Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FRANCA
2016
NATÁLIA FRAZÃO JOSÉ
FRANCA
2016
José, Natália Frazão.
Imagens discursivas sobre Augusto nas biografias e histórias
do Principado Romano (Séculos I a.C. a III d.C.) / Natália Frazão
José. – Franca : [s.n.], 2016.
402f.
BANCA EXAMINADORA
Presidente:_________________________________________________
Profa. Dra. Margarida Maria de Carvalho, Unesp – Franca
1°Examinador: _______________________________________________
Profa. Dra. Ana Teresa Marques Gonçalves, UFG
2° Examinador: _______________________________________________
Profa. Dra. Luciane Munhoz de Omena, UFG
3º Examinador: _______________________________________________
Profa. Dra. Renata Senna Garraffoni, UFPR
4º Examinador: _______________________________________________
Prof. Dr. Vagner Carvalheiro Porto, MAE - USP
Neste momento, não quero fazer um agradecimento curto. A Tese que aqui
apresento é fruto de muitos anos de uma formação inestimável, de experiências que
me marcaram e que irão influenciar todos os próximos passos de minha vida,
pessoal e profissional.
Durante toda esta trajetória, descobri que as palavras nem sempre
conseguem expressar a essência de quem as escreve. O verdadeiro sentido, às
vezes, está nas entrelinhas, naquilo que não foi dito. Apesar disso, tentarei expor
nas linhas que se seguem, todo o meu agradecimento para aos maravilhosos seres
que me acompanharam, auxiliaram e apoiaram em um momento tão singular.
Gratidão que nem sempre expressei pessoalmente, mas que almejo demonstrar
agora.
A princípio, agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo, FAPESP, meus sinceros agradecimentos. Seu apoio permitiu-me desenvolver
minha pesquisa desde a Iniciação Científica, possibilitando, inclusive, ampliar as
fronteiras de meus conhecimentos, através da participação de congressos no
exterior e, também, com a modalidade da Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior.
Agradeço à Margarida Maria de Carvalho, orientadora e amiga. À querida
Margô, sou grata pelos dez anos de orientação, amizade e generosidade, por me
incentivar, mesmo quando eu não estava tão certa sobre o caminho a ser seguido.
Obrigada pela confiança depositada em mim e em minha pesquisa. Encorajadora e
companheira, sempre presente para ouvir e aconselhar, foi a pessoa que me
direcionou pelo caminho que hoje trilho. A isso, sempre serei grata.
Deixo, aqui, também, meus singelos agradecimentos ao Prof.Dr. Joseph
Farrell, supervisor de meu estágio no exterior junto a University of Pennsylvannia,
Philadelphia, E.U.A. Através de seu intermédio, novos caminhos se abriram e a
pesquisa desenvolveu-se por novos horizontes. Aproveito o ensejo para também
agradecer às demais pessoas que me foram muito receptivas nesse mesmo
período: Profa. Dra. Cynthia Damon, Prof.Dr. Bryan C. Rose, Prof.Dr. Grey Campbell
e a queridíssima Stephanie Palmer.
Muito obrigada aos direcionamentos e apontamentos dados à minha pesquisa
durante o Exame de Qualificação. Profa. Dra. Ana Teresa Marques Gonçalves,
Profa. Dra. Renata Senna Garraffoni e Profa. Dra. Andréa Lucia D. C. de Oliveira
Rossi. Espero ter atendido a tais questões e às expectativas em mim depositadas.
Estendo, antecipadamente, reconhecimentos aos outros membros da Banca de
Defesa: Profa. Dra. Luciane Omena, Prof. Dr. Vagner Porto, Profa. Dra. Nathalia
Junqueira, Prof. Dr. Deivid Valério Gaia e Profa. Dra. Márcia Pereira. Obrigada por
aceitarem participar dos próximos debates, enriquecendo a tese com suas valiosas
percepções.
Gratidão é o que sinto por todos os conselhos, sugestões e recomendações
que recebi de profissionais exemplares por todo o meu percurso nas linhas da
História Antiga: Profas. Dras. María José Hildalgo de la Veja, Helena Amália Papa,
Nathalia Monseff Junqueira e Érica C.M. da Silva e Profs. Drs. Pedro Paulo Abreu
Funari, Jean-Michel Carrié, Gilvan Ventura da Silva e Noel Lensky.
Ao Grupo do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano da UNESP/
Franca, obrigada!! Profas. Dras. Érica C.M. da Silva, Nathalia Monseff Junqueira,
Helena Amália Papa, Semíramis Corsi Silva, Profs. Mestres Bruna Campos
Gonçalves, Dominique Monge R. de Souza, Daniel de Figueiredo, Éliton Almeida e
graduandas Marianne e Monique Cerri. Vocês tornaram ainda mais compensador e
divertido o estudo da História.
Gostaria de deixar meu reconhecimento às várias instâncias da UNESP/
Franca que me acolheram e ajudaram, principalmente o Departamento de Pós-
Graduação e ao Escritório de Apoio à Pesquisa.
Minha gratidão aos amigos especiais: Helena Amália Papa, Dominique de
Souza, Daniel de Figueiredo, Fabrício Trevisan, Nathalia Junqueira e Érica da Silva.
Sem vocês, tudo seria muito mais sem graça! Obrigada pela companhia, pelos
conselhos, pela ajuda e, por acima de tudo, darem-me a graça de suas amizades.
À querida amiga-irmã Bruna Campos Gonçalves, uma das únicas a sorrir
constantemente. Com você, aprendi que o mundo pode ser sempre AZUL, basta
enxergá-lo desta maneira.
À Marina de Oliveira Costa, amiga, irmã, confidente.... Obrigada por me dar
uma família francana! Sem você, não conseguiria chegar até aqui.
Meus agradecimentos especiais à minha família, a qual esteve ao meu lado
em todos os momentos:
Aos meus pais, Maria de Fátima e Luís Carlos, por todo apoio, crédito e
esperança em mim depositados. Muitos dos meus passos só foram dados porque
vocês me impulsionaram...
Ao meu esposo, Ronaldo Bernardi, pela perseverança, por acreditar e por me
fazer acreditar em mim mesma. Você se manteve ao meu lado nos dias de sol e de
tormenta. Acreditou em meus sonhos e defendeu meus ideais, fez-me lutar, nunca
desistir.
Aos meus avós, Ivone, Euclides, Ana (in memoriam) e Joaquim (in
memoriam). Vocês me moldaram, ensinaram-me e mostraram-me que o melhor
tempo é hoje. Tempo em que se pode recomeçar, renovar e recriar. Obrigada pelo
seu amor. Amo-os com todas as forças!
À minha madrinha, Maria de Lourdes, pessoa iluminada, amante da História e
da Arte. Sua paixão é espantosa e, sua luz, contagiante.
À Katya, minha irmã por escolha. Sem você e sua família, não seria possível
o desenvolvimento de grande parte desta pesquisa. Obrigada por me ajudarem a
criar e a cuidar dos “os anjinhos”, por estarem presentes quando eu não podia estar.
Meus passos ainda são recentes quando comparados com os de todos que
estiveram ao meu lado. Espero que um dia eu possa orgulhá-los na mesma
proporção que me orgulho de vocês! A todos vocês, minha gratidão!
JOSÉ, Natália Frazão. A Imagens Discursivas sobre Augusto nas Biografias e
Histórias do Principado Romano (Séculos I a.C. a III d.C.). 2016. 401f. Tese
(Doutorado em História) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016.
RESUMO
ABSTRACT
RÈSUMÉ
En ce moment, nous nous proposons d’analyser les images discursives sur Auguste
parmi les biographies et histoires de la Principauté romaine, du I er siècle av. J.-C. au
IIIe s. ap. J.-C. Dans ce but, nous avons sélectionné l’oeuvre de Velleius Paterculus,
Histoire romaine (du Ier siècle av. J.-C. au Ier s. ap. J.-C.), les biographies de
Plutarque de Chéronée, César et Antoine (Ier et IIe siècles ap. J.-C.), les biographies
de Suétone (Caius Suetonius Tranquillus), Vie de Jules César et Vie d’Auguste (Ier
et IIe siècles ap. J.-C.), les écrits de Florus (Publius Annius Florus), Épitomé de Tite-
Live (Ier et IIe siècles ap. J.-C.), et, finalement, l’oeuvre de Dion Cassius, Histoire
romaine (IIe et IIIe siècles ap. J.-C.). Par ce corpus documentaire, il est possible de
faire une comparaison entre les images discursives sur cet empereur Julio-Claudien.
Celles-ci ont été élaborées dans différents contextes , à travers plusieurs abordages
et, selon notre compréhension, à partir de multiples motivations de ces auteurs.
D’ailleurs, on peut comprendre comment les figures de Jules César et Marc Antoine
sont utilisées dans ces créations sur Auguste : le premier représente le modèle à
suivre pendant que le dernier symbolise son antithèse. Dans cette analyse, nous
partons de la présupposition que les éléments de la société de la Principauté
Romaine ne sont pas homogènes et que les différences entre les récits, ainsi que les
similarités, nous mènent aussi à la légitimation de la structure politique de la
Principauté romaine.
Michel Foucault
Introdução 14
INTRODUÇÃO
1 Trata-se da obra Vírgílio e o Segundo Nascimento de Roma, cuja primeira publicação foi em
1985.
2 Susan Walker e Andrew Burnett são os autores da obra The Image of Augustus, publicada em
1981.
3 Em sua obra The Power of Imagens in the Age of Augustus, datada de 1988.
4 Em seus estudos intitulados The Urban Image of Augustan Rome, de 1996.
5 Destacamos que nossa pesquisa de doutoramento apresenta certa continuidade com as
Quando Júlio César faleceu, nos Idos de Março do ano de 44 a.C., o seu
sobrinho neto, Caio Otávio, contava com pouco mais de dezoito anos. A
princípio, como ressalta o pesquisador Zanker (1989, p. 31), não parecia ter
grandes chances de desempenhar um papel relevante no complexo jogo
político romano. Sua jovem imagem aparecia, de certa forma, apagada. Até
então, não se constituía uma figura imponente, nem possuía nenhuma
reputação pública ou, ao menos, algum prestígio militar. Com efeito, segundo
Galinsky (1996, p. 21), no campo da vida pública, Otávio não detinha nenhuma
experiência, estatuto ou influência: era, de resto, muito jovem para tal. Além
disso, mesmo a sua constituição física não lhe atribuía nenhuma atenção: era
de estatura baixa, de corpo frágil, já debilitado pelo assombro de algumas
enfermidades. No campo militar, não havia desempenhado, até então, grandes
funções. Segundo Erich Gruen (2005:34), o jovem filho de Átia e de Otávio teria
acompanhado seu tio-avô, Júlio César, durante algumas campanhas na
Hispânia, onde suas façanhas foram de pouca repercussão. Ainda, de acordo
com o autor, Otávio, após participar de tais disputas, teria sido enviado a
Apolônia onde usufruiu de ensinamentos sobre as artes liberais e sobre os
artifícios da retórica, lá permanecendo até a morte de seu futuro pai adotivo.
Caio Júlio César é um importante personagem político do cenário
republicano romano. Nascera no seio de uma antiga família de patrícios, os Iulii
Caesarii, por volta de 100 a.C7. Era herdeiro de Mário, opositor de Sila.
Conforme Luciano Canfora (2002, p. 34), Júlio César desempenhou inúmeras
funções: iniciou carreira militar desde muito jovem, passando a desempenhar
diversos cargos e magistraturas no seio da administração romana. Com isso,
ascendeu politica, militar e socialmente. Como nos demonstra Zvi Yavetz
(1983, p. 44), César mostrou-se um excelente estrategista político,
característica que pode ser exemplificada pela formação do Primeiro
Triunvirato Romano onde passou a figurar como um dos principais homens em
meio à sociedade romana. Por conseguinte, é após a desagregação deste
pacto governamental, que as ações de César aparecem com maior destaque.
Nesse momento, sendo o único, com exceção do Senado, frente ao governo de
7
Autores antigos, como Veléio (História Romana II, 41) e Plutarco (César 69,1), colocam seu
nascimento no mês de julho, entre os dias 12 e 13. O nome deste mês seria em sua
homenagem.
Introdução 17
Roma, inicia as bases do sistema político que, a partir de seu herdeiro, viria a
ser chamado de Principado Romano.
Neste cenário, também podemos encontrar a figuração de Marco
Antônio. Este, como salientam Andrew Lintott (1994, p. 13) e Sandra Citroni
Marchetti (2004, p. 10), nascido por volta de 83 a.C., era filho de Marco Antônio
Crépido, neto do orador Marco Antônio assassinado por Mário, em 86 a.C. Sua
mãe, Júlia Antônia, era uma prima distante de Caio Júlio César. De acordo com
Eleanor Huzar (1978, p. 23), a primeira função militar desempenhada por
Antônio é sob o comando de Aulo Gabínio, em uma missão em terras sírias. A
partir de então, tal personagem teria se destacado nos inúmeros campos de
batalha, conquistando, por conseguinte, um lugar em meio às tropas de Caio
Júlio César.
Suas habilidades e competência nos assuntos militares o elevam a um
papel de destaque dentro do exército o que faz com que, segundo John
Ramsey (2003, p. 551), Antônio e César criem uma certa relação de amizade.
O militar romano transforma-se em uma espécie de braço direito de César,
passando a assisti-lo em inúmeros assuntos, participando e comandando
muitas operações militares do general. Ao fazer parte do círculo mais íntimo de
César, coloca-se em evidência perante a sociedade de seu tempo e, sob a
influência do general, começa a adquirir seus primeiros cargos políticos, tais
como a nomeação como cônsul8, magistratura que desempenhava no
momento do assassinato de César e que o colocava em destaque em meio à
administração romana. Seus traços físicos, assim como sua força e virilidade,
são elementos que aparecem evidenciados tanto nas descrições antigas, de
autores romanos (tais como o próprio Plutarco), quanto na historiografia atual.
Isso porque, desde o período em que viveu, parece-nos haver um certo senso
comum sobre suas atribuições físicas, as quais sempre o colocam como um
8
Magistratura suprema estabelecida pelos comícios curiatos. Os cônsules, sempre eram
eleitos dois, agiam depois de consultar o Senado, tendo o direito de convocá-lo e presidi-lo,
assim como executar seus decretos e apresentar propostas de leis.Também podiam convocar
comícios e presidi-los. Podiam concluir tratados com os inimigos em prévio acordo com o
Senado; recebiam e apresentavam à instituição senatorial soberanos e embaixadores
estrangeiros. No âmbito militar, podiam mobilizar legiões, fixar o contingente dos aliados,
comandar o exército e dirigir as operações militares.
Introdução 18
homem de bela presença. Este senso perdurou por séculos, sendo assimilado
e representado de inúmeras formas, chegando aos dias atuais.
Em suma, no momento em que o jovem Otávio chega a Roma, este não
apresentava nenhuma das características de Júlio César ou mesmo de Marco
Antônio, homem em plena ascensão nos meios político e militar romano.
Assim, caberá a Otávio construir sua imagem pública e política de uma forma
totalmente distinta. Se nada possuía no campo da intervenção na vida pública,
do prestígio junto ao povo ou na aristocracia romana, do brilho militar ou nos
desempenhos de atividades institucionais, recorrerá a recursos da vida política:
utilizará da legitimação, através das heranças hereditárias e tradicionais
romanas.
Para Paulo Alberto (2004:34), o fato de Júlio César tê-lo adotado, meses
antes de morrer, em seu testamento, conferia a Otávio, além da herança de
seus espólios e bens materiais, o status de herdeiro político. Este pode ter sido
um dos principais elementos para a ascensão política, social, econômica e
militar daquele que agora passará a ser chamado, por muitos, de Caio Júlio
César Otaviano9. Como coloca mais uma vez Galinsky:
Para evitar confusão com, bem, Caio Júlio César – não havia
um jeito de designar um filho como Júnior – Cícero e outros
contemporâneos a ele passaram a se referir a ele (Otávio),
além de chamá-lo informalmente por Jovem César, como Caio
Júlio César Otaviano, devido a sua verdadeira descendência.
Precisa ser destacado que Otávio nunca utilizou este nome
para tratar de si mesmo. (GALINSKY, 2011, p. 16).
9 A fim de evitarmos certos anacronismos, faremos uso do termo Otaviano quando nos
referirmos ao período entre 44 e 27 a.C.
Introdução 19
10 Na mitologia greco-romana, Anquises foi um príncipe troiano, primo do rei Príamo. Era tido
como o amante mortal de Vênus (Afrodite para os gregos), e, com ela, gerou Enéias,
sobrevivente da guerra de Troia e antepassado de Rômulo e Remo, fundadores de Roma.
11 Lembramos neste momento que a deusa Vênus não foi utilizada exclusivamente pela família
Júlio-Claudiana. Como exemplo, podemos citar Sulla e Pompeu, personagens romanos que
também se utilizavam da figura desta deusa para a legitimação de suas famílias e, por
conseguinte, sua própria legitimação perante a sociedade romana.
Introdução 20
no arco temporal do Principado Romano com o qual nos propomos a trabalhar. Por
conseguinte, propõem-se a escrever Biografias e Histórias de Roma, gêneros com os quais
trabalhamos e a que pretendemos dar continuidade. O autor Tito Lívio, apesar de se encontrar
em um período muito próximo dos autores aqui selecionados e de ser o escritor de uma
História de Roma, não foi por nós escolhido, pois os volumes de sua obra Ab Urb Condita,
onde encontraríamos as referências aos personagens romanos Júlio César, Marco Antônio e
Augusto estão perdidos, só existindo alguns fragmentos que foram reunidos em um único
volume, chamado de Periochae, em um momento bem posterior àquele em que a obra foi
cunhada.
Introdução 26
20 Entendemos tradição em seu significado mais amplo, ou seja, trazer, entregar, transmitir,
ensinar. Logo, tradição é a transmissão de fatos culturais de um povo, é a sua memória
cultural. É um conjunto de ideias, símbolos, práticas e representações que permeiam uma dada
sociedade, sendo passados entre as gerações de seus habitantes.
Introdução 28
21 Neste ponto, agrupamos nossos autores por modelos de escrita adotados e não por
períodos.
22 Sobre isto, falaremos posteriormente, no decorrer de nosso Primeiro Capítulo.
Introdução 29
ser vistos como algo inocente. A ação de não recordar, de retirar das linhas da
História determinados dados, acontecimentos ou personagens, possui em seu
cernes inúmeras intenções e motivações.
De acordo com Harriet Flower (2006, p. XIX.), sanções contra a memória
na cultura romana são algo profuso, que possuem múltiplas facetas e
ramificações em várias partes desta sociedade. Constituiem-se em uma forma
de legitimação pessoal, em meio de ascensão social, quando não em modo de
estruturação de todo um sistema político e social, tal como o Principado
Romano. Não nos referimos aqui apenas ao damnatio memoriae23, que trata de
apenas uma parte, de aspecto formal e basicamente político, de todo um
fenômeno complexo que abrange o esquecimento em Roma.
Pelo contrário, ao tratarmos de Roma e do ato de não recordar,
tentamos abranger suas complexidades e suas diversificadas formas de
expressões que podemos enxergar não só nos monumentos arquitetônicos,
nas pinturas, ou mesmo na cunhagem de moedas, mas também em meio aos
escritos literários de gêneros variados, tais como as biografias e as
denominadas Histórias. No decorrer de nossas pesquisas anteriores,
verificamos que o ato de esquecer não ocorre de maneira única ou direta.
Aparece também de forma velada, até mesmo sutil, nas linhas daqueles que se
propõem a narrar a trajetória histórica romana. O esquecimento, ou melhor, o
por quê de ele ocorrer, ou de algo não ser mencionado, muito nos interessa
quando tratamos das figuras de Augusto, Júlio César e Marco Antônio. Os
jogos de memória, o lembrar e o esquecer, são recorrentes quando analisamos
as vidas destes personagens. Ao mesmo tempo, atos honrosos e desonrosos
são esquecidos, não lembrados, na tentativa de se criarem bons e maus
governantes, de se legitimar o Princeps e, por conseguinte, o Principado.
A era augusteana mudou a maneira do tratamento da memória de tais
homens: enquanto as memórias de Augusto e Júlio César eram glorificadas, os
esquecimentos sobre Antônio tinham início. Suas imagens pessoais, públicas e
políticas passaram por modificações. No caso de Antônio, a sua lembrança é
23 Termo em latim que quer dizer “danação da memória”, no sentido de remover da lembrança.
O significado da expressão damnatio memoriae e da sanção era cancelar todos os vestígios
dessa pessoa da vida de Roma, como se nunca tivesse existido, para preservar a honra da
cidade.
Introdução 33
mais denegrida do que a dos outros dois, haja vista, o Senado que atacou sua
imagem pública, após a derrota na batalha de Áccio (31 a.C.), suas estátuas e
inscrições passaram por sanções e sua família foi proibida de usar o
praenomen Marcus. (FLOWER, 2006, p. 116). Tais ações refletiam o cenário
da época e suas repercussões perpetuaram-se em séculos posteriores, sendo
contatas e recontadas, apresentando não só peculiaridades como também
reminiscências.
Trabalhando nessa perspectiva, abordaremos as obras e as opiniões
propagadas pelos nossos cinco autores: Veléio, Plutarco, Suetônio, Floro e
Dión Cassio. Além de suas próprias convicções, certas ideias foram
transmitidas através do tempo, difundidas em meio à sociedade romana,
atingindo pessoas diferentes, de origens diversas e ordens sociais distintas. As
diferenças são aparentes em meio às obras dos autores aqui analisados,
divergências estas que podem ser dadas pela própria diversidade do Império
Romano. Entretanto, há pontos que se assemelham, convergem-se. Dentre
tais, encontramos a idealização da imagem de Augusto, a maneira como este
Imperador é relatado, o modo como sua lembrança é retratada, como a
memória deste personagem é construída concomitantemente aos
esquecimentos. Em outras palavras, os jogos de memória existentes em torno
deste personagem, assim como ocorrem com as figuras de César e Antônio.
Ao apresentarem aspectos semelhantes nas representações sobre
Augusto, Júlio César e Marco Antônio, notamos que, além de nossos autores
compartilharem de certos elementos memoriais sobre tais homens, também se
apresentam como detentores daquilo que chamamos de hibridismo cultural.
Neste quesito, concordamos mais uma vez com Burke (2003, p. 28), o qual nos
fala que culturas distintas não permanecem imóveis. O que ele chama de
práticas híbridas (2003, p. 28) – a fusão ou assimilação de práticas culturais
semelhantes em culturas consideradas distintas – podem ser identificadas na
religião, na música, na linguagem, nas festividades, nas artes, na literatura e,
até mesmo nas questões ideológicas e nas práticas sociais. Logo, mesmo
homens de sociedades consideradas distintas podem partilhar concepções
semelhantes acerca de determinados pontos, sobre determinadas questões,
tais como encontramos em Veléio, Plutarco, Suetônio, Floro e Dión Cassio.
Introdução 34
Considerações preliminares
Muito se discute sobre o que seria História e qual seria o papel daquele
que se dedica a estudá-la. Desde o surgimento do vocábulo histor, na Grécia
antiga do século V a.C., suas definições e aplicações são constantemente
debatidas, transformadas e reformuladas. Seus sentidos e suas funções
alteram-se de acordo com o período onde o conceito de História está sendo
pensado. Transformam-se de modo a adaptar-se àquele momento específico,
às necessidades e concepções daqueles que os formulam. Contudo, certos
pontos, ao tratarmos de História, não se alteram. Em todos os momentos, esta
é relacionada à análise do passado, ao estudo daquilo que não mais podemos
atingir. O que se transforma é como enxergamos este passado e o modo como
o representamos ou o interpretamos.
A escrita da História na Antiguidade, principalmente realizada por gregos
e romanos, abrange cerca de 900 anos, partindo de Heródoto e suas Histórias
(Grécia – século V a.C.) e culminando na tardo-antiguidade, onde encontramos
expressões tais como as Res Gestae de Amiano Marcelino (século IV d.C.).
Neste arco cronológico, escritores diversos, procuraram compor diferentes
espécies de registros, em uma variedade de formas, tanto de tempos passados
como de suas próprias épocas. Desta multiplicidade de escritos, apenas uma
1 Na análise dos gêneros literários, não nos ateremos à ordem cronológica das obras de
nossos autores. Daremos início às nossas colocações a partir das considerações acerca do
gênero História, onde se encaixam Floro e Dión Cassio, passando pelos vários estilos de
Veléio e culminando nas acepções sobre as escritas biográficas, que aqui têm como seus
expoentes Plutarco e Suetônio. Estabelecemos tal ordem pois, em nossa visão, o Fazer
História na Antiguidade possui em seu cerne não só o gênero História, mas também inúmeros
outros, como pretendemos explicar no decorrer deste capítulo.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 39
2 Optamos, neste capítulo, por nos atermos às características próprias a cada obra de nossos
autores. Desta forma, voltaremos nossa atenção para estas, sem nos ater, propriamente, as
concepções universais e já muito debatidas sobre como se deu o nascimento do gênero
histórico e biográfico na Antiguidade.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 40
Não sabemos ao certo a data em que Veléio escreveu a única obra com
a qual hoje temos contato. Para muitos pesquisadores, isso ocorreu no
intervalo temporal sobre o qual não temos substanciais notícias em relação à
carreira política do autor, ou seja, de 14 d.C. até o possível ano de sua morte,
em 31 d.C.
Para G. V. Sumner (1970, p. 284) e Anthony John Woodman (1975, p.
275), ao dedicar a obra a Marco Vinício3, o próprio autor nos fornece indícios
sobre a data em que produz seu relato. Vinício inicia seu consulado em janeiro
do ano 30 d.C., sendo assim, Veléio teria começado a produzir no momento de
sua nomeação, no verão de 29 d.C. Esta suposição pode ser corroborada
pelos dados que o próprio autor relata, os quais terminam com a morte de
Lívia, mãe de Tibério, ocorrida em 29 d.C.:
3 Mesmo estando o prefácio original perdido, Veléio sempre nos recorda em meio a seus
escritos que a obra é dedicada a Marco Vinício. Para a historiografia aqui analisada, tal
dedicação tem seu quê de mistério, uma vez que as informações encontradas sobre a relação
entre o autor e Vinício são restritas. Sabemos que este intercedeu pelo autor nas eleições de
14 d.C. para Pretores. Esta pode ser uma das razões da obra ter-lhe sido dedicada.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 41
4 Termos de cunhagem moderna como Estado, Pátria e Nação podem ser encontrados em
meio às traduções de que fazemos uso. Sabemos que tais termos podem não ser aplicados, de
forma integral, na análise das sociedades antigas, o que nos leva a crer que estes, pelos
menos em parte, não foram utilizados pelo autor no ato da escrita, sendo frutos das inúmeras
traduções e edições do documento veleiano.
5 Públio Vinício até 1 de julho do ano 2 d.C. Tibério retornou a Roma um pouco antes do
maioria das vezes, diferentes em seus cernes. Desta forma, tratar-se-ia de uma
obra híbrida, com vários padrões de escrita.
10 Muitas vezes, o orador chegava a ser indicado pelo próprio Imperador, o que pode significar
que a maioria dos discursos teria o seu conteúdo orientado por declarações políticas
direcionadas pelo governante.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 46
13 O autor parece ter utilizado os Commentarii de Augusto juntamente com a Res Gestae na
composição dos relatos sobre a vida deste Imperador e de seu Principado.
14 Este autor romano também é muito referenciado na obra suetoniana. De acordo com Antônio
da Silveira Mendonça (2007, p. 37), este homem era um militar que serviu sob o comando de
César, participando, inclusive das campanhas nas Gálias e na Bretanha. De suas inúmeras
obras, citadas tanto por Veléio quanto por Suetônio, nada nos chegou aos dias de hoje.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 52
15
O manuscrito original em latim é citado pela historiografia como (M), a primeira cópia
realizada recebe a alcunha de (R) e a primeira edição, editio princeps, é nomeada por (P). O
apógrafo de Amerbach é citado como (A). Estas titulações explicativas aparecem,
normalmente, nas traduções da documentação veleiana.
16 Desiderius Erasmus, também conhecido como Erasmus de Rotterdam, foi um humanista de
origem holandesa, além de agostiniano e teólogo. Era um erudito, responsável por uma nova
edição do Novo Testamento, além de ter escrito O Elogio da Loucura, obra muito apreciada.
Viveu durante o período da Reforma, tendo criticado certas crenças cristãs de sua época. Sua
defesa a favor do livre-arbítrio enfureceu tanto cristãos como protestantes, colocando-o, de
certa forma, em atrito com Lutero.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 53
Septício congratulando-o pela escrita de seu trabalho sobre os sonhos e presságios que
levaram o Imperador ao poder (História Romana LXXII 23, 1)
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 56
22 Dión relata que passou dez anos recolhendo documentos para seu relato, enquanto a escrita
foi desenvolvida por doze anos. (História Romana LXXIII 13, 2)
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 57
Há, também, vestígios de que Dión dividira sua obra por décadas.
Galinsky (2007, p.373.) salienta que, se repararmos em certos aspectos do
relato cassiano, é possível visualizar que o volume XLI tem início com a Guerra
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 58
23Dión nasceu em Nicéia, na Bítinia, entre 155 e 163 d.C. Sua inserção em Roma teria
ocorrido por volta de 180 d.C., quando temos relatos de suas primeiras funções em meio à
sociedade romana. Sobre este ponto, retomaremos no decorrer do Segundo Capítulo.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 59
Assim como acontece com grande parte das obras antigas, as palavras
de Dión Cassio não nos chegaram completas. Dos oitenta volumes
originalmente confeccionados, alguns se encontram mais preservados,
enquanto de outros, possuímos apenas alguns trechos e referências.
Para Jane Bellemore (2003, p. 270), a obra de Dión Cassio teve grande
repercussão em seu próprio tempo, sendo citada entre as obras de seus
predecessores, tais como a História Augusta.
No período medieval, as referências às obras cassianas são bastante
profusas, sendo que é neste momento que surge um grande número de
manuscritos que contém partes de História Romana.
Muitos fragmentos sobreviveram graças aos esforços empregados pelos
funcionários do Imperador Constantino VII (905 – 959 d.C.), que proporcionou
as primeiras publicações, das quais temos informações, das partes da obra
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 62
25 De acordo com Anne Dawson Hedeman (1984, p. 101), Henri de Valois (1603 – 1676) era
um conhecido filologista e estudioso de escritos antigos, gregos e romanos, responsável pela
compilação e publicação de inúmeras obras antigas, tais como partes dos escritos de
Heródoto, de Dionísio de Halicarnasso e de Amiano Marcelino.
26 Palimpsesto (do grego παλίμψηστος) designa um pergaminho ou papiro cujo texto foi
eliminado para permitir a reutilização. Esta prática foi adoptada na Idade Média, sobretudo
entre os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do pergaminho. A eliminação do texto era
feita através de lavagem ou, mais tarde, de raspagem com pedra-pomes. A recuperação dos
textos eliminados tem sido possível em muitos casos, através do recurso a tecnologias
modernas.
27 Angelo Mai (1782 – 1854) foi um cardinal italiano e também um filologista. Ernst Robert
Curtius (2013, p. 56) noz diz que ele teria sido o responsável por ter publicado, pela primeira
vez no território europeu, uma inúmera série de textos antigos até então desconhecidos, dentre
estes, partes de escritos, até então perdidos, de Cícero.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 63
28 Averil Cameron (1964, p.82) defende que Zonara era o secretário particular do Imperador
Alexis I. Seu trabalho literário teria tido início quando ele se retirou, ou foi exilado, no mosteiro
do Monte Athos. Em seus escritos ele utiliza inúmeros autores antigos, porém, é nos livros VII a
IX, que tratam da História romana, que podemos encontrar as maiores referências a Dión
Cassio.
29 Juan de Castro (1512 – 1570) foi um jesuíta espanhol que, em parte de sua vida, dedicou-se
aos estudos filosóficos e filológicos. Profundo conhecedor de grego e latim, reuniu inúmeros
manuscritos que continham obras de escritores da Antiguidade.
30 Segundo Ada Palmer (2012, p. 397), Fulvio Orsini foi um filósofo e um importante estudioso
de História que viveu entre 1529 e 1600, durante o Renascimento Italiano. Ele teria sido o
responsável por encontrar e reunir inúmeros manuscritos que continham resquícios de obras
antigas.
31 CASSIO DIONE. Storia Romana. Traduzione di Alessandro Stroppa. Milano: BUR, 1998.
32 DION CASSIUS. Histoire Romaine. Traducción, Introdución et Notes par Guy Lachenaud et
33No período onde acredita-se que esta obra foi elaborada, existem inúmeros Florus, os quais
possuem praenomens distintos. Dentre estes, temos o Lucius Annaeus Florus, o Iulius Florus e
o Plubius Florus. Sobre este assunto, nos aprofundaremos no Segundo Capítulo, ao tratamos
dos aspectos das vidas de nossos autores.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 65
Ferrera (2000, p. 13), da confluência dos dados relatados nas linhas epitomais
com os acontecimentos do período em que a obra foi escrita. Portanto, o relato
seria expoente da própria sociedade do autor, o que o colocaria sobre a autoria
de Lucius Annaeus Florus ou de Publius Annaeus Florus. Para os
pesquisadores supracitados, os dois praenomen, Lucius e Publius, fariam
referência a um único homem, o responsável pela autoria da Epítome.
As discrepâncias entre os nomes teriam suas raízes nas informações
passadas em momentos posteriores, tanto pelo Codex Palatinus 884,
compilado, provavelmente, no século IX d.C., onde aparece o nome de L.
Annaeus Florus, quanto pelo Codex Bambergensis E, também datado do início
do século IX, que não apresenta praenomen algum.
Para pesquisadores como L. Bessone (1990, p.208) e Lasto Havas
(1993, p. 240), a Epítome teria sido elaborada quando Floro já se encontrava
com sessenta ou mais anos de idade34, entre 144 e 148 d.C, durante o governo
de Antônio Pio35. Contudo, para pesquisadores como Edward Forster (1984, p.
VIII), a produção floreana seria algo anterior, produzida durante o governo de
Adriano, entre 117 a 138 d.C. Esta incerteza de datas nos é passada pelas
próprias linhas epitomais, onde o autor coloca que: “Desde os tempos de César
Augusto até a nossa própria época, houve um período de não muito menos que
duzentos anos (...). (FLORO, Epítome de Tito Livio I, 8).
Se considerarmos que Floro utiliza como base o ano de 27 d.C.,
momento que Otaviano recebeu o título de Augusto, para fazer esta
comparação, a elaboração de seu relato teria sido realizada entre o final do
governo de Antônio Pio e o princípio de o de Marco Aurélio, algo entre 155 a
161 d.C. Contudo, se considerarmos que Floro coloca como a época de
Augusto desde o nascimento deste, 63 a.C., seus escritos teriam sido
elaborados durante o governo de Adriano.
Apesar de tais considerações, as linhas floreanas citadas acima nos
deixam entrever que a sua produção, independente do governo romano sobre
34Floro teria nascido por volta de 74 – 80 d.C., assunto sobre o qual discorreremos no próximo
capítulo.
35 De acordo com Matthew Bunson (2002, p. X), Antônio Pio foi imperador entre os anos de
o qual foi elaborado, é fruto de um único século, o século II d.C.36 Sendo assim,
ela expressa em seu cerne, mesmo que não propositalmente, todo o seu
próprio contexto político, cultural, social e econômico. Aqui, novamente,
notamos que a obra é produto de seu autor, de sua subjetividade.
Em nossa visão, as diferenças entre Floro e Tito Lívio são derivadas das
diversidades entre os próprios autores. A princípio, estes são de períodos
diferentes, oriundos de sociedades distintas e que vivenciaram a sociedade
romana de maneiras diversas. Ainda, possuem visões próprias sobre a maneira
de se narrar a História, diferenças estas que também podem ser acarretadas
pela variedade temporal e de sociedades.
Também, notamos que as principais discrepâncias entre a Arb Urb
Condita e a Epítome de Tito Lívio se alocam nas informações que nos são
passadas e na cronologia de determinados acontecimentos, além da maneira
distinta que encontramos na forma de narrar dos dois autores. Lívio apresenta
uma narrativa pautada na tradição analítica, onde a ordem cronológica possui
uma posição relevante. Floro, por outro lado, constantemente demonstra uma
ruptura temporal, nem sempre obedecendo à ordem dos acontecimentos.
Um outro exemplo das diferenças entre ambos os autores, como Vítor
Alba (1953, p. 32) destaca, é que, enquanto Lívio, seguindo a ordem dos fatos,
descreve as ações de um mesmo personagem de maneira progressiva, ou
seja, na ordem em que estas aconteceram; Floro separa tais ações em
capítulos diferentes, não estabelecendo um capítulo para cada personagem ou
sequer algum tipo de organização formal para seu relato.
Percebemos, desta maneira, que uma das principais diferenças entre
Floro e Lívio está na fuga floreana da datação precisa. Floro agrupa
panoramicamente, monograficamente e anualmente os acontecimentos. Esta
forma de organização de seu relato não é algo estranho à sociedade romana.
Concordamos com Richard Rutherford (2007, p.504) quando este nos diz que
esse recurso é profusamente utilizado em outros gêneros literários, tais como o
poético e o retórico, e que possui, como intento, aumentar o potencial
dramático da narração, atraindo a atenção do leitor. Desta maneira, não seria
um descuido ou uma despreocupação deste autor para com a escrita da
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 69
História. Mais uma vez, esta depende daquele que se propõe a narrá-la, da
sociedade em que este se insere, de sua própria visão e do público ao qual
almeja atingir.
A seleção de dados por Floro também lhe é muito particular. Alguns
podem explicá-la pelo caráter de sua obra, por esta se configurar em uma
epítome. Outros, já a associam ao desejo floreano de surpreender o leitor,
surpresa esta que está contida no silêncio do autor para alguns importantes
acontecimentos, tais como as batalhas de Pidna e de Zela, ou mesmo no
esquecimento de alguns personagens que não aparecem relacionados aos
acontecimentos de que fizeram parte. Além disso, Floro organiza seus
episódios de maneira singular, sempre de modo retórico e de forma a
impressionar seus leitores, algo que não encontramos nos relatos livianos.
A partir das análises historiográficas sobre as obras de Floro por nós
citadas, além dos apontamentos a que nós mesmos chegamos no decorrer de
nossos estudos, podemos perceber que sua obra, intitulada, por ele mesmo ou
por terceiros, não pode ser apenas considerada como uma epítome de Tito
Lívio. Os seus escritos se constituem em algo único, com características
próprias e peculiaridades que pertencem apenas a eles. Distinções estas que
vão desde a seleção de seus objetos, dos personagens e acontecimentos que
buscam relembrar, até a forma de organização do relato.
37Notamos aqui certa semelhança com o relato veleiano, uma vez que em ambos encontramos
o destaque, nas narrativas, dos acontecimentos militares.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 70
Como Andrés e Ferrero (2000, p. 20) e Paul Jal (1967, p. XI) destacam,
o relato floreano é segmentado em quatro idades, como podemos perceber a
seguir:
38 Concordamos aqui com Forster (1984, p. 06), quando este interpreta esta menção de Floro
como sendo referente às representações das terras conhecidas pelos romanos em pequenos
desenhos, espécies de mapas.
39 Sobre este aspecto da obra floreana falaremos posteriormente, no decorrer dos outros
d.C.), autor de obra intitulada Púnica que, em diversos volumes, trata acerca das Guerras
Púnicas.
45 Publius Papinius Statius, também do século I d.C. (45 a 95 d.C.), autor de obras como
Tebaida (poema épico que narra o conflito entre os filhos de Édipo pelo trono de Tebas), Silvae
(coletânea de poemas que retratam o ethos.) e Aquileida (obra sobre a vida de Aquiles e que,
aparentemente, não foi acabada pelo autor.)
46
Ceres e Líber, deuses latinos que teriam se enfrentado em uma batalha mitológico.
47 Gnaeus Pompeius Trogus, século I a.C., foi autor da obra Histórias Filípicas e de uma
51Esse Codex foi criado no Monastério de St. Nazarino e, por isso, às vezes, é citado com o
nome de Codex Nazarianus.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 75
Como salienta Moreno (1999, p. 615), nos estudos sobre Floro, o Codex
Bambergensis passou a ser visto como o que continha, com maior integridade,
a obra floreana. Por este motivo, as primeiras publicações de Epítome de Tito
Lívio basearam-se nestas compilações.
A primeira edição da obra da qual temos relato teria sido realizada por
volta no século XV, levando em sua fronte Editio Princeps52. Sobre ela, apenas
sabemos que, provavelmente, foi publicada em Paris, por volta de 1470 – 1480,
e que fora destinada a possuir um caráter educacional. Em outras palavras, era
utilizada para fins pedagógicos, para ensinar a História de Roma.
A esta edição, seguiu-se uma italiana, realizada por um tradutor
chamado Addus, em Veneza, em 1521. A terceira edição ocorreria só após
trinta e três anos, em 1554. Realizada em língua francesa, seria de autoria de
E. Vinetus, tendo sido publica na cidade de Poitiers.
Por conseguinte, no século XVII, possuímos notícias de três publicações
da obra floreana. A primeira, realizada por Salmasius em 1609, fora editada e
publicada em Heidelberg, na Alemanha. A segunda, de autoria de J.
Freinsheim, mais uma vez, aparece em terras francesas, mais precisamente
em Estrasburgo de 1632. A terceira seria proveniente das redondezas de
Ultrecht, tendo sido publicada em 1680 por J.G. Graevius.
É também no século XVII que Floro foi, pela primeira vez, traduzido para
a língua inglesa. Essa versão foi elaborada por J. Davies em 1670 e,
posteriormente, em 1672, re-publicada com certas modificações e correções
por parte dos estudiosos Casaubon e J.S. Watson.
Já no século XIX, podemos notar uma maior produção em torno dos
escritos de Floro. Só neste período, foram realizadas inúmeras edições, em
sua maioria em língua alemã, dentre as quais destacamos a de O. Jahn53, de
1852, a de C. Halm54, de 1854, e, por fim, a de O. Rossbach55, de 1896.
52 Para não cometermos equívocos, utilizaremos, neste momento, os nomes originais dos
editores das publicações, da maneira como aparece em suas publicações.
53 JAHN, O. Iuli Flori Epitomae de Tito Livio bellorum omnium annorum DCC libri II.
autoglorificação do governante.
57 Mesmo que a historiografia grega tenha rompido com o tipo de história proposto pelos persas
59 Segundo Luce (1994:20), o termo sofista deriva, grosso modo, do termo sophos, o qual
significa sábio, perito, experto. Tratar-se-ia, ainda, de homens dotados de especial capacidade
retórica, tendo sua zona de ação inserida nos interesses práticos da sociedade, ou seja,
agiriam sempre com vistas a um conhecimento útil ao homem público.
60 De acordo com Anderson (2005:13), Protágoras de Abdera viveu entre 481 a 420 a.C.;
Górgias de Leontini entre 483 a 376 a.C.; e, por sua vez, Isócrates entre 436 e 338 a.C.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 80
o poder romano, o que muitas vezes não eram fatores excludentes, mas sim,
complementares (ANDERSON, 1993, p. 21).
Como já dito, o discurso sofista espalhou-se por todo o território imperial.
A concepção sobre a importância da educação na formação do cidadão, os
conceitos que cercam a criação do homem ideal, assim como outros pontos
chaves de seu discurso podem ser encontrados em obras de diferentes
autores, em diferentes épocas, com distintas intenções. Pode-se encontrar o
pensamento sofista em meio a escritos literários, históricos e até mesmo
biográficos. Esse é o caso de Plutarco de Queronéia, um beociano, possuidor
tanto da cidadania queronense, quanto da ateniense e da romana, escritor de
tratados e de biografias no decorrer dos primeiros séculos imperiais.
A discussão a respeito da inserção de Plutarco na Segunda Sofística é
acirrada e já perdura por muitos anos. Pesquisadores do movimento, tais como
Bowersock (1969, p. 111) e Laurent Pernot (2000, p. 45) defendem que o
beociano, mesmo tendo vivido na época do movimento, não pode ser analisado
como um de seus expoentes. Já para alguns plutarquistas, tais como José
Ribeiro Ferreira (2008, p. 99), Plutarco deve ser analisado através desta ótica,
uma vez que suas obras contêm explicitamente valores sofistas.
Em nossa concepção, faz-se errado analisarmos Plutarco como
propriamente um sofista. No entanto, o autor exprime em sua obra algumas
ideias e valores que permeavam esse movimento, características estas que
estavam presentes em meio às sociedades nas quais o beociano encontrava-
se inserido. Assim, o autor é fruto de uma confluência cultural. Suas obras
exprimem todo esse hibridismo que lhe era intrínseco, assimilam caracteres
tanto da Segunda Sofística, quanto dos ideais platônicos63.
Além disso, seus tratados e biografias, ao contrário de serem analisados
como obras de oposição a Roma, da forma que sugere a ótica de Silva (2006,
p. 259), podem ser vistos como conciliatórios. Plutarco escrevia sobre Roma a
partir da ótica de um habitante do Império e cidadão romano, como muito
salienta a pesquisadora Vanessa Ziegler (2009, p. 59), e é exatamente esse
um dos pontos principais que o aproximam dos princípios sofistas.
As Biografias Comparadas
64Este foi um romano de destaque, influente dentro da sociedade romana do século II d.C..
Ocupou cargos políticos e administrativos importantes durante o Principado, chegando ao
cargo de conselheiro de Trajano. Segundo a historiografia sobre o período, tais como Perrin
(1967) e Bucley (1999), Plutarco fez parte do círculo de amizades de Senecião.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 84
Assim como acontece com grande parte das obras antigas, as palavras
de Plutarco não nos chegaram completas. Em nossas pesquisas, com apoio da
historiografia consultada, encontramos citações de vinte e uma obras
plutarqueanas completas, além de inúmeros fragmentos.
A primeira ordenação das obras plutarqueanas, após as suas
concepções, é de autoria de Lâmprias, o qual as organizou em um catálogo,
classificação esta que utilizamos atualmente. Não sabemos ao certo o
parentesco de Lâmprias com Plutarco. Para certos historiadores, tais como
Jones (1967, p. 207), este teria sido filho de Plutarco. Para Moses Hadas
(1950, p. 132), Lâmprias seria o neto de Plutarco, suposição que se faz mais
provável, em nossa concepção, devido à data de ordenação das obras.
Em finais do século XIII, o manuscrito do catálogo de Lâmprias foi
reencontrado pelo teólogo e gramático Máximo Planudes65. As obras completas
foram divididas em alguns volumes, dos quais os mais conhecidos estão
intitulados: Vidas Paralelas, Obras Morais e de Costumes (também conhecido
pelo título de Moralia), Da Educação das Crianças e Ísis e Osíris. A cunhagem
do título Obras Morais e de Costumes é de responsabilidade do monge
bizantino Máximo Planudes, o qual dividiu os escritos filosóficos, morais,
religiosos e de costumes das biografias66.
A primeira tradução das biografias escritas por Plutarco para a língua
moderna foi realizada por Juan Fernández de Heredia entre os anos de 1379 e
1384, em aragonês. Várias traduções parciais foram realizadas no intervalo de
tempo entre esta tradução completa e a segunda, realizada por Jacques
Amyot, na língua francesa, no ano de 1559. Foi esta tradução que impulsionou
a difusão da obra de Plutarco, uma vez que Amyot evidenciou a forma
biográfica plutarqueana.
65 Máximo Planudes nasceu por volta de 1260, falecendo por volta de 1330. Ele nasceu em
Nicomédia, na Bitínia, mas a maior parte de sua vida foi passada em Constantinopla, onde,
como um monge, dedicou-se ao estudo e ao ensino. Ao entrar para o monastério, mudou seu
nome original de Manuel para Máximo Planudes. Escreveu numerosas obras, ficando também
conhecido pelas traduções e edições de clássicos gregos, tais como os escritos plutarqueanos.
66 Utilizamos aqui a mesma ordenação empregada por Bernadotte Perrin (1967) em sua obra, a
qual segue a primeira ordenação realizada por Lâmprias e enumera, inclusive, as obras
perdidas e os fragmentos.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 87
A tradução para o inglês só foi realizada no ano de 1579 por Sir Thomas
North. De acordo com John Roe (2004, p. 173), foi esta tradução que chegou
ao conhecimento de William Shakespeare que a usando, escreveu várias
peças teatrais, dentre estas Antônio e Cleópatra67. A difusão das obras
shakesperianas, de acordo com Charles e Michelle Martindale (2005, p. 22),
fez com que os relatos de Plutarco fossem ainda mais divulgados, atingindo
novos territórios e novos leitores.
Verificamos que um grande número de estudos a respeito das obras de
Plutarco aparecem em uma época específica da História, o Renascimento ou
Renascença, período na história do mundo ocidental com um movimento
cultural marcante na Europa, considerado como um marco de transição entre a
Idade Média e a Idade Moderna. Começou no século XIV, na Itália, e difundiu-
se pela Europa no decorrer dos séculos XV e XVI.
O pensamento renascentista associou-se ao Humanismo, ocasionando
um interesse cada vez maior dos eruditos europeus pelos escritos clássicos em
latim ou grego, notando-se, por conseguinte neste mesmo momento, um
estudo mais profundo dos escritos plutarqueanos. Tal característica é
retomada, tempos mais tarde, pela tendência neoclassicista do século XVII e
início do século XVIII, onde Plutarco aparece como um dos representante da
literatura greco-romana. Segundo Rita Marnoto (2008, p. 11), a obra do
Educador da Europa, como Plutarco ficou conhecido, teve uma vasta
divulgação na Itália a partir do século XIV, perpassando por vários séculos,
sendo assimilida por inúmeras sociedades, como salienta José Ribeiro
Ferreira:
69 Para este autor, este tratado deveria ter sido escrito em razão das reformas institucionais
introduzidas pelo Imperador Adriano na administração imperial. Isso, em nossa visão, coloca a
datação desta obra entre 117 e 122 d.C., período do governo de Adriano em que ainda
podemos encontrar referências das funções desempenhadas por Suetônio no meio imperial.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 91
70 Suetônio cita este aspecto, por exemplo, nas vidas de Calígula e Nero.
71 Esta teria sido a primeira obra publicada por Suetônio, durante o governo de Trajano.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 92
72Segundo Régis Martin (1996, p. 43), a biografia peripatética estava voltada para a análise do
caráter e da personalidade do biografado, ressaltando seus pontos negativos e positivos.
Cap.1 – Entre Histórias e Biografias... 95
Romanos.
Considerações preliminares
Sempre há uma linha de pensamento por trás de tudo que se é dito, escrito ou
que vem a ser o conjunto de ideias, valores, costumes e práticas que dão significado
a algo que nele está inserido. De um lado, encontramos uma produção intelectual,
de acordo com José Ferrater Mora (2000, p. 567), desemboca em ações concretas,
O mesmo acontece com as obras dos escritores antigos. Elas não estão
próprios. Sendo assim, os escritos expressam para além das concepções de seus
foram produzidos. Sempre há uma razão que impulsiona a escrita do texto antigo. O
autor pode ter se sentido motivado, contratado ou até mesmo obrigado a produzir
em detrimento de outras.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....101
presentes em suas épocas, nas sociedades de seus criadores. Logo, pode-se dizer
foi cada autor, suas respectivas vidas, suas histórias. É com o auxílio do contexto,
retirados das informações que os prórios autores nos relegam em seus escritos, que
biográficos são escassos e dificilmente permitem que façamos uma ampla análise
pesquisa histórica não é suficiente para nos reduzir ao mortífero silêncio. Como o
próprio Grimal (1992, p. 01) nos mostra, se não é possível adquirir dados sobre o
próprios testemunhos que estão contidos dentro de sua obra, a qual representa e
analisados e contrastados, uma vez que sempre devemos ter o cuidado de levar em
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....102
Veléio1. O que não conseguimos encontrar na historiografia sobre sua vida e sobre o
em seu relato.
Romana. Como mostra Manzano (2001, p. 07), a edição desta obra realizada em
1520, trazia em sua fronte o nome P. Vellei e, no corpo do texto, surgia a inicial C.
Esta nomenclatura pode ter-se derivado de uma citação de Tácito em sua obra
Anais (An.III. 39,1) e, atualmente, é adotada por alguns editores, tais como F. W
1 Em meio às nossas pesquisas, conseguimos notar que Veléio Patérculo não é um objeto de
pesquisa muito utilizado por estudiosos brasileiros. Os estudos sobre este romano na historiografia
brasileira são, em sua maioria, trabalhos recentes e compõem uma pequena parte das pesquisas em
História Antiga. Sendo assim, em nossa Dissertação, faremos uso, em grande parte, de historiografia
estrangeira.
2 Em sua obra Velleius Paterculus. The Caesarian and Augustan Narrative (1983), Woodman faz
gramático latino que viveu entre o final do século V ao início do século VI d.C. Nascido em Caesaria,
na região da Mauritânia, foi o autor de Institutiones Grammaticae.Esta obra contém dezoito volumes,
sendo que os dezessesis primeiros tratam da fonética e da morfologia latinas e os dois últimos
dedicam-se à sintaxe. No decorrer destes ecritos, Prisciano faz referências a diversos autores latinos,
dentre eles Marcus Velleius Paterculus.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....103
são escassos e, em sua maioria, referem-se aos anos de serviço militar do autor.
Sobre a sua vida, o próprio romano, no decorrer de sua obra, mescla a trajetória de
sua família com a História romana, contando seus próprios caminhos através dos
descritos por Manzano (2001, p. 07) e Emma Dench (2005, p. 120), Patérculo
Do lado materno, Veléio era herdeiro de Décio Magio, homem ilustre que
lutou na Guerra contra Aníbal. Décio chegou a ser capturado por Aníbal, porém
Ainda segundo o autor supracitado, Décio nunca saiu do Egito, ficando lá até
sua morte. Seu neto, Minato Magio de Eclano, lutou na Guerra Púnica ao lado dos
romanos, sendo presenteado com a cidadania e com a pretura4 de seus dois filhos5,
sendo um deles o avô materno de nosso autor. Na época de Minato, sua família
4 De acordo com Canfora (2002, p. 490), a partir de 367 a.C., segundo as Leges Licinae Sextiae, o
pretor era um magistrado encarregado de exercer em Roma a jurisdição civil, podendo ser escolhido
entre os patrícios e entre os plebeus. As eleições para a pretura ocorriam ordinariamente em finais do
mês de julho, após os jogos apolinários, festa que favorecia o comparecimento dos eleitores. Para
Compreensão sobre o Cursus Honorum, tanto neste período quanto no contexto de Veléio, ver
Anexos I e II.
5 Cícero (Brut., 179) menciona um Públio Magio, Tribuno da Plebe em 87 a.C. Este pode ter sido um
dos filhos de Minato. Além disso, podem-se encontrar referências de um Marco Magio Suro em uma
inscrição localizada em Aeclanum, região da Campânia.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....104
qual serviu, no ano de 49 a.C., como Praefectus Fabrum7 sob o comando de Cneu
De seu lado paterno, seu avô Caio Veléio, fazia parte da ordem equestre,
tendo sido escolhido por Pompeu Magno, no ano de 52 a.C., para ocupar um dos
turbulência política que ocorriam na sociedade. Nessa época, assim como Numério
Magio, ele ocupava o cargo de Praefectus Fabrum, função que ainda exerceu sob o
Antônio, Caio Veléio8 ainda ocupava seu cargo, só que, naquele momento, sob o
comando de Tibério Cláudio Nero, ex-pretor e pai do futuro Imperador Tibério. Nessa
mesma época, Caio teria participado da chamada Guerra da Perúsia contra Otávio.
No ano seguinte, após sua derrota, ele teria cometido suicídio. Como o próprio autor
nos informa: “(...) cujo grupo havia sido simpático com uma amizade singular por ele,
6 Região ao sul da Itália. Tem limites a oeste e sudoeste com o Mar Tirreno, a noroeste com o Lácio,
ao norte com Molise, a nordeste com Puglia e a leste com Basilicata. Anexo III.
7 O Praefectus Fabrum trata-se de um cargo ocupado por um funcionário escolhido, pelo Pretor ou
pelo Pró-Consul. Ele ficava responsável por determinadas funções, sendo que, em sua maioria, estas
eram sigilosas. Posteriormente, no governo de Augusto, o cargo passou por modificações, assumindo
o caráter de posto honorífico.
8 É curioso notar que, por ter ocupado cargos proeminentes dentro da sociedade romana, não
Caio deixou dois filhos que emergiram em meio à política romana. Um deles,
O nome que levava o irmão do autor romano era Magio Celer Veleiano. Dele,
pouco sabemos. Alguns estudiosos afirmam que ele teria sido adotado por M. Magio
Máximo, prefeito do Egito junto com Augusto; outros sugerem que foi adotado por
Numerio Magio. De seu irmão, Veléio apenas nos informa que este teria lutado com
Para alguns pesquisadores, o pai de nosso autor também teria servido sob o
filho com este personagem. Além disso, devemos levar em consideração os laços 10
companhia de seu irmão, no ano 14 d.C. Estipula-se que ele tenha nascido por volta
Segundo Diana Browder (1989, p. 268), Marco Veléio Patérculo teria iniciado
sua participação na vida política romana em meados do ano 2 d.C. Para Sumner
sua família foram claramente importantes para a carreira de Veléio, o qual foi
romano.
Trácia e na Macedônia sob o comando de Marco Vinício 11. Durante esse período, o
jovem romano pode ter conhecido Augusto, uma vez que o Imperador se encontrava
encontrar registros, como já dito, de que ele serviu como Praefectus Equitum sob o
11 Segundo Ronald Syme (1960, p. 400), o tempo de comando de M.Vinicius é bem incerto, podendo
se estender até 14 d.C. O autor defende que, independente da extensão de seu comando, Vinício foi
um proeminente homem dentro da sociedade romana e que manteve cordiais relações políticas com
o Princeps e com sua família.
12 Segundo Canfora (2002, p. 494), os tribunos militares (Tribvni Militvm) eram oficiais no comando da
legião (seis por legião, vinte quatro em um exército comum, o qual é composto por quatro legiões),
com, pelo menos, cinco anos de experiência em atividades militares. Tais homens sucediam-se no
comando a cada dois meses
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....107
13 Questor deriva da palavra latina Quaestor. Em 509 a.C., com a Lex Valeria de quaestoribus, os
questores se tornaram magistrados públicos e foram ainda encarregados da administração do
tesouro (aerarium). Os questores podem se dividir em: quaestorores urbani, aerarii; quaestores pro
praetore e quaestores classici. De acordo com Richard Talbert (1984, p. 16) e Canfora (2002, p. 481),
a questura consistia em uma magistratura integrante do Cursus Honorum e tornava o seu detentor
elegível para entrar no Senado.
14 Estar nesta lista, segundo Sumner (1970, p. 274), significava eleição certa.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....108
Conforme exposto, é o texto que nos direciona para seu contexto. Em outras
palavras, é a partir da leitura da obra veleiana que conseguimos perceber as
reminiscências do período no qual ela foi escrita. Apesar de não sabermos
precisamente quando a História Romana de Veléio foi elaborada, os relatos do autor
a colocam em concordância com os acontecimentos presentes no decorrer do
governo de Tibério, considerado, por alguns pesquisadores, o segundo Imperador
romano17. Ainda mais importante, Veléio fez parte efetiva da vida deste Imperador,
inclusive em um período em que este desempenhava funções militares durante o
governo de Augusto. Entender o período de Tibério se faz importante, porque a vida
de nosso autor se mescla e aparece intrinsecamente interligada a este, o que
15 De acordo com Sandra Jean Bringham (1999, p. 62), Sejano foi um destacado equestre, o qual
figurou em importante papel dentro da sociedade romana. Assumiu o cargo de Prefeito da Guarda
Pretoriana no ano de 14 d.C. até sua morte, em 31 d.C. Introduziu um grande número de reformas na
guarda, o que fez com que esta desempenhasse um papel maior dentro da política e da sociedade
imperial. Em 31 d.C., foi acusado de conspiração contra o Imperador Tibério, sendo executado
juntamente com seus seguidores.
16 Demos precedência, neste momento, por uma contextualização realizada a partir da sucessão
imperial, uma vez que um de nossos objetivos é a análise da criação da imagem de Princeps Ideal
em torno de Augusto pelos autores antigos aqui selecionados.
17 Para Suetônio, Tibério teria sido o terceiro Imperador, uma vez que este autor considera que Júlio
César foi o primeiro. Este aspecto também está presente na obra veleiana, uma vez que este chama,
inúmeras vezes, Júlio César de Princeps e classifica o período em que este esteve à frente do
governo de Roma como um Principado.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....109
vincula ainda mais a sua obra com a intenção de legitimação do sistema político do
Principado Romano.
Tibério Cláudio Nero César administrou Roma de 14 d.C. até 37 d.C., ano de
sua morte. Este foi um período turbulento, marcado por conspirações e violentas
disputas pelo poder, as quais eram remanescentes da transição da República para o
Principado.
Ao morrer, Augusto não deixava um filho, do próprio sangue, para lhe suceder
no comando de Roma. De acordo com Robin Seager (2005, p. 30), a primeira
escolha do Princeps teria sido Marcelo que, além de ser seu sobrinho, havia se
casado com sua filha Júlia, fruto de um de seus casamentos. No entanto, seu futuro
sucessor faleceu em 23 a.C., trazendo à tona, mais uma vez, o problema da
sucessão imperial.
Júlia casou-se novamente, desta vez com Agripa, com o qual teve dois filhos,
Caio César e Lúcio, e uma filha, Agripinna, sendo que os dois homens, de acordo
com Christopher Simpson (1996, p. 64), constituíam-se em prováveis sucessores do
eminente avô. Mais uma vez, os descentes de Augusto foram vítimas de mortes
precoces, falecendo antes de seu patriarca. Novamente, podemos notar como o
casamento era utilizado em Roma para fins políticos. A viúva de Agripa, desta vez,
uniu-se a Tibério.
Tibério era fruto da união entre Lívia e Tibério Cláudio Nero. Sua mãe casou-
se com Augusto, que adotou seus filhos. Por sua vez, Tibério, por vontade de
Augusto (SEAGER, 2005, p. 33), adotou Germânico18, filho de seu irmão e esposo
de Agripinna.
Em 7 d.C., um dos possíveis herdeiros, Agripa Póstumo, foi exilado na ilha de
Planásia, sem nenhuma explicação aparente. Na ocasião da morte de Augusto, em
14 d.C., restavam apenas dois prováveis sucessores: Tibério e Germânico, sendo
que apenas Tibério contava com idade suficiente para ascender ao cargo. De acordo
com David Shotter:
18Germânico também é citado na historiografia como Druso, nome que recebeu ao nascer. O nome
Germanicus é utilizado após a sua adoção.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....110
19Segundo Anthony Barrett (2002, Preface), Tibério nasceu por volta do dia dezesseis de novembro
de 42 a.C.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....111
20 Pesquisadores como Zvi Yavetz (1984, p. 148), Levick (1999, p. 70) e Shotter (2004, p. 22)
enxergam uma grande oposição ao governo tiberiano, tanto por parte do Senado quanto por parte de
outras parcelas da sociedade romana. Contudo, sobressaltou-nos a percepção de Veléio, o qual nada
fala sobre essa oposição ao governo de Tibério. Pelo contrário, o autor romano sempre parece querer
ressaltar o destaque que esse Princeps teve em meio a sua sociedade que, segundo o autor, muito
bem o acolheu (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 112, 121, 122, 126, 129). Para nós, ao
legitimar a figura deste Princeps e, por conseguinte, seu governo, Veléio buscava também a
legitimação do sistema político do Principado como um todo.
21 Isso foi modificado aos poucos, quando os equestres passaram a adquirir maior destaque dentro
da sociedade romana através da intercessão dos Imperadores. Como fruto desta gradativa
modificação, podemos encontrar Veléio Patérculo, equestre que ocupou cargos sob proteção do
Imperador, os quais, antigamente, só eram destinados aos senadores.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....112
levado seu filho Druso como vítima. Sejano e seus comparsas foram acusados
perante o Senado e, mediante a uma proscrição, executados.
A partir da morte de Sejano, a historiografia sobre o período determina outra
etapa do Principado tiberiano. De acordo com Levick (1999, p. 160), inaugura-se um
novo período no governo de Tibério, onde as proscrições contra os seguidores e
amigos de Sejano são inúmeras e aterrorizam cidadãos romanos, além de que,
nessa época, começa a surgir no cenário político romano a figura de Calígula, futuro
Imperador.
Logo, tratou-se de um período marcado pelo uso abusivo da Lei de Lesa
Majestade que, reformulada por Augusto e também por Tibério, passou a prever
punição severa não só para os atos de traição contra os interesses de Roma, mas
também para qualquer sentença, pronunciada ou escrita, que denegrisse ou
agredisse a imagem do Imperador. Segundo o pesquisador Steven Rutledge (2001,
p. 95), o número de delatores neste período aumentou de forma significativa, sendo
estes movidos por interesses pessoais ou em detrimento dos interesses de
Senadores que procuravam se livrar do comando de Tibério. O desenrolar dos
acontecimentos não se mostrou favorável para o Imperador, uma vez que este
passou a ser interpretado pelo Senado como inimigo.
Da morte de Tibério e do final de seu governo, pouco sabemos. O Princeps
faleceu em Capri, envolto em uma atmosfera de medo e desconfiança. Ainda
isolado, não podemos definir ao certo qual teria sido a causa de sua morte nem seus
executores. De acordo com as informações disponibilizadas por Tácito (Anais, VI,
50), Calígula e Macro seriam os responsáveis pela morte do Imperador, que contava
com setenta e sete anos de idade.
Ao analisarmos a vida de Veléio e o contexto histórico, político, social e militar
da sociedade romana de sua época, podemos perceber como os acontecimentos se
mesclam. Patérculo protagonizou um papel de destaque dentro de sua sociedade.
Participou de diversos acontecimentos militares e políticos. Adentrou o círculo de
conhecidos do Imperador Tibério; demonstrava uma nada comedida admiração por
este, assim como também por seus antecessores, Júlio César e Augusto. Admiração
esta espelhada em sua obra e que, em nossa visão, além de legitimar e consagrar a
imagem destes Princeps, também não deixava de corroborar o sistema político do
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....114
Principado Romano. Para isto, fez uso da tradição e da memória romana acerca
destes personagens, tradição esta já presente em meio à sociedade de seu tempo.
22 A colonização macedônica de Queroneia faz-se importante explicitar pois, em sua época, Plutarco
aparece como um admirador de Alexandre e de seus feitos, o que pode vir a ser explicado pela sua
relação com a cultura macedônica.
23 Após sucessivas disputas, o território beociano passa ao domínio romano por volta de 148 a.C.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....115
Florus. Tal dado é significado na demonstração da conexão entre o beociano e este importante
personagem romano.
26 Não se trata aqui de nosso autor, Lúcio Annaeu Floro.
27 Segundo Antônio Carlos Azevedo (1999, p. 366), Procurador (Procurator em latim) constituía-se em
29 Já vimos, no início deste capítulo, quais foram as funções desempenhadas por Veléio. As de
Suetônio e Dión Cássio, trataremos posteriormente, nos itens acerca de sua vida.
30 Estes não seriam as Vidas Paralelas e, sim, a Moralia. As várias obras plutarquianas serão
abordadas posteriormente.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....118
31 Delfos localiza-se nas encostas do monte Parnaso. O santuário comportava, além dos edifícios
religiosos, um ginásio, um estádio e um teatro com capacidade em torno de cinco mil espectadores.
32 Plutarco é nomeado sacerdote laico do templo de Apolo no ano de 95 d.C., terminando seu
os mais importantes da Grécia. Esses jogos se diferenciavam dos demais por abrigar, além das
competições esportivas, competições artísticas, as quais eram realizadas de quatro em quatro anos,
nos intervalos entre as Olimpíadas, sempre no início de setembro. O primeiro dia dos jogos era
dedicado às cerimônias religiosas: realização do sacrifício e de uma procissão, com a presença de
todas as delegações oficiais. A primeira celebração dos jogos em seu formato definitivo, com provas
atléticas e provas musicais, ocorreu no início do século VI a.C., mais precisamente em 582 a.C..
Iniciou-se, então, a era das Pitíadas, que durou até o final do século IV d.C., quando o Imperador
romano cristão Teodósio decretou o seu fim. A responsabilidade pela organização dos Jogos cabia
aos Anfictíones, administradores do santuário do deus. Eles nomeavam como comissários os
hieromnêmones, encarregados de tomar todas as providências necessárias para a realização do
evento. Eram eles que cuidavam da divulgação da festa, da inscrição dos candidatos, da aplicação
dos regulamentos, exercendo, também, o papel de juízes das competições. Como os helanódices de
Olímpia, os hieromnêmones eram assessorados por um corpo policial e por um arauto sagrado,
encarregado de divulgar a trégua sagrada.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....119
34 Plínio, O Jovem, foi um importante personagem romano que viveu entre 61 e 114 d.C. Destacou-se
em meio a sua sociedade como orador, jurista, político e administrador imperial. Plínio escreveu cerca
de 247 Epístolas, nas quais mantinha diálogos variados com diversos correspondentes, dentre estes
podemos encontrar seu amigo pessoal Suetônio. Estas epístolas também demonstram que Suetônio
ascendeu, tanto no meio literário quanto no social, com a ajuda e o encorajamento de Plínio
(WALLACE-HADRILL, 1995, p. 04).
35 A obra de Mommsen, em sua primeira edição, é datada do século XIX. A data que citamos acima
de um local de origem, de uma identificação com uma determinada região. Para este
pesquisador, estes silêncios seriam indicadores de um autor que não pertencia,
originariamente, a Roma. Talvez um provinciano, habitante de uma região anexada
pelos romanos. Como uma possível confirmação de tal dado, há menções de uma
dedicação pública a Suetônio que, de acordo com C. Baurain (1976, p. 125), teria
sido realizada no início do governo de Adriano36. Tal dedicação pública encontrar-se-
ia em Hippus Regius37, região pertencente à África Romana, de onde o escritor –
para G.B. Townend (1959, p. 287), um dos principais pesquisadores suetonianos –,
poderia ser oriundo. Já nas concepções de J.A. Crook (1957, p. 19) e de J. Gascou
(1978, p. 438), Suetônio não teria nascido em Hippo, mas sim, visitado a cidade em
companhia de Adriano.
Apesar dos inúmeros estudos acerca de sua origem, a única informação
comprovada que nos é passada sobre Suetônio é que, partindo dos cargos que sua
família e ele ocuparam, tratavam-se de cidadãos romanos, ou sejam, possuiam a
cidadania romana.
Também é curioso notar que o nome Suetonius é pouco comum na época em
questão. Em documentos antigos e na historiografia contemporânea que aqui
consultamos, encontramos menção de apenas mais um, Suetonius Paullinus, um
ilustre general romano que também viveu sobre o Império dos Césares, mais
precisamente no primeiro século da nossa era.
Como já dito, o passado de nosso escritor e de sua família apresenta certas
lacunas para nós, historiadores. Sobre seus avós e pais, os dados são ainda mais
raros. Segundo Wallace-Hadrill (1995, p. 03), o contato da família de Suetônio com
os Césares pode ser bem antigo, rementendo ao governo de Calígula,onde seu avô
poderia ter desenvolvido certas funções. Em suas palavras:
De acordo com Benabou (1975, p. 10), teria sido pela interseção de amigos
influentes junto a Trajano que o futuro autor iniciou o desempenho de cargos dentro
da administração imperial. Dentre esses, podemos encontrar novamente Plínio, com
o qual Suetônio estabelece relações políticas e intelectuais durante toda a sua vida.
Como observa mais uma vez Mendonça (2007, p. 12):
38Se tomarmos como referência que seu nascimento se deu por volta de 70 d.C., em 88 d.C. ele
contava com dezoitos anos.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....123
39Termo militar normalmente aplicado para exemplificar uma relação entre um mestre e seu pupilo.
40Tal consideração também pode ser aplicada a outros homens deste período, como demonstra
Fergus Millar (2003, p. 54).
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....124
41O compilador da Vita Hadriani, presente na História Augusta, cita que, em 122 d.C., Septício Claro,
Suetônio e diversos outros homens são depostos de suas funções no governo de Adriano.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....126
42Para tais informações, consultar Capítulo I, sub-item Floro e sua Epítome de Tito Lívio.
43As discrepâncias entre os nomes teriam suas raízes nas informações passadas em momentos
posteriores, tanto pelo Codex Palatinus 884, compilado, provavelmente, no século IX d.C., onde
aparece o nome de L. Annaeus Florus, quanto pelo Codex Bambergensis E, também datado do início
do século IX, que não apresenta praenomen algum.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....127
Tal acepção está em concordância com a visão apresenta por Luigi Bessone
(1996, p. 150), o qual destaca que o praenomen Iulius refere-se a outro autor,
enquanto Lucius e Publius poderiam referir-se ao mesmo. Em suas palavras:
Para este mesmo estudioso, a origem do autor das linhas epitomais estaria
explícita na nomenclatura Annaeus, o que também é colocado pelos tradutores
espanhóis da obra floreana, os quais nos dizem que: “O Lucius Annaeus ou
Annaeus Florus, a quem a maioria dos manuscritos atribuem a Epítome e cujo o
gentilício o liga tradicionalmente com os Sênecas (...)”. (ANDRÉS; FERRERA, 2000,
p. 11). O gentilício indica a naturalidade da pessoa. Trata-se do nome designativo de
alguém em relação ao lugar onde nasceu, habita ou pertence. No caso, Annaeus faz
alusão ao fato de nosso Floro ter nascido em terras africanas, muito provavelmente,
em uma província romana localizada na África oriental, sendo integrante da gens
Annaea, que possuí como representantes Sêneca, Mela e Lucano44.
A data de nascimento do autor antigo aqui analisado também nos é incerta.
Em suas palavras:
44Um códice vaticano, Urb. Lat. 462, considerava nosso autor como sendo pai de Lucano e irmão de
Sêneca. Tal hipótese foi contestada, uma vez que as próprias linhas epitomais deixavam entrever que
a obra teria sido escrita em um momento posterior a esses homens, no século II d.C.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....128
Podemos, desta maneira, perceber que Floro insere seu próprio período em
sua narração, destacando que viveu durante o governo de Trajano, entre 98 e 117
d.C. A partir de tal colocação, Seymor (1984, p. 08) conclui que o autor epitomal
poder ter nascido entre 74 e 80 d.C., durante o principado de Nerva, tendo passado,
pelo menos, parte de sua infância e juventude no período trajânico. Na mesma
passagem, é-nos evidente a caracterização que o autor faz sobre os Princeps
romanos. Para ele, Augusto representa um bom Princeps, um governante que fez
com que Roma e seu povo demonstrasse seu vigor e resplandecência. O mesmo
Floro não diz acerca dos herdeiros júlio-claudianos. A força, a potência romana, só
iria aparecer novamente no próprio período floreano, com Trajano e, talvez, Adriano.
Em nossa visão, tais apontamentos se fazem importantes pois espelham dois pontos
primordiais para nossa pesquisa: primeiro, como Floro enxerga o Principado de
Augusto, realizando uma construção benéfica em torno da imagem deste
governante; segundo, que, provavelmente, este autor vivenciou partes dos governos
de Trajano e de Adriano, estabelecendo, inclusive, certo contato a nível pessoal com
este último Princeps. Ao equiparar, de certa maneira, Augusto a Trajano, Floro
procura homenagear o último, o que pode significar que a obra chegou ao
conhecimento deste Imperador e/ou de seus sucessores.
Neste ponto, concordamos com a historiografia consultada acerca de Floro45,
quando pesquisadores colocam que Lucius e Publius constituem um único indivíduo.
Através das menções do próprio autor, notamos a diferença que este estabelece
entre Princeps, principalmente Augusto e Trajano. Sendo assim, tudo nos leva a crer
que Floro, de alguma maneira, estabeleceu contato com o poder imperial, chegando
a, inclusive, ter exercido funções em meio a administração romana. Por exemplo, o
gramático Carisio, em sua Ars Grammatica46, cita dois breves fragmentos de
meios aos estudos da gramática latina, aborda a vida e os feitos de determinados personagens,
principalmente escritores da Antiguidade Clássica.
47 Sobre ele, trataremos ainda neste capítulo.
48 Até este momento, não possuímos muitos dados sobre as funções que Floro teria desempenhado
na sociedade romana.
49 As maiores referências biográficas sobre a vida de Floro se encontram nos fragmentos do Códice
de Brussels.
50 Eram jogos organizados pelo Capitolini, colégio cujos membros eram recrutados entre os
habitantes da colina do Capitólio. As origens destes jogos são remotas, provavelmente pré-
republicanas. Floro participou da edição destes jogos durante o governo de Domiciano.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....130
51 As vidas de Plutarco, Suetônio e Floro transcorrem, de certa forma, sobre o governo dos mesmos
Imperadores. Sendo assim, trabalharemos com a contextualização deste período do Principado uma
só vez. Porém, é necessário salientar que a periodização de cada autor dentro do arco cronológico do
Principado Romano é diferente e destacaremos tal ponto. Dión Cássio, por sua vez, nasce entre os
governos de Antônio Pio e Marco Aurélio, porém, podemos notar que é durante a Dinastia dos
Severos que aparece em evidência em meio à sociedade romana, exercendo funções públicas e
desempenhando um importante papel. Por este motivo, abordaremos o seu contexto histórico
separadamente, nos aprofundando no período Severiano.
52 Limitar-nos-emos a analisar, com maior profundidade, os governos da época em que Plutarco,
Suetônio e Floro tiveram maior contato com a política romana e período no qual, provavelmente,
redigiram a maior parte de seus escritos, inclusive as Biografias e a Epítome que aqui analisamos.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....131
55 De acordo com Gregorio Hinojo Andrés e Isabel Moreno Ferrero (2000, p. 18), Floro teria nascido
entre 98 d.C. e 117 d.C., no final do governo de Nerva e princípio do governo de Trajano.
56 Nerva não possuía filhos, sendo assim, não possuía herdeiros do próprio sangue.
57 A família de Trajano provinha de uma parte da Hispânia, província romana.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....135
Trajano governou até 117 d.C., ocasião de sua morte, sendo sucedido por
Adriano. Não se sabe ao certo se Trajano chegou a adotar seu sucessor. Para
Griffin (2008, p. 150), existe a possibilidade dessa adoção ter sido pós-mortem, algo
fabricado por Plotina, viúva do Imperador.
Públio Élio Trajano Adriano, mais conhecido apenas como Adriano, era filho
de Públio Aélio Adriano e Domicia Paulina, originários de uma província romana
localizada na Hispânia. Em sua juventude, Adriano participou ativamente das
campanhas militares sobre o comando de Trajano, destacando-se em meio a estas
e recebendo, em detrimento disto, inúmeras magistraturas e funções administrativas
junto a Roma. De acordo com Lindsay (1994, p. 455), Adriano ascende ao poder
após a morte de Trajano, quando contava com quarenta e um anos de idade.
De acordo com Mary T. Boatwright (2008, p. 161), o período adrianino foi
marcado por uma extensa experiência militar, política e religiosa por parte do
governante romano. Apesar dos rumores sobre sua adoção e de sua suposta
inequidade para o comando, Adriano mostrou-se apto para o novo papel que
desempenhara.
Como Imperador, Adriano, inicialmente, concentrou-se no exército e na
reorganização das províncias romanas, uma vez que a sociedade romana, neste
período, enfrentava certa instabilidade em ambas as partes. Os principais distúrbios
eram provenientes da Segunda Revolta Judaica, ainda não totalmente suprimida no
início do governo adrianino, e de certas agitações nas regiões da Mauritânia e da
Britânia. (BOATWRIGHT, 2008, p. 163). Suas ações, a princípio, foram destinadas a
tais eventos.
Segundo A. R. Birley (2008, p. 138-139), Adriano ainda estaria em regiões da
Britânia quando se desfez de Septicío Claro, praetorian prefectus, e de Suetônio, ab
epistulis, que, até o momento, integravam sua comitiva. Os motivos para tais
desligamentos, como já destacamos, ainda são incertos. Para o autor supracitado, o
motivo apresentado pela História Augusta58, onde tanto Septício quanto Suetônio,
apresentaram ações repreensíveis na presença de Sabina (esposa de Adriano),
mostram deveras incertezas. Para Boatwright (2008, p. 139), tal ação de Adriano,
para além de sua suposta possessividade com a esposa, teve como intento,
demonstrar a sua posição frente ao Império romano, sendo que, nas palavras da
autora: “Adriano emerge como um homem que nunca pode esquecer os deveres de
sua posição.” (2008, p. 139).
Adriano, seguindo os precedentes de Augusto, também se envolveu
diretamente com as questões legais e administrativas romanas59. A historiografia
que aqui analisamos parece-nos concordar quando relatam que as ações de Adriano
referentes a tais assuntos romanos demonstravam certa impaciência, deste
Imperador, com a corrupção que assolava determinadas instituições romanas. Ao
mesmo tempo, em nossa visão, certas atitudes do Imperador nestes campos de
atuação também colocam em perspectiva sua concepção do Princeps como sendo
aquele responsável por criar as leis e por executá-las. Tal característica é salientada
por Dión Cássio, que nos diz:
Notamos, através do excerto acima, que Adriano, por vezes, exerce o papel
de juiz, concentrando em suas mãos uma das mais importantes posições dentro do
sistema jurídico romano. É durante esse Principado que notamos o surgimento de
maiores evidências relacionadas a Floro, um de nossos escritores. Como colocamos
anteriormente, Floro, possivelmente, manteve contato com este governante,
principalmente, através de cartas.
Adriano também é o responsável por articular um imponente serviço imperial,
onde antigas funções foram reabilitadas e novos cargos foram criados. Com isto, o
sistema administrativo imperial romano ampliou-se, tornando-se, de certa forma,
mais eficiente.
Outra característica importante acerca deste Imperador, como nos mostra
Alicia Canto (2004, p. 375), é que Adriano era um grande admirador da arte e da
59 Este quesito de seu governo é demonstrado pela cunhagem de moedas durante o período, onde
ele aparece relacionado com a personificação da Iustitia (justiça).
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....138
Em nossa concepção, tal aspecto adrianino se faz importante pois foi sob seu
governo que autores como Suetônio e, possivelmente, Floro escreveram parte de
suas obras60. O florescimento cultural pode ser visto, até mesmo, nos edifícios
romanos, sendo que novos foram construídos e antigos foram reformados, como é o
caso do Panteão romano61.
Sobre os últimos anos de vida deste Imperador, pouco sabemos. Os relatos
acerca de Adriano, especialmente nos tempos finais de seu governo, remetem, em
sua grande maioria, as suas viagens e campanhas fora de Roma. Sabemos que
este foi acometido por uma doença cardíaca, que o deixava cada vez mais
incapacitado de realizar as tarefas de um governante. (DIÓN CÁSSIO, História
Romana 69, 17-20). Por este motivo, Adriano teria adotado Tito Aélio Aurélio Fúlvio
Antônio62, homem mais velho e experiente que, por sua vez, a pedido de Adriano,
adotou os dois jovens sobrinhos de sua esposa, os quais seriam, posteriormente,
chamados de Marco Aurélio e Lúcio Vero.
Adriano faleceu de causas naturais em 10 de julho de 138 d.C. aos sessenta
e dois anos de idade. Seu herdeiro, Tito Antônio, mais tarde denominado como
60 Sobre a vida de Floro os dados são escassos. Discussões historiográficas, como as apresentadas
por Paul Jal (1967, p. CIII), situam seus escritos entre os governos de Trajano e Adriano, porém, não
há uma datação específica de quando sua obra teria sido elaborada. Em nossa concepção, podemos
perceber determinados resquícios na obra floreana que nos remetem a Dinastia Antonina. Por não
podermos determinar um período aproximado, ater-nos-emos a descrever as considerações
principais acerca de todo este período.
61 O Panteão, originalmente, tratava-se de uma pequena construção realizada por Marco Vipsânio
Agripa em 27 a.C. Segundo alguns relatos antigos, este prédio foi parcialmente destruído por um
incêndio em 80 d.C., sendo reconstruído por Adriano em 125 d.C. A inscrição,
M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT, foi mantida pelo Imperador na fachada do prédio.
62 No momento da adoção passou a ser chamado de Titus Aelius Aurelius Caesar Antoninus. Era filho
de Tito Aurélio Fúlvio, procedente de Nemauso, e de Árria Fádila, filha de Árrio Antonino, pertencente
ao círculo de amizades de Plínio, o Jovem.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....139
63 O cognome Pio, de acordo com Birley (2008, p. 184) foi acrescentado ao nome deste Imperador
por sua iniciativa pela deificação de seu antecessor, Adriano, junto ao Senado romano.
64 Segundo autores como Birley (2008, p. 149) e Boatwright (2008, p. 181), a experiência anterior
preferência de Antônio Pio, o que fazia com que Lúcio fosse deixado de lado muitas vezes. Um
exemplo disto é que, em jornadas oficiais por Roma, Marco sentava-se no mesmo veículo que o
Imperador, enquanto a Lúcio era destinado um lugar na carruagem seguinte, junto ao Prefeito
Pretoriano. Além disso, apesar da idade próxima entre ambos, Marco era o primeiro a desenvolver
cargos em meio a Roma, enquanto Lúcio os desenvolvia em um momento posterior.
67 Os escassos relatos sobre este Imperador nos deixam entrever que sua morte teria ocorrido por
qual teria expressado o desejo de que tanto Marco quanto Lúcio se tornassem Imperadores. Seria
uma manobra política, onde o novo governante demonstra o respeito pela memória do Imperador
Adriano.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....140
69 Marco substituiu o Verus por Antoninus em homenagem ao seu antecessor, Antônio Pio.
70 Lúcio substituiu o nome Commodus lhe atribuído em seu nascimento pelo nome Verus, que fora
dado a Marco inicialmente.
71 No momento de sua nomeação como Augustus, Marco Aurélio tinha quatro filhas vivas e sua
esposa estava grávida. Desta gravidez, vieram gêmeos, os quais receberam os nomes de T. Aurelius
Fulvus Antoninus, em homenagem a Antônio Pio, e L. Aurelius Commodus, em homenagem ao co-
Imperador.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....141
reformado pelo medo inspirado pela guerra, ou, ainda, para que
compreendesse que era um Imperador. (HA, Verus 5,8).
72 Em meio à guerra contra os partos, em 163 d.C. Vero casou-se com a filha de Marco com Faustina,
Lucila, de treze anos. Desta união, nasceram três herdeiros. Mais uma vez, notamos o casamento em
Roma como forma de negociação política.
73 Segundo Birley (2008, p. 195) e Mclynn (2009, p. 267), a pedido de Lúcio, Cômodo e seu irmão
mais novo, Ânnio Vero (o outro gêmeo havia falecido anos antes), são nomeados Césares.
74 Atual Viena, na Áustria.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....142
pai, impondo um acordo de paz e impedindo, desta maneira, o usufruto de tais terras
pelas elites romanas.
Apesar disto, Cômodo governou por cerca de doze anos. Sua morte, assim
como a de muitos imperadores, é cercada de mistérios. Nos últimos anos de sua
vida, de acordo com pesquisadores como Birley (2008, p. 191) e Mclynn (2005, p.
340), o governante passou a se dedicar a outras atividades, tais como as lutas
gladiatórias. Tamanho foi seu interesse que se tornou um gladiador, chegando a
participar de combates na arena romana. No curso de 192 d.C., as inclinações
patológicas de Cômodo75 tornaram-se mais graves. Neste período, o Princeps se
identificava como o Hércules romano, o fundador mitológico de Roma, a qual ele
passou a denominar como colonia Comodiana, ao mesmo tempo que se auto-
intitulou Lucius Aelius Aurelius Commodus Pius Felix Augustus, às vezes com as
alcunhas de Amazonius, Invictus, Herculeus, Romanus, Exsuperatorius.
Seus supostos devaneios culminaram em seu assassinato no ano de 192 d.C.
Para Dión Cássio (História Romana LXXII, 20) e Herodiano (História do Império
Romano Após Marco Aurélio XV, 1), uma trama articulada por Laetus, Ecletus e
Marcia, amante de Cômodo, levou ao envenenamento do Imperador e,
posteriormente, ao seu estrangulamento pelas mãos do atleta Narciso. Com ele,
chegou ao fim a Dinastia dos Antoninos. O ano seguinte, de 192 a 193 d.C., foi
governado por nada menos que quatro imperadores76, sendo que apenas em
meados de 193 d.C. ascende ao poder um imperador que o manteria por um tempo
relativamente maior, Septímio Severo, que inaugurava a Dinastia Severiana em
Roma77.
A partir dessa exposição sobre o poder imperial, podemos notar que Plutarco
e Suetônio viveram em períodos muito próximos, enquanto a vida de Floro, suspeita-
se, estendeu-se um pouco mais, adentrando-se mais profundamente na Dinastia
Antonina. Plutarco nasceu durante o governo de Nero, passando, durante a sua
infância e juventude, pelos governos de Galba, Otho, Vitélio e Vespasiano. Suas
visitas a Roma e suas primeiras funções administrativas ocorreram sobre Tito,
78 Alguns estudiosos consideram que Floro nasceu em 117 d.C., ponto que discutiremos a seguir, ao
tratarmos sobre as informações biográficas deste autor.
79 Como destacamos no capítulo anterior, em FLORO, Epítome de Tito Livio I, 8, o autor refere-se
que desde o tempo de César Augusto até a sua própria época passaram-se cerca de 200 anos,
período que poderia abranger desde o governo de Adriano (se considerarmos o ano de nascimento
de Otávio – 63 a.C.) até os principados de Antônio Pio e Marco Aurélio (levando em conta o ano de
27 a.C., quando Otaviano recebe o título de Augustus.).
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....144
redigida em grego por um senador romano. Tal percepção se faz importante, pois
coloca em evidência as transformações pelas quais passava o Império Romano e,
por conseguinte, seus aspectos políticos, culturais e sociais. Como nos diz Jean-
Michel Carrié (1999, p. 132), tratava-se de um Império em mutação. 80
Conforme dissemos anteriormente81, Dión escreveu um relato de amplo
aspecto, em cerca de oitenta livros, que abordou desde os tempos remotos, o
surgimento de Roma e do povo romano, até a sua própria época, o século III d.C. É
extremamente fortuito para nós, estudiosos, que em meio as descrições de seu
tempo, o autor nos relegou muito de sua vida, suas experiências com Roma, suas
atividades, seus ofícios e perspectivas. Enfim, mesmo que de forma indireta e
apesar de sua obra encontrar-se bastante fragmentada82, Dión expôs em seu relato
sua biografia pessoal. Desta forma, conseguimos perceber o desenrolar de sua vida
juntamente com os acontecimentos em Roma, principalmente no período em que
nosso autor vivenciou de forma mais intensa esta sociedade, quando desempenhou
inúmeras funções em meio à administração romana.
De acordo com Peter Michael Swan (2004, p.XIV), um diploma militar romano,
datado de 229 d.C., refere-se a este autor como L. Cassius Dio. O cognomen
Cocceianus, há muito atribuído a ele83, é, provavelmente, um equívoco, produto de
uma confusão entre nosso autor e Dio Cocceianus de Prusa84, também conhecido
pelo cognomen de Crisóstomos. Sobre este aspecto, Dión Cássio nada nos fala.
Sobre Dión de Prusa, é possível encontrarmos uma discreta referência na obra
cassiana sobre esse retor, porém não há nada mencionado que se refira a uma
possível relação familiar entre ambos. (DIÓN CÁSSIO. História Romana LXIII, 2).
80 Para Millar (1964, p. 06), esta característica é um reflexo da natureza da sociedade romana do
período, onde grande parte dos literatos permaneceram fora dos círculos expressivos de poder.
81 Ver Capítulo I.
82 Muitas partes da obra cassiana encontram-se perdidas. De determinados períodos, possuímos
apenas fragmentos. Contudo, tudo nos leva a crer que a obra História Romana obteve grande
repercussão em seu próprio tempo, sendo constantemente citada na produção de outros autores,
principalmente pertencentes à Antiguidade Tardia. Durante a Idade Média, também é possível
encontrar profusas alusões a esta obra, especialmente após a publicação de diversos manuscritos
que preservaram 1/3 desta obra que possuímos contato atualmente.
83 Como exemplo, podemos citar as edições de História Romana de Leunclavius e Boissevain, de
1592 e 1895, onde o escritor antigo aparece denominado como Dio Cassius Cocceianus. Em um
momento posterior, o pesquisador Meyer Reinhold (1988, p. 02), também se utiliza de Cocceianus
para tratar de nosso autor.
84 Nascido em Prusa, na Bítinia, este escritor, orador e filósofo viveu no século I d.C, durante a
Dinastia Flaviana.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....146
Como a família de Dión obteve a cidadania romana não nos é muito certo.
Nada foi encontrado sobre essa família ter governado a Bitínia no momento em que
a mesma se tornou uma província romana. Há alguns relatos de diversos Cassius,
principalmente no final do século I d.C. e início do II d.C., mas, em sua grande
maioria, tratam-se de já cidadãos romanos que participaram de determinados
eventos do período. Para L. De Blois (1999, p. 36), as evidências sobre a família
Cassius sugerem que ela estava conectada tanto a sua própria Região, a Bitínia,
85 De acordo com Stanley Storey (1999, p. 21), era uma região localizada na Ásia Menor, limitada a
leste pelo rio Sangário, sendo que suas fronteiras antigas se estendiam até o rio Partênio, que a
separava da Paflagônia. A oeste e sudoeste o rio Ríndaco separava-a da Mísia e, ao sul, estavam
a Frígia e a Galácia. Ver Anexo IV.
86 Região ao sul da Ásia Menor, onde atualmente se encontra a província de Antalya, na Turquia.
87 Quintus Marcius Barea Soranus (século I d.C.), cônsul, senador e governador provincial que
enfrentou a oposição de Nero e suicidou-se após ter sido condenado à morte por traição. Como
herdeiros, podemos encontrar na família de Borea, os imperadores Tito, Nerva, Trajano e Adriano.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....147
quanto a Roma. Tal colocação está de acordo com as sugestões de Millar, o qual
nos diz que: “O próprio Dio aparece estar dividido entre suas lealdades locais: em
um primeiro fragmento de sua História ele se refere à Itália como ‘esta terra em que
vivemos’, mas, em um momento posterior, ele fala em ir para sua casa na Bitínia. ”
(MILLAR, 1964, p. 10). Em nossa visão, este aspecto de Dión não é algo a se
estranhar. Assim como os outros autores por nós aqui analisados, o niceano possui
a cidadania romana e participa ativamente desta sociedade, principalmente através
do desempenho de cargos políticos e administrativos. Sendo assim, além de ser um
cidadão de Nicéia, constitui-se também em um cidadão romano. Logo, possui dupla
cidadania, algo que expressa muito bem em sua obra onde retrata a trajetória do
povo romano, ao qual também pertence.
A data de nascimento de Dión nos é bastante incerta. Para Millar (1964, p.
12), esta estaria localizada entre os anos de 163 – 164 d.C., durante os governos de
Marco Aurélio e Lúcio Vero, colocação com a qual concorda Peter Swan (2004,
p.10). Contudo, para Earnest Cary, Dión teria nascido alguns anos antes, por volta
de 155 a.C., em meio ao principado de Antônio Pio. Apesar das discrepâncias
datais, para nós, é importante perceber que Dión nasce quando Roma estava sob a
Dinastia Flaviana, em finais do século II d.C.
A despeito das poucas informações sobre sua infância88, sabemos que Dión
já se encontrava em Roma durante a ascensão de Cômodo, em 180 d.C. Em suas
próprias palavras:
88Alguns pesquisadores acreditam que Dión passou sua infância e parte de sua adolescência sendo
educado em sua cidade natal, Nicéia. Se ele seguiu os moldes da educação greco-romana do
período, como destaca Rowland Smith (2011, p. 130), ele teria iniciado seus estudos aos sete anos
com um primus magister, passando por uma grammaticus e, no final, quando contava com cerca de
dezoito anos, finalizou seus estudos com um retor. Dión, inclusive, refere-se a seu professor, Marcus
Aurelius, um importante sofista de sua época. (DIÓN CÁSSIO. História Romana LXXI, 35).
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....148
Este medo foi compartilhado por todos, por nós senadores assim
como pelo resto. E aqui está outra coisa que ele fez para nós,
89 O cursus honorum caracterizava a carreira pública de um senador romano, com uma classificação
hierárquica de acordo com as atribuições e importância de cada magistratura. O cursus honorum na
época de Dión é exemplificado no Anexo II.
90 Sobre as questões referentes ao tribunato militar e ao cursus honorum já nos referimos
Partindo das próprias palavras de nosso autor, faz-se possível constatar que
Dión mantinha uma estreita relação com Septímio. Relação esta que é expressa
pelo fato de o Imperador ter certo conhecimento das obras cassianas, além de
estabelecer contato através de cartas com este autor e, por conseguinte, senador.
Este aspecto da vida de Dión nos é de extrema importância, uma vez que o
aproxima, apesar da lacuna temporal, de nossos outros quatro autores. Todos, de
modos diferentes, mantêm relações diretas com o poder imperial, com Imperadores.
Tais relações ditam o que nos é apresentado em suas linhas, a maneira como as
imagens imperiais são construídas e como determinados Princeps serão
representados. Na obra cassiana, podemos notar que há uma construção benéfica
em torno do Princeps do qual foi próximo, no caso, Septímio, ao mesmo tempo que
há uma construção também benéfica da imagem de Augusto, àquele a quem
Septímio tenta se assemelhar.
Em concordância com esta acepção, Adler (2012, p. 489) destaca a
participação de Dión nos Iudi Circenses, jogos que tiveram lugar em Roma em 196
d.C. durante as Saturnálias. Nesta ocasião, o escritor encontrava-se próximo a
Septímio, considerando-se um amigo deste Imperador.
Na continuação de sua carreira, Dión teria ainda teria exercido o pretorado,
além de seu cargo de Senador. Em 204 d.C., para Swan (2004, p.02), nosso escritor
participou como membro do Concilium de Septímio durante o julgamento do
governador da Sardinia94. Entre 214 e 215 d.C., após a morte de Septímio e de um
período ausente de Roma, Dión aparece ao lado do Imperador Caracala, em
Nicomédia, capital da Bitínia, durante as viagens deste governante pelo leste.
Há uma lacuna biográfica sobre Dión durante os anos de 215 a 217 d.C.
Contudo, sabemos por suas próprias palavras que estava presente no Senado em
finais de 217 d.C. quando Macrino enviou uma carta informando que, a partir
daquele momento, ele estava no poder do Império Romano. (História Romana
LXXVIII, 37, 5-6).
Nos anos que se seguem, foi nomeado por Macrino curator 95 de Pérgamo e
Smyrna, cargo em que permaneceu até 221 d.C., quando voltou à sua terra natal
para resguardar-se por motivos de saúde. (História Romana LXXIX,7,4; LXXX,1). Em
223 – 224 d.C, durante o governo de Alexandre Severo, foi nomeado Procônsul da
África, cargo que precedeu o de Cônsul com Severo, onde permaneceu até 229 d.C.
Neste mesmo ano, Dión retornou a Nicéia, contando com cerca de sessenta e cinco
anos de idade e já bastante adoentado.96
Em meio à sua extensa carreira política, nosso escritor escreveu sua profusa
obra, a qual, inicialmente possuiu duas publicações: a primeira remetendo-se até o
período de Septímio e a segunda, publicada por volta de 230 d.C., abarcando os
governos de Caracala, Macrino, Heliogábalo e parte do período de Alexandre
Severo.
Em determinadas passagens da obra cassiana, podemos perceber que o
autor ainda foi proprietário de terras em lugares diversos, tais como na própria
Nicéia, uma vila em Cápua e, muito provavelmente, alguma pequena propriedade
em Roma97. Desta forma, faz-se evidente que Dión era detentor de um certo nível de
riqueza, mesmo que ele não se autodenominasse como um rico homem do Senado.
(DIÓN CÁSSIO. História Romana LXXIII, 3).
Sobre a vida amorosa de Dión, as referências são escassas. De acordo com
Caillan Davenport (2012, p. 800), em algum momento de sua vida ele deve ter se
casado, apesar de não sabermos com quem. Chega-se a esta conclusão a partir da
existência de relatos de um Cassianus Dion, cônsul em 292 d.C., o qual seria seu
bisneto. Sobre esta questão, os fragmentos da obra cassiana nada nos dizem.
O mesmo acontece com as datas de seu falecimento. Após 230 d.C., data em
que publicou História Romana com a adesão dos outros integrantes da Dinastia
Severiana, nada mais sabemos. Provavelmente, para Maud Gleason (2011, p.54)
fez com que ele fosse repudiado pela classe pretoriana e, por isso, afastado de seus deveres em
Roma, passando a exercê-los em sua cidade natal.
97 A propriedade em terras romanas pode estar conectada com o decreto de Trajano onde senadores
romanos deveriam possuir terras em território romana e considerá-las mais que apenas um local de
trabalho.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....152
faleceu em Nicéia, lugar de seu nascimento, com mais de sessenta e cinco anos e
vítima de alguma doença que lhe acometia as pernas.
Dión Cássio foi um homem de seu tempo. Nascido na Bitínia, adentrou a
sociedade romana ainda jovem, na sombra de sua família. Ocupou cargos
esperados em sua posição social, desempenhou funções administrativas e militares.
Sua ascensão ao consulado não ocorreu de forma rápida, pelo contrário,
paulatinamente. Galgou posições até aparecer em maior evidência no governo dos
Severos. Período em que o Império Romano encontrava-se em plena
transformação, em mutação.
Sua obra é expoente de toda essa transformação ocorrida na sociedade
romana. Traça, em suas linhas, o desenvolvimento do povo romano e, por
conseguinte, de seu Império. Apresenta, em seus traçados, os valores senatoriais
que lhe eram intrínsecos. É nestas que nos deparamos com a construção da
imagem de Augusto, da legitimação em torno deste Princeps e dos Princeps com os
quais Dión possuía contato direto: a Dinastia dos Severos.
Dinastia que não possuía laços consanguíneos com Roma. Para além disso, foi o
primeiro a trazer consigo uma Imperatriz de origem oriental. Esta característica será
algo preponderante durante todo o governo dos Severianos, os quais, regularmente,
não deixaram de criar formas para a legitimação de seu poder. Dentre estas,
podemos destacar as ações propagandísticas, as criações artísticas, as construções
arquitetônicas e, o nosso objeto de estudo, as obras literárias. Através destas
últimas, podemos perceber como a Dinastia Severiana tentou-se legitimar-se no
poder romano, mostrando-se como algo novo, porém sem deixar de salientar suas
semelhanças com outros períodos, com outros governantes romanos que se
consagraram. É desta maneira que percebemos as construções em torno da
imagem de Augusto, construções estas que buscam legitimar não só a imagem
deste governante, mas também a estrutura política do Principado Romano e,
portanto, do período governamental inaugurado pelos Severos, uma época onde
encontramos muitas rupturas com os modelos antigos, mas, também muitas
continuidades.
Septímio Severo manteve-se no poder até 211 d.C., ocasião de sua morte102.
Como herdeiros, deixava dois filhos: Caracala103 e Geta104. Campbell (2008, p.15)
destaca que a intenção de Septímio era que seus dois filhos governassem juntos o
Império Romano, algo que não durou muito. Em dezembro do mesmo ano, Geta é
assassinato a mando de Caracala, o qual torna-se Imperador único105.
De acordo com Victoria Escribano (1999, p. 180), Caracala não foi um
governante popular entre o Senado e o povo romano de sua época. Suas ações,
que muitas vezes levavam à execução de senadores e de seus opositores políticos,
lhe atribuíram a fama de um homem cruel e vingativo, incapaz de governar
209 d.C., Septímio lhe conferiu o título de Augustus para que, desta maneira, governasse juntamente
com seu irmão, Caracalla.
105 Após o assassinato, Caracala ordena que todas as referências a Geta sejam apagadas de
inscrições, obras de artes e construções arquitetônicas. Como Harriet Flower (2011, p.206) ressalta, a
imagem de Geta passou por uma das mais profundas Damnatio Memoriae ocorridas no Império
Romano.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....156
juntamente com as outras instâncias da sociedade romana. Esta mesma visão nos é
passada por autores da época, tais como o próprio Dión. Neste ponto, atentamos
para o fato de que Dión era um senador romano e sua obra é elaborada através
desta perspectiva, ou seja, ela irá refletir os ideais que circulam neste meio social,
nem sempre sendo capaz de expor outras visões acerca deste Imperador 106. Para
nós, trata-se de uma construção imagética que não levara em consideração outros
aspectos do principado de Caracala, tais como a interação entre o Imperador e o
Senado, que sempre é informado, através das correspondências imperiais, das
ações do governante, principalmente sobre as campanhas fora de Roma; ou, até
mesmo, o fato de Caracala ser um estrategista político e militar, capaz de manter
relações com as províncias romanas, além de ampliar as terras sob o seu domínio,
ampliando também a cidadania romana, a qual é cedida por este Imperador a todos
os habitantes do Império Romano.
Em 8 de abril de 217 d.C., Caracala é assassinado durante uma de suas
campanhas pelo Oriente. As suspeitas de tal ato, de acordo com Maud Gleason
(2011, p.54), recaíram sobre o Prefeito Pretoriano, Marcus Opellius Macrinus,
porém, o acusado foi Julius Martialis, um evocatus 107ligado aos pretorianos, o qual
foi condenado à morte pelo crime.
Macrino é quem sucede Caracala no governo imperial. Oriundo de Cesaréia,
na Mauritânia, desempenhou carreira política durante o período de Septímio,
passando a ocupar o cargo de Prefeito Pretoriano já no governo de Caracala.
(DAVENPORT, 2012, p. 802.). Por não ter atingido a ordem senatorial, uma vez que
integrava a ordem equestre, a sua ascensão ao poder enfrentou problemas perante
o Senado, que, como Dión nos mostra, foi notificado por carta acerca do novo
Imperador. (História Romana LXXVIII, 37, 5-6). As oposições só aumentaram após a
morte de Júlia Domna, em 218 d.C., momento em que surge no cenário político seu
sobrinho-neto, Heliogábalo. O fato de Macrino ter nomeado seu filho, Diadumeniano,
Augustus e com ele dividido o governo em nada o ajudou.
106 A suposta extravagância de Caracala, atributo pouco condizente para um governante romano,
também é um ponto largamente explorado tanto por Dión Cássio quanto por outros escritores antigos.
107 Termo em latim que designa um soldado que já cumpriu seu tempo de serviço junto ao exército
Em maio 218 d.C., Heliogábalo foi proclamado Imperator pela III Legio Gallica
e Macrino e Diadumeniano condenados à morte. O jovem Imperador era filho de
Júlia Soaemias108, sobrinha de Júlia Domna, e Sextus Varius Marcellus de
Apamea109. A princípio, foi lhe atribuído o nome de Sextus Varius Avitus Bassianus,
contudo, passou a ser conhecido pela alcunha de Heliogábalo após se tornar sumo-
sacerdote do deus sol de Emessa. 110
Ao adentrar o governo imperial, adotou o nome de Marcus Aurelius Antoninus
Augustus, remetendo-se assim, novamente, à Dinastia dos Antoninos, com a qual os
Severianos sempre tentaram se identificar. Seu governo durou até 222 d.C. e foi
marcado por suas ações militares e pelas constantes participações de sua avó, Júlia
Mesa, e sua mãe, que receberam, inclusive honrarias no Senado. Em 221 d.C.,
Heliogábalo adotou seu primo, filho de Júlia Mamaea e Gessius Marcianus, que
recebeu o título de César e passou a se chamar Marcus Aurelius Severus
Alexandrus.
Na ocasião da morte de seu pai adotivo, Alexandre Severo contava com
apenas treze anos e somou a seu nome o título de Augustus. Alexandre foi o último
Imperador da Dinastia Severiana, governando Roma até 235 d.C. Seu principado é
marcado por constantes problemas fronteiriços, o que fez com que ele se
mantivesse em constantes campanhas. Em 235 d.C., segundo Kristen Dahmen
(2005, p.180), por divergências com os soldados que comandava, Alexandre é
assassinado, ocasião que irá inaugurar um novo período governamental romano.
Como já destacamos, o período do governo dos Severianos é analisado, por
muitos pesquisadores, como um momento repleto de rupturas e continuidades. A
princípio, o fato de se tratar de uma Dinastia que não possuía ancestralidade com a
Península Itálica já se constitui em uma das principais diferenças apresentadas por
estes governantes.
Ainda, um dos principais pontos de divergências entre outras Dinastias e a
Severiana é como esta última adentrou a púrpura imperial. Para muitos
108 Alguns pesquisadores, como Southern (2004, p.58) e Campbell (2008, p. 21), cogitam a hipótese
de que a mãe de Heliogábalo, para lhe legitimar como um herdeiro severiano, atribuiu sua
paternidade a Caracala. Sobre isto, não sabemos se era verdade ou se apenas se constitui em uma
manobra política que visava à aceitação de seu filho como governante pela sociedade romana.
109 Cidade localizada da região síria.
110 Chamado de Elagabalus, nome pelo qual este Imperador também é conhecido.
Cap.2. Entre Textos e os Contextos ....158
Adrian Goldsworthy
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 162
1
Ressalvamos, aqui, que cada autor possui uma linearidade em seus relatos. Assim, nos atentaremo-
nos aos dados passados e não na ordem dos acontecimentos estabelecidas pelo autor. A fim de
auxiliar na compreensão do contexto histórico dos períodos em que nossos personagens se inserem,
os ANEXOS I E II trazem as timelines (cronologias dos acontecimentos) de Júlio César e de Augusto.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 163
Quando Sila chegou ao poder, como não pôde, nem por esperanças
ilusórias, nem por medo, separar César de Cornélia, filha de Cina, o
qual exercera de maneira absoluta o poder, confiscou-lhe o dote. A
causa da hostilidade de César contra Sila era seu parentesco com
Mário. Com efeito, Mário, o antigo, tinha desposado Júlia, irmã do pai
de César da qual nascera Mário, o Jovem, que era assim primo-
irmão de César. (PLUTARCO, César I, 1 – 2)
2
Anco Márcio (em latim Ancus Martius) pertenceu à série de reis lendários que
governaram Roma até 509 a.C. Neto de Numa Pompílio, sucessor de Rômulo, governou Roma
após Túlio Hostílio. Foi o quarto rei da cidade e o último de origem sabina.
3 Essa mesma questão é abordada por Dión Cássio em determinado momento de sua obra. Em suas
palavras: “Em geral, ele era absolutamente um devoto de Vênus e ansiava por persuadir a todos que
tinha recebido dela uma espécie de flor da juventude. ” (Dión Cássio, História Romana XLIII, 43).
4
Faz-se necessário salientar que os dois autores apresentam partes de suas obras que se perderam
nos caminhos da História. Assim, suas biografias de César nos chegaram incompletas. Faltam os
primeiros anos da vida do biografado, seu nascimento, sua descendência. Trataremos aqui das
partes restantes. Para autores como Canfora (2002, p. 22) e Mcdonald (1971, p. 92), César teria
nascido por volta de 100 a.C.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 165
Desde o princípio, podemos notar o tom que será atribuído por Floro a César.
Quando o autor nos diz que a “(...)Fortuna6 entregou a César (...)”, está, de certa
forma, legitimando a posição deste personagem em meio às suas conquistas
militares. Ele teria sido agraciado por esta divindade e esta graça o acompanharia
por toda a vida. Assim, apesar deste autor introduzir a figura de Júlio César de uma
maneira diferente das apresentas por Veléio, Plutarco e Suetônio, os quatro
assemelham-se pela maneira que descrevem César. Em outras palavras, como o
colocam como um homem corajoso, sagaz, fiel, além de protegido pelos deuses.
Esses mesmos aspectos podemos encontrar na obra de Dión Cássio, História
Romana. Suas linhas expõem de uma maneira bem peculiar grande parte da
trajetória, desde a fundação da cidade, até o período vivenciado pelo autor, o século
III d.C. e o governo dos Severos. Apesar da obra apresentar grandes lacunas e
partes perdidas7, ela constitui-se em um objeto de análise importante, uma vez que
expõe em suas linhas concepções distintas sobre assuntos diversos que permearam
a História Romana no decorrer de vários séculos. Dentre estes, podemos encontrar
a composição da imagem de determinados personagens, tais como Júlio César,
Marco Antônio e Augusto.
Júlio César é citado pela primeira vez na obra cassiana no decorrer do Livro
XXXVI,42. Neste momento, o autor concentrava-se em descrever os acontecimentos
que cercavam a carreira de Pompeu no ano de 66 a.C. César, aqui com 34 anos,
aparece como um papel secundário. Porém, é a partir deste ponto que notamos que
a imagem deste importante personagem romano começa a ser elaborada. Não
possuímos as descrições sobre sua infância, juventude e início da carreira militar ou
66 Trata-se de uma divindade agraciada e também temida pelos romanos. Deusa da sorte cega e do
acaso, é a responsável por oferecer aos mortais a riqueza ou a pobreza, a glória ou a infâmia.
7 Sobre isso, ver Capítulo I.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 167
política8. Entretanto, nas linhas que possuímos, faz-se evidente a maneira em que o
autor opta por descrever Júlio César. Desde o início, este é colocado como um
homem audacioso, corajoso, em plena ascensão e em busca pelo poder. Para Dión,
César coloca-se perante a sociedade romana como um homem astuto, capaz de
manipular o jogo político a seu favor.
Por sua vez, a descendência de Júlio César aparece em outros momentos da
obra cassiana. O autor alude ao parentesco com Mário em diversas passagens,
principalmente quando evidencia que este romano possuía os vínculos populares
notados em outros tempos e em outros personagens, tais como Mário. (DIÓN
CÁSSIO, História Romana XXXIX, 24-25.)
Em nossa visão, tal descendência, ao ser narrada pelos cinco autores,
evidencia os resquícios desta afirmação hereditária cesariana. Constroem, de
diferentes maneiras, a figura política de César, legitimando-a. São estas atitudes
iniciais que irão direcionar a trama da vida do personagem que descrevem e que
serão utilizadas, posteriormente, nas construções acerca daquele que será
considerado seu herdeiro, Augusto.
Assim como acontece com Júlio César, a figura de Augusto aparece em
momentos distintos nas narrativas dos autores por nós aqui analisados. Na maior
parte das vezes, a primeira menção feita a Otávio/Augusto é relacionada a Júlio
César e a questões hereditárias.
Veléio o menciona, pela primeira vez, na ocasião de seu nascimento. Nas
palavras desse autor: “O nascimento do Divino Augusto, que iria obscurecer a todos
os homens de todas as naturalidades com sua grandeza, há noventa e dois anos,
acresceu de brilhantismo o consulado de Cícero. ” (VELÉIO PATÉRCULO, História
Romana II, 36).
Desde este momento, é possível notar qual será o tom adotado por este
escritor ao descrever Augusto. Logo de início, ele já o caracteriza como Divino e
salienta que este irá eclipsar os demais homens deste período. Em meio a seu
relato, ora o chama como Otávio (principalmente quando trata de sua
descendência), ora como Augusto ou César. Tais nomeações variam de acordo com
o período sobre o qual o autor relata e a posição social e política ocupada pelo
personagem neste mesmo recorte temporal.
8 Em nossa visão, esta lacuna pode ser fruto tanto da seleção de dados a serem narrados pelo autor
quanto da ação do tempo, o que ocasionou a perda de diferentes partes da obra História Romana.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 168
9Na obra em latim, o autor utiliza, neste momento, o nome Caesarem Augustum, ao tratar de
Augusto.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 169
Agora, eu não posso afirmar que este não tem qualquer influência
nesta direção, ainda, não caberia mais a ele (Júlio César), mas ao
neto de sua irmã, Otávio; pois este último estava em campanha com
ele e era destinado a obter grande esplendor de seus trabalhos e
perigos. (DIÓN CÁSSIO, História Romana XLIII,42, grifo nosso).
Logo de início, observamos como o futuro Augusto será tratado por Dión. Em
suas palavras iniciais sobre esse personagem, o autor já nos deixa entrever como
serão suas descrições acerca do principado augustano, além de destacar a
genealogia de Otávio, sobrinho neto de Júlio César. Tais questões referentes à
genealogia e à hereditariedade otaviana ainda serão aprofundas no decorrer da
obra.
Sobre isso, o autor ainda nos passa que:
Seu pai, Caio Otávio, descendia de uma família que, embora não
fosse patrícia, era muito ilustre dentro da ordem dos equestres; um
homem severo, irrepreensível, honrado e rico. Obteve em primeiro
lugar a pretura junto com homens muito notáveis. Depois que sua
dignidade o tornou merecedor do casamento com Átia, a filha de
Júlia, terminou essa magistratura, dirigindo-se a Macedônia, onde foi
nomeado general; porém, em sua volta a Roma para apresentar sua
candidatura ao consulado, morreu, deixando um filho de quatro anos.
(VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 59).
15 Como já ressaltamos, Veléio destaca que os Júlios descendiam de Ânquises e Vênus, sendo o
primeiro um herói, e a segunda uma deusa (História Romana II, 41).
16 Cidade dos Volscos, povo que, como os latinos também habitavam o Lácio antigo. Velitras
17 Tarquínio Prisco, de acordo com a cronologia de Tito Lívio, foi o quinto rei de Roma, durante os
Nesse ponto, possuímos mais uma informação que não nos é passada por Veléio,
Plutarco, Floro ou mesmo Dión Cássio. Suetônio nos diz que, antes de se casar com
Átia, mãe de Augusto, o pai do futuro governante contraiu casamento com Ancária,
com quem gerou Otávia Maior. Assim, ao falecer, não deixava apenas Augusto e
Otávia, mas também uma meia irmã, Otávia Maior (SUETÔNIO, O Divino Augusto
IV, 1).
Sobre o pai de Otávio, Dión também nos passa poucas informações.
Podemos encontrar em seu relato algumas menções a este homem. Geralmente,
elas estão associadas ao nascimento de seu filho. Porém, há um ponto que deve ser
destacado. Assim como Véleio enfatiza a relação entre a familía dos Otávios e a
ordem equestre, Dión irá evidenciar a relação do pai do futuro governante com o
Senado romano. Apesar de não nos dizer que Otávio pai era um senador, suas
palavras nos deixam entrever tal questão, como se faz possível perceber: “ (...)
Octavius, que pelo motivo do nascimento de seu filho, encontrava-se atrasado para
a reunião da casa senatorial (...). (DIÓN CÁSSIO, História Romana XLV, 1). Da
mesma forma que Veléio dá importância à relação deste com a ordem equestre por
ser membro desta última, Cássio aqui também o faz. Por ser senador romano, o
autor faz questão de destacar tal ponto, sempre relacionando suas questões
pessoais com aquilo que narra. Aqui, notamos, novamente, como as subjetividades
dos autores aparecem profundamente arraizadas nas linhas que nos delegam. Para
que possamos compreendê-las temos que, antes de tudo, entendê-los.
A respeito de Átia, Suetônio também é o que mais nos fala. Segundo ele, esta
era filha de Marco Átio Balbo19 com Júlia, irmã de Júlio César, como podemos notar
no treco de sua obra arrolado abaixo:
Àtia foi gerada por Marco Átio Balbo e por Júlia, irmã de Caio César.
Balbo, um aricínio20 pelo lado paterno, com muitas figuras senatoriais
na família, era, pelo lado materno, parente muito próximo de
Pompeu, o Grande e, tendo exercido o cargo da pretura, dividiu,
integrando a comição dos vigintíviros, o território da Campânia entre
a pleble de acordo com a lei Júlia21. (SUETÔNIO, O Divino Augusto
IV, 2)
este dividiu e distribuiu terras da Campânia. Pela passagem da biografia de Augusto acima
destacada, nota-se que seu avô materno foi parte integrante de uma comissão de vinte homens
encarregados de proceder e fiscalizar a partilha destas terras.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 174
Nas linhas dos autores que aqui analisamos, nem sempre se faz possível
encontrarmos profundas descrições acerca dos aspectos físicos de Júlio César e
Augusto. Ao contrário do que acontece com Antônio, que possuí várias menções ao
seu porte físico, as características físicas de nossos outros personagens surgem
muito pouco, normalmente relacionadas a outras questões. Consequentemente, as
aproximações entre César e Augusto ocorrem em planos diferentes, sendo estes o
das qualidades morais e intelectuais, além das ações políticas e sociais.
Fisicamente, pelas poucas palavras que possuímos acerca do assunto, eles
parcamente se assemelhavam22. Contudo, para nós, é importante entendermos os
relatos de tais personagens por completo. Ou seja, mesmo que suas descrições
físicas sejam modestas, elas existem e foram criadas com intenções e motivos
próprios. Desta forma, são importantes para que possamos formar uma visão mais
completa acerca dos personagens analisados e dos autores que os narram.
Sobre os aspectos físicos de César, Suetônio é quem nos passa maiores
detalhes23: “Diz-se que ele era de estatura alta, tez clara, membros bem
proporcionados, faces um pouco mais cheias, olhos negros e vivos, de saúde
privilegiada (...)”. (O Divino Júlio XLV,1). Suetônio ainda vai mais longe na
caracterização física de César, relatando os cuidados que este homem possuía em
relação ao seu corpo e com sua aparência:
24
De acordo com o tradutor suetoniano Mendonça (2007, p. 75), esses cuidados corporais eram
expressões, para alguns romanos da época de César, de uma moda refinada em desacordo com as
tradições romanas. Muitas vezes, tais tratos eram vinculados a desvios sexuais.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 177
vaidoso, que se colocava acima dos homens de seu tempo, inclusive através de seu
vestuário.
A constituição física de César é brevemente citada por Plutarco:
25Não podemos deixar de notar certa diferença, igualmente, entre os aspectos que Suetônio relata
em Augusto e as descrições de Plutarco sobre Antônio. O autor beociano descreve seu biografado
como um homem bonito e vaidoso, que de tudo fazia para mostrar seu corpo e, desta maneira, ser
comparado a Hércules, de quem dizia descender.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 179
determinados estilos de vida e cuidados com sua saúde (O Divino Augusto LXXXI e
LXXXII).
Apesar das profusas descrições suetonianas, nenhum de nossos outros
autores o descrevem fisicamente.
Porém, seu tio avô, Caio César, quis a este, que havia sido educado
na casa de seu padrasto Filipo, como se fosse um filho seu, e, desde
seus dezoitos anos este o seguiu na campanha da Hispânia, o tendo
como um companheiro, alojando-se no mesmo lugar que ele e
compartilhando de seu carro; o honrou com o pontificado e com o
sacerdócio quando não era mais que um menino. Ao final da guerra
civil, o enviou a Apolônia, para que o espírito deste jovem singular se
instruísse nas disciplinas liberais, se bem que pretendia levá-lo como
companheiro de armas nas campanhas contra os dácios e, depois,
contra os partos. (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 59)
Desta forma, para o autor, Júlio César nutria fortes sentimentos por aquele a
quem adotou. Sentimentos estes que eram angariados pelo próprio Otávio e por sua
forma singular de ser. Assim, desde jovem, o futuro César acompanhou a seu tio e
pai adotivo nas batalhas, usufruindo, inclusive, de certos privilégios para com este.
Foi também sob o jugo de César, que Otávio passou a ser instruído nas artes
liberais. Em concordância com tal descrição, deparamo-nos com Floro que,
brevemente, nos diz que o jovem Otávio desfrutou de todo o prestígio de seu longo
serviço junto César. (Epítome de Tito Lívio II, 15.).
Por conseguinte, como constituintes das qualidades de Júlio César, Plutarco e
Suetônio aludem a outros aspectos, que abarcam desde as moradias do cidadão
romano até o seu peculiar gosto pelos prazeres sexuais.
Suetônio, em tais âmbitos, é um pouco mais prolixo, abordando questões
desde as moradias de César, seu gosto pelos artífices decorativos e pelos prazeres
do sexo, questões que pouco ou nada aparecem nas obras dos outros autores aqui
27Relembramos aqui que os anos iniciais sobre César se encontram perdidos na biografia suetônia e
não são narrados por Plutarco.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 181
analisados. Tais pontos são descritos, parece-nos, para que o autor possa, através
dos aspectos públicos e privados da vida cesariana, construir a personalidade do
biografado. Assim, o biógrafo nos passa que:
Sobre o modo de vida de César, Plutarco apenas nos fala de sua escolha
pela simplicidade, principalmente em épocas de campanhas militares, onde relata
que o general não se atava a honras e luxos dignos de sua posição (César XVII, 4-
11). Nesse aspecto, encontramos um ponto destoante entre a narrativa suetoniana e
a plutarqueana. Enquanto na primeira, César demonstrava ser um amante do
requinte, na segunda, este não fazia questão da ostentação no modo de viver.
Otávio, por sua vez, não seria partidário dos requintes luxuosos atribuídos por
Suetônio a César. Para este autor, o governante mostra ter uma vida, em certos
aspectos, sóbria e sem suspeita de vício algum (O Divino Augusto LXXII, 1). Ao
contrário de seu pai adotivo ou, até mesmo de Antônio29, sempre fez questão de
viver em casas modestas, mobiliadas de forma simples. Sua simplicidade era exibida
até no modo de se vestir (O Divino Augusto LXXII e, LXXIII.). Com respeito à comida
e ao vinho, expunha a mesma parcimônia e singeleza de Júlio César, mostrando-se,
inclusive, adepto de alimentos que eram considerados de segunda qualidade (O
Divino Augusto LXXVI, 1-2; LXXVII, 1).
Floro, em meio ao seu relato conciso e centrado nas inúmeras batalhas
enfrentadas pelos romanos, também dedica algumas linhas para a descrição do
caráter cesarino. Como já ressalvamos, sobre a infância e a juventude de César
esse autor nada cita. O César floreano já é um personagem adulto, militar em
destaque que está em plena ascensão política e social. Concomitantemente, a visão
floreana de Júlio César é formada pelas ações do personagem durante tais
acontecimentos. Logo, temos a exposição de um César corajoso, destemido e
valente. (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 13.) Ainda, um homem que recebia as
glórias por ser eloquente e por ter estabelecido a “paz” nas Gálias. (FLORO,
31 Filha de Lúcio Scribônio Libo e Sêntia, era tia de Sexto Pompeu Magno, adversário político e militar
de Augusto. Contava com dezessete anos a mais que o futuro governante na ocasião do casamento.
Mais uma vez, tratava-se de um casamento político.
32 Segundo Polo (1994, p. 70), isso ocorreu por volta de 80 a.C.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 184
33 Em nossa concepção, tais distinções podem estar também localizadas nas diferenças dos gêneros
literários de nossos autores.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 185
34
Tal homem só é citado por Veléio e por Plutarco (César II,6). Segundo Fonseca (2007:140),
Marcos Junco, propretor da Ásia em 75-74 a.C., encontrava-se na Bítinia para a execução do
testamento de Nicomedes III, morto em 74 a.C. Junco, provavelmente, teve a autoridade de
procônsul também neste período.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 186
Quando seu resgate chegou de Mileto e ele foi libertado após pagá-
lo, imediatamente equipou navios e, partindo de Mileto, alcançou o
alto mar em direção aos corsários. Encontrou-os ainda ancorados na
ilha e apoderou-se da maioria deles. Roubou o dinheiro e, após ter
lançado os homens na prisão, em Pérgamo, foi em pessoa procurar
o governador da Ásia, Junco35, porquanto lhe cabia como pretor punir
os prisioneiros. Quando Junco lançou um olhar de ambição sobre o
dinheiro (pois não era pouco) e afirmou que sem pressa examinaria
atentamente os presos, César deixou-o e voltou a Pérgamo. Fez sair
da prisão os corsários e enforcou todos eles (...). (PLUTARCO,
CÉSAR II, 5-7)
35
Ao referenciar Junco, Plutarco entra em contradição com sua própria datação. Ora, se este
episódio ocorreu antes de 77 a.C., como César teria buscado o auxílio de Junco em 74 a.C.? Logo,
em nossas análises, a datação de Veléio e Suetônio nos parece mais aproximada da data do evento.
36 Salientamos aqui que iustitia, prudentia, virtus, pietas e clementia são algumas das características
37 Para Suetônio, a visita de César a Rodes acontece depois do caso Dolabela, antes do sequestro
pelos corsários, enquanto, para Plutarco, ela se passa depois dos corsários e antes de Dolabela.
38
Cneu Cornélio Dolabela, destacado partidário de Sila, sofreu um processo de acusação por seu
governo na Macedônia. O processo ficou muito famoso, principalmente, pelo discurso proferido por
César ao acusar o ex-cônsul.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 189
40Para Taylor (1975, p. 11), a eleição de César como tribuno militar ocorre por volta de 73 a.C..
41Contudo, apesar de Plutarco e Suetônio citarem a eleição para tribuno militar, Veléio nada cita.
Apesar disto, o autor salienta uma das ações que Júlio César realizou durante seu tribunato militar,
que foi o retorno dos proscritos por Sila às terras romanas. Para nós, isso evidencia que o autor
pretendia salientar, assim como os outros, que César, novamente, se colocava como defensor dos
Popularis, opositor de Sila, herdeiro de Mário, utilizando-se assim da memória sobre este
personagem romano.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 191
Os exemplos do afeto do povo para com César, entretanto, não param por aí.
Outras demonstrações somam-se às eleições do tribunato e, este é o caso dos
funerais de sua tia Júlia (por nós já citado) e de sua esposa Cornélia42. Suetônio (O
Divino Júlio VI,1) relata brevemente a situação, sobressaltando mais o discurso em
homenagem a Júlia, esposa de Mário, onde esta aparece como descendente de
deuses e reis43. No entanto, Plutarco nos dá uma percepção um pouco mais ampla
do evento e da recepção do povo para com este. Em suas palavras:
Suetônio dá grande valor ao elogio fúnebre realizado pelo ainda jovem Otávio.
Aqui, assemelha-se novamente com Júlio César, quem também proferiu louvações
públicas a membros femininos de sua família, no caso sua esposa e sua tia. Neste
quesito, também podemos notar uma separação da figura de Antônio, o qual, em
nenhuma de nossas obras, é citado como tendo se destacado no proferimento de
um discurso ou elogio fúnebre, com exceção da ocasião daquele realizado após a
morte de César, onde Suetônio mesmo nos diz que, após a leitura das Atas do
Senado, Antônio acrescentou poucas palavras.
O discurso fúnebre também se constitui em uma evidência do caráter do
biografado, tanto nas descrições sobre César quanto nas de Augusto. Ainda,
podemos notar os aspectos semelhantes entre as obras de Veléio e Suetônio,
quando em ambas aparece em destaque o desempenho de Otávio em meio às
batalhas travadas por seu tio avô, desempenhos estes que, além de serem
demonstrativos de seu caráter, angariaram-lhe a admiração de seu futuro pai
adotivo.
Novamente, notamos em Augusto o reflexo de características pertencentes a
Júlio César. Tratam-se de atributos muito bem quistos em meio a Roma. Para além
disso, são particularidades presentes em bons governantes. Desta forma, os laços
hereditários entre César e seu sobrinho-neto extrapolam os vínculos sanguíneos.
São mais profundos, ideológicos, idealistas. São caracteres que legitimam César
para, com isso, legitimar a figura de seu herdeiro.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 193
Sobre Júlio César, Dión também ressalva o destaque alcançado por este
perante as estruturas sociais romanas. Em suas palavras:
Neste ponto, o clamor por César é tão intenso que o povo romano intervém a
seu favor perante o Senado. Honra conquistada por poucos e não muito bem quista
pelos senadores romanos que, aqui representados pelas palavras de Dión, já
temiam as consequências de toda a popularidade cesariana44.
César galgou velozmente as etapas da ascensão política rumo ao consulado.
Os autores se atêm a narrar, neste momento, as magistraturas ocupadas por ele
durante os anos que se seguiram a sua nomeação como tribuno. Para nós, faz-se
interessante perceber que, em meio às descrições das funções desempenhadas por
César, os autores inserem as ações do personagem, deixando entrever a sua
personalidade e o seu caráter. Desta forma, conseguimos notar como se constrói
uma visão similar de César nas três obras que aqui analisamos.
O desempenho da questura45 é assinalado por todos os autores. Veléio
(História Romana II, 43), coloca tal magistratura como um passo a mais rumo ao
consulado visado por César. Plutarco e Suetônio atêm-se um pouco mais ao
assunto, ressaltando a administração cesariana da Hispânia Ulterior46, abastada
província romana (PLUTARCO, César V,6; SUETÔNIO, O Divino Júlio VII,1).
O mesmo acontece com a eleição de César como Edil47. De maneiras
distintas, três de nossos autores destacam, novamente, essa magistratura
desempenhada por César, distinguindo suas ações. De acordo com Suetônio, é
romana. Sobre este ponto, discutiremos em momento posterior ao tratarmos sobre as criações
imagéticas de Antônio e Augusto.
45 Segundo Taylor (1957, p. 11), César foi eleito Questor pela Assembleia do Povo entre 70 e 69 a.C..
Coube-lhe o exercício de sua função, na comitiva do pretor Caio Antístio Vétere na Hispânia Ulterior.
46 Concentrada no vale do Bétis, estendendo-se de Cartagena no Mediterrâneo até larga parte do
oeste atlântico.
47 De acordo com Canfora (2002, p. 96), César foi eleito Edil por volta de 65 a.C., fazendo, assim,
parte de uma instituição colegiada, anual e eletiva. As funções do Edil eram exercidas na
administração urbana, na vigilância dos mercados, em atividades referentes ao abastecimento da
cidade de Roma (cura annonae), na organização dos jogos e no cuidado com os arquivos.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 194
48O Capitólio (em italiano: Campidoglio), ou Monte Capitolino, é uma das famosas sete
colinas de Roma. Trata-se da colina mais baixa, com dois picos separados por uma depressão, palco
de muitas batalhas e lendas, tais como a vitória dos Sabinos. O Foro fica localizado entre as colinas
do Palatino, Quirinal e Esquilino. Constituía-se no centro dinâmico de atividades políticas, judiciárias e
econômicas.O Comício era o local destinado às assembleias centuriatas. As Basílicas eram edifícios
públicos destinados a reuniões de negócios e a tribunais.
49 O título de Pontifíce Máximo ( Pontifex Maximus) foi conquistado em 63 a.C.. Tratava-se do mais
alto cargo sacerdotal, representando todas as divindades reconhecidas pelo estado romano, sendo
superior a todos os sacerdotes. Suas funções abarcavam a custódia das Virgens Vestais, a vigilância
das assossiações de cultos, a administração dos prodigia, a nomeação e direção dos cinco flâmines e
do rex sacrourum. Responsabilizava-se também em intervir nos casamentos celebrados com a
confarreatio e nas distinções dos dias fastos e nefastos. Em suma, era partícipe de tudo que
interessava nos âmbitos dos cultos públicos, domésticos e gentilícios. O cargo, muito ambicionado e
bastante rendoso, remetia ao futuro governante de trinta e sete anos a responsabilidade por toda a
vida religiosa de Roma.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 195
Romana II, 43; PLUTARCO, César VII, 1; SUETÔNIO, O Divino Júlio XIII, 1; Dión
Cássio, História Romana XXXVII, 37). Isso porque César, ainda jovem (com cerca
de trinta e sete anos) e não pretor, concorreu a este cargo com Isáurico e Cátulo,
homens ilustríssimos e que, segundo as palavras de nossos autores, muito acima do
vencedor em idade e número de títulos, ou seja, candidatos para quem, geralmente,
se reservava o cargo. A vitória antecipada de César deixa claro o poderio político
que convergia para as mãos deste homem; poderio este que, a partir desse
momento, se somava o comando supremo da religião romana50.
Faz-se necessária nossa ressalva neste ponto acerca de um aspecto que
podemos notar em nossos autores. Estes, em meio a seus relatos sobre a carreira
política de César, sempre demonstram a importância que teve o apoio do povo nas
eleições de César e, por conseguinte, no desenrolar de sua carreira política. Esse
favorecimento do futuro governante perante uma grande parcela da sociedade
romana aparece várias vezes no desenrolar das narrativas. Por exemplo, podemos
encontrar em Suetônio as seguintes passagens: “Conquistado o favor popular (...). ”
(O Divino Júlio XI,1. Grifo nosso). Ou ainda: “ (...). Ademais, dois dias depois, como
uma multidão num impulso espontâneo batesse às portas e em alvoroço
assegurasse sua colaboração para preservar-lhe o cargo, ele a acalmou. ” (O Divino
Júlio XVI, 3. Grifo nosso). Também em Dión: “ Através destes meios César vinculou
o povo à sua causa (...). ” (Dión Cássio, História Romana XXXVIII, 7. Grifo nosso).
Em Plutarco, as referências ao apoio a César são ainda mais expressivas:
50 Segundo Canfora (2002, p. 52) e Mendonça (2007, p. 30), o culto religioso exercia grande
O mesmo apoio aparece em Veléio e em Floro. O primeiro nos fala que: “(...)
em uma atitude favorável da cidade para com ele (César), superior àquela que se
teve com os acusados (...). ” (História Romana II, 43. Grifo nosso). Enquanto no
segundo, encontramos a seguinte colocação: “ Seus concidadãos não eram ingratos
e acumularam-lhe todo o tipo de honras (...). ” (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 13.
Grifo nosso).
Logo, nas passagens acima arroladas, os autores deixam entrever que, em
suas visões, César possuía o apoio de grande parte da população romana, fato que
o levou à conquista de inúmeros cargos e magistraturas no seio político e militar
romano. Essa característica da vida cesariana foi de grande valia para seu sucessor,
Augusto, o qual, como veremos, fez uso desta para legitimar seu governo em Roma.
Em nossa concepção, essa visão transmitida pelos autores irá se perpetuar nas
construções que fazem acerca de Augusto, ao mesmo tempo que não aparecem nas
acepções sobre Marco Antônio.
Augusto também desempenhou a função de Pontifex Maximus, porém em um
momento posterior de sua vida51. Ao assumir este cargo, de acordo com Suetônio,
aumentou o número e o prestígio dos sacerdotes, assim como seus privilégios,
principalmente aqueles destinados às Virgens Vestais. Nessa mesma função,
restaurou alguns dos cerimoniais antigos, tais como os jogos seculares52 e
compitais53 e as festividades dos Lupercais (O Divino Augusto XXXI, 1-3). Sobre
esse quesito, Veléio também nos fala. Aqui, podemos encontrar novamente algumas
aproximações com Júlio César, uma vez que os autores destacaram as mesmas
funções desempenhadas por ele e por seu herdeiro.
Dentre estes cargos conquistados por Júlio César, segundo nossos autores,
também se encontram a pretura54. Veléio não nos dá maiores informações,
destacando somente que: “ (...) mostrou admirável valor e zelo no exercício da
pretura (...)”. (História Romana II, 43). Entretanto, Plutarco e Suetônio se estendem
um pouco mais em suas descrições.
Para Suetônio, durante o tempo que foi pretor, César demonstrou grande
parte de seu caráter, principalmente perante a descoberta da Conspiração Catilina
51 Em 12 a.C.
52 Eram jogos instituídos pelos livros Sibilinos, os quais se realizavam, em geral, a cada cem anos em
louvor de divindades como Apolo e Plutão.
53 Festividades realizadas em honra dos Lares Compitais, protetores das encruzilhadas.
54 De acordo com a historiografia aqui consultada, essa eleição ocorreu por volta de 62 a.C..
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 197
55 Segundo Jeffrey Tatum (1998, p. 67), César foi eleito cônsul por volta de 59 a.C..
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 198
56
Onde foi eleito cônsul juntamente com Bíbulo.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 200
governante vence uma violenta batalha em Módena, o que faz com que Antônio,
com uma escassez vergonhosa de recursos, fuja dos territórios itálicos (VELÉIO
PATÉRCULO, História Romana II, 61). Em nossa acepção, o autor, tenta demonstrar
como Otávio, desde a juventude, constituiu-se em um homem de valores, de
atributos que são demonstrados no campo de batalha, nos atos em defesa de Roma
e que, por isso, são reconhecidos tanto pelo Senado quanto por seus inimigos. Tais
descrições também podemos encontrar quando o autor trata de Júlio César.
Observamos aqui, toda uma construção ideológica em torno de César e Augusto,
construção esta que, a nosso ver, é representativa da tentativa de se legitimar o
sistema político do Principado romano.
Suetônio também relata a oposição que o futuro governante sofreu por parte
de Antônio. De acordo com suas interpretações, com o intuito de realizar maiores
ações em relação aos assassinos de seu pai adotivo, o agora Otaviano candidata-se
ao tribunato da plebe57 (SUETÔNIO, O Divino Augusto X, 2). Neste momento,
Antônio, a quem via como seu primeiro aliado, lhe oferece grande oposição
(SUETÔNIO, O Divino Augusto X, 3). Assim, passa a ser imbuído, por seus inimigos,
de várias desonras. Para o autor: “Marco Antônio disse que a adoção de seu tio fora
paga pelo estupro de que dele sofrera. (...)” (O Divino Augusto LXVIII,1). Mostra-se
assim, para o autor, uma tentativa de descrédito, da parte de Marco Antônio, àquele
que César havia designado como seu herdeiro.
É em detrimento desta oposição que, segundo o autor, ao ver que suas
intenções seriam frustradas, Otaviano estabelece alianças com integrantes dos
Optimates, em sua maioria, oponentes de Antônio (SUETÔNIO, O Divino Augusto
X,4). Ainda para o autor, suas ações nesse momento são voltadas: “(...) em seu
auxílio e no da Res Publica. ” (SUETÔNIO, O Divino Augusto X,4).
É em meio às primeiras disputas contra Antônio que, novamente, dá provas
de sua coragem e desempenho nos campos de batalha, evidenciando, desta
maneira, mais uma das características que compartilhava com Júlio César.
(SUETÔNIO, O Divino Augusto X, 5). Atributo este que, segundo Plutarco, também
pode ser visto, inúmeras vezes, na figura de Antônio, no entanto, não de forma tão
acentuada como acontece nas descrições sobre Augusto.
57Neste momento, o autor salienta que esta candidatura não condizia com a posição atual de
Otaviano, uma vez que era de origem patrícia e ainda não tinha exercido função na instituição
senatorial (SUETÔNIO, O Divino Augusto X, 2).
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 202
58 De acordo com Dión Cássio, Aulus Gabinius (Aulo Gabínio) era um adversário político de César.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 205
59 César parte para a Gália em março de 58 a.C., dando princípio à campanha contra os helvécios, a
qual termina com a vitória do general romano nas terras de Bilbracte. Ainda no mesmo ano, travou
disputas contra os germanos, ocupando Besaçon e saindo vitorioso da batalha de Ariovisto. No verão
de 57 a.C., sustentando suas conquistas militares, os soldados cesarianos iniciam a campanha contra
os belgas, o que culmina na derrota da coalizão dos belgas em Áxona (WOOF, 1998, p. 56)
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 206
60
Esse conceito, de forma mais ampla, refere-se às qualidades e méritos de algo ou alguém.
Segundo M. Finkelberg (2002, p. 37), a tradução que mais aparece para este termo é a palavra
virtude. A areté também pode aparecer vinculada à palavra agathós, que pode tanto indicar o nobre,
o aristocrata, quanto o homem que tem valor e coragem.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 207
A partir dos pontos que até então abordamos em nossa pesquisa, já se faz
possível uma prévia compreensão acerca das construções das imagens discursiva
de César e Augusto. Veléio, Plutarco, Suetônio, Floro e Dión Cássio, mesmo
fazendo uso de técnicas e padrões de escrita distintos, apresentam concepções bem
próximas sobre estes personagens, suas vidas e seus feitos. Demonstram ainda
como constroem a figura do herdeiro cesariano a partir de semelhanças e diferenças
com o seu antecessor. Como legitimam César para, consequentemente, legitimarem
Augusto. Por fim, como criam em suas palavras as bases legitimatórias do
Principado Romano.
Também como frutos dessa construção, podemos notar as concepções dos
autores acerca dos motivos que fizeram com que César entrasse em uma guerra
civil com Pompeu. Veléio (História Romana II, 44), desde o primeiro momento
destaca que a formação deste pacto político terá más consequências para todos os
envolvidos. Por sua vez, Suetônio, Plutarco e Dión Cássio também enxergam as
consequências funestas para aqueles envolvidos na formação deste acordo político
(PLUTARCO, César XIII, 4-5; SUETÔNIO, O Divino Júlio XIX, 3-4, Dión Cássio,
História Romana XXXVIII - XXXIX). Entretanto, o relato de Floro foi o que mais nos
chamou a atenção neste momento. Para ele, o pacto triunviral só foi estabelecido,
durando por cerca de dez anos, pois os triúnviros temiam uns aos outros. (Epítome
de Tito Lívio II, 13).
Segundo nossos autores, os princípios desta guerra civil romana encontram-
se em dois pontos principais: a morte de Júlia61, esposa de Pompeu e filha de César,
e a morte de Crasso62; fatores estes que vieram por abalar ainda mais um sistema
governamental que já se encontrava em bases instáveis. Nas descrições dos
autores:
63 Notamos um ponto discrepante entre as palavras de Dión Cássio e a de nossos outros quatro
autores. Ele destaca que Júlia e Pompeu tiveram uma filha juntos, ao passo que nas outras narrativas
aqui utilizadas, o bebê seria um menino. Não sabemos ao certo o porquê desta diferença. Parece-nos
uma falha que pode ser atribuída as inúmeras transcrições e traduções da obra e não propriamente
do autor.
64 SUETÔNIO, O Divino Júlio XXVI,1-2; DIÓN CÁSSIO, História Romana XXXIX, 64.
65
As efervescências das disputas civis são descritas em muitos atos pelos nossos autores, sendo
assim, optamos aqui por destacar seus principais pontos, onde as ações cesarianas aparecem em
destaque.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 210
66 De acordo com A. Riggsby (2006, p. 53), isso ocorreu por volta de 52 a.C..
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 211
Suetônio apresenta-nos, desta forma, outra visão a respeito dos motivos que
levaram César e Pompeu à contenda civil. Ao contrário de Patérculo e Plutarco, este
autor coloca nas mãos de César grande parte da responsabilidade pela guerra, uma
vez que esta serviria para desviar a atenção de suas atitudes incorretas durante o
desempenho de seu primeiro consulado. Neste momento, podemos notar um teor
mais crítico da parte suetoniana uma vez que este também vê como culpado, César.
O início do conflito armado67 é visto por Suetônio a partir da fuga dos tribunos,
Marco Antônio e Cássio Longino, de Roma. É neste momento, que as tropas
cesarianas se posicionam às margens do Rubicão, aguardando pelo confronto
(SUETÔNIO, O Divino Júlio XXXI,1 – 3). As linhas suetonianas que seguem a esse
relato são bastante expressivas, como podemos notar a seguir: “E aí então fez
passar o exército; após acolher os tribunos da plebe, que tinham vindo ter com ele
depois da expulsão, reuniu a tropa e, aos prantos e rasgando a roupa no peito,
apelou para a lealdade dos soldados” (O Divino Júlio XXXIII,1).
Na Antiguidade, rasgar as roupas e cair em prantos são manifestações
frequentes em momentos particularmente emotivos para os personagens envolvidos
(KAMM, 2006, p. 43; GOLDSWORTHY, 2006, p. 64; MENDONÇA, 2007, p. 58). Em
nossa concepção, ao narrar tal passagem68, o autor entra em certa contradição com
suas opiniões anteriores, onde levanta questões acerca do verdadeiro motivo da
participação de César na guerra civil. Aqui, o autor destaca, de certa maneira, o
desespero e a tristeza cesariana ao combater seus concidadãos romanos.
Plutarco apresenta ainda uma versão mais elogiosa às atitudes cesarianas
quando este opta pelo combate bélico. Para ele, César teria a pretensão de depor
suas armas, ou seja, abrir mão de suas legiões, a partir do momento que Pompeu
fizesse o mesmo. Esta condição é exposta pelo tribuno Antônio para o povo
romano69, que a acata. Entretanto, perante a perigosa oposição de certos senadores,
Antônio e Curião fogem de Roma (PLUTARCO, César XXX, 3-6). Logo, César só
teria se decidido pela disputa armada quando percebeu que suas tentativas
pacificadoras não surtiram resultado em meio a Roma. Aqui, novamente, César
surge contra o autoritarismo de Pompeu70.
Veléio, igualmente, dá vulto à tentativa cesariana de resolver de forma
pacífica as questões pendentes com Pompeu. Para ele, ao apresentar a opção
cesariana, Curião: “ (...) viu fracassar as condições de paz que César, com toda
justiça, pretendia (...). ” (História Romana II, 48). Desta forma, nada mais restou a
César que adentrar no conflito armado.
Floro e Dión Cássio apresentam uma interpretação semelhante entre eles,
porém um tanto distinta das passadas por Plutarco e Veléio. Para os dois primeiros,
César enxergou no conflito armado a solução para seus problemas políticos e
financeiros. (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 13; DIÓN CÁSSIO, História Romana
XL, 59-66.). Contudo, mesmo nestas acepções, os problemas políticos enfrentados
por César foram causados pelas atitudes de Pompeu, pela inveja que este nutria
pelo desempenho de seu rival.
O desenrolar dos conflitos bélicos entre os exércitos dos dois generais nas
obras de nossos autores é descrito profusamente e através de olhas diferentes.
Contudo, todos culminam em um mesmo ponto: o confronto em Farsália.
68 Que não é citada nos relatos do próprio César que se referem ao início dos conflitos (Guerra Civil I,
7).
69
Segundo alguns pesquisadores, tais como H. Delbrück (1996, p. 32), não teria sido Antônio que leu
a carta de César, mas, sim, Curião. Além disso, a leitura teria ocorrido perante o Senado e não
abertamente, junto ao povo romano.
70
A suposta culpa de Pompeu também aparece em César XXXIII, 4, quando os cidadãos romanos o
acusam de ter permitido que Lêntulo insultasse César quando este último propunha soluções
pacíficas para a reconciliação.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 213
71
Aqui os autores demonstram a benevolência que César teve, inclusive, com um de seus maiores
inimigos, aquele que viria a lhe desferir golpes mortais nos Idos de Março.
72 Sobre este ponto nos aprofundaremos no Capitulo IV.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 215
Quanto à guerra que aí mesmo ocorreu, uns dizem que ela não era
necessária, mas que, motivado pelo amor de Cleópatra, foi para
César inglória e cheia de riscos; outros acusam os servidores do rei e
sobretudo o eunuco Potino, que dispunha do maior poder e
recentemente tinha mandando matar Pompeu; tinha também
expulsado Cleópatra e tramado secretamente contra César.
(PLUTARCO, César XLIX, 5)
73 Como veremos no decorrer do capítulo seguinte, Cleópatra VII será uma figura presente quando
Suetônio trata Cleópatra como mais uma das amantes de César, mesmo que
esta tenha recebido mais honras que as outras. O autor chega a, inclusive, salientar
que o general romano poderia ter permitido que a soberana nomeasse seu filho com
o seu nome. Porém, declara-o como filho de Cleópatra, deixando no ar dúvidas
sobre a possível paternidade cesariana. Sobre isso, chega a citar a reunião
senatorial onde Marco Antônio, após a morte de César, assegurava que era intenção
de seu general reconhecer o futuro soberano alexandrino. Contudo, chega a um
impasse quando ressalta a atitude de Caio Ópio, companheiro de armas e amigo de
César, quando este, veementemente e através da publicação de uma obra, nega a
paternidade cesariana do filho de Cleópatra (SUETÔNIO, O Divino Júlio LII, 2-4).
Dessa maneira, podemos notar que, em momento algum, há a afirmação de que
César teve mais do que um caso com Cleópatra74.
Plutarco, no entanto, afirma a paternidade de César na seguinte sentença:
“Deixando Cleópatra reinando no Egito e, pouco depois, tendo ela dado à luz um
filho seu, que os alexandrinos chamavam Cesarião, ele partiu para a Síria.” (César
XLIX, 10). Logo, destacamos aqui que Suetônio é mais brando ao citar a relação
entre Cleópatra e Júlio César, não fazendo afirmações. Todavia, essa relação não
impediu que o general retomasse seus afazeres na sociedade romana, ao contrário
do que podemos notar nas descrições em relação a Marco Antônio.
Dión Cássio estende-se um pouco mais em suas descrições sobre a relação
de César com a soberana egípcia. Para ele, César deixou-se seduzir pelos
encantamentos de Cleópatra:
74 Em nossas pesquisas no decorrer da Iniciação Científica, percebemos que tanto Júlio César quanto
Antônio estabelecem, para além de relações amorosas, relações políticas, militares e econômicas
com a soberana ptolomaica.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 218
75 Trata-se aqui da província romana da Ásia, onde Fárnaces, filho de Mitridates, tentava aproveitar-
se da guerra civil e da instabilidade romana para restaurar o reino de seu pai. De acordo com Stefan
Weinstock (1971, p. 30), Júlio César dirige-se a essas terras por volta de 46 a.C.
76
Suetônio insere esse jargão em outro contexto, quando César já está em Roma, celebrando seus
triunfos. Para este autor, a frase faria referência não a uma batalha específica, mas a todas
(SUETÔNIO, O Divino Júlio XXXVII, 4).
77 Título, até então, de cunho militar e não político.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 220
CÁSSIO, História Romana XLIII, 44.). Por fim, Floro diz que César recebeu a
gratidão do povo em honrarias dignas de um Princeps. (FLORO, História Romana II,
13.).
As mesmas características podemos notar nas descrições posteriores acerca
das ações do herdeiro de César, o futuro Augusto. Na continuação da biografia de
Augusto, Suetônio ainda dá realce às ações deste governante em províncias
romanas, onde realizou construções para melhoras infraestruturais, além de ter
apaziguado pequenas revoltas e contendas (SUETÔNIO, O Divino Augusto XVIII, 2.;
XIX, 1-3).
Seguindo seu próprio ritmo narrativo, o autor destaca, por conseguinte, os
feitos militares desse governante, citando suas conquistas de terras estrangeiras,
tais como a Cantábria, a Aquitânia, a Panômia, a Dalmácia e toda a Ilíria (O Divino
Augusto XXI, 1-2).
A estabilidade trazida pelo futuro Augustoainda é avultada por Suetônio
quando este nos diz que, durante todo o seu governo, o templo de Jano Quirino78,
que até então só havia sido fechado por duas vezes desde a fundação de Roma, foi
fechado por três vezes, após estar estabelecida a paz por terra e por mar
(SUETÔNIO, O Divino Augusto XXII, 1).
Sobre os aspectos pacificadores do governo deste César, Veléio nos fala:
“Pôs fim às guerras civis após vinte anos, finalizando também as campanhas
exteriores, restabelecendo-se a paz e adormecendo por todos os lados a loucura
das armas (...)” (História Romana II, 89). Ou seja, para este autor, assim como para
Suetônio, César foi o responsável por reestabelecer a tão aguardada paz em Roma.
Contudo, esta concepção nos parece ser, mais uma vez, expoente de construções
especifícas sobre este governante e sobre o período de seu governo, criações que
pretendem transmitir apenas uma versão sobre os fatos do período. A
caracterização de paz romana que é atribuída ao período de Augusto, tanto por
escritores antigos quanto por pesquisadores contemporâneos, parece-nos
equivocada, uma vez que não podemos perceber um período de quebra na
expansão do território romano nem das disputas provenientes destas.
78O templo de Jano Quirino, em Roma, tinha suas portas fechadas somente quando não houvesse
grandes conflitos, em nenhuma região, que envolvesse romanos. Suetônio, ao citar que durante a
época de Augusto, esse templo permaneceu fechado por três vezes, tenta demonstrar o um caráter
pacificador desse governo.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 221
79
Os triunfos realizados em detrimento de vitórias sobre cidadãos romanos por outros cidadão não
eram legitimados pelo Senado nem aclamados pelo povo. Por isso, César, nas palavras
plutarqueanas, realizou o desfile triunfal para festejar uma vitória sobre um rei estrangeiro, que era o
caso do pequeno Juba II, acusado de guerrear ao lado de Cipião. Nota-se que Juba, nesse momento,
contava apenas com cinco anos de idade, como nos apresenta Isís da Fonseca (2007, p. 236).
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 222
80
Veléio, após se ater em explicações sobre os triunfos e os espetáculos proporcionados por César a
Roma, direciona sua narrativa para a análise do assassinato do general durante os Idos de Março.
Sobre suas concepções sobre esse fato, trataremos posteriormente.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 224
81 O qual só será determinado por Augusto e levará o nome de seu sobrinho, Marcelo.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 225
Para Floro, apesar de César ter sacrificado cerca de cem vítimas, não obteve,
em nenhum dos sacrifícios, bons presságios. A má sorte já enunciava os
acontecimentos funestos. (FLORO, Epítome de Tito Lívio, 13-14.).
Tanto nos escritos suetonianos quanto nos cassianos, onde presságios e
auspícios adquirem grande importância, sendo relatados em toda a extensão das
obras, muito se fala sobre os avisos enviados a César. Os autores dedicam vários
capítulos para descrevê-los, onde a imprudência cesariana de não os respeitar
aparece em grande evidência. (SUETÔNIO, O Divino Júlio LXXXI; DIÓN CÁSSIO,
História Romana XLIV, 16 – 18.). Parece-nos que, para esses autores, o descaso de
César com tais avisos é uma das causas de sua morte, uma vez que os próprios
deuses tentavam avisá-lo de seu destino.
Assim, apesar de estar ciente dos riscos à sua vida, César dirige-se para o
Senado nos Idos de Março. As narrações de Plutarco, Suetônio e Dión Cássio84,
nesse momento, são extremante ricas em detalhes. Relatam de forma
pormenorizada passo a passo do acontecimento, iniciando suas descrições com a
entrada de César no Senado, o início da conversa com Tílio Cimbro e o primeiro
golpe desferido por um dos irmãos Casca. Traçam, por conseguinte, a reação de
César e a perplexidade que se instaura na vítima e nos que assistem quando novos
golpes são desferidos (PLUTARCO, César LXVI,5 – 9; SUETÔNIO, O Divino Júlio
LXXXII,1, DIÓN CÁSSIO, História Romana XLIV, 19.).
O ápice do violento assassinato se dá quando César, percebendo quem está
no meio de seus assassinos, desiste de se defender. Nas palavras dos autores:
84
Veléio não se atém a descrever o assassinato em detalhes. Salienta apenas quem foram os
envolvidos e que ele aconteceu no Senado (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 57-58). O
mesmo o faz Floro, que meramente destaca que César foi atacado no Senado por seus colegas
senadores, tendo sido ferido em 23 lugares. (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 13-14).
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 229
CÁSSIO, História Romana XLIV, 20 - 53). O biógrafo beociano ainda destaca que:
“Antônio e Lépido, os principais amigos de César, fugiram secretamente e
refugiaram-se em casas alheias. ” (PLUTARCO, César LXVII, 1). Aqui, notamos uma
crítica direcionada à atitude de Antônio que, em meio ao caos ocasionado pela
morte de seu amigo, optou por esconder-se e resguardar sua vida. Críticas iguais a
estas ou ainda mais acentuadas a respeito da coragem de Antônio podemos
encontrar quando os autores tratam, mais prolixamente, deste personagem.
Outro fator de destaque nas obras de nossos dois autores é a reação do povo
diante ao assassinato de César. Plutarco e Suetônio são unânimes em afirmar o
estado de consternação do povo ao deparar-se com o cadáver de César. Tamanha
é a comoção popular que estes, ainda segundo nossos autores, não esperam que o
esquife seja depositado em seu leito fúnebre, incendiando-o durante o seu cortejo,
atirando-lhe todo o tipo de presentes que possuíam em mãos. Neste momento, os
autores relatam um aspecto mítico da morte de César, onde o espírito deste
ascende aos céus, em forma de estrela85. (PLUTARCO, César LXVIII, 1-7;
SUETÔNIO, O Divino Júlio LXXXIV). Para Dión Cássio, o povo estava mais
temeroso que transtornado pela morte de César. Nas ruas romanas, segundo este
autor, o sentimento que mais prevalecia frente ao assassinato de César era o medo
das consequências trazidas por tal ato. (DIÓN CÁSSIO, História Romana XLIV, 20.)
Para nós, o assassinato de César é fundamental para entendermos a
principal diferença entre as imagens de Júlio César e seu herdeiro. Primeiramente,
César é morto como consequência de seus atos, por ter gerado entre seus pares
romanos inveja e incompreensão, por aparentar ser desejoso do poder único,
monárquico. Erros, segundo nossos autores, não cometidos por seu sucessor. Em
todas as etapas de sua carreira política, seja como Otávio ou como Augusto, este
homem romano, apesar de concentrar em suas mãos poderes nunca antes detidos
por um só homem, fez de tudo para desvencilhar-se das características que lhe
atribuíram uma feição despótica, monárquica.
Dión vai ainda mais longe ao tentar esclarecer o governo augustano. Para ele,
este não poderia ser classificado como uma monarquia, mas também não era mais
apenas a Res Publica. Tratava-se de algo novo, uma fusão de características, uma
resposta para as questões que a democracia não conseguia mais responder. (DIÓN
CÁSSIO, História Romana LIII – LI).
É também após o assassinato de Júlio César que o cenário político possibilita
a ascensão de Otávio. O jovem, até então ausente das funções políticas, militares e
sociais romanas, é citado por César, em seu testamento, como um de seus
herdeiros. A leitura deste testamento é narrada de forma pormenorizada por
Suetônio, que, desde o princípio, faz questão de ressaltar a escolha do herdeiro de
César: “Mas no último testamento instituiu herdeiros três netos de suas irmãs, Caio
Otávio, em três quartos, Lúcio Pinário e Quinto Pédio, na quarta parte restante; na
parte final do testamento adotou Caio Otávio e lhe deu seu nome (...)”. (SUETÔNIO,
O Divino Júlio LXXXIII,3. Grifo nosso). Dión Cássio também assinala a adoção de
Otávio por César, ressaltando também a satisfação do povo romano com isto. (DIÓN
CÁSSIO, História Romana XLIV, 35.). A menção a adoção de Otávio nos é de
grande importância pois, desde esse momento, Suetônio e Dión Cássio já começam
a construir e a legitimar a imagem deste jovem e futuro governante como o
verdadeiro herdeiro de César.
Sobre a adoção de Otávio, Veléio igualmente nos fala, ressaltando-a e
inserindo a participação do herdeiro de César na caça dos assassinos (VELÉIO
PATÉRCULO, História Romana II, 59). Plutarco aborda da mesma maneira a
participação de Otaviano na perseguição aos assassinos de César. Contudo, nesse
momento já passa a chamá-lo de César, denotando sua compreensão sobre a
adoção do jovem e do caráter que o nome irá levar deste momento adiante:
transformar-se-á, aos poucos, em uma titulação (PLUTARCO, César LXIX, 12). O
mesmo o faz Floro, que caracteriza Otávio como o salvador do povo romano.
(FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 14-15).
Após essas considerações iniciais, os autores passam a centralizar suas
atenções para um momento posterior da vida deste personagem, em sua posição e
em seus atos perante a morte de César. Os três autores concordam que, neste
período, Otaviano encontrava-se em Apolônia, em detrimento de adquirir certa
instrução86 (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 59.; PLUTARCO, Antônio
XVI, 1.; (SUETÔNIO, O Divino Augusto VIII, 3.). Para Patérculo, ao saber do
assassinato de seu tio, passou a dirigir-se a Roma. No caminho, inteirou-se dos
86Sobre este ponto, pesquisadores atuais sobre o tema, tais como Gruen (2005, p. 38), parecem
concordar com a visão apresentada por Veléio, Plutarco e Suetônio.
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 232
detalhes sobre o crime, assim como descobriu a respeito do testamento onde era
adotado como filho de César. Neste momento, segundo este autor, o jovem possuía
o apoio de legiões próximas, que estavam dispostas a defendê-lo (História Romana
II, 59). Contudo, as linhas mais expoentes são as seguintes, onde o autor nos relata
que:
Logo, o herdeiro de César era legitimado até mesmo pelos deuses, que se
manifestaram assim que este colocou os pés em Roma.
Suetônio, por sua vez, também nos fala sobre este particular momento da
vida do futuro Augusto. Este autor apresenta uma versão igualmente distinta das de
Plutarco e Patérculo. De acordo com ele:
A sua mãe Àtia e a seu padrastro Filipo, não lhes agradava que
herdasse o nome de César, cuja fortuna suscitava ódio, mas, a
salvação da Res Pública e de todos os outros lugares lhe
reclamavam como protetor de Roma. Por isso, seu elevado espírito
descartou os conselhos humanos, e assim se propôs a aspirar alto
sem temer os riscos, ao invés de limitar sua ambição para preservar
sua segurança. Preferiu confiar em seu tio e no nome de César mais
que em seu padrasto, dizendo repetidas vezes que não podia
permitir considerar-se indigno de um nome que César lhe havia
considerado digno. (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 60)
Para este autor, Otávio tomava o nome de César não só por si mesmo, mas
pelo bem de Roma e das demais regiões que dela dependiam. Assim, assume os
riscos em detrimento de sua própria segurança. Em nossa concepção, aqui há uma
aproximação realizada pelo autor entre César e seu herdeiro, uma vez que, em seu
relato, inúmeras vezes podemos notar que ele caracteriza César como uma espécie
de defensor da sociedade e dos valores romanos. Notamos assim, o uso da
memória de César como forma de legitimação de seu herdeiro, pois, ao adotar o
nome de seu pai adotivo, Otávio não estabelece apenas laços de parentesco, mas
apropria-se também da memória coletiva acerca desse cidadão.
Memória esta que é propagada inclusive no plano religioso, quando, o jovem
herdeiro, nomeia seu pai Divus Iulus, colocando-o como parte integrante do Panteão
Romano.
Contudo, nem em todos os aspectos, Augusto segue os passos de seu pai
adotivo, Júlio César. Podemos perceber, principalmente na narração suetoniana,
veleiana e cassiana, que o herdeiro tenta desvencilhar-se das principais atitudes que
fizeram com que César fosse tido por muitos como um líder autocrático, um
aspirante a monarquia. Para Veléio, Augusto negou-se a aceitar a titulação de
ditador, título este que César obtém e aceita, inclusive, aquela que o denominará
ditador vitalício (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 55, 56 e 89).
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 234
morte. (O Divino Augusto XCI, 1-2; DIÓN CÁSSIO, História Romana XLV, 1-2; LIII,
20).
Para Suetônio, ao morrer, Augusto alcançou a condição divina. Ao contrário
de Júlio César e Marco Antônio, seu desvanecer foi tranquilo. Nas palavras do autor:
“Faleceu no mesmo quarto que seu pai, Otávio, durante o consulado dos dois
Sextos, Pompeu e Apuléio, no décimo quarto dia antes das Calendas de setembro,
na nona hora do dia e com setenta e seis anos de idade menos trinta e cinco dias. ”
(SUETÔNIO, O Divino Augusto C, 1).
Veléio Patérculo e Dión Cássio descrevem de forma similar o falecimento de
Augusto, situando-o em 14 d.C., em Nola, onde acompanhava seu filho adotivo e
futuro imperador Tibério. Segundo os autores, devolvia-se ao âmbito celestial o
espírito de homem que foi muito querido e muito amado pelos romanos e pelos
demais homens de bem. (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 124; DIÓN
CÁSSIO, História Romana LVI, 29-30).
Muitas foram as honras e homenagens prestadas a Augusto na ocasião de
sua morte segundo nossos autores. Nas linhas suetonianas:
Na cremação dos restos mortais de Augusto, o autor ainda nos fala que não
teve um homem presente que não jurasse ter visto o espectro do morto ascender
aos céus (O Divino Augusto C, 3). Aqui, notamos mais uma aproximação realizada
com Júlio César, uma vez que segundo os relatos de nossos autores, o espírito
desse também ascende ao plano divino após sua morte.
Assim terminam os relatos sobre Júlio César e seu herdeiro, Augusto. As
informações que nos são passadas por Veléio, Suetônio, Plutarco, Floro e Dión
Cássio expõem inúmeras características semelhantes, evidenciando, desta maneira,
que os autores partilham de concepções similares, concepções estas que podem ser
frutos de construções próprias do período de transição entre a República e o
Principado Romano, onde as figuras de Júlio César, Marco Antônio e Augusto
Capítulo 3. Júlio César e Augusto... 236
Anita Brookner
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 238
1 Ressalvamos que, para evitar repetições desnecessárias, não iremos citar na íntegra as passagens
sobre Augusto que já foram utilizadas no capítulo anterior.
2 Para uma maior compreensão sobre as datas dos acontecimentos narrados sobre Marco Antônio,
anexamos duas Árvores Genealógicas e uma Cronologia (ANEXOS VII, VIII e IX).
3 Como as maiores informações sobre certas características de Antônio estão presentes na obra
4 Floro menciona no Livro I outro militar com o nome Antônio. Porém, não possuímos maiores
informações se este teria ou não laços de parentesco com o Marco Antônio por nós aqui analisado.
5 Segundo nossas pesquisas, estes homens foram cônsules no ano de 49 a.C.
6 Dentre nossos autores, Plutarco é o único que se refere à genealogia de Antônio.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 241
7 De acordo com Gurval (1995, p. 17), membro do Gens Antonia, Marco Antônio nasceu em Roma
por volta do ano 83 a.C. Seu pai era Marco Antônio Crépido, filho do orador Marco Antônio
assassinado por Mário, em 86 a.C. Sua mãe, Júlia Antônia, era uma prima distante de Caio Júlio
César. Tendo seu pai morrido novo, Marco Antônio e seus irmãos, Caio Antônio e Lúcio Antônio,
ficaram sobre os cuidados de sua mãe, que se casou com Públio Cornélio Lêntulo, um político que se
encontrava envolvido com a conspiração Catilina.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 242
As referências sobre estes aspectos são bem mais presentes nas obras de
nossos autores, tanto quando falam de Antônio, quanto de Augusto. Para nós, isso
ocorre em detrimento da necessidade que os autores enxergam em ressaltar tais
características, uma vez que estas são as principais formadoras do caráter e da
virtude dos homens.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 243
A princípio, Veléio já nos deixa uma pista de como irá caracterizar a índole de
Antônio no percorrer de sua obra. Ao narrar a conspiração que se formava para o
assassinato de César, o autor diz que:
de ser duvidoso se foi por seu próprio desejo – Antônio lhe ofereceu, em frente a
Rostra, o símbolo da realeza. ” (Epítome de Tito Livio II, 13). Nesta curta passagem,
Floro expõe uma dúvida que deveria ainda prevalecer na sociedade de seu tempo:
César queria o Laurel ou as intenções de Antônio ao oferecê-lo era lhe causar mal?
Diferente de Veléio, Plutarco e Suetônio, a narrativa floreana não nos dá uma
solução para este enigma.
Dión Cássio, um pouco mais crítico ao tratar da figura cesariana, também nos
relata sua própria versão desta suposta coroação:
Podemos notar que Dión apresenta outra interpretação dos fatos. Para ele,
César estava ciente que Antônio iria lhe presentear com um laurel. Este teria sido
um acordo entre ambos para que César pudesse recusar o presente, afastando-se,
assim, das aspirações monárquicas que lhe eram atribuídas em seu tempo. Neste
ponto, encontramos uma certa divergência entre as obras de nossos autores. Veléio,
Plutarco e Suetônio atribuem a Antônio a tentativa de coroação cesariana. Floro e
Dión Cássio enxergam César como um dos possíveis culpados para tanto.
Sobre o caráter de Antônio, Plutarco, por conseguinte, também é bastante
expressivo. Desde a juventude, segundo este autor, Antônio dá indícios do trajeto
que sua vida percorrerá. Na obra plutarqueana, um desses indícios é encontrado na
relação que o ainda jovem estabelece com Curião, homem propenso a prazeres
vulgares e indecorosos, o qual induziu Antônio a uma vida regada a bebedeiras e a
libertinos prazeres sexuais. Foi nesse período que Antônio, entregando-se a atitudes
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 245
8 Lembramos aqui que, ao contrário de Suetônio e Dión Cássio, Plutarco nada menciona sobre a
suposta ligação entre César e Nicomedes, rei da Bítinia.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 246
possuía, aliás, uma forte semelhança com sua própria vida, orgulhosa e arrogante,
de ênfase vazia e caprichosa pretensão. ” (PLUTARCO, Antônio II, 5).
Para além das críticas ao estilo literário, o autor faz clara alusão ao estilo de
vida de Antônio, assim como a seu gosto por aquilo de origem estrangeira, como é o
caso da escolha de um estilo de oratória asiática. Plutarco, desde então, demonstra
que essa propensão pelos artífices estrangeiros está, basicamente, intrínseca a
Antônio e à sua vida. O mesmo o faz Dión que, em determinado ponto de sua
escrita, deixa-nos entrever que Antônio opta em adotar o estilo egípcio, tanto para se
vestir quanto para governar, em detrimento do romano. (História Romana XLVIII,
30). Aqui, mais uma vez, encontra-se uma dessemelhança com César e Augusto,
que são retratados pelos autores por nós estudados, como homens cultos, que
buscaram ensinamentos com professores de certa fama nos assuntos pertencentes
às técnicas da oratória e da retórica. Além disso, César, desde cedo, mostrava
prodigioso dom para a oratória e para eloquência, dom este que também é atribuído
a seu sobrinho neto.
Outras alusões aos costumes repreensíveis de Antônio são realizadas tanto
na biografia plutarqueana de César, quanto na de Antônio. Nas análises sobre o
general assassinado, Plutarco já dá indícios dá propensão de Antônio para festas e
bebedeiras, como é o caso do seguinte trecho: “(...)a bebedeira de Antônio, o qual
demoliu a casa de Pompeu e a reconstruiu, pois julgava não ser bastante grande
para ele. ” (PLUTARCO, César LI, 1-4). A mesma caracterização aparece na
biografia de Antônio, quando o autor nos fala que o romano possuía o ato de beber
grandes quantidades na frente de todos, além de possuir o espírito fanfarrão e
zombeteiro (PLUTARCO, Antônio IV, 4). Notamos, aqui, outro ponto distintivo entre
César e Antônio, enquanto o último não se priva do consumo de grande quantidade
de bebidas, César, como mostra Suetônio, apresenta sua sobriedade inclusive sobre
esse assunto: segundo o biógrafo, o general era extremamente moderado no
consumo de vinhos, característica elogiada tanto por Suetônio quanto por outros
autores de seu tempo, como é o caso de Catão (SUETÔNIO, O Divino Júlio LIII,1-2).
Por sua vez, a mesma parcimônia com a bebida é atribuída a Augusto pelo autor,
uma vez que o futuro governante não demonstra ser adepto das bebidas e, ainda,
possuía hábitos alimentares simples, consumindo, inclusive, alimentos considerados
de qualidade inferior. (O Divino Augusto LXXVI, 1-2; LXXVII, 1).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 247
Antônio aparece nas linhas cassianas da mesma forma que é citado pelos
outros autores: como um homem desvirtuado pela bebida e por suas paixões, vícios
que lhe tornam incapaz de desempenhar suas funções, de auxiliar seus aliados. Em
nossa visão, percebe-se, aqui, a base para a construção de uma imagem discursiva
de Antônio, representação elaborada com intenções certeiras, frutos da sociedade
em que os personagens se inseriram e disseminada através do tempo. Ao
encontramos narrativas semelhantes em autores de períodos diversos, conseguimos
entrever que esta imagem de Antônio, criada em um momento específico, é algo
presente no desenvolver da sociedade romana, sendo constantemente criada e re-
criada para exemplificar aspectos ainda presentes nos tempos de nossos autores.
Além disso, servem para legitimar, através do uso da memória, a posição de
Augusto e, por conseguinte, desacreditar seu opositor político, Antônio.
A demolição da casa de Pompeu, sob a justificativa de que essa não condizia
com a posição de Antônio também é algo conflitante com a imagem de César, já que
o próprio Plutarco relata sua simplicidade no modo de viver (PLUTARCO, César
XVII, 1-6). Floro igualmente salienta a utilização da casa pompeiana por Antônio,
que a comprou e a destruiu, uma vez que a mesma não seria digna de sua posição
política e social. (Epítome de Tito Livio II, 18). Desde então, observamos que,
mesmo quando não realizada de forma direta por nossos autores, suas obras são
expoentes de inúmeras dissemelhanças entre as imagens de César e de Antônio e,
consequentemente, entre as desse último e o herdeiro cesariano, Augusto. Para
nós, ao mesmo tempo em que os autores tentam construir uma imagem virtuosa de
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 248
9 Ressaltamos novamente que tanto Suetônio quanto Veléio irão destacar as ações de Antônio no
campo militar quando estas estiverem conectadas com as figuras de Júlio César ou Augusto.
Portanto, nesse momento, utilizaremos em maior quantidade os dados relegados por Plutarco.
10 Segundo Eleanor Huzar (1978, p. 21), Antônio parte para a Síria sobre o comando de Aulo Gabínio
entre 58 e 57 a.C..
11 Trata-se de Aristóbulo II, filho de Alexandre Janeu e Salomé Alexandra, pertencentes à dinastia dos
asmoneus. A participação de Antônio se dá quando esse território era assolado por inúmeras guerras
civis.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 249
12 De acordo com John Ramsey (2003:551), Antônio passa a desempenhar funções sobre o comando
de César em 54 a.C.
13 Os áugures são sacerdotes romanos que observavam os hábitos de animais em buscas de
presságios e auspícios
14 Antônio é eleito tribuno da plebe por volta de 50 a.C. Os tribunos são representantes das tribus. O
tribunato da plebe foi criado entre 494 e 493 a.C., quando é possível se verificar nos relatos antigos a
primeira secessão da plebe. Eram eleitos pelos concilia plebis, também conhecidos por comitia plebis
tribuna, ou seja, pela assembleia popular. Não eram magistrados porque não podiam consultar os
auspícios. Exerciam os ius auxilii (auxilium tribunicium) e tinham como principal função defender
pessoas e propriedades da plebe. Para tanto, podiam convocar e presidir comícios plebeus, editar
medidas e exercer o direito de voto. Seus poderes eram restritos a Roma e invioláveis. Seus poderes
modificaram-se com o passar do tempo, ampliando-se e configurando-se de acordo com os novos
moldes governamentais (AZEVEDO, 1999, p. 440).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 250
A associação com César nesse período é citada tanto por Veléio quanto por
Floro, Suetônio e Dión Cássio. O primeiro põe em relevo as atitudes do tribuno da
plebe, no caso Antônio, quando este profere, frente ao Senado romano, a leitura das
condições de paz colocadas por César15 (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II,
47-48). Suetônio também alude a este fato, colocando que César era defendido no
Senado pela interseção do tribuno da plebe (SUETÔNIO, O Divino Júlio XXX,1).
Ainda mais expressiva é a visão do autor de que: “Diante da notícia de que a
intersecção dos tribunos tinha sido abolida e que eles tinham deixado a cidade,
César fez com que rapidamente algumas coortes tomassem a dianteira às ocultas
(...).”. (SUETÔNIO, O Divino Júlio XXXI,1). Logo, para ele, as primeiras
movimentações rumo ao conflito bélico da parte cesariana são originadas a partir da
fuga dos tribunos de Roma. Por conseguinte, o autor ainda ressalta que Antônio se
encontrava com César, passando a ser membro partícipe das batalhas da guerra
civil (SUETÔNIO, O Divino Júlio XXXIII,1-2). Floro e Dión Cássio, similarmente,
destacam o desempenho do tribunato por Antônio. Em suas descrições, ressalvam a
participação do tribuno da plebe na Guerra Civil entre Júlio César e Pompeu, sempre
avultando os laços com César. (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 13; DIÓN CÁSSIO,
História Romana XLI, 1.)
Plutarco, tanto nos escritos biográficos sobre César quanto nos relativos a
Antônio, dedica muitas linhas à descrição de tal atitude de Antônio, denotando a
grande importância desta no desenrolar dos acontecimentos futuros. De acordo com
o biógrafo:
16 Cícero, nas Fílipicas, coloca na pessoa de Antônio a culpa de a disputa entre César e Pompeu ter
chegado a um conflito armado.
17 Tratamos sobre tal aspecto no capítulo anterior desta Tese.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 252
18
Para Kamm (2006, p. 43) e Goldsworthy (2006, p. 64), durante todas as disputas, Antônio lutou ao
lado dos cesarinos. Em 49 a.C., sob o comando de uma pequena parte das tropas de César,
apoderou-se de Sulmona, região italiana que, atualmente, localiza-se na província de Àquila. Em 48
a.C, desembarcou em Ninfeu, onde uniu suas forças às de César, preparando-se para a batalha
contra Pompeu. Logo, encontrava-se lutando por César quando este enfrentou Pompeu na planície
da Farsália.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 254
suas tropas. O autor parece denotar grande valor a esta função, uma vez que na
ausência de César, o cargo ocupado por Antônio passava a lhe empregar grande
poder (PLUTARCO, Antônio VIII, 3). No desempenho desta função, novamente
Plutarco ressalta más condutas por parte de seu biografado. Neste momento, após
ser aconselhado por Asínio e Trebélio, Antônio negou seu apoio à proposta de lei
introduzida pelo tribuno Dolabella, a qual visava a abolição de dívidas. No desenrolar
dos acontecimentos, após repudiar sua esposa, a filha de Caio Antônio 19, da qual
suspeitava, Antônio teria travado disputa contra o tribuno que tentava impor a
aprovação de sua lei. Nesta disputa, muitas foram as baixas (PLUTARCO, Antônio
IX,1-2). Na visão plutarqueana, ela ocasionou um aumento da má reputação de
Antônio perante povo:
19Seria esta sua segunda esposa, Antônia. Sobre os casamentos de Antônio, ver Anexo VI
20Segundo a tradutora e pesquisadora plutarqueana Perrin (1968, p. 159), Plutarco aqui se refere à
segunda parte das Filípicas, onde Cícero faz menções aos excessos de Antônio. Em nossa visão,
Plutarco muito alude a Cícero, quando trata de Antônio, o que pode direcionar sua narrativa à
ressalva de determinados pontos em detrimento de outros, uma vez que Antônio e este orador eram,
declaradamente, inimigos.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 255
personagens especifícos realizadas tanto por seus opositores quanto por seus
partidários.
Em nossa visão, as descrições de nossos autores são claras nesse quesito.
Os autores descrevem César, Antônio e Augusto de modo a contrapô-los. Essa
contraposição fica ainda mais clara na obra de Plutarco, principalmente no trecho a
seguir, onde o autor nos revela que:
Nas palavras do autor, parece-nos que ele tenta demonstrar que enquanto
César estava fora, sem luxo, sem conforto, em constante perigo, Antônio desfrutava
das glórias de seu general, em meio a atividades supérfluas e libertinas.
Tais atitudes de Antônio, ainda segundo Plutarco, são reprovadas por César
quando este retorna a Roma. Isto é demonstrado, para o autor, pelo fato de que
César não o escolhe como seu par no próximo consulado, optando por ter ao seu
lado Lépido (PLUTARCO, Antônio X, 1-2). A repreensão de César ter-lhe-ia levado a
repensar seus atos e a casar-se novamente, agora com Fúlvia, uma mulher
imponente, que levou Antônio sob seu julgo (PLUTARCO, Antônio X, 3-4.).
A mudança na vida de Antônio é demonstrada, mais uma vez, pela mudança
na atitude de César para com ele. Plutarco ressalta que, após as transformações
nas atitudes de Antônio, o general passa a denotar outras ações para com este
(PLUTARCO, Antônio XI, 1-2). Plutarco ressalva quando Antônio alcança o
consulado21 junto com César, que o recebe pela quinta vez (PLUTARCO, Antônio XI,
3). Veléio também nos fala do consulado exercido por Antônio, citando-o em meio a
outros acontecimentos. (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 58). Suetônio
aborda o assunto, referindo-se a Antônio como um cônsul na ocasião da morte de
César (SUETÔNIO, O Divino Júlio LXXXIV, 4).
É durante o desempenho dessa atribuição que ocorreram os funestos fatos
durante os Lupercais, sobre os quais já nos referimos no início desta seção. Neste
ponto, tanto Veléio quanto Suetônio atribuem a Antônio parte da culpa do
21A nomeação de Antônio como cônsul teria ocorrido, segundo Canfora (2002, p. 336), por volta de
45 e 44 a.C.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 256
22 Para Canfora (2002, p. 372), a suposta “docilidade” de Antônio, em um dia em que, como os
autores nos demonstram, os presságios e os auspícios eram profusos, é bastante expressiva, uma
vez que pode ser denotativa da participação, ou ao menos, do relativo conhecimento acerca da
violenta cena que iria ocorrer nos momentos seguintes dentro da instituição senatorial.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 257
Para este autor, Antônio não teria feito parte da trama mortífera, pelo
contrário, poderia ter sido uma de suas vítimas.
É após o assassinato de César, que as atitudes de Antônio parecem ser mais
expressivas. Ainda, é também a partir deste ponto que podemos estabelecer
comparações mais profusas entre Marco Antônio e o futuro Augusto.
Patérculo salienta a atitude conciliatória adquirida pelo cônsul neste
conturbado momento. Segundo seu relato:
A sua mãe Àtia e a seu padrastro Filipo, não agradava que herdasse
o nome de César, cuja fortuna suscitava ódio, mas, a salvação da
Res Pública e de todos os outros lugares lhe reclamavam como
protetor de Roma. Por isso, seu elevado espírito descartou os
conselhos humanos, e assim se propôs a aspirar alto sem temer os
riscos, ao invés de limitar sua ambição para preservar sua
segurança. Preferiu confiar em seu tio e no nome de César mais que
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 260
23 Plutarco, aqui, já o trata por tal titulação. O mesmo acontece em Veléio, Floro e Dión Cássio.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 262
24De acordo com Corey Brennan (2004, p. 42), as disputas entre Otaviano e Antônio iniciam-se logo
após o assassinato de César, em 44 a.C., estendendo-se por um período de dois anos.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 263
25Neste momento, o autor salienta que esta candidatura não condizia com a posição atual de
Otaviano, uma vez que era de origem patrícia e ainda não tinha exercido função na instituição
senatorial (SUETÔNIO, O Divino Augusto X, 2).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 264
O jovem César aparece, desde este instante, nas obras destes escritores
como um protetor da Res Pública contra as ameaças de Antônio, sendo este último,
inclusive, declarado inimigo de Roma (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II,
63). Assim, reuniu parte das tropas de seu pai adotivo e sai em busca de Antônio,
cujo exército, ao deparar-se com “(...) as qualidades de um jovem de tamanho valor
(...)”. (História Romana II, 61), trocou de lado. Perante tal evento, o Senado honrou o
jovem César com uma estátua localizada em frente à tribuna rostral; honra que, em
trezentos anos, apenas Sila, Pompeu e Júlio César haviam recebido (VELÉIO
PATÉRCULO, História Romana II, 61). Em seguida, contando com apenas vinte
anos, o futuro governante vence uma violenta batalha em Módena, o que faz com
que Antônio, com uma escassez vergonhosa de recursos, fuja dos territórios itálicos
(VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 61). Em nossa acepção, o autor, tenta
demonstrar como Otávio, desde a juventude, constituiu-se em um homem de
valores, de atributos que são demonstrados no campo de batalha, nos atos em
defesa de Roma e que, por isso, são reconhecidos tanto pelo Senado quanto por
seus inimigos. Tais descrições também podemos encontrar quando o autor trata de
Júlio César. Observamos aqui, toda uma construção ideológica em torno de César e
Augusto, que, a nosso ver, é representativa da tentativa de se legitimar o sistema
político do Principado romano.
É nesse momento também que Veléio nos fala sobre a oposição de Cícero a
Antônio:
26De acordo com Brennan (2004:43), a formação do Segundo Triunvirato se dá por volta de 42 a.C.
Como ressalta Grimal (1980: 90), Antônio, Otaviano e Lépido entram em acordo e, através da
aprovação da Lei Titia, em 27 de novembro, pela Assembleia Tributária, dividem o território romano.
Sobre a nova divisão territorial triunviral romana ver Anexo XIV.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 266
Desta maneira, para Floro, Otaviano não teria participado dos assassinatos
cruéis cometidos por seus colegas triúnviros. Ele apenas teria utilizado as
proscrições para vingar o assassinato de seu pai adotivo, ao contrário de Antônio e
Lépido, que aproveitaram esta artimanha para eliminar, de uma vez por toda, seus
inimigos.
Com essa acepção, Dión Cássio parece concordar, uma vez que este nos
passa que:
27Relembramos aqui que, tanto Veléio quanto Plutarco e Suetônio destacam as ações de César
nesse âmbito. Suetônio é o mais expressivo em afirmar que César repensou as questões acerca dos
impostos, chegando a, inclusive, perdoar dívidas por um longo período (SUETÔNIO, O Divino Júlio
XLI.).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 268
Após tais batalhas, Plutarco passa a se concentrar nas ações dos triúnviros.
Enquanto o jovem César dirigiu-se para Roma, com intuito de cuidar de sua saúde e
zelar pela segurança da cidade, Antônio viajou para terras estrangeiras 28, onde,
mais uma vez, entregou-se às suas paixões. (PLUTARCO, Antônio XXIV, 1-2). As
excentricidades do triúnviro em terras estrangeiras são extensamente relatadas pelo
autor, que a este ponto, dedica alguns capítulos de sua obra. Em meio a tais
descrições, o autor faz alusão a um componente do caráter de Antônio: a sua
simplicidade. Ou seja, parte do que era considerável negligência de Antônio, era,
para o autor supracitado, culpa da simplicidade deste homem que ainda se
apresentava, de certa forma, ingênuo perante determinados acontecimentos. Esta
mesma suposta ingenuidade, auferida por Plutarco, pode ser a culpada pela
inclinação que Antônio possuía para aceitar, de forma acrítica, os elogios e a
adulação de pessoas variadas, deixando-se, assim, iludir-se (PLUTARCO, Antônio
XXIV, 6-8).
É em detrimento desses traquejares de sua personalidade que Antônio passa
a se relacionar com mulheres de dúbio caráter, tal como a governante ptolomaica,
Cleópatra VII29. Ainda de acordo com as linhas plutarqueanas:
28 De acordo com Ramsay MacMullen (1988, p. 514), esta incursão de Antônio por terras estrangeiras
ocorreu por volta de 40 a.C., quando este se encontrava na faixa dos quarenta anos de idade e
estava casado com Fúlvia, sua terceira esposa.
29 A título de demonstração, colocamos a imagem de Cleópatra VII no Anexo XV.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 270
PATÉRCULO, História Romana II, 82). Ou seja, para este autor, a união com a
soberana ptolomaica possibilita que Antônio aumente seus defeitos morais, o que,
futuramente, será a causa da guerra contra Otaviano.
Suetônio refere-se, igualmente, à relação entre Antônio e a herdeira
ptolomaica. No entanto, não se estende muito na descrição desta. O autor destaca a
manutenção destas relações e o que os frutos desta vieram a ocasionar na
sociedade romana: uma nova guerra civil (SUETÔNIO, O Divino Augusto XVII, 1-2).
A narrativa floreana também é bastante profusa sobre este ponto da vida de
Antônio, como podemos notar abaixo:
A loucura de Antônio, uma vez que esta não podia ser apaziguada
pela satisfação de sua ambição, foi trazida a um fim por seu luxo e
libertinagem. Após a expedição contra os partos, ele adquiriu uma
repugnância pela guerra, vivendo uma vida fácil e, escravo do amor
por Cleópatra, permaneceu em seus braços reais como se tudo
estivesse indo bem para ele. A mulher egípcia exigiu do general
bêbado, em troca de seus favores, o Império Romano; e, isto,
Antônio lhe prometeu (...). (FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 21)
Mais uma vez, o amor por Cleópatra é corrosivo. Destrói Antônio, tira-lhe
tudo, inclusive o sentimento de ser romano.
Verifica-se mais um distanciamento realizado pelos autores entre Júlio César
e Antônio. Ambos mantiveram relações com Cleópatra VII, no entanto, César soube
se desvencilhar desta perigosa associação, tornando a se concentrar nos assuntos
pertencentes a Roma e a seus concidadãos. Ao contrário de seu amigo, Antônio não
o fez. Para Plutarco, assim como todos os outros autores, este se deixou levar,
esquecendo-se de seus princípios e de suas responsabilidades perante Roma,
dando mostras de sua personalidade, de suas falhas morais e desvirtuosas.
Na continuação de sua descrição, Plutarco elenca inúmeras atitudes de
Antônio que não condiziam com suas funções romanas:
Para o beociano, Antônio teria ficado contra sua esposa, além de deixar de
cumprir suas funções para com Roma. Isso levou ao estremecimento das bases que
sustentavam o acordo triunviral com Otaviano e Lépido (PLUTARCO, Antônio XXIX;
XXX). O autor ressalta ainda que, a duras penas, o triúnviro romano acordou de seu
estupor, passando a correr atrás do tempo perdido e tentando, de certa forma,
remediar os funestos acontecimentos (PLUTARCO, Antônio XXX, 1-3). É assim que
novas negociações entre Otaviano, Antônio e Lépido acontecem para o autor,
reestabelecendo por mais anos os acordos políticos entre os três romanos
(PLUTARCO, Antônio XXXI, 1-2)30.
Veléio também destaca a realização desses novos arranjos entre os triúnviros
romanos, salientando o fortalecimento destes a partir do casamento de Antônio com
a irmã do jovem César, Otávia (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 76).
Sobre este casamento, Plutarco também nos fala, evidenciando que todos
esperavam que Otávia, mulher inteligente e respeitada, colocasse Antônio nos eixos,
fazendo-o abandonar Cleópatra e seu pendor por atos que não condiziam com sua
posição, assegurando, por conseguinte, a harmonia entre os cidadãos romanos
(PLUTARCO, Antônio XXXI, 1-3). Aspectos semelhantes da vida de Antônio são
narradas por Dión:
O herdeiro de César aparece, neste ponto, como aquele que tenta salvar os
laços com Antônio. Notamos que o autor atribuí a Antônio uma característica
importante: a inveja. Este mesmo sentimento é outorgado pelo mesmo autor a
Pompeu no período das deflagrações civis contra Júlio César. A inveja que tais
homens possuem acerca das vitórias e conquistas de seus pares triúnviros é a
responsável pelas disputas, pelo desvirtuamento apresentado por tais homens. Para
nós, fica evidente que ao imbuir tanto Pompeu quanto Antônio de tal sentimento,
este autor procura destacar as atitudes dos membros da família juliana. Em outras
palavras, as conquistas de Júlio César e seu herdeiro eram tão importantes e
magnificentes que despertavam a inveja e a cobiça daqueles que não conseguiam
se igualar a seus feitos.
Já para Plutarco, o desregramento de Antônio possuí outras raízes, outros
motivos:
Mas o terrível mal que havia estado adormecido por um longo tempo,
ou seja, sua paixão por Cleópatra, que os homens pensavam que
havia se afastado e substituído por melhores considerações, ardeu
novamente com renovado poder quando ele se aproximou da Síria.
(PLUTARCO, Antônio XXXVI, 1)
cravejado com enormes gemas; uma coroa era a única coisa que lhe
faltava para lhe tornar um rei que flertava com uma rainha. (FLORO,
Epítome de Tito Lívio II, 21)
Assim, Antônio era o único culpado por sua degeneração. Sua relação com
Cleópatra e, por conseguinte, seu pendor pelos artífices de um rei o transformaram
em um monstro. Curioso notar que Floro ressalva que Antônio buscava pelo poder
único e, não, o herdeiro de César, distanciando este último de qualquer
característica autoritária e despótica. Logo, mais um distanciamento é realizado por
este autor entre as imagens de Antônio e o futuro Augusto e, por conseguinte, entre
Antônio e César. Isso porque, parece-nos, que é Antônio que, nas vidas dos outros
dois personagens, estabelece laços com a Monarquia. Em relação a César, é ele,
enquanto cônsul, que lhe oferece o laurel; em um momento posterior, onde
desempenha funções de triúnviro, é ele que almeja tornar-se rei.
O autor beociano ainda enumera várias ações de Antônio que culminaram na
guerra contra Otaviano e, por conseguinte, contra a própria Roma. De início, as
honras prestadas a Cleópatra e o reconhecimento de seus filhos com esta
agravaram, para o autor, o descontentamento dos romanos para com esse cidadão
(PLUTARCO, Antônio XXXVI, 3-4). Para o autor, a relação com Cleópatra alterou,
até mesmo, o resultado das guerras travadas por Antônio, que, em decorrência de
sua ânsia por estar ao lado da soberana alexandrina, iniciou os conflitos em épocas
impróprias, além de fatigar suas tropas e arrecadar, desta forma, o desgosto de seus
soldados, mesmo entre aqueles que nutriam profundo respeito e admiração por seu
comandante (PLUTARCO, Antônio XXXVII , XXXVIII, XXXIX e XL).
Foi em meio a esse caos reinante na vida de Antônio que se estabeleceram
os primórdios de uma nova guerra civil31. Para Plutarco, o estopim é dado quando
Antônio passa a renegar Otávia, sua esposa romana, para estar com Cleópatra.
Segundo o beociano, isso é um dos principais motivos utilizados pelo jovem César
para declarar guerra a Antônio (PLUTARCO, Antônio LIII, 1-2.; LIV, 1-2). Faz-se
necessária a ressalva de que o autor atribuiu a Cleópatra grande parte da culpa por
esse conflito, uma vez que são suas atitudes dissimuladas que levam Antônio a
desamparar Otávia e a sociedade romana (PLUTARCO, Antônio LIII, 3-4).
31Segundo Huzar (1978, p. 98), as primeiras demosntrações de uma nova guerra civil tiveram início
por volta de 38 e 37 a.C., quando Otaviano levanta contra Lépido acusações de traição.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 275
Ao narrar tais questões, Dión estabelece uma diferença entre ele e os outros
autores. Dentre nossos cinco escritores selecionados, Dión Cássio é o único que
descreve os motivos apresentados por ambas as partes para a deflagração da
Guerra Civil. Contudo, as diferenças entre os relatos terminam por aí. O mesmo
autor, logo após descrever os pontos acima, também nos fala acerca dos traquejos
da índole de Antônio. Assim, relata o malquisto divórcio com Otávia (História
Romana L, 3.) e a abertura de seu testamento, onde reconhecia Cesarião como filho
de Cleópatra e Júlio César, além de seus próprios filhos com a soberana.
Consequentemente, doava a essas crianças territórios romanos, inserindo-os nesta
sociedade como seus herdeiros. Tais constatações, assim como o fato do romano
ter determinado que seus restos mortais deveriam ser enterrados em Alexandria,
atitudes que contradiziam os valores e tradições romanas, causaram grande
indignação na sociedade romana de seu tempo. (História Romana L, 3 - 4.)
Suetônio também ressalva o testamento de Antônio. Em suas palavras, o
futuro Augusto:
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 276
Esta foi a razão pela qual eles votaram pela guerra contra Cleópatra,
porém eles não fizeram declaração igual contra Antônio, na realidade
sabendo, muito bem que ele iria se tornar um inimigo, uma vez que
não se voltaria contra ela e defenderia César, e eles desejavam ter
esta última acusação contra ele, onde ele teria voluntariamente
iniciado uma guerra ao lado da mulher egípcia contra seu próprio
povo (...). (DIÓN CÁSSIO, História Romana L, 6.)
Logo, o beociano expõe os motivos para a guerra alegados por Otaviano. Não
se tratava de uma guerra civil, uma vez que a disputa não era entre dois cidadãos
romanos. Antônio estava compelido por forças misteriosas, não era mais senhor de
si mesmo. A guerra era contra um reino e contra uma rainha estrangeiros, contra
Cleópatra e seus súditos. Para Dión, um pouco mais crítico, a guerra contra
Cleópatra configurava-se em um pretexto para desviar a atenção do verdadeiro
motivo: a guerra contra Antônio.
Por conseguinte, o beociano trata a respeito dos presságios que, desde o
princípio da batalha, anunciavam o vencedor. Segundo este autor, estes indicavam
grandes problemas para o lado de Antônio (PLUTARCO, Antônio LXI, 1-3).
Sobre o combate em si, tanto Veléio quanto Plutarco, Floro e Dión Cássio nos
informam. O primeiro é bastante profícuo ao relatar os passos da contenda, a qual
teve seu ápice em uma batalha naval, em Áccio 32 (VELÉIO PATÉRCULO, História
Romana II, 85-86). O desfecho da disputa, assim como a fuga de Antônio, é-nos
bastante expressiva, como podemos observar no trecho a seguir:
32 Noma Musco Mendes (2006, p. 26) e Canfora (2002, p. 380) situam a batalha de Áccio em 31 a.C..
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 278
Foi então que Antônio demonstrou claramente que não estava sendo
dirigido nem pelo pensamento de um comandante nem pelo
pensamento de um bravo homem, nem ao menos pelo seu próprio,
mas, como alguém brincando certa vez afirmou que a alma de um
amante habita outro corpo, ele se viu arrastado por aquela mulher,
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 279
emergir nos festins, nas bebedeiras e nas libertinagens com Cleópatra (PLUTARCO,
Antônio LXXI, 1-2; FLORO, Epítome de Tito Lívio II, 21; DIÓN CÁSSIO, História
Romana LI, 1-5 ).
De acordo com o Plutarco, o jovem César chegou às terras alexandrinas,
montando o cerco a Antônio. Este, por sua vez, tentou defender-se. Aqui,
novamente deu provas de seu desempenho no campo de batalha (PLUTARCO,
Antônio LXXIV,2-4.; LXXV,1). Contudo, até mesmo o deus Dionísio, com o qual
Antônio procurava se assemelhar, abandonou -o (PLUTARCO, Antônio LXXV, 4).
Em seguida, o restante de suas tropas, as quais também eram formadas por
soldados alexandrinos, debandou-se para o lado cesarino (PLUTARCO, Antônio
LXXVI, 1-2).
Para Dión Cássio, a trama que envolveu Cleópatra e Marco Antônio após a
derrota em Áccio, é um pouco mais complexa. Em suas descrições, o autor deixa-
nos entrever que a soberana ptolomaica, ao perceber que a influência de Antônio
junto a Roma esvaia-se, dá início a novos planos. Estes, por sua vez, envolviam o
estabelecimento de relações diretas com o herdeiro cesarino em troca dos laços que
a mantinham conectada a Antônio. Por fim, Cleópatra estaria disposta a abandonar
aquele que deixou Roma por ela. (DIÓN CÁSSIO, História Romana LI, 6).
É através de seus ardis que Cleópatra, para este autor, leva Antônio para sua
morte. Dión nos diz que Antônio suspeitava que estava sendo enganado por sua
consorte, mas, a sua paixão pela mesma era maior que a que nutria por si mesmo.
Assim, acreditando que ela estava morta, o romano feriu-se com uma adaga. (DIÓN
CÁSSIO, História Romana LI, 10-11).
A morte de Antônio também é extensivamente narrada por Plutarco. Assim
como nas linhas cassianas, até mesmo nessa ocasião, a culpa pelo seu suícidio
recai sobre a rainha ptolomaica. Ele se mata por acreditar que ela estava morta
(PLUTARCO, Antônio LXXVI e LXXVII). A reação de César, ao saber da notícia do
suícidio é também referendada. Nas palavras do autor: “ Ante a notícia, César
retirou-se para os fundos da tenda e chorou por aquele que fora seu parente, seu
colega e companheiro em tantos combates e empreendimentos.” (PLUTARCO,
Antônio LXXVIII, 2).
Sobre os acontecimentos após a morte de Antônio, Dión e Floro igualmente
destacam que Cleópatra, percebendo a importância que o herdeiro de César
adquirira perante Roma, tenta persuadi-lo com os mesmos estratagemas que utilizou
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 281
com Júlio César e Antônio. Entretanto, os autores são unânimes em dizer que o
jovem César não sucumbiu em face das artimanhas da rainha. A beleza da
ptolomaica, assim como a sua fala cativante e inebriante, não eram páreos para o
autocontrole e a determinação daquele que um dia iria ser nomeado como Augusto.
(FLORO, Epítome de Tito Livio II, 21; DIÓN CÁSSIO, História Romana LI, 11-13).
No desenrolar da narrativa veleiana, podemos encontrar também referências
à atitude do jovem César perante sua vitória e na perseguição aos fugitivos, Antônio
e Cleópatra. Novamente, Veléio a descreve como clemente:
Antônio não tardou em suicidar-se, sendo que com sua morte expiou
seus numerosos crimes (consequências) de sua negligência. De sua
parte, Cleópatra, depois de burlar seus guardas, servindo-se de uma
áspide, sem sentir o temor próprio de uma mulher, morreu da picada.
E foi digno da fortuna e da clemência de César o fato de que nenhum
dos que haviam pegado em armas contra ele, fora morto por ele ou
por ordem dele. (VELÉIO PATÉRCULO, História Romana II, 87)
33 Plutarco também relata o desejo de Otaviano de ter Cleópatra como prisioneira em seu desfile
triunfal (PLUTARCO, Antônio LXXXIV,1-2), assim como os assassinatos do filho da soberana com
Antônio e deste com Fúlvia (PLUTARCO, Antônio LXXXI, 1-3).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 282
História Romana LI, 14-15). Apesar disto, o mesmo, vendo que não havia nada a
seu alcance que pudesse ressuscitar a soberana, demonstra certa admiração pela
coragem apresentada pela rainha em seus minutos finais. (DIÓN CÁSSIO, História
Romana LI, 15). Contudo, apesar desta semelhança entre as palavras de Dión e as
narrativas dos outros autores, encontramos um ponto destoante entre os mesmos.
Enquanto Suetônio e Plutarco relatam que os filhos de Antônio e, também os desse
com Cleópatra, foram perseguidos e assassinados, Dión defende que Antilo34 e
Cesarião35 foram mortos, mas Cleópatra, Alexandre e Ptolomeu36 tiveram suas vidas
poupadas. (DIÓN CÁSSIO, História Romana LI, 15).
Plutarco, no final de sua biografia, remete-se à construção genealógica dos
herdeiros de Antônio, sete filhos com três mulheres diferentes. Para o autor, Otávia,
após a morte de Antônio, criou todos como se fossem seus. Os herdeiros de Antônio
vieram a ocupar grandes cargos imperiais, sendo que dois foram nomeados
imperadores. Porém, até mesmo nestes, as reminiscências do caráter de Antônio
são prejudiciais. Para o autor, Nero Germânico era o quinto descendente de Antônio
e sobre este, informa-nos que: “(...) é aquele que reinou em nossa época, matou a
mãe e quase arruinou o império romano com suas loucuras. ” (PLUTARCO, Antônio
LXXXVII, 3).
A comparação que Plutarco faz entre Demétrio37 e Antônio, seus pares
biográficos, também é bastante expressiva. Segundo o autor, ambos
experimentaram grande poder e intensas mudanças da fortuna. O macedônico
herdou o império de seu pai, algo conquistado por sua família e ampliado durante o
seu governo. O romano, por sua vez, apesar de não nascer em meio a uma família
de grande reputação, ousou buscar o poder de César, poder este que não lhe era
direito e que, mesmo assim, tentou assumir. As intenções de Antônio, por sua vez,
também diferem daquelas de Demétrio. Em sua concepção, Antônio, de forma
despótica e violenta, tentou dar continuidade aos desejos de César, ou seja,
aspirava a uma monarquia. Demétrio, pelo contrário, lutou por libertar a Grécia das
garras de seus dominadores (PLUTARCO, Comparação entre Demétrio e Antônio I,
1-4). Ainda, segundo o autor: “Ambos cometeram excessos em tempos de
prosperidade, deixando-se levar aos deboches e prazeres. Não se pode, entretanto,
dizer que Demétrio, até no auge das festas e orgias, tenha perdido ocasião de agir. ”
(PLUTARCO, Comparação entre Demétrio e Antônio III,1). Pelo contrário, Antônio
desvirtuou-se de seus empreendimentos inúmeras vezes, seja por culpa de seus
desejos íntimos, seja por culpa de Cleópatra. Renunciou, inclusive, à sua possível
vitória em Áccio, refugiando-se em meio a estrangeiros (PLUTARCO, Comparação
entre Demétrio e Antônio III, 3-4). Também, em oposição a Demétrio, que contraiu
inúmeros casamentos, mas foi respeitoso com todas as suas mulheres, o romano
chegou a ter duas esposas ao mesmo tempo, renegando sua consorte romana,
legítima e respeitosa, por uma estrangeira, a qual foi a origem da maioria de seus
males (PLUTARCO, Comparação entre Demétrio e Antônio IV, 1-3).
Antônio, para o nosso autor, não demonstrou respeito nem com sua família,
nem com seus amigos e aliados. Abandonou aqueles que lhe proporcionaram as
maiores e mais belas vitórias (PLUTARCO, Comparação entre Demétrio e Antônio
V). Por último, podemos notar um elogio da parte de Plutarco a Antônio. Em suas
palavras: “O fim de Antônio foi covarde, vergonhoso e digno de piedade, porém, ao
menos, antes que seu inimigo se tornasse mestre de sua vida. ” (PLUTARCO,
Comparação entre Demétrio e Antônio VII, 2).
Para Dión Cássio, Antônio e Cleópatra causaram muito mal, tanto aos
egípcios quanto aos romanos. De acordo com esse mesmo autor, Antônio mostrou-
se incapaz de compreender as funções e deveres que sua posição junto a Roma
exigiam, cometendo, assim, muitos atos insensatos. Apesar de algumas vezes o
mesmo se distinguir por sua bravura, a maioria de suas ações falhavam por sua
covardia. Ele demonstrou compaixão para muitos que não a mereciam, mas puniu
muitos outros injustamente. Em outras palavras, a cada virtude apresentada por tal
homem, somavam-se várias falhas. (DIÓN CÁSSIO, História Romana LI, 18). A
maior desta estava em sua constante oposição ao herdeiro de César, futuro
Augusto.
Opostas às imagens discursivas sobre Marco Antônio, deparamo-nos com as
construções sobre Augusto. Seu caráter, sua moral, são compostos de todas as
características que faltavam em seu inimigo político, Antônio. Assim, após a morte
deste último, a figura deste jovem romano irá resplandecer na Roma de seu tempo,
projetando-se, inclusive, em momentos posteriores.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 284
Nas linhas desse autor, o governante romano aparece como um homem justo,
o qual só guerreava por causas justas e necessárias. O mesmo autor, em um
momento posterior, fala-nos que o herdeiro de César possuía, tanto em Roma
quanto nas províncias e regiões estrangeiras, a fama de ser um homem valoroso e
moderado (SUETÔNIO, O Divino Augusto XXI, 5).
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 286
38 Eram jogos instituídos pelos livros Sibilinos, os quais se realizavam, em geral, a cada cem anos em
louvor de divindades como Apolo e Plutão.
39 Festividades realizadas em honra dos Lares Compitais, protetores das encruzilhadas.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 287
Logo, o governante surge mais uma vez como um respeitador das tradições
republicanas, uma vez que restaura a glória de sua principal instituição política: o
Senado Romano. O respeito por essa instituição surge, inclusive, no tratamento do
governante a seus membros. Segundo o autor, este romano saudava a todos pelo
nome, os quais sabia de cor, e nunca se negou a participar das solenidades de cada
um (O Divino Júlio LIII, 3). Mais uma vez, tais aspectos distinguem este personagem
de seu opositor, Antônio. A este, inúmeras vezes, nas obras dos cinco autores
selecionados, foi conferida a aspiração pelo poder real. Este desejo era exposto
tanto por suas ações quanto pelas vestimentas e adornos que tal homem utilizava.
Outras atitudes do jovem César são comumente citadas tanto por Suetônio
quanto por Veléio. O primeiro, parece-nos, faz questão de salientar que este
governante, assim como fez seu pai adotivo, mostrou ser possuidor, em tempos
propícios de grande liberalidade para com seus concidadãos. Assim,
frequentemente fez doações ao povo romano, não se esquecendo nem mesmo das
crianças menores que, geralmente, não faziam parte da distribuição. Este “gesto de
bondade” estendeu-se, inclusive, durante as crises de abastecimento, onde este
homem distribuiu trigo para cada pessoa por valores irrisórios (O Divino Augusto XLI,
3). O apreço pelo povo surge também quando o mesmo governante passa a permitir
que esta parcela da população participe até das audiências comuns, mostrando-se,
portanto, sempre disposto a acolher os seus pedidos e súplicas (O Divino Augusto
LIII, 2).
Sobre as ações que caracterizam este personagem como um bom
governante, ainda encontramos inúmeros vestígios nos escritos de Suetônio. Como
40O nome orcini, dado a esses senadores, provém de Orcus, o deus da morte entre os romanos, em
alusão ao fato de que apenas foram admitidos à função após a morte de César.
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 288
De acordo com Suetônio, a nomeação como Pai da Pátria é feita por todas as
instâncias da sociedade romana: pelo povo e pelo senado. Assim, a aclamação
adquire os ares de uma nomeação completa, sem oposição.
Ainda sobre as demonstrações de amor a este governante por seus
concidadãos, Suetônio ressalva as oriundas de reis e aliados estrangeiros, que
fundaram cidades com o nome de Caesarea para homenageá-lo (O Divino Augusto
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 289
LX, 1). Por conseguinte, salienta que até em meio a seus libertos foi nutrido de
grande estima (O Divino Augusto LXVII, 1).
É na ocasião de sua morte que, mais uma vez, o povo demonstra todo
respeito e estima que mantinha por aquele que chamavam de Augusto. Como já
destacamos, Augusto morre, de acordo com nossos autores, em Nola, no ano 14
d.C. Seus restos mortais são queimados em Roma, ocasião onde muitos dos
presentes afirmam ter visto o espectro do morto ascender ao céu. Ao contrário de
Júlio César e Antônio, a morte de Augusto é tranquila, quando este já contava com
idade avançada. Nossos autores deixam transparecer que isto é decorrente das
ações que praticou durante a sua vida que foi muito proveitosa, tanto para ele
quanto para aqueles que governava.
Assim, terminam os relatos acerca da vida de Antônio e de Augusto. Cada
autor à sua própria maneira, seguindo suas concepções e as formas de escritas por
eles selecionadas, descrevem e analisam as vidas destes importantes personagens
do republicano romano.
Antônio e suas ações aparecem como uma espécie de pano de fundo, na
maior parte da obra de nossos autores, sempre conectadas a Júlio César ou a
Otaviano. Isso pode ser fruto tanto da abordagem de tais autores que, como
salientamos, enfatizam suas descrições em torno de determinados personagens e
imperadores romanos; quanto ao papel que tais escritores atribuem a Antônio.
Plutarco já denota maior importância às ações deste romano perante Roma e aos
eventos do período. Para ele, cria uma biografia própria, algo que não podemos
encontrar em outros escritores do período. Nesta, suas ações são descritas de
forma pormenorizada, destacando-se seus vícios, suas virtudes, seu caráter e sua
moral.
Em um viés diferente, temos Augusto. Este se constitui como um tipo de
personagem principal, sendo constantemente retratado a partir de diversos pontos,
contudo, com uma imagem que parece prevalecer em todas as obras por nós
analisadas. Augusto é o retrato do bom governante, herdeiro de Júlio César e bom
Princeps, enquanto Marco Antônio é personificado como sua antítese.
Logo, mesmo com a constatação de diferenças nas obras de nossos autores,
chamam-nos a atenção as semelhanças que estão nas informações que tais autores
nos passam, nas descrições acerca de Antônio e na conceituação da personalidade
deste personagem. Descrições que, mais uma vez, utilizam-se da tradição romana
Capítulo 4. Marco Antônio e Augusto... 290
Karl Galinsky
Considerações Finais 292
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRÁFICAS
Referências Bibliográficas 301
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A. Documentação
CASSIUS DIO. Roman History 53.1 – 55.9. Introduction, notes and english
translation by J. W. Rich. London: Aris & Phillips, 1990.
PLINY, THE YONGER. Complete Letters. Oxford: Oxford University Press, 2009.
PLUTARCH.The Parallel Lives. Londres: Loeb Classical Library edition, 1919, 4v.
______.The Parallel Lives. Londres: Loeb Classical Library edition, 1919, 5v.
______.The Lives of the Noble Grecians and Romans. Trans. Thomas North. Ed.
Judith Mossman. Ware: Wordsworth Editions, 1999.
______. Advice to the Bride and Groom and a consolation to his wife.
Traduções, Comentários, Ensaios Interpretativos e Bibliografia. Oxford: University
Press, 1999.
SUÉTONE. Vies des doze Césars. Préface de Marcel Benabou. Paris: Les Belles
Lettres, 1975.
SUENTONNIUS. The Lives Of The Twelve Caesars – Complete. Los Angeles: Echo
Library, 2006.
______. Vida de Los Doce Césares. Vol. II. Madrid: Gredos, 1992.
______. Vida de Los Doce Césares. Vol. III. Madrid: Gredos, 1992.
______. Vida de Los Doce Césares. Vol. IV. Madrid: Gredos, 1992.
TÁCITO. Anais. Trad. J.L. Freire de Carvalho. São Paulo: W.M. Jackson Inc.
Editores. Vol. I, II,III,IV,V e VI, 1952.
______. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
______. Histoire Romaine T II: Livre II. Trad. Joseph Hellegouarc‟h. Paris: Les
Belles Lettres, 1982.
B. Obras e artigos
AYMARD, A., AUBOYER, J. Roma e seu Império. São Paulo, 1976, v.1 e 2.
BACELÓ, J; CATANIA, M. Las Bases del Poder de los Líderes Carismáticos durante
La Crisis de La República Romana. S.I.A.C. In: ROJO, E. (org). Representaciones
Identitárias de la Roma Antigua. Tucumán: Instituto Interdisciplinaria de literatura
argentina y comparadas, 2003, p. 91 – 100).
BALDWIN, B. Four Problems with Florus. In Latomus, vol.47, 1988, p. 134 – 142.
______. The Veracity of Caesar. In: Greece & Rome, Second Series, Vol. 4, No. 1,
1957, pp. 19-28.
_______. Livia: First Lady of Imperial Rome. Yale: Yale University, 2002.
______. Agrippina. Sex, Power and Politics in the early empire. London:
Routledge, 1996.
BELEMORE, J. Cassius Dio and the Chronology of A.D. 21. In The Classical
Quarterly, New Series, Vol. 53, No. 1 (May, 2003), p. 268-285
______. Le Procès Politiques Évoqués par l´Histoire Auguste. In: Bonner Historia
Augusta Colloquium. Bonn: Rudolf Habelt Verlag, 1978, p. 53-74.
______. L´Idéologie Impérilae dans l´Histoire Auguste. In: Bonner Historia Augusta
Colloquium. Bonn: Rudolf Habelt Verlag, 1976, p. 29-53.
BESSONE, L. Floro e Adriano: spunti biografici. In Sileno, n° 16, 1990, p. 207 – 222.
___________. La Storia Epitomata: Introducione a Floro. Roma: L’Erma di
Bretschneider, 1996.
BINGHAM, S. J. The praetorian guard in the political and social life of Julio-
Claudian Rome. Ottawa: National Library of Canada, 1999.
BLOIS, L. Dio’s Vocabulary. In The Classical Review, New Series, Vol. 49, No. 1
1999, p. 36-37.
BOWMAN, A.; CHAMPLIN, E.; LINTOTT, A. (org). The Cambridge Ancient History.
Vol. X: The Augustan Empire, 43 B.C. – A.D. 69. Cambridge: Cambridge University
Press, 2008.
BRADEN, G. Plutarch, Shakespeare and the alpha males. In Skakespeare and the
classics. Cambridge: University Press, 2004. p. 188 -208.
BRENNER, T.C. Power and Process under the Republican 'Constitution. In Flower,
Harriet I. (ed.), The Cambridge Companion to the Roman Republic. New York and
Cambridge: Cambridge University Press, 2004, 31-64.
BRINGHAM, S.J. The praetorian guard in the political and social life of Julio-
Claudian Rome. Ottawa: National Library of Canada, 1999.
BROWDER, D. Quem foi quem na Roma antiga. São Paulo: Art, 1980
Referências Bibliográficas 307
BUCLEY, T. Aspects of Greek History 750 – 323 B.C. Londres / New York:
Routledge, 2005.
BUNSON, M. Encyclopedia of the Roman Empire. New York: Facts on File, 2002.
CANTO, A.M. 31 textos históricos y argumentos contra Vita Hadr. In Athenaeum vol.
92.2, 2004, p. 367–408.
CHAMBRY, E.; FLACELIÈRE, R.; JUNEAUX, M. Introducion, In: Viés.I, Paris: Les
Belles Lettres, 1957.
______. Political History, 30 B.C to A.D. 14.In BOWMAN, A.; CHAMPLIN, E.;
LINTOTT, A.(org). The Cambridge Ancient History. Vol. X: The Augustan
Empire, 43 B.C. – A.D. 69. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p.01 –
69.
DALY, L.W. Plutarch Alexander 42.6. In A.J.P. XCVLLL, 1997, p. 124 – 125.
DAHMEN, K. The Alexander busts of the Macedonian Koinon - New Evidence for
Sequence and Chronology. In The Numismatic Chronicle, vol. 165, 2005, p. 179-
181.
DEVIAULT, A. Le mos maiorum. In: GAILLARD, J. Rome I siècle av. J.-C. Ainsi
périt La République dês vertus... Collectiun Mémoires, nº 42, 1996, p. 58-71.
______. The Emperor and his advisers. In BOWMAN, A.; GARNESEY, P.;
RATHBONE, D. (ed). The Cambridge Ancient History: The High Empire, A.D. 70 -
192. vol. XI, 2008, 195 – 213.
FLACELIÈRE, R., CHAMBRY, E. e JUNEAUX, M., Introducion, In: Viés. I. Paris: Les
Belles Lettres, 1957.
Referências Bibliográficas 311
FRIER, B.W. Libri Annales Pontificum Maximorium: the origens of the annalistic
tradition. Rome/ Ann Arbor: University of Michigan Press, 1979.
GARDNER, J. Women in Roman Law and Society. Indiana University Press, 1991.
Referências Bibliográficas 312
GRIFFIN, M. T. Nero: The end of a dynasty. Londres / New York: Routledge, 1987.
___________.The Flavians. In BOWMAN, A.; GARNESEY, P.; RATHBONE, D. (ed).
The Cambridge Ancient History: The High Empire, A.D. 70 - 192. vol. XI, 2008,
p.01 – 83.
GURVAL, R. Actium and Augustus: the Politic and Emotions of Civil War. Ann
Arbor: University of Michigan Press, 1995.
JONES, C.P. The Teacher of Plutarch. In: Havard Studies in Classical Philology,
vol.71, 1967, p. 205-213.
______. Suettonius in the Probus og Giorgio Valla. In TARRANT, R.J. (ed). Harvard
Studies in Classical Philology. Vol 90. Harvard: Harvard University Press,1986, p.
245-252.
LACY, P. Biography and Tragedy in Plutarch. In AJP, vol. 73, 1952, p. 150 – 160.
LINDSAY, H. Suetonius as ‘ab espistulis’ to Hadrian and the Early History of the
Imperial correspondence. In Historia: Zeitschrift für Alte Gestchichte, vol.43, n°04,
1994, p. 454 – 468.
LUCE, J.V. Curso de filosofia grega: do século VI a.C. ao século III d.C. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
MARCHETTI, S. C.” I cold not love César more”: Roman Friendship and the
Beginning of the Principate. In The Classical Journal, vol.99, nº03, 2004.
MEULDER, M. Florus II, 30, 24: trois peuples germaniques fonctionnels. In Rbhp, vol
85, n°01, 2007, p. 20 – 35).
MOLES, J. Velleius Paterculus. In The Journal of Roman Studies, vol. 74, 1984, p.
242-244.
______. Space, Geography, Politics in the Early Roman Empire. Michigan: The
University of Michigan Press, 1991.
______. O Cidadão. In: GIARDINA, Andrea et allí (orgs.). O Homem Romano.
Lisboa: Presença, 1992. p. 19-48.
NIXON, C. Review of The Propaganda of Power. The Role of Panegyric in the Late
Antiquity by M. Whitby. In The Classical Review, New Series, vol.51, n°01, 2001,
p.62-64.
OSGOOD, J. Caesar’s Legacy: Civil War and the Emergence of the Roman
Empire. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
______. The Triumviral Period. In BOWMAN, A.; CHAMPLIN, E.; LINTOTT, A.(org).
The Cambridge Ancient History. Vol. X: The Augustan Empire, 43 B.C. – A.D.
69. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p. 01 – 69.
______. Reflections on Plutarch, Advice to the Bride and Groon. Something Old,
Something New, Something Borrowed. In POMEROY, S. (ed) Plutarch’s Advice to
the Bride and Groom and a consolation to his wife. Oxford: University Press,
1999, p. 33-58.
RIGGSBY, A.M. Caesar in Gaul and Rome: War in Words. Austin: University of
Texas Press, 2006.
ROE, J. ‘Character’ in Plutarch and Shakespeare: Brutus, Julius Caesar and Mark
Antony. In Skakespeare and the classics. Cambridge: University Press, 2004, p.
173-187.
ROWE, G. Princes and Political Cultures: The New Tiberian Senatorial Decrees.
Michigan: The University Press, 2002.
SAILOR, D. Dirty Linen: Fabrication and the Authorities of Livy and Augustus. In
Transactions of the American Philological Association, vol. 136, 2006, p. 329 –
388.
SIMPSON, C.J. Caligula’s Cult: Immolation, Immortality, Intent. Subject and Ruller:
The cult of the ruling power in Classical Antiquity: papers presented at a conference
held in the University of Alberta on April 13-15, 1994, to celebrate the 65th
anniversary of Duncan Fishwick. Publish by Journal of Roman Archeology, s/n,
1996, p. 63-72.
STADTER, P.A. (ed.). Plutarch and the Historical Tradition. Londres / New York:
Routledge, 2002.
______. Introduction. In Plutarch and the Historical Tradition. Londres / New York:
Routledge, 2002, p.01-09.
STARR, R.J. The Scope and Genre of Velleius' History. In The Classical Quarterly,
New Series, Vol. 31, n°. 1, 1981, p. 162-174.
______. The travels of Suetonius Tranquillus. In Hermes, vol.109, n°01, 1981, p.105-
117.
______. M. Vinicius (Cos. 19 B.C). In The Classical Quarterly, Vol. 27, n°. 3/4,
1933, p. 142-148.
SWAN, S. Plutarch’s Moral Program. In Plutarch’s Advice to the Bride and Groom
and a consolation to his wife. Oxford: University Press, 1999, p. 85-96.
TAYLOR, L. R. Caesar and the Roman Nobility. In: Transactions and Proceedings
of the American Philological Association, Vol. 73, 1942, pp. 1-24.
Referências Bibliográficas 324
______.The rise of Julius Caesar. In Greece & Rome, Second Series, Vol.4, No.1,
March 1957.
______. The Divinity of the Roman Emperor. Philadelphia: Porcupine Press, 1975.
______. The sorces of the Greeks in Suetonius. In Hermes, vol. 88, n°01, 1960, p.
98 – 120.
______. Mutatio Morum: the idea of a cultural revolution. In: HABINEK, T. and
Schiesaro, A. The Roman Cultural Revolution. Cambridge University Press, 1997,
p.03-22.
WELLESLEY, K. The year of the four Emperors. Londres / New York: Routledge,
2005.
WHITBY, M.(edt). The propaganda of Power: The Role of Panegyric in the Late
Antiquity. Leiden/ Boston: Brill, 1998.
______. Velleius Paterculus in Empire and Aftermath. In: Silver Latin, vol. II, 1975,
p.01-25.
YAVETZ, Z. Julius Caesar and His Public Image. London: Thames & Hudson,
1983.
______. La plebe et le Prince. Foule et vie politique sous le haute – empire
romain. Paris: Éditions la découvert, 1984.
ANEXO I
ANEXO II
Cursus
CursusHonorum
Honorumapós 1414
in AD d.C.
----- Tribune of 10
Plebs These lost right of veto and of presenting
legislation to the Popular Assembly. They
continued to received appeals from citizens
and could become involved in legal cases.
30 12
Praetor Judicial role in charge of major courts. Now
also responsible for festivals and games.
---- 22
Legionary Command of each legion apart from those
legate stationed in Egypt.
---- 10
Proconsul Governor of one of the provinces overseen
by the Senate.
43 (33) 2
Consul Senior executive officers of the state able to
present legislation to the Popular Assembly
and to preside over meetings of the Senate.
The minimum age for this magistracy
impose by Sulla was 42, but, in pratice, the
lower limit of 33 appears often to have
----- 9 applied.
Provincial
Legate Governors of the Imperial provinces apart
from Egypt and minor provinces such as
Judea. Each was garrisoned by one or more
legions.
Anexos 329
ANEXO III
ANEXO IV
Anexo V
Cronologia da Vida de Júlio César
Date Event
100 BC Birth of Julius Caesar
91 – 88 BC Social War
84 BC Julius Caesar gets married
Julius married the daughter of L. Cornelius Cinna. His bride's name was
Cornelia.
81 BC Caesar refuses Sulla’s order to divorce Cornelia and goes on the run. He is
subsequently pardoned following appeals from his mother’s relatives.
80 - 78 BC Caesar undergoes military servisse in Asia and win corona cívica at Mytilene.
77 BC Caesar apears in the courts at Rome, unsuccessfully prosecuting Dolabella.
75 BC Caesar travel to Rhodes to study and is captured by pirates.
74 BC Caesar goes to Asia, raises local troops and defeats na invasion or raid led by
one of King Mithridates’ commaders.
73 BC Julius Caesar is admitted to the college of pntiffs.
72 or 71 Caesar elected as military tribune and probably serves against Spartacus.
BC
69 BC Caesar elected as military tribune and serves in Further Spain. Death of his
aunt Julia and wife Cornelia.
67 BC Lex Gabinia. Caesar spoke in favour of the law. Around this time he married
Pompeia.
65 BC Caesar is curule aedile with Bibulus. He also gives gladiatorial gaes in honour
of his father.
63 BC Conspiracy of Catiline. Caesar elected Pontifex Maximus.
62 BC Caesar is praetor. Bona Dea scandal leads him to divorce Pompeia.
61 – 60 BC Caesar sent to govern Further Spain. Prospect of triumph. Stand for election
for the consulship.
59 BC Caesar consulship and the formation of the First Triumvirate between Caesar,
Pompey and Crassus. Pompey marries Caesar’s daughter, Julia. Caesar
marries Calpurnia.
58 BC Caesar takes command of his Province and defeats the migrating Hevetii at
Bibracte. Then he defeats the germânica King Ariovistus.
57 BC Caesar defeats the Belgic tribes.
55 BC Caesar bridges the Rhine for the first time and leads na expedition to Britain.
54 BC Second and larger invasion of Britain. Death of Julia and her infant child. Death
of Caesar’s mother Aurelia.
54 – 53 BC First major Gallic rebellion against Caesar. Caesar bridges the Rhine a second
time.
53 BC Crassus defeat and killed by Parthians.
52 BC Pompey appointed sole consul.
49 - 45 BC The Civil War starts when Caesar crosses the Rubicon.
48 BC Caesar is briefly dictator and consul for the second time. Defeats Pompey at
Pharsalus and chases him to Egypt. Pompey is murdered. Caesar place
Cleopatra on the throne.
48 – 47 BC The Alexandrian War
46 BC Caesar is consul for the third time. Caesar is given the dictatorship for tem
years.
45 BC Caesar’s forth consulship. He is granted the dictatorship for life.
44 BC Assassination of Caesar.
Anexos 332
Anexo VI
Cronologia de Augusto e sua Família
Year Date Event
63 BC Sept.23 Birth of Gaius Octavius, the later Augustus
rainbow
besieged in Mutina.
He is not successful
Caesar’s murderers
Lepidus.
Dec. 7 started.
Nov.16 Cassius.
Summer Pompeius.
38 – 36 BC ---------------
37 BC ---------
----------- Antony)
and Dalmatia)
Senate
24 BC ------------ Augustus
Julia
20 BC of Augustus.
of Augustus
Anexos 337
Death of Livia
Anexos 339
Anexo VII
MARCUS ANTONIUS
1º II 4º 3º
Antonia, daughter of
FADIA Caius Antonius
Antonia
Marcus Antonius
CHILDREN UNKNOWN Antillus
(Mentioned by Cicero) Fulvia
Antonia
Octavia Major
Iullus Antonius
Antonia
Minor
Anexos 340
Anexo VIII
ALEXANDER CLEOPATRA
PTOLOMY
HELIOS SELENE
PHILADELPHUS
Anexos 341
Anexo IX
Considerações Iniciais
CATÁLOGO
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana I, 6 “Emilio Sura expõe em seus Anais do povo romano o seguinte: os
soberanos da Assíria dominaram todas as nações; depois os medos,
mais tarde os persas, e, depois destes, os macedônios. ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 52 “A forma em que se compõe nosso relato nos permite narrar a batalha
de Farsália e aquele crudelíssimo dia para os romanos, a quantidade de
sangue derramada pelos dois exércitos, a colisão entre os dois
príncipes do Estado.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 108 “Apesar do rápido avanço de nossa narrativa, não devemos deixar de
mencionar este homem. ”
347
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana I,6 “Alguns autores e, de maneira muito brilhante, Quinto Hortênsio em
seus Anais deram a conhecer suas virtudes (...)”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana I,7 “Depois, alguns dizem que neste momento os etruscos fundaram
Cápua e Nola, há quase oitocentos e trinta anos. Estaria de acordo com
eles, mas quanto difere da visão de Marco Catão! Este chega a dizer
que Cápua foi fundada pelos os etruscos e depois Nola; porém Cápua
existia há cerca de duzentos e sessenta anos quando os romanos a
conquistaram. ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,76 “(...) cujo grupo havia sido simpático com uma amizade singular por
ele, como não podia acompanhá-los porque se encontrava envelhecido
e fisicamente desajeitado, suicidou-se, transpassando-se com uma
espada. ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 104 “Nesta época, depois de ter desempenhado as funções de tribuno
militar, cumpri meu serviço no acampamento de Tibério César, porque
fui enviado com ele, imediatamente depois da adoção, à Germânia
como prefeito da cavalaria, sucedendo meu pai neste cargo; assim, fui
espectador e, no alcance de minha mediocridade, colaborador, na
qualidade de prefeito e de legado, de suas insuperáveis ações durante
nove anos seguidos.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 113, “Escuta-me agora, Marco Vinício, de um grande homem (Tibério) tanto
Grifo Nosso na guerra quanto em tempos de paz (...)”.
348
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 114, “Que atitude irrelevante para se relatar (a de Tibério), mas que
Grifo Nosso expressão máxima de uma virtude forte e autêntica e vantajosa,
experiência muito agradável e incomparável na humanidade (...)”
O Divino Júlio LVI, 4 “Asínio Polião é de parecer que os apontamentos foram redigidos com
pouco rigor e pouco respeito à verdade total (...). ”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio I, 2- “O povo romano realizou tantas ações em setecentos anos, do rei Rômulo a
3 César Augusto, em tempos de paz e em tempos de guerra, que, se
compararmos a grandeza do Império com o número de seus anos,
acreditaríamos que fosse mais velho. (...) Assim, como a história de Roma é
digna de estudo, ainda porque a sua vastidão dificulta a sua compreensão e a
diversidade de assuntos dispersa a atenção, eu pretendo fazer como aqueles
que descrevem a paisagem e realizar uma descrição completa de meu
assunto como se fosse uma pequena imagem. Eu espero, desta maneira,
contribuir para a admiração que este ilustre povo detém ao mostrar sua
grandeza de uma só vez, em uma única exibição. ”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio I, 8 “Desde os tempos de César Augusto até a nossa própria época, houve um
período de não muito menos que duzentos anos durante o qual, devido a
inatividade dos imperadores romanos, o povo romano, por assim dizer,
envelheceu e perdeu sua potência, salvo aqueles que agora, sob o governo
de Trajano, agitam seus braços novamente e, ao contrário da expectativa
geral, renovam seu vigor com juventude, uma vez que esta foi restaurada. ”
349
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio I, 4 “Se alguém quiser contemplar o povo romano como se este fosse um único
indivíduo e relembrar toda a sua vida, como começou, como cresceu, como
amadureceu e chegou a idade adulta e, por fim, como atingiu a velhice, ele
irá descobrir que o povo romano passou por quatro estágios de progresso. ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXXV “Eu mesmo vi as paredes depois delas terem caído, olhando-as como se estas
12, 1 tivessem sido capturadas por qualquer outro povo além dos romanos. Eu
também os tinha visto em pé e tinha, inclusive, escutado eles conversarem
(...). ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “Ele nos causou especial consternação por, constantemente, intitular-se
LXXVI 11, 3 como filho de Marco e irmão de Cômodo, concedendo a este último honras
divinas, mesmo tendo abusado dele recentemente (...). ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLVI “Eu considero ser a característica principal de uma mente perspicaz ser capaz
35, 1 de aplicar princípios racionais aos fatos históricos, demonstrado, assim, a
verdadeira natureza dos fatos e, também, ao organizar os fatos, mostrar os
seus princípios. ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXIX, “Ele (Adriano) conduziu quase todos os assuntos importantes em conjunção
7 , Grifo Nosso. com o Senado, e ele ouviu casos sobre os mais insignificantes assuntos,
algumas vezes no palácio, outras no Fórum ou no Panteão, ou, ainda, em
muitos outros lugares com uma plataforma levantada pois assim os
procedimentos seriam públicos. Ele também se unia aos cônsules quando
estes fossem julgar certos casos (...).”
350
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXII, “Como Thrasea e Soranus, que estavam entre as primeiras famílias, ricas, e
26 com todas as virtudes, encontraram sua morte, não porque eles foram
acusados de conspiração, mas porque eles eram quem eram. Contra Soranus,
Publius Celer, um filosófo, deu falso testemunhos. O acusado tinha dois
associados, Cassius Asclepiodotus de Nicéia e Ignatus de Berithus. Agora,
Asclepiodotus, longe de falar contra Soranus, deu testemunhos de suas
nobres qualidades, e por isso foi exilado na época, embora restaurado sob
Galba.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “Muitas conspirações foram formuladas contra Commodus por várias
LXXII, 4 pessoas e ele matou muitas destas, tanto homens quanto mulheres, alguns
abertamente e outros através de venenos, secretamente (...) Afirmo estas e
os fatos que se seguem não como antes, através de relatos de outras
pessoas, mas através de minha própria observação.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “E que ninguém sinta que eu estou maculando a dignidade da história por
LXXII,18, Grifo Nosso relatar tais ocorrências. Em grande parte dos casos, para ser justo, eu não
deveria ter me referido a tais exibições; mas, desde que estas foram dadas
pelo próprio imperador (Commodus) e desde que eu estava presente e
participei de tudo o que foi visto, ouvido e falado, pensei não ser adequado
suprimir nenhum destes detalhes (....) E, de fato, todos os outros eventos que
tiveram lugar durante a minha vida eu deverei escrever com maior exatidão e
detalhes que outras ocorrências, pela razão de que eu os presenciei e sei que
ninguém mais, entre aqueles que possuem a habilidade em escrever dignos
relatos de eventos, terá um conhecimento tão preciso sobre eles como eu.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXXII, “Este medo foi compartilhado por todos, por nós senadores assim como pelo
19, resto. E aqui está outra coisa que ele fez para nós, senadores, que nos deu
toda razão para acreditarmos em nossa morte. Tendo matado um avestruz e
cortado fora sua cabeça, ele veio até onde estávamos sentados, segurando-a
em sua mão esquerda, enquanto na direita trazia sua espada sangrenta (...). ”
351
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXXII, “Após isto ocorreram as mais violentas guerras e conflitos civis. Eu estava
23 inspirado a escrever um relato destas lutas após o seguinte incidente. Eu
havia escrito e publicado um pequeno livro acerca dos sonhos e presságios
que deram a Severo razões para esperar pelo poder imperial e, ele, após ler a
cópia que lhe enviei, escreveu-me um longo e cortês agradecimento. Esta
carta eu recebi ao cair da noite e, logo depois de adormecer, sonhei que o
poder divino me ordenava escrever história. Foi assim que comecei a
escrever a narrativa que agora apresento. E na medida que ganhou maior
aprovação, não apenas de outros, mas, em particular, do próprio Severo, eu
então concebi o desejo de compilar um registro de tudo mais que dizia
respeito aos romanos. Portanto, eu decidi deixar o primeiro tratado não mais
como uma composição separada, mas incorporá-lo nesta presente história,
de maneira que, em um único trabalho, eu poderia escrever e deixar para
trás um registro de tudo, do início até o ponto em que vemos o melhor da
Fortuna. ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LXXV, “(...) toda a cidade havia sido enfeitada com guirlandas de flores e louros e
1 adornada com animais ricamente coloridos, ainda foi iluminada com tochas e
com a queima de incensos; os cidadãos vestiam branco e estavam radiantes,
proferindo brados de bons presságios; os soldados, também, surgiam
distintos em seus trajes enquanto se moviam como participantes de um
desfile triunfal; e, finalmente, nós [senadores] andávamos (...). ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,41 “Descendente da nobríssima família do Júlios, segundo se sabe, muito
antiga, uma linhagem que procedia de Anquises e Vênus (...)”
352
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,41 “Estava extremamente unido a Caio Mário por parentesco e era genro
de Cina, cuja filha nenhuma pressão pode fazê-lo repudiar,
diferentemente do cônsul Marco Pisón que havia renegado Ania –
esposa anterior de Cina – para consagrar-se com Sila.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César I, 1 – 2 “Quando Sila chegou ao poder, como não pôde, nem por esperanças ilusórias,
nem por medo, separar César de Cornélia, filha de Cina, o qual exercera de
maneira absoluta o poder, confiscou-lhe o dote. A causa da hostilidade de César
contra Sila era seu parentesco com Mário. Com efeito, Mário, o antigo, tinha
desposado Júlia, irmã do pai de César da qual nascera Mário, o Jovem, que era
assim primo-irmão de César.”
O Divino Júlio I, 1 “Aos dezesseis anos perdeu o pai. Designado flâmine de Júpiter
durante o consulado seguinte, divorciou-se de Cossúcia, moça de
família eqüestre, mas particularmente rica, da qual ficara noivo em
tempo de pretexta. Casou-se com Cornélia, filha de Cina, por quatro
vezes cônsul, da qual dali a pouco lhe nasceu Júlia. De jeito algum o
ditador Sila conseguiu forçá-lo a que a repudiasse. Em vista disso teve
cassado o sacerdócio, o dote da esposa e as heranças familiares e foi
considerado do partido inimigo.”
353
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio I, 45 “A Ásia tendo sido subjugada pelo poder de Pompeu, a Fortuna entregou a
César tudo o que restava para ser conquistado. Aqueles que ainda restavam
eram os mais formidáveis de todas as raças, os Gauleses e os Germânicos, e
também os Britânicos (...). ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIII, “Em geral, ele era absolutamente um devoto de Vênus e ansiava por
43 persuadir a todos que tinha recebido dela uma espécie de flor da juventude.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XVII, 2-3 “Não admiravam seu amor ao perigo, em virtude de sua ambição, mas o que
surpreendia era sua resistência às fadigas, pois que parecia ser forte além de sua
capacidade física; com efeito, mesmo sendo franzino de constituição, de pele
branca e delicada, achacado de dores de cabeça e sujeito a ataques epiléticos
(em Córdova pela primeira vez, como se diz, esse mal o atacou), não fez de sua
debilidade pretexto para a indolência, mas, ao contrário, de seu serviço militar
fez a cura de sua debilidade, visto que, por intermináveis marchas, por vida
sóbria, por dormir continuamente ao ar livre e por suportar a fadiga, combatia a
doença e mantinha seu corpo dificilmente sujeito a seus ataques.”
O Divino Júlio XLV,1 “Diz-se que ele era de estatura alta, tez clara, membros bem
proporcionados, faces um pouco mais cheias, olhos negros e vivos, de
saúde privilegiada (...).”
O Divino Júlio XLV, 3-5 “Exigente com relação aos cuidados corporais, caprichava no corte de
cabelo e em raspar a barba, chegando até a se depilar, o que foi motivo
de críticas de alguns, mas amargurava-se com a própria calvície,
exposta amiúde às pilhérias de seus detratores. Por isso, costumava
puxar para a parte dianteira da cabeça seus raros cabelos, e de todas as
honras conferidas pelo Senado e o povo a nenhuma recebeu com mais
satisfação do que a que lhe dava o direito de portar permanentemente
a coroa de louro. E também se diz que se fazia notar pela elegância:
usava um laticlavo guarnecido de franjas até as mãos e sobre ele
passava o cinto (...).”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIII, “Ele tinha o hábito de aparecer perante os homens através de roupas
42 esvoaçantes e seus calçados eram, algumas vezes, altos e de cores
avermelhadas. ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 41 “Destacou-se (César) por seu equilíbrio entre todos os cidadãos, de
grande solidez de caráter, muito generoso em munificência, de valentia
sobre humana, acima da natureza e do acreditável (...).”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 42 “Levaria muito tempo para falar de seus inúmeros ousados planos para
a punição dos piratas, ou como estes foram frustrados pelo magistrado
do povo romano que governava a província da Ásia; relatamos aqui,
portanto, aquilo que servirá como testemunho de sua grandeza futura.
Na noite seguinte ao dia em que foi resgatado com o dinheiro público
das cidades, porém não sem antes obrigar aos piratas a entregar reféns
a estas cidades, sem ordem expressa da autoridade, havendo
recrutado uma embarcação antecipadamente, se dirigiu ao lugar onde
se encontravam os piratas, pôs em retirada parte de seus barcos,
naufragou outra parte, e apreendeu alguns navios e muitos homens.
Satisfeito pelo triunfo da expedição noturna, retornou aos seus e,
prendendo os prisioneiros, se dirigiu a Bítinia, na presença do
procônsul Junco - pois haviam concedido a Ásia e esta província ao
mesmo – para solicitar que assumisse a responsabilidade de executar
os cativos. Apesar de sua negação e deste manifestar sua intenção de
vendê-los – certamente a inveja se somava a sua falta de zelo – César
tornou com incrível rapidez ao mar e, antes que se recebessem as
ordens do procônsul, crucificou a todos que havia capturado.”
356
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 43, “(...) em uma atitude favorável da cidade para com ele (César), superior
Grifo Nosso a aquela que se teve com os acusados (...).”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 43 “ (...) mostrou admirável valor e zelo no exercício da pretura (...)”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 44 “Assim, sendo cônsul constituiu uma sociedade de poder entre Cneu
Pompeu e Marco Crasso e esta, que foi nefasta para Roma e para o
mundo, acarretou conseqüências não menos fatais a cada um em
momentos distintos. Ao apoiar esse projeto, Pompeu teve a intenção
de que sua conduta nas províncias do outro lado do mar, que muitos,
segundo dissemos, criticavam, fosse finalmente aprovada por
intermédio do cônsul César; de sua parte, César se dava conta de que
auxiliando na glória de Pompeu aumentaria a sua, e que desviando-se
para a partilha do poder, aumentaria suas possibilidades; Crasso,
como, de início, não havia conseguido sozinho o poder, tentava
alcançá-lo pela autoridade de Pompeu e pelos recursos de César.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 44 “Também estabeleceu um parentesco por matrimônio entre César e
Pompeu, pois Cneu Magno se casou com a filha de César.”
357
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 46 “César realizou depois na Gália coisas assombrosas que dificilmente
poderiam ser explicadas em muitos volumes, e não satisfeito com as
muitas e felizes vitórias, onde caíram e foram feitos prisioneiros
milhares de inimigos em números incalculáveis, transportou seu
exército para a Bretanha, buscando assim outro mundo, para nosso
poder e para o seu.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 47 “Durante esses anos, os seguintes e aqueles que já fizemos referência
anteriormente, caíram durante as campanhas de Caio César
quatrocentos mil inimigos, e foi ainda maior o número de prisioneiros.
Lutou-se, muitas vezes, em ordem de batalha regular, muitas vezes em
colunas de avanço, muitas vezes fazendo incursões. (...). Durante um
total de nove verões, não houve praticamente nenhum sem um triunfo
justamente merecido. Porém, na batalha da Alésia, tantos foram os
feitos, que dificilmente um homem poderia enfrentar, realizar quase
nada, a não ser um deus.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 47 “César estava a quase quatro anos na Gália quando morreu Júlia,
esposa de Magno, promessa da concórdia entre Cneu Pompeu e Caio
César, laço de união de um poder que possuía pouca coesão e muita
inveja. E também o filho pequeno de Pompeu, que havia tido com Júlia,
morreu pouco depois, rompendo toda fortuna da união entre dois
militares condenados a um combate tão decisivo.”
358
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 48 “ (...) viu fracassar as condições de paz que César, com toda justiça,
pretendia (...).”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 54 “Pretendiam emboscá-lo durante sua chegada, e se atreveram, depois,
a persegui-lo com armas, mas pagaram merecidamente com a vida aos
dois supremos generais, a um, depois de morto, a outro, que seguia
vivo.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 56 “Teve cinco triunfos: no da Gália, os ornamentos eram de madeira de
cidro, no do Ponto, de acanto, no de Alexandria, com incrustações de
concha de tartaruga, no da África, de marfim, e no da Espanha, de
prata lisa.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 56 “Porém, a um homem de tal categoria e clemência em todas as suas
vitórias, não lhe durou a tranqüilidade do principado mais de cinco
meses. De fato, havia retornado no mês de outubro e foi assassinado
nos idos de março, sendo os promotores da conjuração Bruto e Cássio.
Não havia ganhado aquele com a promessa de consulado, havia
ofendido a Cássio retardando-o. E a esse acordo de morte haviam se
juntado seus colaboradores mais íntimos, Décimo Bruto, Caio Trebônio
e outros de nomes ilustres (...).”
359
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,57 “Esperando clemência, porque esta ele havia demonstrado,
desprevenido lhe surpreenderam os ingratos, apesar de que os deuses
lhe haviam oferecido muitos presságios e indícios do perigo que lhe
ameaçava. Depois, os auspícios lhe haviam advertido que tivesse
precaução durante os idos de março, e também sua esposa Calpúrnia,
aterrorizada por uma visão noturna, lhe rogava que ficasse aquele dia
em casa (...).”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César II, 5-7 “Quando seu resgate chegou de Mileto e ele foi libertado após pagá-lo,
imediatamente equipou navios e, partindo de Mileto, alcançou o alto mar em
direção aos corsários. Encontrou-os ainda ancorados na ilha e apoderou-se da
maioria deles. Roubou o dinheiro e, após ter lançado os homens na prisão, em
Pérgamo, foi em pessoa procurar o governador da Ásia, Junco , porquanto lhe
cabia como pretor punir os prisioneiros. Quando Junco lançou um olhar de
ambição sobre o dinheiro (pois não era pouco) e afirmou que sem pressa
examinaria atentamente os presos, César deixou-o e voltou a Pérgamo. Fez sair
da prisão os corsários e enforcou todos eles (...).”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César III,1 “(...) ele dirigiu-se a Rodes para estudar sob a direção de Apolônio, filho de
Mólon, de quem também Cícero tinha sido discípulo, uma vez que Apolônio era
brilhante professor de retórica e parecia ser de bom caráter.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César III,2 “Diz também que César tinha uma disposição natural excelente para a oratória
política e cultivara essa disposição com muito ardor (...).”
360
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César V,1 “César recebeu a primeira prova da benevolência do povo para com ele quando,
competindo com Caio Pompílio pela função de tribuno militar, foi proclamado
publicamente o primeiro”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César V, 2-5 “A segunda prova é mais evidente que a primeira, ele a recebeu quando, tendo
falecido a esposa de Mário, Júlia, de quem era sobrinho, pronunciou um
brilhante encômio no fórum, e, no préstito fúnebre, ousou exibir imagens de
Mário, que foram então vistas pela primeira vez depois do governo de Sila,
porque Mário e seus amigos tinham sido reconhecidos como inimigos públicos.
Neste ínterim, como alguns clamaram contra César, o povo respondeu em altos
brados, acolhendo-o com aplausos e olhando-o com admiração, como se
estivesse fazendo subir do Hades para a cidade, após muito tempo, as honrarias
de Mário. Pronunciar orações fúnebres para mulheres idosas era de fato
costume ancestral dos romanos, e, embora não fosse usual para as jovens, César
pela primeira vez proferiu tal discurso diante de sua própria esposa falecida. Isso
trouxe-lhe certo benefício, e, com seu infortúnio, levou o povo a amá-lo como
um homem afável e de muitas qualidades.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César IV, 1-5 “Em Roma, irradiava-se de César uma grande sedução por causa de sua
eloquência nas defesas, e considerável estima vinha-lhe de seus concidadãos
pela amabilidade de seu acolhimento e de sua conversação, visto que era mais
obsequioso que os da sua idade. Ele tinha também certo poder político que
crescia graças aos festins, às refeições e, em geral, ao brilho de sua maneira de
viver.”
361
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César VI,7 “Como César se defendeu dessa acusação e persuadiu o Senado, seus
admiradores exaltaram-se ainda mais e incitaram-no a não refrear seu orgulho
diante de ninguém, pois levaria vantagem sobre todos pela vontade do povo e
ocuparia o primeiro lugar.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XIII, 3-5 “Entrou na cidade e imediatamente assumiu uma política que enganou a todos,
exceto Catão. Essa política causou a reconciliação de Pompeu e Crasso, os mais
poderosos da cidade. César, levando esses homens de malquerença para a
amizade e concentrando em si a força de ambos, mudou disfarçadamente o
regime político com um ato que pretendia ter o nome de humano. De fato, não
foi, como a maioria crê, a desavença de César e Pompeu que causou as guerras
civis, mas sobretudo sua amizade, visto que se uniram primeiro para a queda da
aristocracia e só depois disso se indispuseram reciprocamente.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XIV, 7 “César procurava apoderar-se ainda mais da influência de Pompeu: ele tinha
uma filha, Júlia, que era noiva de Servílio Cépio; comprometeu-se a casá-la com
Pompeu e declarou que daria a Servílio a filha de Pompeu, que também não era
livre, mas tinha sido prometida a Fausto, filho de Sila.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XV, 2 – 5 “O período das guerras que fez em seguida e das expedições com as quais
subjugou a terra dos celtas mostrou que ele, como se tivesse tomado outro
ponto de partida e entrado numa trilha de vida diferente e de novas realizações,
não era como um guerreiro e comandante inferior a nenhum outro dos mais
admirados pelo comando e tornado os mais importantes; mas se compararmos a
homens como os Fábios, os Cipiões e os Metelos,e àqueles de seu tempo ou
362
àqueles pouco anteriores a ele, como Sila, Mário, os dois Luculos, ou ainda o
próprio Pompeu, cuja glória então florescia, elevando-se até o céu, em razão das
superiores qualidades de toda espécie em guerra, os empreendimentos de César
são superiores: ele supera um pela dificuldade dos lugares onde combateu;
outro, pela extensão do país conquistado; outro, pelo grande número e força do
inimigo vencido; este, pelos despropósitos e pela perfídia dos povos que ele
conciliou; aquele, pela moderação e pela brandura para com os prisioneiros;
este, por presentes e favores concedidos a seus companheiros de armas; e a
todos, por fazer o maior número de combates e por aniquilar a maior parte dos
inimigos. De fato, tendo combatido menos de dez anos nas Gálias, tomou à viva
força mais de oitocentas cidades, submeteu trezentos povos e, dispondo suas
tropas em diferentes ocasiões contra três milhões de homens, matou um milhão
lutando corpo a corpo e fez outros tantos prisioneiros.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XXVI, 3 “Mas César, nascido para fazer excelente uso de tudo que se refere à guerra, e
sobretudo do momento oportuno, logo que soube da revolta , levantou o
acampamento e partiu pelos mesmos caminhos que percorrera, e mostrou aos
bárbaros pelo vigor, pela rapidez da marcha através de tão duro inverno, que um
exército irresistível e invencível avançava contra eles.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XXI,1 “O Senado, sabendo desses acontecimentos, decretou que se fizessem sacrifícios
aos deuses e que se suspendesse o trabalho, festejando-se por quinze dias,
número tão grande como nenhuma outra vitória precedentemente motivara. E,
de fato, grande se mostrou o perigo, quando tantas nações ao mesmo tempo se
revoltaram; e, porque o vencedor era César, a benquerença do povo para com
ele tornava mais brilhante sua vitória.”
363
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XVI,1 “Desfrutou tão grande benevolência e zelo da parte dos soldados que mesmo
aqueles que absolutamente não se distinguiram dos outros nas campanhas
precedentes se lançavam a qualquer perigo, invencíveis e irresistíveis, pela glória
de César.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XXIII,5 “Quando estava prestes a fazer a travessia, chegaram a eles cartas dos amigos
de Roma, noticiando o falecimento de sua filha; morrera de parto na casa de
Pompeu. Grande dor dominou o próprio Pompeu, e grande dor também a César,
enquanto os amigos ficaram transtornados, porque o parentesco, que mantinha
em paz e concórdia o estado, já debilitado por outras razões, estava dissolvido;
e,de fato, a criança logo morreu, poucos dias tendo sobrevivido à mãe. Quanto a
Júlia, contra a vontade dos tribunos, o povo ergueu seu corpo e levou-o para o
campo de Marte, e aí jaz depois de ter recebido honras fúnebres.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XXVIII, “Muitos eram os que já ousavam dizer mesmo em público que o estado não
6-7 podia ser curado a não ser pela monarquia, e que era preciso aceitar esse
remédio, quando lhe oferecia o mais doce dos médicos, referindo-se a Pompeu.
Quando mesmo este, embora em palavras fingisse não querer, na realidade
acima de tudo levava a efeito o que resultaria em sua nomeação como ditador,
Catão e seus partidários, tendo a mesma opinião, persuadem o Senado a nomeá-
lo cônsul único (...).”
364
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XLV,7 “Pompeu, quando viu da outra ala os cavaleiros dispersos em fuga, não foi mais
o mesmo nem se lembrou de que era Pompeu Magno, mas, completamente
privado da razão por um deus, ou apavorado por uma derrota de origem divina,
afastou-se mudo para sua tenda, sentou-se e esperou o que devia acontecer
(...).”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XLIX, 5 “Quanto à guerra que aí mesmo ocorreu, uns dizem que ela não era necessária,
mas que, motivado pelo amor de Cleópatra, foi para César inglória e cheia de
riscos; outros acusam os servidores do rei e sobretudo o eunuco Potino, que
dispunha do maior poder e recentemente tinha mandando matar Pompeu; tinha
também expulsado Cleópatra e tramado secretamente contra César.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LI, 1-4 “Depois disso, ele atravessou o mar para ir à Itália e subiu a Roma, quando
findava o ano para o qual tinha sido escolhido como ditador pela segunda vez,
embora esse cargo até então jamais tivesse sido anual. Foi proclamado cônsul
para o ano seguinte . Censuravam-no porque, depois que seus soldados se
tinham rebelado e matado dois pretorianos, Coscônio e Golba, infligiu-lhes
somente a pena de chamá-los ‘cidadãos’ em vez de ‘soldados’, e distribuiu a
cada um mil dracmas e ainda lhes atribuiu muitos lotes de terra na Itália.
Imputavam-lhe também a doidice de Dolabela , a ganância de Mácio, a
bebedeira de Antônio, o qual demoliu a casa de Pompeu e a reconstruiu, pois
julgava não ser bastante grande para ele. Os romanos irritavam-se com esses
fatos. Embora César não os ignorasse nem os aprovasse, por causa de seus
planos políticos era forçado a servir-se de tais auxiliares.”
365
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LIX,1 “A reforma do calendário e a correção da irregularidade no cálculo do tempo,
cientificamente estudadas com habilidade por ele, e levadas a cabo, trouxeram a
mais alta utilidade.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LX,1 “O amor ardente pela dignidade real provocou contra César o ódio mais
declarado e que foi causa de sua morte; isso foi para o povo um primeiro motivo
de censura, e para aqueles que há muito tempo procediam com dissimulação foi
o mais especioso pretexto.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LVII,1 “Entretanto, como os romanos se inclinaram diante da sorte desse homem e
aceitaram o freio e como julgaram que a monarquia fosse uma pausa após os
males da guerra civil, nomearam-no ditador vitalício (...)”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LXVI, 10- “E, quando cada um dos que estavam preparados para o assassinato mostrou a
12 espada nua, César, cercado de todos os lados, e, para qualquer ponto que
voltasse o olhar, deparando com golpes de armas de ferro dirigidos ao seu rosto
e aos olhos, debatia-se trespassado de lado a lado, como uma fera na mão de
todos, pois todos deviam participar do sacrifício e desfrutar do assassinato. Por
isso, também Bruto lhe aplicou um golpe na virilha. Alguns dizem que então,
embora ele lutasse contra os outros, deslocando-se daqui e dali e gritando,
quando viu Bruto tirar seu punhal, puxou a toga sobre a cabeça e deixou-se cair
(...).”
366
O Divino Júlio XLVI,1-2, “Morou (César) primeiro numa modesta casa do Subura ; depois, como
Grifo Nosso sumo pontífice, na Via Sacra, em edifício oficial. De acordo com
testemunho de muitas pessoas foi um apaixonado do requinte e da
suntuosidade (...).”
O Divino Júlio L, 1 “É por toda gente reconhecido seu pendor suntuoso pelos prazeres do
sexo, seduziu um grande número de mulheres ilustres (...).”
O Divino Júlio II, 1-2 “Iniciou o serviço militar na Ásia, no quartel–general do preto Marcos
Termo; enviado por ela à Bítinia para mobilizar uma esquadra, deixou-
se ficar na corte de Nicomedes, não sem que se espalhasse o boato de
ele ter-se prostituído ao rei, rumor aumentado quando logo a seguir
voltou a Bítinia sob a alegação de cobrar uma dívida de um liberto, seu
cliente. O resto da Campanha lhe valeu uma reputação mais favorável,
e Termo, na tomada de Mitilene, condecorou-o com a coroa cívica.”
O Divino Júlio XLIX,1 “Nada feriu sua dignidade viril a não ser a parceria com Nicomedes,
que lhe custou sério e permanente descrédito e o expôs ao ludíbrio
geral.”
O Divino Júlio IV,1 “(...) Logo após a contagem de 50 talentos e o desembarque na praia,
César não deixou passar um instante para sair ao encalço dos corsários;
lançou navios ao mar e deitando a mão neles, aplicou-lhes o suplício
que, em meio a troças, viviam a ameaçá-lo.”
367
O Divino Júlio LXXIV,1 “Até mesmo na vingança era por natureza de grande brandura, quando
teve em suas mãos os piratas que o haviam feito prisioneiro, ordenou
que primeiro fossem estrangulados e depois colocados na cruz, para
cumprir seu juramento de que nela os haveria de pendurar.”
O Divino Júlio IV,1 “(...) decidiu resguardar-se em Rodes para esquivar-se de represália e
para freqüentar, durante esse período de ócio e descanso, Apolônio
Molão, na época o mais ilustre mestre de eloquência.”
O Divino Júlio LV,1 “Como orador ou militar igualou ou superou a glória dos mais
eminentes. Depois do processo contra Dolabella foi
incontestavelmente incluído entre as maiores expressões dos
tribunais.”
O Divino Júlio LV, 4 “Diz-se que discursava com voz penetrante, com movimentos e gestos
incisivos e certo fascínio.”
O Divino Júlio V,1. “Durante seu tribunato militar, primeira magistratura que, ao regressar
a Roma, obteve por voto popular (...)”
368
O Divino Júlio X,1-2 “Como edil, ele embelezou, além do comício, do foro e das basílicas,
também o Capitólio com a construção de pórticos provisórios para ali
expor uma parte de seu tesouro constituído de grande quantidade de
peças. Proporcionou caçadas e jogos juntamente com seu colega.”
O Divino Júlio XVI, 3 “(...) Ademais, dois dias depois, como uma multidão num impulso
espontâneo batesse às portas e em alvoroço assegurasse sua
colaboração para preservar-lhe o cargo, ele a acalmou.”
O Divino Júlio XIV,1 “ (...) foi o único que propôs que, tendo seus bens confiscados, fossem
eles distribuídos por municípios e lá mantidos presos.”
O Divino Júlio XX,1 “Tão Logo tomou posse do cargo, foi dos romanos o primeiro a instituir
que se tornasse público o relatório escrito dos atos diários do Senado e
das assembleias populares”.
O Divino Júlio XXI,2 “(...) a partir desse novo parentesco passou a pedir o parecer de
Pompeu em primeiro lugar (...)”
369
O Divino Júlio XXIV, 3 “A partir de então, atacando, sem provocação, populações tanto
aliadas, como inimigas e ferozes, não se furtou a nenhuma ocasião de
guerra, mesmo injusta ou arriscada, a tal ponto que certa vez o Senado
decidiu enviar delegados para investigar a situação das Gálias, e alguns
senadores foram de parecer que fosse entregue aos inimigos. Dado,
porém, o bom sucesso de suas ações, obteve súplicas públicas mais
vezes e por mais dias que jamais obteve outro general.”
O Divino Júlio XXV,4 “E em meio a tantos sucessos não conheceu mais que três resultados
adversos: na Britânia a sua frota quase foi aniquilada por violenta
tempestade, na Gália uma legião destroçada diante da Gergóvia e no
território dos germanos seus legados Tintúrio e Aurunculéio foram
liquidados em uma emboscada.”
O Divino Júlio LXVIII,1 “ Em vista disso, ele os tornou (os soldados) totalmente dedicados a si
e extremamente corajosos.”
O Divino Júlio XXVI,1-2 “Num mesmo espaço de tempo, perdeu primeiro a mãe, a seguir a filha
e não muito depois, o neto. Nesse ínterim, encontrava-se o Estado
abalado (...).”
370
O Divino Júlio XXX, 1-4 “Mas como o Senado não se interpunha e os adversários recusavam
fazer qualquer acordo sobre os assuntos públicos, ele passou a Gália
citerior e, tendo administrado a justiça, se deteve em Ravena, pronto
para reagir com as armas, se decisões drásticas fossem tomadas pelos
Senados contra os tribunos da plebe, que, para defendê-lo, se valiam
do veto. É verdade que essa foi a alegação dele para a guerra civil, mas
pensa-se que os motivos foram outros. Cneu Pompeu vivia dizendo que
seu objetivo foi criar tumulto e confusão generalizada, porque não
conseguira terminar as obras que planejara nem satisfazer as
expectativas que despertara na população para o momento de seu
retorno. Outros afirmam que ele temia ser obrigado a dar conta das
irregularidades praticadas no primeiro consulado contra os auspícios,
as leis e as intercessões.”
O Divino Júlio XXXIII,1 “E aí então fez passar o exército; após acolher os tribunos da plebe,
que tinham vindo ter com ele depois da expulsão, reuniu a tropa e, aos
prantos e rasgando a roupa no peito, apelou para a lealdade dos
soldados”
O Divino Júlio XXXV, 1-2 Ao saber-lhe que igualmente a ele o rei Ptolomeu preparava ciladas,
moveu-lhe uma guerra realmente duríssima, em posição e estação
adversas, no inverno e dentro das muralhas de um inimigo provido de
tudo e extremamente solerte, enquanto ele passava por toda sorte de
necessidade e encontrava-se despreparado. Vencedor, deixou o reino
do Egito a Cleópatra e a seu irmão mais novo, temendo transformá-lo
em província para que nas mãos de um governador mais violento, não
viesse a ser foco de revolução.
371
O Divino Júlio LII, 1-2 “Foi também amante de rainhas, entre outras, Êunoe, esposa de
Bógude, da Mauritânia, concedendo a ela e ao marido inúmeros e
amplos favores, conforme Nasão escreveu; mas privilegiou Cleópatra,
cujos banquetes, muitas vezes, se estenderam até o amanhecer (...).”
O Divino Júlio LIII,1 “Que era muito parco no consumo de vinho, nem os inimigos o
contestam”.
O Divino Júlio XXXVI,1 “Em todas as guerras civis não sofreu qualquer derrota (...)”
O Divino Júlio XXXVI,2 “Sob seu comando, as batalhas foram sempre de êxito indiscutível e a
fortuna nem mesmo lhe foi ambígua (...)”
O Divino Júlio XXXVIII, 1- A título de despojo, deu a cada soldado da infantaria das antigas
4 legiões vinte e quatro mil sestércios, além dos dois mil pagos no início
da conflagração civil. Concedeu também lotes de terras, mas não
372
O Divino Júlio XLI,1 “Completou o Senado, criou patrícios, ampliou o número dos pretores,
edis, questores e também das magistraturas inferiores; reabilitou
cidadãos cassados por decisão dos censores, ou condenados por crime
eleitoral em sentença judicial.”
O Divino Júlio XLIII,1 “Administrou a justiça com o maior zelo e a maior severidade. Chegou
até a eliminar da classe senatorial magistrados culpados de peculato.”
O Divino Júlio XLIV,1 “ A cada dia eram mais numerosos e mais ambiciosos seus projetos
para embelezar e prover a cidade para defender e estender os
impérios.”
O Divino Júlio LXXV,1 “ Não apenas no transcorrer da guerra civil como também na vitória,
deu mostras de admirável moderação e clemência.”
373
O Divino Júlio LXXXII, 2-3 “E quando ele se dá conta de que é atacado de todos os lados com
punhais em riste, cobre com a toga a cabeça e com a mão esquerda
deixa cair até os pés a dobra superior dela, para que, tendo seu corpo
coberto também na parte de baixo, sua queda ocorresse com bastante
dignidade. Assim ele foi ferido com vinte e três punhaladas, tendo
dado um único gemido na primeira estocada, mas sem dizer palavras,
embora haja os que propaguem que, no momento em que Bruto o
atacava, ele lhe teria dito: “Até você, meu filho”.
O Divino Júlio LXXXV,2 “Aos pés dela, por longo tempo, continuou-se a oferecer sacrifício,
fazer promessas, solucionar litígios, jurando pelo nome de César.”
O Divino Júlio LXXXIV,8 “Em meio à maior tristeza do povo, uma multidão de estrangeiros, em
grupos, pranteou, cada um a sua maneira, principalmente os judeus,
que chegaram a visitar o local da pira durante noites seguintes.”
O Divino Júlio LXXXIII,3 “Mas no último testamento instituiu herdeiros três netos de suas
irmãs, Caio Otávio, em três quartos, Lúcio Pinário e Quinto Pédio, na
quarta parte restante; na parte final do testamento adotou Caio Otávio
e lhe deu seu nome (...)”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,13 “ Seus concidadãos não eram ingratos e acumularam-lhe todo o tipo de
honras (...). ”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,13 “A fama de Caio César devido a sua eloquência e coragem foi agora realçada
pela detenção do consulado; porém, Pompeu ocupava uma posição mais
elevada que qualquer um deles. César, portanto, desejoso pela vitória, Crasso
de crescer e Pompeu para manter sua posição, e todos igualmente ansiosos
pelo poder, prontamente entraram em acordo para dividirem o governo.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,13 “Júlia, que, como filha de César e esposa de Pompeu, através dos laços
matrimoniais, manteve as relações cordiais entre sogro e genro (...). ”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,13 “No Egito, de fato, uma guerra eclodiu contra César, o qual não possuía
conexão alguma com nenhuma das partes em disputa. Desde que Ptolomeu,
rei de Alexandria, perpetuou a atrocidade final da guerra civil selando um
pacto de amizade com César através do assassinato de Pompeu, o destino
clamou por vingança perante a sombra de tão ilustre vítima; e, a ocasião para
tanto logo se fez presente.”
375
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XXXIX, “ O fato, porém, que a influência de César estava aumentando e que o povo
24 admirava tanto suas conquistas que, envoltos na esperança depositada no
general, solicitavam aos homens do Senado, supondo que as Gálias estavam
completamente subjugadas, pedidos para o envio à César de grandes
quantias de dinheiro (...). ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “ Através destes meios César vinculou o povo a sua causa (...). ”
XXXVIII, 7
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “Porém, temendo que Pompeu pudesse efetuar algumas mudanças durante
XXXVIII, 9 sua ausência, enquanto Aulus Gabinus deveria tornar-se cônsul, ele uniu-se
tanto com Pompeu quanto com Lúcio Piso por laços de parentesco: ao
primeiro ele concedeu sua filha, apesar desta estar noiva de outro homem,
ao mesmo tempo em que ele se casava com a filha de Piso.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XXXIX, “Mas ele (Pompeu) tinha naquele momento duas coisas capazes de destruir a
26. amizade entre pessoas, medo e inveja, e estas não podem ser evitadas por
nada a não ser por proporções iguais de fama e força. Pelo tempo que as
pessoas possuírem a última em quantidades iguais, a sua amizade mantém-
se firme. Porém, quando um ou outro se sobressai, a parte inferior torna-se
ciumento e passa a nutrir ódio pelo superior (...). Com base neste raciocínio,
Pompeu começou a armar-se contra César.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 36 “O nascimento do Divino Augusto, que iria obscurecer a todos os
homens de todas as naturalidades com sua grandeza, há noventa e
dois anos atrás, acresceu de brilhantismo o consulado de Cícero .”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 59 “Depois, se abriu o testamento de César onde este adotava Caio
Otávio, neto de sua irmã Júlia.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 59 “Seu pai, Caio Otávio, descendia de uma família que, embora não fosse
patrícia, era muito ilustre dentro da ordem dos eqüestres; um homem
severo, irrepreensível, honrado e rico. Obteve em primeiro lugar a
pretura junto com homens muito notáveis, depois que sua dignidade o
tornou merecedor do casamento com Átia, a filha de Júlia, terminou
essa magistratura, dirigindo-se a Macedônia, onde foi nomeado
general; porém, em sua volta a Roma para apresentar sua candidatura
ao consulado, morreu, deixando um filho de quatro anos.”
O Divino Júlio LXXXIII, 3- “Mas no último testamento, instituiu herdeiros três netos de suas
4 irmãs, Caio Otávio, em três quartos, Lúcio Pinário e Quinto Pédio, na
quarta parte restante; na parte final do testamento adotou Caio Otávio
e lhe deu seu nome, tendo nomeado tutores dos filhos que lhe viessem
a nascer a maior parte dos que o apunhalaram; entre os herdeiros de
segundo lugar estava até mesmo Décimo Bruto. Legou ao povo,
coletivamente, os jardins do Tibre, e trezentos sestércios por pessoa”
377
O Divino Augusto I, 1 “Muitas evidências comprovam que a família Otávia foi, outrora, a
primeira de Velitras. De fato, o bairro localizado na parte mais
populosa da cidade já muito era chamado de Otávio, e aí se erguia um
altar consagrado a Otávio, que fora general em guerra contra povos
vizinhos.”
O Divino Augusto II, 1-3 “Seu pai, Caio Otávio, desde a juventude gozou de grande riqueza e
prestígio, de modo que certamente me admira sabê-lo arrolado por
alguns como banqueiro ou ainda entre os agentes e cabos eleitorais; de
fato, criado em meio à opulência, obteve magistratura com facilidade e
exerceu-as com distinção. Ao deixar o cargo de pretor coube a ele, por
um sorteio, a província da Macedônia e, no caminho, destruiu os
fugitivos que ocupavam o território de Túrio, bando restante de
Espártaco e de Catilina, em uma missão extraordinária confiada a ele
pelo Senado. Governou a província com não menos justiça do que
firmeza, pois, desbaratados os bessos e trácios numa grande batalha, de
tal modo tratou os aliados, que ainda restam cartas de Cícero nas quais
ele exorta e aconselha o irmão Quinto, que na mesma época
desempenhava o proconsulado da Ásia gozando de reputação pouco
favorável, a imitar seu próprio vizinho, Otávio, a fim de granjear
aliados.”
O Divino Augusto IV, 2 “Àtia foi gerada por Marco Átio Balbo e por Júlia, irmã de Caio César.
Balbo, um aricínio pelo lado paterno, com muitas figuras senatoriais na
família, era, pelo lado materno, parente muito próximo de Pompeu, o
Grande e, tendo exercido o cargo da pretura, dividiu, integrando a
comição dos vigintíviros, o território da Campânia entre a pleble de
acordo com a lei Júlia.”
378
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio I,1 “O povo romano, durante setecentos anos, desde o período do Rei Rômulo
até o de César Augusto, alcançou tanto em paz quanto em guerra que, se um
homem for comparar a grandeza deste Império com os seus anos, ele
consideraria seu tamanho desproporcional para sua idade.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana “Agora, eu não posso afirmar que este não tem qualquer influência nesta
XLIII,42, grifo nosso direção, ainda, não caberia mais a ele (Júlio César), mas ao neto de sua irmã,
Otávio; pois este último estava em campanha com ele e era destinado a
obter grande esplendor de seus trabalhos e perigos.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLV, 1 “Agora, Caio Otávio Caepia , como o filho da sobrinha de César, Áttia, foi
nomeado, era oriundo de Velitrae , cidade da região volsca; após ser privado
da companhia de seu pai Otávio, ele foi levado para a casa de sua mãe e de
seu marido, Lúcio Phillipo, porém, ao atingir a maturidade, viveu com César.
César, por não ter filhos, nutria grandes esperanças para ele, amando-o e
apreciando-o, intentando deixá-lo como um sucessor de seu nome, de sua
autoridade e de sua soberania. Ele foi amplamente influenciado pela
declaração enfática de Áttia de que o jovem teria sido gerado por Apolo,
pois, uma vez dormindo em seu templo, ela pensou ter tido relações com
uma serpente, e isto foi o que lhe causou, no final do tempo estipulado, dar à
luz a um filho.”
379
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLV, 1 “ (...) Octavius, que pelo motivo do nascimento de seu filho, encontrava-se
atrasado para a reunião da casa senatorial (...).
O Divino Augusto XXXIX, “ Desfrutou de rara beleza e foi bastante atraente ao longo de toda sua
1-3 vida. Contudo, prescindiu de qualquer adorno e a tal ponto era
descuidado com os cabelos que se prestava às pressas e ao mesmo
tempo aos cuidados de vários barbeiros, e raspava ou aparava a barba
enquanto lia ou mesmo escrevia algo. Tinha as feições tão tranqüilas e
serenas quando falava ou se calava, que um dos nobres gauleses
declarou aos companheiros ter sido de tal modo inibido e abalado por
sua presença que, ao ter-se aproximado dele a pretexto de conversar,
não o lançou de um precipício durante a travessia dos Alpes como
determinara a fazer. Tinha os olhos claros e brilhantes: chegava mesmo
a desejar que se julgasse haver neles uma espécie de força divina, e
alegrava-se caso, a alguém que o olhasse mais fixamente, fizesse baixar
o rosto como que diante do brilho do sol.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 59 “Porém, seu tio avô, Caio César, quis a este, que havia sido educado na
casa de seu padrasto Filipo, como se fosse um filho seu, e, desde seus
dezoitos anos este o seguiu na campanha da Hispânia, o tendo como
um companheiro, alojando-se no mesmo lugar que ele e
compartilhando de seu carro; o honrou com o pontificado e com o
sacerdócio quando não era mais que um menino. Ao final da guerra
380
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,60 “O ódio aumentava entre dois homens de natureza tão distinta e com
diferentes interesses, e, por isso, o jovem Caio César sofria com o
assédio diário de Antônio. ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 61 “A cidade estava sufocada pela opressão de Antônio. Todos sentiam
dor e indignação, porém, não possuíam força para lhe fazer frente,
quando Caio César, que iniciava o décimo nono ano de sua vida, com a
coragem para ações admiráveis e para a busca de objetivos
importantes por iniciativa própria, mostrou maior providência que o
Senado na proteção da República (...).”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,61 “(...) as qualidades de um jovem de tamanho valor (...)”.
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 59 “Um grande número de amigos o acudiram ao chegar em Roma e, no
momento em que estava prestes a adentrá-la, um arco íris em forma
de coroa ornamentou a fronte de um homem que mais tarde iria ser
381
tão importante.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II,60 “A sua mãe Àtia e a seu padrastro Filipo, não lhes agradava que
herdasse o nome de César, cuja fortuna suscitava ódio, mas, a salvação
da Res Pública e de todos os outros lugares lhe reclamavam como
protetor de Roma. Por isso, seu elevado espírito descartou os
conselhos humanos, e assim se propôs a aspirar alto sem temer os
riscos, ao invés de limitar sua ambição para preservar sua segurança.
Preferiu confiar em seu tio e no nome de César mais que em seu
padrasto, dizendo repetidas vezes que não podia permitir considerar-
se indigno de um nome que César lhe havia considerado digno.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 89 “(...) com que abundância e com que atitude favorável de todos os
cidadãos, de todas as idades e ordens sociais, foi recebido César em
seu retorno a Roma, que magnificiência teve seu triunfo, quantas
foram as recompensas, não se pode expressar de uma maneira que
seja suficiente entre os conteúdos de uma narração regular, ainda mais
na nossa tão limitada. Nada podem pedir os homens aos deuses e nada
podem conceder os deuses aos homens, nenhum desejo conceber ou
realizar felizmente que César após a sua volta a Roma não
apresentasse ao estado, ao povo romano e ao mundo.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César XLIX, 5 “Quanto à guerra que aí mesmo ocorreu, uns dizem que ela não era necessária,
mas que, motivado pelo amor de Cleópatra, foi para César inglória e cheia de
riscos; outros acusam os servidores do rei e sobretudo o eunuco Potino, que
dispunha do maior poder e recentemente tinha mandando matar Pompeu; tinha
também expulsado Cleópatra e tramado secretamente contra César.”
382
O Divino Augusto “Ao saber-lhe que igualmente a ele o rei Ptolomeu preparava ciladas,
XXXV, 1-2 moveu-lhe uma guerra realmente duríssima, em posição e estação
adversas, no inverno e dentro das muralhas de um inimigo provido de
tudo e extremamente solerte, enquanto ele passava por toda sorte de
necessidade e encontrava-se despreparado. Vencedor, deixou o reino
do Egito a Cleópatra e a seu irmão mais novo, temendo transformá-lo
em província para que nas mãos de um governador mais violento, não
viesse a ser foco de revolução.”
O Divino Augusto VIII, “Quando soube do assassinato de César e de que era seu herdeiro, por
4 muito tempo hesitou se deveria apelar para as legiões próximas e, na
verdade, abandonou tal idéia como precipitada e imatura. Tendo,
contudo, retornado a Roma, reclamou o legado, apesar das hesitações
de sua mãe e das muitas tentativas de dissuadi-lo por parte de seu
padrasto, Márcio Filipo, homem que já havia exercido o consulado.”
O Divino Augusto XXI, 3 “Não levou a guerra a povo algum sem causas justas ou necessárias, e a
tal ponto esteve alheio ao desejo de aumentar seu poder ou sua glória
militar, que obrigou os príncipes de algumas nações bárbaras a jurarem
no templo de Marte Vingador que lhe permaneciam leais e dentro dos
limites de paz que rogavam.”
383
O Divino Augusto “Exerceu o triunvirato a fim de organizar a Res Publica por dez anos; no
XXVII,1 exercício dessa função, lutou por algum tempo contra os colegas para
que não houvesse proscrição, mas, uma vez aprovada, usou desse
recurso mais duramente que um e que outro.”
O Divino Augusto “Ele mesmo ministrou a justiça com assiduidade, algumas vezes noite
XXXIII, 1 adentro; se não estivesse bem de saúde, desempenhava suas funções
com a liteira postada em frente ao tribunal ou até mesmo deitado em
sua casa. No exercício dessa função, não só agiu de forma sumamente
zelosa, mas também com brandura.”
O Divino Augusto C, 1- “Os decuriões dos municípios e colônias transportaram seu corpo de
2 Nola a Bovilas durante a noite em razão do clima, tendo sido ele
depositado durante o dia na basílica ou nos maiores templos de cada
cidade. De Bovilas, a ordem equestre recebeu-o, trouxe a Roma e
depositou no vestíbulo de sua casa. O senado mobilizou-se, com
emulação, em tão grande empenho para preparar seus funerais e
cultuar-lhe a memória (...).”
384
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, 14 “No Egito, de fato, uma guerra eclodiu contra César, o qual não possuía
conexão alguma com nenhuma das partes em disputa. Desde que Ptolomeu,
rei de Alexandria, perpetuou a atrocidade final da guerra civil selando um
pacto de amizade com César através do assassinato de Pompeu, o destino
clamou por vingança perante a sombra de tão ilustre vítima; e, a ocasião para
tanto logo se fez presente.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, “(...) a rainha jogou-se aos pés de César (futuro Augusto), tentando atrair os
21, Grifo Nosso seus olhares, porém em vão, pois sua beleza foi incapaz de prevalecer acima
de seu auto – controle. Seus esforços não eram destinados a salvar sua vida,
que tinha sido livremente oferecida a ela, mas, sim, para obter uma porção
de seu reino.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,
385
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II,
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLVI, “Enquanto isso, os soldados de Antônio, evidentemente por este acordo,
54.Grifo Nosso recomendaram a César (Otaviano) a filha de Fúlvia, atual esposa de Antônio,
com Clódio, apesar de César estar noivo de outra mulher. No entanto, ele
não a recusou, uma vez que ele pensava que este casamento não o impediria
de colocar em prática os planos que tinha contra Antônio. Ainda, somado a
outras considerações, ele entendia que seu pai, César, não falhou em cumprir
todos os seus planos contra Pompeu mesmo possuindo laços de parentesco
com ele.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLV, 2 “Assim, ele era hábil em oratória, não apenas na língua romana, mas também
na grega, além de ser vigorosamente treinado para o serviço militar e
cuidadosamente instruído em política e na arte de governar. ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LI, 12- “Ela preparou um esplêndido quarto para recebê-lo, com um sofá
13 confortável, no qual sentou, aparentando uma afetada negligência - de fato,
sua roupa matutina maravilhosamente tornou-se ela. Além disso, ela dispôs
muitas imagens de seu pai, de todos os tipos, e em seu peito ela colocou
todas as cartas que seu pai lhe enviou. Quando, depois disso, o jovem César
entrou, ela saltou graciosamente para seus pés e chorou (...). Proferiu
palavras para causar-lhe piedade, mas César nem as respondeu (...).”
386
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana LVI, “Se alguém relembrasse seus antigos erros durante as guerras civis, eles os
44.) atribuíam a pressão das circunstâncias e acreditavam ser justo buscar sua
real disposição em suas ações posteriores, quando encontrava-se de posse
indiscutível do poder supremo (...).”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio I, 1-2 “O avô de Antônio foi o orador Antônio, que Mário mandou executar porque
aderira ao partido de Sila. Seu pai também se chamava Antônio e ostentava a
alcunha de Cretense; não fizera nome na política, mas era um homem gentil e
honesto, muito inclinado a larguezas (...).”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio II,1 “Sua mulher era Júlia, da casa dos césares, e esta poderia rivalizar com as
mulheres mais nobres e mais discretas de seu tempo. Por esta mãe, Antônio foi
criado após a morte de seu pai, estando esta casada com Cornélio Lêntulo,
aquele a quem Cícero condenou a morte por ser um dos conjurados da Catilina.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio “Ostentava grandes ares de dignidade: sua barba majestosa, sua fronte larga e
seu nariz aquilino, de modo que sua aparência parecia se assemelhar ao aspecto
viril representado por pintores e escultores ao rosto de Hércules. Existia, de
387
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 56 “E a esse acordo de morte haviam se juntado seus colaboradores mais
íntimos, Décimo Bruto, Caio Trebônio e outros de nomes ilustres
depois que ascenderam, através da fortuna de seu partido, às posições
mais relevantes. Havia adquirido um grande ódio contra César seu
colega no consulado, Marco Antônio, um homem capaz de qualquer
audácia, ao impor-lhe, quando presenciava as festas dos Lupercais
diante da tribuna rostral, um distintivo régio, ao qual rejeitou como
pode para que isso não fosse interpretado como uma ofensa.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 58 “Convocada uma reunião do Senado, Dolabela, a quem César havia designado
para lhe suceder no consulado, tomou a frente e as insígnias consulares.
Antônio, como negociador da paz, enviou seus filhos como reféns ao Capitólio
e ofereceu garantias de segurança aos assassinos de César que ali
comparecessem. E, como aquele famoso exemplo do decreto dos atenienses,
a partir da proposta de Cícero, foi confirmada uma anistia pelos senadores.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 60 “O cônsul Antônio o aceitou (Otaviano) de imediato, porém com
arrogância – não era apenas rejeição, mas sim temor – e, ao recebê-lo
nos jardins de Pompeu, tomou apenas um momento para falar com
388
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 61 “A cidade estava sufocada pela opressão de Antônio. Todos sentiam
dor e indignação, porém, não possuíam força para lhe fazer frente,
quando Caio César, que iniciava o décimo nono ano de sua vida, com a
coragem para ações admiráveis e para a busca de objetivos
importantes por iniciativa própria, mostrou maior providência que o
Senado na proteção da República (...).”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 64 “Estes são os momentos em que Marco Túlio, em uma série de
discursos, gravou a fogo uma condenação imortal da memória de
Antônio. Tanto este com seu brilhante e divino discurso, quanto seu
partidário, o tribuno Canucio, atacavam com insistente cólera a
Antônio. A defesa da liberdade acabou para os dois com a morte.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 82 “Mais tarde, ao inflamar sua paixão por Cleópatra e como resultado de
sua enorme degradação moral, a qual sempre aumenta ao encontrar
possibilidades (...). ”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 85 “Logo chegou o dia mais decisivo, em que César e Antônio combateram
com as esquadras frente a frente, um pela salvação, outro pela
destruição da urbe”
389
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 85 “Cleópatra foi a primeira a empreender a fuga, Antônio preferiu
acompanhar a rainha fugitiva que permanecer com seus soldados em
combate, e o general que deveria ter sido duro com seus desertores,
desertou de seu próprio exército.”
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 87 Antônio não tardou em suicidar-se, sendo que com sua morte expiou
seus numerosos crimes (consequências) de sua negligência. De sua
parte, Cleópatra, depois de burlar seus guardas, servindo-se de uma
áspide, sem sentir o temor próprio de uma mulher, morreu da picada.
E foi digno da fortuna e da clemência de César o fato de que nenhum
dos que haviam pegado em armas contra ele, fora morto por ele ou por
ordem dele.
VELÉIO PATÉRCULO. História Romana II. Trad. Maria Assunción Sánchez Manzano. Madrid:
Gredos, 2001.
História Romana II, 63 “Antônio era melhor que muitos, quando estava sóbrio (...)”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio II,4 “Por um curto período, Antônio esteve ligado a Clódio, o mais insolente, um dos
mais depravados demagogos de seu tempo, de uma audácia capaz de perturbar
todos os negócios públicos. ”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
390
Antônio II,5 “Ele adotou o que era conhecido como o estilo asiático de oratória, o qual estava
no auge naqueles dias e que possuía, aliás, uma forte semelhança com sua
própria vida, orgulhosa e arrogante, de ênfase vazia e caprichosa pretensão.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
César LI, 1-4 “(...)a bebedeira de Antônio, o qual demoliu a casa de Pompeu e a reconstruiu,
pois julgava não ser bastante grande para ele. ”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio III,1 “Quando Gabínio, um homem de dignidade consular, estava partindo rumo a
Síria, ele tentou persuadir Antônio a juntar-se a expedição. Antônio, porém,
recusou-se a ir na qualidade de simples particular, mas, ao ser nomeado
comandante da cavalaria, o acompanhou na campanha.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio III, 5 “Nas muitas e importantes batalhas que então se travaram, realizou audaciosas
proezas e mostrou clarividência digna de um general, sobretudo quando,
envolvendo e atacando os adversários pela retaguarda, garantiu o êxito dos que
os acossavam de frente. Recebeu o prêmio de valor e merecidas distinções.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio V, 1-2 “(...) E então Curião, que havia mudado de lado e estava agora favorecendo a
causa de César, trouxe consigo Antônio. Como Curião possuía grande influência
sobre a multidão devido a sua eloquência e fazendo grande uso das somas
fornecidas por César, conseguiu nomear Antônio tribuno da plebe e, em seguida,
um dos sacerdotes, chamados de áugures , que observam os vôos das aves.
391
Assim que Antônio assumiu suas novas funções, ele foi de grande assistência
para aqueles que se ocupavam da gestão dos assuntos de interesse de César.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio V, 2-4 “Em primeiro lugar, quando o cônsul Marcelo propôs colocar sobre o comando
de Pompeu os soldados já recrutados, e ainda dar a este poder para recrutar
outros, Antônio lhe apresentou oposição ao introduzir um decreto onde as
forças já agrupadas deviam partir para a Síria e auxiliar Bíbulo, que combatia os
partos, enquanto as tropas que Pompeu recrutava não deviam lhe pertencer. Em
segundo lugar, quando o Senado se recusou a receber as cartas de César,
negando também que estas fossem lidas, Antônio, cujo o ofício dava-lhe o
poder, leu-as ele mesmo, e,desta forma, mudou a opinião de muitos, que
julgaram a partir das cartas de César, que ele estava fazendo razoáveis e justas
reivindicações. E finalmente, quando duas questões foram apresentadas ao
Senado, uma, questionando se Pompeu devia licenciar suas tropas, e a outra, se
César também deveria fazê-lo, sendo que alguns foram a favor de Pompeu depô-
las, enquanto muitos desejavam que César o fizesse; Antônio levantou-se e
perguntou aos presentes se era de suas opiniões que tanto César quanto
Pompeu depusessem suas armas e dispensassem suas tropas. A esta proposta,
todos aceitaram com entusiasmo e, com gritos de louvor para Antônio, eles
exigiram que ela fosse colocada em votação. Porém, os cônsules se opuseram, e,
novamente os partidários de César apresentaram propostas que aparentavam
ser bem moderadas. A estas, Catão se opôs e Lêntulo, em sua capacidade de
cônsul, expulsou Antônio do Senado.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio VI, 5-6 “Antônio, imediatamente, ganhou o favor dos soldados ao partilhar com estes
seus exercícios, vivendo com eles a maior parte do tempo e sendo generoso para
com eles na medida em que podia; mas, para todos os restantes, ele era odioso.
Sua fácil disposição levou-o a negligenciar o injustiçado, tratou com irritabilidade
aqueles que vieram lhe consultar e adquiriu má reputação por sua conduta em
relação as mulheres de outros homens. Em breve, o poder de César, que se fosse
restringido apenas a este grande homem pareceria muito diverso de uma tirania,
tornou-se odioso por causa de seus companheiros; dos quais, Antônio, que teve
392
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio IX, 3 “Este curso dos acontecimentos, naturalmente, o tornou odioso perante a
multidão, e aos homens de valor e retidão, ele não era aceitável em detrimento
de sua vida em geral, como Cícero diz, ele era odiado por estes. Eles detestavam
sua inoportuna embriaguez, seus pesados gastos, o seu deboche com as
mulheres, os seus dias gastos dormindo ou vagando para curar a bebedeira; e, às
noites em folias ou em espetáculos teatrais, ou em festas nupciais de artistas e
bufões.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio IX, 6 “Era também revoltante que, enquanto o próprio César estivesse hospedado sob
o céu fora da Itália, extinguindo os resquícios da guerra, trabalho fatigante e de
grande perigo, seus adeptos, em virtude de seus esforços, desfrutassem do luxo
e zombasse de seus cidadãos.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio XII, 1 “E foi Antônio que, involuntariamente, forneceu aos conspiradores o mais
especioso dos pretextos. ”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
393
Antônio XIII, 1 “Antônio compreendera muito bem, mas não se mostrava receptivo; todavia,
não havia comunicado as conversas a César, mantendo um fiel silêncio sobre o
assunto. ”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio XIV, 1 “Isso foi feito como o planejado, e César sucumbiu na câmara do Senado.
Rapidamente, Antônio vestiu-se com um traje de escravo e escondeu-se. Porém,
ao saber que os conspiradores não empreendiam nada contra ninguém, estando
apenas reunidos no Capitólio, ele os persuadiu a descer dando-lhes seu próprio
filho como refém; além disso, ele mesmo entreteve Cássio, enquanto Lépido
entreteve Bruto. Em seguida, reuniu o Senado e falou em prol de uma anistia e
da atribuição de províncias a Cássio, Bruto e seus cúmplices e o Senado ratificou
essa proposta, decretando também que não se mudaria nenhuma das decisões
de César. Antônio deixou o Senado como o mais ilustre dos homens; uma vez
que pensou-se que ele havia colocado um fim na guerra civil e por ter lidado
como um político prudente com questões que envolviam grande dificuldade e
extraordinária confusão. A partir de considerações como estas, no entanto, a sua
reputação junto a multidão logo o abalou, e ele passou a ter esperanças que
seria o primeiro no Estado se abatesse Bruto.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio XIV, 3- “Vendo o povo singularmente comovido e enternecido, misturou aos louvores,
4 sua tristeza e indignação perante ao ato terrível, e no encerramento de seu
discurso, balançou as vestes do morto, sangrentas e perfuradas pelas espadas,
chamando aqueles que tinham realizado o ato de vilões e assassinos, inspirando
seus ouvintes com tamanha cólera que estes, amontoando mesas e bancos,
incineraram o corpo de César no Fórum e, então, arrebatando da pira a lenha em
chamas, correram para a casa dos assassinos a fim de tomá-las de assalto.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
394
Antônio XVI, 1- “É neste estado das coisas que o jovem César chegou a Roma, um filho da
2 sobrinha do César falecido, como já dissemos, o qual instituíra como herdeiro de
sua fortuna. Encontrava-se em Apolônia quando César foi assassinado. Logo ao
chegar foi saudar a Antônio, como a um amigo de seu pai, e o lembrou dos
valores depositados junto a ele. Pois era de sua obrigação dar a cada romano o
valor de setenta e cinco dracmas que César lhes legara em testamento. De início,
Antônio, desdenhando sua juventude, disse-lhe que seria uma falta de bom
julgamento, com a pouca capacidade e os amigos que possuía, encarregar-se de
fardo tão pesado quanto a sucessão a César. E, quando o jovem recusou-se a dar
ouvidos a isso, e reclamou a soma, Antônio continuou falando e tomando
inúmeras atitudes para insultá-lo.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio XXI, 1- “Agora, na maior parte, o governo do triunvirato era odioso para os romanos; e a
2 Antônio cabe a maior parte da culpa, já que ele era mais velho do que César,
mais poderoso que Lépido, e que jogou-se mais uma vez, tão logo livrou-se das
angústias e problemas, em sua antiga vida de prazeres e esbanjos. E a sua má-
reputação somou-se um grande ódio causado pela casa em que habitava.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio XV,1 “Tal, então, era a natureza de caráter de Antônio, que agora abismou-se na
desgraça pelo amor de Cleópatra, amor que despertou e desencadeou nele
inúmeras paixões adormecidas e sufocou o que, apesar de tudo, podia ainda
existir de bom e saudável em sua alma.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio “Conquistou tão completamente Antônio que, no instante mesmo em que sua
XXVIII, 1 mulher Fúlvia lutava em Roma contra César para resguardar os interesses do
marido; em que ele próprio era ameaçado por um exército parto que pairava
sobre a Mesopotâmia (nesta região, os generais do rei tinham apontado Labieno
como comandante chefe e este já se preparava para invadir a Síria), ele deixou-
se levar para Alexandria. Ali, em meio a jogos e festins de um jovem homem de
lazer, desperdiçava com prazeres aquilo que Antifonte chamava de o mais
395
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio “Mas o terrível mal que havia estado adormecido por um longo tempo, ou seja,
XXXVI, 1 sua paixão por Cleópatra, que os homens pensavam que havia se afastado e
substituído por melhores considerações, ardeu novamente com renovado poder
quando ele se aproximou da Síria.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio LX, 1 “Quando César já contava com preparativos suficientes, votou-se para que se
decretasse guerra contra Cleópatra e para que se tirasse de Antônio a
autoridade a qual ele tinha rendido a uma mulher. A isto, César adicionou que
Antônio tinha sido enfeitiçado e que não era mais senhor de si mesmo, e que os
romanos guerreavam contra o eunuco Madião, Potino, Iras, a dama de
companhia de Cleópatra e Charmian, justamente os encarregados por gerir os
principais assuntos do governo.”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio LXVI, “Foi então que Antônio demonstrou claramente que não estava sendo dirigido
4-5 nem pelo pensamento de um comandante nem pelo pensamento de um bravo
homem, nem ao menos pelo seu próprio, mas, como alguém brincando certa vez
afirmou que a alma de um amante habita outro corpo, ele se viu arrastado por
aquela mulher, como se ambos fossem um só e ele tivesse que estar onde ela
estava. Tão logo viu a embarcação desta partindo, esqueceu-se de tudo, traindo
e abandonando aqueles que lutavam e morriam por sua causa, subiu em um
quinquerreme, acompanhado apenas pelo sírio Alexas e por Esquélio, e
apressou-se em acompanhar a mulher que já havia lhe arruínado e agora
tornaria esta ruína ainda mais completa.”
396
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio comparação “Ambos cometeram excessos em tempos de prosperidade, deixando-se
entre Demétrio e levar aos deboches e prazeres. Não se pode, entretanto, dizer que
Antônio III,1 Demétrio, até no auge das festas e orgias, tenha perdido ocasião de agir. ”
PLUTARQUE. Vies Parallèles I. Traduction: J. Alexis Pierron. Revue et Corrigiée par Françoise
Frazier.Introduction, notices, notes, bibliographie et chronologie par Jean Sirinelli. Paris:
Flammarion, 1995.
Antônio “O fim de Antônio foi covarde, vergonhoso e digno de piedade, porém, ao
Comparação menos, antes que seu inimigo se tornasse mestre de sua vida. ”
entre Demétrio
e Antônio VII, 2
O Divino Augusto “Marco Antônio disse que a adoção de seu tio fora paga pelo estupro
LXVIII,1 de que dele sofrera. (...)”
O Divino Augusto XVII, 1 “Finalmente rompeu a aliança sempre dúbia e incerta com Marco
Antônio, mal restabelecida por várias reconciliações, e, para que
pudesse melhor provar que ele tinha degenerado dos padrões de
comportamento civil, fez abrir e ler em público o testamento que ele
deixara em Roma e que também nomeava os filhos de Cleópatra como
397
seus herdeiros.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, 15 “Olhando para Otávio, que contava com menos de dezoito anos, como um
rapaz de tenra idade e, por isso, uma fácil vítima de injustiça, e para si
mesmo, que tinha desfrutado todo o prestígio de seu longo serviço ao lado
de César, Antônio continuou a destruir sua hereditariedade através de
fraudes, a persegui-lo com insultos pessoais e a tentar impedir sua adoção
pela família do Júlios através de todos os dispositivos em seu poder.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, 14 “ Antônio, instável como sempre, recusou-se a tolerar Otávio como o
sucessor de César (...).”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, “O povo romano, após os assassinatos de César e Pompeu, pareciam ter
14 retornado ao antigo estado de liberdade; e eles teriam feito isso se Pompeu
não tivesse filhos ou César nenhum herdeiro, ou, ainda mais fatal do que
estas circunstâncias, se Antônio, outrora colega de César e, posteriormente,
seu rival no poder, não tivesse sobrevivido para causar incêndios e
tempestades nos próximos anos. (...). Pois o povo romano não podia
encontrar salvação exceto refugiando-se na subserviência. No entanto, foi
um motivo de celebração que, em meio grande agitação, o poder passou
para as mãos que ninguém mais que Otávio Augusto, que, através de sua
sabedoria e habilidade, restaurou a ordem no corpo do império (...).”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
398
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, “A formação do triunvirato seguiu um mau precedente e, com a derrubada
16 da constituição pelas armas, as proscrições de Sula voltaram. O ato de maior
atrocidade foi o assassinato de cento e quarenta senadores. Mortes
chocantes, brutais e lamentáveis aguardavam aqueles que escaparam (...)
Estes crimes foram o resultado das listas de proscrições de Antônio e Lépido;
César (Otaviano) contentou-se em proscrever os assassinos de seu pai.”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, 21 “A loucura de Antônio, uma vez que esta não podia ser apaziguada pela
satisfação de sua ambição, foi trazida a um fim por seu luxo e libertinagem.
Após a expedição contra os partos, ele adquiriu uma repugnância pela
guerra, vivendo uma vida fácil e, escravo do amor por Cleópatra, permaneceu
em seus braços reais como se tudo estivesse indo bem para ele. A mulher
egípcia exigiu do general bêbado, em troca de seus favores, o Império
Romano; e, isto, Antônio lhe prometeu (...).”
FLORO. Epitome of Roman History. Introduction, Translation and Notes of Edward Seymor
Forster. Cambridge: Harvard University Press, 1984.
Epítome de Tito Lívio II, 21 “Ele, no entanto, começou a almejar a soberania – não apenas para si mesmo
– e não secretamente; mas, esquecido de sua origem, de seu nome, de sua
toga e dos emblemas de seu cargo, ele, rapidamente e completamente,
degenerou-se em um monstro, tanto no sentimento bem como em trajes e
vestidos. Em sua mão estava um cetro dourado, ao seu lado, uma cimitarra;
ele usava um robe púrpuro cravejado com enormes gemas; uma coroa era a
única coisa que lhe faltava para lhe tornar um rei que flertava com uma
rainha.”
399
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLI, 1 “ Agora, Antônio, pelos serviços que prestou a Cesar nesta ocasião, estava
destinado a ser retribuído e a ser elevado a grandes honras. ”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIV, “Outra coisa que aconteceu, não muito depois destes eventos, dá provas
12 mais claras que, apesar dele (César) tentar esquivar-se do título real, em
realidade desejava assumi-lo. Pois, quando ele entrou no Fórum durante o
festival de Lupercalia e estava sentado na rostra em sua cadeira dourada,
adornado com trajes reais e resplandecente em sua coroa revestida com
ouro, Antônio, juntamente com seus companheiros sacerdotes, o saudaram
como a um rei e, trazendo um diadema sobre sua cabeça, disse: ‘ O povo lhe
oferece isto através de mim’. E César respondeu: ‘ Júpiter sozinho é o rei dos
romanos”, e enviou o diadema para Júpiter no Capitólio; contudo, ele não
estava bravo, mas fez com que constasse nos registros que ele se recusou a
aceitar a realeza quando esta lhe foi oferecida pelo povo através do cônsul.
Suspeitou-se que tal ocasião foi deliberadamente planejada e ele estava
ansioso pelo título, porém desejava parecer alguém compelido a isto;
consequentemente, o ódio contra ele intensificou-se.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLVIII, “Quanto a Antônio, apesar dele se manter informado acerca de todas essas
27 operações, como sem dúvida ele fez sobre o que acontecia em terras itálicas
(ele não ignorava tais questões), ele ainda falhou, em ambos os casos, para
tomar medidas defensivas a tempo; ao invés disso, ele estava tão submerso
em sua paixão e em sua bebedeira que nem pensou em seus aliados ou em
seus inimigos.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIV, “Agora, quando ele (César) finalmente chegou ao Senado, Trebônio manteve
19 Antônio ocupado a uma certa distância. Pois, apesar deles terem planejado
matar tanto ele quanto Lépido, eles temiam que o número de pessoas que
eles destruíssem poderiam torná-los malignos (...).”
400
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIV, “Quanto a Antônio, apesar dele ter fugido imediatamente após a morte de
22. César, jogando fora o seu manto a fim de não ser detectado e escondendo-se
na noite, quando teve certeza que os assassinos estavam no Capitólio e
Lépido no Fórum, reuniu o restante do Senado no recinto de Tellus e
apresentou os acontecimentos no momento da deliberação.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLV, 3 “Quando, no entanto, ele (Otávio) cruzou Brundisium, foi informado sobre o
testamento de César e das ações do povo, dirigindo-se a Roma sem demoras,
especialmente por que ele tinha a receber grande soma de dinheiro, além
dos soldados que foram colocados sobre seu comando. Imediatamente
assumiu o nome de César, sucedendo-o e ocupando-se com os assuntos
públicos. Naquele tempo, ele parecia ter agido de forma imprudente e
ousada, mas, depois, graças a sua grande fortuna e ao grande sucesso que
atingiu, ele adquiriu, por este ato, a reputação de corajoso.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLV, 5 “Desta forma, ele, primeiramente chamado de Otávio, já conhecido nesse
momento como César e, depois, Augusto, tomou em suas mãos os assuntos
públicos. E ele gerenciou e lidou com estes mais vigorosamente que qualquer
outro homem em seu auge, mais prudentemente que qualquer indivíduo
mais velho. Em primeiro lugar, ele adentrou a cidade como se seu único
propósito fosse o de tomar posse de sua herança, chegando como uma
cidadão privado, acompanhado apenas por alguns subordinados, sem
qualquer exibição. Novamente, ele não proferiu ameaças contra ninguém e
nãomostrou que estava descontente com o que aconteceu ou que gostaria
de vingar-se. De fato, tão longe de exigir de Antônio o dinheiro que ele lhe
havia tomado, ele, na realidade, cortejou-lhe, mesmo apesar de este ter lhe
insultado e injustiçado. Pois Antônio lhe ofendeu tanto com palavras quanto
com ações, particularmente quando a lex curiata foi aplicada, tranferindo
Otávio para a família de César.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
401
História Romana XLVII, “Estes atos foram cometidos, principalmente, por Lépido e Antônio, pois
7- 8. Grifo nosso César os honrou por muitos anos e, como eles detiveram cargos e
governadorias também por um longo tempo, fizeram muitos inimigos.
Porém, César (Otaviano), parece ter participado destas ações meramente por
que eles dividiam a autoridade, desde que ele mesmo não tinha necessidade
nenhuma de assassinar um grande número de pessoas; já que ele não era
naturalmente cruel e havia sido criado à maneira de seu pai. (...) Então, César
salvou tantas vidas quanto podia (...).”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLVIII, “Durante esse mesmo período, após a batalha de Filipi, Marco Antônio viajou
24 para a Ásia, onde arrecadou contribuições das cidades e vendeu as posições
de autoridade; algumas destas províncias ele visitou pessoalmente e, para
outras, enviou homens de confiança. Enquanto isso, ele apaixonou-se por
Cleópatra, que ele tinha visto na Cilícia, e, depois disso, não pensou mais em
sua honra e tornou-se escravo da mulher egípcia, devotando seu tempo para
esta paixão. Isto levou-o a fazer muitas coisas ultrajantes (...).”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLVIII, “Porém, pouco tempo depois eles trouxeram, para a cidade, os dois
31 governantes montados em cavalos como se estivessem em um triunfo;
concederam-lhes a vestimenta triunfal, permitindo que estes assistissem o
festival sentados em seus assentos governamentais e, ofereceram a Antônio
a irmã de César, Otávia, agora que seu marido estava morto, apesar desta
estar grávida; naquele tempo, no entanto, eles mudaram seus
comportamentos de forma notável.”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana XLIX, “César promoveu jogos no Circo Máximo em honra deste evento,
17 configurando para Antônio uma carruagem em frente a Rostra e estátuas no
templo da Concórdia, dando-lhe, também, autoridade para realizar
banquetes junto a sua esposa e filhos, mesmo que estes tenham sido votados
a sua própria honra. Desta forma, ele pretendia ainda ser amigo de Antônio e
consolá-lo pelos desastres infligidos pelos partos, e, desse modo, ele tentou
curar a inveja que o outro poderia sentir sobre suas próprias vitórias e
decretos que a seguiram.”
402
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana L,1 “As causas para a guerra e os pretextos que eles tinham são os que se
seguem. Antônio acusou César de ter removido Lépido de seu cargo, e de ter
tomado posse de seu território e das tropas tanto deste quanto de Sexto,
itens que deveriam ser de propriedade comum entre ambos; ele demandou
metade de tais propriedades assim como que metade dos soldados, os quais
deveriam ser alocados para as localidades itálicas que pertenciam aos dois.
César acusou Antônio de estar apropriando-se do Egito e de outros territórios
que não lhe foram atribuídos, além de ter matado Sexto (a quem, ele mesmo,
tinha a vontade de poupar) e de ter iludido, aprisionado e acorrentado o rei
armênio, o que atribuiu má reputação ao povo romano. Ele, também,
demandou metade dos espólios e, acima de tudo, ele reprovou a sua relação
com Cleópatra e o reconhecimento de seus filhos com esta, os presentes
dados a eles e, particularmente, por que ele chamava o garoto de Cesarião e
estava inserindo-o na família de César. Estas eram as acusações que eles
fizeram um contra o outro de modo a justificar suas próprias condutas (...).”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana L, 6 “Esta foi a razão pela qual eles votaram pela guerra contra Cleópatra, porém,
eles não fizeram declaração igual contra Antônio, na realidade sabendo
muito bem que ele iria se tornar um inimigo, uma vez que não se voltaria
contra ela e defenderia César, e eles desejavam ter esta última acusação
contra ele, onde ele teria voluntariamente iniciado uma guerra ao lado da
mulher egípcia contra seu próprio povo (...).”
CASSIUS DIO COCCEIANUS. Roman History. Introduction, notes and english translation by
Earnest Cary. London: William Heinemann, 1961, vols. I - VIII
História Romana L, 33 “Cleópatra, montando âncora atrás dos combatentes, não conseguiu
suportar a longa e ansiosa espera até uma decisão ser alcançada, mas, fiel à
sua natureza de mulher egípcia, encontrava-se torturada pela agonia do
longo suspense e temerosa acerca dos possíveis desfechos, repentinamente
optou pela fuga (...).”