilidades referentes ao capítulo possui um desenvolvimento de estilo
foram trabalhadas em dois níveis. Em
interrogativo, visando sempre a mobilizar e
primeiro lugar, elas vão sendo trabalhadas a confrontar o conhecimento do leitor com
na própria seqüência do capítulo. É assim as questões de conteúdo trabalhadas no
que os itens 1, 2 e 3 do capítulo (vide
capítulo. Espera-se que, do conjunto dos
índice) são diretamente focados para raciocínios que o capítulo contém, somados
trabalhar a habilidade: Identificar os aos raciocínios que os leitores realizarão,
processos de formação das instituições possam surgir afirmações, conclusões,
sociais e políticas que regulamentam a opiniões e posicionamentos.
sociedade e o espaço geográfico
Em resumo:
brasileiro. Porém, se ela é resolvida nos
itens citados, é preciso ir até 8 e 9 para • O texto é inteiramente ponteado por
que todos seus aspectos sejam expressões e palavras assinaladas em
trabalhados mais plenamente. Os itens 4, negrito. Essa assinalação refere-se às
5, 6 e 7 dão conta da habilidade: passagens que, naquele momento,
estabelecer relações entre os processos de naquele raciocínio, são as chaves
formação das instituições sociais e principais do entendimento (como
políticas. E da habilidade: compreender o acabamos de fazer). Um olhar especial
significado histórico das instituições sobre esses destaques que percorrem o
sociais considerando as relações de poder, texto pode ajudar no trabalho.
a partir da contraposição de sociedades • Há itens do texto que são
tradicionais e sociedades modernas. especificamente construídos para propor
Quanto às habilidades: discutir situações atividades, exercícios e problemas a
em que os direitos dos cidadãos foram serem solucionados. Contudo, todos os
conquistados, mas não usufruídos por outros itens são entremeados por um
todos os segmentos sociais, e comparar conjunto significativo de interrogações
propostas e ações das instituições sociais que podem ser igualmente aproveitadas
e políticas, no enfrentamento de como questões separadas para
problemas de ordem econômico-social, atividades. Um exemplo é a figura 2,
elas estão contempladas nos itens 8 e 9. para a qual se propõe um exercício de
Em segundo lugar, apesar dessa ordem observação, que pode ser transformado
linear, todas as habilidades permearam o num exercício destacado, embora essa
conjunto do texto. passagem do texto não esteja em algum
item específico de atividade.

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Livro do Professor - História e Geografia Ensino Fundamental

BIBLIOGRAFIA
CALDEIRA, T. P. do R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo.
São Paulo: EDUSP, 2000. 399 p. Tradução de Frank de Oliveira e Henrique Monteiro.
CARDOZO, J. E. A máfia das propinas: investigando a corrupção em São Paulo. São
Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2000. 215 p.
HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto ideologia. In: BENJAMIN, Walter, et al.
Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 313-343. (Os pensadores).
LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no
Brasil. 4. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1978. 273p. (Biblioteca Alfa-Ômega de Ciências
Sociais, 2).
MASTROPAOLO, A. Clientelismo. In: BOBBIO, N.: MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G.
Dicionário de Política. 7. ed. Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1995. v. 1,
p. 177-179. Tradução de João Ferreira (Coord.).
PASQUINO, G. Modernização. In: ______. Dicionário de Política. 7. ed. Brasília, DF:
Ed. Universidade de Brasília, 1995. v. 2 p. 769-776. Tradução de João Ferreira (Coord.).
SCHIERA, P. Sociedade por categorias. In: ______. Dicionário de Política. 7. ed.
Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1995. v. 2 p. 1213-1217. Tradução de João
Ferreira (Coord.).

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V. Orientação para o trabalho do professor

Ciências Humanas e
suas Tecnologias
Ensino Médio
Capítulos I ao IX

Neste bloco, são apresentadas sugestões de trabalho


para que o professor possa orientar-se no sentido de
favorecer aos seus alunos o desenvolvimento das
competências e habilidades que estruturam a avaliação
do ENCCEJA – Ciências Humanas e suas
Tecnologias – Ensino Médio.
Estes textos complementam o material de orientação de
estudos dos estudantes e ambos podem ganhar seu real
significado se incorporados à experiência do professor e
à bibliografia didática já consagrada nesta área.

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COMPREENDER OS ELEMENTOS CULTURAIS Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo I
QUE CONSTITUEM AS IDENTIDADES.

Cultura, memória
e identidade
Roberto Catelli Junior e Denise Brandão Almeida Villani

Com este capítulo, o aluno deverá ser DESENVOLVENDO A


capaz de compreender os elementos COMPETÊNCIA
culturais que constituem as identidades.
O capítulo foi elaborado tomando como
Ao abordar vários aspectos da vida
referência as seguintes habilidades:
cultural de um grupo social – a
religiosidade, as festas, os hábitos, enfim, • Interpretar historicamente fontes
os modos de vida –, o aluno deverá documentais de naturezas diversas.
conseguir estabelecer os vínculos entre • Analisar a produção da memória e do
esses elementos e a formação das espaço geográfico pelas sociedades
identidades individual e social. humanas.
O capítulo faz referência a conceitos • Associar as manifestações culturais do
básicos para várias disciplinas da área de presente aos seus processos históricos.
Ciências Humanas: cultura, identidade, • Comparar pontos de vista expressos,
memória, fonte histórica e patrimônio em diferentes fontes, sobre um
cultural. Espera-se que, ao construir determinado aspecto da cultura.
situações ligadas ao seu cotidiano, o • Valorizar a diversidade do patrimônio
aluno perceba o significado delas e cultural, identificando suas
consiga utilizar esses conceitos manifestações e representações em
aplicando-os para resolver problemas e diferentes sociedades.
refletir acerca do presente e do passado.
Não há, no capítulo, uma divisão por
Para realizar esse estudo, foram utilizadas
assuntos. Trata-se de um conjunto no
as diferentes linguagens que são fontes de
qual as habilidades vão sendo discutidas
conhecimento para a história.
e apresentadas por meio de atividades e
desafios propostos aos alunos. Por

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

exemplo, a habilidade que faz referência relacionado tanto aos edifícios


à memória está diretamente relacionada históricos como a objetos, artefatos,
com a questão do patrimônio histórico e instrumentos de trabalho, obras
assim por diante. Da mesma forma, artísticas e, até mesmo, ao próprio meio
comparamos pontos de vista de ambiente, uma vez que é o espaço de
diferentes culturas utilizando diferentes vida do homem.
fontes históricas. O patrimônio cultural também se refere à
Ao trabalhar com fontes históricas, identidade cultural dos grupos sociais, ou
discutimos o uso que se faz dos registros seja, ele pode ser a memória viva de uma
produzidos pelo homem, atribuindo-lhes luta, ajudando também a compreender
um sentido. Foi abordada, também, a quem somos e para onde queremos ir.
questão da subjetividade do Pode contribuir para reforçar os laços
conhecimento histórico, uma vez que o sociais, restabelecendo a todo momento o
pesquisador sempre faz uma seleção de que já foi historicamente pactuado.
fontes e uma interpretação vinculada aos Valorizar deve ter, aqui, esse sentido.
seus próprios valores e matiz ideológico. Para trabalhar os conceitos propostos,
A produção da memória relaciona-se partimos da realidade do aluno e
diretamente com a cultura e com a realizamos questões que o desafiem,
construção de uma identidade. A memória levando-o à reflexão, de modo a perceber
pode ser de um grupo, de uma luta social, algumas relações do seu cotidiano com os
de uma comunidade, do bairro, da cidade, assuntos estudados.
do partido, enfim, pode ser o elo de É importante que ele reflita com cuidado
construção da identidade de diferentes sobre cada uma das perguntas
coletividades. Nesse sentido, rompemos formuladas. Ele deve procurar mobilizar
com a visão, muitas vezes reafirmada, da seus próprios recursos intelectuais para
memória como lembranças vinculadas a buscar uma resposta própria, a partir do
um passado enterrado. Combatemos a repertório que já possui e de sua
visão de que a memória coletiva experiência de vida. Em seguida, o
relaciona-se somente com o que está professor deve retomar as explicações do
guardado nos museus ou registrado em texto para confrontar as soluções
documentos do governo. apresentadas pelos alunos com a
A habilidade que faz referência ao resolução proposta pelos autores.
patrimônio histórico retoma a questão da Só assim ocorrerá uma interação real: os
memória e da identidade e implica a alunos precisam ser convidados a pensar e
definição conceitual do que é patrimônio não somente a reproduzir conceitos
cultural. É preciso ampliar esse universo, prontos.
considerando todos os bens culturais Ao realizar as atividades propostas, é
como parte de nosso patrimônio cultural. importante que o aluno observe, com
O patrimônio cultural pode estar cuidado, os textos e as imagens,

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V. Orientação para o trabalho do professor

procurando compreender e retirar deles tempo e ao mapa presentes no capítulo,


as informações necessárias para resolver pois esses instrumentos podem auxiliá-
o problema. lo na compreensão do próprio texto
Ao trabalhar com as questões do tipo estudado. Dificilmente o aluno consegue
teste, o aluno deve julgar todas as ter um bom domínio dos conhecimentos
alternativas apontando o que está certo de história, se não conseguir se localizar
ou errado em cada uma delas. Após ter no espaço e no tempo.
escolhido a alternativa adequada, é O estudo do tema proposto poderá ser
chegado o momento de analisar as ampliado, se o professor trouxer ou pedir
alternativas, conforme as indicações dos aos alunos que tragam recortes de
autores. revistas e jornais para a aula, já que
Sugerimos que o aluno seja orientado a esses materiais podem contribuir para
recorrer constantemente à linha de ampliar os conceitos e as habilidades
propostos no capítulo.

BIBLIOGRAFIA
BITTENCOURT, C. (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.
175 p. (Repensando o ensino).
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994. 484 p.
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ESCOBAR, P.; SEGATTO, C. A vitória é feminina. Revista Época, São Paulo, v. 3, n. 187,
17 dez. 2001.
FEBVRE, L. Combates pela história. Lisboa: Presença, 1977.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990. 189 p. (Biblioteca
Vértice. Sociologia e Política, 21). Tradução de Laurent Leon Schaffter.
LE GOFF, J. História e memória. 4. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1996. 553 p. Tradução
de Irene Ferreira et al.
LOPES, J. S. L. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São
Paulo: Marco Zero, 1988. 623 p. (Coleção Pensamento Antropológico).
MONTENEGRO, A. T. História oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo:
Contexto, 1992. 153 p. (Caminhos da História).

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

ORIÁ, R. Memória e ensino de História. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber


histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997. p. 128-148.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura? 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio
Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo, 1992. 235 p.
SCHAFF, A. História e verdade. Lisboa: Estampa, 1974. 306 p. (Teoria, v. 19).

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COMPREENDER A GÊNESE E A TRANSFORMAÇÃO DAS Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo II
DIFERENTES ORGANIZAÇÕES TERRITORIAIS E OS MÚLTIPLOS
FATORES QUE NELAS INTERVÊM, COMO PRODUTO DAS
RELAÇÕES DE PODER.

A construção
do território
Oscar Medeiros Filho

O conjunto de habilidades discutidas no espaço geográfico. Para isso, o uso da


capítulo compreende que a constituição linguagem cartográfica é essencial. Os
dos diversos territórios não se dá por mapas devem ser explorados e analisados.
forças naturais, mas é fruto da A produção de textos também se presta
participação ativa das coletividades. muito bem ao desenvolvimento desta
Assim, deve-se destacar a importância habilidade. Sugerimos que os alunos
dos movimentos sociais e da desenvolvam redações a partir da
participação de cada um como um observação de mapas ou a partir da
agente político participativo, como um concepção de território e de fronteira.
cidadão muito mais do que um mero
No capítulo do Livro do Aluno, foi dada
observador passivo da história.
atenção especial à representação das
O capítulo está dividido em cinco diferentes divisões do espaço, com ênfase
seções de assuntos: nas fronteiras territoriais. Sugerimos que
• As diferentes divisões territoriais seja dada continuidade à discussão
• Trabalho e território iniciada no capítulo, por meio de
exercícios práticos como, por exemplo, a
• Conflito e território
representação dos diferentes territórios
• Território e movimentos sociais
que fazem parte do dia-a-dia dos alunos:
• Várias divisões regionais a empresa, o mercado, a rua, o bairro etc.
A habilidade identificar os significados
DESENVOLVENDO A históricos das relações de poder deverá
COMPETÊNCIA ser desenvolvida por meio da construção
A habilidade interpretar as diferentes e aplicação de conceitos que possibilitem
representações do espaço geográfico ao aluno identificar o significado das
deverá ser desenvolvida por meio da relações de poder nos processos
análise de diferentes representações do histórico-geográficos. Ou seja, alguns

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

conceitos precisam ser trabalhados. Para Sugerimos como forma de


que o aluno possa compreender as diversas desenvolvimento dessa habilidade a
divisões regionais do mundo adotadas ao proposição de um trabalho de pesquisa em
longo dos tempos (Metrópole-Colônia, diferentes fontes (entrevista com
Norte-Sul etc.), por exemplo, ele precisa moradores, textos etc) versando sobre
saber que, historicamente, elas são fruto de mudanças ocorridas na localidade do
relações de poder que acontecem entre aluno, destacando os interesses e os fatos
conquistadores e dominados. que as determinaram.
No capítulo do Livro do Aluno, estão Quanto à habilidade comparar o
discutidas algumas divisões regionais do significado histórico da constituição dos
Brasil e do mundo, destacando a tendência diferentes espaços, a seção Trabalho e
atual de formação de blocos regionais território destaca os processos migratórios
(Mercosul, Alca etc). ocorridos em nosso País. A migração
Sugerimos que sejam analisadas outras interna no Brasil sempre foi muito intensa.
formas de divisões regionais como, por O grande crescimento de São Paulo, por
exemplo, as divisões regionais das cidades exemplo, se deve à migração de um grande
(zona sul, zona norte etc) analisando, em número de brasileiros, especialmente
cada caso, o significado histórico de sua nordestinos, na segunda metade do século
formação e desenvolvimento. passado. Boa parte dos alunos (jovens e
adultos) faz parte desse grupo de migrantes
A habilidade analisar os processos de
ou tem algum exemplo na família. São
transformação histórica e seus
essas situações concretas que devem ser
determinantes principais pressupõe a
exploradas no desenvolvimento desta
capacidade do aluno de organizar
habilidade.
informações históricas oriundas de
diversas fontes, relacionando-as às Os alunos devem entender que os espaços
transformações ocorridas no espaço geográficos são dinâmicos, ou seja,
geográfico. Em outras palavras, esta mudam constantemente. O que hoje é um
habilidade consiste em enfrentar situações grande centro de atração, um pólo de
nas quais a capacidade de interpretação do desenvolvimento econômico, por
aluno permita ao mesmo a compreensão exemplo, poderá vir a ser um centro de
do território enquanto centro de disputa. repulsão, a partir da decadência de seu
As informações históricas podem ser modelo.
representadas de diferentes formas: textos, Sugerimos que sejam exploradas ao
gráficos, tabelas etc. máximo as situações concretas dos alunos
No capítulo do Livro do Aluno, esta como, por exemplo, migrações realizadas
habilidade corresponde à quarta seção (internas, inter-regionais, temporárias,
Conflito e território, na qual são discutidos êxodo rural, transumância etc),
conflitos oriundos da disputa de territórios, buscando, em cada caso, os motivos
dando-se ênfase aos motivos estratégicos. que os levaram a migrar, destacando o

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V. Orientação para o trabalho do professor

significado dos espaços de migração. problemas agrários do Brasil, que


A habilidade reconhecer a dinâmica da envolvem principalmente os
organização dos movimentos sociais e trabalhadores rurais sem-terra e os
a importância da participação da povos indígenas.
coletividade na transformação da Sugerimos que sejam realizadas com os
realidade histórico-geográfica consiste alunos discussões a respeito da
na capacidade de interpretar os participação da comunidade nos
problemas sociais, destacando os seus movimentos sociais e políticos
fatores determinantes e de reconhecer a (sindicato, associação de bairros etc).
importância dos movimentos sociais na Como resultado dessas discussões, os
transformação da realidade. alunos deverão apresentar uma lista de
No capítulo do Livro do Aluno, é propostas com vistas à melhoria da
discutida a relação Territórios e qualidade de vida da coletividade.
Movimentos Sociais, com ênfase nos

BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, F.; DOLHNIKOFF, M. Atlas histórico do Brasil. 2. ed. São Paulo: Scipione,
1994.
CULTURA e pensamento: erguendo muros. Disponível em: www.terra.com.br/voltaire/
cultura/muros.htm. Acesso em: maio 2002.
HUNTINGTON, S. P. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial.
Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. 455 p. Tradução de M.H.C. Cortes.
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(Repensando a Geografia).
MORAES, A. C. R.; COSTA, W. M. da. Geografia crítica: a valorização do espaço. 4. ed. São
Paulo: Hucitec, 1999. 196 p. (Geografia: teoria e realidade. Linha de frente).
SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 3.
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SIMIELLI, M. E. R. Geoatlas. 31. ed. São Paulo: Ática, 2001. 136 p.
VERÍSSIMO, L. F. A paróquia contra o mundo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 24 abr.
2002. Caderno Nacional, p. A4.

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COMPREENDER O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE COMO Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo III
PROCESSO DE OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS FÍSICOS E AS
RELAÇÕES DA VIDA HUMANA COM A PAISAGEM.

O que estamos fazendo


com a natureza
Victor William Ulmmus

No momento que atravessamos, nossa aprofundamento, mesmo porque a


principal função talvez seja envolver um intenção é discutir a questão na sua
número cada vez maior de pessoas na macroamplitude, como forma de
discussão de como a sociedade humana desenvolver uma visão que permita
tem ocupado o espaço do planeta, estabelecer relações entre problemas de
produzindo situações que se aproximam escala local, regional, nacional e global.
dos limites de sua suportabilidade A exibição dos planisférios e os
ambiental. comentários que os acompanham, assim
Por isso, a escolha foi estabelecer o como as atividades solicitadas, além das
planeta como referência, já que nele outras representações, objetivam
progressivamente se instala a sociedade contribuir para a habilidade de dominar a
humana e modificações vão sendo linguagem cartográfica por meio da
realizadas, ao longo desse processo identificação de diferentes representações
histórico. Nesse quadro, procura-se de um mesmo espaço geográfico.
estabelecer as relações entre o Pretende-se demonstrar, também, a
crescimento da população, os processos inexistência de parcelas do planeta que
de industrialização e urbanização, a não sejam afetadas por esses processos.
tomada de decisões e a produção de O destaque que se dá à questão da água,
desigualdades socioeconômicas, para do solo e do aquecimento global se
discutir a viabilidade desse sistema do deve à sua importância como recursos
ponto de vista da permanência civilizada naturais diretamente relacionados a uma
da espécie humana na Terra. de nossas funções vitais: a alimentação.
Evidentemente, a extensão da Além disso, uma significativa parcela da
abordagem pretendida e os limites do população mundial está envolvida nessa
capítulo não permitem um atividade.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

O crescimento da população é uma das orientados pelo professor, poderão


variáveis mais importantes na proposta conduzir a uma prática mais próxima
apresentada pelo capítulo, já que seus das necessidades que a realidade nos
números, consumo e técnicas irão está impondo nesse momento,
determinar a organização do espaço proporcionando elementos sólidos para
no futuro. a questão: o que fazer?
As questões sobre o problema da água A avaliação pode ser construída ao
visam a exercitar a habilidade de o longo da realização das atividades
aluno se colocar em diferentes posições propostas, debates ou de outros
sociais em relação a um mesmo elementos que venham a ser
problema, bem como discutir a questão desenvolvidos, observando-se o
ética envolvida na utilização e desenvolvimento da capacidade de
distribuição desse recurso natural. relacionar os diferentes fenômenos
Muito das atividades propostas se envolvidos e sua manifestação na
presta à realização de debates, que, formulação de propostas.

BIBLIOGRAFIA
CHIAVENATTO, J. J. O massacre da natureza. São Paulo: Moderna, 1989. 136 p., il.
(Polêmica).
COLTRINAI, L. A Geografia e as mudanças ambientais. São Paulo: Marco Zero, 1990.
HELENE, M. E. M. Evolução e biodiversidade: o que nós temos com isso? São Paulo:
Scipione, 1996. 62 p., il. (Ponto a ponto).
KURTZ, R. O colapso da modernização:: da derrocada do socialismo de caserna à crise
da economia mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 224 p. Tradução de Karen
Elsabe Barbosa.
MONTANARI, V.; STRAZZACAPA. Pelos caminhos da água. Ilustração de Zuri Morgani.
São Paulo: Moderna. 2000. 55 p. (Desafios).
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatório do
desenvolvimento humano 2001. Lisboa: Trinova Ed., 2001. 1 v.
RELATÓRIO do desenvolvimento humano 2001. [S. I.: s. n.], 2001.
SANTOS, M. O espaço do cidadão. 5. ed. São Paulo: Nobel, 2000. 142 p. (Espaços).
SANTOS, M. Por uma globalização: do pensamento único à consciência universal. 5. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2001. 174 p.

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V. Orientação para o trabalho do professor

SIMIELLI, M. E. R. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2001. 136 p.


TOYNBEE, A. J. A humanidade e a mãe terra: uma história narrativa do mundo. 2. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. 772 p. (Biblioteca de Cultura Histórica). Tradução de
Helena Maria Camacho Martins Pereira; Alzira Soares da Roch.
VESENTINI, J. W. Geografia, natureza e sociedade. São Paulo: Contexto, 1989. 91p., il.
(Coleção repensando a Geografia).
WEINER, J. Os próximos cem anos: em nossas mãos o destino da Terra. Rio de Janeiro:
Campus, 1992. 278 p., il. Tradução de Maria Ines Rolim.

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COMPREENDER A PRODUÇÃO E O PAPEL HISTÓRICO DAS Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo IV
INSTITUIÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS,
ASSOCIANDO-AS ÀS PRÁTICAS DE DIFERENTES GRUPOS E
ATORES SOCIAIS.

Estado e Direito
Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron

O capítulo trata de duas instituições experiências históricas empreendidas


fundamentais que regulam a convivência pelos homens neste terreno são as
em sociedade, o Estado e o Direito. Essas diferentes formas adquiridas pelo Estado
duas instituições permearam a história de Direito e, também, inversamente, as
da humanidade desde as primeiras suas formas negativas, isto é, as
civilizações e são centrais ainda nas experiências que não respeitaram os
sociedades contemporâneas. O tema é princípios do Estado de Direito.
bastante amplo, podendo servir como Trata-se, portanto, de reconhecer um
um fio condutor para contarmos toda a princípio e as suas variações.
nossa História, desde 5.000 anos.
A melhor maneira de reconhecer esse
princípio é identificando-o nas suas
DESENVOLVENDO A primeiras manifestações, para, em
COMPETÊNCIA seguida, apreendermos as melhorias e as
A melhor possibilidade de tratarmos um variações que foram introduzidas em
assunto tão vasto e complexo consiste diferentes tempos e lugares.
em apresentar os fundamentos históricos A referência às primeiras formas
do Estado e do Direito, identificando em republicanas de governo, Roma e Grécia,
seguida as suas variações no tempo impõe-se portanto. Esse deve ser o ponto
e no espaço. de partida do estudo: a caracterização e a
Além disso, um “ponto de fuga” para contextualização da experiência
colocarmos em perspectiva a questão democrática grega e da República Romana.
Estado e Direito é dado pela matriz do O passo seguinte seria estabelecer as
ENCCEJA: A distribuição da justiça e dos continuidades e as diferenças com as
benefícios econômicos. Ou seja, o que o demais experiências históricas, em
estudante deve reconhecer nas diversas outros tempos e lugares, observando os

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

procedimentos básicos de um método estudo desta questão deve ser o de


comparativo: cada novo caso estudado compreender em que medida o Direito
deve partir igualmente de uma descrição e tem uma função instituinte ao apoiar a
de uma contextualização precisas para que fundação e a sustentação do Estado.
possamos identificar, em cada situação Essa compreensão supõe o
histórica, como o Estado e o Direito foram entendimento do Direito como um
repensados e institucionalizados. ordenamento que, ainda que
Por exemplo: estabelecido a partir de um consenso
• Como a Igreja tornou-se um poder social, só se realiza através da força e
temporal durante a Idade Média e de que em defesa de determinados princípios
maneira o Direito canônico veio substituir, que podem ser (ou apenas parecer)
por assim dizer, o direito civil romano? consensuais.
• Em que contexto o Sacro Império Romano Esse postulado conduz a uma
recuperou o direito civil romano como interrogação importante e tão abrangente
instrumento de governo, na baixa Idade como as anteriores: de que maneira o
Média? Direito tem sido concebido, nas
sociedades ocidentais, como um
• Comparar a permanência do direito civil
instrumento privilegiado de organização
romano no Oriente até 1453 e o seu
das práticas sociais, por meio das noções
abandono no Ocidente, após a queda do
de direito e dever, de justiça distributiva e
Império Romano, em 476, seguida,
dos valores éticos e morais que as
contudo, pela sua recuperação, após o
fundamentam?
longo interregno medieval, pelos Estados
Nacionais em formação, na Idade Nesse sentido, seria útil propor alguns
Moderna. elementos de reflexão que permitam ao
estudante identificar, nas Constituições,
• Perceber como o direito romano de
não só os momentos de fundação de
gentes foi relido na Idade Moderna como
diferentes organizações sociais, mas
direito internacional, conforme os Estados
também o lugar de resolução não
Nacionais se implantaram e
litigiosa dos conflitos internos a essas
desenvolveram uma atividade diplomática
mesmas sociedades (direito civil), ou
voltada para os seus interesses
entre grupos e sociedades diferentes
expansionistas e, também, comerciais.
(direito internacional).
• Comparar o sistema romano, que estrutura
Em resumo:
ainda hoje a constituição civil da maior
parte dos países ocidentais (inclusive o 1. A perspectiva histórica deverá
Brasil), com o sistema inglês, baseado no induzir o estudante a reconhecer a
direito costumeiro ou consuetudinário. tradição jurídica romana como uma
matriz fundamentadora do modelo
Ainda dentro dessa perspectiva histórica,
ocidental e permitir, por outro lado,
um outro objetivo a ser atingido no

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V. Orientação para o trabalho do professor

exercícios comparativos em função • Identificar as situações problemáticas


de contextos históricos específicos. onde o convívio social esteja
2. Por outro lado, esta mesma ameaçado, ou onde a justiça não seja o
perspectiva histórica deverá levar o dado fundamental constitutivo de uma
estudante a reconhecer a sociedade determinada sociedade, gerando
atual como uma sociedade em desigualdade social ou impossibilitando
movimento, onde ainda se criam, a sobrevivência e a reprodução
reformam e modificam as instituições dos homens.
legais e políticas, tanto em função dos • Ser capaz ainda de criticar os
contextos de conflito (guerras argumentos e as práticas que se opõem
militares ou comerciais, por exemplo), ao convívio social e elaborar propostas
como em função dos interesses em que regenerem uma ordem social
conflito. pacífica e justa.
3. Essa perspectiva histórica levará o Uma última observação: a utilização dos
estudante, enfim, a reconhecer meios de comunicação de massa como
alternativas de intervenção em instrumento de trabalho tem a vantagem
conflitos sociais e em crises de permitir ao estudante ancorar a sua
institucionais, privilegiando a reflexão em fatos próximos da sua
resolução de tipo não beligerante experiência de vida. Contudo, essa
fundada, justamente, num consenso atividade deve ser necessariamente
jurídico fundamentado em princípios acoplada à comparação com outras
éticos e morais amplos. experiências, em outros tempos e
A complexidade aparente da questão lugares. Dito de outra maneira, essa
poderá ser facilmente “desmistificada” com atividade e a reflexão dela resultante
atividades simples, que remetam à devem se dar numa perspectiva histórica.
experiência imediata e cotidiana do aluno. Os instrumentos de trabalho devem,
Assim, a leitura de jornais poderá levar ao portanto, incluir livros de História e
alargamento da compreensão da notícia ao textos históricos.
focar a sua interpretação na questão Um conselho: não deixe de utilizar no
enunciada: o vínculo existente entre Direito seu trabalho instrumentos auxiliares,
e Estado e os interesses (particulares ou tais como enciclopédias ou dicionários,
gerais) que as leis e as instituições políticas como, por exemplo, o de Norberto
veiculam concretamente. Bobbio, indicado na bibliografia.
No final, o estudante deverá ser capaz de:
• Interpretar os textos para reconhecer e
compreender os diferentes fenômenos
históricos onde se coloca a questão do
convívio pacífico entre os homens.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

BIBLIOGRAFIA
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UnB; São Paulo: Imprensa Oficial, 2000. 2 v.
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HOBBES, T. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil.
São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Os Pensadores).
LOCKE, J. Carta acerca da tolerância: segundo tratado sobre o governo: ensaio acerca
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MARX, K. Para a crítica da economia política: salário, preço e lucro; o rendimento e
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ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social: ensaio sobre a origem das línguas: discurso
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VILLEY, M. Compendio de Filosofia del derecho. Pamplona: Ed. Universidad de
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WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 3. ed.
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COMPREENDER E VALORIZAR OS FUNDAMENTOS DA Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo V
CIDADANIA E DA DEMOCRACIA, FAVORECENDO UMA
ATUAÇÃO CONSCIENTE DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE.

Cidadania
Leandro Karnal

Esse tema possibilita uma discussão rica DESENVOLVENDO A


e bastante presente na realidade do COMPETÊNCIA
aluno. Como a sala de aula é um espaço
O texto inicia com questionamentos que
político, discutir cidadania nela é
podem ser utilizados pelo professor para a
colaborar para uma sociedade melhor
realidade do aluno. O aluno usa a palavra
para todos.
cidadão, mas, a partir de perguntas (Um
O texto do capítulo tenta explicar, em ladrão é cidadão? O banqueiro é cidadão?)
linguagem muito acessível, o significado ele pode passar a questionar seu senso
do termo cidadania e sua historicidade
historicidade. O comum sobre a palavra. Instalada a
que significaria isto? O aluno deve ser dúvida, começamos a trabalhar com o
estimulado a refletir que a idéia sobre o desenvolvimento histórico.
que é ser cidadão foi sendo construída
Os momentos principais são:
ao longo da História Ocidental. Não é
uma idéia pronta. Não é uma idéia que • Grécia Clássica
tenha “caído do céu”. Cada época e cada • Revoluções Inglesas
sociedade foram acrescentando algo na • Revolução Francesa
compreensão e prática do termo. Assim, • O Século XIX no Brasil e no Mundo
da mesma forma, o tema continua sendo
• A Cidadania no Século XX
debatido. O aluno pode ser estimulado à
percepção de que não é uma idéia fixa, • A Constituição de 1988 no Brasil
acabada e imutável mas, dinâmica e É muito importante explorar as linhas de
orgânica. O aluno deve perceber que a tempo para conseguir estabelecer
cidadania necessita da ação dele e de seqüências de antes e depois. O problema
outros. Uma das tarefas do professor da que o professor deve sempre evitar é uma
área de humanas é tentar criticar a idéia certa causalidade que a linha de tempo
de uma história automática e inevitável. estimula. Em outras palavras, o aluno vê

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

a linha como uma série inevitável de pago e cobrado de novo por uma loja), o
acontecimentos que tinham de ser aluno pode trazer para sua realidade o
daquele jeito. A habilidade do professor conceito de cidadania e descobrir muito
está também em explicar que a linha de mais do que a especulação conceitual. A
tempo é uma construção posterior, que aula pode partir da escola (a partir de
ninguém sabia o sentido e a meta dos questões como lixo, fumo em lugares
acontecimentos, como não sabemos hoje fechados, convivência com a diferença) e
o que ocorrerá amanhã. A linha de tempo tomar o bairro e a cidade como pontos
é uma referência para o aluno e, como concretos.
tal, um instrumento de compreensão. A Explorar a percepção do aluno e até do
linha de tempo não é uma seqüência senso comum dominante pode ser um
lógica de causas e efeitos! princípio, mas é importante trabalhar e
Para trabalhar, os alunos poderiam ser aprofundar tais temas. Por exemplo, o
divididos em grupos e cada grupo aluno pode ter a sensação que tudo é
trabalhar com um período. Depois, num sempre a mesma coisa e não adianta
painel coletivo ou num seminário, juntar mudar. O texto e o professor estimulam o
as conclusões. Mais do que a maioria dos oposto: as coisas mudaram muito
temas, este se presta muito à discussão e exatamente porque houve ações
a libertar o aluno da idéia de conteúdo a concretas. O estímulo à consciência de
ser decorado. Trabalhos em conjunto cada indivíduo como ser atuante e
com Português e outras disciplinas histórico é muito importante. O grande
sobre o tema cidadania são muito desafio de todo educador continua sendo
estimulantes. trazer a opinião de cada um sem
Logo após a explicação histórica, temos transformar a sala em fluxo de conversa
uma percepção do conceito na legislação em que as opiniões são apresentadas e se
brasileira, com ênfase na Constituição de passa adiante para o texto. Costurar a
1988 e suas derivações. Se houver tempo, experiência do aluno com as experiências
além dos textos indicados, o professor históricas é uma grande tarefa.
pode trazer para a sala outros artigos de Ao longo do texto, há várias atividades.
leis como o Código do Consumidor. Elas apresentam as respostas no próprio
Organismos como o Procon distribuem o texto, mas seria útil ao professor debater
Código gratuitamente e a Internet cada uma. Em particular, a interpretação
também tem o Código completo e de das figuras pode estimular muito a
fácil acesso. Alguns jornais apresentam discussão em sala. As atividades devem
um setor sobre o consumidor e os casos ser vistas não apenas como verificação
podem ser discutidos. Trabalhando com de aprendizagem, mas como uma
situações concretas (como um carnê oportunidade para aprender mais.

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V. Orientação para o trabalho do professor

BIBLIOGRAFIA
BARACHO, J. A. de O. Teoria geral da cidadania: a plenitude da cidadania e as
garantias constitucionais e processuais. São Paulo: Saraiva, 1995. 69 p.
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001. 236 p.
DIMENSTEIN, G. O cidadão de papel: a infância e adolescência e os direitos humanos
no Brasil. 20. ed. São Paulo: Ática, 2002. 175 p.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. 220p.
(Biblioteca de Ciências Sociais). Tradução de Milton Porto Cadelha.
VIEIRA, L. Os argonautas da cidadania: a sociedade civil na globalização. Rio de
Janeiro: Record, 2001. 403 p.
______. Cidadania e globalização. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 142 p.

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PERCEBER-SE INTEGRANTE E AGENTE Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo VI
TRANSFORMADOR DO ESPAÇO GEOGRÁFICO,
IDENTIFICANDO SEUS ELEMENTOS E INTERAÇÕES.

A vida cotidiana
e os impactos ambientais
Wagner Costa Ribeiro

Para compreender a dimensão ambiental esgotos, disposição inadequada de


da vida contemporânea, é preciso resíduos sólidos, áreas de risco (aquelas
relacionar diversos aspectos. No sujeitas às intempéries naturais que
capítulo, partimos da compreensão do podem trazer prejuízos materiais e,
sistema de produção hegemônico, infelizmente em alguns casos, até a
baseado no uso crescente de recursos morte de seus ocupantes), poluição do
naturais para produzir mercadorias que ar, sonora e visual. Para alterar esse
são comercializadas em várias partes quadro, que resulta em imenso
do mundo. desconforto ambiental para a maioria da
Uma idéia central do texto é a de que a população que vive nas cidades de países
acumulação do capital teve, desde a mais pobres, é preciso mais que
Revolução Industrial, o uso perdulário de planejamento. Apenas com a
recursos naturais e quase nenhuma mobilização da população local, será
preocupação com impactos ambientais. possível construir um ambiente saudável
Por isso, é importante destacar que parte que gere bem-estar e altere o padrão de
dos problemas verificados atualmente produção predominante, o qual
decorre de práticas do passado. apresenta sinais de esgotamento devido
à carência de recursos naturais vitais à
Uma outra idéia com destaque no
sua manutenção, como água doce de
material é com relação à vida urbana,
qualidade, por exemplo.
que gera impactos ambientais graves,
ainda que estes não sejam os mesmos em Com relação ao Brasil, o capítulo
todas as cidades do mundo. Em países de apresenta dados a respeito das áreas
renda baixa, ou mesmo em países de urbanizadas com enorme concentração
renda média como o Brasil, é freqüente de renda, situando o país, infelizmente,
encontrar falta d’água, ausência de áreas no grupo de países que ainda não
verdes e de coleta e/ou tratamento de conseguiu prover ambientes urbanos

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

agradáveis à maioria da população. populacional, quando comparado ao


Nesse sentido, o texto fornece subsídios total de população que as habitava.
para alertar que faltam renda e moradia Aos migrantes não resta alternativa para
para muita gente. Esses dois fatores morar senão ocupar áreas naturais que
geram pressão sobre as áreas naturais deveriam ser mantidas sem ocupação. A
dos municípios brasileiros resultando na falta de fiscalização e interesses nem
ocupação de áreas de risco, como fundos sempre conhecidos resultam em mortes,
de vale, áreas de expansão natural de perdas materiais e problemas ambientais.
corpos d’água (várzeas), áreas destinadas
São justamente as áreas de risco as que
à manutenção de mananciais, de áreas
mais sofrem com as intempéries, como
protegidas com fins de conservar a
as fortes chuvas típicas de um país
diversidade biológica.
tropical. Transbordamentos de corpos
O abandono do campo pela população d’ água e escorregamentos de encostas
rural resulta da modernização do campo afetam a população miserável que vive
promovida pela introdução de uma base em habitações subnormais (cortiços e
técnica que prescinde de mão-de-obra favelas) construídas em áreas impróprias
na agricultura, do endividamento do para a ocupação. O mais triste é que, em
produtor rural, que é obrigado a algumas favelas, já é possível encontrar
hipotecar sua terra para obter famílias que estão em sua terceira
financiamento para a produção e acaba geração, ou seja, avós, filhos e netos
refém de juros elevados, e de políticas convivendo com situações dramáticas de
agrícolas que priorizam as culturas maneira cotidiana e que não tiveram a
destinadas à exportação. Isso tudo gera possibilidade de alterar sua condição de
mais pressão sobre as cidades. Migrantes sobrevivência.
sem terra, sem ocupação e sem renda
Para quem atua no campo, o quadro é
dirigem-se para as grandes metrópoles
diferente mas também preocupante. Se
da região Sudeste, como São Paulo e Rio
for um trabalhador rural, vai enfrentar o
de Janeiro, para as metrópoles regionais
dia-a-dia do transporte em estradas mal
e para as cidades médias localizadas no
conservadas de sua cidade até as
interior. Não é por outra razão que
fazendas. Convive ainda com o uso
ocorreu uma explosão urbana em
inadequado de defensivos agrícolas,
Fortaleza, Salvador e Recife, para citar
muitas vezes manipulados sem proteção
algumas metrópoles regionais que
para mãos e rosto, ficando sujeito a
receberam migração. Entre as cidades
doenças funcionais graves que podem
médias, cabe destacar as do estado de
conduzi-lo à morte.
São Paulo, como São José dos Campos,
A queimada, prática recorrente entre
Marília, Presidente Prudente e
agricultores brasileiros de diversas
Araraquara, que também tiveram que
regiões do país, produz uma fuligem que,
alojar um grande contingente
se aspirada, acarreta problemas

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V. Orientação para o trabalho do professor

pulmonares. E a utilização de água para Este complexo cenário deve ser


abastecimento de áreas cultivadas com o interpretado de maneira otimista. Com
uso de agrotóxicos também resulta em todas as dificuldades e restrições, as
contaminação que perturba o bom temáticas ambientais ingressam no
funcionamento do organismo humano. pensamento dominante de empresários,
Alterar este quadro exposto acima é uma governos e da sociedade civil. Isso indica
tarefa urgente de todos os que desejam que estamos construindo um mundo
um mundo mais justo, no qual seja mais saudável para a maior parte da
possível a convivência com a diferença população do planeta. Afirmar o
sem mediação com a capacidade de contrário significaria esconder-se atrás
compra, como vemos em nossos dias. do muro das lamentações da
manutenção das desigualdades
Com base nestes conteúdos, um dos
socioambientais. É preciso, sim, abrir a
principais objetivos do capítulo é
voz para que outros cidadãos conheçam
problematizar a tensão entre dois tempos
os temas ambientais e participem do
diversos: o da reprodução do capital e o
debate sobre as alternativas existentes
da natureza e sua capacidade de
para minimizá-los. É preciso fundar uma
regenerar os ambientes. O primeiro quer
nova ética que responsabilize quem, de
mais e mais, o segundo não pode
fato, gera problemas ambientais e que
suportar a pressão gerada pelo primeiro.
permita a inclusão social pautada na
Os alunos também deverão se deparar dignidade e realização humanas e
com o debate a respeito das alternativas não no consumismo desenfreado
de superação dos problemas ambientais praticado atualmente.
da atualidade. Alterar essa situação só
será possível com uma renovação
DESENVOLVENDO A
drástica do sistema de produção
hegemônico, tarefa árdua que enfrenta COMPETÊNCIA
obstáculos políticos de várias ordens. O capítulo trata das habilidades e
Entretanto, ela é imperiosa e reconhecida competências do Ensino Médio que
mesmo por quem está obtendo devem levar o aluno a perceber-se
vantagens com sua manutenção. A como integrante e agente transformador
evidência disso são os tratados e do espaço geográfico, identificando
convenções internacionais sobre o seus elementos e interações. Por isso, o
ambiente que procuram regular a ação capítulo privilegia a vida cotidiana, a
humana em escala internacional, gerando partir da necessidade da reposição
restrições pautadas em argumentos material da existência, destacando a
científicos, como o aquecimento global produção de alimentos e de abrigos,
do planeta, agravado pela emissão de tanto nos ambientes da cidade quanto
gases pelas atividades humanas que do campo.
aumentam o efeito estufa.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

Para tal, foram combinadas diversas contemporâneo, envolto em um meio


fontes que permitem identificar as técnico, pleno de significados que
características do espaço geográfico, viabilizam uma série de fluxos de
como mapas, textos de apoio, gráficos, mercadorias e informações, bem como
tabelas e esquemas ilustrativos, os quais as implicações ambientais que sua
contribuem para que o leitor relacione as produção e manutenção acarretam.
implicações socioambientais com o uso Por fim, o objetivo central é permitir
de tecnologias em diferentes contextos que o leitor adquira mais elementos
geográficos e históricos. para discutir as relações da sociedade
As atividades foram idealizadas para com o ambiente e posicionar-se frente à
levar seu praticante a pensar sobre sua necessidade de conservação ambiental,
situação como ser no mundo destacando temas como abastecimento
de água e energia.

BIBLIOGRAFIA
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2001. 343 p. (Educação ambiental). Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth.
PONTING, C. Uma história verde do mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1995. 646 p. Tradução de Ana Zelma Campos.
RIBEIRO, W. C. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2001.
______. Relações internacionais: cenários para o século XXI. São Paulo: Scipione,
2000. 103 p. (Ponto de Apoio).
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
Hucitec, 1996. 308 p.

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ENTENDER O IMPACTO DAS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo VII
ASSOCIADAS AOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO, AO
DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO E À VIDA SOCIAL.

O mundo urbano
e industrial
José Geraldo Vinci de Moraes

O capítulo selecionou e priorizou alguns cotidiano, ainda vivido, de certo modo,


aspectos relevantes para o nos limites do universo urbano e
desenvolvimento do conhecimento e a tecnológico inaugurado nesse período.
formação crítica do estudante do Ensino Esse fenômeno histórico não será tratado
Médio. Por isso, para encaminhar as como uma simples continuidade temporal
reflexões sobre as transformações e progressiva da Revolução Industrial (por
proporcionadas pelo universo das isso, considerada comumente como a
técnicas, do conhecimento e da ciência, Segunda Revolução Industrial). Ao
relacionando-as com as diretrizes e contrário, se procurou justamente
conteúdos do Ensino Médio, foram demonstrar como ela é descontínua em
selecionados dois momentos históricos relação à Revolução Industrial, pois se
de reflexão que concentram diversos baseia em outras referências sociais,
desses aspectos: a Revolução Industrial e culturais, técnicas e econômicas, criando
a Revolução Científico-Tecnológica. uma nova realidade social.
Porém, a parte substancial do capítulo
está centrada nesse último item, pois DESENVOLVENDO A
foram as mudanças do final do século COMPETÊNCIA
XIX que criaram os limites e as
Deste modo, a partir da observação direta
referências da sociedade contemporânea,
da realidade em que vive, o estudante
com a qual o estudante ainda convive e,
será convidado a refletir sobre as formas
sobretudo, participa de suas radicais
como o conhecimento, a ciência, as
transformações.
técnicas e a tecnologia estão presentes no
A partir da realidade construída pela seu cotidiano e como elas interferem,
Revolução Científico-Tecnológica, o diretamente, tanto na transformação da
estudante deverá identificar os impactos natureza como nas formas de ver o
das transformações desse processo no seu mundo. O estudante deverá perceber que

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

as bases culturais e sociais do universo civilizada. E, por fim, como essas


urbano e tecnológico desenvolvido ao referências serviram para levar o modelo
longo do século XX foram lançadas em de progresso civilizador ocidental ao
fins do século XIX. Espera-se também restante do planeta, desalojando e
que o leitor perceba que foi nesse discriminando outras formas de organizar
processo de rápida modernização que se a cultura, a produção e a técnica. Deste
construiu a equivocada idéia da modo, o estudante terá instrumentos para
“naturalidade” do progresso contínuo e avaliar criticamente a superação dessa
ininterrupto, direcionado à construção de realidade e a construção da nova ordem
uma ordem social e histórica superior e social e cultural em que vivemos.

BIBLIOGRAFIA
BARRACLOUGH, G. Introdução à História contemporânea. São Paulo: Círculo do Livro,
[199-?]. 243 p. Tradução de Álvaro Cabral.
BRESCIANI, M. S. Londres e Paris no século XIX: um espetáculo de pobreza. São
Paulo: Brasiliense, 1982. 127 p. (Coleção Tudo é História, 52).
IGLESIAS, F. A Revolução Industrial. São Paulo: Brasiliense, 1982. 127 p. (Coleção
Tudo é História, 11).
MORAES, J. G. V. de M. Cidades e cultura urbana na Primeira República. São Paulo:
Atual, 1994. (Coleção discutindo a História do Brasil).
SINGER, P. A formação da classe operária. 2. ed. São Paulo: Atual, 1985. 80 p.
(Coleção discutindo a História).
SCHWARCZ, L.; COSTA, Â. M. 1890-1914: no tempo das certezas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. 176 p. (Virando Séculos).

SUGESTÃO DE FILME

TEMPOS modernos. Direção de Charles Chaplin. [S.l.: s.n.], 1936. 1 bobina


cinematográfica (85min.).
METRÓPOLIS. Direção de Fritz Lang. [S.l.: s.n.], 1926. 1 bobina cinematográfica (90 min.).
1900. Direção de Bernardo Bertolucci, [S.l.: s.n.], 1976, 1 bobina cinematográfica (239 min.).

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ENTENDER A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo VIII
CONTEMPORÂNEAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO
E SEU IMPACTO NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E DA
VIDA PESSOAL E SOCIAL.

O trabalhador, as tecnologias
e a globalização
Angela Corrêa Krajewski

O capítulo tem como objetivo analisar as DESENVOLVENDO A


alterações provenientes da incorporação COMPETÊNCIA
das novas tecnologias na organização e
A competência fundamenta-se nas
produção do espaço geográfico
seguintes habilidades:
contemporâneo e suas conseqüências
para o mundo do trabalho e para a vida • Identificar e interpretar formas de
social e pessoal. registro das novas tecnologias na
organização do trabalho e da vida
Os crescentes fluxos de informação e
social e pessoal.
os constantes avanços da ciência e da
tecnologia são marcos substantivos • Interpretar fatores que permitam
para a compreensão do século XXI. explicar o impacto das novas
A popularização das tecnologias, tecnologias no processo de
proveniente dos avanços técnicos, desterritorialização da produção
científicos e da informação, tem industrial e agrícola.
aproximado distâncias, ampliado a ação • Analisar a mundialização da economia
dos mercados e gerado profundas e os processos de interdependência
mudanças no perfil do trabalho e nas acentuados pelo desenvolvimento de
relações entre culturas e Estados. Esse novas tecnologias.
processo, que encurta distâncias, • Comparar as novas tecnologias e as
aproxima mercados e cria redes de modificações nas relações da vida
conexão imediata e virtual entre os social e no mundo do trabalho.
mais diversos países e regiões, é • Relacionar alternativas para enfrentar
chamado de globalização. situações decorrentes da introdução
de novas tecnologias no setor
produtivo e na vida cotidiana,
respeitando os valores humanos e a
diversidade sociocultural.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

Para desenvolver essas habilidades de informações e, também, às


foram empregados os seguintes transformações na tecnologia na cidade e
procedimentos: no campo. Como conseqüência dessas
• Utilização de variados tipos de questões, acreditamos que o leitor terá
linguagem como mapas, gráficos, condições de construir um novo
imagens e textos jornalísticos e conhecimento a respeito das alterações
literários. relativas ao processo de globalização e,
por sua vez, condições de refletir sobre o
• Leitura e interpretação de mapas.
seu papel como agente social responsável
Em todos os procedimentos utilizados, diante dos desafios provenientes das
esteve presente o desenvolvimento das atuais formar de produzir, consumir e
técnicas na organização do espaço agir na sociedade atual.
geográfico e na mudança do modo de
Assim, procuramos levar o aluno a:
vida das pessoas em diferentes tempos,
destacando os séculos XX e XXI. • refletir sobre o processo de
globalização e sua interferência no
Iniciamos o capítulo com uma situação-
modo de pensar e agir da sociedade
problema relativa às mudanças das
contemporânea;
exigências do mercado de trabalho em
diferentes épocas. O objetivo a ser atingido • estabelecer relações entre o processo
foi o de demonstrar que as tecnologias de globalização em curso e os
resultantes em épocas distintas pressupostos do sistema capitalista;
provocaram uma ruptura – extinguindo • compreender que a revolução técnico-
profissões até então existentes – e uma científica atual é financiada e gerida
construção, na medida em que novas pelas grandes corporações, atores
funções e profissões surgiram em principais desse processo;
decorrência do novo. • analisar as alterações ocorridas no
Nesse sentido, optamos por uma espaço geográfico, resultantes da
problematização que demonstrasse a incorporação das novas tecnologias de
influência de outras tecnologias em produção e circulação de mercadorias
outros períodos que também causaram nos serviços e nas culturas;
profundas alterações no trabalho e na • analisar alternativas que permitam
vida pessoal e social. tornar o processo de globalização mais
O caminho que optamos para desenvolver includente e solidário, respeitando os
o capítulo esteve sempre vinculado ao valores humanos e a diversidade
processo de industrialização, aos fluxos sociocultural.
de circulação de mercadorias, pessoas e

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V. Orientação para o trabalho do professor

O professor poderá acrescentar outras 5. O Fim dos Empregos? – A


atividades, relacionando as incorporação das tecnologias no setor
problematizações incorporadas ao texto produtivo que introduziu a automação
e buscando criar um ambiente de nas fábricas e modificou as formas de
reflexão a partir do que é vivido e gerenciamento no setor terciário de
percebido pelos alunos em seu modo a provocar alterações
cotidiano. Explorar imagens do passado substanciais no emprego.
e do presente de lugares da cidade onde 6. Educação e trabalho – A alteração
vivem, trabalhando com os meios de relativa à inserção das novas
comunicação e informação, agências tecnologias que exige do cidadão
bancárias e as novas tecnologias (caixas novas habilidades e competências.
eletrônicos), o uso dos celulares e das
7. As tecnologias no campo – A
linhas de telefonia fixa, o ritmo do lugar
mecanização agrícola e a aplicação de
(as modificações no trânsito e a
recursos provenientes da biotecnologia
incorporação de meios de vigilância
que têm revolucionado o campo e a
eletrônicos), os hábitos culturais (a
produção, ao mesmo tempo em que
influência da TV e da Internet), enfim o
colocam em xeque os interesses de
que permaneceu e o que mudou.
grupos econômicos controladores do
Em resumo, o capítulo está organizado setor, acima da preocupação com o
nos seguintes tópicos: bem estar das populações.
1. Introdução – Apresentação da 8. Globalização dos mercados e os fluxos
situação-problema e terminologia de transporte e informação –
utilizada pelos recursos da informática. Mudanças ocorridas ao longo do
2. A Revolução Tecnológica do Século tempo nas comunicações e que
XX – O que mudou e o que provocaram alterações de hábitos
permaneceu na organização do familiares e pessoais.
trabalho ao longo do século XX. 9. Analisando a Globalização – Reflexão
3. O Choque da Eletricidade – As diante das alterações provenientes
mudanças substanciais ocorridas a das novas tecnologias e o impacto da
partir da introdução da eletricidade globalização nos modos de produzir,
nos processos produtivos e na vida agir e pensar da sociedade atual.
social.
4. As Tecnologias Contemporâneas e a
Segunda Guerra Mundial – Alterações
resultantes do avanço das tecnologias
de informação a partir das guerras
mundiais.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

BIBLIOGRAFIA
CHESNAIS, F. (Org.). A mundialização financeira: gênese, custos e riscos. São Paulo:
Xamã, 1998. 334 p. Tradução de Carmem Cristina Cacciocano et al.
DE MASI, D. Desenvolvimento sem trabalho. 4. ed. São Paulo: Esfera, 1999. 403 p.
Tradução de Eugênia Deheinzelin.
______. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. 2. ed. Rio
de Janeiro: J. Olympio, 1999. 354 p. Tradução de Yadir A. Figueiredo.
GATTAI, Z. Anarquistas graças a Deus. 25. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997. 271 p.
GIDDENS, A. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Rio
de Janeiro: Record, 2000. 108 p. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges.
KLEIN, N. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro:
Record, 2002. 543 p. Tradução de Ryta Vinagre.
RIFKIN, J. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a
redução da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995. 348 p. Tradução
de Ruth Gabriela Bahr.
______. O século da biotecnologia: a valorização dos genes e a reconstrução do
mundo. São Paulo: Makron Books, 1999. 290 p. Tradução de Arão Scepiro.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 2. ed. Rio de Janeiro, Record, 2000.174 p.
SINGER, P. Globalização e desemprego: diagnóstico e alternativas. 4. ed. São Paulo:
Contexto, 2000. 139 p.

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CONFRONTAR PROPOSIÇÕES, A PARTIR DE SITUAÇÕES Ciências Humanas e suas Tecnologias
- Ensino Médio - Capítulo IX
HISTÓRICAS DIFERENCIADAS NO TEMPO E NO ESPAÇO, E
INDAGAR SOBRE PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS,
ECONÔMICAS E SOCIAIS.

Os homens, o tempo,
o espaço
Paulo Eduardo Dias de Mello

O capítulo foi elaborado como um DESENVOLVENDO A


instrumento de apoio ao trabalho do COMPETÊNCIA
professor e do aluno, visando a
Pensamos que o desenvolvimento
desenvolver um conjunto de
destas habilidades e competência está
competências e habilidades básicas para
ligado tanto ao conteúdo a que o aluno
área de Ciências Humanas.
tem acesso quanto às atividades de
As habilidades são: aprendizagem que ele desenvolve na sala
• Identificar os instrumentos para de aula. Por isso, não se espera que uma
ordenar os eventos históricos, simples leitura do capítulo habilite o
relacionando-os a fatores geográficos, aluno a saber realizar múltiplas tarefas e
sociais, econômicos, políticos e estabelecer relações entre os conteúdos
culturais. de forma crítica e ativa. Nesse caso, isto
• Analisar as interferências ocorridas em depende fundamentalmente de como o
diferentes grupos sociais, considerando professor decide utilizar o material que
as permanências ou transformações estará à sua disposição.
ocorridas. Apostamos que o professor possa fazer
• Interpretar realidades histórico- uso do capítulo combinando leituras,
geográficas, a partir de conhecimentos atividades e pesquisas ou utilizando
sobre economia, práticas sociais e outros recursos didáticos que tornem a
culturais. aula dinâmica, estimulando a participação
• Confrontar diferentes escalas espaço/ dos alunos. A aula pode ser um espaço de
temporais, a partir de realidades diálogo e reflexão coletiva sobre as
históricas e geográficas. diferentes vivências de cada um em
relação aos temas propostos. Daí a
• Posicionar-se criticamente sobre os
importância de propor problemas, de criar
processos de transformação políticas,
econômicas, culturais e sociais.

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Livro do Professor - Ciências Humanas Ensino Médio
e suas Tecnologias

situações e inventar novas questões que Apresentamos as diversas formas de


podem estimular o processo de construção medir o tempo elaboradas por diferentes
do conhecimento pelos alunos. sociedades ao longo da história. Os
O capítulo traz como conceitos instrumentos utilizados, os padrões e as
norteadores o tempo e o espaço. Nosso escalas de medidas variavam de cultura
objetivo foi demonstrar as diversas para cultura, de época para época. Nosso
facetas que envolvem a discussão sobre exemplo destaca a vivência do tempo de
estes conceitos, que são de importância uma nação indígena do norte do Brasil,
vital no desenvolvimento das pessoas, os Tembé-Tenetehara, mostrando como
na organização da vida social e que este povo construiu um complexo
implicam relações com a cultura e o sistema de medição do tempo pelas
poder nas sociedades. observações da natureza, chegando a
uma ótima percepção do tempo
Partimos de uma problematização que
astronômico. A comparação com outras
não se restringiu ao uso instrumental
formas de perceber o tempo
dos conceitos, em geral, voltados para o
desenvolvidas por outras culturas do
localizar-se no tempo e no espaço. Nossa
passado mostra a dimensão
problemática inicial é como nossa
antropológica da vivência temporal dos
sociedade tem sido empurrada para uma
homens.
aceleração do tempo e um virtual
encurtamento dos espaços. Este discurso Partindo dessas reflexões, chegamos ao
que aparece na mídia, como resultado da relógio, instrumento mecânico que
globalização, é uma espécie de símbolo representa, por excelência, a difusão de
da ultramodernidade. A velocidade e a uma forma de perceber o tempo como
facilidade das comunicações são vistas mercadoria, típica da sociedade
com positividade, pois representariam capitalista, urbana e industrial que surge
benefícios para todos e rompimento com a partir da Revolução Industrial. Mais
o mundo tradicional e “atrasado”. Será que simples busca de exatidão, a
mesmo assim? O que se ganha e se perde marcação do tempo pelo relógio, da
neste processo? Quem mais se beneficia? forma como passa a ser utilizada no
Além disso, a partir de quando esta capitalismo revela novos interesses em
forma de viver o tempo se tornou jogo na sociedade. É importante frisar
predominante na história? que o relógio não surge com o
capitalismo, mas é ele que difunde um
Isso nos encaminha para a discussão sobre
uso social aplicado ao controle do tempo
os diferentes tempos, as diversas formas
como mercadoria.
sociais de vivenciar a passagem do tempo e
de medi-lo. Para isso, apresentamos ao Do tempo curto dos segundos, minutos,
aluno a discussão sobre as múltiplas formas horas que preenchem um dia, chegamos
de tempo: pessoal, biológico, cíclico, ao tempo longo dos calendários. Além
geológico, astronômico, mitológico. dos conhecimentos pressupostos para

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V. Orientação para o trabalho do professor

elaboração dos calendários, buscamos vida dos alunos. Localizado o


discutir os vínculos de sua organização acontecimento no tempo e no espaço,
com formas de poder, particularmente propomos realizar procedimentos de
as religiões, que buscam o controle da contextualização, localizando as
vida social. diferentes dimensões em que o fato se
Na seqüência, apresentamos como os insere, estabelecendo as diversas
historiadores entendem, dividem e durações dos acontecimentos a ele
localizam os tempos históricos. Neste relacionados.
caso, o exercício com as linhas de Finalizamos discutindo melhor a noção
tempo é fundamental. Para isso, de espaço e suas diferentes formas de
sugerimos comparações entre a percepção: corporal, geográfica, político-
organização da linha do tempo histórico administrativa, econômica, cultural.
proposta pelos índios Terena e a linha Abordamos também o assunto dos fusos
histórica tradicional do Brasil. Da horários em exemplos cotidianos,
mesma maneira, visando a questionar os estimulando a leitura de mapas.
critérios de periodização, propomos a Para conclusão, optamos pelo retorno à
leitura e discussão sobre a Pré- História reflexão sobre a perda da dimensão do
brasileira, usando como referência a tempo e do espaço no processo de
proposta dos arqueólogos do Museu de mudanças aceleradas do mundo de hoje.
Arqueologia da USP – Universidade de Talvez este tenha sido nosso propósito
São Paulo. básico, a reflexão. Esperamos que o
Para discutir e compreender o debate capítulo contribua para que esta reflexão
sobre as diferentes durações do tempo, seja coletiva, estimulando a participação
os ritmos e níveis de duração dos dos alunos nas discussões a partir da
acontecimentos, seria interessante, análise de suas próprias vivências, de
depois da leitura, realizar algum suas preocupações e suas histórias de
exercício prático. Para esse exercício, o vida. Acreditamos que o diálogo aberto,
professor pode tomar como referências em sala de aula, pode facilitar para o
um episódio da história local ou um aluno a construção de uma melhor
acontecimento comum da história de percepção de si mesmo, nos espaços e
tempos históricos e sociais.

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