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~ REFERENCIA TI, Nelson; ROSSATO, Solange Marques; ROSSATO, Giovanio. Uma viagem pela Histéria. In: __ Psicologia do desenvolvimento. Sao Paulo: Contexto, 2017. = PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: UMA CIENCIA DO TEMPO E DA ATUALIDADE = UMA VIAGEM PELA HISTORIA UMA VIAGEM PELA HISTORIA A bistéria da soctedade e 0 desenvolvimento do homer caminbam juntos. (Vigotsk) A Psicologia é um ramo das ciéncias humanas que tem como objeto de estudo o ser humano, Possui diversas reas, cada qual com definig&es especificas, sendo 0 ser humano enfocado nas suas distintas expressdes (comportamentos, sentimentos, aces, pensamento, linguagem etc.) em. telago aos aspectos individu: |, ambiental, hist6rico, biol6gico. F No entan do do ser humano como ser concreto, autOnomo, mi diversos ele! cupagio com a em sempre esteve presente, ‘1a compre! vando em consideraga0 os seus mais ivos, para além dos que envolvem a preo- entre 0s gregos antes da era erista) do do homem foi € é uma tarefa nem sem= n sua totalidade € abarcou um proceso nentos, descobertas, desenvolvimento de ideitts, c tendéncias e de abordagens teéricas diferentes, ime 7 culturas ¢ ideologi : As reconhecida his Wundt (1832-1920), qu n 1879, realizou em Leipzi tudos de laboratério ‘ sm experimentos em Psicof logia. Esse evento foi possivel por uma série de transformagdes hist6ricas ocorriias na sc e nas relacoes que as determinam: as descobertas de novas terras, com a acumulagao de riquezas, com a transicdo para © cal {nstituiu como uma nova forma de organizacao social e econér ides de consumo das mercadorias produzidas, questionou ‘a hierarquia social fixa); a maior valorizagao € a defesa da emancipacio do homem; as descobertas no campo da ciéncia e a possibilidade desta de solucionar problemas do cotidiano humano; a produgio de novos conhecimentos (frutos da razo humana € independentes da fé) ¢ 0 €s- tabelecimento de métodos e regras para a sua claboracio, caminhando em paralelo com a necessidade por desvendar a natureza e suas leis; 0S avancos da ciéncia, tomando-se esta referencia para a visto de mundo, de homem, do que se poderia compreender como “verdade" Eno, € no contexto hist6rico social do século xix — quando o ho: mem € compreendido como um eu provide de um dominio interior, que se constitui a partir do intercimbio de suas experiéncias definidas por ‘gerais do desenvolvimento humano — que a Psicologia emerge no cenario da modernidade, comprometida com os valores prescritos que, sob alento do Tluminismo, enfatizam o papel da razio © postulam a ideia de eman- ipagio do homem. Os discursos predominantes forjam e apontam como inquestionavel (naturalizada) a relagao intrinseca entre razio, emancipa- Gao € progresso. Assim, a razio e a autorregulacao sio impetradas como condigio para o desenvolvimento do homem como individuo civilizado Em suma, a Psicologia surge em busca de resposta a muitas ques Aes, € fruto das diividas do homem modemo: quem realmente €, 0 que poderia ser, como resolver seus conflitos, qual é seu destino, o que € de fato a verdade, 0 que se deve estudar ~ sua subjetividade, o que esti dentro, ou o que se definia como realidade, 0 objetivo, o que esti fora ‘Ao longo de sua constituicao, a Psicologia contou ainda com influén- cias de teorias como a do evolucionismo do naturalista britinico Charles s descobertas € dos estudos da Fisiologia, da Neurologis, da ia, das novas teorias de comunicagdo; além da realizagi0 de estudos de cunho quantitative © qualitativo na Psicologia e da pro- ‘pagagao dos métodos clinico e experimental. E, na contemporancidade, busca romper com a dicotomia sujeito/objeto. 'A Psicologia passou por diversas transformagdes, em que ampliou, amplia € delimita suas 4reas de conhecimento, a fim de investigar novas neces Neurofisiolo expl processos| Areas € a ie desenvolvimento, Uma de suas ncia que se dedica a estu- no, € possivel encontrar um a crianga € 0 adolescente, € nvolvimento foc: lue se procurava des- adolescéncia, los, os hibitos © préprio conceito com a preocupagao com os cui imentares, 0 sono e a educacao das criangas~e c de infanc periodo peculiar do desenvoh ansiedade, a motivacao, 0 afeto ete Muitos estudiosos de Psicologia do Desenvolvimento, em set primérdios, conce: ar a inffincia € a adolescén nda que nao deixem de trazet em seu escopo a ideia de que o de. senvolvimento se processa ao longo da vi idei atualidade a forte tendéncia por trac toda a J nao enquadram essa ‘ggio, 2011: 22), Vemos na 1ento ao longo de ice, numa ruptura com a io, Cai por terra a concepeao de ir apenas a determinadas faixas No entanto, quando se volta para o senso comum, para © conheci- ‘mento popular sobre o desenvolvimento human delimitada como tansi¢2o a ser suplantada com a aquisicao ¢ o actimulo € de conhecimentos requeridos pelo 1 Essis questOes no s20 e no foram assim elencadas apenas pelo senso comum, pois como explicam as doutoras € pesquisadoras sobre Psicologia do Rio Grande do Sul, Betina Hillesheim ¢ Neuza M. de Fatima Guareschi (2007: 86), na hist6ria dos estudos sobre o desenvolvimento \°20 208 ideais de emancipacio, cujas fases so ordlenadas con- forme principios de complexidade e aperfeigoamento crescentes, assim ‘como na concep¢io do individuo auténomo, autossuficiente e universal’. Angela M, de Oliveira Almei Social do desenvoh professora da Univer si desqualificadas as conquistas dos sujeitos no decorrer de todo 0 seu Vital (com excecio do adulto), Evidencia-se a falta de dor ‘competéncias relativos a vida adulta. A infancia € a adolescéncia corro- boram as fases do “ainda nao consegue” ¢, a velhice, a etapa do “4 m0 sugerindo atrasos € perdas do desenvolvimento. ica da Psicologia do Desenvolvimento, em seu pro- cesso de construc cientifica, refere-se ao fato de estar aportada nos pa- radigmas cientificos cleterminantes na primeira metade do século Xx, em que o behaviorismo era dominante. Essa teoria depos 0 desenvolvimento de seu contexto sécio-hist6rico, centrando-o nos aspectos relativos & na- tureza do sujeito. Apos esse periodo, é possivel verificar uma perspectiva mais subjetiva, em que se passa a levar em conta as emogdes (Quadros, 2009). E mudangas visando resolver problemas priticos em prol da edu- \6d0, do bem-estar, da satide, do reconhecimento de direitos enquanto crianga, adolescente. A professora de psicologia Ma © estudo das transformacoes logia do Desenvolvi- mento humano, sint em fases. 0 periodo 1 € caracterizado como formativo (1882-1912), em que se tem a publicacao, em 1882, do livro The Mind of the Child, de Preyers, mat- cando os estudos € estimulando pesquisas na area do desenvolvimento. Surgem ainda ao final do século XIX, na Franga € nos Estados Unidos, as primeiras publicagdes especializadas e organizacdes em pro! do estudo do desenvolvimento. Os interesses de pesquisa nessa época envolviam prineipalmente a Psicobiologia, Psicologia da personalidade ¢ desenvolvimento cognitive. da Mota (2005), ao reportar Papel do selfno desenvolvimento, desenvolvi 1920 a 1939, temos um periodo de da crianga, ainda que ocoma a pul ra descrtivos e nonmativos) com interesse na firea do desenvolviment ser situadas ao per social ea do behaviorismo tiveram los sobre a percepgao, a cussio de estudos que se dedicam a invé pacidades cognitivas da cra bases bioldgicas do comport e a necessidade de destacar os historico-cultural) em que se de Com a pés-modernida: cem especifico, a busca pelo de ripidas e constantes mudangas, vida, nos seus diferentes momentos, etapas. Além disso, como sugere Mota (2005), as mudangas e a interdisciplinaridade de investigagoes abrem espago para o que se denomina ciéncia do desenvolvimento humano, que conglomera conheciment Raposo € Isolda de Ara setia compreendido cor reensio de pontos de transigio em senvolvimento, enquanto construgées culturais que mudam {que so constitutivas de realidades sociais especificas € todo social, De maneira a fundar “direitos ¢ deveres diferenciais no interior de uma populacio, definindo relagdes entre as geracdes € distribuindo poder e privilégios” (Debert, 1994: 12). Como exemplo, Guita Grin Deber, grupos de social que contribui para manter ou transformar as po cespagos sociais especificos” (Debert, 1994: 12). O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO A LUZ DE ALGUMAS CONCEPGOES do Desenvolvimento procura responder a uma série de Des suscitadas sobre o desdobramento de nossas vidas. Questoes que 's do senso comum, ou seja, de nossas compreensdes fundadas Ima grande diversidade do do que 0 promove, em nplo clos que se verifia 20 se comparar fotos lersos periods da vida. Entretanto, nem sem- ices ocorridas no que perceber ¢ se relacionar com as pessoas e com © mundo, que podem ocorrer de forma lenta, por saltos, com rupturas, continuamente. Transformagdes funcamentais para a constituigao huma na — € consideri-las pode levar a uma maior compreensio do homem, ‘As experigneias e os conhecimentos que apreendemos em nosso cotidiano nem sempre sio suficientes para dar conta de toda a comple- xidade que envolve o ser e 0 constituir-se humano. Necessita-se, pois, de uma reflexo mais sistematizada, num processo de estudo que pode considerar a sabedoria popular e, para além dela, os constructos teéricos elaborados a partir de estuclos e pesquisas cientificas ano como seu buscou € busca compreender como se dio os processos i$ ocortidas no homem, de maneira a conjecturar em que cet 0 debate sobre o que poderia reperc OW menor confluéncia para o desenvolvimento humano, ou s que deten puma a, inam as mudangas no compor- tamento do individuo ao longo do tempo. Nesse aspecto, frequentemente essa ciéncia a fim de melhor compreender 0 ser humano e ao mesmo tempo poder realizar as ages necessarias 3s ccxigéncias postadas na sociedade, expressas pelos idleais de homem, de “normal”, de média de desenvolvimento etc Essa questOes acompanham o homem nos diferentes momentos de sua vida, em relagao is mudangas que os engendram, envolvendo por qués, quando, como, em que condigdes a5 transformacSes ocorrem ou no. Além de acarretar em questdes mais especificas, como quando uma crianga comega a andar, falar, dividir os brinquedos, sobre por que ima crianca de 7 anos é diferente de outra da mesma idade; ou mesmo quando os jovens comecam a ter interesses por um trabalho, por uma profissio e quando podem decidir sobre isso; ou ainda, quais scriam os interesses de um adulto, de uma pessoa mais velha, 0 que pensa; que mudancas ocorrem com as mulheres na menopausa, dentre outtas. Respostas rest para uma maior apreensio do homem, do que vivencia, do que percorrer 0 longo de sua vida, visando contribuir para a resolucio de probl cotidianos, para desnudar decifrar a esfinge humana, as suas € dades ¢ limites. Para tanto, ele é visto de forma distinta pelas diversas abordagens teéricas que buscam explicar 0 desenvolvimento 6s diferentes aspectos que o envolvem. ‘Assim, a Psicologia do Desenvolvimento retine desde aspectos genéticos até os culturais € sociais, de modo a tecer as mudangas do individuo em decorréncia das suas interagdes internas € externas, Os estudos sao focados em fatores ambientais, hereditirios/ge- néticos (teorias maturacionais), interacionistas (interagao hereditariedade ¢ ambiente), socioculturais, entre outros, Além disso, Dinah Martins de Souza Campos (1997), escritora da drea de Psicologia da Aprendizagem ¢ do Desenvolvimento, concebe que, a partir do século xx, verifica-se a crescente necessidade da realizagio de estudos interdisciplinares. Em concomitineia com a autora citada, na visio de Maria Auxiliadora Dessen ¢ Aderson Luiz Costa Junior, professores do Programa de Pro- cessos de Desenvolvimento Humano € Satide do Instituto de Psicologi da Universidade de Brasilia (2005), pode-se falar em ciéncia do desen: volvimento numa perspectiva de estudos interdisciplinares, aplicados em compreender os fendmenos relacionados a0 desenvolvimento do tantes de estudos sto fomentadas ¢ podem colaborar udos que abarcam, reas pal Cicntificos decorrentes de diferentes disciplinas declicadas ao estudo desse proceso, na busca pelo conhecimento que resulte em priticas e teorias humano, Para tanto, conexas em prol a pessoa-contexto inserida no tempo-espago, desde a concepeio até a morte, englobando também as geragoes anteriores € posteriores” (Dessen e Costa Junior, 2005: 23) tO, na maioria das vezes, cada ciéncia ainda realiza seu 4s possibilidades de conhecer hamem, wera a desconsiderar as contribuigdes das demas. perspectiva ce Dessen e Costa Junior (2005: 21), o desenvolvimen- to deveria ser tratado sob a luz do ph reconhecimento da ia de diversas e diferentes el smo, cor lagdes, dada a sua complexidade snsOes NO poclem ser estudladas ina’, Os autores complementam mico e complexo rocesso ‘LJ de interacao entre os fatores biol6gicos e is". Quando se consiera o desenvolvimento a partir de processos, se levar em conta ldaces de interago do individuo com s das possiveis mudangas, rupturas, con- sGes ¢ perspectivas diferen: iddos sobre o desenvolvimento, npos (1997) defende que ele comeg no momento em materno ¢ fecundacio pelo espermatozoide. on (1879-1962), fildsofo, médico ¢ psicélogo francés, fa psicogenk deve-se ir até raizes ras ntro de suas determin Destaca ainda a importincia, nos estudos do desenv’ se buscar compreender 0 adul Ponto de atranque estudo da crianga, Expr € 0 desenvolvimento da que a exis do homem resultam das exigéncias do organismo, com interferéncia maturacio do sistema nervoso, com suas novas possibilidades fisiol6gicas, © do mundo externo, do social, com suas situagdes nov: Em suma, a fim de explicar o homem, em seu processo de desen- volvimento, varias teorias foram sendo criadas, muitas vezes, fra tando-o, considerando as partes que o compdem, sem contudo ‘em sua totalidade. Surge, assim, a necessidade de se delimitar o campo de atuagao da Psicologia do Desenvolvimento humano e de integrar seus estudos a uma perspectiva interdisciplinar. Angela M. Brasil Biagio (2011), Ph.D. p Madison professora em universidades no Bra ‘menta que a Psicologia do Desenvolvimento dey cas que se sucedem nao em raz20 do tempo, mas a cargo de processos intraorganismicos e fatos ambientais, incididos dentro de uma faixa de tempo. Enfatiza que 0 que pode originar a mudanga nao é simplesmente a passagem do tempo, mas o que advém durante este periodo de tempo. A autora complementa ainda que 0 objeto de estudo dessa ciéncia incide sobre processos intraindividuais ¢ ambientais que induzem a mudangas de comportamento. Para tanto, detém-se em estudar as varidveis internas € extemas aos individuos que provocam essas mudangas, esses estuidos, sob o escopo das variiveis intemas estio as discusses de teorias que dao grande importancia 2rmaturacio ongiinica, as bases gené- ticas, aos processos inatos que promovem o desenvolvimento humano. Ja as variiveis extemas reportam-se 2 influéncia do ambiente no desenvolvimento, Defensores dessa varidvel tritam da importincia dle compreender as distintas interagdes que sucedem em varios contextos em que se processa o desen- volvimento € que o afeta ii-las ocupar-se das mudan- descrever a Psicologia do Desenvolvimento indica a existéncia de tr8s con- cepgdes de desenvolvimento: 4 ambientalista, a interacionista ¢ a Na perspectiva de Mota (2005: 107), a melhor definigao de Ps do Desenvolvimento seri © estudo, através © contexto s6cio afetivas, bioldgicas ou sociais, internas ou externas ao individuo que afetam, © desenvolvimento humano ao longo da vida, nento orgiinico. O desenvolvimento, , que se caracteriza pelo apare ais, Blas sto formas de organizagao solidificando até o momento e: ectuais, afetivas ou fisiokigicas, A motivacdo pode ser lo dessas estruturas, que, ao permanecer, garante humano € compreendid« que vio se tornando progre: ivo € todo 0 sistema s, abrangendo os mi- ‘os mesossistemas — envolvem as relagdes mas (este processo de socializacao pro- dos pais de uma crianga) es € crengas, nos estilos de vida prioriza estu de desctever ‘vem postulando um conjunto de processos nos quais se da centre as particularidades das pessoas e 0 ambiente, de maneira constincia e também mudangas nas pessoas ao longo de sua vida. Nas da Bahia, Eulina Rocha Lordelo (2002), 0 psi humano na América do norte, conhecido ps de suas mais importantes contribuigdes. Dessen ¢ Costa Junior (2005: 22) defenclem que a Psicologia do Desen- volvimento deve considerar: a dindmica do ciclo da vida em sua totalidade contento histérico-cultural e a diakétca presente nos sist is presentes entre todos *. Como veremos ai |. Nesse aspecto, podemos dizer qu el dese isando a promogao de sua s mbém a integracto das dimensoes mas com a totalidade do indi assim, podendo estar em questio do desenvolvimento humano. ro dessa drea, hi pesquisadores € realizadas com referéncia ao desenvi denominagdes para indicar 0 desenvol vida, tais como: ios, fases, idades, percursos, pé pas de desenvolvimento, e1 si rel mano 20 boragio de sua aborda ‘rica. Entendemos que a escolha dos os deve vir acompanhada da cont \¢20 hist6rica dos proces- sos pelos quais se cor sformagées do desenvolvimento, mas O DESENVOLVIMENTO HUMANO: PRESSUPOSTOS BASICOS se buscar melhor compreender dleterminados episédios e fatos ranscorte, suscitam-se questOes como 1e se nascer em determinada época, sociedade, cultura, condi¢io ‘em como ocorreré ‘mostrou-se importante em determinado momento hist inclusive a const de outras teorias sobre 0 des na atualidade poucos defendem abertamente a perspecti gundo a qual o desenvolvimento da crianga, por exemplo, como algo natural, conduzido pelo maturacional, o q intervengao do adulto. Ou, ainda, sob o olhar do biol6gico, essa crianca disporia desde © nascimento das caracteristicas necessérias a0 seu de- senvolvimento, as quais iriam germinar com o tempo. Sob esse prism, uma crianga aprenderia ou nao na medida em que apresentasse as condigdes ou aptidées necessrias para tal, em conformicia- is caracteristicas hereditirias. Para a pedagoga e autora de Ponios ivimento Célia Silva Guimaraes Barros (2002: 27), isticas dos pais aos filhos”. Nesse caso, © que uma pessoa hertt de seus pais continuaria a predispé-la por toda a v Davidoff (2001: 51), a hereditariedade partilhada pelas pessoas pos: tuma série de atividades humanas diferentes: “A heranga de imensos o6rti- ‘ces cerebrais permite-nos processar vasta quantidade de informagdes hereditariedade modela o que € excl As explicagdes de XIX, pressupOem que as caracteristicas que permitiriam aos individuos me- Ihor sobreviver seriam passadas de geracio para geracao; num processo evolutivo essas caracteristicas seriam hérdadas, “Apesar de nao explicar com. icologia ¢ na biologia, chamada de psicologia evolucionista’ idad, 2006: 113, grifos no original). Para essa Psicologia, a evolugao levou-nos a ser 0 que somos, “O valor da psicologia evolucionista pode estar mais na maneira como ela di novas formas a outros tipos de pesquisa, sugerindo novas questOes que ela proporciona” 2010), pesquisador 30 _ Paicotoein 90 Distwo As elucidagoes por essa vertente enfatizam a transmissio das carac- Ceristicas do indivicluo de uma geracio para outra, determinando deste modo como ele SeUS SUCESSOS, seus fracassos, suas capacidades intelectuais, suas caracteristicas fisi is. Como j © ditado “filho de peixe peixinho €°, Com isso, 0 futuro estaria desenhade ‘mento pelos muitos tragos que herdamos. O fil6sofo Platio defendia que © conhecimento era inato € nao adquirido pela experiénc Nesse grupo de concepgdes € teorias focaliza-se a pos entender © homem como determinado biologicamente, ficando 0 am- biente reduzido a pouca ou nenhuma influéncia. Sao trazicos a baila © destacacios como predominantes na constituicao humana a sua natureza, los. Ao pensarmos na educagao escolar, por exemplo, alcance de influéncia limitado no desenvol- los psicdlogos franceses Alfred Binet e Théodore icavami 0s testes de manera srengas le herdada entre as ragas, com inferiori- za¢lo, por exemplo, dos negros. Depois vieram os estudos reforgando a iuragio, que consiste no desenvolvimento geneticamente programado das caracteristicas humanas. Na busca por explicar o desenvolvimento, por exemplo, o pediatra € psicologo desenvolvimentista nort 1901) nos Estados Unidos, por vol ncia dos fatores de maturagao sobre os fatores de aj + vhs onnneee sansa entnmtnestsetNN de desenvolvimento. Assim, amparado por métodos descritivos, reali- za observacées diretas das mudangas de comportamento concreto da crianga ¢ estabelece que estas eram possiveis com o aumento da idade, pois o que explica a exis mncia de um padrio no desenvolvimento das criangas, relativo a cada idade, seria o proceso de maturacao biologica de capacidades ¢ habilidades, que segue um cronograma herdado, numa sequéncia predefinida (Krebs, 1995). Para Gesell, 0 ciclo de vida tem inicio com a fertlizagao da célula-ovo, no titero comega o desenvolvimento e, com 0 nascimento, o processo se di numa linha de sentido da cabega aos pés, numa sequéncia de etapas. Em suma, 0 recén-nascido amadurece num primeiro momento os méisculos € nervos da face, como a visio, a audicao, o olfato; a partir dos tés mest inicio 0 desenvolvimento dos mtisculos do pescoco, da eabeca, o controle «dos movimento de brigas, 0 que promove os sucessos na busca por agarrar ‘5 objetos, € assim sucessivamente vai controlando as milos, 0 tronco, 3s emas, os pés etc. O autor firma, por exemplo, que a crianga, numa linha de crescimento previsivel, esté apta a caminhar aos 12 meses, em acordo com os processos maturacionais especificos a essa idade. papel do meio, para a abordagem deste te6rico, esta em dificult ou em facilitar os processos de maturacao. A primazia, portanto, nao est nna cultura, no social, pois © que o determina € 0 biol6gico. O desen- volvimento motor, sua preocupagao mgior, foi visto como um processo natural e progressivo, na medida em que ocorre sem a necessidade de uma atengao especifica e mais contundente do ambiente. Assim, se uma crianga estiver em condigdes adequadas de desenvoh terd a sequéncia € o ritmo de desenvolvimento ancorados pelo processo endégeno (interno) e regu- lat6rio, ou seja, pela maturacio. A disseminaco dessa abordagem te6rica contribuiu para eviar expec- tativas determin: a partir de sequéncias de mudancas no comportamento. Relegou a um segundo plano o papel das experiéncias, com 0 indicativo de que apenas com a ocorréncia da quelas mudangas seria possivel ensinar tarefas e atividades especificas. 0 estudo de Gesell foi muito utilizado na formagao académica dos cursos de Psicologia, muitas vezes como um manual, em que os alunos eram convidados a evidenciar por meio de observagdes de criangas os padres de comportamento descrtos pelo tedrico em relacao a determinada idade mento, suas ca- ticas serao relativamente no desenvolvi Outros estudos indicam que a Psicologia também envereda por compreender os mecanismos através dos quais a genética atua sobre 0 comportamento, assimilando assim os fatores biolégicos do desenvolvi- mento humano, no modo como os genes atuam. Dessen € Costa Junior (2005) exprimem que a genética do comportamento tem contributlo para ciéncia com pesquisas adequadas para estudar as decorréncias do meio ambiente, co para tanto as influéncias da hereditarie: Janet Belsky, doutora estadunidense em Psicologia clinica (2010), pontua que a genética comportamental se dedica a estudar pares de pes- soas em diferentes contextos ambientais, como, por exemplo, os idénticos, a0 comparar suas semelhangas, em relagao a determinado traco de interesse (como o desempenho intelectual) e ainda em relacao a mo gémeos em diferentes idades. Sao comuns também os estudos de adogao, com o intuito de verificar a contribuigio genética para um de- terminado trago, em que se comparam as pessoas adotivas com os seus, pais biol6gicos e com os que os adotaram. Por outro lado, hi tedricos do desenvolvimento humano que ensejam a nccessidade de considerar as interagdes do individuo com 0 ambiente ‘em consideragaio ao “I. fato de que os individuos nao sto corpos guiados por seus genes, em um ambiente vazio” (Lordelo, 2002: 14). O desenvolvimento sob a énfase do ambiente (visdo empirista) (© ambiente — palavra de origem latina ~ é definido pelo {0S OU aS COISAS, Por tO- is € morais que envolve ira, 1999: 117). Em oposigao a valorizagao do organismo, passa a ser 0 Foco para as explicagdes concementes ao de to humano. Dentro da perspecti Lem nossa forma ambientalista, 0 ambiente tem papel essen- ano. Assim, nosso desenvolvimento tem es que nos cercam, pelo que em que estudamos, a familia © aqueles com os quais convivemos. De acordo com os pesquisaclores da Universidacle de Brasil et al, (2007: 20), ha também nesta perspectiva de andlise a referéncia & abordagem empirista, em que hi o primado do objeto, sendo a experiéncia € 0 ambiente muito importantes para os processos de aprendizado. As experiéncias vivenciadas no ambiente € que vio definir os aspectos do desenvolvimento, Os ambientes em todas as suas instancias alteram as direcoes e condicdes de desenvolvimento, Os autores também chamam a atengao para o fenémeno da bidirecionalidade, em que o hom de maneira a sofrer influéncias do meio e, a0 mesmo tempo, influenci-o. A perspectiva empirista foi enfatizada pelo filosofo John Locl argumentar, em 1690, que os bebés nasceriam basicamente senvolveriam as suas caracteristicas, suas particularidades, por meio das experiéncias ambientais (Glassman e Hadad, 2006). De acordo com Barros (2002), John Watson, um behaviorista de grande influénci defesa do fundamental papel que o ambiente tem sobre a detem da personalidade do individuo, ficandlo a hereditaried ma funcao no seu desenvolvimento, Realizou estudos com criangas ¢ divulgou que clas poderiam ser moldadas a seu gosto. As olonia Cativo, medo de qualquer estimulo do ambiente, poderia ser tr tomnar qualquer tipo de especialista escolhido por ele, c lr40. O compo para os b 4, €0 comhecimento deste nao teria releviin explicar as relagdes entre 0s €: behavioristas ou comportamen papel que 0 ambiente (est optavam, portanto, por observar 0 ipenha no comportamento obser: Figorosamente Glassman e Hadad (2006) esclarecem que 0 behav aludir a varias teorias, apresentando cada uma caracteristicas singulares, todavia, com alguns elementos comuns na abordagem. O behaviorismo tem como pioneiros e colaboradores ‘Thorndike (187: (1878-1958), Pavlov (18: década na Psicologia. Os comportamentos para es rendidos. (© que se define por pe isicos do condicionamento ¢ :m contraponto aos tedricos dessa abordagem, surgem os cogni n do ambiente mais proximo de convivél neia no seu modo de ser, em seu desenvol cultura, a sociedade, podemos fe presentes do homem sobre o mundo, sobre si, engendrando oportuni fazer-se humano. Dessen ¢ Costa Junior (2005) convertem se tem como foco o curso da vida ~ de analisar a forga das imeragdes © das mudangas sociais no desenvolvimento durante a vida do homem, ou seja, dos contextos historico e cultural. Defendem uma visio sistemik considerando 0 micro € © macroambiente. ides de ser, Interacdo ambiente-hereditariedade jackad (2006) afirmam que muitas das discussoes sobre © desenvolvimento humano se orientam por uma visio interacionista do ambiente e dia hereditariedade. Assume-se inclusive que essa interagao pode ocorter descle 0 momento da concepeio. Tal tendéncia, todavia, dle acor- pede a proeminéncia de um ou outro aspecto. do com os autores, mio | ‘Adeptos dessa possivel interagio ambiente e hered mam que 0s individuos so constantemente constituidos tanto por um quanto pela outra. “A natureza e a extensio de uma influéncia sempre dependem da contribuigio da outra” (Davidoff, 2001: 51) O desenvolvimento ¢ a énfase s6cio-histérica cultural vertente natural iencias biol6gicas, mos, a partir do inicio do século xx, discusses que envolvem as forcas da cultura no desenvolvimento considerados apenas o in ‘em que se constitu, Como discutem a pés-doutor humano e profe mento de Estudos da Infanc Vera Vascone (1998; 49), ha no inicio do século xx um acitramento das discussdes acerca dos impacts da cultura no desenvolvimento humano. “Algumas abordagens psicogenéticas, que problem: a visio biologizante, questionam 0 conceito de desenvolvimento ao conceberem © a cultura como constituti Meno me © psiquismo € tomado como resultado a humanos € 05 contextos culturais, lade sao dimensoes Jo da complexa rede de relacdes estabelecidas entre os dois. Com isso, cenfatiza-se que a condicao essencial do homem € que ele é um ser social 0 € hist6rico e que constr6i e & construido, cria e é recriado mediado pelas relagdes sociais estabelecidas ao de sujeito ativo, existe um ser individual que se inscreve num ser genético. constitui também a sociedacle da qual fiz parte, através das objetivacoes humanas, do trabalho, suas acoes, que transformam a ras necessidacles hu nas de sobrevivéncia. Nesse prisma, vai também construindo seu mundo psicolégico, amparado nas possibilidades e limites, ligados a sociedade na qual ele se insere, modifica-a e transforma-se. icamente. Nessa cond Ao constitu numa, Bock (2000: 14) alerta que, a0 d social que o constitui e the da sentido, logico “[..] tornando aq no ql corremos 0 risco de “criar” normé im)possibilidades de desenvol Imente intelig mos simplesmente quando adq ico em algo natural € nudar”, Com isso, desvios, enquadramentos, rento. Entio, nao somos natu mos, desenvolvemos essas caract 6 principalmente ao sermos langados na complexa rede de relagoes per- idades c de suas condicdes objet es que n com € na sociedade. ado por Sanya Franco Ruel ogi Lucia Seidl de Moura, pés-doutora € professora da UEK) teristicas culturais do ambiente imprimem -as de seus cuidadores (parentalidade) autoras defendem, pois, que o desen- ‘icologo do, is, sefa qual ho do natural, to se dao num incira‘a romper com 0 estreito ca aparente. As mudangas ocorridas no suk Aico, inevitivel por suas relagdes socizis. do biol6gico, d proceso dis ABORDAGENS TEORICAS: __ POSSIBILIDADES DE COMPREENSAO, DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ‘mento sao produzidos quando ca Se atreve a participar nna experimentacao de sua prépria vida. (Herbert 0) A Psicologia, ao dlebrugar-se sobre o desenvolvimento humano, lang mio de diversas teorias, com metodologias, principios te6ricos diferen- tes, que centram esforgos em compreender e explicar como ocorre esse processo, de tal modo que busca decifrar o homem em seus distintos a as que percotte, englobando todo o percurso da vid desde o seu nascimento, Tais teorias esto apoiadas por concepcoes de homem, de mundo, de desenvolvimento, que nao se eximem da hist do tempo que as constituem, seja por fortalecé-las ideologicamente, para questiond-las e propor uma nova visto. Teorias que se propuseram a compreencler o ser humano, concentrando-se nos aspectos mentais, cognitivos, afetivos, psicossexuais, com relevaneia na interagao ambiente- sujelto, ainda que de maneira distinta Ao estudar o desenvolvimento humano, como aponta Dessen Costa Junior (2005), muitos tebricos o fazem a partir do estabelecimento de etapas, numa sequéncia de eventos configurados em estiigios (desde o rhascimento até a morte), 05 quais se encontram relacionados com © pro- cesso produtivo da sociedade, com a exigéncia de tarefas especificas. Para 0s autores, poderiamos compreender a trajetbria de desenvolvimento do individuo em funcio de como se organizam as interapdes entre determinado

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