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70 decibéis. Níveis de ruídos superiores a 75 dB causam danos à saúde.

Além da perda auditiva, a exposição contínua à poluição sonora pode causar


hipertensão, gastrite e lesões do sistema nervoso.” (CAPEZ, Fernando.
Legislação Especial. 2ª ed. São Paulo: Editora Damásio de Jesus, 2004,
p.137).

TÍCIO LEVATRAZ, brasileiro, solteiro, agricultor, portador do RG nº


45.856.976-4 SSP/PR e do CPF nº 945.844.226-30, residente e domiciliado
na Rua Livramento, nº 666, Bairro Espirito Santo, CEP 85801-626,
Cascavel/ PR, e-mail: ticio_levatraz@hotmail.com, vem por sua
procuradora que esta subscreve, conforme instrumento de procuração
anexo aos autos (doc. 001), vem respeitosamente á presença de V. Exa.,
ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER COM PEDIDO DE TUTELA


ANTECIPADA E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de Igreja evangélica CREIO EM DEUS PAI, localizada na praça da


Rua Livramento, Bairro Espirito Santo, CEP 85801-626, Cascavel/PR, e-
mail: creioemdeuspai@gmail.com, devidamente representado por seu
pastor, ANTONIO EVANGELISTA, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas.

I - DOS FATOS

Desde a data 06/05/2017, o autor deixou de ter um sono tranquilo e seu


merecido descanso, pois o senhor ANTONIO EVANGELISTA, pastor da
igreja CREIO EM DEUS PAI, irregularmente, na praça de confraternização
dos moradores, localizada em frente a sua residência, todas as manhãs dos
dias de domingo, a partir das 7:00 horas promove proclamações evangélicas
com volume sonoro ensurdecedor, com um megafone, promovendo cantos
de hinos de louvor, leituras bíblicas, faz tal atividade todo período matutino
dos domingos.

Importante ressaltar que referidas proclamações não são eventuais; ao


contrário, tem ocorrido ininterruptamente, e, devido ao barulho excessivo
provocado, foi necessário chegar ao ponto de constatar com seus vizinhos
que também muito incomodados com o fato continuo, buscaram através do
MÉVIO COLETIVO, presidente da ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO
BAIRRO ESPIRITO SANTO, inúmeras vezes para que então colhessem
assinaturas dos moradores para então juntar aos autos coletivamente a
indignação, tentativas essas sem êxito de resolver amigavelmente, pois, ao
entrar em contato com o Pastor, diz que promove a pregação evangélica, ‘’de
modo que não pode ser limitada e nem criticada’’.

A vizinhança, composta de pessoas idosas, pais e mães de bebês, e


trabalhadores que precisam de uma boa noite de sono para conseguir
cumprir suas tarefas diárias, se sente extremamente incomodada com os
constantes barulhos muito cedo aos domingos. É possível perceber,
portanto, a urgente necessidade de interrupção de tais ocorrências. As
noites mal dormidas do autor da ação, em consequência da balbúrdia
ocasionada, têm gerado estresse, falta de concentração, indisposição,
diminuição considerável do seu rendimento laboral.

Vale destacar, também, o teor do documento de fl. 002. In verbis:

O abaixo assinado todos residentes e domiciliados no setor do bairro


Espirito santo Cascavel – Estado do Paraná, inconformados com a poluição
sonora e ambiental promovida pela Igreja CREIO EM DEUS PAI, instalada
na praça da Rua Livramento, requerem providências legais e urgentes no
sentido de que seja proibido seu funcionamento na praça local, vez que
entendem extremamente prejudicados.

II - DO DIREITO

Preleciona o art. 1.227 do Código Civil de 2002:


"Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de
fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde
dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha."

Notamos a importância que é dada ao descanso do cidadão pela Carta


Constitucional pela leitura e análise do art. 5º, XI, da Constituição Federal.
Tamanho o relevo do direito ao repouso e ao sossego, que é possível, no
âmbito criminal, o ajuizamento de ação penal por perturbação do sossego,
que é considerada contravenção penal. Se o legislador entende que o uso de
buzina, ainda que breve, caracteriza perturbação, e até traz penalização ao
infrator, que dirá a realização de proclamações religiosas com sonoridade
em altura absurda por todas as manhas dos domingos.
Na doutrina, encontramos o respaldo de Sílvio Rodrigues, segundo o qual:

"De fato, a lei veda o uso abusivo, uso irregular, uso anormal do direito" de
propriedade. Nos ensina, ainda, o saudoso Washington de Barros Monteiro:
“São ofensas ao sossego ruídos exagerados que perturbam ou molestam a
tranquilidade dos moradores, como gritarias e desordens, diversões
espalhafatosas, bailes perturbadores, artes rumorosas, [...], emprego de
alto-falantes de grandes potência nas proximidades das casas residenciais
[...]."

De todo oportuno ressaltar, igualmente, que a jurisprudência pátria é


totalmente favorável ao pleito do autor, senão vejamos:

"AÇÃO COMINATÓRIA - REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS - DIREITO


DE VIZINHANÇA - CRIAÇÃO DE QUINZE CÃES PELA RÉ EM SUA
RESIDÊNCIA, LOCALIZADA EM ÁREA URBANA - LOCAL
INAPROPRIADO PARA O ALOJAMENTO DE TAL QUANTIDADE DE
ANIMAIS - INOBSERVÂNCIA DAS EXIGÊNCIAS LEGAIS APLICÁVEIS À
ESPÉCIE - DEVER DE REMOVER OS CÃES DO LOCAL -
RESPONSABILIDADE PELA GUARDA QUE ATRIBUI À RÉ O DEVER DE
INDENIZAR - DANO MORAL CONFIGURADO - A legislação aplicável à
espécie limita o número de animais a serem mantidos em residência
particular em área urbana. A manutenção de número superior considera-se
canil de propriedade privada, cujo funcionamento depende da expedição do
competente alvará. Não possuindo a autora a devida autorização, correta a
sentença ao determinar que reduza o número de animais, deslocando o
excedente para local apropriado. Danos morais configurados. Prova
produzida nos autos que evidencia o grande transtorno decorrente da
presença do número excessivo de animais, especialmente o intolerável
barulho produzido pelo latido dos cães, a gerar incômodos que superaram o
limite da normal tolerabilidade, atingindo o patamar de verdadeiro dano
moral. Manutenção da sentença por seus próprios fundamentos. Recurso
desprovido."(TJRS, RCív 71001656305, Porto Alegre, 3ª Turma Recursal
Cível, Rel. Des. Eugênio Facchini Neto, J. 12.08.2008, DOERS 19.08.2008)

"APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE VIZINHANÇA - INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL - ALEGAÇÃO DE PERTURBAÇÃO AO SOSSEGO -
EXCESSO DE BARULHO PROVENIENTE DE CASA NOTURNA -
INFRINGÊNCIA À LEGISLAÇÃO MUNICIPAL - NÍVEL DE RUÍDO ACIMA
DO PERMITIDO - PROVA PERICIAL REALIZADA - DANO MORAL
CONFIGURADO - Ato ilícito e nexo de causalidade presentes. Valor da
indenização mantido. Ação regressiva. Denunciação de seguradora à lide.
Observância da apólice. Cláusula geral desvinculada da apólice não tem o
condão de afastar a responsabilização da seguradora, ainda mais inexistindo
aceitação expressa do segurado. Apelos desprovidos."(TJRS, AC
70023564560, Porto Alegre, 17ª Câmara Cível, Relª Desª Elaine Harzheim
Macedo, J. 05.06.2008, DOERS 14.08.2008)"REEXAME NECESSÁRIO DE
SENTENÇA - MANDADO DE SEGURANÇA - QUADRA DE VÔLEI DE
AREIA CONSTRUÍDA AO LADO DA RESIDÊNCIA DO IMPETRANTE -
PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO - POEIRA E EXCESSO DE BARULHO -
IMPOSSIBILIDADE - APLICAÇÃO DO ART. 1.277 DO CÓDIGO CIVIL -
SENTENÇA RATIFICADA - Deve ser mantida a sentença que concedeu a
segurança para determinar a suspensão definitiva das atividades esportivas
na quadra de vôlei de areia localizada ao lado da residência do impetrante,
em razão do excesso de barulho, perturbando sua paz e
tranquilidade."(TJMT, RNS 85364/2007, Capital, 6ª Câmara Cível, Rel.
Des. Marcelo Souza de Barros, J. 19.03.2008, DJMT 02.04.2008)
"DIREITO CIVIL - RELAÇÕES DE VIZINHANÇA - PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA NORMALIDADE - RUÍDOS EXCESSIVOS E
CONSTANTES - DANO MORAL CARACTERIZADO –

I - As relações de vizinhança devem ser pautadas pelo respeito mútuo, pela


lealdade e pela boa-fé. O exercício das prerrogativas dominiais e
possessórias não pode extravasar os limites da razoabilidade e da
normalidade de molde a prejudicar a segurança, o sossego e a saúde das
pessoas que habitam as residências vizinhas.

II - O proprietário ou possuidor do imóvel deve eximir-se de atitudes


nocivas à segurança, ao sossego e à saúde das pessoas que habitam o prédio
ou a unidade vizinha, sob pena de incorrer em abuso de direito e, por
conseguinte, de praticar ato ilícito.

III - A previsão formal e isolada da convenção condominial quanto ao


padrão comercial do prédio não desqualifica a destinação residencial que
impera no campo dos fatos e do direito. Os direitos de vizinhança foram
engenhados para a regulação das relações concretas e efetivas entre
vizinhos, razão pela qual não podem ser desconsiderados simplesmente
porque, em descompasso com a realidade, a convenção de condomínio
estabelece a destinação unicamente comercial das unidades autônomas do
edifício.

IV - Se o equipamento destinado ao desempenho de atividades mercantis


provoca ruídos constantes e comprovadamente acima dos padrões
especificados pela legislação em vigor, não há como encobrir a exorbitância
dos direitos do proprietário e a consequente vulneração dos direitos de
vizinhança.

V - Como direitos imanentes à pessoa humana, os direitos da personalidade


contemplam sua integridade física, moral, psíquica, emocional e intelectual.
No plano dos direitos da vizinhança, a lei ponderou os interesses envolvidos
e priorizou a proteção ao sossego e à saúde, sobretudo visando ao resguardo
desses atributos da personalidade.

VI - Afetados o sossego e a qualidade de vida pelo barulho e vibração


incessantes provocados pelo maquinário indevidamente instalado, exsurge o
dano moral pelo comprometimento da integridade física e psíquica do
vizinho.

VII - Recurso conhecido e parcialmente provido. “(TJDFT, APC


20040110628637, 6ª T.Cív., Rel. Des. James Eduardo Oliveira, DJU
20.09.2007) (Disponível em: www.iobonlinejuridico.com.br, sob o nº
132150163).”
Como é do conhecimento geral, a deterioração da qualidade de vida,
causada pela poluição sonora, está sendo continuamente agravada,
notadamente no seio dos centros urbanos, merecendo, por isso, atenção
constante da Administração Pública e dos operadores do Direito.

E assim é porque a emissão de ruídos acima dos limites suportáveis pelo ser
humano causa-lhe sérios malefícios à saúde, como insônia, redução da
acuidade auditiva, estresse, fadiga, aumento da pressão sanguínea,
problemas nervosos e inúmeros outros efeitos nocivos.

Nessa ordem de ideias, vale conferir a doutrina especializada:

A poluição sonora pode gerar efeitos muito graves sobre a qualidade de vida
dos seres humanos e sobre o meio ambiente como um todo.

De acordo com LUÍS PAULO SIRVINSKAS, a poluição sonora pode causar


problemas graves à saúde e tais efeitos podem ser classificados em direitos
ou indiretos.

Entre os problemas direitos estão as restrições auditivas, as dificuldades na


comunicação com as pessoas, as dores de ouvido, e os incômodos, e entre os
problemas indiretos estão os distúrbios clínicos, as insônias, os aumentos da
pressão arterial, as complicações estomacais, as fadigas físicas e mentais e
as impotências sexuais.

Estudo publicado pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE destaca


como efeitos da poluição sonora a perda de audição, a interferência com a
comunicação, a dor, a interferência no sono, os efeitos clínicos sobre a
saúde, os efeitos sobre a execução de tarefas, os incômodos e os efeitos não
específicos.

PAULO AFFONSO LEME MACHADO afirma que “Como efeitos do ruído


sobre a saúde em geral registram-se sintomas de grande fadiga, lassidão,
fraqueza. O ritmo cardíaco acelera-se e a pressão arterial aumenta. Quando
ao sistema respiratório, pode-se registrar dispneia e impressão de asfixia.
No concernente ao aparelho digestivo, as glândulas encarregadas de fabricar
ou de regular os elementos químicos fundamentais para o equilíbrio
humano são atingidas (como suprarrenais, hipófise etc.)”.

CELSO ANTÔNIO PACHÊCO FIORILLO destaca o seguinte: De fato, os


efeitos dos ruídos não são diminutos. Informam os especialistas que ficar
surdo é só uma das consequências. Diz-se que o resultado mais traiçoeiro
ocorre em níveis moderados de ruído, porque lentamente vão causando
estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônia e problemas
auditivos. Além disso, sintoma secundários aparecem: aumento da pressão
arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até
mesmo impotência sexual. Acrescente-se que a poluição sonora e o estresse
auditivo são a terceira causa de maior incidência de doenças do trabalho.
Além disso, verifica-se que o ruído estressante libera substâncias excitantes
no cérebro, tornando as pessoas sem motivação própria, incapazes de
suportar o silêncio.

O tempo maior de exposição ao som também contribui para perda da


audição. Quanto maior período, maior a probabilidade de lesão.
Psicologicamente é possível acostumar-se a um ambiente ruidoso, mas
fisiologicamente não. Diz-se até que os sons mais fracos são perturbadores.
Recomenda-se que o nível acústico do quarto se situe entre trinta e trinta e
cinco decibéis, o que equivale à intensidade de uma conversa normal.

A poluição sonora é um grave problema de saúde pública que causa um


enorme prejuízo ao Estado e à sociedade, e que por isso deve ser tratada
como prioridade. FABIANO PEREIRA DOS SANTOS afirma o que se segue:
Está cientificamente comprovado que os ruídos aumentam a pressão
sanguínea, o ritmo cardíaco e as contrações musculares, sendo capazes de
interromper a digestão, as contrações do estômago, o fluxo da saliva e dos
sucos gástricos. São responsáveis também pelo aumento da produção de
adrenalina e outros hormônios, aumentando a taxa de ácidos graxos e
glicose no fluxo sanguíneo. No que se refere ao ruído intenso e prolongado
ao qual o indivíduo habitualmente se expõe, resultam mudanças fisiológicas
mais duradouras até mesmo permanentes, incluindo desordens
cardiovasculares, de ouvido-nariz-garganta e, em menor grau, alterações
sensíveis na secreção de hormônios, nas funções gástricas, físicas e
cerebrais. Ao lado dos efeitos físicos, propriamente ditos, encontramos os
distúrbios psicológicos. Existem casos de stress crônico nos trabalhadores,
onde são constatadas diversas reações do organismo, tais como, náuseas,
cefaleias, irritabilidade, instabilidade emocional, redução da libido,
ansiedade, nervosismo, hipertensão perda de apetite, insônia, aumento de
prevalência da ulcera, fadiga, redução de produtividade, aumentos dos
números de acidentes. As reações na esfera psíquica dependem das
características inerentes a cada indivíduo, do meio, e das condições
emocionais do hospedeiro no momento da exposição.

Na verdade, os efeitos da poluição sonora podem ser classificados em


reações físicas e em reações emocionais ou psicológicas. As reações físicas
são aumento da pressão sanguínea, aumento do ritmo cardíaco, interrupção
do processo digestivo, problemas de ouvido-nariz-garganta, maior produção
de adrenalina e de outros hormônios.

No caso da poluição sonora mais prolongada existem ainda outros efeitos,


como absenteísmo, incidência de úlcera, cefaleias, hipertensão, maior
consumo de tranquilizantes, náuseas e perturbações labirínticas.
As reações emocionais ou psicológicas são ansiedade, desmotivação,
desconforto, excitabilidade, falta de apetite, insônia, medo, perda da libido,
tensão e tristeza.

Corroborando estas alegações, a representação abaixo, extraída de artigo


publicado pelo Professor Néri dos Santos, da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), de forma esquematizada, bem ilustra os efeitos nocivos
oriundos do excesso de ruído sobre a saúde humana:

Efeitos Psicológicos

▪ Nervosismo.

▪ Fadiga mental.

▪ Frustração.

▪ Perturbações da atenção

e do sono.

▪ Causa irritabilidade.

Efeitos na comunicação

▪ Prejudica a qualidade do

trabalho.

▪ Dificulta a troca de informações.

Efeitos Fisiológicos

▪ Perda da audição.

▪ Dor de cabeça.

▪ Diminuição do

controle muscular.
▪ Dilatação da pupila.

▪ Aumento da produção de hormônios da tireoide.

▪ Aumento do ritmo cardíaco.

Outrossim, importa notar que o Conselho Nacional do Meio Ambiente


(CONAMA), no uso de suas prerrogativas legais – oriundas da Lei
Federal 6938, de 31/08/81 –, baixou uma norma geral sobre o combate a
“poluição sonora”, através da Resolução nº 01, de 08 de março de 1990,
estabelecendo como prejudiciais à saúde e ao sossego público os ruídos com
níveis superiores aos aceitáveis pela norma NBR 10152.
De mais, insta consignar que o artigo 3º, inciso III, alínea a, da Lei
Federal 6938, de 31/08/81, conceitua POLUIÇÃO como a degradação da
qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população; e, como
POLUIDOR, toda pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental (inciso IV).
Portanto, ressai cristalino que a requerida não pode continuar com suas
atividades da forma atual, sendo certo que deverá, para tanto, adotar
medidas de contenção dos ruídos aos valores legalmente previstos, e local
adequado.

a) Da obrigação de não fazer

Com fundamento no art. 497 do NCPC, eis que o ocorrido gerou grande
transtorno a toda a família do requerente, tem o requerente com total
interesse em cumprir com suas obrigações, mas necessário que seja
regularizada tal situação de incomodo. Não é possível viver com
normalidade sabendo que, todo domingo a pregações religiosos na praça do
bairro, atrapalhando o descanso de todos que residem próximo, visto que o
local não é nada adequado como um templo ou então igreja não podendo
usar de uma praça para realizar o que bem entender, pois para tudo á
limites.
Nesta seara, faz-se imprescindível a prestação da obrigação de “não fazer”,
de maneira que o requerido se atenha à aplicação das penalidades legais.
Esta medida visa a acarretar tranquilidade e segurança para o requerente e
sua família, assim como a vizinhança local, de que serão aplicadas apenas as
medidas legais caso vier a insistir nas suas pregações religiosas conforme
bem entender.

b) Da necessidade de antecipação da tutela

A concessão de tutela antecipada se justifica quando houver elementos que


evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo, consoante disposição do artigo 300 do Novo
Código de Processo Civil.
No tocante à verossimilhança das alegações, resta indiscutível. O fumus
boni iuris também restou demonstrado, com a percepção de que tal ato é
ilegal e que o requerente busca tão somente a sanar essas ações cometidas
contra si. Por outro lado, a demora na análise da pretensão causaria a
inexorável perda do interesse processual, vez que perpetraria a sensação de
insegurança do requerente, de ver ferido direito seu tão básico e essencial.

Diante das alegações e das provas ora acostadas, é possível a antecipação


dos efeitos da tutela até final julgamento da ação principal, ocasião em que,
por dilação probatória própria, concluir-se-á pela procedência, ou não, da
pretensão. Outrossim, a antecipação dos efeitos da tutela não acarretaria a
irreversibilidade do provimento, não subsistindo razão para seu
indeferimento.

O deferimento da medida também se submete às imposições do artigo


311do NCPC, in verbis:
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:

I – ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório da parte;

II – as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas


documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos
ou em súmula vinculante;

III – se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental


adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de
entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;

IV – a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos


fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz
de gerar dúvida razoável.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir
liminarmente.

Nos termos do artigo 497 do NCPC, “Na ação que tenha por objeto a
prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá
a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção
de tutela pelo resultado prático equivalente.”, sem prejuízo na conversão em
perdas e danos prevista pelo artigo 499: “A obrigação somente será
convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.”,
inclusive, possibilitando-se a fixação das astreintes como determinação
inibitória, que vise a garantir a obtenção do resultado, consoante
inteligência do artigo 500: “A indenização por perdas e danos dar-se-á sem
prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao
cumprimento específico da obrigação.”
Ressalta-se que o objetivo não é obrigar o requerido a pagar a multa, mas
sim cumprir a obrigação na forma específica, para que desista de seu intento
de pregar proclamações a céu aberto, em praça pública que abrange a todos
por ser local de fácil acesso, não podendo somente agradar aos religiosos
adeptos a pregação do pastor, como também há de se importar o desagrado
de uma significativa comunidade do bairro.

c) Da indenização por danos morais

Caio Mário da Silva Pereira ensina que "o indivíduo é titular de direitos
integrantes de sua personalidade, o bom conceito que desfruta na sociedade,
os sentimentos que estornam a sua consciência, os valores afetivos,
merecedores todos de igual proteção da ordem jurídica" (PEREIRA, Caio
Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense.
1998. P. 59).

Sobre o tema, preceitua a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º,


inciso X, que:
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

(...) X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;” (grifo nosso)

À luz do artigo 186 do Código Civil, in verbis, “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Para caracterização do dano moral, portanto, deve haver:

a) Ato ilícito, causado pelo agente por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência.

b) Ocorrência de um dano, de ordem patrimonial ou moral.

c) Nexo causal entre dano e comportamento do agente.


Está claro que a conduta adotada pelo requerido dá causa a grandes
transtornos para o requerente, estando indiscutível a presença do nexo de
causalidade entre seu comportamento e as consequências disto para o
requerente.

O dano moral é causado injustamente a outrem, que sem lhe atingir ou


diminuir patrimônio. Neste sentido:

“O dano simplesmente moral, sem repercussão no patrimônio, não há como


ser provado. Ele existe tão-somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo
bastante para justificar a indenização.” (TJPR - Rel. Wilson Reback – RT
681/163).

“O dano moral é presumido e, desde que verificado o pressuposto da


culpabilidade, impõe-se a reparação em favor do ofendido” (Yussef Said
Cahali, in Dano e sua indenização, p. 90).

Preconiza o Art. 927 do Código Civil que “aquele que, por ato ilícito (arts.
186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. MARIA
HELENA DINIZ (Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º vol., 9ª ed., Saraiva),
ressalva que a reparação do dano moral tem dupla função, a penal
"constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando à diminuição de seu
patrimônio, pela indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da
pessoa (integridade física, moral e intelectual) não poderá ser violado
impunemente", e a função satisfatória ou compensatória, pois "como o dano
moral constitui um menoscabo a interesses jurídicos extrapatrimoniais,
provocando sentimentos que não têm preço, a reparação pecuniária visa a
proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada."
Do valor indenizatório, visa a atender à tríplice função do ressarcimento por
dano moral, qual seja punitiva, pedagógica e reparadora, sendo importante,
para a sua determinação, a consideração da natureza do fato e seus
desdobramentos.

Depreende-se da presente que a postura do requerido é ilegal, tornando


necessária a aplicação de medida punitiva oriunda de sua realização.
Outrossim, não se olvidando da função reparadora, que busca à reparação
moral advinda dos constrangimentos experimentados pelo requerente
oriundos dos transtornos causados que excedem os meros aborrecimentos
cotidianos.

III - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A concessão da antecipação de tutela, para que o requerido se abstenha


de continuar com suas pregações ao presente horário e dia de domingo e
sem tomar as precauções para evitar a emissão de sons e ruídos acima
daqueles permitido pela legislação em vigor, observada a multa cominatória
diária necessária;

b) A designação de audiência prévia de conciliação, nos termos do


art. 319 VII, do NCPC;
c) A citação do requerido para responder a presente ação, sob pena dos
efeitos da revelia;

d) Seja julgada totalmente procedente a presente ação, com julgamento


antecipado da lide ou com sua final confirmação, para o fim de condenar o
requerido a se abster continuar com incômodos perturbatórios através das
pregações de todos os domingos até data referida, e que condene a realizar
as obras necessárias em lugar adequado para impedir a dispersão de som no
local, e corresponde indenização por danos morais, em valor a ser arbitrado
por este Douto Juízo;

e) Seja o réu condenado ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios;

f) Por fim, sejam todas as intimações, inclusive via Diário Oficial, realizadas
na pessoa da advogada que esta subscreve, com endereço profissional na
profissional na Avenida Maripá, nº 721, Bairro Centro, Marechal Candido
Rondon/PR, CEP 85960-000, e e-mail raissa_naiane@hotmail.com , sob
pena de nulidade.

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos,


notadamente pela prova documental ora apresentada, inclusive depoimento
pessoal do requerente e prova testemunhal, cujo rol será oportunamente
juntado.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 25.000.00 (vinte e cinco mil reais).

Nestes Termos, pede e espera deferimento.

De Marechal Candido Rondon para Cascavel,

12 de Outubro de 2017.

Raissa Naiane Gentz

Advogada

OAB/PR nº 4896

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